Tese Finalizada
Tese Finalizada
Tese Finalizada
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CAMPO GRANDE - MS
2023
SILVIA SEGOVIA ARAUJO FREIRE
CAMPO GRANDE - MS
2023
Freire, Silvia Segovia Araujo Freire. 2023.
O silêncio e o sofrimento/adoecimento psíquico docente sob a
análise da psicologia histórico-social: das condições às emoções/Silvia
Segovia Araujo Freire. – Campo Grande, 2023.
250fl.
Trabalho de Tese (Pós-Graduação em Educação) – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul – Campus Campo Grande, 2023.
BANCA EXAMINADORA
______________________________
Prof.ª Dr.ª Sônia da Cunha Urt
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
Orientadora
_______________________________
Prof.ª Dr.ª Marilda Gonçalves Dias Facci
Universidade Estadual de Maringá – UEM
Membro Titular
______________________________
Prof.ª Dr.ª Flavines Rebolo
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB
Membro Titular
______________________________
Prof.ª Dr.ª Celia Beatriz Piatti
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
Membro Titular
________________________________
Prof.ª Dr.ª Josiane Peres Gonçalves
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS
Membro Titular
______________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Lima dos Santos
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS
Membro Suplente
Dedico esta Tese à minha família, pelo
apoio incondicional, e a todos os professores
que fazem da educação uma arte de transformar vidas!
AGRADECIMENTOS
A Deus a quem, de forma carinhosa, refiro-me sempre como “O Cara lá de cima”, em quem
acredito e a quem confio meus sonhos, desejos, angústias, tristezas e toda a minha vida.
À minha família, meus pais, minha sogra, meus irmãos, cunhadas (os), sobrinhos (as) que
sempre me apoiaram incondicionalmente e me ajudaram de todas maneiras para realizações dos
meus sonhos, em especial ao meu esposo Maurício que sempre compreendeu minhas ausências
e de todas as formas esteve junto a mim, e ao meu filho Juliano, para quem busco sempre fazer
e ser melhor, razão da minha vida.
Aos meus colegas de trabalho pelo apoio e compreensão frente as minhas falhas e ausências, e
que se fizeram presentes durante toda a minha caminhada até a finalização do meu trabalho.
À Professora Doutora Sônia da Cunha Urt, leonina, sinônimo de intensidade, apaixonada pela
docência que me recebeu com paciência e me encaminhou para a concretização desta Tese,
mesmo diante das minhas dificuldades, e que me proporcionou grandes e valiosos aprendizados.
Ao GEPPE e aos colegas de grupo que me proporcionaram longas e intensas noites de estudo
e me recepcionaram desde o início da forma mais acolhedora possível.
Agradeço a banca examinadora que em muito contribuiu com o meu trabalho, a Professora Dra.
Marilda Gonçalves Dias Facci, Professora Dra. Flavines Rebolo, Professora Dra. Celia Beatriz
Piatti e a Professora Dra. Josiane Peres Gonçalves.
À Professora Doutora Regina Baruki-Fonseca, por quem tenho imenso carinho e admiração,
que sempre esteve presente nas minhas caminhadas e conquistas acadêmicas e que, com sua
humildade e sabedoria, sempre me incentivou a acreditar em mim mesma.
À Secretária Adjunta Maria do Carmo Provenzano, que não hesitou em colaborar de todas as
maneiras necessárias para a realização desta pesquisa.
A todos os professores que, de forma carinhosa, dedicaram um pouquinho do seu valioso tempo
para participar e contribuir para a consumação desta Tese.
RESUMO
Na realização de sua atividade o ser humano envolve seus desejos, expectativas, sentimentos e
suas emoções, e a forma como os organiza e os controla contribui diretamente para sua atuação
frente as diferentes situações do ambiente de trabalho. A partir dessa compreensão, esta
pesquisa teve como objetivo principal analisar as causas do sofrimento/adoecimento psíquico
dos professores da rede municipal de educação do município de Corumbá – Mato Grosso do
Sul sob o olhar da Psicologia Histórico-Cultural (PHC). A escolha por essa abordagem teórica
ocorreu por possibilitar entender os fenômenos como o sofrimento/adoecimento psíquico e sua
amplitude a partir das questões que abarcam a atividade do ser humano e suas dimensões
constituídas concreta e historicamente. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utilizou como
procedimentos metodológicos a aplicação dos seguintes instrumentos: um questionário com
cinco itens de investigação e duas escalas, o Questionário de estresse nos Professores: Ensino
Básico e Secundário (QSPEBS) e o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), aplicados em um
mesmo formulário para os professores por meio da plataforma online. Para os gestores, foi
aplicado um questionário que teve como objetivo investigar a existência de ação, projeto ou
programa de enfrentamento e a concepção do sofrimento/adoecimento psíquico docente com a
finalidade de complementação aos discursos dos professores. O questionário foi aplicado aos
professores que se encontravam em sala de aula, e no total de 984 questionários aplicados,
atingimos 118 (12%) respostas, e em relação aos gestores, de 251 participantes, alcançamos 26
respostas (10,35%). Ao todo, entre professores e gestores participantes, obtivemos 144
respostas. Devido a pandemia os instrumentos foram aplicados por meio de plataforma online
organizados no Google Forms. As informações coletadas foram organizadas em tabelas e as
respostas apresentadas por frequência. Para o processo de análise e discussão, consideramos as
quatro primeiras respostas com maiores frequências de cada tabela. Os resultados revelaram
semelhanças e disparidades nas respostas dos professores e gestores, mas apontaram que as
relações interpessoais, as condições de trabalho, situações inesperadas como a pandemia,
disponibilização e formação para o uso de recursos tecnológicos, a falta de ambiente saudável
e de uma escuta qualificada e a ausência de ações, projetos, programas para instrumentalizar os
professores a administrar ou minimizar o sofrimento/adoecimento psíquico são aspectos
considerados importantes para os professores e gestores. Os gestores identificaram a ausência
ou a precarização de ação, projetos ou programas para prevenção do sofrimento/adoecimento
psíquico docente. Tanto os professores quanto os gestores que participaram da pesquisa
apontam que assuntos pertinentes à saúde mental, atendimento psicológico, coletivo ou
individual, ambientes de trabalho saudáveis, mais e melhores formações e aspectos relativos às
condições de trabalho são temas importantes para futuros projetos que visem o enfrentamento
ao sofrimento/adoecimento psíquico docente. Foi evidenciado nessa pesquisa que as condições
sociais consequentes da materialidade da sociedade capitalista resultam na desvalorização e
falta de prestigio do trabalho docente, nas condições inadequadas e sobrecarga de trabalho, e,
portanto, propiciam o comprometimento das relações interpessoais e o silenciamento das
emoções dos professores oportunizando o sofrimento/adoecimento psíquico.
In carrying out their activity, human beings involve their desires, expectations, feelings and
emotions, and the way in which they organize and control them will directly contribute to their
performance in the face of different situations in the work environment. Based on this
understanding, this research had as its main objective to analyze the causes of suffering/psychic
illness of teachers from the municipal education network in the municipality of Corumbá - Mato
Grosso do Sul from the perspective of Historical-Cultural Psychology (PHC) The choice for
this The theoretical approach made it possible to understand phenomena such as psychic
suffering/illness and its scope based on questions that encompass human activity and its
concrete and historically constituted dimensions. This is qualitative research that used the
following instruments as methodological procedures: a questionnaire with five research items
and two scales, the Stress Questionnaire for Teachers: Basic and Secondary Education
(QSPEBS) and the Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), applied in the same form to
teachers through the online platform. For the managers, a questionnaire was applied with the
objective of investigating the existence of action, project or coping program and the conception
of the teaching psychic suffering/illness with the purpose of complementing the teachers'
speeches. The questionnaire was applied to the teachers who were in the classroom, and in the
total of 984 questionnaires applied, we reached 118 (12%) answers, and in relation to the
managers, out of 251 participants, we reached 26 answers (10.35%). In all, among participating
teachers and administrators, we obtained 144 responses. Due to the pandemic, the instruments
were applied through an online platform organized in Google Forms. The collected information
was organized in tables and the answers presented by frequency. For the analysis and discussion
process, we considered the first four responses with the highest frequencies in each table. The
results revealed similarities and disparities in the responses of teachers and managers, but
pointed out that interpersonal relationships, working conditions, unexpected situations such as
the pandemic, availability and training for the use of technological resources, the lack of a
healthy environment and listening qualified and the absence of actions, projects, programs to
equip teachers to manage or minimize psychological suffering/illness are aspects considered
important for teachers and administrators. Managers identified the absence or precariousness
of action, projects or programs to prevent teacher suffering/psychic illness. Both teachers and
managers who participated in the survey point out that issues related to mental health,
psychological care, collective or individual, healthy work environments, more and better
training and aspects related to working conditions are important topics for future projects aimed
at coping with the teaching psychological suffering/illness. It was evidenced in this research
that the social conditions resulting from the materiality of capitalist society result in the
devaluation and lack of prestige of teaching work, in inadequate conditions and work overload,
and therefore lead to the compromise of interpersonal relationships and the silencing of
teachers' emotions, providing opportunities for psychic suffering/illness.
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 20
Este trabalho teve como objeto de estudo investigar a concepção dos profissionais de
educação do município de Corumbá MS sobre do sofrimento/adoecimento psíquico docente e
como percebem essa situação em si e/ou no outro. Para fundamentação teórica optou-se pela
Psicologia Histórica Cultural (PHC) por perceber o ser humano como ser atuante e
transformador de sua sociedade por meio de sua atividade considerando seu conhecimento
cultural e científico.
O interesse pelo tema surge após anos de exercício profissional em saúde mental,
atendimento em serviço substitutivo – Centro de atenção psicossocial (CAPS) e a paixão pela
docência. Me formei em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus
do Pantanal, e desde a minha formação me dediquei a saúde pública, mais especificamente as
políticas de saúde mental e a prática no serviço público. Durante os meus contínuos processos
de aprendizado como profissional sempre me interessei também pela docência, praticando
sempre que possível a função docente, tanto em instituição pública quanto privada, pois para
mim, a saúde mental e docência são duas paixões, que ao meu ver, se relacionam, se misturam
e se completam. Sou mestre em Saúde, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
Campus de Campo Grande, pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento da
Região Centro-Oeste no ano de 2012.
Inicialmente tive a vontade de estudar a prevalência de doenças sexualmente
transmissíveis em dependentes químicos, público atendido no centro de atenção psicossocial
álcool e outras drogas (CAPS ad), onde trabalhei por muitos anos. Em contrativas verbais com
o orientador, estudamos primeiramente em puérperas, por ser o público alvo de suas pesquisas,
para futuramente então, estudar na população da qual eu tinha interesse. Porém, com o passar
do tempo, a dedicação ao serviço público e as experiências cada vez mais frequente no ensino
superior concomitante ao anseio de exercer a docência, me fizeram ver no doutorado a
possibilidade de estudar algo que contribuísse tanto para o meu aprendizado e formação, quanto
a união da saúde mental e docência de fato. Foi uma mudança radical, mas que com o passar
do tempo, me possibilitou perceber e estudar realmente algo que faria sentido para minha
atuação.
Nesse sentido, após longos e permanentes anos da luta antimanicomial é nítido o
preconceito histórico gerado acerca das pessoas que se diferem, seja de forma quantitativa ou
qualitativamente das “normas” de uma sociedade que preconiza exclusivamente, por interesse,
o sujeito produtivo como caminho para o enriquecimento.
Nesse modelo de enquadramento não se descarta a educação, que por sua vez, está
sendo cada vez mais pautada em indicadores e metas a serem cumpridos. Contudo, importante
ressaltar que em todo esse processo existe o fator humano, que desempenha sua atividade em
busca do cumprimento desses resultados. Me refiro ao professor, profissional que tem
desempenhado suas atividades tentando satisfazer as suas próprias necessidades e ao mesmo
tempo, às exigências de uma sociedade que se necessário, aliena, causa sofrimento e o
adoecimento para atender aos seus interesses. Eis aqui, mais uma vez, a saúde mental e à
educação interligadas em um emaranhado de interesses, desejos, motivos e conflitos.
A partir do momento que consegui apreender um pouco da teoria da PHC, sobre
Vigotski1 e suas obras, e estudos e atividades desenvolvidas no grupo de estudo e pesquisa
GEPPE/UFMS, percebi que muitas indagações que existiam quanto ao
sofrimento/adoecimento, formas de lidar com diferentes situações da vida, desenvolvimento
qualitativo do ser humano, percepção, formas de trabalho e suas consequências, foram sendo
compreendidas, e reafirmando a ideia que sempre temos algo a aprender, que o aprendizado
nunca é acabado, mas sempre ampliado. Poder aprender e se apropriar de melhores
conhecimentos que possam contribuir com a minha prática e me preparar para a vida acadêmica
me motivou a seguir com o desafio do doutorado.
A teoria de Vigotski proporcionou a expansão dos meus questionamentos quanto aos
processos de trabalho e do sofrimento/adoecimento como possível consequência desse
percurso. Nessa perspectiva, a educação é o meio pelo qual o sujeito pode ter melhores e
maiores possibilidades de se desenvolver, de as suas relações se expandirem, e mais, maior
probabilidade do desenvolvimento qualitativo de suas funções psicológicas superiores, e assim,
ser um ser criativo e consciente no desempenho de suas inúmeras atividades ao longo da vida,
inclusive no ambiente de trabalho. Logo, essa pesquisa se justifica pela relevância social em
compreender o processo de trabalho do professor e as possíveis causas de
sofrimento/adoecimento que acometem inúmeros trabalhadores da educação que são
integrantes ativo no processo de desenvolvimento do ser humano, além de pensar possíveis
formas de prevenção e enfrentamento para essas consequências.
Ao aprender que as relações humanas podem influenciar o desenvolvimento do ser
humano ou mesmo, podem ocasionar o sofrimento/adoecimento, foi possível a compreensão
desse fenômeno e refletir sobre possibilidades de propiciar melhores condições e propor novas
1
Nas referências ao psicólogo soviético, a grafia do seu nome é registrada de diversas formas, como Vigotski,
Vigotsky, Vygotsky. Neste trabalho, usamos Vigotski, para preservar a grafia usada pela maioria dos autores
consultados.
formas de prevenção e/ou enfrentamento às diferentes adversidades vividas por esses
profissionais.
20
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, a atividade – (trabalho) - desempenhada pelo ser humano para sua
sobrevivência vem sofrendo incontáveis mudanças visando acompanhar o desenvolvimento
tecnológico, social e econômico da sociedade.
A atividade é uma ação que possui transformações constantes e compõem aspectos
psicológicos, corporais e materiais. Leontiev (2021) explica que a atividade é uma unidade da
vida mediada pelo reflexo psíquico, cuja função se baseia em orientar o ser humano no mundo
externo. Em outras palavras, a atividade não é uma reação ou um conjunto de reações, mas um
sistema que tem estrutura, transições e transformações internas e desenvolvimento próprio.
É evidente que a atividade de cada pessoa, individualmente, depende de seu lugar na
sociedade, das condições que lhe cabem, de como isso se organiza em circunstâncias
individuais únicas (LEONTIEV, 2021, p. 104).
Assim, o trabalho é considerado de aspecto fundamental na vida do ser humano,
proporciona a construção de sua identidade e o possibilita satisfazer suas necessidades, porém,
o mesmo pode provocar o sofrimento/adoecimento físico e psíquico:
Os profissionais professores também acompanharam transformações no trabalho
educativo, principalmente nas últimas duas décadas. A erosão dos salários, a falta de
estrutura material e humana nas escolas, a descontinuidade de anos letivos devido a
frequentes greves, a crescente violência nas comunidades, entre outros,
simultaneamente produtos e produtores da desvalorização profissional e do
decorrente sofrimento no trabalho (MOREIRA; RODRIGUES, 2018, p. 237).
Nesse caminho, Martinez (2002) aponta os reflexos que essas novas formas de
produção e de relações sociais têm sobre o mundo do trabalho: incremento da produtividade
pelo aumento do ritmo de trabalho; diminuição das pausas para descanso e aumento da carga
de responsabilidade dos trabalhadores; flexibilização de horários com diminuição da jornada
de trabalho e/ou exigência de horas-extras; medo da demissão e insegurança quanto ao futuro,
gerando competitividade; e a tendência de controle dos riscos ocupacionais mais agressivos,
com persistência de exposições a riscos em baixas dosagens, arriscando a vida em ambientes
insalubres. Esse processo tem produzido mudanças no perfil de morbimortalidade dos
trabalhadores, produzindo efeitos físicos, psicológicos e comportamentais.
Nesse cenário, Codo (2006, p. 54) afirma que o possível enquadramento da doença
mental como “doença profissional” arranca a discussão e o diagnóstico do foro privado e o
remete a uma instância pública, necessariamente política.
A exposição dos trabalhadores a riscos físicos, químicos, ergonômicos, psicossociais
e/ou biológicos advindos da execução do trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de
doenças e agravos ocupacionais. Apesar de representar um operador fundamental na construção
21
do ser humano, o trabalho - tanto no que se refere ao desenvolvimento das capacidades humanas
quanto à garantia das condições materiais de sobrevivência - tem sido, ao longo dos tempos,
provocador de sofrimento, adoecimento e morte (Conselho Nacional de Secretários de
Saúde/CONASS, 2011).
Ademais, o ano de 2020 foi marcado por um fenômeno que atingiu mundialmente as
pessoas e todos os contextos dos quais estavam inseridos (MEDEIROS; AZEVEDO, 2022), a
pandemia do COVID -19, infecção causada pelo vírus Sars-CoV-2.
Diante da necessidade de criar estratégias para contenção da contaminação por
COVID-19, os professores se depararam com uma nova forma de trabalho criada de imediato em
resposta a indispensabilidade do processo ensino aprendizagem, o trabalho remoto.
Ocorre que emerge o fenômeno ‘aula remota’, termo que merece uma reflexão à parte,
pois, em substituição à educação presencial, ainda que temporária e com
consequências inimagináveis, põe em questão suas diferenças com a educação à
distância. A aula remota é um terreno sobre o qual docentes do ensino fundamental
tinham pouco domínio, vendo-se inesperadamente obrigados a repensar seus
processos de trabalho por ambiente virtual e por plataformas de videoconferência que,
até então, estavam restritas ao ensino superior (SOUZA, et. al., 2021. p. 5).
de ações, programas e/ou projetos que visem o cuidado e a percepção sobre a saúde psíquica
dos docentes. E os objetivos específicos foram:
a) Inventariar os afastamentos de docentes – aposentadorias por doença – e
no caso doença psíquica.
b) Mapear a existência de ações ao bem estar e/ou adoecimento do professor
no município de Corumbá MS;
c) Traçar o perfil sociodemográfico dos professores da rede municipal de
ensino de Corumbá MS;
Como procedimentos adotados os seguintes instrumentos utilizados para a coleta de
dados dos professores:
01 questionário, com cinco itens de investigação: dados de identificação (sexo, idade,
estado civil, formação, ano e instituição, Pós-Graduação, ano e instituição); questões sobre o
trabalho docente; questões sobre adoecimento; questões sobre trabalho docente na pandemia;
questões sobre ações para o enfrentamento docente (Apêndice C)
02 escalas: Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) (Apêndice D), e o Questionário de
estresse nos Professores: Ensino Básico e Secundário (QSPEBS) (Apêndice E).
Os três instrumentos para coleta dos dados foram organizados em um único documento
e aplicado por meio da plataforma google forms.
Em relação aos gestores, foi aplicado o questionário online (Apêndice D) que
objetivou coletar as informações sobre a existência de algum programa, projeto ou ação para
prevenção e a concepção sobre o sofrimento/adoecimento docente. As informações foram
coletadas a partir das seguintes questões: dados de identificação; Questões sobre Projetos
realizados para prevenir o adoecimento docente e Questões sobre o processo de Trabalho
Docente em tempo de pandemia, o questionário foi aplicado por meio da plataforma google
forms.
Inicialmente, foi proposto que a coleta de dados ocorreria com aplicação presencial
dos instrumentos pela própria pesquisadora. Porém, devido às restrições impostas pela
pandemia da COVID-19, essa opção teve de ser revogada. Em reunião com a Secretária Adjunta
de Educação, optou-se pelo envio dos instrumentos por meio do aplicativo WhatsApp, devido
à probabilidade de alcançar maiores índices de participação do que por outros meios virtuais
por existir um grupo de WhatsApp de cada escola. Os instrumentos foram enviados três vezes
para cada grupo de professores de cada escola, incluindo as escolas urbanas, rurais e das águas,
com uma mensagem introdutória da pesquisadora, esclarecendo o objetivo e a importância da
participação. Também foi ressaltada a valiosa participação dos Profissionais de Educação
durante as reuniões (online) da Secretaria Municipal de Educação e gestores de cada instituição
23
escolar durante o período em que esteve disponível para preenchimento, de maio a agosto de
2021. Ao final, de 984 professores que estão em sala de aula, recebemos 118 (12%) respostas.
Em relação aos gestores, o mesmo processo foi realizado, e de 251 participantes, recebemos 26
(10,35%) respostas. Na soma de participantes, entre professores e gestores, obtivemos 144
respostas.
Os dados coletados por meio dos questionários foram organizados em tabelas para
melhor compreensão do processo de análise. As respostas foram reunidas por frequência; dada
à importância de cada resposta, todas foram descritas, para melhor entendimento. Para o
processo de análise e discussão, levou-se em conta as quatro primeiras respostas de cada tabela,
por estarem organizadas de acordo com o número de frequência. Algumas respostas
dissertativas foram inseridas junto às análises, com o intuito de enriquecer os dados e o
conhecimento.
O presente texto foi organizado em três seções, e no início de cada uma delas citamos
um filme relacionado ao tema, como também, ao término, inserimos uma poesia que pudesse
contribuir com as reflexões. A escolha pelos filmes e poesias se deram com intuito de propiciar
a leveza e a fruição durante a leitura e aprendizado, pois tratam de aportes culturais criados
historicamente pelo ser humano, como também outras formas de artes, o teatro, a música,
filosofia, a pintura e muitos outros, que favorecem e enriquecem o desenvolvimento humano e
a aprendizagem, além de contribuir para saúde psíquica.
Na seção 1, denominado Saúde e sofrimento/adoecimento2: Da forma de se pensar
o cuidado à compreensão do sofrimento/adoecimento psíquico à luz da Psicologia
Histórico-cultural, apresenta-se a importância da reforma psiquiátrica brasileira para o
cuidado da pessoa com sofrimento psíquico, a discussão do conceito do normal e patológico e
a concepção do sofrimento/adoecimento psíquico sob o olhar da Psicologia Histórico-Cultural.
No encerramento do capítulo, está exposto um levantamento de dados em bancos de dados
distintos, a respeito do aporte da Psicologia Histórico-Cultural, para a análise do
sofrimento/adoecimento psíquico docente.
Ao fazer o resgaste da história da reforma psiquiátrica e o cuidado da pessoa com
sofrimento psíquico, estabelecemos diálogos com autores como Paulo Amarante, Franca
Basaglia e Michel Foucault por constituírem parte do processo histórico.
A seção 2, Docência e suas manifestações psíquicas, por sua vez, aborda a
constituição e a formação do professor, buscando compreender a sua trajetória profissional e
2
Entendemos que nem todo mundo que sofre adoece, por isso, usaremos no decorrer do trabalho os termos
sofrimento/adoecimento psíquicos dessa maneira, não como sinônimo, mas como forma de indicar que pode
ocorrer tanto um fenômeno quanto o outro no trabalhador.
24
O filme Nise: o coração da loucura, baseado em fatos reais, foi lançado em 2015, sob
a direção de Roberto Berliner. Contou com a participação da atriz Glória Pires no papel
principal e de Fabrício Boliveira, Fernando Eiras, Perfeito Fortuna, Roberta
Rodrigues, Augusto Madeira, Simone Mazzer, Zé Carlos Machado, Tadeu Aguiar, entre
outros. O filme retrata a ruptura do sistema manicomial existente nos anos 1950. Relata a luta
enfrentada pela psiquiatra Nise da Silveira, que se recusava a utilizar as técnicas da lobotomia
e do eletrochoque em pacientes considerados perigosos e com quadros psiquiátricos
compreendidos como crônicos e irreversíveis. Ela procurou, na individualidade e na
potencialidade de cada um, o bem-estar e o desenvolvimento de suas habilidades, e considerou
as emoções como parte fundamental do tratamento. Assim, o filme permite uma análise de
como a sociedade percebe a pessoa com sofrimento mental, esclarece a maneira de como essa
mesma sociedade exclui essas pessoas, e contribuiu para compreensão de diferentes formas de
entender a pessoa com sofrimento mental.
A partir da referência desse filme, endereçamos temas que iniciam esta tese, para a
compreensão do sofrimento/adoecimento psíquico e a compreensão de que, mesmo diante de
algumas limitações, o ser humano é capaz de criar, produzir, trabalhar, etc. Retratando a
história da psiquiatra, Nise da Silveira realizou de forma humanizada o tratamento de pessoas
com sofrimento psíquico e provou que o ser humano pode viver em sociedade mesmo tendo
as suas diferenças. A conhecida “loucura” nos possibilita inúmeras interpretações, mas, não
impede nenhum ser humano de expressar suas dores, seus sofrimentos e sentimentos, mas
também, o que há de mais puro e singular.
O Brasil passou por diferentes etapas na reestruturação da assistência em saúde
mental. Houve períodos com marcantes avanços, outros nem tanto. Porém, todos trouxeram
peculiar contribuição para a ressignificação no cuidado da pessoa com sofrimento mental.
3
Esses termos sofrimento/adoecimento psíquicos não são aqui utilizados como sinônimos, mas como forma de
indicar que pode ocorrer tanto um fenômeno quanto o outro.
26
4
Paulo Amarante, Franca Basaglia e Michel Foucault foram citados nesse item por serem referência para essa
discussão.
27
dos anos 1970, que patenteavam maus tratos, violência e exclusão social nas instituições
consideradas ‘responsáveis pelos cuidados’. Essas denúncias repercutiram para o início da
reforma psiquiátrica. Durante décadas, milhares de pessoas foram institucionalizadas à força,
sem um diagnóstico sequer que justificasse a sua permanência em hospitais psiquiátricos.
Arbex (2013) retrata a crueldade ocorrida em um dos maiores hospitais psiquiátricos
do Brasil, o Colônia, na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. Milhares de pessoas, sem
qualquer possibilidade de defesa, foram submetidas a inúmeras atrocidades. A jornalista
resgata a tragédia brasileira que resultou em pelo menos 60 mil mortos, torturas e humilhações.
A partir de denúncias e da atuação de movimentos sociais e políticos, a reforma foi
compreendida como um conjunto de mudanças das práticas, saberes, valores culturais e sociais
no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais. O movimento
da reforma psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios (BRASIL,
2005).
Dentre as ações, registram-se a constituição do Movimento dos Trabalhadores em
Saúde Mental (MTSM) e a realização de diferentes atividades, como o V Congresso Brasileiro
em Psiquiatria em Camboriú (SC) e o I Simpósio Sobre Políticas Grupos e Instituições, no Rio
de Janeiro, que contou com o envolvimento de personalidades internacionais, que já vinham
exigindo mudanças no cuidado da pessoa com sofrimento mental em outros países, tais como
Franca Basaglia, Robert Castel, Felix Guattari, Ronald Laing, Donald Cooper, Howard Becker
e Thomas Szasz. Alguns desses convidados colaboraram substancialmente para o movimento
da reforma psiquiátrica brasileira, como Franco Basaglia, que retornou ao Brasil por mais duas
vezes (AMARANTE; NUNES, 2018).
As ações do MTSM foram especialmente relevantes, por terem encaminhado as
denúncias sobre os manicômios, a mercantilização da loucura e a preeminência de uma rede
privada de assistência. O Movimento concorreu para a construção coletiva de uma crítica ao
chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com
sofrimento mental (BRASIL, 2005).
Após o MTSM ser transformado em Movimento da Luta Antimanicomial (MLA),
passou a organizar eventos próprios, aproximou-se da Associação Brasileira de Saúde Mental
(Abrasme) e estabeleceu o dia 18 de maio como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial,
ampliando as ações para atividades políticas, culturais, científicas e sociais, para comemorar e
reivindicar, cada vez mais, melhorias para a saúde mental. Devido aos resultados positivos
dessas ações, passou-se a comemorar maio como o mês da Luta Antimanicomial, abrangendo
29
ações cada vez maiores e melhores em todas as localidades do país (AMARANTE; NUNES,
2018).
O MLA protagonizou mudanças radicais na maneira de cuidar as pessoas com
sofrimento mental. Não foi apenas uma reforma no modelo dos serviços, mas de transformação
na maneira de pensar e de agir, propiciando o empoderamento dos usuários, familiares,
trabalhadores e de toda a sociedade civil. A atuação expandiu as estratégias de cuidado,
abandonando-se o uso exclusivo de medicamento, exclusão e o acompanhamento
psicoterápico insuficiente. Ao contrário, incluíram-se a cultura, as atividades coletivas, a arte
e as tecnologias como formas de tratamento.
Um fato marcante na desinstitucionalização, de acordo com Amarante e Nunes
(2018), foram os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) incluídos na Constituição de
1988, o que possibilitou novas perspectivas, autonomia e desenvolvimento das políticas
municipais. Goulart (2019) reforça a ideia de que a articulação da reforma psiquiátrica com os
princípios e diretriz do SUS foram primordiais, pois a saúde é vista como direito do cidadão e
dever do Estado, com base nos princípios da integralidade, equidade e universalidade.
No final dos anos 1980, surgiram os novos serviços e práticas, inovando as estruturas,
o funcionamento, as ações e as estratégias que preconizavam a inclusão e a desmitificação da
loucura. Os primeiros serviços, em especial os criados em Santos/SP, viabilizaram a
confirmação da eficácia dos dispositivos substitutivos criados para o cuidado das pessoas com
sofrimento mental, favorecendo a desinstitucionalização (AMARANTE; NUNES, 2018).
Em 1989, deu entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo
Delgado (PT/MG), com a proposta da regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos
mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. Foi o início das lutas do movimento
da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativo e normativo (BRASIL, 2005). A Lei foi
sancionada em 06 de abril de 2001, no mesmo ano em que foi realizada a III Conferência
Nacional de Saúde Mental, o que esboçou um panorama favorável e esperançoso para o campo
da saúde mental (AMARANTE; NUNES, 2018).
Os anos 1990 foram marcados pelo compromisso firmado pelo Brasil na assinatura
da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental,
quando passaram a entrar em vigor as primeiras normas federais regulamentando a
implantação de serviços de atenção diária, baseadas nas experiências dos primeiros CAPS,
NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais
psiquiátricos (BRASIL, 2005).
30
O emprego dos termos ‘normal’ e ‘patológico’ justificou, por muito tempo, a inclusão
ou a exclusão do sujeito na sociedade, pouco se fazendo para a compreensão real e total do
5
Michel Foucault foi citado por fazer parte do processo histórico.
33
fenômeno em sua vida. Alguns autores como Silva et al. (2010) chamam a atenção para a
particularidade da discussão sobre esses conceitos:
A delimitação entre o que pode ser considerado normal e o que deve ser tido como
“patológico” é uma questão que gera constantes discussões conceituais. No terreno
da psicopatologia, essa discussão ainda é mais relevante, já que sua demarcação é
muito mais flutuante e suas fronteiras pouco rígidas (SILVA, et al., 2010, p. 195).
Para a apreensão dos conceitos normal e patológico, é preciso entender como a ciência
propôs-se a investigar os fenômenos psíquicos ao longo da história e as diferentes formas de
defini-los. Pesquisadoras como Silveira e Nascimento (2015) descrevem como a divisão do
que é normal contribuiu para o surgimento do patológico:
Ao que nos parece a separação entre a normalidade e a anormalidade foi o que
possibilitou a construção do espaço para o patológico, mais comumente denominado
loucura, significação esta que se insere ao longo dos tempos de diferentes maneiras
na sociedade, e que carrega consigo aspectos inerentes ao contexto histórico e sócio-
cultural de cada época (SILVEIRA; NASCIMENTO, 2015, p. 2).
que de alguma maneira incomodava, os que eram diferentes dos outros, pelo menos os que não
atendiam os critérios considerados corretos.
Criam-se (e isto em toda Europa) estabelecimentos para internação que não são
simplesmente destinados a receber os loucos, mas toda uma série de indivíduos
bastante diferentes uns dos outros, pelo menos segundo nossos critérios de
percepção: encerram-se os inválidos pobres, os velhos na miséria, os mendigos, os
desempregados opiniáticos, os portadores de doenças venéreas, libertinos de toda
espécie, pessoas a quem a família ou o poder real querem evitar um castigo público,
pais de família dissipadores, eclesiásticos em infração, em resumo todos aqueles que,
em relação à ordem da razão, da moral e da sociedade, dão mostras de “alteração”
(FOUCAULT, 1975, p. 78).
A loucura passou ser objeto do saber médico a partir do século XVIII, criaram-se
diferentes formas de tratá-la ou contê-la, para minimizar os chamados ‘riscos’ que as pessoas
poderiam causar na sociedade. Entre os diversos tratamentos, persistiram o eletrochoque, o uso
excessivo de medicamentos, as contenções e algumas práticas consideradas desumanas.
Ainda sobre a forma de se ver a doença, no caso, o sofrimento mental, segundo
Foucault (1975), mesmo após algumas mudanças nos locais de confinamento, que passaram a
manter apenas os chamados insanos, constatavam-se, nos registros dos médicos dos séculos
XVII e XVIII e nas práticas no século XIX, a continuidade dos maus tratos e a necessidade de
provar a cura da loucura por meio de readaptação:
Estes tratamentos não eram nem psicológicos nem físicos: eram ambos ao mesmo
tempo – a distinção cartesiana da extensão e do pensamento não tendo afetado a
unidade das práticas médicas; submetia-se o doente à ducha ou ao banho para
refrescar seus espíritos ou suas fibras: era-lhe injetado sangue fresco para renovar
sua circulação perturbada; provocava-se provocar nele impressões vivas para
modificar o curso da sua imaginação.
35
Ora, estas técnicas que a fisiologia da época justificava foram retomadas por Pinel e
seus sucessores num contexto puramente repressivo e moral. A ducha não refrescava
mais, punia; não se deve mais aplicá-la quando o doente está “excitado”, mas quando
cometeu um erro; em pleno século XIX ainda Leuret submeterá seus doentes a uma
ducha gelada na cabeça e empreendera neste momento, com eles, um diálogo durante
o qual forçá-los-á a confessar que sua crença é apenas delírio (FOUCAULT, 1975,
p. 82-83).
A loucura, assim, passou a ser vista cada vez mais como propriedade de atuação
médica, com a causa identificada fisiologicamente. Conforme Del’Omo e Cervi (2017), a
sociedade compreende o sofrimento como objeto do ato da ciência médica. Por isso, tem
recebido o estereótipo de ‘doença mental’, com diferentes terminologias: loucura, alienação,
doença mental, transtorno mental, sofrimento psíquico, que têm sido utilizadas em diferentes
momentos da história.
Basaglia6 (2015) aponta que o tema saúde/doença é tão amplo e geral, que possibilita
uma reflexão que, mesmo centrada na doença mental e a assistência psiquiátrica, parte de uma
questão mais ampla, que envolve os próprios fundamentos culturais das ciências médicas.
Resende, Pontes e Calazans (2015) elaboram uma crítica ao projeto da psiquiatria que,
mesmo criando manuais diagnósticos e expandindo o uso de farmacológicos, ainda não
alcançou o seu objetivo de ser uma ciência médica. Destacam a existência dos poucos
transtornos que têm legitimado uma causa fisiológica, restringindo a aplicação apenas a casos
de demência e de deficiência mental e às psicoses orgânicas e sintomáticas.
Araújo e Neto (2014) delineiam a visão da psiquiatria sobre o sofrimento psíquico
como uma tradução da psicopatologia, que segue o modelo médico estabelecido desde os
tempos hipocráticos, nos quais os diagnósticos não se baseavam na ciência, mas sim na
percepção.
A observação, descrição e categorização de enfermidades que compartilham sinais e
sintomas permite a formulação de diagnósticos que, por sua vez, auxiliam na
identificação da causa de uma determinada patologia, na previsão de sua evolução e
no planejamento terapêutico (ARAÚJO; NETO, 2014, p. 67).
6
Franca Basaglia foi citado por fazer parte do processo histórico
36
Foucault (1975) frisa que, antes do século XIX, a loucura era experienciada de
diferentes formas, com diferentes atitudes médicas em relação às doenças tidas como curáveis.
Sem dúvida, desde a medicina grega, uma certa parte no domínio da loucura já estava
ocupada pelas noções de patologias e as práticas que a ela se relacionam. Sempre
houve, no Ocidente, curas médicas da loucura e os hospitais da Idade Média
comportavam, na sua maior parte, como o Hôtel-Dieu de Paris, leitos reservados aos
loucos (frequentemente leitos fechados, espécies de jaulas para manter os furiosos).
Mas isto era somente um setor restrito, limitado às formas da loucura que se julgavam
curáveis (frenesis, episódios de violência, ou acessos “melancólicos”). De todos os
lados, a loucura tinha uma grande extensão, mas sem suporte médico (FOUCAULT,
1975, p. 77).
para além das patologias mental e orgânica, existe uma patologia geral e abstrata que as
domina, que as confere os métodos e à maneira de postulados.
Gostaríamos de mostrar que a raiz da patologia mental não deve ser procurada em
uma “metapatologia” qualquer, mas numa certa relação, historicamente situada, entre o homem
e o homem louco e o homem verdadeiro (FOUCAULT, 1975, p. 8).
Os motivos que podem ou não causar modificações no comportamento do sujeito não
obedecem a uma regra exata, única. Podem acontecer em um mesmo meio, de formas
diferentes ou não, podem atingir um único sujeito de um grupo ou mais. As relações dizem
muito
A interpretação e percepção de cada sujeito é única, e de forma particular se
desenvolve. Nessa perspectiva, Delari (2017) explica como cada um sente a seu modo de
acordo com seus significados. Toda dor é sentida de modo corporal, por não haver outro meio
de senti-la. “A distinção fica por ser debatida mais quanto à origem do sofrimento em seus
aspectos físicos “mudos” ou na materialidade das relações humanas mediadas na construção
de significação” (DELARI, 2017, p. 5).
Os vínculos do sujeito com o mundo envolvem suas relações e suas atividades, que
ocorrem em uma determinada família, classe social e época, em que constroem suas estruturas
motivacionais e emocionais. A quantidade e a qualidade desses vínculos, assim como o
conteúdo das relações objetivas e sociais, fazem parte de apropriações disponíveis ao sujeito e
do desenvolvimento da sua personalidade. Os significados sociais e o sentido pessoal unem-se
ou se alienam, causando o adoecimento (MARTINS, 2004).
Silveira e Nascimento (2015) realçam a singularidade de uma definição em relação ao
normal e ao patológico, e da relação com o contexto histórico do ser humano, e também, de
seus aspectos subjetivos, que contribuem significativamente na construção da psique.
Essa foi, é, e ainda será uma empreitada que segue com a trajetória das sociedades,
vale observar que cada época pode fazê-lo a seu modo, e de acordo com a sua perspectiva
vigente (SILVEIRA; NASCIMENTO, 2015, p. 2).
As discussões sobre o normal e o patológico tendem a continuar por algum tempo.
Por longos anos, o tema vem sendo apreciado sob diferentes perspectivas, envolvendo diversas
particularidades históricas e interpretações, interesses e sujeitos.
Para essa discussão, a compreensão singular do ser humano é crucial. Apesar de ser
objeto de análise a tentativa de entender e explicar o sofrimento/adoecimento, é preciso buscar
apreender as motivações, as relações, a intensidade, o contexto histórico e toda a
particularidade do ser humano. Anular a existência humana em função do seu sofrimento é
38
A apropriação da cultura vai além das primeiras relações que a criança tem na
infância. Trata-se da apropriação por meio das relações que produzem e medeiam os conteúdos
sistematizados e elaborados. A realização da atividade (trabalho) e o uso de instrumentos e da
linguagem só são possíveis porque a apropriação do conteúdo organizado é resultado do acesso
à educação:
Considerando então que a humanidade não “nasce” nas pessoas a partir delas
mesmas, mas resulta da humanidade objetivada e disponibilizada às suas
internalizações, a Psicologia Histórico-cultural e a pedagogia histórico-crítica não
são indiferentes à análise das condições objetivas que, em uma sociedade de classes,
reservam para diferentes indivíduos condições desiguais de humanização. Mais do
que não serem indiferentes, essas teorias evidenciam a necessidade de superação da
ordem econômica fundada na propriedade privada dos meios de produção, isto é, da
posse privada dos produtos do trabalho humano, no que se inclui o produto do
trabalho intelectual. Afirmam, ainda, a educação escolar como processo privilegiado
para, no âmbito da transmissão dos conhecimentos, opor-se as referidas
desigualdades. É a serviço do desenvolvimento equânime dos indivíduos que a
educação escolar desponta como um processo ao qual compete oportunizar a
apropriação do conhecimento historicamente sistematizado – o enriquecimento do
universo das significações -, tendo em vista a elevação para além das significações
mais imediatas e aparentes disponibilizadas pelas dimensões meramente empíricas
dos fenômenos (MARTINS, 2015a, p. 272).
É por meio da atividade consigo e com o meio, com a realidade, que o ser humano
une as funções elementares ao conhecimento e as transformações existentes no decorrer do seu
desenvolvimento às funções psicológicas superiores:
A atividade do sujeito - externa e interna- é mediada e regulada pelo reflexo psíquico
da realidade. Aquilo que no mundo objetivo aparece para o sujeito como motivos,
objetivos e condições de sua atividade deve ser, de alguma forma, por ele percebido,
apresentado, compreendido, retido e reproduzido em sua memória; isso vale também
para o processo de atividade em relação a si mesmo, a seus estados, características,
peculiaridades. Do ponto de vista histórico e genético, isso significou o
reconhecimento da existência de um psiquismo pré-consciente dos animais e o
surgimento no ser humano de uma forma qualitativamente nova, a consciência
(LEONTIEV, 2021, p. 145-146).
humano não se expressar, não extravasar suas angustias, medos, conflitos, entre outros
sentimentos que lhe causam desconforto.
Resgatamos em Vigotski e Luria (1966) a concepção de como o desenvolvimento
qualitativo é importante para o ser humano e como pode administrar situações que exijam de
si a organização e elaboração de suas emoções.
Vigotski e Luria (1996) esclarecem que, ao estudar o “homem cultural adulto”, deve-
se, além da evolução do comportamento do animal e do homem primitivo, estudar também o
desenvolvimento do comportamento da criança.
Existe, profundamente enraizado na consciência geral, um conceito incorreto, que é
a ideia de que a criança difere do adulto somente quantitativamente. Não precisamos
mais do que encolher o adulto, torná-lo mais fraco, diminuir suas habilidades e fazê-
lo um pouco menos inteligente e teremos uma criança.
Esse conceito da criança como um pequeno adulto é muito difundido. São poucas as
pessoas que consideram a ideia de que a criança nem sempre é simplesmente uma
réplica em miniatura do adulto e que, sob muitos aspectos, a criança difere
radicalmente do adulto – que a criança é uma criatura singular, completamente
diferente (VIGOTSKI; LURIA, 1996, p. 152).
Vigotski e Luria (1996) defendem que a criança difere do adulto por meio do
pensamento, da maneira como percebe o mundo, da lógica baseada em princípios qualitativos
diferentes caracterizados por grande especificidade, como também, a estrutura e as funções de
seu corpo em relação às do organismo do adulto. A criança possui aspectos hereditários que
compõem o seu desenvolvimento e podem aparecer mais ou menos em determinados
momentos. Mas, é a partir da relação com o meio que ocorre um salto qualitativo e não só
quantitativo nesse processo: “Logo, o desenvolvimento contém sempre, numa unidade,
aspectos hereditários e do meio” (VIGOTSKI, 2018, p. 72).
A existência do corpo físico é necessária para o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores. Mesmo defendendo que a cultura se sobrepõe ao elemento biológico,
Vigotski não abandonou o estudo sobre as questões biológicas e sua relação com o fator
cultural. Seus estudos trataram da relação de unidade, que abrange dialeticamente a
42
humano, deixando “ocultas suas possibilidades potenciais”. E ainda descreve, que as análises
quantitativas são permitidas quanto já se realizou uma análise qualitativa das circunstâncias.
Nesse sentido, Zeigarnik (1981) afirma que: “antes de iniciar a medição, deve ficar
determinado o que é que se mede” (ZEIGARNIK, 1981, p. 27). Ademais, a autora ressalta a
importância de conhecer as dificuldades que os doentes apresentam em suas dificuldades, além
de ser necessário reconhecer onde seus erros e dificuldades esbarram. Assim, “[...] é
precisamente a análise dos erros cometidos pelos doentes ao executar tarefas experimentais o
que nos proporciona significativo material para a valoração de uma determinada alteração na
atividade psíquica dos doentes” (ZEIGARNIK, 1981, p. 28).
Silva e Tuleski (2015) assinalam o quanto as queixas relacionadas ao sofrimento
mental, em seus diferentes níveis de complexidade, ainda são tratadas sob o viés biológico e
farmacológico. Essa perspectiva sofreu críticas de Vigotski:
A saúde mental foi relegada ao cuidado da psiquiatria sob o viés fisiológico, com
estudos iniciais de Zeigarnik no campo da Patopsicologia Experimental ainda sem
muitas perspectivas, pois estavam no caminho contrário à separação imposta entre a
psiquiatria e a psicologia (SILVA; TULESKI, 2015, p. 210).
desse fato porque sua cotidianidade nos cega. O exemplo mais claro disto é a
linguagem. No princípio, é um meio de vínculo entre a criança e aqueles que a
rodeiam, mas, no momento em que a criança começa a falar para si, pode se
considerar como a transposição da forma coletiva de comportamento, para a prática
do comportamento individual (VIGOTSKI, 1996 [1930], p. 112).
Martins (2015a) assinala que esse movimento ocorre em dois momentos: o primeiro,
de forma interpessoal para interpsíquico; depois que ocorre a internalização, torna-se
intrapsíquico, e retorna para o interpsíquico. À medida que o psiquismo se desenvolve, novos
sistemas vão surgindo, partindo do pensamento concreto para o abstrato – quanto mais pobre
de concretude é a palavra, mais rica é a abstração, e vice-versa.
[...] não se trata de que as alterações se dêem exclusivamente no seio das funções,
mas de que existem alterações nas conexões e na infinita diversidade de formas de
estas se manifestarem; que em uma determinada fase de desenvolvimento aparecem
novas sínteses, novas funções cruciais, novas formas de conexões, e que devemos
nos interessar pelos sistemas e pela finalidade dos sistemas (VIGOTSKI, 1996
[1930], p. 135).
Retomamos Vigotski (1996 [1930]) que explica que a doença, mas especificamente a
esquizofrenia, ocorre devido a desintegração da consciência: “o estudo dos sistemas e de suas
funções é muito instrutivo não apenas no caso do desenvolvimento e da construção do
psiquismo, mas também no caso de sua desintegração” (VIGOTSKI, 1996 [1930], p. 128).
Assim, percebemos que, mesmo que haja a pré-disposição genética, os fatores externos e
sociais contribuem diretamente para o surgimento do sofrimento psíquico.
Com base nesse entendimento, reportamo-nos a Martins (2021)7 que, durante uma
explanação, explicou que como resultado da humanização por meio da apropriação da cultura,
o ser humano consegue se controlar e ‘guardar’ o que há de mais primitivo dentro de si, assim,
consegue controlar suas emoções. Caso não consiga, significa que sua constituição foi
comprometida, o que pode resultar em comportamentos inadequados e até mesmo em atos de
barbáries (informação verbal). Desse resultado, constata-se que houve um desenvolvimento do
psiquismo sem qualidade, empobrecido de oportunidades, de educação, limitando o
desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores, ou seja, há poucas ou nenhuma
oportunidade, experiências, relações e acesso ao conhecimento científico e sistematizado. A
consequência é, comumente, a falta de desenvolvimento e de controle de sua consciência e de
suas emoções.
Silva (2014) sublinha que o fato de Vigotski ter trabalhado desde os anos 1920 com
a debilidade mental infantil e tê-la considerado um tipo especial de desenvolvimento e não
7
Fala da Professora Doutora Lígia Márcia Martins no curso Vigotski: fundamentos e práticas de ensino e artes
realizado dia 20/05/2021 pela EGOV: Escola de Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=haJUsEh8gUk. Acesso em 31 de mai de 2021.
47
uma diferença do estado normal permite-nos comparar os transtornos mentais a partir da ideia
da patologia como um ‘desenvolvimento’ desigual, com base na qualidade do desenvolvimento
normal.
Silva e Tuleski (2015) veiculam, a partir da Psicologia Histórico-Cultural, a
concepção dos transtornos mentais atrelada às determinações históricas e sociais. Vigotski
(1929/2000) considera que todos os seres humanos têm medos, angústias e delírios, entre
outras sensações. Contudo, o que difere uns dos outros é a intensidade, a hierarquia dada a
cada sensação, a cada sentimento e o quanto acreditam ou não nos delírios.
Martins (2015a) aponta que, diante da necessidade de superar a psicologia como uma
ciência multifacetada, Vigotski formulou a psicologia geral, com base no materialismo
histórico-dialético, por abarcar a natureza, o pensamento e a história. Centralizou seus estudos
no desenvolvimento do psiquismo, que ocorre por meio da cultura historicamente organizada,
da educação e do trabalho humano. Daí, o que se vê como normal ou patológico está de acordo
com o momento histórico do sujeito, a economia, a cultura, a qualidade do seu
desenvolvimento e os interesses da sociedade. O filme de Charles Chaplin (1989 – 1977)
“Tempos Modernos”, lançado em 05 de fevereiro de 1936, nos Estados Unidos, exemplifica
perfeitamente as relações do sujeito que adoece devido às exigências incessantes de uma
sociedade pautada no capitalismo. O personagem principal é visto quase como uma máquina,
até o momento em que é internado, após ser capturado e preso em uma camisa de força.
De acordo com Silva e Tuleski (2015), o adoecimento psíquico é constituído histórica
e socialmente, e com base nas relações. Esse percurso pode ser favorável a um
desenvolvimento saudável ou não.
Se o ser humano se humaniza no interior das relações sociais por meio de sua
atividade vital e metabólica com a natureza – o trabalho –, quando esta forma de
atividade se encontra alienada e precarizada, as possibilidades para o
desenvolvimento pleno da personalidade humana encontram-se obstaculizadas
(SILVA; TULESKI, 2015, p. 209).
seu organismo doente, seus sintomas e quadros clínicos. A autora salienta ainda, que sob a
perspectiva do materialismo histórico-dialético, os transtornos mentais precisam ser
percebidos com base nas relações sociais humanas, pois são produtos delas.
A qualidade no desenvolvimento da personalidade do sujeito é de extrema
importância, assim poderá se observar, compreender e organizar suas ações, mantendo a
consciência de todos os seus atos e consequências, e de como se comportará diante de situações
adversas, mas principalmente elaborar e organizar suas emoções.
A doença, ao modificar a atividade psíquica do homem, conduz a distintas formas
patológicas de personalidade. Nas publicações psiquiátricas pode-se encontrar
descrições extraordinárias por sua vivacidade e veracidade sobre as alterações da
personalidade, que são características para distintas doenças e estados. Contudo, a
análise destas alterações realiza-se fundamentalmente nas condições da psicologia
cotidiana ou na já superada [psicologia] empírica. Por este motivo, uma das metas
de maior perspectiva consiste na investigação das alterações de personalidade a
partir do ponto de vista da atual psicologia materialista. Estes estudos são necessários
não apenas para a prática psiquiátrica, mas também são úteis para resolver problemas
teóricos da psicologia da personalidade (ZEIGARNIK, 1981, p. 20).
Delari (2017) também contribui com a observação de como as diferentes relações são
possíveis propulsoras do sofrimento e de como as inúmeras situações que vivemos podem
gerar a dor. Delari (2017) ressalta que essas relações podem ser com outras pessoas ou conosco
50
mesmo, e entende o “sofrimento psíquico” como estado e/ou situações da vida humana que
sente dores originadas das relações sociais mediadas por processos simbólicos.
Nestes dois planos que se relacionam e se complementam justo por não serem
idênticos, mas antitéticos, qualitativamente distintos. Poderíamos dizer sofrimentos
afetivos, mas seria artificial tentar conferir “autonomia” do afeto com relação à
cognição e vice versa. Não podemos sentir qualquer emoção sem que nada pensemos
sobre ela. Nem pensarmos seja no que for sem qualquer emoção sentir ao fazê-lo
(DELARI, 2017, p. 8).
Marino-Filho (2020) explica que todo ser vivo é ativo para manter sua vida, sendo
essa uma condição básica do ser vivo. Por exemplo, em qualquer atividade animal existem
determinadas formas de objetivar a atividade. São sistemas de orientação, execução e controle
da atividade vital e, com base em Vigotski (1986), descreve:
O que para o animal viabiliza esse sistema é a sinalização que ativa as relações
sensíveis com o meio. Possibilitar a análise das informações e ativar os meios de
orientação, de execução e de controle para a atividade são algumas das funções da
sensibilidade. Para os homens, além dessa condição biológica, o que organiza esse
sistema é a transformação da sinalização em significação, isto é, os homens criam
novos sinais ao transformar a natureza e estes sinais passam a ser meios para a
manutenção da sua vida em comunidade com outros homens (MARINO-FILHO,
2020, p. 76).
Assim, quando a atividade exercida pelo sujeito não atende às suas necessidades, o
resultado do seu trabalho prejudica a formação da sua personalidade. Ao deixar de ter
autonomia para manifestar a sua individualidade, em função da negação de suas próprias
aspirações, passa a realizar a atividade sem atribuir-lhe sentido:
O trabalho como atividade humana, como atividade vital, é realizado pelo consumo
da própria força física e intelectual. O homem usa a si mesmo como meio, como
instrumento para realização da sua atividade. Nesse sentido, a atividade vital como
uso e consumo da própria força é, para o homem, uma condição. A manutenção da
sua vida não é possível sem que ele se submeta à atividade, sem que ele suporte o
esforço para a sua manutenção. Destacam-se, por isso, alguns dos sentidos da palavra
sofrimento como sustentar, submeter-se, tolerar, uma dada condição imposta por
outra força que não a do indivíduo sujeitado (MARINO-FILHO, 2020, p. 80).
Pessoa e Leonardo (2020) expressam que a atividade sem sentido não proporciona o
desenvolvimento dos sujeitos envolvidos em uma relação, e quando a desenvolvem apenas
para alcançar os indicadores estabelecidos não proporcionam a formação humana possível por
meio da mediação. Essa forma de trabalho nada mais é que a simples troca, ação desprovida
de motivação.
Caso o docente preocupe-se apenas com o cumprir metas e transmitir conteúdos,
perde-se de vista o caráter de humanização dos sujeitos pela Educação. Pode-se
afirmar que o professor está inserido em um sistema de venda de sua força de trabalho
e, no caso da atividade de ensino, reflete em muitos casos a elaboração de ações sem
fornecer sentido ao aluno e à sua realidade, tampouco a si mesmo (PESSOA;
LEONARDO, 2020, p. 12).
51
humano com a realidade, e esse fenômeno pode ser percebido a partir da criação de outros
sentidos pessoais com interpretações fantasiosas criadas para suportar o insuportável.
Nesse caso, como mau funcionamento, o adoecimento psicológico se manifesta
como a perda da coerência das ações dos indivíduos com a sua realidade. Isso
significa que o indivíduo passou a criar outros sentidos pessoais para as suas ações,
baseado em uma interpretação fantasiosa da realidade como alternativa para uma
realidade insuportável. Os problemas para o sistema psicológico se concretizam
como frustração das próprias ações na realidade concreta, já que o sentido na
orientação das ações se relaciona a uma realidade mal interpretada, diferente ou
inexistente na realidade concreta (MARINO-FILHO, 2020, p. 83).
Tabela 01: Trabalhos encontrados com o descritor Sofrimento Psíquico descrito nos resumos em
dezembro de 2020
Tipo Sofrimento Sofrimento Sofrimento psíquico Sofrimento Psíquico
Psíquico docente Psíquico crianças e outros
discente adolescentes
Dissertações 10 2 9 2
Teses 6 1 1 2
Total 18 3 10 4
Fonte: Freire, 2023.
Tabela 03: Trabalhos encontrados com o descritor Adoecimento Psíquico descrito nos resumos em
janeiro de 2022.
Tipo Adoecimento Adoecimento Adoecimento psíquico Adoecimento
Psíquico docente Psíquico crianças e Psíquico outros
discente adolescentes
Dissertações 23 0 0 2
Teses 10 0 0 1
Total 33 0 0 3
Fonte: Freire, 2023
57
Tabela 05. Relação dos artigos nos bancos de dados SCIELO e BIREME sobre adoecimento psíquico
relacionado ao trabalho docente
ANO AUTORES TÍTULO PERIÓDICO
1 2011 Marques, SVD; Martins, GB; Saúde, trabalho e subjetividade: Cadernos EBAPE
Sobrinho, OC. absenteísmo-doença de trabalhadores
em uma universidade pública
2 2012 Giannini, SPP; Latorre, Distúrbio de voz e estresse no trabalho Cad. saúde pública
MRDO; Ferreira, LP. docente: um estudo caso-controle
4 2016 Coelho, RN; Ramalho, GM; A saúde do trabalhador no âmbito Rev. psicol.
Brito, ES; Miranda, BB; Silva, universitário: uma parceria de êxito na (Fortaleza, Online)
TIO; Pereira Filho, FAA. UFC
5 2017 Silva, VA; Coimbra, AKS; Saúde dos professores do ensino Vínculo
Yokomiso, CT. fundamental da rede pública e a
construção dos espaços psíquicos
compartilhados
7 2018 Siqueira, BC; Boarini, ML. A saúde do professor no cotidiano Psicol. Educ.
escolar: uma pesquisa histórica (Online)
8 2019 Vivian, C; Trindade, LL; Estratégias de defesa contra o Cad. psicol. soc.
Rezer, R; Vendruscolo, C; sofrimento no trabalho de docentes da trab
Rodrigues Junior, SA. pós-graduação stricto sensu
11 2021 Souza, KR; Simões-Barbosa, Trabalho docente, desigualdades de Cien Saude Colet
RH; Rodrigues, AMS; Felix, gênero e saúde em universidade
EG; Gomes, L; Santos, MBM. pública
12 2022 Figueiredo, SL; Silva, EF. Desafios do Fazer Docente nas Salas Psicologia: Ciência
de Recursos Multifuncionais (SRM) e Profissão
Fonte: Freire, 2023
Ainda nessa terceira pesquisa, conduzimos uma nova procura a partir do descritor
Histórico-Cultural. Utilizamos, novamente, os mesmos filtros de busca e os mesmos
processos de seleção que se referem ao docente sob o aporte da teoria/Psicologia Histórico-
cultural.
Em seguida, após a fusão da pesquisa nos dois bancos de dados, aplicando-se o
afunilamento para pesquisas envolvendo docente e retirando-se os títulos que estavam
repetidos, identificamos 30 artigos relacionados à atividade ou à formação docente, sendo que
apenas 01 fez menção ao adoecimento ou sofrimento do professor de maneira geral, incluindo
o adoecimento psíquico.
Tabela 06. Relação dos artigos nos bancos de dados SCIELO e BIREME sob o aporte da THC e
Adoecimento Docente
ANO AUTORES TÍTULO PERIÓDICO
Tabela 07. Relação de teses e dissertações no Banco de teses e dissertações da CAPES com o descritor -
adoecimento psíquico- relacionado ao trabalho docente à luz da PHC
ANO AUTORES TÍTULO TIPO PROGRAMA E
UNIVERSIDADE
1 2014 SANTOS, Contribuições da Psicologia Dissertação Psicologia
DIEGO Histórico-cultural para a
AUGUSTO compreensão do adoecimento Universidade Estadual
DOS e sofrimento psíquico de De Maringá
professores'
2 2019 FERNANDES, O adoecimento psíquico Dissertação Psicologia
LETICIA (in)visível docente: uma
BRITO DA perspectiva da Psicologia Universidade Federal
MOTA. Histórico-cultural De Mato Grosso Do Sul
Fonte: Freire, 2023
A escolha dos descritores para as pesquisas científicas é fundamental. Caso eles não
estejam de acordo com a nomenclatura das bases de dados, o trabalho pode não ser encontrado,
e por isso nem será citado. Além de a informação ficar perdida, gera prejuízo também para a
revista em que foi publicado, pois quanto mais citada, mais valorizada será a revista. E há
perda para o autor, pois um maior número de citações acrescenta relevância ao valor da
pesquisa e de seus resultados. Ademais, é frequente a dificuldade vinculada à busca, ou seja,
quais palavras devem ser inseridas no campo de pesquisa. O descritor confere maior
especificidade à busca realizada (BRANDAU; MONTEIRO; BRAILE, 2005; POMPEI,
2010).
Esse dado, apesar de a priori ser frustrante, remete-nos à duas proposições: a
importância da construção e remodelamento da pesquisa durante o seu processo, uma vez que,
mesmo em uma pesquisa teórica, é necessário atentar às possibilidades de procura, à utilização
de termos similares, à ampliação da base de dados e à leitura mais aprofundada dessas
produções. Por outro lado, esse achado revela ainda a carência de estudos acadêmicos que
tratam diretamente do sofrimento/adoecimento psíquico em meio educacional com o aporte da
PHC, o que nos sugere a urgência e a acuidade das nossas investigações.
Reportamo-nos a Rebolo et al. (2020) em uma pesquisa no mesmo banco de dados,
utilizando os descritores ‘saúde dos professores’ e ‘adoecimento dos professores’. Concluíram
que as referências mais utilizadas foram Psicodinâmicas do Trabalho, Análise Ergonômica do
Trabalho e Ergonomia da Atividade, Teoria das Representações Sociais, Psicologia Histórico-
cultural e mal-estar docente.
61
Facci, Leonardo e Silva (2010) observaram, em uma análise dos textos publicados
sobre a formação do professor nos Anais das Reuniões Anuais da ANPEd, no período de 2002
a 2006, que a Psicologia Histórico-cultural e a Pedagogia Histórico-Crítica raramente foram
adotadas como fundamentação teórica.
Inferimos que as abordagens teóricas abraçadas nas pesquisas encontradas nesse
levantamento correspondem ao método de conhecimento dos pesquisadores, pois só é possível
transmitir informações e propiciar a transformação por meio da propriedade do conhecimento.
Urt (2005) expõe que a produção científica é uma forma de transmissão e divulgação
daquilo que vem sendo investigado em determinada área de conhecimento e em dado momento
histórico, o que nos reporta às prováveis preferências de abordagens teórico-metodológicas
das pesquisas, que necessitam de maiores aprofundamentos.
Seguindo a mesma lógica, Martins (2005) declara que a pesquisa epistemológica e
científica advinda da apreciação de produções acadêmicas nos permite minimizar meras
reproduções do conhecimento e avançar cientificamente com novas propostas de compreensão
da realidade, identificando lacunas, aspectos ainda por explorar ou modos diferentes de tratar
temas de pesquisa.
As pesquisas no âmbito da educação podem contribuir para melhorar o processo de
constituição do ser humano, do seu desenvolvimento e da sua apropriação das experiências
culturais. Ademais, possibilita aprender sobre o desenvolvimento da personalidade, entendida
como aspecto metodológico central, como a expressão autêntica e genuína dos componentes
social e cultural, da história da personalidade.
O interesse em abordar a questão do método nas pesquisas educacionais já expressa
a existência de certo grau de insatisfação com o estado atual das mesmas, significa
uma procura por novas respostas a partir de novas hipóteses, um olhar mais
aprofundado sobre a aplicação na prática dos princípios e construtos da teoria
histórico-cultural. Aceitar o papel que o estado de insatisfação e insuficiência traz
para o desenvolvimento, permite compreender a importância da necessidade de
pensar no método nas pesquisas educacionais (MENDONÇA; PENITENTE;
MILLER, 2017, p. 41).
Como vimos neste levantamento, a busca por trabalhos a partir de um único descritor
pode, inicialmente, frustrar o pesquisador, devido ao número de estudos encontrados, em
contraste com o quantitativo esperado. Por outro lado, ocorre a identificação da prevalência do
método ou abordagens teórico-metodológicas mais utilizadas sobre o tema. Em suma, toda
pesquisa efetuada com qualidade é geradora de conhecimento e contribui para o interesse e
aprendizado de novos pesquisadores.
A pesquisa é um conjunto de operações ou atividades que objetivam desvendar novos
conhecimentos em vários domínios, principalmente no âmbito científico, que abarca um
62
processo sistemático de busca e análise e que procura investigar e/ou compreender uma
realidade, um contexto ou um problema (GIL, 1999; CERVO; BERVIAN, 2002;
DAMASCENO et al., 2014).
Castro (2020) assevera que, independentemente do método, a pesquisa se transforma
em um estudo descritivo e identifica pontos importantes para a compreensão de um fenômeno,
no caso deste texto, o sofrimento psíquico docente.
Em acordo com o método materialista dialético e metodologia de revisão
bibliográfica, uma análise realizada pode ser classificada como um estudo descritivo
que se processou a partir de uma abordagem quantitativa e de análise de conteúdo, a
fim de identificar categorias e subcategorias que se relacionam aos estudos que fazem
referência ao adoecimento docente e levando em conta a criticidade do material
coletado, promovida pela observação da realidade com uso do materialismo
histórico-dialético ou não (CASTRO, 2020, p. 64).
Pessoa, que descreve a dor de um ser humano que sofre com as noites que o engole em meio
aos numerosos e dolorosos pensamentos, descreve a dor sufocada e a turbulência de
sentimentos, do silêncio de dentro e de fora, da esperança em descansar em um sono profundo
ainda não experenciado, e que de certa forma retrata alienação da humanidade que tudo
esquece, que cria seu próprio mundo na tentativa de sobreviver.
No próximo capítulo, discorremos sobre o sujeito professor e suas manifestações
psíquicas, personagem principal da nossa pesquisa. Buscamos descrever sua formação social,
o desempenho da atividade docente e tecemos considerações a respeito do sofrimento psíquico
docente.
INSÔNIA
Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
Todas aquelas de que me arrependo e me culpo ;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo, sei lá salvo o quê...
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
64
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!
Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exatamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exatamente. Mas não durmo.
Fernando Pessoa (1888 - 1935)
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
Online disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/facam28.html.
65
história, que podemos atribuir significados, cooperam com as atividades psicológicas do ser
humano, são esses elementos que permitem o ser humano a compartilhar e gerar os
conhecimentos.
Ser professor requer reconhecer, entre tantas outras, duas funções essenciais na
execução de sua atividade. A primeira é a responsabilidade de contribuir para a formação de
outro ser humano; a segunda é ser elemento participativo. É na realização da sua atividade que
o ser humano se percebe e percebe o mundo e atende às suas necessidades físicas e psíquicas.
E é pelo processo de trabalho, para o qual já não bastam as propriedades orgânicas
naturais ou primárias, que novos atributos se desenvolvem no homem, e
especialmente, um psiquismo complexo que comportará uma relação consciente com
a natureza. E como o próprio homem é parte insistentemente da natureza, uma
relação consciente para consigo próprio (MARTINS, 2014, p. 99).
Martins (2015b) enfatiza que em pesquisas atuais, tem sido referenciado sobre a
importância da subjetividade do professor, considerando o papel de sua expressão tanto a sua
formação quanto a execução de sua atividade:
Afirmam-se novos pressupostos para a formação de professores autônomo e no
incentivo às estratégias de autoformação, nos quais grande ênfase é concedida ao
desenvolvimento pessoal. As características pessoais, as vivências, profissionais, as
histórias de vida, a construção da identidade etc. com maior frequência tornam-se
objetos da investigação educacional, que aponta a impropriedade de se estudar o
ensino sem se levar em conta a subjetividade do professor (MARTINS, 2015b, p. 7).
Sob essa perspectiva, Vital e Urt (2018) ponderam sobre a constituição docente e as
relações existentes, pois, sua constituição está relacionada tanto com a ação educativa quanto
com as pessoas que fazem parte desse processo, e sua atividade pode ser caracterizada como
uma ação mediadora, entre o ser humano e o conhecimento. Pelo fato de esta constituição ser
pensada no contexto da educação integral, o sujeito só pode ser concebido como um sujeito
também integral (VITAL; URT, 2018, p. 1-2).
Assim, vemos que os estudos sobre o sujeito professor merecem atenção singular
quando se pensa na contribuição da atividade docente para o desenvolvimento humano durante
a educação escolar e consequentemente para toda a sociedade. Contudo, nem sempre o
professor foi visto como ser atuante, participativo e independente.
Nóvoa 8 (1989) narra que, por longos séculos, o ensino coube às congregações
religiosas, com destaque para os jesuítas. A responsabilidade do ensino inicial era exclusiva
de mestres laicos que, por meio de acordos com as famílias, contratos com os municípios, ou
lugares notáveis, exerciam a atividade docente como secundária ou acessória. A educação
subordinava-se à igreja:
A diversidade de situações e de práticas educativas, bem como a heterogeneidade
dos estatutos dos professores e dos mestres, encontram um único denominador
comum na subordinação e na obediência a Igreja: até ao século XVIII a educação é
sobretudo uma empresa religiosa. As ordens religiosas da atividade docente vão
acompanhar os professores ao longo de toda a sua história socioprofissional.
“Agentes da Igreja”, os professores transformar-se-ão durante o século XVIII em
“funcionários do Estado”, sem que grande parte das motivações originais da sua
profissão tenham sido substituídas por outros valores (NÓVOA, 1989, p. 436).
8
António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa foi citado neste trabalho por contribuir com a historização da pessoa
do professor, devido aos seus inúmeros trabalhos sobre a constituição e formação docente.
69
Nóvoa (2009) aponta três medidas que, apesar de não esgotarem todas as questões,
podem, ao menos, responder algumas indagações e redirecionar o entendimento sobre o sujeito
professor:
• Primeira medida - É preciso passar a formação de professores para
dentro da profissão - O autor enfatiza a necessidade de os professores
ocuparem os lugares principais na formação dos seus colegas. Como
exemplo, cita a formação em medicina, em que médicos ensinam futuros
médicos.
70
É necessário, assim, preparar os professores para saberem lidar com a sociedade atual,
com as dessemelhantes situações do dia a dia que venham a surgir. Martins (2015b) garante
que o professor pode desempenhar a sua função com sucesso, desde que consiga dirigir as
diversas situações do cotidiano e que sua formação objetive a sua capacidade de acompanhar
as intensas e inúmeras mudanças da sociedade contemporânea:
Portanto, o êxito do profissional assenta-se em sua capacidade para manejar situações
concretas do cotidiano e resolver problemas práticos mediante a integração
“inteligente e criativa” do conhecimento e da técnica.
A capacidade de analisar situações significa, nessa perspectiva, possibilitar
permanentemente a elaboração de ações adequadas em relação aos contextos e às
próprias possibilidades existentes, o que, em última instância, representa preparar os
professores para as aceleradas mudanças sociais características do mundo atual
(MARTINS, 2015b, p. 11).
Nóvoa (2009) nos convida a delinear novos caminhos para a profissão professor.
Relata que, no início do século XXI, esse sujeito volta a adquirir uma ampla relevância pública.
De fato, o professor desempenha um papel de protagonismo ímpar na educação escolar, pois
concorre para o desenvolvimento e a emancipação humana, além da apropriação das
significações criadas historicamente, por meio da cultura:
A Educação Escolar, por meio da atividade, permite que se reproduzam as funções
sociais dos instrumentos e conhecimentos humanos com a finalidade de
transformação da realidade e de si mesmo. É preciso garantir que todos tenham
acesso a esses bens, pois caso contrário, são reduzidas as possibilidades de
desenvolvimento e de humanização (PESSOA; LEONARDO, 2020, p. 5).
focadas na ação do professor, naquilo que ‘é’ e ‘faz’, relacionando a formação à atividade
prática e real.
Então, não há como separar o sujeito (Eu) do professor (profissional) – o sujeito tem
a sua forma única de ser, o seu todo. O sujeito é o que faz, faz o que é, torna-se o sujeito
professor.
Pessoa e Leonardo (2020) acentuam que a percepção da relação entre significado e
sentido da atividade humana é categórica para a educação, pois é a partir das ações sociais e
pessoais sobre a educação escolar que há ou não uma disposição para que os conhecimentos
sejam minuciosamente aplicados em sala de aula:
Dessa forma, se os significados sociais são partilhados e trabalhados na escola, o
modo como o professor vivencia seu papel e elabora suas ações de ensino incide
diretamente na maneira como os alunos podem ou não se apropriar dos
conhecimentos escolares. A atividade docente se constitui a partir desses significados
sociais sobre sua profissão e ainda sobre o sentido pessoal que atribui a seu papel,
direcionando como as ações de ensino serão desenvolvidas (PESSOA; LEONARDO,
2020, p. 3).
Do mesmo modo, Vital e Urt (2017) registram a compreensão do trabalho sob o viés
da Psicologia Histórico-cultural e os motivos pessoais em sua realização. E que, o significado
do trabalho do professor é formado pelo seu objetivo de ensinar, e tem consciência das
condições reais e objetivas do processo ensino-aprendizagem, e como meta deseja que o aluno
se aproprie do conhecimento. E quanto ao motivo subjetivo, salientam que é necessário
perceber o que o motiva exercer tal atividade, qual é o seu motivo pessoal.
73
Diante das constatações sobre a constituição do sujeito professor, não nos restam
dúvidas sobre a imprescindibilidade de uma formação que viabilize o seu pleno
aprimoramento. As apropriações do conhecimento e da cultura são permanentes, constantes.
O sujeito não deixa de aprender enquanto estiver vivo e for atuante: relaciona-se e subjetiva-
se.
Uma formação que consista em assegurar os conteúdos externos (conteúdos
formativos) e internos (pessoais, particulares) do ser humano impulsiona-o a dominar seu
conhecimento e tão logo a sua atividade, os seus objetivos. Esse mecanismo pode favorecer
um desempenho profissional menos desgastante em face das adversidades da carreira. Pode
ser um modo de prevenir o adoecimento.
Vigotski (2004) visualizou, na psicologia pedagógica, uma maneira de educar com o
propósito de promover o desenvolvimento e não somente de ensinar conteúdos de forma
superficial, nada reflexiva e sem caráter científico, como nas demais psicologias. Sobre essa
obra, a psicologia pedagógica, torna se importante ressaltar que a obra foi elaborada em um
período que houve um olhar peculiar, mais centrado no aluno, contudo, tomamos o cuidado de
aprecia-la e utiliza-la na elaboração dessa Tese por conter conteúdos relevantes quanto aos
vários aspectos que envolvem processo ensino-aprendizagem.
Vital e Urt (2017) asseguram que a Psicologia Histórico-Cultural percebe, no trabalho
do professor, uma mediação pedagógica que reúne, além de elementos referentes à função da
escola, o entendimento da relação entre aprendizagem e desenvolvimento, evidenciando que o
papel da aprendizagem é precedente ao desenvolvimento humano:
A concepção vigotskiana estabelece ao professor uma nova relação com os processos
de educação e de ensino e, consequentemente, um novo olhar sobre sua
responsabilidade e papel no desenvolvimento das qualidades humanas, visto que
educação e ensino transforma-se em possibilidades universais do desenvolvimento
humano (VITAL; URT, 2017, p. 155).
Apesar de Vigotski pouco ter se aprofundado no tema das emoções, devido ao seu
estado de saúde, em A Teoria das emoções considera os fatores biológicos e culturais no
77
dos sentimentos sempre será uma reeducação dos próprios sentimentos, ou seja, será uma
modificação no sentido da reação emocional inata (VIGOTSKI, 2004).
Gottman e De Claire (1997) sublinham que cuidar das emoções é um aspecto
fundamental para o desenvolvimento, pois, de acordo com a ciência, as emoções tem papel
importante em nossas vidas. Além disso, os estudiosos constataram que a percepção emocional
e a capacidade em lidar com os sentimentos, mais até que o QI, estabelecem e influenciam os
resultados, como o sucesso e a felicidade de uma pessoa em todos os setores da vida, inclusive
nas relações familiares (GOTTMAN; DE CLAIRE, 1997, p. 20).
Vigotski foi além, pois percebeu na arte, a capacidade de sistematizar um campo
particular do psiquismo humano, mas especificamente o campo do sentimento. Por meio da
arte, o ser humano é capaz de refletir diversas formas de cultura que vão se estabelecendo nas
relações históricas e sociais por ele vivenciadas. Nessa relação dialética, ao mesmo tempo
transmite as culturas de uma determinada época, como também é criada por ele. O contato e o
conhecimento das artes é um dos fatores essenciais na constituição da emoção como função
superior (SILVA, 2011; LEITE; SILVA; TULESKI, 2013).
Para Vigotski, as emoções são funções psicológicas superiores, portanto, culturalizadas
e passíveis de desenvolvimento, transformação ou novas aparições. Além disso, a concepção
vigotskiana de emoção coloca esse processo psicológico em estreita relação com outros do
psiquismo humano (MACHADO; FACCI; BARROCO, 2011; SILVA, 2011).
A fala e o pensamento favorecem ao ser humano o enriquecimento das suas relações,
das suas aspirações, além da sua humanização. A restrição ou a privação dessas experiências
essenciais para o desenvolvimento o desumanizam, levam-no a desintegrar o seu psiquismo.
Portanto, quando o ser humano se abstém de se expressar, de ansiar por seus objetivos, deixa
de se relacionar, de se transformar, sofre e adoece.
É a linguagem que proporciona o desenvolvimento de instrumentos internos, ou seja,
instrumentos de qualidades equivalentes aos instrumentos externos. Propicia que o indivíduo
atue na realidade circundante e organize a atividade psíquica (VIGOTSKI, 2018; SANTOS;
LEÃO, 2014).
A fala nem sempre está ligada ao pensamento. Por vezes, pode ser uma reação
emocional demonstrada por meio de gritos, movimentos, expressões e fortes emoções, cujo
objetivo é aliviar a tensão. Essas reações em nada ajudam as pessoas na solução de funções
complexas. Esse processo também ocorre quando o sujeito não possui suas funções
psicológicas superiores desenvolvidas com propriedade, o que pode desencadear
79
E assim, compreendemos que, mesmo diante dos motivos que estimulam a atividade,
as emoções podem ser instigadoras, mas não responsáveis pela execução da atividade, pois
podem estar ocultas, seja de forma consciente, quando reprimidas, ou mesmo inconscientes
por estarem envolvidas nas sensações elementares.
Por esse caminho, fulcrados na Psicologia Histórico-cultural, advogamos o papel do
pensamento e da linguagem como relevantes aliados da consciência humana, na condição no
controle das emoções para a prevenção do sofrimento/adoecimento docente.
Vital e Urt (2019) estabelecem a relação entre a atividade do ser humano e a sua
constituição, por ser o ser humano um resultado da sua vida em sociedade e da apropriação da
cultura que advém de um processo histórico-cultural, resultado do conhecimento, valores e de
comportamentos que são produzidos pelo seu grupo que o leva a humanizar-se.
Nesse contexto, Zanelato e Urt (2021) evidenciam o desenvolvimento psíquico do ser
humano por meio das transformações, também como resultado da sua atividade que modifica
a natureza gerando as mudanças em seu desenvolvimento psíquico. Trata-se de um processo
dinâmico, em que a consciência, a partir de determinantes da realidade concreta, se desenvolve
e reestrutura seus sistemas complexos, ampliando as condições do sujeito de compreensão da
realidade e de si próprio (ZANELA; URT, 2021, p. 2).
Para Soares e Martins (2017) a junção entre saúde e educação e de como as relações
sociais podem contribuir para o adoecimento está relacionada com o trabalho. Isso se deve
também porque podemos considera-lo o precursor da humanidade, e assim, deve ser a
categoria principal na análise do eixo saúde-doença:
Isto porque quando pretendemos compreender a saúde de um modo geral, a educação
como um meio possível de promoção de saúde e analisamos o atual quadro de
sofrimento de professores e alunos dentro do contexto da educação escolar, estamos,
via de regra, diante de produtos das relações sociais que, como sabemos, refletem as
relações sociais de produção de um dado tempo histórico (SOARES; MARTINS,
2017, p. 53).
82
Quando a prática docente ocorre sem o sentido pessoal, não tem significação social,
por isso vai se transformando em uma prática alienada. Corresponde a uma ação sem
consciência, independentemente do contexto histórico social (SANTOS; URT; VITAL, 2017;
MARTINS, 2004). A partir do momento em que as necessidades não são as do sujeito, sua
atividade se dá sem autonomia, restando, apenas, a busca pela sobrevivência.
Marino Filho (2020) descreve que a partir do momento que o ser humano se orienta
de maneira coesa com o meio e com os objetos que satisfazem suas necessidades, movimenta-
se por meio de sentidos com valor afetivo, emocional e cognitivo positivos para sua existência.
Entretanto, se por algum motivo, razão, o ser humano não tem os meios, não entende as suas
necessidades, não as satisfaz de maneira lógica, dá-se início, portanto, a um processo de
frustrações na execução de suas atividades e do controle de todo o conjunto.
O contínuo esforço sem sucesso para a solução das dificuldades para a execução da
atividade leva ao sofrimento e, por consequência, pode levar ao adoecimento. Esse
processo existe em todos os seres humanos, independentemente da idade ou
atividade/ocupação. O sofrimento e o adoecimento podem ser encontrados em
crianças, jovens, adultos ou idosos. O sofrimento e o adoecimento psicológico
resultam das condições de produção da vida em sociedade e não podem, por isso, ser
atribuídos, exclusivamente, a condições biológicas a priori (MARINO-FILHO, 2020,
p. 77).
Quando as relações sociais existem por meio da mediação entre a atividade e seus
objetivos, com sentido pessoal e social, as particularidades da consciência, junto aos fatores
intrínsecos e extrínsecos do sujeito, contribuem para a constituição da sua personalidade.
Contudo, quando há a perda do sentido e do significado no desempenho da atividade, surge a
alienação. (MARTINS, 2004; FACCI, 2019):
O desenvolvimento da personalidade, na perspectiva da Psicologia Histórico-
cultural, abarca o natural, o histórico no ser humano, e é um conceito social. A
personalidade não é inata, ela surge como resultado do desenvolvimento cultural, e
o sofrimento do professor provoca alterações na estruturação da sua personalidade e
na forma como realiza o seu trabalho, decorrente das relações estabelecidas na
sociedade (FACCI, 2019, p. 134).
A música O dia em que a Terra parou, uma composição de Raul Seixas e Claudio
Roberto Andrade de Azeredo, lançada em 1977, tornou-se tão contemporânea quanto qualquer
outra melodia do século XXI. Foi o dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram
que ninguém ia sair de casa, como que fosse combinado. Naquele dia ninguém saiu de casa,
ninguém (SEIXAS, 1977). O compositor e cantor não imaginava que, após 43 anos, sua arte
seria o retrato exato de um fenômeno desconhecido e temido pelo mundo – a pandemia da
COVID-19.
Em 30 de janeiro de 2020, a OMS – Organização Mundial de Saúde declarou que o
surto do novo coronavírus constituiu uma Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional (ESPII) – o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no
Regulamento Sanitário Internacional. Essa decisão objetivou aperfeiçoar a coordenação, a
cooperação e a solidariedade global para cessar a proliferação do vírus. O termo ‘pandemia’
se refere à distribuição geográfica de uma doença, e não à sua gravidade. (OMS, 2020).
A COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-
2) e tem, como principais sintomas, febre, cansaço e tosse seca. Alguns pacientes podem
apresentar dores, congestão nasal, dor de cabeça, conjuntivite, dor de garganta, diarreia, perda
de paladar e/ou olfato, erupção cutânea ou descoloração dos dedos das mãos ou dos pés. Esses
sintomas geralmente são leves e começam gradualmente (OMS, 2020). A situação atípica
instaurada pela doença infecciosa causada pela SARS-CoV-2, causou medo, dor e desespero
para sociedade, inclusive aos profissionais de educação.
Além de o número de óbitos no Brasil decorrentes da COVID-19 ter atingido o
número de 700.556 mil9, a sociedade perpassou o agravamento de outras crises que já estavam
em curso, a exemplo das crises econômicas e sociais. Essas características evidenciam a
complexidade do sistema capitalista e sua forma de explorar a força de trabalho e a geração de
mais valia para sustentar o ritmo da acumulação de capital, expondo fraturas produzidas por
esse sistema que já existiam antes, como no caso das desigualdades educacionais, e colaboram
para a efetivação de um cenário mais perverso para os professores e para todos os outros
9
Dados do site: https://covid.saude.gov.br/. Painel Coronavírus Atualizado em: 04/04/2023 16:26
87
Castro (2020) aponta que não é imprudente afirmar que a mudança radical do ensino
presencial para o ensino remoto, ou outra modalidade, como EaD, tem gerado consequências
catastróficas para educação brasileira, e mais, que existia uma crise estrutural disfarçada muito
antes da pandemia, e com toda sinceridade, há pelo menos 500 anos.
Marques, Assis e Gomide (2020) percebem o ensino remoto como uma forma de
impulsionar a desigualdade social, pois diferente das instituições privadas que podem manter
o ensino devido todas as condições disponíveis, as instituições públicas, para a classe
desprovida de recursos tecnológicos, internet, não há possibilidade de ter acesso mínimo de
qualidade para participar efetivamente das atividades online:
Grande parte da população brasileira não possui os instrumentos tecnológicos
mínimos e acesso à Internet com a qualidade necessária para participar efetivamente
das dinâmicas pedagógicas não presenciais. Além disso, boa parte das instituições de
ensino denominadas “públicas”, financiadas pelo Estado, não possuem recursos
financeiros, tecnológicos e humanos para migrar o ensino para o ambiente digital.
Assim, ampliam-se antigas desigualdades socioeducativas, num evidente
favorecimento das classes mais abastadas da sociedade brasileira (MARQUES;
ASSIS; GOMIDE, 2020, p. 8).
possível do modelo real de ensino, e assim passaram a trabalhar mais de 16 horas diárias e
muitas vezes tiveram seus salários reduzidos.
Professores exaustos, tentando manter crianças na frente da tela do computador ou
da Tv e, ao mesmo tempo, tiveram que dar conta da aula de seus filhos, além de,
numa sociedade capitalista patriarcal, cuidar dos afazeres domésticos, sendo esses,
quase sempre, tarefa feminina. A roda do capital não pode parar de produzir
mercadoria e a rede particular de ensino demorou a seguir seu suposto funcionamento
normal, exigindo mais dos professores, repetindo a tendência desse “século de
incertezas” em que as empresas pensam o assédio ao trabalhador como estratégia de
gestão (NETO; PIRES, 2020, p. 43-44).
Ainda sobre as lacunas no ensino, Neto e Pires (2020) afirmam que a educação tem
experienciado esse processo, antes mesmo da pandemia, por fazer parte dessa sociedade
capitalista.
A escola vivencia todos os problemas de uma sociedade capitalista e tem sido
agredida no seu campo ideológico, como pode ser visto, por exemplo, no movimento
escola sem partido, em que professores são chamados de doutrinadores, em que o
conhecimento científico, artístico e filosófico é limitado para a classe trabalhadora a
partir de reformas curriculares como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
(NETO; PIRES, 2020, p. 41).
O fato é que esse isolamento tem levado ao mal-estar individual no trabalho e desafia
as organizações sindicais a construírem novas ações coletivas de resistências e lutas contra a
nocividade do trabalho (SOUZA, et al., 2021).
As professoras e os professores, sobretudo de educação básica, já encontravam
dificuldades anteriores à pandemia, tanto pela carga horária extraclasse, quanto pela
remuneração e condições de exercício no que toca às ferramentas de trabalho. A
precarização da classe professoral não é uma temática nova. Em tempos de pandemia,
é necessário discutir e evidenciar o possível aumento da demanda de trabalho dos
professores, a possibilidade de redução de carga horária, a não familiarização com
novas ferramentas e a falta de formação sobre esses meios, entre tantas outras facetas
do fazer docente (PALUDO, 2020, p. 45).
O filme A poeira – uma história do Pantanal, baseado no conto “Nessa poeira não vem
mais seu pai”, de Augusto César Proença, de roteiro e direção geral do próprio e de Hélio
Godoy, lançado em 2008, é um curta-duração de 14 minutos10. O filme conta a história de um
menino que perde seu pai, vaqueiro do Pantanal em um acidente de cavalo, mas as lembranças
do pai e da paisagem pantaneira ficam para sempre guardadas, inspirando-lhe coragem e
bravura.
O curta retrata a história do peão que, ao realizar sua atividade (trabalho), perde a vida,
devido aos riscos de sua profissão. No entanto, mesmo que as condições e instrumentos
apresentem perigos, o amor pelo ofício prevalece. Não só a dedicação ao trabalho, mas também
as relações e a cultura são retratadas na obra, além de explanar a influência da atividade do pai
no desenvolvimento do filho. Sem contar que tal atividade é um aspecto indissociável da cultura
regional e do desenvolvimento do povo pantaneiro.
Como nos demais capítulos, aqui também citamos uma obra cinematográfica que
pudesse ser relacionada ao tema em discussão. O filme elencado, A poeira – uma história do
Pantanal por retratar a vida de um peão (profissional do campo) e todas as particularidades que
dizem respeito a sua atividade, como as condições, as dificuldades, mas também os prazeres, a
satisfação e demais circunstâncias que envolvem a atividade do ser humano, está relacionado
diretamente com o capitulo a ser apresentado. Os dados coletados apresentam a percepção dos
professores sobre todos os aspectos que podem ser observados no curta, e nos permitem
relacionar a motivação e afeto pela profissão, mas também, as inúmeras consequências que
podem ser causadas por meio da atividade.
Partindo da interpretação do filme, iniciamos esse capítulo apresentando os
pressupostos teóricos e o percurso metodológico, o contexto e os sujeitos da pesquisa, os dados
sobre a compreensão do sofrimento/adoecimento para professores e gestores do município de
Corumbá MS.
10
Link para acessar o filme: A poeira – uma história do Pantanal liberado na plataforma YouTube
(https://www.youtube.com/watch?v=BKw0MaUt04A
93
O processo educativo é amplo, complexo e deve ser dinâmico para quem colabora com
a aprendizagem e para quem aprende. Apesar da relevância da educação para o ser humano
visualizam-se atitudes de descaracterização e desvalorização, em especial quanto ao
profissional que desempenha suas atividades laborais com o intuito de contribuir para o
desenvolvimento do ser humano, o professor. A escola é um ambiente onde essas relações
ocorrem de forma intensa, por isso merece atenção especial.
As relações na escola são contínuas, criadoras de significados intersubjetivos, que
geram novas relações, integram histórias de vidas com experiências e vivências, originando os
sentidos subjetivos, que nem sempre são percebidos por quem ensina e por quem aprende.
Assim, é a vida em sociedade, como constituição histórica e produto de inúmeras
determinações, que possibilita que o ser humano se desenvolva (TUNES; TACCA; JÚNIOR,
2005; BERNARDES, 2010).
Zanella et al. (2007) avaliam que a psicologia de Vigotski vem se solidificando no
panorama científico como referência em pesquisas que discutem o processo de construção do
sujeito em diferentes contextos e condições sociais, incialmente no contexto educacional. Dessa
forma, descrevem como a PHC propõe a análise de um conteúdo:
Neste sentido, a Psicologia Histórico-cultural caracteriza-se pela concepção da
realidade como complexa, da interdependência entre fenômenos, da mútua
constituição de sujeitos e sociedade. Cada aspecto contemplado na análise, nesse
sentido, não é apenas mais um “apêndice” que faz parte de um todo, pois é, ao mesmo
tempo, manifestação da totalidade e determinante desta totalidade, pela maneira como
se relaciona com os outros aspectos. Por isso, privilegiam-se os movimentos,
transições, aquilo que propicia uma compreensão integral dos fenômenos, por
contemplar as relações de constituição recíproca desses e da totalidade que os mesmos
compõem, e também a gênese das mudanças de qualidade propiciadas por estas
íntimas relações (ZANELLA et al. 2007. p. 28).
Para não cair no antigo erro das pesquisas de corte behaviorista, baseadas no esquema
estímulo-reação, o pesquisador deve levar em consideração que o comportamento
observável guarda uma estreita relação com os processos internos, estes últimos,
filtram e organizam o comportamento, mas, ao mesmo tempo controlam e regulam os
impactos que tal comportamento tem na realidade, sofre uma nova filtragem para
adequar e reconfigurar a conduta em geral. Nesta dialética complexa das funções
psicológicas, em que o psíquico, surgido na relação com o contexto, uma vez que se
expressa externamente o faz através da autorregulação, que conduz por sua vez a
transformação do ato psíquico, exige do pesquisador uma postura dialética. Para
compreender esta relação, a organização da pesquisa e a análise dos resultados deve
partir do fenômeno em estudo como um processo e não como um resultado. Os
fenômenos psíquicos quando refletem a realidade cumprem a função reguladora,
transformando constantemente a relação entre o externo e o interno. Apesar do
esclarecimento teórico da dinâmica desta relação, ainda é comum o uso de
instrumentos de pesquisa voltados para a medição do resultado tácito, externo, a partir
dos quais os sujeitos são classificados e incluídos em categorias, que servirão para
deduzir aspectos sobre o desenvolvimento psíquico (BERNARDES, 2017, p. 46).
sociais mais complexas que podem envolver as formas mais imediatas e habituais em relação à
percepção do professor sobre o sofrimento psíquico.
Apesar de termos optado pelo meio virtual devido a pandemia, e por entendermos que
todos, senão a maioria dos professores teriam acesso ao aplicativo WhatsApp, percebemos que
o período em que a pesquisa foi realizada, na pandemia, pode ter influenciado na participação
dos sujeitos. Esse fato foi observado após a insistência em reenviar o questionário aos os
professores e gestores, além dos constantes lembretes realizados pela Secretária Adjunta
durante as reuniões. Os professores e encontravam em intenso uso de tecnologias por causa do
trabalho remoto.
A aplicação objetivou um alcance maior de respostas, além de proporcionar o sigilo e
outras diretrizes, conforme preconizados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos por meio da Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, e também quanto à
tranquilidade dos participantes, por se tratar de um município onde as relações são próximas.
Além dos motivos já elencados para a coleta de dados por meio de plataforma online,
Dasmaceno et al. (2014) descrevem outras vantagens:
[...] o método online apresenta vantagens que podem também minimizar os custos da
realização da pesquisa, tais como: facilidade de agendamento da entrevista;
possibilidade de executar outras tarefas durante a condução da entrevista; possibilita
ao pesquisador e pesquisado não estarem necessariamente na mesma localidade e; por
fim, permite uma maior reflexão e objetividade das respostas (DAMASCENO et al,
2014, p. 8).
Organizamos os dados coletados por meio dos questionários em tabelas, para melhor
compreensão da análise. Reunimos as respostas por frequência e calculamos o percentual dos
participantes em algumas questões. Para o processo de análise e discussão, consideramos as
98
quatro primeiras respostas de cada tabela, por estarem listadas de acordo com o número de
frequência.
Para a coleta de dados, solicitamos a autorização da Secretaria Municipal de Educação
após a aprovação do projeto pelo CEP – Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos,
com o Parecer 4.717.66.
Fonte: Wikipedia.
11
A Rede Municipal de Ensino de Corumbá possui 1.314 Profissionais de Educação, sendo 973 estatutários e 341
contratados. Destes, 139 possuem dois vínculos (dobra de carga horária), totalizando 1.175 pessoas. Desse total,
1.156 atuam diretamente nas escolas, sendo que 815 possuem vínculo estatutário e 341 contratados. Nas unidades
de educação, existem 134 Coordenadores Pedagógicos, 30 Gestores Escolares e oito Gestores Adjuntos (todos
com vínculos estatutários). Atualmente, a Secretaria Municipal de Ensino possui 79 vínculos de Educação
distribuídos em um Secretário de Educação, uma Secretária Adjunta de Educação, dois Servidores cedidos de
outros órgãos e 75 Assessores Técnicos.
100
Dos 118 professores que participaram da pesquisa, observamos que quase a totalidade
de respostas recebidas foi de participantes do sexo feminino.
As informações cedidas levam-nos a algumas interpretações. Primeiramente, nos
parece haver maior interesse pelo tema sobre o adoecimento por parte das professoras. Segundo
a maioria dos professores do município é do sexo feminino. De acordo com Viana (2001), à
docência foi assumindo um caráter eminentemente feminino. Hoje, em especial na Educação
Básica (composta da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio), é grande
a presença de mulheres no exercício do magistério. O autor complementa:
No século XX, o caráter feminino do magistério primário se intensificou a tal ponto
que, no final da década de 20 e início dos anos 30, a maioria já era essencialmente
feminina. O Censo Demográfico de 1920 indicava que 72,5% do professorado do
ensino público primário brasileiro compunha-se de mulheres e, no total de docentes,
sem distinção de graus de ensino, elas somavam 65%. 9 A presença feminina no
magistério estendeu-se aos demais níveis de ensino após a progressiva expansão da
oferta de vagas nos cursos de ensino primário em cidades de grande porte, como São
Paulo, no final da década de 30 e meados de 1940 (VIANA, 2001, p. 85).
que a docência, o ato de educar, deveria ser desempenhada por mulheres por caracterizar o
cuidado com o outro (ARAÚJO et al., 2006).
Pinho, Ferreira e Pina (2017) descrevem que no Brasil, a predominância de mulheres
no setor educacional é evidenciada principalmente no ensino médio, diferentemente do ensino
superior, que apesar de a presença feminina no setor da educação superior esteja aumentando
significativamente, o percentual de professores do sexo masculino no nível superior é, em
média, 10 pontos percentuais mais elevado do que o feminino.
Em uma pesquisa realizada na rede estadual de educação do Paraná, onde a maioria
dos participantes eram do sexo feminino, Tostes et. al. (2018) verificaram índices elevados de
sofrimento mental (depressão, ansiedade e distúrbios psiquiátricos menores), bem mais
elevados que em outros estudos também com professores e outras categorias.
A partir dessas informações, é importante salientar que as mulheres em sua grande
maioria trabalham para além de três turnos. Tal afirmação é relevante por ser realidade a
necessidade de o referido gênero precisar cumprir não só com o trabalho enquanto profissão,
mas também em grande parte precisam cuidar da casa, dos filhos, cônjuges, afazeres diversos
que contribuiu para o desgaste físico e mental, e talvez, seja por isso que quando pesquisado a
prevalência de afastamentos para tratamentos e/ou acompanhamento de familiares, as mulheres
sobressaem.
Nesse caminho, entendemos que por ser as mulheres, a maioria dos profissionais no
setor educacional, também compreendemos a prevalência do sexo feminino na participação em
pesquisas realizadas nessa área, e consequentemente serem mais acometidas pelo
sofrimento/adoecimento psíquico.
Outro dado que chama a atenção é o número de professores que possuem Pós-
Graduação e suas respectivas idades. Pessoa (2019) ressalta que, para cumprir a sua função, a
escola precisa estar em condições para superar a alienação presente na realidade por meio da
apropriação dos conhecimentos sistematicamente organizados. Essa afirmação conduz à
constatação do interesse dos docentes em alcançar maiores e melhores conhecimentos, com o
objetivo de mediar conteúdos de qualidade para propiciar o aprendizado aos seus alunos.
Pessoa (2019) ainda aponta que quanto mais se garante que novas gerações tenham
acesso e mais apropriações sejam feitas a partir do que foi já produzido, é mais possível que se
criem novos trajetos ao desenvolvimento humano. Ou seja, professores e alunos aprendem mais
e melhor quando o acesso ao conhecimento é disponibilizado e ocorre em uma via de mão
dupla, a partir da troca de experiências. Contudo, sobre o número de pós-graduações dos
docentes, sugerimos que há a busca pela melhoria salarial, considerando que, em sua maioria,
102
os planos de cargos e carreiras viabilizam um acréscimo no valor do salário base, o que não é
diferente no município de Corumbá.12
Nesse tópico foi possível conhecer um pouco dos participantes dessa pesquisa, e
partimos para o próximo item refletindo na citação de Bendassoll e Gondim (2014), que nos
faz pensar o ser humano como ser transformador e transformado a partir de suas ações e
resultados.
[...] o sentido é entendido como construído nos processos de mediação semiótica entre
homem e natureza (atividade), dentro de um contexto sócio-cultural particular. Assim,
o trabalho é entendido como uma atividade orientada, ao mesmo tempo para o sujeito,
para os outros e para o objeto da atividade, resultando em uma transformação de si,
dos outros e do mundo (BENDASSOLL; GONDIM, 2014, p. 137).
A partir deste tópico tratamos dos eixos, que foram criados a partir das questões do
questionário aplicado aos professores. Com base nas questões pesquisadas os eixos foram
organizados propondo a compreensão das análises e discussões das respostas, e foram
identificados por meio do diagrama e suas respectivas cores com o objetivo de orientar a
compreensão do leitor dos temas abordados nessa pesquisa.
No eixo Percepção do trabalho docente foi pesquisado o grau de satisfação do
professor em relação a sua atividade. As questões elencadas foram: o grau de satisfação do
trabalho docente; condições que mais e menos agradam os professores; Atividades realizadas
no trabalho considerada prazerosa e considerada menos prazerosa.
No eixo seguinte, Visão sobre o trabalho docente pesquisamos se os professores
gostam da atividade que exercem e as respostas se referem às questões: Gosta do trabalho?
12
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Finanças e Gestão. Superintendência de Gestão de
Recursos Humanos da Prefeitura de Corumbá MS, os valores correspondem: PI = Graduação; PII= Pós-Graduação;
PIII = Mestrado; P IV = Doutorado; A cada 05 anos mudança de CLASSE A-B-C-D-E-F-G-H.
103
Motivos que justifiquem gostar do trabalho; se pudesse, mudaria de profissão? Caso sua
resposta for sim, para qual profissão? Por que?
A visão sobre o adoecimento do docente é o eixo seguinte e se constituiu das
perguntas que propuseram investigar a percepção sobre problemas de saúde e a relação com a
atividade docente: Possui problema de saúde? Caso tenha respondido Sim, qual? Seu problema
de saúde é anterior ou posterior ao início da sua atividade
profissional? hipótese sobre o adoecimento e situações que pode manifestar a doença;
Solicitação de afastamento do trabalho por razões de saúde nos últimos 12
meses. Se sim, por quanto tempo ficou afastado? toma ou tomou algum medicamento nos
últimos 12 meses? Caso sim, qual medicamento; Efeitos positivo e Efeitos negativo do
medicamento; você considera que os problemas de saúde enfrentados causam prejuízo na sua
atividade profissional? Considerações sobre os prejuízos na atividade devido aos problemas de
saúde; considera que a atividade docente pode ter provocado seu problema de saúde? Se sim,
como o trabalho pode ter causado seu problema de saúde;
Trabalho remoto e adoecimento docente se refere ao penúltimo eixo que trata do
trabalho docente durante o período da pandemia do COVID- 19, e investigou a percepção sobre
esse modelo de trabalho e suas consequências: A pandemia prejudicou sua saúde? Você teve
dificuldade de exercer seu trabalho em tempo de pandemia? Caso sim, qual? Foram
disponibilizados os recursos tecnológicos para o desempenho das atividades docente? Caso sim,
quais? Foi ofertada formação para a utilização? Caso tenha respondido Sim, fale sobre essas
formações. A pandemia prejudicou a qualidade do seu trabalho? Caso tenha respondido Sim,
de que forma? Exemplifique.
No ultimo eixo, Enfrentamento ao adoecimento objetivamos apurar a existência de
algum programa, ação, projeto que contribuísse para a elaboração, organização e manejo das
diferentes situações que pudessem gerar o sofrimento/adoecimento psíquico e quais ações
consideram importantes existir. Solicitamos aos professores: Relate alguma experiência ou
projeto de enfrentamento que você conhece ou participou para situações emergenciais de
adoecimento? Quais medidas/ações de enfrentamento poderiam ser realizadas para minimizar
o Sofrimento/adoecimento psíquico do(a) professor(a)?
104
Eixo:
Eixo: Visão sobre o trabalho docente
Percepção do trabalho docente
Eixo: Eixo:
Trabalho remoto e adoecimento docente Visão sobre o trabalho docente e
adoecimento
Eixo:
Percepção docente sobre o enfrentamento
ao adoecimento
105
ser humano que gera prazer, satisfação. Contudo, são dois extremos que não podem ser
separados, fazem parte de um mesmo processo.
Essa ambiguidade se deve, principalmente, ao fato de a realização do trabalho
depender de determinadas condições concretas que podem ou não corresponder às expectativas
de quem o executa (REBOLO; BUENO, 2014, p. 324).
Os dados levantados nesta pesquisa em relação à perda da satisfação no trabalho por
24% dos docentes podem levar a crer que há uma ruptura na motivação do desempenho da
atividade. Dias e Nascimento (2020) apontam para complexidade do trabalho docente que
envolve fatores históricos, sociais, culturais, políticos, econômicos, institucionais, entre outros.
O ensinar é uma parte do trabalho docente, pois integra também questões e dificuldades
próprias.
[...] colocamos como hipótese que a percepção da valorização/desvalorização social
docente é um componente capaz de influir particularmente na relação entre autoestima
docente e satisfação/insatisfação profissional do professor, e nas decisões e
considerações do professor sobre docência, modulando seu empenho nela,
considerando docência como atividade promovida num certo espaço institucional e
relacional, e num contexto político, social e econômico determinante (DIAS;
NASCIMENTO, 2020, p. 75).
Nesse viés, Rego (2014), com base na teoria marxista, complementa que a origem da
sociedade humana e suas especificidades são resultados do trabalho do ser humano, e que, é
por meio do trabalho que transforma a si e a tudo que está a sua volta. E a partir da obtenção da
satisfação de suas necessidades, a sociabilidade toma formas complexas, sendo a finalidade do
trabalho como objetivo necessário para a vida social.
Desta forma, a consciência resulta no pôr de finalidades intrinsecamente ao processo
de trabalho, porém ela não se resume a isso, ou seja, na busca da satisfação das
necessidades por meio do processo de trabalho. A consciência se dá simultaneamente
ao fazer prático humano (FACCI; CRISPIN, 2020b, p. 151).
Ao organizar suas ações com base em suas motivações e a partir dos resultados
alcançados, o ser humano se sente realizado, é essa realização que o motiva a buscar sempre
por mais e melhores resultados, suas expectativas aumentam, seus desejos são atendidos, e todo
esse processo gera a satisfação, pois, é o resultado esperado que ao ser alcançado o permite
perceber, dominar e aprimorar suas habilidades.
Ao descrever as três condições que mais os agradam 13 (Tabela 12), temos as
questões que envolvem as relações, como equipe, companheirismo, cooperação, comunicação
são as mais importantes como condições satisfatórias para o trabalho, também as pertinentes as
relações, mas especificamente com a chefia, como suporte, chefia direta, organização e ética.
13
Todas as respostas foram reunidas preservando a ideia original dos participantes (palavras, termos,
variedades).
107
Outros docentes apontam estrutura física, recursos materiais, local e boas condições de trabalho.
Os alunos, amor e/ou satisfação pela profissão, o salário e plano de carreira, assim também o
bom relacionamento com os familiares dos alunos. A carga horária respostas, autonomia, como
a valorização que também foi citada.
da linguagem só foi possível devido às relações do ser humano com outros seres humanos e
todas as demais relações existentes que pudessem contribuir de forma qualitativa para a sua
evolução.
A partir das relações sociais, o ser humano percebe a realidade e se integra à sociedade
de forma consciente (tem a percepção de si e de tudo a sua volta), e a escola por ser uma
instituição indispensável para a formação da personalidade e para o desenvolvimento das
aptidões, das funções psicológicas superiores, possui um importante papel para a continuidade
e qualidade das relações.
Ao considerar o desenvolvimento biológico e social concomitantemente, Vigotski
verificou que as contradições existentes entre os dois possibilita o desenvolvimento da criança.
As influências de fatores específicos, por vezes com características próprias desse processo,
junto às interações sociais, mediações e internalizações integram o desenvolvimento das
funções psicológicas superiores.
O ser humano cria maneiras de se relacionar com o mundo, toda a história individual
e coletiva dos homens está ligada ao seu convívio social. Sendo assim, a compreensão
do desenvolvimento não pode ser justificado, apenas, por fatores biológicos. O
desenvolvimento ocorre a partir de diversos elementos e ações que se estabelecem ao
longo da vida do sujeito. Neste processo, sem dúvida, a interação com outras pessoas
desempenha papel fundamental na formação individual (MELLO; TEIXEIRA, 2012,
p. 1).
Não há dúvidas quanto à necessidade de uma organização do sistema que reúna todos
os elementos necessários para realização do trabalho de forma satisfatória. As relações entre as
instituições e as pessoas nelas envolvidas devem ser a mais saudáveis possíveis pensando em
todos os atores evolvidos no processo ensino-aprendizagem.
O trabalho, para que seja realizado satisfatoriamente e para que cumpra seu papel
equilibrador, requer o estabelecimento de vínculos específicos com determinadas
classes de objetos: instituições, pessoas, instrumentos, organizações. Esses vínculos,
no caso deste estudo, são entendidos como o conjunto de relações que o professor
estabelece com a escola e com o trabalho docente, e que depende da combinação das
características pessoais do professor, das formas de organização e funcionamento da
escola, do grupo e do contexto social em que ambos (professor e escola) estão
inseridos (LAPO; BUENO, 2003, p. 75).
Sob esse foco, Moretti e Moura (2012) revelam a formação do ser humano e todos os
subsídios existentes no contexto escolar que permeiam das relações, e percebem que esse
processo se dá no decorrer do desempenho de sua atividade e vai revelando sua finalidade que
depende da qualidade de suas ações, e de tudo que compõem o contexto escolar e suas
interdependências.
A constância da motivação, do prazer na atividade docente contribui para a realização
de uma função consciente e emancipadora, e com satisfação e agrado, a ação envolve todos os
aspectos do ser humano. Ao realizar sua atividade com a finalidade real da educação que é a de
mediar o conhecimento, contribuir para o desenvolvimento do ser humano, o professor trabalha
para além do recebimento do seu salário, mas também, para alcançar a finalidade do seu objeto
de trabalho, a experiencia de conhecer e aprimorar o novo, situação vivenciada pelo aluno por
meio do trabalho docente que possibilita constante e contínuo aprendizado de todos envolvidos
nesse processo.
O professor, ao elaborar e desenvolver sua atividade docente, constrói sentidos sobre
os conteúdos que se apropria e os carrega consigo ao trabalhar com seus alunos. Se
esses sentidos estão próximos ao significado social da Educação de apropriação de
conhecimentos e formação de sujeitos, maiores chances se têm de que as ações de
ensino se configurarem em atividade, para além do exercício de um trabalho que vise
apenas a remuneração salarial (PESSOA, 2019, p. 4).
14
Ao longo do trabalho, estão transcritas algumas respostas dissertativas contidas no questionário. Por não haver
qualquer identificação, estão apresentadas em ordem alfabéticas.
114
de profissionais, onde os estudos podem apontar as alternativas possíveis e reais que venham a
contribuir para a melhora e valorização dessa profissão.
A desvalorização profissional, baixa auto-estima e ausência de resultados percebidos
no trabalho docente são fatores importantes a serem investigados no âmbito do
profissional em educação. Além disso, existem queixas muito freqüentes relacionadas
à saúde dos docentes como distúrbios psíquicos, associada ao trabalho repetitivo,
insatisfação no desempenho das atividades, ambiente intranqüilo e estressante,
desgaste na relação professor/aluno, falta de autonomia no planejamento das
atividades, ritmo acelerado de trabalho e à pressão da direção (SILVA; ROSSO, 2008,
p. 2043).
Facci, Urt e Barros (2018) analisam o quanto as condições podem prejudicar a prática
docente, pois não permitem que a ação seja realizada pautada na sua essência, que seria ensinar,
isso devido as condições que lhes são apresentadas. Esse caminho os leva a adoecer por terem
clareza da finalidade de suas funções, mas que não conseguem realizá-las de fato, apesar de
perceberem que mesmo assim é possível o aluno aprender.
Gostam dos alunos, ficam felizes quando eles aprendem, mas as condições de trabalho
não possibilitam que eles se vejam como fazendo parte do processo; são apenas apêndices
(FACCI; URT; BARROS, 2018, p. 284-285).
Diante o exposto, é notório o quanto as condições influenciam na maneira do professor
desenvolver seu trabalho e como podem leva-lo a sentir prazer ou não. interfere diretamente na
ação, no processo e resultado, limita-os de serem criativos e autônomos, geram angustias e por
vezes o levam a duvidar de suas próprias possibilidades de mediar o conhecimento, podem
provocar o aparecimento de sentimentos negativos, como os de incapacidade, inutilidade.
Assim, o conceito de atividade está necessariamente ligado ao conceito de motivo.
Não existe atividade sem motivo; atividade não motivadora! Não há atividade desprovida de
motivo, mas pode haver atividade com motivo subjetiva ou objetivamente oculto (LEONTIEV,
2021).
Esse eixo trata da visão do professor sobre a atividade docente. Assim organizamos os
temas para investigação: se gosta do trabalho; os motivos que justifiquem gostar do trabalho;
se pudesse mudaria de profissão; caso sua resposta for sim, para qual profissão? Por quê? (tabela
14)
115
Alguns deles são: gostar de estar com as crianças, ver o seu desenvolvimento,
formação, crescimento intelectual, moral e útil, sentir-se realizado profissional e pessoalmente,
identificar-se com o que faz, gostar de ser professor e ensinar/transmitir conhecimento, ter um
ambiente acolhedor, com amigos, acreditar na educação como forma de mudar o mundo,
apreciar desafios e competição.
O sentido da ação é determinado por aquilo a que visa o agente e pela sua referência à
conduta dos outros, isto é, compartilhada por outros, dando-lhe significado (BENDASOLLI;
GONDIM, 2014).
Sim, eu gosto de ser educadora, porém não estou confortável com este modelo de
educação que está sendo ofertado, crianças pequenas são induzidas à competição,
comunidade escolar é condicionada a participar desde que receba algo em troca, seja
um prêmio ou um status. Professores são selecionados e destacados como de
excelência. Outros acabam nem tendo condições de participar. Vejo que esta educação
acaba sendo muitas vezes injusta e excludente. E principalmente a sociedade e muitos
professores acabam se esquecendo que nosso maior compromisso tem que ser com a
educação, e nosso maior prêmio é ter um processo de ensino e aprendizagem que
garantam o desenvolvimento integral dos envolvidos. (Resposta C)
Tabela 15 - Se pudesse, mudaria de profissão? Caso sua resposta for sim, para qual profissão?
Por que?
Sim 22 (19%)
Não 96 (81%)
Respostas
1. Músico. Por conveniência.
2. Estou satisfeita
3. Professora de Universidade. Porque é o meu sonho, sempre gostei muito de falar.
4. Alguma profissão relacionada à área administrativa. Também me identifico.
5. Arquitetura
6. Não mudaria de profissão, mas se pudesse eu mudaria a forma desrespeitosa, desumana, injusta,
competitiva, repressiva que a educação vem sendo compreendida e tratada.
7. Medicina
8. Uma que trabalhasse com plantas ou animais. Trabalhar com pessoas é muito estressante
9. Medicina Veterinária, pois amo animais
117
Escolher a profissão para atuar não é uma tarefa fácil, vários aspectos precisam ser
considerados, entre eles os subjetivos que envolvem os desejos, os motivos que impulsionam o
ser humano a se formar, a se capacitar e transformar a si e aos outros. Mas, diante as dificuldades
encontradas e as impossibilidades de exercer sua profissão, o professor se depara com a
decepção e não se percebe mais como agente capaz de produzir mudanças e mediar os
conhecimentos. Essa sensação de não pertencimento gera o sofrimento e por muitas resulta no
adoecimento. Ao se deparar com a insatisfação e surgir a possibilidade de se pensar em mudar
de profissão, quando não o faz, o professor passa então a silenciar suas percepções quanto a si
e ao seu trabalho.
118
Ainda não sei, mas por um trabalho que exija menos esforço físico e estresse. Mas
isso não é de imediato. (Resposta E)
O fato de 22 (19%) professores terem respondido que mudariam de profissão pode ser
a perda do sentido pessoal, da motivação na sua atividade. Diversos fatores podem contribuir
para esse fim, mas o que podemos certificar é a perda do prazer. O ser humano baseia sua
atividade na relação com o meio, os objetivos, os motivos. Quando não há a confirmação das
ideias iniciais, principais, perde-se o significado. O sentido e o significado não podem ser
separados. Caso isso aconteça, resultará no rompimento da estrutura interna da consciência
(MARTINS, 2004; PESSOA; LEONARDO, 2020).
Por meio do trabalho, o ser humano se relaciona com a sociedade e pode desenvolver
suas potencialidades. Não é isso o que sempre ocorre na sociedade capitalista, devido à
alienação, mas esta deveria ser uma possibilidade indissolúvel do campo de atuação profissional
(FACCI; URT; BARROS, 2018).
De maneira geral, o desejo de mudar de profissão nada mais é que o resultado de um
processo de desmotivação, desinteresse, de relações geradoras de ansiedade, angústias, estresse
e perda da consciência. Ainda nesse cenário, Araújo e Purificação (2021) citam dados de uma
pesquisa da Fundação Victor Civita, realizada por Ratier e Salla em 2013, sobre os inúmeros
fatores vinculados ao desinteresse na profissão docente:
Dentre os motivos desta mudança de ambição estão o desinteresse e a falta de apreço
por parte dos colegas, as pressões e o estresse causados pela constante cobrança de
melhoria no desempenho (como se o culpado fosse somente o professor, e não toda a
engrenagem educacional), a falta de remuneração digna e de um plano de carreira que
garanta ao profissional o reconhecimento pelos serviços prestados. Tudo isso fez os
119
poucos jovens que sonhavam com a docência abdicarem de sua vontade e seguir a
tendência das profissões que oferecem maior prestígio social e bons salários
(ARAÚJO; PURIFICAÇÃO, 2021, p. 5).
Portanto, ao desempenhar a sua função sem o real motivo que o levou à escolha da
profissão, o professor perde o entusiasmo em realizar sua atividade, e o fazer por fazer acarreta
no sofrimento/adoecimento respectivo a alienação, pois não há satisfação em sua atividade, o
que o leva por vezes, a procurar, em outras atividades, a satisfação que atribua razão às suas
ações.
O sujeito desenvolve as formas superiores de sua conduta por meio de sua atividade,
apropriando-se dos conteúdos da cultura humana e objetivando-se em novos produtos
sociais e culturais. No contexto educacional, a atividade aqui mencionada se configura
enquanto atividade de ensino, que é o objeto de trabalho do professor.
O significado da atividade do professor é a ação de ensinar e de conduzir o processo
de apropriação do conhecimento do aluno. Quando há a ruptura entre o significado
social e o sentido pessoal, provocado pelas crises sociais, caracterizada pela
consciência humana alienada, não se estabelece o alicerce subjetivo construído por
essa dinâmica (SANTOS; URT; VITAL, 2017, p. 78).
Importante nos atentarmos que muitos profissionais não mudam de profissão por terem
deixado de gostar do trabalho da noite para o dia, mas na grande maioria é a desmotivação, o
desencanto, as decepções, a desvalorização que os levam a pensar em algo menos estressante,
que cause menos frustração e angustias. Quando o profissional tem a percepção que sua função
que lhe causa sofrimento/adoecimento, ele pode agir de várias maneiras. Uma das possíveis
alternativas é a mudança de profissão, procura não continuar exercendo mais uma função
geradora de sofrimento/adoecimento. Outra possibilidade, pode ser que ele permaneça
realizando a mesma atividade e silenciar suas dores, suas angustias e sofrer ao ponto de adoecer,
alienar se conscientemente.
respondido que tem algum problema de saúde, quais; Solicitação de afastamento do trabalho
por razões de saúde nos últimos 12 meses; Caso afirmativo, quantas vezes nos últimos 12
meses? Se sim, por quanto tempo ficou afastado; Toma ou tomou algum medicamento nos
últimos 12 meses; Caso sim, qual medicamento; Efeito positivo do medicamento; Efeito
negativo do medicamento; Você considera que os problemas de saúde enfrentados causam
prejuízo à sua atividade profissional; considerações sobre os prejuízos na atividade devido aos
problemas de saúde; Considera que a atividade docente pode ter provocado seu problema de
saúde; Se sim, como o trabalho pode ter causado seu problema de saúde;
Iniciamos sobre a percepção e a consciência do adoecimento docente perguntando
aos participantes se possuem algum problema de saúde. Pedimos aos participantes que
responderam ter problema de saúde que informassem qual seria. Importante ressaltar que o
número de doenças especificadas não é o mesmo das respostas afirmativas para sim, porque
há professores com mais de um problema de saúde. (Tabela 16).
Mota (2012) assinala como a saúde docente vem sendo objeto de estudos e da
importância de elaboração de políticas públicas e cuidado quanto ao adoecimento, e enfatiza
que os dados que estão sendo gerados são reveladores, pois vêm rompendo o silêncio sobre
todos os dissabores vividos pelos professores e apresentam os fatores de risco que os
professores estão expostos.
121
Apesar de a maioria dos participantes declarar que não se aplica o problema de saúde
anterior ou posterior à atividade profissional, o segundo maior resultado aponta que sim, que o
problema de saúde é posterior ao início da atividade. Segundo Silva e Rosso (2008, p. 2050):
“[...] o desgaste dos professores é determinado em boa parte, pela carga horária, natureza da
atividade, pela forma de organização do seu trabalho, bem como todo o sistema burocrático que
é imposto aos docentes, implicando no processo político-pedagógico”. Dessa maneira,
conforme complementado pelos autores:
123
Luria (2010) esclarece que Vigotski partiu da posição, perfeitamente lógica para a
filosofia marxista, de que a consciência, que é a ‘vida tornada consciente’, é sempre
significativa e subjetiva em suas características.
A criança, no estágio sensório-motor de seu desenvolvimento, ainda não faz distinção
entre si e o mundo exterior, e o reflexo dos estímulos diretos recebidos por ela não vai
além das impressões elementares ou de respostas motoras difusas. Na criança, pouco
antes do período pré-escolar, estas formas primitivas de consciência são substituídas
por formas mais complexas de análise das informações, formadas com o
desenvolvimento das ações manipuladoras e a percepção de objetos que surgem em
126
que se percebe, que administra, organiza e controla as suas emoções, e a ausência de uma
instrumentalização emocional pode provocar a instabilidade das funções psíquicas superiores.
A história do desenvolvimento das emoções vincula-se à história da atividade de
produção da realidade. Como ser social, o ser humano responde a necessidades forjadas na
relação ativa com o mundo, satisfazendo-as por meio da atividade consciente. As emoções se
desenvolvem imediatamente após o nascimento, e a cada novo período do desenvolvimento
novas formas psíquicas são concebidas e vão provocando mudanças no comportamento da
criança (MESQUITA; BATISTA; SILVA, 2019).
É preciso estudar as emoções e de como ela tem a capacidade de influenciar o
comportamento do ser humano, é necessário entender como elas vão alcançando funções
importantes e passam a regular, mediar, inibir os comportamentos e influenciar a atividade. As
emoções compõem a ação do ser humano enquanto desempenha seu trabalho, são partes
integrantes de todo processo da atividade, todas as suas relações e de sua vida, e se não são
expressadas, se acumulam ao ponto de transbordar por meio do sofrimento/adoecimento.
A periodização do desenvolvimento em geral, bem como do emocional
especificamente, corrobora um princípio metodológico do materialismo histórico-
dialético, pelo qual o estudo científico das emoções e dos sentimentos demanda a
análise desse objeto como processo histórico, no decurso dos períodos do
desenvolvimento infantil, explicitando sua origem e explicando suas mudanças a
partir das transformações na estrutura e dinâmica da atividade que vincula o indivíduo
à realidade (MESQUITA; BATISTA; SILVA, 2019, p. 4).
Motivo
Resposta Frequência Período
COVID – 19
Uma vez 4
1 professor por 9 meses
(grupo de risco)
3 professores para tratamento
(entre 10 a 14 dias)
Tabela 20 - Toma ou tomou algum medicamento nos últimos 12 meses? Caso sim, qual medicamento?
Sim 54 (46%)
Não 64 (54%)
Respostas / Medicamentos Indicação Frequência
Losartana/ Hidroclorotiazida /
novanlo / diovan hct / Pres plus /
Copressotec/ Pressat Vasopril Hipertensão. 23
/Holmes H / Brasart. HCT/ Ablok/
Concor / Propanslol
1 antidepressivos
1 Nortriptilina / Citalopran /
2 indicado para pessoas que querem parar de fumar,
Sertralina Donaren / Fluoxetina /
ajudando a reduzir os sintomas da síndrome de
bupropiona
abstinência e a vontade de fumar. Além disso,
também pode ser usada para tratar a depressão.
2 VENLIFT/ Venlafaxina 12
3 antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da
recaptação da serotonina, que age inibindo a absorção
de serotonina pelos neurônios. Os níveis baixos
podem causar depressão, síndrome do pânico,
3 Fluoxetina
ansiedade ou sintomas obsessivo-compulsivos.
Glifage / outros (diabetes) 6
1 dor e febre
1 Dipirona 2 indicado para dores moderadas a severas de caráter
agudo, subagudo e crônico.
2 Revange 3 anti-inflamatório e relaxante muscular que pode ser
usado no tratamento de doenças como artrite
3Torcilax reumatoide, gota, dor na coluna. 6
4 indicada para adultos para: tratamento da dor
4Pregabalina neuropática (dor devido à lesão e/ou mal
funcionamento dos nervos e/ou do sistema nervoso)
5 Paracetamol em adultos; como terapia adjunta das crises epiléticas
parciais convulsões, com ou sem generalização
131
A curto prazo não sei, talvez a longo prazo possa prejudicar meu organismo
(RESPOSTA I).
Facci et al. (2017) asseveram que a entrada do saber médico na educação é iniciada
por meio do Movimento Higienista e prevaleceu à medida que a sociedade foi evoluindo para
um tempo cada vez mais acelerado, e ainda, à medida que o professor resiste as diversas
situações que afetam sua prática tendem a adoecer.
Conforme conceitos abordados pela Psicologia Histórico-Cultural, a atividade
exercida pode ser emancipadora ou alienante, dependendo das relações de sentido e
de significado que promove. Logo, a busca de unidade entre aquilo que o professor
crê ser o papel da educação e o que exerce ou é forçado a exercer, causa intensos
incômodos, e essa é, em nosso entendimento, a gênese de grande parte de seus
sofrimentos e adoecimento, levando-o muitas vezes ao consumo de medicamentos
(FACCI; ESPER, 2020c, p. 53).
Assim, Gouvêa (2016) assinala como a expansão da educação básica contribuiu para
gerar condições desfavoráveis de trabalho e, ao mesmo tempo, instigado estudos sobre o
adoecimento docente, pois diante a universalização da educação básica, o país produziu uma
elevação na incorporação da força de trabalho dos professores. Nessa direção, o adoecimento
docente como consequência de suas condições de trabalho, vem sendo tema de estudos tanto
no âmbito acadêmico quanto nas instituições sindicais.
questionamos se a atividade docente pode ter sido a causa dos problemas de saúde, e
pedimos aos participantes que responderam que sim, que a atividade docente pode ter
causado o problema de saúde para especificar de que maneira. A maior frequência de 10
professores, foi dos que acreditam que os fatores excesso de trabalho e excesso de prazos são
os responsáveis.
Tabela 23 – Considera que a atividade docente pode ter provocado seu problema de saúde?
Se sim, como o trabalho pode ter causado seu problema de saúde
Sim 22 (19%)
Não 96 (81%)
Respostas Frequência
Excesso de trabalho e de prazos 10
Falta de respeito, motivação, companheirismo, apoio, ambiente desfavorável 6
Devido ao trabalho, estudo 2
Postura inadequada por longo período 1
Ausência de resultados 1
Gradativamente 1
Total 21
Fonte: Freire, 2023
Sob essa perspectiva, Freitas e Cruz (2008) apontam como a organização de trabalho
pode ocasionar o sofrimento/adoecimento dos professores frente as insatisfações e
constrangimentos que estão submetidos ao longo da história profissional, as diferentes
patologias, o absenteísmo e até mesmo o abandono da profissão, tem instigado estudos mais
aprofundados.
O professor, exigido pela necessidade de se adaptar as condições sociais, econômicas,
tecnológicas e ainda pela exigência continua de se manter atualizado diante da rápida
transformação do conhecimento cientifico entre outros fatores da vida moderna, torna-
se vulnerável as manifestações de estresse (FREITAS; CRUZ, 2008, p. 7).
“Perdi meu espaço privado, agora a sala de aula está em todos os lugares, no meu
WhatsApp pessoal, no meu Facebook, no YouTube, em desafios..., mas totalmente
distante de quem realmente precisa, crianças que não têm conseguido usufruir do seu
direito à educação, ou ainda pior, que estão recebendo essa educação por meio de
metodologias que não contribuem para o seu desenvolvimento” (RESPOSTA L).
Apesar de 57 participantes terem respondido que a sua saúde não teve prejuízos
durante a pandemia, somando as demais respostas que tiveram prejuízos de forma leve,
moderada e grave e uma resposta dissertativa, 61 responderam que tiveram algum tipo de
prejuízo. Ao solicitar que informassem como percebem o prejuízo, novamente a soma da
maneira como a saúde foi prejudicada prevalece, em comparação com os que não tiveram
qualquer prejuízo.
Não nos restam dúvidas de que a pandemia apenas intensificou uma crise já existente,
uma crise muito além da saúde pública, mas também social. No contexto da pandemia, setores
tradicionalmente organizados em razão de atividades coletivas, como é o caso da educação e
da cultura, foram bastante afetados (SOUZA et al., 2021). Ainda sobre tais questões em relação
à pandemia, Teixeira (2020) pontua:
A pandemia do Coronavírus não é um evento de apreensão imediata, que pode ser
considerado apenas na dimensão dos seus efeitos sobre o corpo biológico, nem mesmo
se acrescentarmos a isso, os impactos na saúde mental decorrentes do medo do
contágio e das mudanças abruptas produzidas pelas práticas de isolamento social.
Evento complexo, a pandemia nos convoca a compreendê-la na multiplicidade de suas
consequências sociais, culturais e econômicas, como também nos seus efeitos sobre
os modos de subjetivação. Não por acaso, diversos intelectuais acreditam que estamos
diante de um acontecimento histórico, que marcará os rumos do mundo como o
conhecemos desde a modernidade, embora haja divergências radicais nas leituras de
como será esse novo mundo (TEIXEIRA, 2020, p. 202).
A nível estadual e municipal houve também a adesão ao ensino remoto por meio da
aquisição de plataformas privadas, que reduzem o trabalho educativo a elaboração de
tarefas e a gravação de aulas transmitidas pela TV ou de modo síncrono. O discurso
de alguns gestores da mídia passa, em maior ou menor grau, por “o tempo está
passando e como ficarão nossas crianças sem aula?” ou ainda “é uma oportunidade de
nos reinventarmos e criarmos uma escola do futuro”. Sem oferecer nenhuma
condição, resta ao docente fazer um esforço desumano para conseguir estabelecer
algum contato educativo com o estudante (NETO; PIRES, 2020, p. 52).
Tozatto (2020) nos remete à resposta do participante identificado nesse trabalho pela letra
L, que em seu texto, a autora descreve como o trabalho remoto interferiu em sua vida particular
e em seu estado emocional:
O trabalho passou a ocupar a maior parte do meu dia. Reservava as tardes para
preparar as aulas e esse tempo era dividido com inúmeras e intermináveis reuniões.
Durante a manhã, eu me dedicava a cuidar dos afazeres domésticos e das atividades
do meu outro emprego. Inúmeras outras demandas foram surgindo: atendimento aos
alunos (de outros cursos) em crise, lives sobre saúde mental, estágios clínicos e
supervisão. Os links de reuniões começavam a me causar um sentimento de angústia,
comecei a me sentir sobrecarregada. Via minhas amigas cuidando de si, fazendo
artesanatos, montando jardins e eu só conseguia trabalhar, trabalhar e trabalhar. Parei
de produzir, parei de sentir prazer em ler. Eu só contava os minutos para desconectar,
sentar na minha varanda e beber uma taça de vinho no final da noite. Com isso me
desconectei da minha filha e mergulhei em crises de ansiedade diárias (TOZATTO,
2020, p 276-277).
A nova forma de ensino e suas consequências também foram verificadas por Souza et
al. (2021) em uma pesquisa com professores de diferentes níveis de ensino que sofreram por
terem que migrar de uma forma de trabalho para outra nunca antes experienciada e sem as
condições necessárias para poder exercê-las.
As condições adversas enfrentadas pelos professores nessa migração das aulas
presenciais para as plataformas virtuais são diversas evidenciadas por 92% dos
professores brasileiros. Essas dificuldades englobam desde condições materiais e
informacional a conflitos na dimensão das relações interpessoais. Dentre essas
condições adversas destacam-se as dificuldades em pensar uma didática adequada
para as aulas on-line (53%) e as dificuldades inerentes à preocupação em decorrência
do não acesso dos alunos às atividades (51%), sendo essa mudança abrupta e não
planejada dos ambientes de ensino, reconhecidamente difícil tanto para professores
quanto alunos. Essas dificuldades vivenciadas pelos professores estiveram associadas
ao aumento nas condições de depressão, ansiedade e estresse
(SOUZA et al., 2021. p. 149-150).
141
O cenário de crise pandêmica trouxe uma dura verdade, difícil de ser aceita: a
vulnerabilidade da vida humana, a certeza de que há uma linha tênue entre a vida e a morte e
que, um dia, o pêndulo da vida se inclinará para o outro lado (LADEIRA, 2020).
Dos professores que responderam ter tido dificuldade em exercer a atividade docente,
como mostra a Tabela 25, houve igualdade de frequência de respostas. As dificuldades
apontadas pelos professores são de diferentes naturezas, desde a falta de domínio da
tecnologia, a falta de recursos para uso da internet, a produção de materiais para a preparação
das aulas, até sentimentos como frustração em termos do rendimento, ansiedade, preocupação,
exaustão, estresse e medo do adoecimento, entre outros fatores.
Tabela 25 – Você teve dificuldade de exercer seu trabalho em tempo de pandemia? Caso sim, qual?
Sim 59 (50%)
Não 59 (50%)
Respostas Frequência
Dificuldade em lidar com a tecnologia / falta de materiais – acesso (internet) 13
Elaborar as atividades / gravar vídeos / digitar 11
Ansiedade / preocupação / exaustão / estressada / Exposição dos professores 11
durante a busca ativa / medo / adoecimento
Ausência das aulas presenciais 8
Pouco rendimento devido às aulas remotas 6
Pouco retorno das atividades dos alunos 5
Ter que cumprir prazos / cobranças / falta de direcionamento 3
Os alunos não tem acesso à internet 3
Falta de recursos em casa / Gastos com internet 2
Vários 1
Total 63
Fonte: Freire, 2022.
O isolamento social foi uma das estratégias adotadas por governos e autoridades
sanitárias para a contenção da COVID-19 e se estendeu às escolas. O professor, de forma
instantânea e forçosa, teve a sua modalidade de trabalho reformulada mesmo não tendo nunca
142
No mesmo caminho, Teixeira (2020) acrescenta que o trabalho remoto gerou inúmeras
questões e desafios que afetaram o trabalho docente, dentre eles, estão a necessidade de adaptar
o modelo de trabalho para dar continuidade as atividades escolares utilizando as tecnologias,
reconfigurando o ensino. Junto ao novo modelo de trabalho, houve o aumento das exigências e
o professor não se deu conta da quantidade de serviço que passou a realizar extra aula.
A princípio, foi solicitado que cumpríssemos metade da nossa carga horária em aulas
online, para dispender o tempo restante nas outras atividades, mas em pouco tempo
não só nos vimos cumprindo todo o horário contratado de aula (pois os conteúdos não
foram modificados e exigiam este tempo) como precisávamos nos desdobrar nas
novas demandas obrigatórias no ambiente remoto como fazer chamada, viabilizar a
entrada dos alunos na sala, escutar e acolher as queixas, os medos e as inseguranças
que atravessavam a todos (TEIXEIRA, 2020, p. 211).
remoto. Todas as pesquisas veem apresentado a escassez de materiais tecnológicos nas escolas
e as cobranças sofridas pelos professores quando tiveram que mudar a forma de trabalho.
A informação de que a grande maioria (89%) dos professores/as não possuía nenhuma
experiência com ensino remoto não nos causou surpresa, mas a informação de que,
diante desse quadro 41,8% dos/as professores/as puderam contar apenas com seus
esforços para realizar as atividades que envolviam recursos tecnológicos se mostrou
assustadora. Aliado a isso, pesa o fato de que mais da metade dos colaboradores se
declaram despreparados paras as atividades exigidas na modalidade remota (SILVA;
PIATTI, 2021, p. 11).
Pois nem todos os responsáveis possuem acesso às aulas remotas, com isso meu
trabalho não chega a todos os alunos (RESPOSTA N).
Os recursos tecnológicos não são acessíveis a todos os alunos, os pais não conseguem
acompanhar o aprendizado dos filhos e como consequência, as crianças não tiveram
nem de longe o aproveitamento que teriam em dias de aulas normais (RESPOSTA O).
Como se não bastasse o novo cenário que a pandemia impôs aos trabalhadores e em
especial aos professores, além de novas formas de preparar, executar e acompanhar as aulas, o
ensino remoto atribuiu a esses profissionais de forma contundente a pressão em lidar com as
tecnologias, sem quaisquer outras alternativas, como se fosse algo simples. Mas, diante da
necessidade de conter o vírus do COVID-19, o ensino remoto foi a única maneira que se pensou
como meio de dar continuidade no ensino, contudo, o que não se pensou é que essa forma de
trabalho iria intensificar o trabalho do professor, além de gerar um grau elevado de sofrimento/
adoecimento psíquico. Anterior a pandemia, a tecnologia por meio da educação a distância já
se apresentava como uma imposição, pois diante a criação de cursos por meio de plataformas
online essa metodologia já se apresentava, mas nada tão repentino e estruturação.
145
Neto e Pires (2020) rebatem as críticas aos professores ao ouvirem que são
profissionais resistentes ou tecnofóbicos, pois não se trata de não querer aceitar a tecnologia e
utiliza-la, mas sim, de ter de entender que é preciso que a sociedade esteja realmente envolvida
nesse processo, que a tecnologia seja de fato acessível a todos.
Chamar qualquer professor de resistente ou tecnofóbico quando faz alguma crítica à
inserção da tecnologia dentro de uma lógica mercadológica tem apenas como função
minar o debate e deixar transparecer que a tecnologia é neutra e que sua entrada na
escola/universidade tem apenas benefícios. Na contrariedade ou adesão aos projetos
políticos burgueses, alertamos que não temos medo ou ódio às máquinas, como os
ludistas. Por conseguinte, o que aqui destacamos é a necessidade de o projeto de
sociedade que envolva a tecnologia seja explícito antes de adentrar qualquer
instituição de ensino (NETO; PIRES, 2020, p. 56).
Tabela 27 – Foi ofertada formação para a utilização? Caso tenha respondido Sim, fale
sobre essas formações.
Sim 67 (57%)
Não 51 (43%)
Respostas Frequência
Formação online / vídeos/ lives / WhatsApp / Facebook / Google meet / You 25
tube
Formação / Oficina / Orientações em serviços oferecido pela SEMED - 13
Núcleo de Tecnologias
Formação para uso do sistema Tagnos 9
Muito boas / objetivas 6
Cansativas / difícil entendimento / superficiais 3
Formação com os Gestores 2
Várias formações 2
Formação para uso de tecnologias / aplicativos 1
Materiais impressos 1
Formações para uso de tecnologias de informação, utilizando 1
computador/celular particulares
Total 63
Fonte: Freire, 2023.
147
Diante do contexto caótico em que estamos é preciso resistir para não sucumbir. Como
se não bastassem todas as angústias e males sociais e econômicos produzidos pela
pandemia da COVID-19, os profissionais da educação e os estudantes ainda precisam
lidar com os desafios impostos pelo ensino remoto (CASTRO, 2020, p. 116).
que estes recursos criam cenários novos e relações de outra ordem (CALEJON;
BRITO, 2020, p. 307).
E, mais uma vez, deparamo-nos com a linguagem como aspecto fundamental seguida
das relações interpessoais para o desenvolvimento e condições favoráveis para o desempenho
de qualquer ação do ser humano. Embora as relações e a linguagem tenham outro formato, outra
maneira de se desenrolarem por meio da tecnologia, é a linguagem oral e as relações
interpessoais que estarão subsidiando esse modelo.
Por esse motivo, é fundamental que a formação docente seja pautada em motivos,
desejos, anseios próprios e objetivos, que não seja apenas mais uma ação imposta ao seu
trabalho. É necessário que o professor esteja confiante, satisfeito, motivado no desempenho da
sua função, para que possa de fato alcançar os objetivos propostos pela educação, a
transformação.
Assim, é importante que, mais que conhecimento tecnológico, a formação docente
inspire confiança nos resultados e contribua para a alteração do sentido da docência,
provocando uma abertura para as modificações. Sem isso, a utilização das TDIC,
independentemente do serviço, será apenas uma repetição de ações não exitosas, mas
agora realizadas com outro meio (SILVA; PIATTI, 2021, p. 7).
.
Tabela 28 – A pandemia prejudicou a qualidade do seu trabalho? Caso tenha respondido
Sim, de que forma? Exemplifique.
Sim 73 (62%)
Não 45 (38%)
Respostas Frequência
Não ter contato direto com os alunos 26
Baixa produtividade / prejuízo na qualidade da educação 16
Nem todos os alunos não tem acesso à internet 10
Pouco interesse / acompanhamento dos pais 10
Sobrecarga de trabalho / cobranças 3
Em todo o momento / todas 2
Dificuldade de fazer as atividades, dificuldade de manusear a tecnologia / 2
Dificuldade em planejar / enviar atividades para alunos desconhecidos
Essa tormenta que a educação passou durante a pandemia foi o começo do que vem
adiante. As consequências da precariedade das condições de trabalho durante o ensino remoto
estão por vir, e não serão em hipótese alguma superficiais, nem tão poucas breves, e mais, se
não houver políticas públicas que visem mudanças, financiamentos, valorização,
continuaremos a viver em uma permanente pandemia, a do descaso com a educação pública -
a deseducação
Desconheço 19
Não participei / não tenho experiência 19
Respostas aleatórias 14
Palestras / lives 12
No caso de pandemia, apenas medidas de biossegurança/ afastamento / vacina / 11
agravamento com a pandemia
Não recordo 6
Não se aplica 4
Formação na Escola / Realizada pelo município 3
Não sei responder 2
Sem resposta 2
Projeto Não pira não 2
CEREST 1
Curso do Ministério da Saúde 1
Protocolo de Segurança na Escola 1
Terapia 1
Total 118
Fonte: Freire, 2022.
É necessário que se conheça todo o contexto que envolve o ser humano para pensar
em estratégias que cercam todos e tudo a sua volta. Como percebemos nas respostas dos
participantes as relações interpessoais e as condições são fatores de prevenção, mas também
causadoras de sofrimento/adoecimento psíquico, e para além dessa constatação, verificamos o
quanto a repressão das próprias emoções podem ocasionar o sofrimento/adoecimento psíquico
docente. Deve se observar e considerar o todo para ao se pensar em elaborar ou facilitar
estratégias o maior número de fatores do contexto seja abrangido. Por não haver nada definido,
específico, as questões individuais, grupais, estruturais e relacionais, devem ser consideradas
para elaboração de técnicas para o enfrentamento:
constitui sua identidade, conforme os seus sentidos e significados pessoais, e produzem novas
representações da realidade e de si em função das relações inter e intrapessoais.
As formas como o professor recorre às estratégias tanto externas quanto internas para
a prevenção ao sofrimento/adoecimento psíquico dependem, além das condições de trabalho,
ambiente e estruturas físicas e materiais, das condições psicológicas superiores. Estas só podem
ser utilizadas quando o funcionamento psíquico do ser humano obtém condições, aspectos
qualitativos. Além do mais, esse desenvolvimento e funcionamento nortearão a forma de como
o ser humano se percebe, reage e se expressa. É necessária essa organização interna para que
suas emoções, seus pensamentos por meio da linguagem contribuam como ferramentas de
instrumentalização para prevenção ao sofrimento/adoecimento psíquico.
Indagados a respeito das medidas de prevenção de enfrentamento que poderiam
serem realizadas (Tabela 30), os docentes listaram as seguintes:
produção, no lucro, no capital. Trata se de uma questão histórica, que percebe no trabalhador a
forma de alcançar e priorizar apenas os resultados, e não o percurso e quem os alcançou:
[...] que as possibilidades de enfrentamento ao adoecimento do professor
universitário se constituem a partir da compreensão dos determinantes do
adoecimento, que são históricos e socialmente produzidos. Em última análise, o
enfrentamento ao adoecimento comporta a necessidade de alteração da lógica
capitalista, centrada no produtivíssimo, na expropriação e no lucro; para uma lógica
que tenha como centro a emancipação e a realização das possibilidades do
desenvolvimento humanizante. É possível superar o adoecimento, sobretudo o
adoecimento psíquico (QUEIROZ, 2021, p. 111).
12. Só retomar as aulas presenciais quando a maioria das pessoas estiverem vacinadas
13. Ser profissional da educação nestes tempos está difícil, angústias e falta de um salário condizente
desafiam e fazem a gente pensar em desistir. Comigo isso não aconteceu, mas tem muita gente que
ocorre. Ter una política de apoio à docência em termos de saúde psíquica faz toda a diferença.
14. O papel do docente é muito importante para a sociedade, e essa pandemia serviu para muitas coisas, Os
pais estão valorizando mais o professor, pois perceberam o quão importante é o seu papel. Os docentes
evoluíram muito profissionalmente com relação às tecnologias, com o intuito de chegar até seus alunos.
Mas quem está no papel de gestor, diretor, coordenador, que devem ser os direcionadores das políticas
públicas, devem saber dar suporte e mediar esse processo, para evitar a sobrecarga emocional e de
trabalho e consequentemente o adoecimento dos docentes.
15. A pandemia veio derrapante, todos sem exceção sofreram com as consequências. O que nos resta é
aproveitar cada oportunidade de desenvolver nosso trabalho, de acordo com esta nova realidade.
16. Afeto um pelo outro.
17. Deve sempre existir um comprometimento mútuo entre escola e todos os envolvidos na educação.
18. Divulgação da pesquisa.
19. Tenha empatia pelo seu próximo. Juntos vamos vencer, mas cada um deve fazer a sua parte.
20. Falta agir. É muita burocracia, pouca ação.
Muitas reuniões, que apenas ficam arquivadas e só reativadas quando novos/velhos problemas
ressurgem. Muitos profissionais têm receio de serem o que de fato são, pelo medo de serem isolados.,
não relatando o que de fato acontece, mantendo seus nomes ou títulos profissionais reservados de
problemas.
21. Gostar do que você faz no seu serviço.
32. Escolas equipadas com internet, computadores, uma sala de professores adequada, ...
33. A vida saudável é importante para o bom desempenho profissional.
34. Sugestão: Atendimento de um profissional fixo para atendimento específico da equipe escolar.
35. O professor que trabalha descontente adoece com frequência.
36. Em qualquer situação, devemos nos colocar no lugar do outro. Assim poderemos ajudar mais.
37. O mais fundamental para um bom desempenho é a sintonia entre toda a equipe, com respeito e
humildade, agindo como uma família.
A partir das relações do ser humano com a realidade, Vigotski observou a relação entre
o pensamento e a linguagem e sua inexigibilidade para o desenvolvimento humano. A
linguagem em suas diferentes formas, sejam elas escrita, falada ou expressada corporalmente,
157
Encerramos esse tópico com as análises dos questionários dos professores, e foi
possível perceber em determinados momentos que há a consciência e percepção da existência
do sofrimento/adoecimento, contudo, também inferimos haver uma dificuldade, “recusa” em se
expressar, mesmo que seja para falar de si, e mais ainda, sobre todo o processo de trabalho.
O silenciamento das emoções é de fato aspecto importante propulsor do
sofrimento/adoecimento psíquico, e mais, o quanto a percepção do ser humano sobre essa
atitude o faz gerar angústia, e aparição de sintomas que são devido essa repressão. O falar é
terapêutico, o silenciar é padecedor. Os dados até aqui confirmam nossa tese sobre o
silenciamento das emoções e suas consequências para o corpo e mente.
Neste tópico apresentamos as análises e discussões das 118 respostas de duas escalas
a Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) e a Questionário de estresse nos Professores:
Ensino Básico e Secundário (QSPEBS). Os dois instrumentos foram aplicados no mesmo
formulário online junto do questionário.
15
RENSTEIN, C.; WANG, Y-P.; HUNGERBÜHLER, I. (Org.). Instrumentos de avaliação em saúde mental.
Porto Alegre: Artmed, 2016.
Harding e cols. (1980) (Validação para uso no Brasil Mari & Williams, 1986).
159
Alguns dados são relevantes destacar na tabela SRQ-20, a questão número 03, onde é
questionado se dorme mal, há uma proximidade nas respostas, das 118 respostas, 49
responderam que sim, e 69 não, e a questão 09 que se refere sentir se triste ultimamente 54
professores afirmam que sim, e 64 não.
Vários estudos apontam as diferentes situações que podem desencadear o
sofrimento/adoecimento psíquico do professor e como os sintomas podem surgir de diferentes
maneiras, sem mesmo que o sujeito os perceba como resultado do sofrimento/adoecimento.
O trabalho é relevante para a vida dos indivíduos e tem consequências em suas
condições de saúde, tanto físicas quanto mentais (MOREIRA; RODRIGUES, 2018).
Outra questão que ressalta a importância de ouvir os professores trata sobre sentir- se
nervoso, tenso, preocupado, questão número 06. O resultado para sim, apresenta um número de
72 professores com essa sensação, sendo que para não apenas 46. Vale indagar-se o porquê
160
dessa sensação prevalecer entre os professores, o que pode estar causando preocupação, tensão
e o nervosismo? Inúmeras são as possibilidades, mas diante as respostas anteriores sobre as
condições, atividades, podemos sugerir que a organização do trabalho pode contribuir para o
aparecimento desses sintomas desse tipo. Não o bastante, cabe também ressaltar o período em
que a pesquisa foi realizada, em plena pandemia, onde a contaminação alcançava índices
alarmantes e não havia ainda iniciado a vacinação contra a COVID-19.
Oliveira e Santos (2021) verificaram que, devido às condições de trabalho, professores
têm solicitado afastamento por causa do adoecimento, e com base em pesquisas recentes sobre
o tema, a função de ensinar tem preocupado os profissionais da saúde e da educação. Com
resultado nos estudos, verifica se a presença de vários sintomas mentais nessa categoria devido
as condições de trabalho.
Sintomas estes, que estão causando longos afastamentos do trabalho por doença. A
partir desse debate sobre a relação do adoecimento mental e a categoria docente, se faz
importante uma busca de mudanças nessa relação (OLIVEIRA; SANTOS, 2021, p. 2).
Moreira e Rodrigues (2018) observaram em seu estudo diversas situações que podem
adoecer o professor. Dentre elas, os autores apontam as condições de trabalho dos professores
que não estão adequadas, e acabam adoecendo por falta de estruturas físicas e materiais,
violência e desrespeito. Além disso, os estudiosos ressaltam a importância de investigar formas
de melhorar essa situação, além de decisões efetivas dentro e fora das escolas que contribuam
para mudança dessa realidade. A educação brasileira e condições de trabalho docente são
assuntos de grande relevância.
As condições de trabalho são potencializadoras do adoecimento, inclusive dos
professores, como apontam as pesquisas levantadas por Oliveira e Santos (2021) e salientam,
que toda classe trabalhadora pode adoecer, porém as pesquisas têm apontado que os professores
pertencem a uma categoria com grande exposição ao adoecimento mental devido às condições
de trabalho.
Quanto a aplicação dos instrumentos no período crítico da pandemia, no início do
trabalho remoto, do isolamento social, do crescente número de óbitos e das diferentes e novas
formas de ministrar aulas e acompanhar o aprendizado dos alunos, nos permite sugerir que
podem ter influenciado às respostas.
O adoecimento docente é uma realidade que não deve ser negada ou negligenciada.
Essa condição experienciada pelo professor já trazia preocupações antes da pandemia
causada pela COVID-19. As dificuldades desencadeadas pela insegurança que a
pandemia mundial gerou nas pessoas, somadas às demandas de transformar às pressas
o ensino presencial em ensino remoto, mostraram-se como fatores que desencadearam
a tendência ao adoecimento psíquico dos professores brasileiros (SOUZA et al., 2021,
p. 154).
161
que desempenha para/na sociedade. Contudo, é fato que perante a organização da sociedade
atual dificilmente teremos a mudança necessária, mas se torna imprescindível diante a situação
que o trabalho docente se encontra nos dias atuais:
Especialmente se considerarmos que a educação tem papel importante nesse processo
de transformação social e emancipação humana. Tal processo fica bastante limitado
com a intensificação dos processos destrutivos da saúde e da vida, que desorganizam
ou desintegram o psiquismo, caracterizando o adoecimento. Entende-se que o
adoecimento é construído na relação do indivíduo com o mundo, em que apropriações
alienantes e desumanizadoras promovem a cisão e fragmentação do indivíduo,
ampliando os conteúdos inconscientes e restringindo as possibilidades da consciência,
o que ocasiona a alteração na hierarquia dos motivos, das necessidades e da própria
personalidade (SILVA, 2020, p. 70).
O outro instrumento que foi aplicado junto ao questionário foi o QSPEBS, que também
obteve 118 respostas, e é constituído por duas partes distintas. A primeira parte é caracterizada
por uma questão destinada a avaliar os níveis globais de estresse dos professores, numa escala
que varia entre 0 (Nenhum estresse) a 4 (Elevado estresse). Na segunda parte são incluídos 36
itens, correspondentes a diferentes fontes de estresse colocadas aos docentes no processo de
163
ensino, sendo respondidos em uma escala tipo “Likert” de cinco pontos (0 = Nenhum estresse;
1 = Pouco estresse; 2 = Moderado estresse; 3 = Bastante estresse 4 = Elevado estresse)16.
Na escala, na parte 1, o entrevistado responde assinalando com um círculo o número
que melhor indicar o nível de estresse que sente geralmente no exercício da sua atividade
profissional. A questão dessa parte investiga o nível de estresse que a atividade profissional
provoca no professor, e está organizada dividida em 05 níveis que correspondem 0 para nenhum
estresse; 01 para pouco estresse; moderado estresse 02, bastante estresse 03 e elevado estresse
04.
Na parte 1 da escala QSPEBS as respostas estão expostas na tabela 33.
Nenhum Pouco estresse Moderado Bastante Elevado estresse
estresse estresse estresse
0 1 2 3 4
16
Rui Gomes (QSPEBS). Universidade do Minho. Escola de Psicologia.
17
Organizamos a apresentação por quesitos para que o leitor tenha melhor compreensão durante a leitura, a escala
com sua estrutura original está anexa a esse trabalho.
164
No quesito que avaliou a percepção dos professores sobre a carreira, o salário inadequado
é apontado como agente de pouco estresse para 34 (29%) professores, de moderado estresse para
28 (24%) e de elevado estresse para 15 (12%).
Apesar das poucas oportunidades de promoção terem sido apontadas por 49 (42%) como
fonte de nenhum estresse; para 32 (27%) dos participantes causam pouco estresse; moderado
estresse para 16 (14%); bastante estresse para 11 (9%); e elevado estresse para 10 (8%).
A carreira mal estruturada é uma condição que resulta em pouco estresse para 37 (31%)
dos docentes, moderado estresse para 17 (14%) e elevado estresse para 13 (11%). A falta de
perspectiva de desenvolvimento e promoção na carreira é indicada como fonte de pouco estresse
para 37 (31%) e moderado estresse para 19 (16%). A falta de estabilidade e segurança na carreira
é determinante de pouco estresse para 23 (20%) dos professores, moderado estresse para 25 (21%)
e elevado estresse para 12 (10%).
O termo valorização docente reúne três importantes elementos que interferem na
condição profissional: 1) a remuneração; 2) a carreira e condições de trabalho; e 3) a formação
inicial e continuada (OLIVEIRA, 2013).
As constantes mudanças no âmbito educacional, a ampliação do acesso à educação,
qualificação do ensino, materiais e condições melhores também levaram ao aumento das
discussões no que tange à valorização do sujeito professor:
O direito à diferença e ao reconhecimento vêm sendo fortemente afirmados por vários
movimentos na sociedade contemporânea. Esses movimentos produzem impactos na
educação, especialmente nas disputas relativas aos currículos escolares, portanto na
formação dos professores e no seu trabalho. Ambas as tendências são forças sociais que
se avolumam e colocam novas condições para a concepção e consecução de políticas
públicas voltadas ao social, e, mais enfaticamente, para as redes educacionais escolares.
Aqui, o fator humano – quem ensina, quem aprende, quem faz a gestão do sistema e da
escola e como – destaca-se como polo de atuação dos vários grupos envolvidos na busca
de uma nova posição social e de novas condições para suas relações sociais, de
convivência e de trabalho. A uma vez, o reconhecimento social de grupos diversificados
que demandam por escolarização, e, simultaneamente, a necessidade do reconhecimento
social da categoria dos professores como trabalhadores essenciais. Essas questões se
inserem no amplo âmbito da justiça social. Não se trata, portanto, de reconhecimento no
sentido do orgulho pessoal, mas no sentido de uma subjetividade coletiva na demanda
por equidade social (GATTI, 2012, p. 91-92).
Trata-se de voltar o olhar para o ser humano que, por meio da sua atividade, se desenvolve
e satisfaz as suas necessidades, ao mesmo tempo em que colabora para o desenvolvimento e a
hierarquização de motivos do outro sujeito da relação, o aluno. A inconstância das condições de
trabalho oportuniza de forma progressiva uma descontinuação com a docência, ou pelo
adoecimento ou pelo desapontamento pela profissão. Nessa direção, é fundamental a adoção de
políticas de cuidado para com a saúde do professor, as quais também podem ser compreendidas
como uma das estratégias de valorização docente (GOMES; NUNES; PÁDUA, 2019, p. 292).
Gatti (2012) sinaliza para a pertinência das discussões sobre a valorização do profissional-
professor que realiza a educação e as mudanças culturais indispensáveis para o seu reconhecimento
social.
É preciso assumir a existência da desvalorização e das condições precárias de trabalho do
professor. Além disso, é fundamental iniciar um processo de retomada de empatia por esse
profissional que necessita de novos olhares, que vão desde sua formação aos planos de cargos e
carreiras. A segurança e estabilidade são condições necessárias para todos os trabalhadores, e não
há qualquer possibilidade de se trabalhar de forma satisfatória e prazerosa se não houver o
reconhecimento profissional, é essencial retomar o prestigio de ser professor!!
Assim, compreender as políticas governamentais em relação aos docentes pode iluminar
aspectos da relação opaca entre legisladores e gestores dessas políticas e as novas
postulações de grupos sociais que reivindicam para si, de diferentes formas, equidade,
reconhecimento social e dignidade humana. Grupos sociais que se candidatam à formação
e adentram a profissão docente, por diversas injunções, e grupos sociais que adentram,
por meio dos filhos, as escolas. Transformar a educação escolar implica transformar
radicalmente o reconhecimento social da profissão docente e dos professores (GATTI,
2012, p. 92-93).
Até este ponto, organizamos e analisamos os dados obtidos por meio dos questionários
e escalas para analisar as causas do sofrimento/adoecimento psíquico dos docentes. As análises
dos instrumentos aplicados aos professores nos possibilitaram até aqui confirmar nossa Tese.
O silenciamento das emoções é sim de fato um propulsor para o
sofrimento/adoecimento psíquico. Trabalhar tendo total percepção das condições e
desvalorização do próprio trabalho é angustiante, é como se o professor se levantasse todos os
dias sabendo a que horas se iniciará e terminará a tortura. É exercer uma atividade que na grande
maioria foi escolhida pela paixão e por acreditar na possibilidade de mudança, mas que na
realidade se depara diariamente com a indiferença, com as constantes críticas destrutivas, com
a falta de empatia, com as imposições, com o excesso de trabalho, com as cobranças, com a
anulação de um ser humano.
As emoções regem as relações, os comportamentos, as escolhas e o modo de ser. Ao
se silenciar as emoções, cala-se os desejos, vontades, motivos, prazeres e percepções. Ou seja,
o sujeito deixa de ser quem se é.
O que esperar do ser humano nessas condições? Pois bem, sabendo da necessidade de
sobreviver e na grande maioria de cuidar dos seus também, o ser humano tem a consciência de
que a forma de como a sociedade está organizada não tem qualquer pretensão de mudar essa
situação. Não é o trabalhador que não reage, é a sociedade que não lhe dá opções de mudança,
não o garante a possibilidade de escolhas. Igualmente, como se popularizam algumas profissões
serem uma atividade de retorno financeiro e prestígio de imediato, como por exemplo, a
medicina, contudo, é necessário frisar a mercantilização dessa profissão, ao contrário da
profissão docente. Ao mesmo tempo, por outro lado, no que se refere à profissão da docência,
é tida, de modo estereotipado, como algo fulcrado na paixão, admiração e excelência, todavia,
hoje escutamos também que a escolha se deu pela necessidade de trabalhar, por ter mais vagas,
de ter cursos de formação superiores mais fáceis, à distância, como resultado da organização da
sociedade atual. Os dois exemplos de profissão aqui citados não são isolados, muitas outras
profissões passam por desvalorização, mercantilização. Contudo, é necessário frisar, no
entanto, que toda profissão perpassa por uma formação a qual é sempre regida por um professor.
Diante dessas constatações, e com base em suas próprias percepções, o ser humano luta para
resistir e silencia sua dor devido a inevitabilidade de sobreviver.
175
Um dado relevante percebido, a partir das análises dos instrumentos dos professores e
que também corrobora com a nossa Tese, foi que, os questionários permeiam um certo receio
em descrever claramente os sentimentos, as emoções, as angústias, ainda que tenham sido
registradas, entretanto de forma sucinta. Mas, ao analisarmos as escalas, verificamos que os
professores não hesitaram em assinalar as diferentes situações e sensações em relação ao
trabalho, suas condições e consequências. Esse dado nos chamou atenção. Será as escalas uma
forma de registrar as reais situações e não ter qualquer possibilidade de identificação? Esse
questionamento é pertinente quando recordamos que os participantes responderam ao
questionário e as escalas ao mesmo momento, em um único formulário, pois estavam juntos na
plataforma do google forms, contudo, as escalas são instrumentos que não nos permite
identificar de maneira alguma qualquer participante, ao contrário dos questionários, que podem
elucidar a identificação de algum participante por meio da escrita.
Dessa maneira, houve um silenciamento das emoções nas respostas que pudessem
induzir a alguma identificação. De certa forma, foi silenciado o desejo de se expressar,
recorrendo as respostas objetivas das escalas. Esse dado é de extrema importância! Sim, os
professores temem se expressarem, e diante as respostas de todos os instrumentos apuramos
que as emoções estão sendo silenciadas e o sofrimento/adoecimento psíquico tem sido resultado
desse processo.
O filme citado no início desse capítulo apresenta a paixão pela profissão, a
historicidade e peculiaridade da atividade, as funções do trabalho do peão e as consequências
para as outras pessoas. Outra questão abordada no curta, são os riscos e as inúmeras implicações
que a atividade pode acometer quem a exerce, além da influência que pode causar nas pessoas
próximas, como o caso do filho, que admira e deseja ter a mesma profissão do pai, mesmo
diante os riscos que tem. Essa percepção que propomos instigar aos eleitores quanto a
importância e implicações para si e para os outros da profissão docência.
A partir do próximo subtítulo, conheceremos os sujeitos que realizam a gestão da
educação no município, e abordaremos o conhecimento, a percepção e a consciência dos
gestores quanto às Ações, Programas ou Projetos para prevenir o adoecimento docente e a
percepção e a consciência quanto à primordialidade da existência de práticas que promovam a
saúde psíquica do docente.
18
Todas as tabelas tiveram suas respostas organizadas por frequência e mantido o texto original dos participantes.
179
Resposta Frequência
Secretaria de Saúde / Na Secretaria de Saúde, existe o atendimento, 02
principalmente em relação à COVID
Atividade laboral 02
Eu não sei 01
Forma de tratamento qualificada tentando ouvir funcionários driblando o 01
dia a dia com escuta qualificada
Palestras 01
Total 07
Fonte: Freire, 2023
Ao perguntarmos aos gestores sobre o porquê da inexistência. Tabela 42 a maioria não tem
conhecimento ou simplesmente diz que não existe.
Embora a maioria dos gestores tenham respondido que não existe nenhum
programa, ação ou projeto, cinco responderam o contrário, logo pedimos que informassem
quais seriam essas ações.
A Educação no Brasi, sofreu uma expansão da escolarização, com o objetivo de
ampliar o acesso ao ensino. Contudo, não fez parte desse processo uma organização que
cuidasse de todos os aspectos pertinentes à intensificação do trabalho dos professores ou que
visasse à prevenção do sofrimento/adoecimento psíquico docente. Apesar das constantes
mudanças, busca de adequações, a saúde do professor ainda parece ser um tema pouco pensado.
Nesse contexto, o profissional que atua para que sejam efetivados os pressupostos de
uma educação diferente, com qualidade e que atenda aos anseios da comunidade
educacional, enfrenta cada vez mais os desafios para atuar na área, tanto em
instituições públicas quanto privadas, haja vista que o docente sofre pressões e
cobranças, sendo atribuída e a este profissional a responsabilidade por resultados.
Logo, se o profissional da educação é considerado como elemento básico para elevar
o nível da educação no Brasil, preocupar-se com suas condições físicas e mental são
imprescindíveis para que isso aconteça.
Mesmo que um maior número de gestores tenha respondido que não existe nenhuma
ação para prevenir o adoecimento, os que responderam que sim não souberam especificar quais.
Essas contradições podem sugerir que pouco se conhece ou se tem discutido, planejado e
realizado na gestão municipal pra prevenir o sofrimento/adoecimento psíquico docente. Nesse
ponto, verificamos mais uma vez o quanto a comunicação (fala) é importante para organização
do trabalho.
O termo gestão de pessoas está atrelado ao processo administrativo e funcional de
uma organização, ou seja, podemos entender que gira em torno da dinamização dos
processos, o planejamento, a direção e ao fortalecimento do controle dos recursos da
organização para o alcance dos objetivos desejados. A tarefa da gestão relaciona-se a
administrar, dispor, gerar, arranjar, conduzir, governar e propor os processos e
procedimentos para dar fluxo positivo dentro da organização.
A tarefa da gestão relaciona-se a administrar, dispor, gerar, arranjar, conduzir,
governar e propor os processos e procedimentos para dar fluxo positivo dentro da
organização (SILVA, 2016, p. 33).
Nesse cenário, é preciso que os gestores estejam focados nos sujeitos que realizam as
atividades que objetivam os resultados, seja das escolas públicas ou privadas. Assim, é
fundamental que os gestores tenham conhecimento das lacunas existentes, mas persistentes no
contexto escolar que podem desencadear o sofrimento/adoecimento psíquico. Ademais pensar
na gestão enquanto forma de organizar o trabalho é orientar quem, como e o que fazer de forma
a dispor de todos os recursos necessários:
A Gestão de Pessoas é um campo vasto que recentemente vem sendo discutido sob
diferentes enfoques, estes que vão desde as conceituações elementares sobre o termo,
até uma visão mais aprofundada no que concerne a motivação, desempenho e
engajamento pessoal, entre outros na vida da organização/instituição que direcionam
e estimulam a participação direta ao bem-estar, proporcionando a reciprocidade de
ações que tão grandiosamente vem-se abordando como mote da mudança de
paradigmas nas relações entre pessoas e atuação de seu trabalho. E nos ambientes
escolares essa premissa é de abordagem central, quando ressaltamos a importância de
seus gestores estimularem essa participação de suas categorias de trabalho,
especialmente dos professores (SILVA, 2016, p. 34).
181
Os gestores, por exemplo, que estão ligados diretamente nas atividades da organização,
metas e objetivos, necessitam desenvolver bom relacionamento interpessoal com sua equipe e
mediar todos os processos internos (DANTAS; HENRIQUES, 2020, p. 2)
Procuramos, também, examinar se na escola que os gestores coordenam existe
alguma Ação, Projeto ou Programa para prevenir o adoecimento, como vemos na tabela
43. Para os gestores que responderam sim, solicitamos que especificassem.
Tabela 43 - Em relação a escola que coordena, existe alguma Ação, Projeto, Programa
para prevenir o adoecimento docente? Caso afirmativo, como?
Sim 03 (12%)
Não 22 (88%)
Resposta Frequência
Tentativas de utilizar o que aprendi no curso de psicologia tentando distribuir 01
sementes, influenciando, sugerindo a criação do espaço verde, de forma a
diminuir ansiedade, depressão, digo, tentativas além de roda de conversa com
a gestora
Ginástica laboral 01
Palestras 01
Total 03
Fonte: Freire, 2023
Na escola em que atua, o gestor conhece sua equipe, clima, situações que podem
contribuir ou prejudicar um resultado e toda a dinâmica de trabalho. Por mais que sejam muitos
professores em uma única escola, cada um possui sua individualidade e subjetividade, nos
desejos, motivos e emoções. O gestor precisa conhecer e identificar o potencial e também as
dificuldades de cada profissional, o todo só se forma por meio do individual.
O problema surge quando as instituições se dão conta, que o simples fato da equipe
possuir características de alto desempenho funcional não lhe é o suficiente para
garantir o sucesso e mantê-la eficiente em seus resultados. Os seres humanos são
complexos e singulares, cada membro da equipe pode dar uma conotação diferente,
podendo interpretar os padrões estabelecidos, as normas e autoridade de forma
diferenciada.
182
Ante ao exposto, cabe aos gestores, enquanto líderes diretos das instituições
educacionais, acreditar que cada grupo ou categoria dentro das escolas possui a
potencialidade singular e essencial para se chegar a possíveis soluções dos problemas
que se apresentam, reforçando a função da diagnose como instrumento auxiliar para
a identificação dos principais entraves que emperram a sua dinâmica (SILVA, 2016,
p. 40).
Os temas que apresentaram maior frequência nas respostas são sobre sofrimento
mental, estresse, síndrome de Burnout, depressão e doenças emocionais. Apesar de não existir
nenhum projeto, ação ou programa específico, os gestores percebem a necessidade da
prevenção do sofrimento/adoecimento psíquico docente.
Souza (2018) verificou, em sua pesquisa com professores de uma escola pública, que
a maioria já se afastou para tratamento de depressão, síndrome do pânico, estresse e problemas
com a voz, que são os casos mais comuns da categoria: “Os docentes apontaram o risco de
adoecimento mental no exercício da sua profissão, pois avaliam que o desgaste emocional e o
esforço cognitivo são altos” (p. 112).
Silva e Vieira (2021) registraram em seu estudo, os mesmos motivos que resultaram
no afastamento dos professores, onde os transtornos mentais e comportamentais, seguidos das
doenças osteomusculares são as principais causas de licença-saúde, como o próprio afastamento
do professor de suas funções. Entre os transtornos mentais e comportamentais, os mais
frequentemente observados são: estresse, depressão, ansiedade, nervosismo e síndrome do
pânico (SILVA; VIEIRA, 2021, p. 189).
Outros estudos que buscaram identificar as causas de sofrimento/adoecimento docente
também apontam que os transtornos mentais estão entre a maioria das causas dos afastamentos
para tratamento de saúde dos docentes. Depressão, transtorno misto ansioso, estresse, síndrome
do pânico, tristeza, ansiedade, insônia, síndrome de Burnout são alguns dos motivos mais
prevalentes (BASTOS, 2009; BAIÃO; CUNHA, 2013; SOUZA; COUTINHO, 2018; SOUZA,
2018; FERNANDES, 2019; FACCI; ESPER, 2020c; SILVA; VIEIRA, 2021);
Trata-se de um panorama geral, em que diversas pesquisas identificam as causas que
estão acometendo a saúde docente: a intensificação de trabalho, a ausência de políticas públicas
voltada para essa temática, a constante e recorrente desvalorização da profissão, a imposição
de trabalhos burocráticos, ambiente e relações desfavoráveis são algumas das muitas causas
identificadas em diferentes estudos. Em todas as situações há uma coisa em comum, o
silenciamento do professor, de suas emoções. Em nenhuma das situações, o professor é ouvido,
é permitido falar o que pensa, o que sente, o que deseja, se concorda ou não.
184
A segunda reposta com maior frequência foi políticas públicas na área saúde, o que
também é observado por outros pesquisadores como uma possibilidade de ação para prevenir
ou minimizar o sofrimento/adoecimento docente. Souza e Coutinho (2018) com base nas
demandas dos professores, verificaram a implementação de políticas públicas direcionadas para
o atendimento profissional do professor com o intuito de minimizar o sofrimento docente.
Sempre urgente! Rodas de conversas, inclusive com equipe de gestores. Também é
muito tenso este outro lado, quando chegam as informações e é necessário ter
equilíbrio emocional para filtrar e ouvir de todos os lados, mantendo a calma da equipe
(RESPOSTA T).
A busca pela qualidade da aprendizagem também requer uma boa gestão, não cabe
somente o domínio do conteúdo por parte do professor para obter bons resultados, é preciso
uma boa organização, bom planejamento, boas intervenções e acima de tudo que haja o bom
senso nas divisões de tarefas e o respeito com os profissionais que estarão executando tudo o
que foi programado, nesse caso com os professores.
Portanto, é indispensável salientar que um dos grandes desafios no gerenciamento das
escolas refere-se à busca de uma educação de qualidade, em que uma equipe gestora,
comprometida e qualificada torna-se fundamental para garantir a qualidade das
aprendizagens. Devido a isso, o planejamento precisa ser constantemente avaliado,
não somente pela equipe gestora escolar, mas também por todos os envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem. Em consequência disso, as aprendizagens de todos
na escola serão de fato significativas e eficientes, sendo capazes de nortear as tomadas
de decisões para uma formação educacional de qualidade (BIZOL, 2018, p. 7).
trabalho, formar e manter uma boa equipe, e ao mesmo tempo atingir as mudanças, as
transformações dos envolvidos.
Sempre, pois sempre temos relatos dos profissionais em situações delicadas com
relação ao tema abordado. (RESPOSTA X)
Tabela 45- Atualmente tem conhecimento das principais causas de afastamento para
tratamento de saúde dos docentes? Se sim, fale sobre elas
Sim 18 (69%)
Não 08 (31%)
Depressão, ansiedade e síndrome do Pânico/estresse/ doenças 16
psicológicas/Pressão
Coluna 03
Doenças físicas e emocionais 02
COVID-19 02
Estresse devido à pandemia 01
HAS 01
doenças causadas por esforço repetitivo 01
doença do intestino, câncer 01
Total 27
Fonte: Freire, 2023.
De acordo com as respostas dos gestores sobre as principais causas de afastamento dos
docentes para tratamento de saúde, os transtornos mentais, como em outros estudos
187
O período pós-pandemia inicia, as aulas aos poucos foram sendo retomadas. Nesse
cenário, estão os professores e alunos que, de forma experimental, estão sendo colocados em
uma verdadeira berlinda e a única certeza que temos é um relevante atraso na aprendizagem e
mais sobrecarga de trabalho.
A conjuntura revela que nossa sociedade está adoecida. Toda vez em que há a perda
de alguém para o COVID-19 e que a fome bate na porta daqueles que perderam seus
vínculos de trabalho em função da pandemia, o sentimento de luto se apresenta, nem
sempre objetivamente com a perda do outro, mas em certos momentos, com a perda
de si mesmo e da dignidade humana (PRADO; LADEIRA; SENTINELI, 2020, p.
227).
transtornos de humor, entre outros que tem acarretado prejuízos significativos passando de
sofrimentos para adoecimento psíquico por iniciar um processo de incapacidade e
descontinuidade das atividades do ser humano.
Mensalmente 01
Só foi ofertada à comunidade uma plataforma e pro docente trabalho de 01
preenchimento dela, impressão e alimentação do sistema Tagnos. Entrega de
kit merenda e kit escolar aos alunos
Total 27
Fonte: Freire, 2023
O uso da tecnologia, apesar de ser uma realidade para muitos, não passa de
privilégios para poucos, as escolas públicas em sua maioria não disponibilizam recursos
tecnológicos adequados e disponíveis para todos os professores e alunos. A pandemia apenas
mostrou a realidade de todos os dias do ensino público, independente de situações adversas,
emergências que requerem uma reestruturação do ensino.
Assim, surgem alguns problemas na dinâmica de aulas que são comuns nas diversas
realidades da educação e por que não dizer que são comuns a realidade do país, são
eles: problemas com manuseio das tecnologias necessárias, computador, internet ou
mesmo os celulares, falta de disciplina no gerenciamento do tempo, falta de
infraestrutura básica, sobretudo nas escolas públicas para promover aos professores e
alunos o material necessário ao desenvolvimento das aulas remotas (SILVA; SILVA,
2021, p. 830).
O acesso e o manuseio das tecnologias ainda não é uma realidade comum nas escolas
públicas, as inúmeras alterações e expansões das políticas públicas da educação ainda não
permitiram uma equidade no que diz respeito ao acesso e qualidade do ensino público. Silva e
Silva (2021) esclarecem que a relação da escola e do professor com as tecnologias ainda é
bastante confusa e conflituosa, sobretudo nas instituições públicas. Em complemento, Pereira
e Barros (2020) afirmam que:
É necessário considerar a inserção de todos num contexto mundial e por esse fato não
se pode ficar à margem dos acontecimentos e das consequências, nem sempre
positivas. A educação deveria ser beneficiada e privilegiada com os avanços
190
O ensino remoto e o uso das tecnologias surgem como algo miraculoso para o ensino,
mas essa percepção não é a realidade da escola pública e seus protagonistas. Não dá para crer
que da noite para o dia tudo estaria resolvido, de forma rápida e automática. Vigotski (2003)
elucida que a educação não é um processo mecânico e ressalta o mérito do processo de troca,
do acesso aos conteúdos, das experiências. Com o uso das tecnologias e o ensino remoto, não
seria diferente:
Com uma visão superficial fica fácil extrair da teoria dos reflexos condicionados a
conclusão de que o comportamento humano e a educação são entendidos de forma
totalmente mecânica e que o organismo é parecido com um robô [autômato] que
responde com regularidade maquinal às excitações do meio. Já destacamos que esse
critério é incorreto. O próprio processo de formação do reflexo condicionado - como
demonstramos - surge da luta e do encontro de dois elementos totalmente
independentes um do outro em sua natureza, que [...] se cruzam e interceptam no
organismo conforme as leis desse mesmo organismo (VIGOTSKI, 2003, p. 78).
As mudanças no contexto escolar, assim como durante toda a vida do ser humano, são
partes essenciais de sua transformação, pois nada e ninguém são imutáveis, quando se relaciona,
o ser humano interage com o meio e aprende. Por isso, é essencial compreender que essas
mudanças não ocorrerão de maneira breve e com facilidade. Trata-se de um processo, e o uso
da tecnologia nas escolas, ainda que importantes, também faz parte desse processo e requer um
minucioso estudo para que seja feito de forma apropriado.
Para tanto, é fundamental lembrarmos que esse debate e a introdução de tecnologias
na educação e no cotidiano escolar não acontecerão de forma instantânea, existem
uma série de fatores que precisarão ser pensados antes disso acontecer, tais como a
infraestrutura das escolas, a capacitação dos profissionais para seu uso e mesmo a
instrução dos alunos, e acima disso tudo, a reflexão da necessidade e da colaboração
que tais instrumentos podem de fato ter na educação (SILVA; SILVA, 2021, p. 830).
As respostas dos gestores vão ao encontro de outros estudos sobre formação, uso das
tecnologias, acesso e qualidade. No Brasil, o acesso aos recursos tecnológicos não é presente
nas escolas, nem para os professores nem para os alunos. Tampouco as formações até então
previam o uso de tecnologias para o desempenho de ensino remoto.
No contexto atual, vivemos uma situação atípica, em que o uso do computador (ou
celular) e da internet se tornaram fundamentais para o cotidiano escolar, a sala de aula
foi substituída pelas salas virtuais, a presença física deu espaço a imagem em telas, o
contato humano trocado pelas videoconferências ou videoaulas. Tudo isso sem que as
escolas, alunos e professores pudessem se preparar. Um momento em que, além da
preocupação com a vida e saúde, os alunos, professores e demais profissionais da
educação também precisam se preocupar em cumprir horários, metas, e tudo o que
envolve os regulamentos escolares (SILVA; SILVA, 2021, p. 830).
191
Não obstante, há preocupação com os conteúdos os quais se têm acesso nas redes. A
falta de uma formação crítica leva ao aprendizado alienante, e quem os acessa pode facilmente
ser envolvido pelos interesses obscuros das redes sociais, midiáticas e perversas do capitalismo.
Como se não fosse suficiente, a preocupação com os conteúdos disponíveis também é assunto
de extrema importância nesse cenário de expansão da tecnologia. Diferentemente dos alunos
que já possuem as oportunidades tecnológicas, de ensino de qualidade, pode ser, que tenham
uma maior percepção ao conteúdo disponível, isso não é uma regra, mas é um fato. Por terem
maiores e melhores condições, pode ser que tenham maiores e melhores percepção do mundo
a sua volta.
Além disso, também se deve levar em consideração que, para as que têm acesso fácil
à internet, aos outros dispositivos necessários, assim como outras condições objetivas
de participação das aulas remotas, a compreensão crítica das informações ali
encontradas só ocorre àquelas que tiveram acesso a formações críticas (não
necessariamente escolares), pois são essas formações que contribuem para dar sentido
ao que se vê, ouve, lê, acessa. Ou seja, a busca por informações nos meios digitais
pode ser facilmente capturada pela rede alienante do capital, impedindo a livre
navegação e afogando o sonho de emancipação pela tecnologia. Nesse sentido, o olhar
para as tecnologias deve deixar de ser em busca de sua natureza, que não é nada neutra,
voltando-se para a imbricada relação com suas finalidades políticas e éticas
(CARVALHAL; OLIVEIRA; RIBEIRO 2020, p. 32-33).
Tabela 49-Quais ações considera importante para contribuir com o Trabalho Docente
caso persista o trabalho remoto?
Resposta Frequência
Mais formações para o uso das tecnologias/ Formações técnicas específicas e 11
presenciais de como manusear a plataforma remota/ Formação qualitativa/
Continuidade das formações
Palestras direcionadas à saúde /Formações sobre a saúde psíquica que 07
contribuem com o emocional do docente/ Rodas de conversas voltadas para
tranquilizar a elasticidade de tantas mudanças/ Palestra de motivação/ as
palestras motivacionais principalmente para acalmar a angústia de não
conseguir alcançar o objetivo da forma que gostariam, enfim, ajudá-los sempre
a entender e aceitar a situação que vivenciamos/ Oferta de materiais pontuais
e prazerosos sobre a saúde emocional/ Acompanhamento psicológico
Total 31
Fonte: Freire, 2023.
Nesse tópico, conferimos que a maioria percebe a formação para o uso de tecnologias,
melhores recursos materiais e assessoria para o trabalho online como prioridades. Essas
constatações são importantes devido as consequências que o trabalho remoto ocasionou aos
professores. Não se tratou apenas de uma situação que tiveram que optar em trabalhar
remotamente em utilizar esse método de ensino, ao contrário, foi algo imposto, algo novo, com
pouco ou nenhum recurso que, bem possivelmente, causou vários sentimentos negativos.
Sendo o ensino remoto emergencial por ser uma necessidade no momento, muitas
foram as transformações no fazer docente de cada profissional que se viu diante de
uma nova realidade, onde ao invés do contato direto com os alunos, teriam que
aprender a interagir através do ensino a distância, o que além de desafiador, causou
estranheza e inquietações para esses profissionais da educação básica (FREITAS;
ALMEIDA; FONTENELLE, 2021, p. 2).
Apesar de sabermos que o ensino remoto foi pensado como uma alternativa durante as
ausências das aulas presenciais, são notórias as dificuldades encontradas. Vale ressaltar que não
foi um desafio que gerou expectativas positivas, ou excitação, mas sim estranhamento, medo,
angustias e inseguranças. Tanto os professores quanto os alunos se viram obrigados a manusear
recursos tecnológicos sem terem tido a chance de dominar esse método de ensino
aprendizagem, e não só a falta de domínio, mas o acesso a esses recursos era para poucos ou
nada disponíveis:
194
E isso tem sido um desafio para professores, alunos e famílias, pois alguns professores
não dominam ou não dominavam as ferramentas tecnológicas, famílias também não
dispõem dos suportes necessários para que os/as alunos/as possam acompanhar as
aulas remotas e isso tem gerado um cenário de muita complexidade (FREITAS;
ALMEIDA; FONTENELLE, 2021, p. 5).
Diante desse quadro, é razoavelmente possível concluir que não adianta informatizar
as escolas sem que haja esforços para capacitar os professores para o uso em sala de aula, com
perspectivas de mudanças na prática educativa (PEREIRA; BARROS, 2020).
O ensino remoto além de denunciar, provocou novas discussões sobre as formações
docentes. A forma como todos foram pegos de surpresa por uma pandemia que parou o mundo,
desestabilizou um dos setores essenciais para o desenvolvimento humano, a educação. E por
ter sido o trabalho remoto necessário para continuidade do processo de ensino aprendizagem, o
uso de tecnologias foi a única maneira de se fazer, mas foi feito sem quaisquer condições e/ou
tempo hábil de organização.
A discussão sobre a formação docente nesse período da pandemia se faz necessária
pelo motivo das aulas presenciais estarem suspensas e os professores terem que
produzir as suas aulas por meio das tecnologias, em muitos casos, não existirá tempo
suficiente para capacitar os professores para essa nova demanda que se faz presente.
(PEREIRA; BARROS, 2020, p. 2).
Castro (2020) cita diferentes possibilidades e ações de formação continuada, entre elas
a frequência em cursos de aperfeiçoamento, especialização, mestrado, doutorado, a participação
em palestras, minicursos, congressos, mesas-redondas e grupos de estudos. O autor sugere
ainda que as rodas de conversa podem ser fortes aliadas para a formação continuada em tempos
de pandemia, por ambiente virtual, e enfatiza que essa proposta se baseia na ação coletiva:
As rodas de conversa são um espaço de formação continuada do professor, em que,
juntamente com seus pares, ele reflete criticamente acerca da educação, do ensino e
de questões cotidianas da sala de aula; em que ele compartilha suas experiências,
angústias e desafios, formando uma rede de aprendizagem e de apoio, que são
fundamentais para o seu desenvolvimento profissional e para o “empoderamento” do
grupo. Elas podem ser um espaço de resistência às desigualdades sociais e aos ataques
antidemocráticos à educação e aos professores, também são e devem ser um espaço
de criação – aquela criação que sucede o caos – mas, acima de tudo, são um caminho
possível e que deve ser trilhado por todos os professores e profissionais da educação
(CASTRO, 2020, p. 104-105).
Tabela 50 – Quais ações considera importantes para contribuir com Saúde Psíquica do
Docente, evitando o seu adoecimento, caso persista o trabalho remoto?
Resposta Frequência
195
O cuidado com a saúde do docente deve ser tópico de discussões para os próximos
documentos que legislam a educação, devem se tornar políticas públicas, e antes mesmo que
essa isso aconteça, é fundamental que haja nesse momento um olhar diferenciado para a saúde
do professor. Após a passagem de um acontecimento como a pandemia que deixou rastros de
sofrimento/adoecimento, não há como não discutir e abordar as consequências causadas por
essa situação caótica que foi imposta aos trabalhadores. O retorno das aulas presenciais é certo,
e será tomada de resquícios desse período horrífico.
Contudo, a execução de ações e diligências preventivas e promotoras de saúde para
reduzir as implicações psicológicas da pandemia não podem ser deixadas de lado neste
momento (PEREIRA; SANTOS; MANENTI, 2020).
Diante do contexto atual, torna-se claro que o acompanhamento psicológico é
fundamental para os professores universitários. Neste aspecto, o psicólogo deve
trabalhar formas de minimizar os medos e frustações dos clientes e incentivar a busca
por atividades que estimulem a resiliência e a redução do estresse, com foco na
retomada do trabalho de forma segura, evitando futuros agravos psicológicos e
fortalecendo os docentes para o enfretamento de possíveis adversidades. Já que os
docentes apresentam uma grande incidência de síndrome de Burnout e transtornos
psicológicos, faz-se necessário que as instituições de ensino busquem formas de
proteger esses profissionais, colaborando para a melhor troca de experiências entre
alunos e professores (HERNANDES; ROZÁRIO, 2021, 1366-1367).
Tabela 51- Houve afastamento de docentes por problemas de ordem psíquica no período
de pandemia? Se sim, saberia descrever quais?
Sim 12 (46%)
Não 14 (54%)
Resposta Frequência
Não 06
Ansiedade/ Pânico/estresse/depressão 04
No início, por causa de não saber lidar com a situação 01
Tenho conhecimento de professores que, por perderem familiares, não 01
conseguiram retornar às suas atividades
Total 12
Fonte: Freire, 2023
As causas verificadas pelos gestores são apontadas por diferentes pesquisadores que
constataram que não só há o medo e ansiedade em lidar com uma crise sanitária repercutiram
na saúde dos professores, nesse caso, pela pandemia, como também o incremento de trabalho e
as inseguranças que envolveram todo esse contexto.
Além da falta de capacitação, pressão de pais e gestores, esforço para repassar
aprendizado aos alunos, obrigações pessoais, os professores ainda têm a preocupação
de precisar conviver com uma doença que já matou milhares e, ainda, devido à crise
198
econômica causada pelo coronavírus, surge a angústia de ter seu salário reduzido e
sua carga horária aumentada (HERNANDES; ROZÁRIO, 2021, p. 1363).
O que parecia ser algo provisório tornou-se uma realidade para professores e alunos
que se depararam com uma modificação abrupta no processo de ensino e aprendizagem, as
relações, a afetividade, a proximidade foram substituídas por aparelhos, as atividades coletivas,
foram realizadas por meio da internet individualmente, os professores tiveram que dispor de
muita criatividade na elaboração, execução, explicação e correção do conteúdo, enquanto os
alunos tiveram que se desdobrar para conseguir ter acesso a internet e aparelhos. Vale ressaltar
que nem sempre havia tais estruturas em casa, portanto, deparavam-se com a dificuldade de
compreender as orientações e tarefas a serem executadas.
O caos causado pela pandemia propôs refletirmos porque há a dificuldade ou a negação
em discutir algo que a tempos tem gritado por atenção, a saúde dos professores. Durante a
pandemia vários foram os momentos que o sofrimento/adoecimento docente foi se expandindo.
Teixeira (2020) descreve como a saúde dos docentes foi sendo atingida ao longo da pandemia:
Focados em um processo educacional que foi sendo reduzido a transmissão de
conhecimentos e cumprimento de protocolos, os docentes passaram a sentir o peso do
esvaziamento dos espaços de encontro, desabafo, trocas afetivas e de conhecimento
que se davam pelos corredores com professores e alunos. Nos grupos de WhatsApp®
de docentes, assistimos a mensagens de colegas relatando perdas de parentes, pedindo
Verificamos que a metade dos participantes não respondeu a essa questão, e outra
metade respondeu de forma monossilábica – não. Contudo, chamam-nos a atenção os registros
do setor de Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Educação que nos foram
disponibilizados pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) do município
no qual apontam que, no período de 01/01/2020 até 31/12/2021, 31 profissionais de educação
solicitaram afastamento para tratamento de saúde com atestados CID F19. (Tabela 52).
Silva (2021) enfatiza como as condições com que o ser humano se depara podem
desintegrar e debilitá-lo psicologicamente e que essas condições precisam ser repensadas, para
possibilitar a sua melhora, pois surgem a partir da internalização de uma realidade. Como o ser
humano adoece na realidade de uma sociedade, também é nessa mesma sociedade que deve
existir maneiras de superação.
Nesse viés, Teixeira (2020) nos instiga a pensar o mundo pós-pandemia, pois pouco
sabemos o que está por vir. Mas dois nortes apontam expectativas que se referem ao retorno do
bem-estar social, com a diminuição do consumismo e do individualismo, e assim,
fortalecimento das relações sociais, menos competição, e por outro lado, há quem acredita que
aumentará os nacionalistas, o obscurantismo, o fortalecimento das religiões, a desvalorização
humana, e como resultado, a mediocrização da morte.
19
Foi solicitado por interesse da pesquisadora ao Centro de Referência de Saúde do Trabalhador as informações
especificamente sobre os afastamentos dos professores relacionados ao CID-10 F.
200
o seu sustento, o professor mais uma vez silenciou suas emoções e se viu em uma situação
inesperada e repleta de insegurança e incertezas.
[...] E com a pandemia causada pelo novo coronavírus, as mudanças tem-se
intensificado. Mudanças estas que causam repercussões, direta ou indiretamente, em
toda organização social e que geram impactos significativos na saúde mental do
professor (OLIVEIRA; SANTOS, 2021, p. 39194-39195).
Pessoa Pereira, Viana Santos e Aguiar Manenti (2020) apontam para o cenário
precário, e mesmo cruel da educação ao qual os professores foram submetidos, tendo que se
reinventarem a qualquer custo independente das condições de trabalho.
Ao que nos parece, em nenhum momento foi pensado nas condições de trabalho e as
consequências para os professores. As exigências foram exclusivamente para a continuidade do
ensino, cumprimento de prazos, conteúdos, metas, e sem ao menos, organizar um novo modelo
de trabalho que pudesse ser acessível e plausível as reais condições dos docentes. Essa situação
nos remete a discussão das formações, quando nos reportamos as observações de como
acontecem, sem qualquer participação ativa dos professores nas escolhas das teorias
pedagógicas, conteúdos, duração, entre outros elementos importantes. O que se percebe, é que
em todos os momentos, os professores apenas executam, não são ouvidos, não se expressam. O
silenciamento é característica constante na realização da atividade.
O que precisa ser pensado a partir de agora e não se pode deixar escapar esses
resquícios da pandemia na sociedade, é que se entendemos a educação como forma de
transformar, de criar possibilidades de mudanças, não podemos manter esse silêncio frente as
mais diversas atrocidades que a sociedade vem impondo a tempos. O negacionismo,
obscurantismo, as imposições aos profissionais da educação, as péssimas condições de trabalho
não são em hipótese alguma o real objetivo da educação. Como as diferentes sequelas da
pandemia, essas reflexões precisam acontecer, ser discutidas e repensadas para que possamos
assumir o quanto as desigualdades já existiam e estavam apenas mascaradas, e de alguma forma
iniciar um real processo de transformação.
Até esse ponto, conhecemos a organização, condições e ações existentes na educação
do munícipio. Percebemos que são inúmeras as questões existentes que precisam ser discutidas,
avaliadas e reorganizadas para que haja um bom ambiente de trabalho. Também, constatamos
que a comunicação, aspecto essencial para as relações, é um fator que precisa ser refletido.
Dentre as respostas, foi possível verificar que o município não realiza nenhum projeto
especifico e contínuo para prevenir ou instrumentalizar os profissionais da educação para
saberem lidar com o sofrimento/adoecimento psíquico. A linguagem e o silenciamento foram
aqui percebidos como temas necessários a serem abordados visando melhoria nas relações, nas
condições de trabalho e outros fatores importantes para organização e planejamento do trabalho
202
e futuras ações. No próximo tópico, abordaremos semelhanças e diferenças nos dados dos
professores e dos gestores.
Com base nos dados coletados e analisados nessa pesquisa, esse tópico pretende
analisar fatores importantes que possam contribuir para confirmação dessa tese. A
comunicação, as semelhanças e/ou contradições entre as respostas dos participantes,
professores e gestores que podem ajudar na comprovação de que a linguagem e as emoções são
ferramentas indispensáveis para o ser humano se instrumentalizar e conseguir organizar e
refletir sobre suas percepções, sentimentos e prevenir o sofrimento/adoecimento psíquico.
A comunicação é primordial para o desenvolvimento, para as relações, para o convívio
e os bons resultados. É a linguagem – a comunicação que propicia uma boa integração e
resolutividade em diferentes situações, mesmo que inesperadas.
Quanto aos dados de identificação, professores e gestores são, na maioria, do sexo
feminino, com a faixa etária entre 41 e 50 anos. O estado civil é outro dado compatível entre
professores e gestores. Em relação à graduação, a maioria é formada em Pedagogia. A
instituição de ensino superior mais registrada tanto para professores quanto para os gestores foi
a UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Observamos também uma
proximidade quanto aos períodos de formação. O curso de Especialização é a pós-graduação
predominante entre os dois grupos.
Chamam-nos a atenção as similaridades em todos os aspectos da identificação. A
maioria tem formação em Pedagogia e possui Especialização na instituição UFMS. Isso se
explica porque os cursos são oferecidos no CPAN – Campus do Pantanal, localizado em
Corumbá.
A partir desses dados, propomos uma análise por dois vieses. A primeira refere-se ao
meio. De acordo com Vigotski (2018), o meio tem papel e significado no desenvolvimento da
criança e o sentido direto da palavra se modifica para a criança a cada degrau etário:
Como se sabe o mundo distante não existe para o recém-nascido. Para essa criança,
existe apenas o mundo que se relaciona diretamente com ela, ou seja, o que se articula
203
em torno de um espaço estreito, formado por fenômenos e objetos ligados a seu corpo.
Aos poucos, o mundo distante começa a se aproximar. Contudo, no início, trata-se
também de um mundo muito pequeno: o mundo do quarto, do pátio mais próximo, da
rua. Quando começa a andar, esse mundo se expande e, cada vez mais, novas relações
entre a criança e as pessoas que a circundam se tornam possíveis. Posteriormente, o
meio se modifica por força da educação, o que o torna especifico para a criança a cada
etapa etária: na primeira infância, a creche; na idade pré-escolar, o jardim de infância;
na idade escolar, a escola. Cada idade tem seu próprio meio, organizado para a criança
de tal maneira que, quando tomando no sentido de algo puramente externo, se
modifica na passagem de uma idade para outra (VIGOTSKI, 2018, p. 74-75).
Esse primeiro viés nos leva a entender que os profissionais de educação optaram por
se formar em pedagogia, ter especialização, além da coincidência das idades e períodos por
influência do meio em suas escolhas, por viverem as experiências no mesmo momento histórico
e cultural, conforme as faixas etárias e interesses, como aponta Vigotski (2018).
Todavia, isso é pouco. Até mesmo quando o meio se mantém pouco alterado, o mero
fato de a criança mudar, no processo de desenvolvimento, faz com que se modifiquem
o papel e o significado dos momentos do meio que parecem permanecer inalterados.
Um evento que tem determinado significado desempenha um papel numa idade
específica. Todavia, dois anos depois, começa a ter outro significado e a desempenhar
outro papel por força de mudanças da criança. Ou seja, a relação da criança com
aqueles eventos do meio mudou.
Valendo-nos de exemplos que vimos quando analisamos crianças, podemos dizer,
com mais precisão ou exatidão, que os momentos essenciais para definição da
influência do meio no desenvolvimento psicológico, no desenvolvimento da
personalidade consciente, são a vivência. A vivência de uma situação qualquer, de um
componente qualquer do meio define como será a influência dessa situação ou meio
sobre a criança. Ou seja, não é esse ou aquele momento, tomado independentemente
da criança, que pode determinar sua influência no desenvolvimento posterior, mas o
momento refratado através da vivência da criança (VIGOTSKI, 2018, p. 75).
Mas, por outro viés, percebemos que as escolhas se deram por conta da restrição do
próprio meio, digamos, restrito, no sentido de localização, acesso. Se pensarmos no período de
graduação dos participantes, poucas eram as possibilidades de realizarem seus estudos e
pesquisas fora do município.
Corumbá é o município mais distante da capital do estado de Mato Grosso do Sul. Por
muito tempo, houve poucas possibilidades de locomoção e oportunidades de expandir seus
conhecimentos, que não na própria cidade. Essa análise ganha força quando observamos os
outros cursos, períodos de conclusões e faixa etárias. Constatamos que são profissionais mais
jovens, que tiveram acesso a novas oportunidades, concluíram seus estudos em outros
municípios, ou mesmo vieram de outras cidades.
Sobre o meio e o desenvolvimento, Vigotski (2018) ressalta:
O meio não deve ser estudado como um ambiente de desenvolvimento que, por força
de conter determinadas qualidades ou características, já define pura e objetivamente
o desenvolvimento da criança. É sempre necessário abordá-lo do ponto de vista da
relação existente entre ele e a criança numa determinada etapa de desenvolvimento
(p. 74).
204
No que tange aos prejuízos a saúde por causa do trabalho remoto, novamente a soma
dos docentes que foram afetados ultrapassa a soma dos que não foram.
Os docentes, em condições de mudanças, são impulsionados ou obrigados a se
adequarem às atribuições de um novo perfil profissional e, consequentemente, às exigências de
novas performances para que as demandas sejam atendidas (PEREIRA, SANTOS e
MANENTI, 2020).
A nova forma de trabalho que devido a pandemia foi imposta aos professores, no traz
de maneira agressiva a necessidade de analisar o que o ser humano sente ou sentiu com toda
essa mudança. Se o ser humano é criador de sua história, se o seu trabalho transforma a si e ao
mundo a sua volta, o que pensar quando o professor se depara com as exigências e péssimas
condições do trabalho. Esse momento trouxe além das imposições das condições e excessos de
trabalho o silenciamento de um ser humano como um todo. As emoções, os prazeres, as
satisfações, desejos e motivos foram simplesmente enclausurados.
Partimos do pressuposto de que o homem é o sujeito da história, criador e reprodutor
de suas condições de existência e, por consequência, autor de seu processo de
personalização. O homem é um ser que produz pelo trabalho social os seus meios de
subsistência e dessa forma se produz a sei mesmo (MARTINS, 2015b, p. 112).
quantidades de sim e não estão bem próximas. Novamente desvelamos as diferentes possíveis
percepções existentes nesse contexto.
A percepção é corroborada, portanto, na atribuição de significado às impressões
sensoriais, e, na unidade que se forma entre estas, ela reside em um processo altamente
complexo e estruturado, constituído pelas imbricadas relações que fazem das
sensações os meios pelos quais os objetos e fenômenos da realidade são percebidos.
(MARTINS, 2015a, p. 130-131).
Perguntamos aos gestores quais os motivos dos afastamentos por sintomas psíquicos
durante a pandemia. Novamente observamos a falta de percepção, comunicação e
conhecimento sobre os afastamentos para tratamento de saúde durante a pandemia, pois 31
profissionais da educação, com critérios diagnósticos de sofrimento mental se afastaram nesse
período. Esse dado é de extrema relevância. Quando compreendemos a percepção como uma
abstração do concreto, torna-se conhecimento de uma dada realidade:
São os estreitamentos da função especifica no sistema psíquico, isto é, são as conexões
interfuncionais, que tornam possível à percepção “emancipa-se” de conexões
primitivas, próprias à sua manifestação natural, para, libertando-se delas, assumir um
papel altamente especializado na orientação do comportamento complexo. Destarte,
também, a percepção deve galgar uma formação que promova a “superação” do
atendimento aos ditames naturais, psicofísicos, em direção ao atendimento das
demandas da atividade complexa culturalmente formada (MARTINS, 2015a, p. 134-
135).
O gestor precisa estar atento às diferentes circunstâncias, não tão somente, mas ter
também conhecimento das situações, saber lidar com as adversidades e perceber o meio e suas
mudanças. A percepção é importantíssima para as relações, o convívio, o ambiente. Trata-se de
uma função psíquica superior que complementa outras funções e necessita de outras para o seu
desenvolvimento:
Verifica-se, pois, que a percepção não é um processo autônomo, em relação às
condições nas quais ocorre, tanto do ponto de vista biológico, quanto da atividade que
integra. Por conseguinte, sendo variável e instável, demandará vínculos com outros
mecanismos tendo em vista sua “correção”, ou seja, a conquista de correspondência
objetiva entre o objeto percebido e a imagem construída por ele. O desenvolvimento
da percepção requer, portanto, a formação dos referidos mecanismos-dentre os quais
se destacam os conhecimentos acerca dos objetos (MARTINS, 2015a, p. 137).
Apesar de metade dos gestores não especificar, a soma das demais respostas resulta na
outra metade, dos que indicam que os afastamentos foram por causas psíquicas e
biopsicossociais. Essa informação nos remete as observações de Pessoa Pereira, Viana Santos
e Aguiar Manenti, (2020) que elucidam sobre a educação e os professores percorrerem dias de
obscuridade, tanto na organização do processo de trabalho quanto as políticas, diretrizes,
formações e demais demandas. O período pandêmico apenas desmascarou o que já existia, não
surgiu nada a partir de agora, a dificuldade e fata de acesso à educação de qualidade já estavam
postas mesmo antes de toda essa reestruturação do ensino remoto:
Além dos impactos psicológicos diretamente relacionadas à COVID-19, coexistem
conjuntamente, os abalos biopsicossociais causados pelas medidas preventivas de
207
Por consequência, Hernandes e Rozário (2021) reforçam que a pandemia não permitiu
as pessoas retomarem suas vidas, o medo e a insegurança foram regulares. Diante disso,
circunstancia-se a necessidade de se retomar o trabalho, contudo, o convívio acaba gerando a
ansiedade, e como resultado surge os sinais e sintomas relacionados à saúde mental.
Seja durante ou pós-pandemia, os sentimentos mais diversos tomaram conta do ser
humano, e as consequências dessas sensações - a insegurança do retorno as atividades -
contribuem para o sofrimento/adoecimento psíquico. Os que de alguma forma já sofriam, em
algum momento, o sofrimento se intensificou; os que não, mas que também perpassaram o
período pandêmico, em sua grande maioria, desencadearam algum sofrimento/adoecimento
psíquico.
Por esse motivo, Santos, Silva e Belmonte (2021) salientam a imprescindibilidade de
existir estratégias com o objetivo de reduzir a sobrecarga intelectual, física e social dos
208
4. CONSIDERAÇÕES POSSÍVEIS
a nossa tese de que as condições precárias existem e são mascaradas pela sociedade neoliberal
e submetem o professor a modelos de trabalho impiedoso, comprometendo suas relações e
silenciando suas emoções.
O professor se deparou com situações adversas, inesperadas, com a pandemia, que
exigiu o distanciamento social, condições de trabalho nem um pouco adequadas, favorecendo
o surgimento do sofrimento/adoecimento psíquico. A dificuldade em se ter acesso aos recursos
materiais, a limitação no manuseio da tecnologia, a ausência dos alunos, a sobrecarga de
trabalho, o excesso de burocracia e de prazos foram alguns dos agravantes reforçados nesse
processo, e não o bastante, a constatação da desvalorização profissional pelas avaliações e
imposições que não consideraram o sujeito (EU) e o profissional (Professor). Ademais, a
pandemia da COVID-19 escancarou as desigualdades sociais, a precarização da educação e do
trabalho docente. Vale salientar, que essa pesquisa ocorreu em pleno período pandêmico, e
vários dados foram constatados nas respostas dos professores. No eixo que tratou sobre o
trabalho remoto e o adoecimento docente foi nítido a insegurança e a debilidade do trabalho
dos professores da rede pública pesquisada, além da forma como tiveram suas privacidades e
os sentimentos desrespeitados devido o modelo de trabalho imposto. O professor teve clareza
das condições difíceis para o exercício da profissão durante a pandemia, contudo sentiram se
obrigados a cumprir determinações por não obter outra forma de ensinar, mesmo não tendo
condição apropriada para tal.
Outro ponto importante a evidenciar é a quantidade de medicamentos ingeridos pelos
professores para amenizar a dor. Ao serem questionados sobre o tipo de medicação, a segunda
maior frequência estão os medicamentos psicotrópicos. A busca pelo alivio da dor física e
emocional está representado fortemente nesses dados, e corroboram para a tese de que as
condições socais adoecem ao impor uma forma de trabalho geradora de
sofrimento/adoecimento, podendo ser em tempo de pandemia ou não.
No que tange aos objetivos específicos, constatamos que: a) houve os afastamentos
nos últimos 12 meses por motivo de saúde, conforme frequência de 17 respostas, sendo 4 delas
especificamente a COVID-19 o motivo, e 11 não informaram (tabela 19). Entretanto, dados do
Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (tabela 52) apontam para 31 atestados de
afastamento no período de 01/01/2020 até 31/12/2021 para CID F; b) Não há ações, programas,
projetos no município de Corumbá MS que visem instrumentalizar os professores para
administrar seus sentimentos, angustias, emoções e não ter prejuízos severos à saúde devido o
sofrimento/adoecimento psíquico. Essa constatação pode ser observada nas tabelas 30, 31 e 44;
c) Verificamos a partir dos dados dos participantes, tanto os professores quanto os gestores são
a maioria do sexo feminino, a faixa etária 41 a 50 anos, estado civil casados e graduados em
212
de 101 professores aponta para algum grau de estresse, sendo 45 pouco estressado, 39
moderados, 10 bastante e 07 elevados estresse, além da tabela 36 que aponta que a
intensificação, o excesso de trabalho burocrático e administrativo são condições geradoras de
estresse.
Por outro lado, as análises nos permitem afirmar que não há uma ação, projeto,
programa específico de prevenção ou enfrentamento ao sofrimento/adoecimento docente
presentes na rede pública de ensino municipal, conforme tabela 29 que foi solicitado aos
professores que registrassem alguma experiência ou projeto de enfrentamento que conhecessem
ou tenham participado para situações emergenciais de adoecimento, e as importantes
informações das tabelas 30,31,44 corroboram para nossa afirmação.
O estudo possibilitou conhecer a percepção do professor e do gestor em relação ao
sofrimento/adoecimento psíquico, identificou angústias e anseios e a urgência de
implementação e/ou implantação de políticas públicas para instrumentalizar os professores , e
permitiu confirmarmos a tese inicial de que as condições sociais consequentes da materialidade
da sociedade capitalista resultam na desvalorização e falta de prestigio do trabalho docente, nas
condições inadequadas e sobrecarga de trabalho, e portanto propiciam o comprometimento das
relações interpessoais e o silenciamento das emoções dos professores oportunizando o
sofrimento/adoecimento psíquico. Assim, o professor sofre e se não se expressar, falar, expor
suas angústias, sua insatisfação e desprazeres adoece, e o resultado pode levar a sua própria
despersonalização. Ao falarmos, expulsamos o que nos causa dor, o coração e a mente aliviam,
os conteúdos reprimidos passam a ser organizados, e aos poucos a sensação de alivio gera a
sensação de deleito, podendo ser comparado a catarse. A fala e a escuta são terapêuticas.
Assim, admitimos e defendemos que há a necessidade de possibilitar melhoria nos
ambientes, condições e organização de trabalho, para que as relações interpessoais possam ser
mantidas de forma saudáveis, e principalmente que os trabalhadores possam se expressar, sem
calar seus sentimentos, suas emoções e ainda, receberem a atenção adequada para o
enfrentamento ao sofrimento/adoecimento psíquico.
Por fim, e não menos importante, retomamos as explicações quanto as possibilidades
de analisar o sofrimento/adoecimento psíquico pautado na Psicologia Histórico-Cultural. Após
todo o material teórico pesquisado e utilizado nessa tese para introduzir, amparar e pautar as
análises e discussões, primeiramente verificamos que a privação do acesso aos conteúdos
sistematicamente organizados, modificados histórico e culturalmente, carência do
desenvolvimento dos signos e instrumentos, podem desencadear o sofrimento/adoecimento
psíquico por não contribuir para que o ser humano desenvolva habilidades suficientes em lidar
com as dificuldades que permeiam suas diferentes relações, resultando no comprometimento
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Dados de Identificação
Com qual sexo você se identifica?
( ) Feminino
( ) Masculino
( ) Outros
Idade
( ) Menos de 20 anos
( ) 20 a 30 anos
( ) 31 a 40 anos
( ) 41 a 50 anos
( ) 51 anos ou mais
Estado Civil
( ) Casado
( ) Solteiro
( ) Divorciado
( ) União estável
Formação em nível de Graduação: 1 Curso: 2 Instituição: 3 Ano:
Formação em nível de Pós-Graduação: 1 Curso: 2 Instituição: 3 Ano:
4. Quais as atividades realizadas no seu trabalho que você considera prazerosas? Cite até três.
5. Quais as atividades realizadas no seu trabalho que você considera desprazerosas? Cite até
três.
6. Você gosta do seu trabalho? Justifique sua resposta.
7. Se pudesse mudaria de profissão?
( ) Sim
( ) Não
Caso sua resposta for sim, para qual profissão? Por que?
III Questões sobre adoecimento
1.Você tem algum problema de saúde?
( ) Sim
( ) não
Caso tenha respondido Sim, qual?
2. Seu problema de saúde é anterior ou posterior ao início da sua atividade profissional?
( ) anterior
( ) posterior
( ) não se aplica
237
3. Você tem alguma hipótese sobre os motivos do seu adoecimento? Quais? Caso tenha
respondido que tem algum problema de saúde
4. Há situações específicas em que sua doença se manifesta? Quais? Caso tenha respondido
que tem algum problema de saúde
5. Você solicitou afastamento de seu trabalho por razões de saúde nos últimos 12 meses?
( ) sim
( ) não
Caso tenha respondido Sim, quantas vezes nos últimos 12 meses?
Se sim, por quanto tempo ficou afastado?
6.Você toma ou tomou algum medicamento nos últimos 12 meses?
( ) sim
( ) não
Caso tenha respondido Sim, quais?
7.Que efeitos positivos você considera que o medicamento proporciona a você?
8. Que efeitos negativos você considera que o medicamento proporciona a você?
9.Você considera que os problemas de saúde enfrentados causam prejuízo na sua atividade
profissional?
( ) Sim
( ) Não
Caso tenha respondido Sim, descreva a situação.
10.Você considera que a atividade docente pode ter provocado seu problema de saúde?
( ) sim
( ) não
Caso tenha respondido Sim, do seu ponto de vista, de que forma isso ocorreu?
IV - Questões sobre Trabalho Docente na Pandemia
1.Em tempo de pandemia o quanto você considera que o trabalho remoto prejudicou sua
saúde?
( ) Não prejudicou
( ) Prejudicou levemente
( ) Prejudicou moderadamente
( ) Prejudicou gravemente
1.1 Caso tenha prejudicado você considera que prejudicou de que forma?
( ) Saúde física
( ) Saúde psíquica
( ) Ambas
( ) Não prejudicou
5.Você considera que o trabalho remoto devido a pandemia prejudicou a qualidade do seu
trabalho?
( ) sim
( ) Não
Caso tenha respondido Sim, de que forma? Exemplifique
OBRIGADA!!!!
239
I Dados de Identificação
1.Qual sexo você se identifica?
( ) Feminino
( ) Masculino
( ) Outros
2.Idade
( ) Menos de 20 anos
( ) 20 a 30 anos
( ) 31 a 40 anos
( ) 41 a 50 anos
( ) 51 anos ou mais
3.Estado Civil
( ) Casado
( ) Solteiro
( ) Divorciado
( ) União estável
4.Formação em nível de Graduação: 1 Curso: 2 Instituição: 3 Ano:
5.Formação em nível de Pós-Graduação: 1 Curso: 2 Instituição: 3 Ano:
6.Vinculo empregatício
( ) Estatutário
( ) Contratado
( ) Comissionado
7.Qual seu cargo Atual?
8.Qual função desempenha?
OBRIGADA!!!
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