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CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES GERAIS

Lição n.º 1-3

DIA 02.10.2023

1. CONCEITO DO DIREITO ECONÓMICO


A economia como ciência é produto dos fisiocratas que atribuíam à originalidade do
factor de produção na terra e seu cultivo. Posteriormente eles interessaram-se por outros
factores de produção, com o avanço do mercantilismo.

O mercantilismo é o marco inicial para o Estado Liberal na Europa, que se caracterizava


pela primazia da liberdade individual nas relações jurídicas - autonomia da vontade,
bem como na intervenção do Estado na economia.

O exercício abusivo das liberdades e direitos individuais e a luta pela hegemonia do


mercado precipitaram a derrocada do modelo liberal, tendo como marco histórico a 1ª e
2ª guerras mundiais. A queda do Estado Liberal ajudou a repensar o papel dos Estados
diante da ordem econômica interna e internacional, actuando no sentido de limitar e
cercar os direitos e liberdades individuais. Quando abordarmos, mais adiante, a origem
e evolução deste ramo de Direito destacaremos os factores que deram origem ao
nascimento do Direito Económico.

Estes factores que permitiram o surgimento do Direito Económico acabaram por


determinar o seu conceito. Diferentes especialistas nesta matéria esboçaram conceitos
diferentes, exprimindo para cada um a realidade do seu contexto e do modo como o
Direito Económico se manifestava na sua sociedade.

O Professor Leonardo Viseu Figueredo define o Direito Económico como o ramo do


Direito Público que disciplina a condução da vida econômica da nação, tendo como
finalidade o estudo, o disciplinamento e a harmonização das relações jurídicas entre os
entes públicos e os agentes privados, detentores dos factores de produção, nos limites
estabelecidos para a intervenção do Estado na ordem econômica. A inda acrescenta
dizendo que o Direito econômico pode ser conceptuado como ramo jurídico que
disciplina a concentração ou colectivização dos bens de produção e da organização da
economia, intermediando e compondo o ajuste de interesses entre detentores do poder
econômico privado e os entes público.
Segundo o ilustre doutrinador lusitano, Luís Cabral de Moncada o direito econômico é o
direito público que tem por objectivo o estudo das relações entre os entes públicos e os
sujeitos privados, na perspectiva da intervenção do estado na vida econômica.

Para Washington Peluso Albino de Souza, é o ramo de Direito composto por um


conjunto de normas de conteúdo econômico e que tem por objecto regulamentar
medidas de política econômica referentes às relações e interesses individuais e
colectivos, harmonizando-as - pelo princípio da economicidade- com ideologia
adoptada na ordem jurídica.

A doutrina francesa através do professor André Laubadére, nos ensina que o Direito
Económico é o direito aplicável às intervenções das pessoas públicas na economia e aos
órgãos dessas intervenções.

Cá entre nós, a professora Helena Prata Harrido Ferreira define o Direito Económico
como ramo de direito que disciplina as relações jus econômicas entre o Estado e os
entes particulares, estando o estado em posição de supra ordenação.

Partindo destes conceitos enunciados podemos identificar que o Direito Económico


objectiva fundamentalmente o seguinte:

a) A organização da economia, definindo juridicamente o sistema e o regime


eonómico a serem adoptados pelo Estado;
b) A condução, ou controle superior, da economia pelo Estado, uma vez que
estabelece o regime das relações ou equilíbrio de poderes entre o Estado e os
detentores dos factores de produção;
c) O disciplinamento dos centros de decisão económica não estatais, enquadrando
macroeconomicamente à actividade e as relações inerentes à vida econômica.
DATA 09/10/2023
LIÇÃO 5 & 6
SUMÁRIO: RELAÇÃO ENTRE O DIREITO E A ECONOMIA

Ao direito compete uma função social de ordenação das relações sociais segundo a
justiça. O homem pela sua natureza não é totalmente bom, como apresentam alguns
autores, ao considerar que são os factores sociais que mudam a sua natureza, nem é
totalmente mau, como descrevem outros.

Ele é uma miscigenação do bom e do mau. Em si ele detém força capaz de mediante um
impulso de vontade afastar o mal e praticar o bem. Na verdade, a razão da sua
sociabilidade determina nos dias de hoje o comportamento adequado para melhor
harmonizar os interesses.

Na verdade, o homem desde primórdios arregimentou meios para buscar o seu sustento.
A luta em busca dos melhores meios provocou desentendimentos que algumas vezes
acabaram por facilitar o desmembramento social de grupo e dar origem à novos grupos
sociais.

Como refere o professor Oliveira Ascensão, o Direito está ínsito na própria ordem
social. Se toda a sociedade tem uma ordem, ela tem, desde o início, uma ordem jurídica.
Como diriam também os Romanos ubi societas, ibi jus. A vida social só é possível
porque os homens aceitam e aplicam as regras que institui a ordem, a paz, a segurança,
a justiça e dirimir conflitos de interesses que inevitavelmente surgem nas relações
sociais. Estes conflitos resultam fundamentalmente dos poucos bens que a economia
produz e põe a disposição dos homens.

O escopo da economia assente fundamentalmente na forma como as sociedades utilizam


recursos escassos para produzirem bens e de como os distribuem entre os vários
indivíduos.

Se os bens fossem abundantes, como observa Samuelson, as pessoas não se


preocupariam em ampliar os rendimentos porque teriam tudo o que quisessem. Nestes
casos os bens seriam livres como a área no deserto ou mesmo a água do mar da praia.
Em conseqüência os preços e mercados não teriam razão de existir. Está situação
utópica esta longe de ser uma realidade. Cada vez mais os bens estão a ser escassos para
satisfazer a necessidade dos indivíduos.

Diante de tantas evidencias acima descrita podemos afirmar aqui que o direito veio
exactamente para facilitar e ajudar a definir as regras de melhor utilização dos bens que
são colocados à sociedade para a satisfação das necessidades humanas. Notamos que a
escassez de bens produz conflitos que o direito através dos seus meios procura dirimir.

Entre o direito e a economia existe uma relação muito próxima, pois a existência de um
dá origem a outro e a actuação de outro garante uma melhor realização de um.

1. DIREITO ECONÓMCO E DIREITO DA ECONOMIA – Conceito amplo e


conceito restrito

A designação deste ramo de direito tem suscitado amplo debate académico entre os
especialistas em direito. A doutrina alemã sempre usou a expressou Direito da
Economia para sustentar a natureza mista deste ramo de direito, enquanto que os
franceses pugnaram pela designação Direito Económico para justificar a juridicidade no
tratamento das matérias de carácter econômico.

Para nós estas duas designações estão revestidas de preciosidade lingüística. Tanto uma
como outra acabam por representar uma mesma coisa, se termos em conta o conteúdo
que aquelas ordens jurídicas tratam.

Como aborda a Dr. Hela Prata a designação Direito Económico deve ser feita em duas
perspectivas distintas: a primeira externa baseada na relação que este tem com a
economia e a outra diz respeito ao próprio direito por sustentar o surgimento deste
ramo de direito.

O estudo do Direito Económico segundo a visão externa está ligado ao carácter da


interdisciplinariedade, por ultrapassar o campo jurídico e estender-se aos temas
económicos. Nesta perspectiva o direito económico estaria ao serviço dos ditames da
economia. Aqui estamos a falar do Direito Económico no sentido funcionalista, como
instrumento da economia que justifica a sua existência.
A evolução dos conceitos económicos como da eficácia, relação custo-benefício e
concorrência influenciaram por um lado o Direito na estipulação de regras que auxiliam
uma melhor articulação na sua realidade lógica e social. Aqueles conceitos económicos
apesar de serem pela sua natureza autônoma acabaram por serem conduzidos, numa
relação mais estreita com o direito, aos princípios jurídicos de segurança, justiça social,
direitos sociais, interesses gerais, etc.

O direito acaba por ser uma instância reguladora munida de racionalidade, que não deve
ser reduzida à pura racionalidade econômica. Como notamos acima o direito não
caminho só. Ele é influenciado em todo o seu percurso pela evolução económica e
tecnológica, levando-o a constantes adaptações.

Os actos económicos e jurídicos acabam por serem duas realidades de que a


sociedade constantemente se confronta. São, pois, realidades conexas e
interdependentes tendo cada autonomia própria.

2. A RELAÇÃO ENTRE O DIREITO ECONOMICO E OUTROS RAMOS


DE DIREITO

Os limites entre o Direito económico e outros ramos de direito levantam


algumas dificuldades. Por se tratar de um novo ramo de direito, ocupa espaços
de outros ramos de direito já existentes, retomando em alguns casos matérias já
abordadas por outros, pese embora que o direito económico trata de modo mais
especializado, logo numa perspectiva diferente.

Alguns conteúdos temáticos abordados pelo Direito Economico, por força da


evolução do próprio Direito acabaram por ser incorporado em novos ramos de
direito, vejamos, por exemplo, o caso do Direito Agrário, do Direito Bancário,
do Direito das Empresas (Direito Comercial) e do Direito do Consumidor.

O Direito econômico tem uma afinidade com o direito administartivo e com o


direito Comercial, não podendo excluir o Direito Constitucional, sendo que este
fixa as linhas gerais de actuação de todos os ramos de Direito. O Direito penal
económico também tem uma estreita relação com o direito económico sendo que
ele estabelece normas punitivas dos delitos económicos.

3. FONTES DE DIREITO ECONÓMICO


No direito económico manifesta-se uma complexidade e diversidade das fontes. Elas
podem ser públicas, mistas ou privadas, de origem interna ou externa.

Nota-se que os poderes públicos têm perdido o monopólio de produção das normas
jurídicas de direito econômico, resultante do papel cada vez maior dos poderes privados
na condução da economia

As fontes internas são: a Constituição da República de Angola, leis e resoluções


aprovadas pela Assembleia Nacional (artº 160º al.b) e artº 163º al. a), b), c) e d) da
constituição), Decretos Legislativos Presidenciais e Decretos Legislativos Presidenciais
Provisórios (artº 125º nº 2 e 126º C.), Decretos executivos e despachos dos Ministros
do Estados e Ministros (artº 135º da constituição) despachos normativos e avisos do
Banco Nacional de Angola.

As externas resultam normalmente de convenções e acordos internacionais a que


Angola se vincula.

Como notamos acima, em conseqüência da evolução que se verifica na forma de


conceber a economia, a actividade e o papel do Estado quer quando intervêm
directamente, quer quando procura obter resultados por outra via indirecta, tendem a
ganhar uma importância crescente no direito econômico, toda uma serie de regulação da
actividade económica que tem origem privada ou mista.

Esta situação justifica-se com vários acordos ou concertação econômica de várias


formas contratualista estabelecidas entre os Estados e os agentes privados. Desta
nascem as seguintes fontes: acordos ou pareceres emanados dos organismos de
concertação econômica e social, contratos programas e de outras formas de contratação
econômica entre entes públicos e privados, regulação das actividades econômicas pelas
associações profissionais ou de actividade, usos da actividade econômica internas ou
internacionais.
2. CARACTARÍSTICAS DO DIREITO ECONÓMICO

a) Carácter recente do Direito Económico


Como acabamos de constatar, o Direito Económico enquanto direito de intervenção do
estado na economia é um ramo do direito jovem em relação aos outros ramos de direito
público. A juventude do Direito público é uma conseqüência directa das finalidades
especiais a prosseguir e dos regimes jurídicos utilizados no âmbito do actual
intervencionismo estatal, como mecanismo de coordenação e estímulo à iniciativa
privada ou como instrumento de gestão do sector público.

b) Diversidade
O Direito econômico reflecte a heterogenidade da ordem econômica dos países
dispostos numa graduação que vai desde as economias de mercado mais ou menos puras
às economias integralmente planificadas, tornando inviável a elaboração no seu seio de
uma teoria gera de vocação ecumênica.

c) Maleabilidade
As normas de direito econômico contêm frequentemente regras-quadro menos rígidas
que as do outros ramos de direito. Entre as causas desta maleabilidade encontramos a
diversidade de organismos que intervêm na actividade econômica, carácter variado dos
regimes jurídicos da intervenção estadual e aparecimento de tipos de actos com
características próprias e específicas em contraste com os actos de Direito Público.

d) Mobilidade ou mutabilidade

As normas deste ramo de direito não podem espirar a longa duração. Pois as freqüentes
alterações da conjuntura econômica e política tendem a encurtar o tempo de vida das
leis econômicas. O recurso aos actos legislativos mais simples como, por exemplo,
regulamentos, despacho, resoluções ou despachos visam acautelar a mutabilidade das
leis que exigem mais solenidade e procedimentos complexos para a sua alteração.

e) Heterogeneidade
A simultaneidade do uso de regimes jurídicos de direito público e de direito privado
deriva da necessidade de regulamentar as situações e problemas levantados pela
intervenção estadual

f) Permeabilidade aos valores políticos e interpretação


O Direito Económico é particularmente sensível aos valores e orientações políticas do
legislador e da administração. O elemento teleológico tem assim particular importância
na interpretação e integração das normas econômica. Por isso, as entidades encarregue
de interpretar as normas econômicas devem interpretar de acordo com a estratégia
visada pela orientação política do legislador.

A intervenção do estado na economia faz vontade política do legislador, seu actor


principal, o regulador das decisões econômicas, a par do mercado. Vontade política e
mercado, eis os dois elementos essenciais do modo de ser da actividade econômica,
pública e privada e que imprimem, na sua complexa síntese, um cunho especial do
direito que a estuda.

3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ECONOMICO


O Direito é um conjunto de normas de conduta, entendendo-se estas como valores
axiológicos juridicamente protegidos que fundamentam o ordenamento legal. Por sua
vez, a norma acaba por ser uma base ou mesmo medida de concretização ou realização
de algum facto. Trata-se de um modelo, padrão de conduta e acção para o individuo na
sociedade, por via de regra é uma fórmula abstrata e genérica que deve ser seguida em
todos os factos humanos que admitem um juízo de valor por parte dos indivíduos.

As normas objectivamente dão respostas de comportamento e conduta produtores de


factos indesejáveis socialmente, por um lado e, por outro, elas delimitam a linha de
actuação razoavelmente necessário e estritamente proporcional exigido ao individuo
para a vida na colectividade.

Por seu lado os princípios constituem a linha mestra do direito, sendo cânones gerais
dotados de alto grau de abstração, com amplo campo de incidência e bragência, que
orientam a produção do ordenamanto jurídico. Dito de outro modo, os princípios são
comandos de orientação para as actividades legislativas produtoras do Direito.

Para o operador do direito, o princípio traduz-se no mandamento de optimização da


actividade legiferante, servindo de directiva para o legislador, bem como, para o
operador de direito, de parâmetro de delimitação de aplicabilidde do direito positivo às
situações fácticas cotidianas submetidas ao direito positivo. Quer dizer que os princípios
assumem o papel orientador na produção das leis.

No plano do Direito Económico podemos destacar três princípios gerais que sustentam
e fundamentam este ramo do direito, a saber, economicidade, eficiência e generalidade.
Importa relembrar aqui que os princípios do Direito Economico estão fundados em
valores de Direito Público quanto em valores do Direito Privado.

a) Princípio da Economicidade
Este princípio provém do Direito Financeiro. Ele estabelece que o Estado na busca da
realização dos seus objctivos, fixados em sua política econômica, deve alcançar as suas
metas com apenas os gastos que forem necessários, afim de não onerar excessivamente
o erário público e toda a sociedade. As decisões políticas do Estado devem implicar
menor custo social devendo conjugar a quantidade com a qualidade.

A nossa ordem jurídica constitucional não consagra textualmente este princípio, logo
devemos fazer um exercício de hermenêutica constitucional fundada nos valores do
Direito Público que caracterizam este ramos, por exemplo a boa gestão para
enquadrarmos o princípio da economicidade.
b) Princípio da Eficiência
Este princípio determina que o Estado ao pautar a sua política deve sua conduta aos fins
de viabilização e de maximização na produção de resultados da actividade econômica,
conjugando os interesses privados dos agentes económicos com os interesses da
sociedade, permitindo a obtenção de efeitos que melhor atendam ao interesse público,
garantindo, assim, êxito de sua ordem econômica.

c) Princípio da Generalidade
Este princípio confere às normas do Direito Económico alto grau de generalidade e
abstralidade, ampliando seu campo de incidência ao máximo possível, a fim de
possibilitar sua aplicação em relação a grande multiplicidade de organismos
econômicos, a diversidade de regimes jurídicos de intervenção estatal, bem como às
constantes dinâmicas mudanças que ocorrem no mercado.

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