Linguagem e Suas Alterações

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CENTRO UNIVERSITÁRIO MATER DEI

Curso de Bacharelado em Psicologia


Pato Branco – PR, Rua Mato Grosso, 200 – 85501-200
https://www.unimater.edu.br

Turma: PSICO2NA Ano: 2023 Semestre: 4


Disciplina: Psicopatologia Geral
Professor(a): Juliane Fontana Ribeiro
Aluno (a): Jéssica Maria de Lima Rosa

A LINGUAGEM E SUAS ALTERAÇÕES

Definições

A linguagem é uma atividade especificamente humana, talvez a mais


característica de nossas atividades mentais. É o principal instrumento de
comunicação dos seres humanos. Além disso, é fundamental na elaboração e na
expressão do pensamento e das emoções.
A linguagem pode ser descrita, ainda, como um sistema de signos arbitrários,
o signo linguístico, as palavras. Esses signos ganham seus significados específicos
por meio de um sistema de convenções historicamente dado. A linguagem é,
portanto, uma criação social de cada um e de todos os grupos humanos.
É a linguagem que permite e garante a socialização plena do indivíduo; ela é
fundamental para a afirmação do eu e das oposições eu/mundo, eu/tu, eu/outros.
Para Mikhail Bakhtin a língua é fundamentalmente uma atividade social, não
importando tanto o enunciado, o produto, mas sobretudo a enunciação, o processo
verbal. Nesse sentido, a língua é concebida como um fato social, cuja existência se
baseia na necessidade de comunicação.

ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS DA LINGUAGEM

Alterações da linguagem secundárias a disfunção ou lesão neuronal


identificável

Ocorrem geralmente associadas a acidentes vasculares cerebrais, tumores


cerebrais, trauma cranioencefálico, etc. Na maioria dos casos, as lesões ocorrem no
hemisfério esquerdo, nas regiões conhecidas como áreas cerebrais da linguagem.

Linguagem e cérebro
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O modelo clássico de Broca-Wernicke-Lichtheim-Geschwind: Nele, a


linguagem está localizada e lateralizada no hemisfério esquerdo, com as áreas dos
lobos frontais inferiores e posteriores ligadas à produção da linguagem, e as áreas
dos lobos temporais posteriores e superiores associadas à compreensão da
linguagem. Por fim, o fascículo arqueado conecta essas duas áreas da linguagem e
está envolvido na repetição de palavras.
Na perspectiva neural multifuncional, sugere que redes neurais
especializadas para cognição, afeto e atividades pragmáticas interagem
constantemente com redes específicas de linguagem para criar a linguagem em
seus múltiplos aspectos.

Afasias: se refere à perda da linguagem falada e ouvida, por incapacidade


de compreender e utilizar os símbolos verbais, decorrente de lesão neuronal.
Os principais tipos de afasia são:
1. Afasia de expressão ou de Broca: Afasia não fluente, na qual o indivíduo não
consegue falar ou fala com dificuldades.
2. Afasia de compreensão ou de Wernicke: Consiste em afasia fluente, tem a
fala defeituosa, às vezes totalmente incompreensível.
3. Afasia global: deve-se a lesões amplas da região perisilviana esquerda.
4. Afasias associadas a demências: Na doença de Alzheimer, pode ter
relativamente preservada a capacidade de repetir palavras, mas progressivas
dificuldades na nomeação.

Agrafias
É a perda da linguagem escrita sem déficits motores ou comprometimento
cognitivo global. É comumente associada à afasia, mas também pode ocorrer como
agrafia pura. A agrafia apráxica é caracterizada pela dificuldade de formar letras
escritas e ocorre devido a lesões no lobo parietal esquerdo.

Alexia

É a perda da capacidade previamente adquirida para a leitura, decorrente de


disfunção ou lesão neuronal.
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Há muitos subtipos de alexias, como por exemplo: alexia atencional, alexia


por síndromes de heminegligência, alexia ortográfica e a alexia fonológica. A alexia
pura e a alexia profunda.

Disartria

É a dificuldade ou incapacidade motora de articular corretamente as palavras


devido a fraqueza muscular, paralisia ou coordenação falha dos músculos
responsáveis pela fala. Embora a compreensão, a formulação e o significado das
palavras sejam normais, sua articulação motora está prejudicada por alterações da
musculatura da fonação.
● Disartria atáxica, Disartria hipocinética, Disartria espástica e Disartria pura.

Parafasias

São alterações da linguagem nas quais são deformadas determinadas


palavras. Há perda da habilidade em colocar as sílabas ou palavras na sequência
correta. Refletem um déficit na seleção de segmentos fonêmicos, resultando na
troca de um fonema por outro.

Alterações da Linguagem Associadas a Estados, Condições ou transtornos


Psicopatológicos

Dislexia: O termo dislexia é mais utilizado para designar dificuldades de


linguagem em que há trocas de fonemas, tanto na fala como na leitura e na escrita.
Pode haver, nessa condição, dificuldades mais acentuadas na leitura, na
aprendizagem da escrita ou, ainda, na capacidade de soletrar.

Alterações na Fala
Disfonia: É o termo utilizado para a perturbação da qualidade da voz
humana, que em geral se traduz por rouquidão, restrição do desempenho vocal e
vocalização tensa ou contida.
Afonia: Se caracteriza pela perda, mais ou menos abrupta, da voz, de modo
geral, sem causa neurológica ou laríngea.

Distúrbios da fala em crianças


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Dislalia: É a alteração da fala que resulta da deformação, da omissão ou da


substituição de fonemas.
Disglossia: Resultam de alterações na fala relacionadas a distúrbios
anatômicos ou fisiológicos dos órgãos fonoarticulatórios, que incluem língua, lábios,
arcada dentária, mandíbula e abóbada palatina.

Transtorno da Fluência da fala

Gagueira: A gagueira é um transtorno da comunicação caracterizado por uma


perturbação na fluência normal da fala. Isso inclui interrupções no fluxo da fala,
repetições de sons e sílabas, prolongamento sonoro de consoantes e vogais,
circunlocuções e substituições de palavras. A gravidade da gagueira varia de acordo
com o contexto, sendo mais intensa quando há pressão social para se comunicar.

Alterações da linguagem em criança

As alterações da linguagem em crianças são problemas que envolvem


dificuldades na aquisição e uso da linguagem, na produção da fala e na fluência.
Esses transtornos podem afetar a socialização e o desenvolvimento da criança,
requerendo intervenção adequada para promover o seu progresso linguístico e
comunicativo.
Acelerações psicopatológicas da linguagem mais observadas em
adultos: logorreia, taquifasia e loquacidade
A logorreia é caracterizada por um fluxo acelerado e aumentado da
linguagem verbal, com perda da lógica do discurso, enquanto a loquacidade é o
aumento da fluência verbal sem prejuízo da lógica do discurso.

Lentificação patológica da linguagem

Bradifasia: Na bradifasia, o paciente fala muito vagarosamente; as palavras


seguem-se umas às outras de forma lenta e difícil. Em geral, a bradifasia está
associada a quadros depressivos graves, estados demenciais e esquizofrenia
crônica ou com sintomas negativos.

Mutismo
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O mutismo é definido como a ausência de resposta verbal oral por parte do


paciente. O indivíduo não responde ao interlocutor, embora esteja desperto, sem
comprometimento da audição, sem comprometimento do nível de consciência e sem
paralisias motoras que comprometam a produção da palavra falada.
O mutismo eletivo é uma forma de mutismo em crianças que ocorre em
contextos específicos devido à ansiedade social intensa. Há também outras formas
de mutismo com bases neurobiológicas, como o mutismo acinético, que é a
ausência de responsividade em pacientes conscientes, e o mutismo cerebelar, que
ocorre após lesões no cerebelo.

Perseveração Verbal

Na perseveração verbal, há repetição automática de palavras ou trechos de


frases, de modo estereotipado, mecânico e sem sentido, o que indica lesão
neuronal, particularmente das áreas cerebrais pré-frontais. A perseveração da
linguagem pode ser da linguagem falada ou escrita.

Ecolalia

A ecolalia é a repetição automática e involuntária das palavras ou frases ditas


por outra pessoa. A causa da ecolalia está relacionada a lesões ou disfunções em
diferentes áreas do cérebro.

Palilalia e Logoclonia

A palilalia é a repetição automática e involuntária de palavras ou frases ditas


pelo próprio indivíduo, enquanto a logoclonia é a repetição das últimas sílabas
pronunciadas. Ambas indicam uma desestruturação do controle voluntário da
linguagem.

Tiques verbais ou fonéticos e coprolalia

São fenômenos característicos do transtorno de Tourette. Os tiques verbais


são produções recorrentes e irresistíveis de fonemas ou palavras, enquanto a
coprolalia é a emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas.
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Alogia, verbigeração e mussitação

A alogia é o empobrecimento da produção de linguagem, principalmente na


esquizofrenia. A verbigeração é a repetição sem sentido de palavras ou trechos de
frases, enquanto a mussitação é a produção repetitiva de uma voz baixa e
murmurada.

Glossolalia e pararrespostas

A glossolalia é a produção de uma fala ininteligível, geralmente associada a


contextos religiosos. Pode ser observada em quadros neuropsiquiátricos. As
pararrespostas são respostas verbais que não fazem sentido em relação à pergunta
feita, sendo mais comuns na esquizofrenia.

Neologismos

Os neologismos patológicos são palavras novas ou com novos significados


criados pelo paciente. Podem ser passivos, gerados automaticamente, ou ativos,
criados voluntariamente.

A Linguagem na Esquizofrenia

Na esquizofrenia grave, a linguagem é empobrecida e lacônica, dificultando a


compreensão e a interação contextualizada. Desorganizações na linguagem, como
o descarrilhamento e os neologismos, podem estar relacionadas à desestruturação
psicótica, comprometendo o processo de pensar e a formação de conceitos.
Estudos recentes sugerem que os transtornos da linguagem podem ser
independentes das alterações de pensamento e até mesmo causá-las. Pacientes
com esquizofrenia também podem apresentar estilizações, rebuscamentos e
maneirismos, perdendo a flexibilidade do comportamento verbal em relação ao
contexto sociocultural.

A Linguagem nas Demências

Na fase inicial da Demência de Alzheimer (DA), podem ocorrer dificuldades


em encontrar palavras e em nomear objetos. A fluência verbal e a habilidade de
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repetição e articulação das palavras podem estar alteradas, enquanto outras


capacidades linguísticas se mantêm. A disfunção da linguagem pode ser um
indicador da perda da memória semântica primária, que ocorre antes do surgimento
da demência. Também podem ocorrer erros na pronúncia e no significado das
palavras, além de dificuldades na compreensão da linguagem falada e escrita.
A demência vascular é caracterizada por lentidão psicomotora, déficits de
atenção e disfunção executiva frontal, resultando em prejuízo da autorregulação.
Na demência com corpos de Lewy, é mais comum observar uma
combinação de problemas de memória, habilidades visuoespaciais e dificuldades na
linguagem. Os problemas de linguagem nessa condição incluem incoerência e
perseverações durante a conversa, dificuldade em nomear objetos e redução da
fluência verbal.
Na demência na doença de Parkinson, pacientes com essa condição
podem apresentar anomia, principalmente para ações. Além disso, podem ter
dificuldades na compreensão de metáforas, inferências e prosódia linguística e
emocional.

A Linguagem nos transtornos no Espectro Autista

No transtorno do espectro autista (TEA), são identificadas algumas alterações


na linguagem das crianças, como a inversão pronominal e a reduzida defasagem
entre produção e compreensão da linguagem. Além disso, pessoas com TEA
apresentam inflexibilidade interacional e dificuldade em se adaptar a diferentes
contextos de narrativa. No TEA, a linguagem em geral pode estar ausente ou
alterada, com vocabulário e gramática pouco desenvolvidos. A iniciativa de diálogo
e a expressão de emoções também podem ser limitadas. Pacientes com TEA
podem apresentar linguagem estereotipada, repetitiva ou idiossincrática, além de
rigidez na fala e linguagem descontextualizada.

Linguagem em outros transtornos mentais

No transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), o paciente tem


dificuldades para manter a atenção em tarefas, jogos e diálogos. Assim, sua
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linguagem é cheia de saltos, pulando de um interlocutor para outro, ou de um tema


para outro.
Na depressão, pode-se observar, nos quadros depressivos moderados ou
graves, um discurso mais lento, com pausas mais longas do que o habitual. A
quantidade geral da fala pode estar diminuída.
Na mania o paciente em fase maníaca costuma utilizar poucas palavras
negativas; pode haver um incremento de atributos positivos nas frases ou mais uso
de epítetos. Podem ser expressos conteúdos na fala que revelam autoestima
elevada.
No transtorno da personalidade narcisista, o discurso pode revelar certo
egocentrismo; o indivíduo só fala sobre si ou sobre seu ponto de vista. Usa mais
pronomes na primeira pessoa e menos palavras referentes aos outros.

REFERÊNCIA

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos


Mentais. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2018. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788582715062/epubcfi/6/2[
%3Bvnd.vst.idref%3Dcover.xhtml]!/4/2[page_i]/2%4051:1 p. 232 a 253 p. Acesso
em: 02 nov. 2023.

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