21 Paulo e Suas Cartas
21 Paulo e Suas Cartas
21 Paulo e Suas Cartas
PAULO
E SUAS CARTAS
4a edição – 2008
©PAULUS - 2000
Rua Francisco Cruz, 229
04117-091 - São Paulo/SP
Fone: (11) 5084-3066
Fax: (51) 5579.3627
www.paulus.org.br
editorial@paulus.com.br
Apresentação
Introdução geral
2. Juventude e formação
Tendo recebido a formação básica em casa e na sinagoga, Paulo foi
aprimorar essa formação em Jerusalém, como hoje, no Brasil, tantos
jovens saem de sua pequena cidade para freqüentar a universidade nas
grandes cidades. Paulo teve como mestre Gama-liei, que era muito
respeitado por sua sabedoria e fidelidade à Lei (At 5,34-39). Portanto,
Paulo fez altos estudos e formou-se na rigorosa tradição dos fariseus
(At 23,3).
3. Classe social e profissão
Paulo fazia questão de dizer que era cidadão romano e que tinha
esse título por direito de nascença (At 16,37; 22,25.29). Isso quer dizer
que o pai ou o avô de Paulo tinha adquirido esse título, o que requeria
“vultosa quantia de dinheiro” (At 22,28). Provavelmente o pai tinha
uma fábrica de tendas e Paulo aprendeu a profissão (At 18,3), não para
ser empregado, mas para ajudar o pai e sucedê-lo na administração da
fábrica. Cidadão romano, fariseu formado na escola superior de Jeru-
salém, filho de pai rico, Paulo pertencia à elite da sociedade e tinha
diante de si o futuro promissor de uma carreira brilhante.
4. O ideal do judeu observante
Paulo sempre foi profundamente religioso, irrepreensível na obser-
vância mais estrita da Lei (Fl 3,6; At 22,3), “cheio de zelo pelas tradi-
ções paternas” (Gl 1,14). Na origem do povo judeu está a Aliança. Na
Aliança há dois aspectos que se completam: a gratuidade da parte de
Deus que supõe a contrapartida da observância da parte do povo. São
os dois lados da mesma moeda. Mas nem sempre houve equilíbrio. Em
algumas épocas, insistia-se mais na gratuidade e o povo caía num ri-
tualismo vazio. Em outras, insistia-se mais na observância e o povo
caía num legalismo exagerado. No tempo de Paulo, o acento caía na
observância, que já vinha marcando a vida do povo desde o tempo de
Esdras (398 a.C). Fariseu convicto, Paulo abraçou essa causa, certo de
que a observância da Lei era o único caminho para conquistar a justiça.
Foi esse ideal que animou a vida de Paulo até aos 28 anos de idade.
5. O momento de crise: o testemunho de Estêvão
Muito provavelmente, Estêvão e Paulo foram colegas de estudo.
Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e
eu para o mundo” (Gl 6,14).
“Eu trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,15).
“Ficai sempre alegres, orai sem cessar” (1Ts 5,16-17).
Clarão especial no tesouro que Paulo nos deixou tem o hino ao
amor:
“O amor é paciente
O amor é prestativo
Não é invejoso, não se ostenta
Não se incha de orgulho
Nada faz de inconveniente
Não procura seu próprio interesse
Não se irrita, não guarda rancor
Não se alegra com a injustiça, mas sim com a verdade
Tudo desculpa, tudo crê
Tudo espera, tudo suporta
O amor jamais passará
Agora permanecem a fé, a esperança e o amor. Estas três coisas a
maior delas, porém, é o amor” (1Cor 13,4-8.13).
4. Uma nova fonte de espiritualidade: beber no próprio poço
A experiência de Jesus, Paulo a viveu pela mediação de pessoas
bem concretas: Estêvão (At 7,55-60), Ananias (At 9,17), Barnabé (At
9,27; 11,25; 13,2; 1Cor 9,6), Priscila e Áquila (At 18,2.18;Rm 16,3;
1Cor 16,19), Lídia (At 16,14-15.40), Pedro, Tiago e João (Gl 2,9), Ti-
móteo (Rm 16,21; 1Ts 3,2-6; 1Cor 16,10; 1Tm 1,2), Eunice e Loide
(2Tm 1,5), a diaconisa Febe (Rm 16,1) e tantas outras pessoas com
quem conviveu nas suas andanças. Espiritualidade é, antes de tudo,
experimentar o Deus Tri-Uno e cada uma das três pessoas distintas na
comunidade, na luta, na própria vida. Quando Paulo, por exemplo, es-
crevia: “Pelo batismo fomos sepultados com Cristo na morte” (Rm
6,3), deve ter pensado bem concretamente no apedrejamento de que
foi vítima em Listra (At 14,19); na prisão pior que a morte sofrida em
Éfeso (2Cor 1,8-9; 1Cor 15,32); na flagelação em Filipos (At 16,22-
23) e assim por diante. A espiritualidade não passa pelos distantes fios
da alta tensão, mas pelos fios da rede doméstica, embutidos na parede
das experiências humanas: amizade, ajuda, solidariedade, luta, confli-
tos, sofrimento, tensões, amor...
Corinto, onde fica três meses (At 20,2-3). Ameaçado de morte, refu-
gia-se em Trôade (At 20,13-16). De Trôade viajam para Mileto, em
dois grupos (At 20,13-16). Em Mileto, recebe os coordenadores de
Éfeso e lhes faz um discurso (At 20,5-38). Segue de navio até Tiro, na
Síria (At 21,1-6). Continua até Cesareia, passando por Ptolemaida,
sempre visitando as comunidades por onde passa (At 21,7-14). Sobe
até Jerusalém, onde é preso na praça do templo (At 21,15-36).
É a terceira grande viagem missionária que está registrada no livro
dos Atos. Na primeira viagem, Paulo não sai da Ásia. Vai de cidade
em cidade, anuncia o Evangelho, cria comunidades e vai em frente.
Na segunda viagem, vai além das fronteiras da Ásia, anunciando o
Evangelho, criando comunidades, mas já fica mais tempo num mesmo
lugar: um ano e seis meses em Corinto (At 18,11). Na terceira viagem,
vai direto para Éfeso e lá se fixa por três anos (At 20,31; cf. 19,10) e
mais três meses em Corinto (At 20,3).
O método de evangelização vai-se aprimorando. A primeira via-
gem é a da semeadura do Evangelho. À segunda é também de semea-
dura mais ampla e também de cultivo: Paulo se detém mais em Corinto
e começa a escrever cartas. Na terceira, consolida polos de irradiação
da Palavra. Assim ele se revela um hábil articulador e coordenador.
3. Paulo e o trabalho manual
Antigamente se distinguiam duas espécies de trabalho: o trabalho
“liberal”, feito com a cabeça, e o trabalho “servir’ 0u manual, feito com
as mãos. O primeiro era o dos cidadãos livres e o segundo era o dos
escravos. A conversão tirou Paulo de uma situação em que devia de-
dicar-se ao trabalho liberal, como administrador de uma fábrica ou
professor, para a situação em que fazia questão de trabalhar “com as
próprias mãos”, executando o trabalho servil (1Cor 4,12). Ele reco-
nhecia aos companheiros o direito de ter sua manutenção garantida
pela comunidade (1Cor 9,6-14), direito que era seu também (1Cor
9,4), apoiando-se na própria Escritura (1Cor 9,9; 1Tm 5,18; cf. Dt
25,4). Mas fazia questão de anunciar o Evangelho de graça (1Cor
9,18; 2Cor 11,7), sem onerar a comunidade (2Cor 11,9; 12,13-14; 1Ts
2,9; 2Ts 3,8). Fazia disto uma questão de honra, um “título de glória”
(1Cor 9,5).
enriquecer-se muito se não perdermos de vista que Paulo foi “um tra-
balhador que anunciou o Evangelho”.
4. O Evangelho e os gentios
No início, o Evangelho foi anunciado só ao povo judeu na Pales-
tina. Mas a perseguição liderada por Paulo foi como uma bomba que
fez a comunidade cristã explodir (At 8,1), e seus estilhaços foram pro-
jetados até a Fenícia, Chipre e Antioquia. Em Antioquia, terceira ci-
dade do Império depois de Roma e Alexandria, o Evangelho foi anun-
ciado também à população grega, isto é, aos gentios (At 11,19-20). A
Igreja de Jerusalém soube da notícia e, como se sentia responsável
pelo Evangelho, enviou Barnabé para ver o que estava acontecendo
(At 11,22). Barnabé gostou do que viu e foi chamar Paulo em Tarso
para ajudá-lo (At 11,22-26).
Jesus é nome próprio. Cristo (ungido) é título. Em Antioquia, o tí-
tulo prevaleceu sobre o nome próprio e quem se convertia ao Evange-
lho era chamado cristão ou cristã: “Pela primeira vez os discípulos re-
ceberam o nome de cristãos” (At 11,26). Receberam uma identidade
própria. Era uma novidade que se alastrou pelo mundo sobretudo a
partir das viagens de Paulo.
Era natural que, para as comunidades cristãs da Palestina, o Evan-
gelho fosse a seqüência normal do judaísmo e assim, para chegar ao
Evangelho, seria necessário passar pelo caminho da Lei judaica. Era
natural que eles quisessem exigir dos gentios que se submetessem à
Lei judaica. Daí o drama de Pedro, quando foi chamado para atender
a um gentio, o centurião Cornélio, e a resistência da comunidade de
Jerusalém, acusando-o de cumplicidade com os “incircuncisos” (At
10-11,18).
Aqui, valemo-nos do que escreve Sebastião Armando: “De re-
pente, foi como se um relâmpago cortasse os céus. Paulo assume o
apostolado e revela à Igreja novos horizontes de sua tarefa missionária
e nova estratégia pastoral. Os gentios não têm de esperar o final dos
tempos para participarem da herança de Israel, como os profetas e toda
a tradição pensavam. Não. Os gentios já podem ter acesso às promes-
sas desde agora.”
“Os gentios têm acesso direto às promessas de Deus mediante a fé
Cristo, que arriscaram a própria cabeça para salvar minha vida’’ (Rm
16,13). Note-se que o nome de Priscila vem antes de Áquila.
3. “Lembranças a Maria, que trabalhou muito por vocês” (Rm
16,6).
4. “Lembranças a Adrônico e Júnia, meus parentes e companheiros
de prisão, apóstolos importantes” (Rm 16,7).
5. “Lembranças a Trifena e Trifosa” e à “querida Persida”, que se
afadigaram muito no Senhor (Rm 16,12).
6. “Lembranças a Rufo e sua mãe, que é minha também” (Rm
16,17).
7. “Lembranças a Filólogo e Júlia, a Nereu e sua irmã e a Olimpas”
(Rm 16,15).
Em Laodiceia, a comunidade à qual Paulo escreveu uma carta que
se perdeu reunia-se na casa de Ninfa (Col 4,15). Em Filipos, onde não
havia sinagoga, Paulo se encontra no sábado com um grupo de mulhe-
res às margens do rio e, contra o costume, aceita o convite de Lídia
para hospedar-se em sua casa (At 16,13-15). Ainda contra seu cos-
tume, é da comunidade de Filipos, nascida dessas mulheres, a única
de que aceita ajuda (Fl 4,10-18).
Se Paulo tivesse qualquer preconceito contra a mulher, não reivin-
dicaria com tanto vigor seu direito à companhia feminina no exercício
de sua missão (1Cor 9,5).
Para descrever seu trabalho nas comunidades, Paulo usa imagens
maternas e femininas. Na Primeira Carta aos Tessalonicenses:
“Apresentamo-nos no meio de vós cheios de bondade, qual mãe
que acaricia os seus filhinhos” (1Ts 2,7). Na Carta aos Gálatas: “Meus
filhos por quem eu sofro de novo as dores do parto até que Cristo seja
formado em vós” (Gl 4,19). Na Primeira Carta aos Coríntios: “Dei-
vos a beber leite, não alimento sólido, pois não o podíeis suportar
(1Cor 3,2). Na Carta aos Filipenses: “Deus me é testemunha de que
vos amo a todos com a ternura de Cristo Jesus” (Fl 1,8). Na Carta aos
Romanos, compara o processo de renovação fecundado pelo Evange-
lho a uma gravidez: “Sabemos que a criação inteira geme e sofre as
dores do parto até o presente. E não somente ela, mas também nós,
que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente suspi-
rando pela redenção do nosso corpo” (Rm 8,22-23).
A exclusão da mulher na liturgia e no ministério ordenado (hierár-
quico), que, felizmente, está sendo superada nas igrejas, não é da res-
ponsabilidade de Paulo mas de toda uma herança cultural da qual nós
mesmos somos tributários. O certo é que, nas comunidades fundadas
por Paulo, as mulheres tiveram a oportunidade de exercer um papel
muito mais importante e muito mais central do que nas igrejas de hoje.
Introdução
1. INTRODUÇÃO 1,1-15
• Saudação 1,1-7
• ação de graças 1,8-15
2. PARTE DOUTRINÁRIA 1,16-11,36
• enunciado do assunto 1,16-17
• a revelação da ‘ ‘justiça de Deus” 1,18-4,25
• a vida nova dos “justificados pela fé” 5,1-8,39
• a situação de Israel 9,1-11,36
3. PARTE EXORTATIVA 12,1-15,13
• culto espiritual e comunhão fraterna 12,1-21
• submissão à autoridade civil 13,1-7
• o amor na vida cristã 13,8-14
Palavra-chave: GERAÇÃO
Texto de estudo: Rm 8,18-39
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da Carta aos Romanos.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
Engravidar e parir são duas experiências exclusivamente femini-
nas, de que muitos machos têm inveja. A gravidez é uma maravilhosa
experiência de fé, que, segundo a Carta aos Hebreus, é “a posse ante-
cipada do que se espera” (Hb 11,1). O parto é uma extraordinária ex-
periência de libertação assim como, para os pais, o nascimento é uma
experiência de “parusia”, isto é, de presença de chegada. No Apoca-
lipse uma das imagens mais eloquentes da luta e da vitória contra o
dragão é a mulher nas dores do parto (Ap 12,2). É a essa instigante
imagem que Paulo recorre, dando-lhe uma amplidão de universalidade
para, de certo modo, definir o “tempo da Igreja”. Poderíamos também
dizer que define a crise que a humanidade está vivendo em nossos dias
e, muito especialmente, estão vivendo as Igrejas e os pobres de toda a
terra.
1. Que sinais nos indicam a gestação de uma nova humanidade?
2. As promessas de Deus continuam válidas para nós hoje? Por
quê?
II. Estudar e meditar o texto
1. Leitura do texto: Rm 8,18-39
1.1. Ler o texto com toda a atenção.
1.2. Trocar impressões sobre a leitura.
2. Estudo do texto
2.1. Ver o texto de perto
Neste capítulo 8 está o eixo da Carta aos Romanos. Na vida do
Espírito (8,1-13), somos filhos e herdeiros (8,14-17) e podemos espe-
rar o mundo novo (8,18-27), que é o projeto de Deus em realização
(8,28-30), e nada nos impedirá de viver com Deus (8,31-39).
a. Observar quantas vezes aparece a palavra “Espírito” e qual o seu
significado.
b. Desmembrar o texto conforme as principais ideias nele articula-
das.
Palavra-chave: INTERCÂMBIO
Texto de estudo: Rm 16,1-24
Partilha inicial
1. Partilhar as descobertas feitas a partir do último encontro.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
Dizem que o nosso século é o século da comunicação pelo extraor-
dinário progresso nesse setor. Para Lucas, que, no livro dos Atos,
IGREJA DA CASA
Éfeso, Paulo escreve aos coríntios: “Também vos enviam muitas sau-
dações no Senhor Áquila e Priscila, com a Igreja de sua casa” (1Cor
16,19). Na Carta a Filemon, saúda “a igreja que se reúne em tua casa”
(Fm 2). Na Carta aos Colossenses, manda saudações aos irmãos de
Laodiceia, “bem como à Igreja que se reúne em sua casa” (Cl 4,14).
Não se sabe se Ninfas é nome masculino ou feminino. Possivelmente
trata-se de mais uma mulher em cargo de liderança nas Igrejas.
RECUPERAR O SENTIDO DA PALAVRA: IGREJA
Foi nas casas que a Igreja de Cristo nasceu. Foi através das casas
que o cristianismo se propagou. Com a institucionalização e hierarqui-
zação, a ideia de Igreja se enrijeceu e suas raízes ficaram submersas
como nas árvores. No entanto, é das raízes que vem a seiva da vida. O
mistério da Igreja e sua realidade vão muito mais além da Igreja visí-
vel.
A Igreja é antes de tudo a comunidade das pessoas que têm fé em
Jesus Cristo. Por extensão, o nome passou a significar também o lugar
em que a instituição e a comunidade se reuniam. No começo, o espaço
natural da Igreja eram as casas. Com o tempo, começaram a construir
edifícios para as reuniões da comunidade e a celebração do culto. Es-
ses edifícios herdaram a tradição dos templos e passaram a ser lugares
privilegiados, consagrados a Deus e considerados “casa de Deus”.
Para cuidar desses templos e celebrar o culto, foi instituído o sacerdó-
cio nos moldes do sacerdócio do Antigo Testamento e dos povos gen-
tios. E era inevitável a tendência a identificar a Igreja com o seu corpo
sacerdotal. No entanto, está aflorando uma nova consciência eclesial
e é de se esperar que seja resgatado o sentido paulino de Igreja, como
casa da comunidade e, por isso, casa de Deus.
Introdução
apóstolo........10,1-13,10
CONCLUSÃO:13,11-13
TEMAS PRINCIPAIS DA PRIMEIRA CARTA
1. Conflitos
Conflitos e tensões marcam a existência cristã vivida no segui-
mento de Cristo crucificado (1Cor 1,23) e marcam também o relacio-
namento entre Paulo e a comunidade. Paulo tem a capacidade de ilu-
minar os problemas mais concretos do dia-a-dia com a luz do mistério
mais profundo da fé. Toda a carta está centrada em torno da vivência
do mistério pascal, isto é, da Cruz e da Ressurreição. A Cruz aparece
no começo (1Cor 1-4) e a Ressurreição no fim (1Cor 15). São os
pólos da longa caminhada cheia de problemas (1Cor 5-14).
2. A loucura da Cruz e a sabedoria do mundo
O contraste entre a “loucura da Cruz” e a “sabedoria do mundo”
perpassa a carta do começo ao fim. Com a luz que vem da Cruz de
Cristo, Paulo condena as divisões da comunidade (1Cor 1,17-4,13),
questiona a vangloria dos que causam escândalo (1Cor 5,1-13), critica
uma falsa concepção de liberdade (1Cor 6,12-20), reprova o compor-
tamento egoísta de alguns nas assembleias (1Cor 11,17-34).
3. Ressurreição de Cristo e nossa ressurreição
Paulo aceita a loucura da Cruz e renuncia à sabedoria do mundo
porque tem fé na Ressurreição, rejeitada pela cultura grega dos corín-
tios. Desde o começo da carta a fé na ressurreição já está implicita-
mente presente na argumentação de Paulo. Mas no fim, no mais longo
capítulo de toda a carta, ele a professa explicitamente e refuta com
vigor os argumentos em contrário (1Cor 15,1-58).
4. A árdua tarefa da inculturação
A Primeira Carta aos Coríntios reflete a necessidade e a dificuldade
da inculturação da mensagem cristã. Tratava-se de romper fronteiras
e desvincular a fé da cultura judaica. Daí sua atualidade para nós que
vivemos num país pluricultural, onde a fé chegou envelopada na cul-
tura europeia. Entre outras questões, vale a pena examinar de perto a
maneira como Paulo enfrenta o problema das carnes sacrificadas aos
A linguagem da cruz
Palavra-chave: CRUZ
Texto de estudo: 1Cor 1,17-2,9
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da Ia Carta aos Coríntios.
“A água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando
para a vida eterna” (Jo 4,14). Em cada um de nós existe uma fonte.
Mas nem sempre corre como deve. Grande parte do terreno da vida
não é irrigado. A fonte está obstruída. De repente, os terremotos da
caminhada deslocam as pedras, abrem a saída e as águas da fonte cor-
rem livremente. Foi o que aconteceu com Paulo. A água da fonte, o
terreno da vida, as pedras da vazão são os elementos que ajudam a
O maior é o amor!
Palavra-chave: AMIZADE
Texto de estudo: 1Cor 13,1-13
Partilha inicial
1. Partilhar as descobertas feitas a partir do último encontro.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
Amor é uma palavra que tem muitos sinônimos e muitos significa-
dos em todas as línguas. Na nossa língua, amor significa afeição, ami-
zade, carinho, simpatia, ternura, paixão, etc. No grego as duas palavras
mais conhecidas são eros, donde vem a palavra “erótico”, e agapê,
donde vem a palavra “ágape”, que quer dizer banquete. Geralmente a
palavra agapê é traduzida por “caridade”, que é o nome da terceira
virtude teologal: fé, esperança e caridade. Diz-se que o amor pode ser
possessivo, isto é, passional, egoísta, ou pode ser oblativo, isto é, po-
larizado pelo bem da outra pessoa a quem se quer bem. É o bem-que-
rer. Paulo fala muito do amor neste segundo sentido. A fonte desse
amor é o próprio Deus que, por nós, entregou o seu Filho amado (Rm
5,8; 8,32-39; 2Cor 5,18-21; Ef 2,4-7) e derrama o seu Espírito em nos-
sos corações (Rm 5,5; Gl 5,22). No estudo do Cântico dos Cânticos ou
Cantares, já vimos o quanto a Bíblia valoriza o amor erótico, que é
chamado de “faísca de YHWH” (Ct 8,6).
1. No uso corrente, faz-se alguma diferença entre amor e caridade?
2. Quais as deformações que sofrem essas duas palavras?
II. Estudar e meditar o texto
1. Leitura do texto: 1Cor 13,1-13
1.1. Ler o texto com toda a atenção.
1.2. Trocar impressões sobre a leitura.
2. Estudo do texto
2.1. Ver o texto de perto
Esse texto é conhecido como “hino ao amor”. Sem deixar de ser
poético, é um texto profundamente realista.
a. Em quantas partes se pode dividir esse texto?
b. Quais as qualidades atribuídas ao amor nos versículos 4 a 7?
2.2. Olhar para a situação da comunidade Todo conselho tem
uma razão de ser.
a. Qual a situação da comunidade que transparece nesse conselho
de Paulo?
b. Quais os motivos invocados para praticar esse conselho?
2.3. Escutar a mensagem do texto
Paulo não pretende fazer poesia e nada tem de lírico.
a. Quais as virtudes a praticar e os vícios a evitar?
b. Como pôr em prática esse ideal de vida?
III. Celebrar a Palavra
1. Partilhar as luzes e forças recebidas neste encontro.
A AMIZADE E A BÍBLIA
Talvez a mais universal das experiências humanas seja a amizade.
Não há cultura que não aborde este assunto, que não valorize, celebre
e incentive a amizade. Todas destacam esse laço firme e forte que une
as pessoas. Um sentimento em que encontramos uma intensa mistura
de valores como solidariedade, lealdade, ajuda, apoio, companhia, dis-
ponibilidade, confiança, sinceridade, honestidade, partilha, amor...
Encontramos tudo isso e muito mais escondido na palavra “amizade”.
O livro dos Provérbios diz que “óleo e perfume alegram o coração
e a doçura do amigo é melhor que o próprio conselho” (Pr 27,9) ou
que “em toda ocasião ama o amigo, um irmão nasce para o perigo” (Pr
17,17). Quem não aprecia uma verdadeira amizade, um relaciona-
mento firme para o que der e vier? Para a Bíblia, amizade é um senti-
mento que começa envolvendo pessoas e vai num crescendo até reve-
lar que a amizade verdadeira é um reflexo do amor de Deus. Aliás, a
própria experiência da relação do ser humano com Deus é descrita
como um laço de amizade que une as pessoas (cf. Is 41,8-10).
A AMIZADE NA BÍBLIA
A Bíblia sempre descreve a amizade como um envolvimento de
pessoas em nome de Deus. Quando Noemi aconselha Rute a voltar
para os seus em Moab, a amizade entre as duas revela-se na resposta
de Rute: “Não insistas comigo para que te deixe! Para onde fores, irei
também, onde for tua morada, será também a minha, teu povo será o
meu povo e teu Deus será o meu Deus!” (Rt 1,16-17).
Para o povo de Deus tal solidariedade era de vital importância. A
vida nas aldeias não era nada fácil, e somente a vivência da amizade
possibilitava a sobrevivência de todos.
Essa solidariedade na hora do perigo também percebemos no sen-
timento de amizade que unia Davi e Jônatas, filho do rei Saul (1Sm
18,1-5; 20,1-42). Em nome desse sentimento, Jônatas fica revoltado
contra o rei, seu pai, para defender e salvar a vida do amigo. E quando
Jônatas morre numa batalha contra os filisteus, Davi eleva a Deus uma
lamentação profunda e sentida, chorando a morte do amigo nestes ter-
mos: “A tua morte dilacerou-me o coração. Tenho o coração apertado
por tua causa” (2Sm 1,25-27).
Da mesma maneira, percebemos o forte sentimento de amizade que
unia Jesus a Lázaro, quando Jesus chora a morte do amigo. Diante da
dor da perda e da saudade, Jesus não reprime as lágrimas, e todos mur-
muram: “Vede como ele o ama!” (Jo 11,33-35). O Evangelho atesta
também a amizade que unia Jesus a Marta e Maria, as duas irmãs de
Lázaro (Jo 11,19). Em momentos significativos, Jesus chamava sem-
pre os amigos mais íntimos: Pedro,
Tiago e João (cf. Mc 5,37). O Evangelho também fala do “discípulo
que ele amava” (Jo 13,23).
Ninguém mais cultivou a amizade e entendeu o seu valor do que
Paulo. Por suas cartas, percebemos que, por onde passava, nas 4, suas
viagens, deixava uma constelação de amigos e amigas. Só ele podia
escrever o primor de texto que foi objeto do nosso estudo.
A AMIZADE NO RELACIONAMENTO COM DEUS
A Bíblia expande mais o conceito de amizade. Como amizade tam-
bém temos de entender o sentimento de Deus em relação aos que lhe
são fiéis (Is 41,8; 2Cr 20,7). Deus conversa amigavelmente com
Abraão (Gn 18,17-33). O mesmo Deus se revela a Moisés como a um
amigo (Ex 33,11-23; Nm 12,7-8; Dt 34,10). O profeta Elias também é
agraciado com a amizade de Deus (cf. 1Rs 19,11-14). A palavra defi-
nitiva sobre essa amizade de Deus encontramos na conversa que Jesus
aí, está o teu tesouro. Jesus afirmou que “onde dois ou três se reunirem
em seu nome”, ali estará ele (Mt 18,20). A comunidade cristã, maquete
do que deviam ser a Igreja e o Mundo, conforme o livro dos Atos, é
apresentada como um grupo em que reina forte amizade. Todas as pes-
soas vivem na comunhão fraterna, unânimes, e tomando o alimento
com alegria (cf. At 2,42-47). Essa antecipação “imperfeita”, pela ami-
zade, da presença de Deus, que será “perfeita” e total, é o que nos
ensina Paulo, sob a inspiração do Espírito Santo (1Cor 13,8-13).
ROTEIRO 5
Palavra-chave: RECONCILIAÇÃO
Texto de estudo: 2Cor 7,1-16
Partilha inicial
1. Partilhar as descobertas feitas a partir do último encontro.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
“Correção fraterna” é uma expressão inspirada no Evangelho (cf.
Mt 18,15-17). É uma atitude adulta e saudável de ser sincero e franco
Paulo, o coordenador
e pensar ao mesmo tempo. Por isso, quem queria mandar uma carta
chamava uma pessoa especializada na escrita e ditava o que queria
dizer na carta. Era o que Paulo fazia: chamava um secretário. Na Carta
aos Romanos, o secretário aproveitou uma brecha para mandar um
abraço: “Eu, Tércio, que escrevi esta carta, saúdo-vos no Senhor” (Rm
16,22).
No fim da carta, Paulo assinava de próprio punho (2Ts 3,17; Gl
6,6.11; 1Cor 16,21; Cl 4,8). No fim da Carta aos Gálatas, Paulo pegou
a caneta e escreveu com letras enormes: “Vejam com que tamanho de
letras estou escrevendo, eu, Paulo, de próprio punho” (Gl 6,11). A as-
sinatura de próprio punho era uma espécie de firma reconhecida: iden-
tificava o autor e impedia as falsificações (cf. 2Ts 3,17).
Com o tipo de vida que levava, hospedando-se em alojamentos ou
pensões com seus companheiros, Paulo nunca estava sozinho quando
fazia as cartas. Os companheiros aparecem ao lado dele na saudação
inicial e nas lembranças finais. Provavelmente o assunto era discutido
entre eles, antes de ser posto por escrito. Uma das poucas que não
menciona nomes nas saudações iniciais e nas recomendações finais é
a Carta aos Gálatas. É que o relacionamento entre Paulo e a comuni-
dade estava tenso, estremecido. “Falsos irmãos” andaram querendo
afastar os gálatas de Paulo (Gl 2,4; 1,6-8; 3,1; 4,16-17). Paulo estava
irritado e se defendia. Outra carta sem saudações e recomendações é a
Carta aos Efésios. Trata-se provavelmente de uma carta circular envi-
ada a várias comunidades, e a cópia que foi conservada é a que foi
parar na comunidade de Éfeso. Parece que só a Carta a Filemon, a mais
curta de todas, foi escrita pelo próprio Paulo (Fm 19).
A COORDENAÇÃO
Paulo viajava, mas não desligava. Continuava na liderança e na co-
ordenação geral das comunidades entre os gentios, como lhe foi pe-
dido no Concilio de Jerusalém (cf. Gl 2,7-10). Mantinha contato cons-
tante com as comunidades por ele fundadas e com a Igreja como um
todo. Hoje em dia, para contatos, dispomos de muitos meios: correios,
telégrafo, telefone, telex, telefax e esse prodígio que é a internet, que
já começa a ser vulgarizada. Paulo, coitado, estava muito longe de to-
dos esses recursos. Mesmo assim, vencendo mil obstáculos, soube
manter os contatos e carregava dentro de si a preocupação com o
plano da salvação (At 13,46; Rm 9,1-5). Mas não se limita aos judeus.
Dirige-se também aos gentios (At 13,16.43; 17,4.17). Geralmente, os
judeus resistem e os gentios aceitam (At 13,45; 14,2-4; 17,5.13; 18,6;
19,9). Diante da recusa dos judeus, Paulo se afasta da sinagoga e é
acolhido de bom grado pelos gentios (At 13,46-48; 18,6-8; 19,9-10).
Nas três viagens, Paulo tem o cuidado de visitar as comunidades
fundadas por ele ou por outros (At 14,22-24; 15,3.36.41; 18,23; 20,2;
21,4-7) para confirmá-las na caminhada e criar toda uma rede de arti-
culação. As frequentes visitas a Jerusalém, o envio de mensageiros (Cl
4,10; 1Cor 1,11; 16,10.12.17-18; 1Ts 3,2.6; etc), as cartas e a coleta
(2Cor 8,1-9,15) ajudam a atingir esse mesmo objetivo.
O instrumento mais importante usado por Paulo no anúncio do
Evangelho, sobretudo aos judeus, era a Escritura. Lida e meditada, em
particular e em grupo, invocada nos discursos e nas discussões, aju-
dava a descobrir todo o significado de Jesus para a vida das pessoas e
das comunidades (At 13,32-41; 17,2.11; 18,28). Insistia em mostrar o
valor perene da Escritura (cf. Rm 15,4; 1Cor 10,11; 2Cor 3,14-17;
1Tm 3,14-17).
O livro dos Atos fala, com naturalidade e frequência, da ação do
Espírito Santo no trabalho missionário de Paulo. É ele que provoca a
iniciativa da missão e envia Paulo e Barnabé (At 13,2-4). Leva Paulo
a falar (At 13,9). Orienta Pedro a decidir (At 15,8) e inspira o docu-
mento final do Concilio de Jerusalém (At 15,28). Traça o rumo das
viagens (At 16,6.7). Leva Paulo a voltar para Jerusalém, mesmo pre-
vendo que vai sofrer (At 20,22-23). Constitui os coordenadores nas
comunidades (At 20,28).
O livro dos Atos destaca também a presença da oração e da cele-
bração na vida de Paulo. É durante uma celebração que nasce a ideia
da viagem missionária (At 13,2). O anúncio sempre começa na cele-
bração semanal da sinagoga, que, às vezes, é chamada oração (cf. At
16,13.16). A abertura para os gentios é motivo de louvor a Deus (cf.
At 20,32). A confirmação dos coordenadores é acompanhada de ora-
ção e jejum (At 14,23). Na prisão, em Filipos, Paulo e Silas oram noite
adentro (At 16,25). Paulo participa da ©ração nas comunidades: em
Trôade, toma parte na fração do pão (At 20,7); em Mileto, ora com o
povo (At 20,36); em Tiro, a comunidade foi com ele até a praia e todos
oraram (At 21,5). No fim da segunda viagem, Paulo faz uma promessa
a ser cumprida 00 templo de Jerusalém (At 18,18). No fim da terceira
viagem, aceitou ficar sete dias dentro do Templo, como patrocinador
de uma promessa (At 21,23-26).
CONCLUSÃO
Paulo é um grande exemplo para o trabalho missionário das igrejas
em todos os tempos e muito especialmente em nossos dias. E grande
o fascínio dos avançadíssimos meios de comunicação para a divulga-
ção da mensagem evangélica, mas não se deve esquecer a importância
da intercomunicação que deve permear o tecido das comunidades e
congregações, aquecendo a intimidade das pessoas e ativando a soli-
dariedade. Mais do que nunca são necessários o acolhimento caloroso,
a delicada atenção, a participação ativa, a efetiva valorização de cada
um(a) e de todos(as).
Para isso, é preciso que se crie um ambiente impregnado de afeti-
vidade. É através da afetividade que circulam a presença e ação do
Espírito Santo. A afetividade nada tem de abstrato e precisa da reali-
dade concreta e viva para se expandir. Pelas cartas, percebe-se que a
afetividade de Paulo era transbordante.
Optando pelo trabalho manual para sobreviver, Paulo não só era
uma contestação viva da ideologia dominante, mas, rompendo todas
as amarras, garantia grande mobilidade e o trânsito livre para transmi-
tir a mensagem. E transmiti-la sem outras mediações que não fosse a
sua presença pessoal, que irradiava o testemunho convincente de sua
fé intensa.
Introdução
INTRODUÇÃO: 1,1-5
1,1-2: Paulo apresenta suas credenciais e menciona os
destinatários
1,3-5: Antecipa o assunto de que vai tratar
I PARTE: 16-2,21
1,6-10: o evangelho anunciado está sendo pervertido
1,11-2,10: a missão de Paulo
1,11-24: origem do mandato e legitimidade da
missão
2,1-10: a salvação é gratuita para todos, superando
a Lei
2,11-21: incidente com Pedro. Paulo reafirma o “seu’’
Evangelho
II PARTE: 3,1-4 ,7
3,1-5: Diante do Cristo crucificado, Paulo recrimina os
gálatas por seu retrocesso a categorias humanas supera-
das (carne)
3,6-4,7: o regime da fé e o da Lei vistos na história da
salvação
3,6-14: a promessa feita a Abraão concerne a Cristo; a
Palavra-chave: LIBERDADE
Texto de estudo: Gl 5,1-26
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da Carta aos Gálatas
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo. ‘
I. Partir da realidade
Entre as muitas historietas que passam de boca em boca, existe a
da águia que nasceu e cresceu num galinheiro a do Patinho Feio e tan-
tas outras em torno da liberdade. A liberdade é a mola da vida, é talvez
a mais profunda aspiração da alma humana. Uma das imagens mais
plásticas da liberdade é a do pássaro voando. O maior drama do encar-
cerado é a perda da liberdade, o direito de ir e vir, consagrado como
um direito básico da pessoa humana. No tempo de Paulo, havia um
abominável muro que, nas cidades gregas, separava os homens livres
dos escravos. No entanto, ele, homem livre, cidadão romano, renun-
ciou a esse privilégio para se equiparar aos escravos, vivendo do tra-
balho das próprias mãos. De certo modo, viveu, na própria carne, a
bela definição que cunhou do mistério da encarnação: “Esvaziou-se a
si mesmo e assumiu a condição de servo” (Fl 2,7). O título que
Espírito?
b. Que lições vitais podemos tirar deste texto?
III Celebrar a Palavra
1. Partilhar as luzes e forças recebidas neste encontro.
2. Assumir um compromisso comunitário.
3. Orar o SI 143.
4. Fazer um resumo para ruminar depois.
Preparar o próximo encontro
1. No próximo encontro estudaremos a Carta aos Efésios (Ef 1,1-
23).
2. Distribuir as tarefas.
SUBSÍDIO 6
Fé e liberdade
FÉ
Fé não é a aceitação intelectual de verdades, dizer “amém” às fór-
mulas do catecismo, mas significa, antes de tudo, adesão pessoal e in-
condicional. Se Paulo apregoa a salvação pela fé, não se trata de um
cristianismo que se contente em professar um “Credo”, mas de um
cristianismo prático, mediante o qual a pessoa mostre que adere a Je-
sus Cristo e o segue. Essa adesão se manifesta na imitação da prática
de Jesus e só é possível porque o Espírito de Jesus vem para o coração
de quem a ele adere (Gl 4,6) e produz os seus frutos (Gl 5,22-23a).
Por outro lado, se Paulo diz que as obras não salvam, ele não rejeita
a prática das obras, pois a fé “atua pela caridade” (Gl 5,6). Ele rejeita,
sim, a capacidade salvífica das observâncias religiosas. Isso com base,
primeiro, na sua experiência: no caminho de Damasco, Jesus Cristo
Crucificado irrompeu na sua vida. Depois, pelo fato de esse Cristo
Ressuscitado ter sido condenado em nome da Lei de Moisés (Gl 3,13;
cf. Dt 21,23). Portanto, essa Lei está superada, ainda que tenha servido
de “educadora” (Gl 3,24), conduzindo-nos até Cristo.
A Lei de Moisés é entendida por Paulo como todo o complexo sis-
tema legal em que devia enquadrar-se o judeu praticamente. Esse sis-
tema, longe de libertar, aprisionava. É esclarecedor ver que Tiago usa
esse conceito complexivo da Lei no sentido oposto de
Paulo. Note-se que Tiago se dirige a uma comunidade judeu-cristã,
em território onde a Lei judaica vigorava. Por exemplo, quem observa
a Lei integralmente será julgado pela “lei da liberdade”, segundo Ti-
ago, que não deixa de destacar o amor ao próximo como a Lei Regia
da Escritura (Tg 2,8-13). Paulo preconiza o mesmo mandamento da
caridade como resumo e substitutivo da Lei (Gl 5,13) e coincide com
Tiago quando afirma que o amor ao próximo “é a plenitude da Lei”
(Rm 13,10). E ele se dirige não a judeus, mas a gentios.
LIBERDADE
Muitos veem uma oposição entre Paulo e Tiago. Talvez seja mais
correto ver uma acentuada diferença de ênfase. Escrevendo para am-
biente judaico, Tiago vê na lei um instrumento da liberdade (Tg 1,25;
2,12). Escrevendo para ambiente gentio, Paulo opõe a liberdade à Lei
considerada como instrumento de salvação em si mesma (Gl 4,21-31).
Introdução
SAUDAÇÃO 1,1-2
I PARTE: o Mistério de Cristo na Igreja 1,3-3,21
- Louvor a Deus pela redenção e predestinação em Cristo 1,3-
14
- Supremacia de Cristo 1,15-23
- Da morte à vida 2,1-10
- Todos, judeus e gentios, unidos em Cristo 2,11-22
- Paulo e o mistério de Cristo 3,1-13
- Enraizados e alicerçados no amor 3,14-21
II PARTE: viver o Mistério de Cristo 4,1-6,20
- Unidade na diversidade 4,1-16
A Igreja de Cristo
Palavra-chave: UNIVERSALIDADE
Texto de estudo: Ef 1,1-23
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da Carta aos Efésios.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
Vivemos num mundo pluralista, fragmentado em todos os sentidos,
em que coexistem as diferenças e se manifesta um desejo difuso de
convergência. Estamos cercados de muitas e variadas expressões reli-
giosas. Inúmeras são as Igrejas que se denominam cristãs. E, além do
cristianismo, há muitas outras religiões, Não devemos esquecer duas
coisas fundamentais: a Igreja de Cristo é uma só, embora englobe di-
versas denominações, diferentes tradições doutrinais e de espirituali-
dade. Em segundo lugar, que a Igreja é um processo de permanente
construção da unidade na variedade de dons e na pluralidade dos mem-
bros do Corpo de Cristo (cf. Ef 4,1-6.11-13). Por isso, guardar a pró-
pria identidade e, ao mesmo tempo, abrir-se à construção de uma
Igreja efetivamente ecumênico, sinal eficaz da unidade humana, re-
presenta um desafio global e radical. Se Cristo é cabeça não só da
Igreja que congrega judeus e gentios, mas cabeça da humanidade e até
do universo, o apelo para a unidade não tem limites nem conhece fron-
teiras.
1. O ecumenismo pode limitar-se ao diálogo intereclesial?
2. Qual o horizonte da inculturação do Evangelho aberto por
Paulo?
II. Estudar e meditar o texto
1. Leitura do texto: Ef 1,1-23
1.1. Ler o texto com toda a atenção.
1.2. Trocar impressões sobre a leitura.
2. Estudo do texto
2.1. Ver o texto de perto
Neste hino cristológico, encontramos: o Jesus histórico, o Cristo da
fé e o Cristo cósmico.
a. Em que versículo aparecem as três interpretações?
b. Aprofundar cada uma das três dimensões a partir do texto.
2.2 Olhar para a situação das comunidades
O Jesus histórico viveu na Palestina, no ambiente da cultura ju-
daica, mas as comunidades da Ásia Menor recebem a influência de
outras culturas.
a. Qual o problema das comunidades que transparece no texto?
b. Como se percebe o processo de inculturação da fé em Jesus?
2.3. Escutar a mensagem do texto
O texto se concentra em Jesus, o Cristo da história, da fé e do uni-
verso, e celebra a graça de Deus que, em Jesus, recapitulou todas as
coisas, reunindo o universo inteiro sob um único chefe (cabeça).
a. Qual a mensagem desse hino para nós hoje?
b. Como conviver com o pluralismo religioso afirmando a fé cristã?
DA HISTÓRIA
O texto é do fim século I. Descreve a aparição de Jesus a Madalena.
O autor procurou orientar a comunidade na vivência da fé em Jesus
ressuscitado e presente: “Felizes os que não viram e creram!” (Jo
20,29).
Maria Madalena está perto do sepulcro e chora (Jo 20,11.13.15). A
morte privou-a para sempre da presença do Mestre e amigo. O único
ponto de contato era o sepulcro onde foi colocado o seu corpo. Maria
não sai de lá. Ela quer preservar o lugar e os momentos em que tinha
experimentado pela última vez a presença daquele que tinha marcado
sua vida para sempre.
Olhando para dentro do sepulcro, ela vê dois anjos (Jo 20,11-12).
Eles perguntam: “Mulher, por que choras?” Mas a atenção e o afeto
de Madalena estão de tal modo voltados ao passado que não lhe passa
pela cabeça que a presença e a pergunta dos dois anjos possam signi-
ficar algo novo e diferente. Ela só sabe dizer: “Levaram o meu Senhor
e não sei onde o colocaram!” (Jo 20,13). Em seguida, o próprio Jesus
se apresenta e pergunta: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”
(Jo 20,14-15). Mas a saudade, a lembrança do passado, a fixação na
pessoa de Jesus tal como tinha conhecido a impedem de perceber a
presença do próprio Jesus que conversa com ela. O Jesus da história
impedia de reconhecer o Cristo da fé. Seus olhos só se abrem quando
Jesus a chama pelo nome: “Miriam!” (Jo 20,16). Mas o simples reco-
nhecimento ainda não é a experiência da ressurreição. Ela diz: “Ra-
boni!” (Jo 20,16). É o nome de antes, de quando ainda convivia com
Jesus. Ainda não é o nome do Ressuscitado. Para Madalena, no mo-
mento em que reconheceu Jesus, tudo voltou a ser como antes. Ela
tenta agarrar Jesus para retê-lo e impedir que alguém o leve de novo.
Ainda não percebe que a presença não é a mesma de antes, que a vida
é a vida da Ressurreição. Falta o passo decisivo que Jesus ajuda a dar:
“Não me retenhas!” (Jo 20,17). Em vez de reter, Madalena deve apren-
der a soltar. Ela só possuirá a vida quando estiver disposta a perdê-la
(Mc 8,35). Só resta a ela e a nós soltar todas as certezas construídas
anteriormente e ficar com a certeza da fé: “Ele está vivo no meio de
nós!” Presença amiga, absolutamente certa, que não pode ser manipu-
lada nem assegurada por nosso esforço! E na entrega total de tudo que
Introdução
CHAVES DE LEITURA
1. Alegria. Reinava alegria nas primeiras comunidades cristãs (At
2,46), assim como reina, ainda hoje, nas festas e manifestações popu-
lares. A alegria perpassa a Carta aos Filipenses: “Dou graças a Deus
todas as vezes que me lembro de vós e sempre, em todas as minhas
súplicas, oro por todos vós com alegria” (Fl 1,3-4; cf. 1,18; 2,17;
4,1.10)
2. Opção radical por Jesus Cristo. Jesus Cristo é o centro da co-
munidade. Deve ser experimentado de perto. O relacionamento pes-
soal com ele é condição primeira para uma opção radical pelo segui-
mento. “O que era para mim lucro, eu o tive como perda por amor de
Cristo... Tudo eu considero perda pela excelência do conhecimento de
Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele, eu perdi tudo e tudo tenho como
estéreo, para ganhar o Cristo e ser achado nele...” (Fl 3,7-9).
3. Perseverança na luta. Seguir Jesus significa ter os mesmos sen-
timentos e combater pela fé. A comunidade deve permanecer 6 ‘firme
num só Espírito, lutando junto com uma só alma, pela causa do Evan-
gelho” (Fl 1,27). E preciso coragem para não se deixar atemorizar pe-
los adversários (cf. Fl 1,28).
4. Hino cristológico: esvaziamento para assumir a condição de
servo. Um dos trechos mais conhecidos da Carta aos Filipenses é o
“hino cristológico” (Fl 2,6-11). É como uma pedra preciosa incrustada
na carta. Certamente é uma chave privilegiada para entrar na carta,
compreender quem é Jesus e aprender a segui-lo. Jesus é apresentado
como o Filho de Deus que não se apegou à condição divina (Fl 2,6),
mas se esvaziou a tal ponto que se fez “servo de Deus” (Fl 2,7). É por
causa dessa atitude de total despojamento e aniquilamento até chegar
à total solidariedade com a pessoa humana desfigurada, que Deus
exalta Jesus, o Filho, constituindo-o Senhor da História.
A palavra grega que costuma ser usada para designar esse processo
é kénosis.
ROTEIRO 8
Testemunho de Paulo
Palavra-chave: | DESPOJAMENTO
Texto de estudo: Fl 3,1-21
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da Carta aos Filipenses.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
No sistema capitalista, a mola da economia é o lucro. Entre nós,
várias distorsões entraram na linguagem comum, como a “lei de Ger-
son”, ou sempre tirar vantagem, a “lei de São Francisco”, ou “é dando
que se recebe”, aplicada sobretudo às negociatas políticas. Como a
base do sistema é a exacerbação do chamado “direito de propriedade”,
considerado como direito absoluto e sem limites, caminhamos vertigi-
nosamente para o neoliberalismo em que lucro, livre mercado e com-
petição formam uma espécie de tríade satânica de uma nova e nefasta
idolatria. Uma sociedade igualitária sempre foi o ideal bíblico do An-
tigo Testamento. No Novo Testamento, ela ressurge na comunidade
descrita no livro dos Atos (At 2,42-47; 4,32-35; 5,12-16), assentada
sobre os pilares da fraternidade, do despojamento e da solidariedade.
A vivência desses valores talvez seja a única arma eficaz para salvar a
humanidade ameaçada. Eles aparecem com vigor na vida de Paulo:
Introdução
MOTIVOS DA CARTA
A firmeza da fé dos colossenses estava sendo ameaçada por um
movimento sincrético de caráter judeu-gnóstico (Cl 2,4.8.20). Seus
promotores exigiam a observância de festas, luas-novas e sábados (Cl
2,16). Impunham preceitos alimentares (Cl 2,16-20) e ascéticos (Cl
2,23), insistiam na veneração dos anjos (Cl 2,18) e das forças cósmicas
(Cl 2,8; cf. Gl 4,9) para afastar seus poderes maléficos. Contra a “vã
filosofia’’ baseada em tradições humanas (Cl 2,8.22ss.), Paulo apre-
senta Cristo como único Salvador (Cl 1,15-22). Ele é a imagem do
Deus invisível, o princípio e a cabeça do cosmos, criador de todas as
coisas, inclusive dos anjos. Reconciliou tudo pela cruz, triunfando so-
bre todos os poderes espirituais. Enfim, em Cristo estão a salvação, o
conhecimento, a sabedoria (Cl 2,6-15).
DIVISÃO DA CARTA
INTRODUÇÃO: destinatários e saudação Cl 1,1-2
I PARTE: riqueza da fé e primado de Cristo 1,3-2,5
- Ação de graças pelas notícias recebidas 1,3-8
- Oração que culmina no hino cristológico 1,9-20
- Esperança que brota do anúncio do Evangelho 1,21-29
- Solicitude de Paulo pela comunidade 2,1-5
II PARTE: advertência contra erros 2,6-3,4
-As vãs doutrinas e a verdadeira fé em Cristo 2,6-15
- A superação dos “elementos do mundo” em Cristo2,16-3,4
III PARTE: exortação - conseqüência prática da fé cristã 3,5-4,6
- Um novo relacionamento na comunidade. 3,5-17
- Preceitos de moral doméstica 3,18-4,1
- Espírito apostólico 4,2-6
COMPLEMENTOS E SAUDAÇÃO FINAL
- Envio de Tíquico e Onésimo 4,7-9
- Saudações dos companheiros de Paulo 4,10-14
- Saudações aos destinatários 4,15-17
- Saudação final 4,18
CHAVES DE LEITURA
Entre as muitas possíveis, escolhemos algumas que nos parecem
mais expressivas:
Doutrinas estranhas
Palavra-chave: PLURALIDADE
Texto de estudo: Cl 2,6-3,4
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da Carta aos Colossenses.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
Vivemos num tempo de forte inquietação religiosa e busca espiri-
tual. Nota-se isso em todas as camadas da sociedade, mas sobretudo
nas camadas mais pobres. O povo sofrido, não tendo para quem apelar,
agarra-se a Deus de qualquer maneira, não se importando muito com
o nome da religião. Como diz um personagem de Guimarães Rosa:
“Religião eu bebo de todas”. Isso é perigoso porque pode haver muita
manipulação e exploração dos símbolos religiosos. Mais do que
nunca, somos chamados a discernir entre o diálogo inter-religioso, que
é uma grande riqueza, e a manipulação ou exploração religiosa. Na
Ásia Menor, os missionários do Evangelho viveram uma situação
muito semelhante à nossa. O encontro da cultura judaica com a hele-
nista é marcado pela mistura de etnias, correntes filosóficas, doutrinas
e crenças religiosas. Essa realidade transparece na Carta aos Colossen-
ses.
1. Conversar sobre a mistura de doutrinas e crenças religiosas nos
ambientes em que vivemos.
2. Quais os valores novos que podemos assumir?
II. Estudar e meditar o texto
1. Leitura do texto: Cl 2,6-3,4
1.1. Ler o texto com toda a atenção.
1.2. Trocar impressões sobre a leitura.
2. Estudo do texto
2.1. Ver o texto de perto
A impressão que dá o texto não é de uma estrada plana e reta. O
autor parece um hábil manobrista.
a. Como podemos dividir o texto?
Religiões
plenitude, é a grande preocupação que está por trás da Carta aos Co-
lossenses. O autor da carta conclui que o critério evangélico maior é
este: “Cristo é tudo em todos” (Cl 3,11).
Cristo é tudo em todos!
Essa afirmação é a culminância do que foi dito antes: acabaram as
divisões entre gregos e judeus, circuncisos e incircuncisos, bárbaro e
cita, escravo e livre. Cristo é tudo em todos! Eis a referência básica.
Vivendo a partir desse critério, saberemos dialogar com as diferenças,
mantendo nossa identidade de filhas e filhos de Deus e a abertura ao
amor, ao diálogo, na luta por uma sociedade nova, justa e fraterna.
É preciso reconhecer a semente da Palavra de Deus presente em
todas as culturas e dar-lhe condições para crescer e frutificar.
Concluindo, podemos dizer que nenhuma cultura, como também
nenhuma crença religiosa é tão completa em si mesma que possa es-
gotar toda a potencialidade da Boa Nova. Por outro lado, nenhuma
cultura ou religião é tão insignificante que não contenha já em si a
semente da Palavra de Deus revelada em plenitude por Jesus Cristo.
Introdução
modo cristão?
III. Celebrar a Palavra
1. Partilhar as luzes e forças recebidas neste encontro.
2. Assumir um compromisso comunitário.
3. Orar o SI 16.
4. Fazer um resumo para ruminar depois.
Preparar o próximo encontro
1. No próximo encontro estudaremos a 2a Carta aos Tessalonicen-
ses (2,1-17).
2. Distribuir as tarefas.
SUBSÍDIO 10
O trabalho
Encorajamento à preservação
Palavra-chave: COMBATE
Texto de estudo: 2Ts 2,1-17
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da 2ª Carta aos Tessaloni-
censes.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
O fim é o primeiro na intenção e o último na execução. Ele esta
presente em todas as operações feitas para alcançá-lo. Em qualquer
empreendimento, o fim a que se quer chegar é que determina tudo.
Quando planejam um edifício, os arquitetos e engenheiros costumam
fazer uma maquete para antecipar a visão do que vai ser quando estiver
construído. Para orientar a construção, eles desenham as plantas que
trazem todos os cálculos e devem ser constantemente consultadas.
Para Santo Tomás de Aquino, uma das maiores inteligências de todos
os tempos, o fundamento da vida moral é o fim último. E o fim último
é Deus. O pecado será um desvio do fim último, portanto um desvio
do caminho que leva a Deus. Para as primeiras comunidades cristãs, o
fim último se confundia com a volta gloriosa de Cristo. E na primeira
metade do século I, a expectativa era que essa volta gloriosa não de-
morasse muito. O próprio Paulo, em 1Ts 4,13-5,11, parece estar certo
de que essa volta de Cristo ainda vai encontrá-lo vivo.
1. A certeza da ressurreição e da volta de Cristo está presente na
construção de nossa vida?
2. Mesmo sem poder imaginar o que será, tiramos força e ânimo
dessa certeza?
II. Estudar e meditar o texto
1. Leitura do texto: 2Ts 2,1-17
1.1. Ler o texto com toda a atenção.
1.2. Trocar impressões sobre a leitura.
2. Estudo do texto
2.1. Ver o texto de perto
Por causa da diferença entre o que ensina aqui e o que ensina em
1Ts 4,13-5,11, alguns estudiosos acham que o autor não é Paulo.
a. Em quantas partes se pode dividir esse texto?
b. Destacar as imagens apocalípticas.
2.2. Olhar para a situação da comunidade
Como sempre, Paulo está muito atento aos problemas que podem
causar perturbação e vai direto a eles.
a. Quais são os problemas da comunidade que transparecem no
texto?
Carta a Filemon
Introdução
Novo relacionamento
Palavra-chave: FRATERNIDADE
Texto de estudo: Fm 1-25
Partilha inicial
1. Partilhar o que esperamos do estudo da Carta a Filemon.
2. Fazer uma oração invocando as luzes do Espírito Santo.
I. Partir da realidade
A palavra “cidadania” está em alta. Construir a cidadania se tornou
a bandeira das entidades que se empenham no resgate da dignidade
SUBSÍDIO 12
O livro dos Atos dos Apóstolos nos informa que Paulo criava co-
munidades cristãs nos lugares por onde passava. Também menciona
comunidades, como a de Roma, que não foram fundadas por Paulo.
Delas participavam os vários segmentos da sociedade. Caso típico nos
apresenta a Carta a Filemon, dono do escravo Onésimo.
Não é fácil descrever com detalhes o nível social das pessoas que
participavam da comunidade no tempo de Paulo. Além disso, não se
pode aplicar àquele tempo o conceito de “classe social” que temos
hoje. A sociedade era bipolarizada entre senhores e escravos. Um
pouco como no Brasil colônia, como descreve o famoso livro de Gil-
berto Freire: Casa grande e senzala. Nas cidades helenistas do impé-
rio, destacavam-se os “cidadãos livres” com suas assembleias, os “es-
cravos” e os “libertos”. No entanto, havia outras ramificações, como
os militares, os palacianos, os sacerdotes, os cobradores de imposto
(publicanos), as associações profissionais (como os ourives de Éfeso,
cf. At 19,23-25), etc.
3. Comerciantes e profissionais
1. LÍDIA (At 16,14): comerciante de púrpura em Filipos.
2. PRISCILA e ÁQUILA (At 18,1-3; Rm 16,3-5; 1Cor 16,19): fa-
bricantes de tendas, a mesma profissão de Paulo.
3. TÉRCIO: copista, secretário de Paulo (Rm 16,22).
4. LUCAS: médico (Cl 4,14; Fm 24).
5. CARCEREIRO (At 16,33): ele e toda a sua casa.
4. Escravos
1. RODE (At 12,13): criada da casa de Maria, mãe de Marcos.
2. A JOVEM ESCRAVA em Filipos (At 16,16).
3. ONÉSIMO (Fm).
4. AMPLIATO (Rm 16,8): seu nome é o de escravo latino comum.
5. ALGUNS DA CASA de Cloé (1Cor 1,11), provavelmente es-
cravos.
Essa lista é uma simples amostragem. Constam só aqueles nomes
sobre os quais o texto fornece alguma indicação de sua posição social.
Sabemos que a maioria das pessoas que fizeram parte das primeiras
comunidades ficaram no anonimato (cf. 1Cor 6,9-11). É possível que
a lista ajude a esboçar a fisionomia das comunidades.
CARACTERÍSTICAS
1. As comunidades eram formadas por pessoas provenientes de vá-
rios segmentos da sociedade. No entanto, não encontramos represen-
tantes da camada superior na escala social greco-romana, como aris-
tocratas, proprietários de terra, políticos importantes.
2. A lista testemunha uma presença significativa de camada inter-
mediária, gente que possuía casa, escravos, recursos para viajar. É pro-
vável que os escravos e empregados também participassem da comu-
nidade, mesmo porque estão incluídos no conceito abrangente de
“casa”. Nos seus conselhos, Paulo alude aos senhores e aos servos:
“Servos, obedeçam aos seus senhores nesta vida, com temor e tremor,