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DIGITAL INFLUENCER

AULA 1

Prof. Raphael Moroz


CONVERSA INICIAL

Olá! Sou o professor Raphael Moroz e vou atuar como o facilitador do seu
processo de aprendizagem neste estudo. Vou me apresentar brevemente: sou
graduado em Jornalismo e em Psicologia, com mestrado em Comunicação e
Linguagens. Atuo com Marketing e Comunicação Organizacional há mais de 10
anos, e sou apaixonado por tudo que envolve o comportamento do consumidor,
a gestão de marcas e a influência digital! Para conhecer melhor o meu trabalho,
me siga no Instagram: @psi.raphaelmoroz.
Nesta etapa, vamos discutir premissas fundamentais do momento
histórico em que vivemos, popularmente conhecido como Era Digital.
Conversaremos sobre a forma diferentes teóricos enxergam as mudanças
ocasionadas pelo uso de tecnologias digitais, analisando práticas de consumo
nesse contexto. Em seguida, vamos falar sobre a visibilidade na Era Digital,
aprofundando o conceito de cultura da participação. Por fim, vamos discutir a
importância da influência digital no âmbito do marketing. Vamos iniciar a nossa
jornada?

CONTEXTUALIZANDO

Case Vivi Guedes

A telenovela “A dona do pedaço”, exibida pela Rede Globo em 2019,


apresentou uma inovação que nos interessa neste estudo: a personagem Vivi
Guedes (interpretada pela atriz Paolla Oliveira) era uma influenciadora digital de
sucesso nas redes. O detalhe é que ela “bombava” tanto na trama da novela
quanto no “mundo real”, já que a personagem ganhou uma conta real no
Instagram.
Em cerca de três meses, o perfil real de Vivi já contava com 820 mil
seguidores. Seus conteúdos que atraíam milhares de curtidas e comentários de
seguidores da influencer (Neves, 2019). Interessante essa ação, não acha? Uma
obra ficcional, exibida em uma mídia tradicional, foi capaz de dialogar com uma
mídia digital (o Instagram, no caso). O objetivo dessa estratégia foi atrair a
atenção de espectadores, que costumam usar as redes sociais digitais
ativamente, para com isso potencializar a audiência da novela e gerar buzz de
marketing.

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TEMA 1 – O QUE SIGNIFICA VIVER NA ERA DIGITAL?

Você já parou para pensar no papel das tecnologias digitais na sua vida?
Em como os seus relacionamentos, o seu trabalho e as suas atividades de lazer
são influenciados por elas? Será que você conseguiria viver sem as tecnologias
que costuma utilizar no dia a dia? Provavelmente sim. Por outro lado, se a
pergunta fosse “Você gostaria de viver sem elas?”, possivelmente você
responderia que não.
As tecnologias digitais existem para facilitar a nossa vida. Elas viabilizam
o trabalho remoto e a comunicação com pessoas de diferentes localidades
instantaneamente. Além disso, por meio delas recebemos em casa produtos que
compramos em e-marketplaces. Podemos dizer que a popularização do acesso
à internet contribuiu de maneira significativa para isso, não é mesmo? É
justamente esse acesso que possibilita a conectividade a todo momento.
O pesquisador holandês Mark Deuze (2012) enxerga as mudanças
ocasionadas pelo uso das tecnologias digitais de uma forma lúcida e
esclarecedora. Para ele, não há fronteiras entre o on-line e o offline. Essas duas
esferas se misturam o tempo todo, caracterizando o que ele chama de media life
(traduzindo o termo para o português, temos algo como “vida na mídia” ou “vida
vivida na mídia”). É de autoria de Deuze (2012, p. 10), inclusive, uma fala
bastante representativa: “as mídias1 estão para o ser humano assim como a
água está para o peixe”. Interessante essa frase, não acha? Segundo o autor,
as mídias on-line e offline nos rodeiam constantemente. Não há, portanto, para
onde fugir. Estamos imersos nas mídias o tempo todo.
O uso que fazemos de smartphones e notebooks exemplifica bem a
premissa proposta por Mark Deuze. Ao mesmo tempo que conversamos com
alguém presencialmente, podemos tirar o celular do bolso para consultar e-mails
ou realizar uma postagem nas redes sociais. Ao trabalhar em uma cafeteria com
um notebook, podemos concluir tarefas profissionais e comprar produtos em um
e-commerce estrangeiro, enquanto tomamos um delicioso cappuccino. Viu só
como realmente não é possível separar as esferas on-line e offline?

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Mídias são tecnologias (digitais ou analógicas) que possibilitam, estruturam e/ou amplificam a
comunicação entre pessoas (Deuze, 2012). Livros e revistas impressos são exemplos de mídias
analógicas, enquanto sites e aplicativos de redes sociais e smartphones podem ser considerados
mídias digitais.
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O teórico Andreas Hepp (2013) defende que o uso de mídias na Era Digital
pode ser analisado a partir de três dimensões: temporal, espacial e social.
Segundo o autor, as mudanças provocadas pelo emprego dessas tecnologias
estão relacionadas a cada uma dessas dimensões. A propósito, Hepp (2013) é
adepto da vertente teórica que designa o período histórico em que vivemos de
midiatização. Existem, ainda, outras formas de nomear a revolução tecnológica,
entre elas:

• Pós-modernidade
• Hipermodernidade
• Modernidade líquida
• Sociedade do espetáculo
• Era da mediação de tudo

A primeira dimensão apontada por Hepp (2013) considera a expansão das


formas de comunicação disponíveis e a instantaneidade da transmissão de
informações. Hoje, em questão de segundos, é possível interagir com pessoas
em diferentes plataformas.
A segunda dimensão refere-se ao fato de que não há mais limitações
físicas para as práticas comunicacionais. Redes de wi-fi e dispositivos
tecnológicos propiciam a comunicação entre indivíduos que estão fisicamente
distantes. Localidades distintas não limitam mais a instantaneidade da
comunicação.
A terceira e última dimensão aponta para o caráter mediador das mídias.
Cada vez mais, as relações sociais são mediadas por tecnologias digitais, não é
mesmo? É só pensar na forma como estabelecemos contato com as pessoas
atualmente. É comum usar redes sociais digitais e aplicativos de relacionamento
como o Tinder para iniciar contato com indivíduos para as mais diversas
finalidades. No ambiente profissional, também dependemos das tecnologias
digitais para realizar o nosso trabalho e para interagir com os nossos colegas.
Inclusive, a pandemia de COVID-19 exacerbou esse processo, já que muitas
empresas passaram a adotar o home office definitivamente.

TEMA 2 – CONSUMO NA ERA DIGITAL

Se as tecnologias digitais têm mediado cada vez mais as relações sociais,


podemos supor que o consumo também está relacionado a esse processo,

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certo? Para “começo de conversa”, a popularização do uso da internet e das
mídias digitais contribuiu enormemente para um fenômeno sobre o qual você já
deve ter ouvido falar, chamado globalização. Atualmente, vendemos e
consumimos de forma global. Conforme vimos no tópico anterior, a distância
física não é mais um fator limitador para o consumo, já que, mediante o acesso
à internet, conseguimos adquirir e ofertar produtos/serviços a nível mundial.
A Amazon é um exemplo icônico das possibilidades de consumo
oferecidas pela globalização. Criado em 1994 pelo cientista da computação e
financista Jeff Bezos (Galloway, 2019), o e-marketplace mais valioso do mundo
(até o presente momento) oferece bens de consumo dos mais variados
segmentos, com uma experiência de compra completa, já que todos os canais
de comunicação da empresa são integrados para facilitar o atendimento.

Figura 1 – Sistema logístico da Amazon na França

Créditos: Frederic Legrand - COMEO/Shutterstock.

Outra mudança provocada pela democratização do acesso à internet é o


que Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) chamam de horizontalização do poder
relacionado ao consumo. Quando o acesso à internet ainda era restrito a
pessoas com maior poder aquisitivo, poucos podiam consumir e publicar
informações na web. Nesse cenário, as marcas mais valiosas em termos

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monetários detinham o poder, já que tinham acesso a tecnologias que
propiciavam crescimento estrutural e que podiam disseminar, por meio da
imprensa, as informações que lhes fossem convenientes. Assim, era mais fácil,
para as marcas, controlar o que era publicado sobre elas e construir uma
reputação positiva.
À medida que mais indivíduos começaram a ter acesso à internet, o
conhecimento passou a ser transmitido com mais facilidade. Além disso, ficou
mais fácil produzir e publicar conteúdos na internet. Dessa forma, as empresas
começaram a perder o controle sobre as informações que estavam disponíveis.
Os consumidores, consequentemente, se tornaram mais críticos e exigentes
com as marcas, já que as informações e o conhecimento também estavam em
suas mãos. Os influenciadores digitais são um exemplo disso, não é mesmo?
Se antes as relações de poder entre as empresas e os consumidores
eram verticalizadas – ou seja, ocorria de cima para baixo, já que as organizações
determinavam o que estaria acessível (ou não) aos seus públicos –, hoje elas
são horizontalizadas. Por estarem mais próximas, marcas e consumidores se
encontram na mesma hierarquia (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2017). Essa
premissa não pode ser generalizada, pois temos de considerar que empresas
com maior valor monetário dispõem de recursos que lhes conferem maior poder
de influência, logicamente. Mesmo assim, os consumidores, por terem um
acesso maior à informação, são, mais do que nunca, capazes de manifestar as
suas opiniões e de construir uma influência digital tão sólida quanto a de grandes
marcas.
É fato que os consumidores estão mais empoderados. Mas de que
maneiras o consumo ocorre nesse mundo globalizado e midiatizado? Com a
disseminação das mídias digitais, temos, obviamente, mais opções de canais de
comunicação. Nesse sentido, há a possibilidade de que as empresas se
apropriem dessa variedade de canais, oferecendo experiências de consumo
mais completas e significativas. A estratégia de integrar diferentes canais pode
ser chamada de omnichannel. É o que marcas do ramo vestuário – como Renner
e Amaro – têm feito. Ambas permitem, em seus pontos de venda físicos, que os
clientes finalizem as compras com a ajuda de atendentes ou ainda de maneira
autônoma, mediante estações próprias para essa finalidade. Elas também
possibilitam a aquisição de produtos em plataformas integradas, como
aplicativos e lojas virtuais.

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O mesmo tem acontecido com conteúdos informativos e de
entretenimento. As mídias tradicionais (como rádio e televisão) não
monopolizam mais o acesso à informação. Quem usa a internet e as tecnologias
digitais pode ler notícias tanto em portais jornalísticos quanto em redes sociais
digitais. As opções de entretenimento também são variadas: YouTube, Netflix,
Instagram e TikTok são algumas das plataformas mais populares nesse
segmento.
No livro Cultura da convergência, o teórico Henry Jenkins (2009) defende
o pressuposto de que, no contexto da revolução tecnológica, conteúdos
informativos e de entretenimento fluem entre diferentes canais de comunicação.
Há, então, um diálogo entre diferentes mídias, visando uma melhor experiência
de consumo. Tal diálogo representa o que Jenkins (2009, p. 44) chama de
convergência multimidiática. Conforme o autor, “empresas midiáticas estão
aprendendo a acelerar o fluxo de conteúdo midiático pelos canais de distribuição
para aumentar as oportunidades de lucros, ampliar mercados e consolidar seus
compromissos com o público”.
Um exemplo é a parceria que editoras, emissoras de televisão e
produtoras audiovisuais estabelecem com influenciadores digitais que fazem
sucesso com os seus respectivos públicos, como Kéfera Buchmann – que
lançou, até o momento, os livros Muito mais que 5inco minutos, Tá Gravando, E
agora? e Querido Dane-se (todos pela editora Paralela), além de ter estrelado a
novela Espelho da vida (Rede Globo) – e Christian Figueiredo, que lançou uma
biografia, foi convidado para comandar um quadro no programa “Fantástico”, e
teve a vida retratada no filme Eu Fico Loko.

TEMA 3 – SOMOS O QUE POSTAMOS: A IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA À


VISIBILIDADE

Por que o olhar do outro é tão importante atualmente? O que ele envolve
e qual é a sua finalidade? Para compreender o que significa ver e ser visto no
contexto da Era Digital, precisamos voltar o nosso olhar para o passado. Issaf
Karhawi (que tem se dedicado a estudar, em suas pesquisas, o comportamento
dos influenciadores digitais) discorre, no livro De blogueira a influenciadora
(resultado de sua tese de doutorado), sobre o seu regime de visibilidade nos
principais períodos da história.

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Na Era Medieval, a vida era considerada um plano arquitetado por Deus.
Pela inexistência de uma crença na liberdade humana, a figura divina era
responsável por vigiar e punir os indivíduos. Na Idade Média, imperava a ênfase
na onipresença e na onisciência de Deus – e, consequentemente, da Igreja
Católica. Esse período histórico ficou marcado pela crença de que nenhuma
ação e nenhum pensamento passavam despercebidos por Deus (De Santi,
2009, citado por Karhawi, 2020).
Foi só a partir da Idade Moderna que o olhar divino deixou de ter tanta
importância. Nascia, nessa época, o pensamento humanista, segundo o qual o
ser humano é o centro do mundo. Dessa maneira, dotados de uma liberdade
recém-adquirida, os indivíduos começavam a se engajar na investigação das leis
da natureza, passando a buscar as suas próprias verdades. Evidentemente, o
regime de visibilidade mudou. A subjetividade humana não era mais construída
a partir do olhar divino, e sim sob a ótica dos próprios indivíduos (De Santi, 2009,
citado por Karhawi, 2020).
Apesar de a liberdade do ser humano não ser mais cerceada por Deus e
pela religião, ela passou, ao longo dos séculos, a ser controlada por instituições
ditas disciplinares, como escolas, prisões, hospitais e manicômios. Cabia a elas
definir os comportamentos que eram ou não aceitáveis socialmente. As condutas
não permitidas eram, logicamente, punidas (Foucault, 2014 citado por Karhawi,
2020). De acordo com Karhawi (2020), tinha início, dentro e fora de instituições
disciplinares clássicas, um período em que a preocupação com os bons modos,
e etiqueta e as regras de conduta era acentuada. O olhar público era, portanto,
permeado pelas normas sociais, encarnando a lei e julgando com base no que
a lei estabelecia (Bruno, 2013, citado por Karhawi, 2020). Nesse período
histórico, as pessoas mostravam publicamente apenas o que era permitido pelas
convenções sociais vigentes.
Posteriormente, vivemos uma mudança radical de paradigma. Com a
eclosão e a consolidação dos meios de comunicação de massa, o indivíduo
comum começou a ter mais visibilidade. Seus desejos, necessidades, dores,
fracassos e conquistas passaram a ser escancarados por novas mídias, como a
televisão e o cinema. Dessa forma, as relações sociais passaram a ser mediadas
por imagens que representavam a realidade. Além disso, a partir das modernas
condições de produção e do avanço da economia, o consumo começou a ser
amplamente incentivado, o que culminou com a valorização do ter em detrimento

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do ser. Esse regime de visibilidade é conhecido como sociedade do espetáculo
(Debord, 1997).
A popularização do uso da internet e das tecnologias digitais contribuiu
para que a espetacularização evoluísse ainda mais, ganhando novos contornos.
Se antes poucas pessoas conseguiam aparecer nas mídias tradicionais, hoje
temos acesso a diversas ferramentas que permitem a construção da nossa
própria visibilidade. Ao contrário do que acontecia nas sociedades disciplinares,
que exibiam apenas comportamentos supostamente permitidos pelas
convenções sociais, nos dias atuais somos incentivados a revelar
constantemente a nossa personalidade e a nossa intimidade (Bruno, 2013,
citado por Karhawi, 2020). Quanto mais mostramos as nossas características
singulares e os nossos segredos profundos, mais ganhamos em termos de
valorização e notoriedade.
É exatamente o que acontece com os digital influencers, certo? Na medida
em que eles revelam as suas múltiplas facetas de maneira autêntica, começam
a chamar mais atenção e a ganhar mais visibilidade. Vejamos o que Karhawi
(2020, p. 47) diz sobre esse contexto: “uma breve análise de nosso tempo mostra
que a realização pessoal contemporânea nada tem a ver com ‘encaixar-se na
norma’. Pelo contrário, cada vez mais o indivíduo é incentivado a encontrar suas
particularidades mais íntimas, que o afastam da uniformidade do mundo”.
Somos, portanto, o que mostramos sobre nós mesmos. Assim, se revelamos
publicamente a nossa intimidade, somos ainda mais valorizados e nos sentimos
ainda mais especiais.

TEMA 4 – INFLUENCERS E A CULTURA DA PARTICIPAÇÃO

Compreendemos, ao longo desta etapa, que a Era Digital é marcada pelo


excesso de estímulos das mais diversas tecnologias e pela ausência de
fronteiras entre as esferas offline e on-line. A globalização e a horizontalização
do poder de consumo são, inclusive, implicações importantes desses
fenômenos. Estamos o tempo todo conectados, consumindo e produzindo
conteúdos com os mais variados objetivos. Os digital influencers são um
exemplo dessa realidade.
Porém, além dos fatores que já discutimos, será que existem outros que
contribuem para a eclosão de influenciadores digitais? Um conceito cunhado por
Jenkins em 1992, e empregado por outros autores, nos ajuda a responder a essa
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pergunta. Trata-se do termo cultura da participação, que se refere à produção e
distribuição de conteúdos por grupos de pessoas variados (Jenkins; Green; Ford,
2014, citados por Karhawi, 2020).
Outra mudança de paradigma que tem eclodido no contexto da Era Digital,
além do que discutimos até aqui, provém do fato de que, em razão da
diversidade de ferramentas tecnológicas disponíveis, temos sido incentivados a
participar cada vez mais dos processos de produção de conteúdos, através das
mídias digitais. A imprensa já não detém exclusividade sobre a medição das
informações que são transmitidas para a coletividade. Cada um de nós é capaz,
a partir de um smartphone com câmera, apurar dados e divulgar notícias em
sites, blogs e redes sociais digitais. O mesmo acontece com as marcas:
conforme já conversamos, a horizontalização do poder de consumo tem
permitido que os públicos de interesse dialoguem com as empresas com as
quais mantêm algum tipo de relacionamento.
Segundo Shirky (2011, p. 50), “a revolução está, hoje, centrada no choque
da inclusão de amadores como produtores, em que não precisamos mais pedir
ajuda ou permissão a profissionais para dizer as coisas em público”. De fato, os
grandes conglomerados de mídia e as empresas de renome já não são os únicos
a mediarem a comunicação com os indivíduos. Agora, cabe às tecnologias
digitais fazer isso, com a sua grande velocidade de transmissão de informações
e com uma imensa variedade de recursos. Mas o que significa participar no
contexto da Era Digital? Karhawi (2020, p. 52, grifos do original) nos dá
importantes pistas sobre o tema:

Toda a vez que logamos em nosso perfil em determinada rede social e


escolhemos curtir a página de um jornal ou de um canal de TV,
compartilhar uma notícia ou uma imagem de gatinhos, clicar em um
post patrocinado; em todas essas atividades corriqueiras, estamos
participando e redefinindo os fluxos midiáticos. Participar é fazer-se
presente e é também participar de forma mais efetiva na construção de
um blog de notícias, por exemplo, na concepção de paródias e
remakes no YouTube [e na] criação de memes.

Participar significa, portanto, usufruir dos recursos das mídias digitais de


diversas formas, seja para nos informar e/ou nos entreter, seja para produzir
conteúdos, produtos e serviços para levar informação e/ou entretenimento para
outras pessoas. Os influencers pendem mais para a segunda opção, não é
mesmo?
As motivações podem ser as mais diversas, desde aproveitar o tempo
livre até contribuir para causas sociais. Temos tecnologias digitais à nossa
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disposição, para quaisquer finalidades. Conforme define Karhawi (2020, p. 54),
“o público é munido de autonomia. A existência de mediações não é mais
essencial: a internet se torna um espaço no qual se pode caminhar com as
próprias pernas, com os próprios cliques”.

TEMA 5 – O QUE INFLUÊNCIA DIGITAL TEM A VER COM MARKETING?

Todos somos influentes em alguma medida. Podemos exercer influência


em uma sala de aula, abordando um assunto específico, ou entre milhares de
seguidores, em uma rede social digital. Considerando esse fato, o que diferencia
uma pessoa que é influente em determinado contexto de outra que construiu
uma carreira em torno da própria influência? A resposta, logicamente, não é
simples, mas gira em torno dos objetivos que se deseja atingir.
Se o perguntarem o que o youtuber brasileiro Felipe Neto deseja obter
com a influência que construiu, o que você responderia? É importante considerar
que Felipe atua em frentes profissionais que envolvem, principalmente, a
produção de conteúdos para a internet (inclusive, vamos conhecer a sua
trajetória mais a fundo ao longo deste estudo). Sabendo disso, você
provavelmente responderia que ele visa obter lucro com as empresas que
gerencia e expandir os próprios negócios. Eis o “pulo do gato”: o que diferencia
pessoas meramente influentes de pessoas que construíram uma carreira a partir
da própria influência são os objetivos mercadológicos. Influenciadores digitais
apropriam-se do seu poder de influência para criar modelos de negócios
lucrativos.
E é aqui que entra em cena o marketing. No âmbito da influência digital,
é possível desenvolver produtos/serviços e até mesmo marcas com o intuito de
realizar trocas comerciais com públicos de interesse. Felipe Neto começou a
produzir sátiras no YouTube, despretensiosamente. Em uma época em que as
pessoas não divulgavam tantos vídeos na internet (consequentemente, o
alcance dos conteúdos nas redes sociais era maior), ele construiu uma audiência
fiel, obtendo notoriedade. Ao fomentar a própria influência, o youtuber passou a
publicar conteúdos com certa constância. Como resultado da profissionalização
de seu trabalho e da criação de outras marcas, começou a se beneficiar de seu
elevado retorno financeiro. Podemos, então, partir da premissa de que a

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profissionalização da influência é o que aproxima os digital influencers do
marketing. Faz sentido para você?
Empresas sólidas também são capazes de aprimorar a sua influência por
meio da internet. Vale salientar que elas não precisam ter surgido no contexto
da Era Digital para seguir nessa direção, mas precisam levar em conta
determinadas diretrizes. A pesquisadora Carolina Terra (2021) apresenta, em
sua pesquisa de pós-doutorado, algumas dessas diretrizes, por meio de um
método criado por ela, que vamos estudar mais a fundo em conteúdo posterior.
O marketing de conteúdo é uma estratégia que traz um embasamento importante
para o desenvolvimento de ações que contribuem para o aumento da visibilidade
e para a construção de influência e reputação. Vejamos as principais vantagens
de profissionalizar a influência digital:

• Obtenção de retorno financeiro


• Construção de reputação positiva
• Fortalecimento da marca responsável
• Aumento da visibilidade e da notoriedade entre os públicos de interesse

TROCANDO IDEIAS

Após a realização da pesquisa proposta na seção “Na Prática”, discuta


com uma pessoa próxima os resultados obtidos. Tenha sempre em mente os
objetivos por trás de cada estratégia, comparando os resultados alcançados. O
que funcionou e o que não funcionou? Caso as ações não tenham funcionado,
reflita sobre as possíveis causas para isso.

NA PRÁTICA

Nesta etapa, estudamos alguns cases de influencers que firmaram


parcerias com empresas de renome para ampliar a sua visibilidade em mídias
tradicionais, como canais de televisão e editoras de livros. Pesquise outros
exemplos de influenciadores que seguiram esse caminho e responda às
seguintes perguntas:

• Qual é a trajetória do(a) influencer?


• Com qual(is) empresa(s) ele(a) estabeleceu parcerias?
• Em quais outras mídias ele(a) passou a marcar presença?

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• Quais foram os principais benefícios obtidos para o(a) influencer e para
a(s) empresa(s) parceira(s)?

FINALIZANDO

Chegamos ao fim desta etapa. Iniciamos a nossa conversa abordando


características do momento histórico popularmente conhecido como Era Digital.
A partir disso, analisamos as novas formas de consumir produtos, serviços e
conteúdos nesse contexto.
Em seguida, situamos os influenciadores digitais no âmbito da
midiatização. Compreendemos os diferentes regimes de visibilidade ao longo do
tempo e a importância da espetacularização e da intimidade na Era Digital. Por
fim, avaliamos uma importante mudança de paradigma da contemporaneidade,
com referência à cultura da participação, e discutimos o papel da influência digital
no âmbito do marketing.
Posteriormente, vamos compreender quem são os digital influencers, de
onde vêm e com que finalidade exercem a sua influência. Nos vemos lá!

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REFERÊNCIAS

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do


espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

DEUZE, M. Media Life. Cambridge, UK: Polity Press, 2012.

GALLOWAY, S. Os quatro: Apple, Amazon, Facebook e Google. Rio de Janeiro:


Alta Books, 2019.

HEPP, A. Cultures of Mediatization. Cambridge: Polity Press, 2013.

JENKINS, H. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009.

KARHAWI, I. De blogueira a influenciadora: etapas de profissionalização da


blogosfera de moda brasileira. Porto Alegre: Sulina, 2020.

KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0: do tradicional ao


digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.

NEVES, M. ‘A dona do pedaço’: perfil da ‘influencer’ Vivi Guedes une ficção e


realidade e ruma ao 1º milhão. G1, 9 ago. 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2019/08/09/a-dona-do-pedaco-perfil-da-
influencer-vivi-guedes-une-ficcao-e-realidade-e-ruma-ao-1o-milhao.ghtml>.
Acesso em: 21 jul. 2022.

SHIRKY, C. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo


conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

TERRA, C. F. Marcas influenciadoras digitais: como transformar organizações


em produtoras de conteúdo digital. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2021.

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