Impacto Do Exercicio Fisico No Transtorno Do Espectro

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Artigo de Revisão

Impacto do exercício físico no transtorno do espectro


autista: uma revisão sistemática

Effectiveness of physical exercise in invasive development disorders


in autism: a systematic review

CORRÊA VP, GONZALES AI, BESEN E, MOREIRA E, DA CUNHA J, PAIVA


KM, HAAS P. Impacto do exercício físico no transtorno do espectro autista: uma Vanessa P.Corrêa¹
revisão sistemática. R. bras. Ci. e Mov 2020;28(2):89-99. Ana I Gonzales²
Eduarda Besen 1
Emanuelle Moreira¹
RESUMO: Introdução: o transtorno do espectro autista, por vezes denominado como transtornos
invasivos do desenvolvimento, apresenta características clínicas centrais que incluem déficits qualitativo s
Josiane da Cunha¹
na interação social e na comunicação, padrões de comportamento rep etitiv os e est ereotip ado s e um Karina Mary Paiva¹
repertório limitado de interesses e atividades. Esse transtorno geralmente está associado ao transtor no do Patricia Haas¹
desenvolvimento da coordenação. Objetivo: verificar evidências científicas do impacto do exercício físico
no tratamento do indivíduo portador do transtorno do espectro autista, inclusive quan to à co or denação
motora e desenvolvimento cognitivo. Métodos: foram realizadas buscas nas bases de dados pubmed,
¹ Centro de Ciências da
lilacs, scielo e pedro sem restrição de idiomas ou localização e tempo até maio de 2019. A p esquisa f o i Saúde. Núcleo de
realizada na base de dados com descritores selecionados a partir do dicionário descritores em ciências da Pesquisa e Extensão em
saúde (decs) medical subject heading terms (mesh) [(autistic disorder) and (asperger syn dro me) a nd Saúde (NUPES).
(exercise) and (cognition)], tendo como critério de inclusão o fato de tratarem-se de estudos com o uso de
Universidade Federal de
exercício físico. Foi verificada a qualidade metodológica dos artigos incluídos através do protocolo
modificado de pithon. Resultados: foram identificados 655 artigos, dos quais soment e 7 cum p rir am o s Santa Catarina.
critérios de inclusão estabelecidos. Cada um dos estudos retratou abordagens distintas dos exercícios ² Núcleo de Cardiologia e
físicos, sendo aeróbios, de força, aquáticos, ou com uso de tecnologias. A quantidade e duração das Medicina do Exercício-
sessões dos exercícios variaram de estudo para estudo. Conclusão: os programas de ex er cício s f ísicos
trazem benefícios em diversos aspectos dos pacientes. Os programas de exer cício s n o m eio aquát ico
NCME, Centro de
aparentemente se mostraram os mais eficazes. Abre-se, assim, uma lacuna na literatura para novos estudos Ciências da Saúde e do
que busquem explicações para esses resultados. Esporte(CEFID).
Universidade do Estado
Palavras chave: autismo, síndrome de asperger, exercício
de Santa Catarina.

ABSTRACT: Introduction: autism spectrum disorder, sometimes referred to as invasive dev elop mental
disorders, has central clinical characteristics that include qualitative deficits in so cial in teraction and
communication, repetitive and stereotyped behavior patterns and a limited rep erto ire o f in ter est s and
activities. This disorder is usually associated with developmental coordination diso r der . Objectiv e: t o
verify scientific evidence of the impact of physical exercise on the treatment of individuals wit h aut ism
spectrum disorder, including motor coordination and cognitive development. Metho ds: s ear ches wer e
carried out in the pubmed, lilacs, scielo and pedro databases without restriction of languages o r lo catio n
and time until may 2019. The research was carried out in the database with descriptors selected f r o m t he
health sciences descriptors dictionary ( decs) medical subject heading terms (mesh) [(autistic disorder) and
(asperger syndrome) and (exercise) and (cognition)], having as inclusion criteria the f act that t hey ar e
studies with the use of physical exercise. The methodological quality of the articles included was verif ied
through the modified pithon protocol. Results: 655 articles were identified, o f wh ich o nly 7 m et t he
established inclusion criteria. Each of the studies portrayed different approaches to phy sical ex ercises,
being aerobic, strength, aquatic, or using technologies. The number and duration o f ex ercise sessio ns
varied from study to study. Conclusion: physical exercise programs have benefits in sev er al asp ects o f
patients. The exercise programs in the aquatic environment hav e ap par en tly p r oved t o be t h e m ost
effective. Thus, a gap in the literature opens up for new studies that seek explanations for these results.

Ke ywords: autistic disorder, asperger syndrome, exercise

Recebido: 07/06/2019
Contato: Patrícia Haas - patricia.haas@ufsc.br Aceito: 30/04/2020
CORRÊA et al. 90

Introdução
A nomenclatura da cid 11, conduzida pela organização mundial da saúde 1 , apresentada aos países em 2019, com
previsão de entrada em vigor em 2022, unifica os assim chamados transtornos globais ou invasivos do desenvolvimento
em uma única categoria, dando ênfase quanto a cognição e desenvolvimento da linguagem. O transtorno o espectro
autista inclui déficits qualitativos na interação social, déficits na comunicação, padrões d e comportamento repetitivos e
estereotipados, além de um repertório limitado de interesses e atividades 2 , em graus variados de acometimento. Quanto
à etiologia, a inespecificidade dos dados obtidos é marcante, embora a associação com fatores biológicos seja
indiscutível3 . O tea, afeta cerca de 1% da população brasileira, sendo quatro vezes mais comum no sexo masculino,
manifestando-se tipicamente já nos três primeiros anos de vida 4 .
Diante de um paciente portador de tea, pode-se diagnosticar transtorno do desenvolvimento da coordenação, de modo
que falhas no desenvolvimento da coordenação motora global ocasionam atraso na aquisição de habilidades motoras
finas e complexas, bem como distúrbios da percepção, incapacitando essas crianças de utilizar os estímulos sensoriais
na discriminação do que é importante ou não, e tal erro de seletividade prejudica ainda mais a eficiência da função
motora 5 .
A atividade física diária e moderada é de fundamental importância no desenvolvimento das crianças, promovendo
aptidão física e prevenindo possíveis doenças crônicas 6 . Nesse sentido, sugere-se que as atividades físicas sejam
indicadas no tratamento do tea 7 . Missuina et al8 demonstram que, com treino extra, essas crianças podem aperfeiçoar
certas habilidades, ainda que a aquisição de novas tarefas motoras novas possa apresentar algumas dificuldades.
Crianças com tea necessitam de intervenção precoce para ajudá-las a aprender estratégias para compensar suas
dificuldades de coordenação, se sentirem melhor consigo mesmas e evitarem possíveis problemas secundários às
dificuldades do desenvolvimento motor 8 .
nesse contexto, este estudo teve por objetivo responder as seguintes perguntas de pesquisa: qual a eficácia da utilização
do exercício físico no tratamento complementar do indivíduo diagnosticado com tea? Quais modalidades demonstram
até o momento dados plausíveis de eficácia de intervenção com resultados positivos nesta população?

Método
Caracterização da pesquisa e estratégias de busca
A revisão sistemática foi conduzida conforme as recomendações do preferred reporting intems for systematic reviews
and meta-analyses (prisma) 9 .
A busca por artigos científicos foi conduzida por pesquisadores independentes nas bases de dados eletrônicos medline
(pubmed), lilacs, scielo e pedro desde o início das bases até maio de 2019. A pesquisa foi estruturada e organizada na
forma picos, que representa um acrônimo para population, intervention, comparison, outcomes, study (tabela 1).

Tabela 1. Estrutura “picos” utilizada para guiar a busca de evidências nas bases de dados medline (pubmed),
lilacs, scielo e pedro

Acrônimo Definição

P (população alvo) Pacientes autistas e com síndrome de asperger

I (intervenção) Exercício físico

C (controle) Na

O (desfechos) Impacto nos movimentos estereotipados

S (tipos de estudo) Estudo de caso


Estudo longitudinal
Estudo clínico

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A procura foi baseada nas palavras do dicionário medical subject heading terms (mesh), descritores e operadores
boleanos. A primeira busca foi realizada na base de dados pubmed conforme se segue: [(autistic disorder) and
(asperger syndrome) and (exercise)] . A busca nas bases subsequentes teve adequações de acordo com a mesma, o
termo [(autistic disorder)] foi substituído por [(autistic)] quando necessário. Para complementar, foi realizada uma
busca manual nas referências dos artigos incluídos na pesquisa e no google scholar, considerada busca cinza.

Critérios de elegibilidade
Critérios de inclusão

a presente revisão incluiu estudos de intervenção referentes à abordagem do tratamento com exercício físico no
transtorno do espectro autista, ainda que com nomenclatura prévia a cid 11 – autismo e síndrome de asperger1 . Os
critérios de inclusão: pacientes com diagnóstico de autismo ou síndrome de asperger, de ambos os sexos, com idade
entre 2 e 19 anos de idade, submetidos a tratamento terapêutico que tenha utilizado como uma das abordagens o
exercício físico.

Critérios de exclusão
Alterações neurológicas associadas, estudos que apresentaram outros métodos de intervenção que não utilizassem
exercícios físicos, intervenções pouco claras, mal descritas ou inadequadas. Não houve restrição de idioma e/ou
localização para as buscas, e todos os estudos incluídos foram traduzidos quando necessário e possível. O quadro 1
apresenta a síntese dos critérios de inclusão e exclusão da presente revisão.

Quadro 1. Resumo dos critérios de inclusão e exclusão utilizados no estudo

Critérios de inclusão

Delineamento Estudos de caso, estudos longitudinais e estudos clínicos

Localização Sem restrição

Idioma Sem restrição

Critérios de exclusão

Delineamento Revisão de literatura e metanálise, estudos transversais, carta ao editor

Estudos Estudos pouco claros, mal descritos ou inadequados

Forma de publicação Somente em resumos

Seleção dos estudos


A seleção dos estudos foi realizada por dois examinadores independentes. Inicialmente foram excluídos estudos
duplicados, após baseados no título, em seguida, os resumos foram analisados e apenas os que foram potencialmente
elegíveis foram selecionados para avaliação na íntegra. As divergências foram resolvidas por consenso entre os autores.

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Análise de dados

A extração dos dados para o processo de elegibilidade dos estudos foi realizada utilizando -se uma ficha elaborada pelos
pesquisadores em programa excel®, na qual os dados extraídos foram adicionados inicialmente por um dos
pesquisadores e então conferida pelo outro pesquisador. Um conjunto padronizado de dados foi coletado de cada artigo
selecionado. Os dados incluíram informações sobre as características demográficas dos pacientes incluídos nos estudos,
tipo de estudo, intervenção realizada e suas características, avaliações realizadas e resultados obtidos. Quando
necessário, os autores correspondentes dos estudos foram contatados para san ar dúvidas e\ou fornecer informaçõ es n ão
apresentadas no estudo publicado.

Avaliação da qualidade metodológica dos estudos

A avaliação da qualidade metodológica dos estudos foi realizada utilizando o protocolo modificado de pithon et al. 10 foi
verificada a qualidade metodológica dos artigos incluídos, assinalando -se a pontuação obtida, por meio de um protocolo
para pontuação qualitativa dos estudos selecionados, modificado da literatura, com escores, sendo categorizados como
de alta qualidade (entre 13 e 11 pontos), moderada qualidade (entre 10 e 6 pontos) e baixa (inferior a 6 pontos).

Tabela 2 - protocolo para pontuação qualitativa da metodologia, modificado de pithon et al com score máximo de treze
pontos.
1. Caracterização do estudo (pontuação máxima: treze)
A. Descrição adequada da população (pontuação máxima: dois)
Itens analisados: idade, sexo e condição do doente:
Dois pontos quando todos os itens foram atingidos;
Um ponto quando dois itens foram atingidos;
Zero ponto quando um ou nenhum item foi atingido.
B. Descrição dos critérios de seleção (pontuação máxima: um)
C. Tamanho da amostra (pontuação máxima: dois)
Item analisado: número de participantes:
Dois pontos quando a amostra foi igual ou maior do que 31(*) participantes;
Um ponto quando a amostra esteve entre 30 e 19 participantes;
Zero ponto quando houve menos do que 19 participantes.
D. Comparação com grupo controle (pontuação máxima: um)
E. Randomização declarada (pontuação máxima: um)
F. Descrição dos critérios de avaliação do impacto da audição no declínio cognitivo no
envelhecimento. (pontuação máxima: um) hem??? Corrigir
G. Descrição do teste da audição e declínio cognitivo. (pontuação máxima: um)
corrigir
2. Descrição das medidas do estudo (pontuação máxima: dois)
H. Método apropriado ao objetivo do artigo (pontuação máxima: um)
I. Estudo cego para os examinadores e estatística (pontuação máxima: um)
3. Análise estatística (pontuação máxima: dois)
J. teste estatístico adequado (pontuação máxima: um)
K. apresentação do p-valor (pontuação máxima: um)
Legenda: pontuação do questionário = a: alta qualidade: entre 13 e 11 pontos; moderada qualidade entre 10 e 6 pontos;
baixa qualidade abaixo de 6 pontos. B: itens b, d, e, f, g, h, i, j, k: 1 ponto quando foi considerado adequado e 0 pontos

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quando não foi.* número obtido a partir da quantidade de sujeitos de uma pesquisa brasileira.

Resultados

Inicialmente, um total de 655 artigos, foram identificados na pesquisa. Após avaliação por títulos e resumos, 15 estudos
foram selecionados para avaliação completa. Ao final somente 7 artigos foram selecionados por cumprirem todos os
critérios de inclusão (figura 1). Dos sete artigos selecionados, o mais antigo foi do ano de 1993 11 , o mais recente
publicado no ano de 201912 . Ambos retrataram abordagens diferentes dos exercícios físicos, sendo aeróbicos, de força,
aquáticos ou com uso de tecnologias. A quantidade e duração das sessões dos exercícios apresentaram ampla variação
entre os estudos: de 12 a 90 minutos, de uma única sessão a até 4 sessões semanais por 48 semanas (tabela 3).
Levinson e reid 11 realizaram uma série de casos com 3 indivíduos autistas, sendo eles dois meninos e uma menina com
11 anos de idade. As crianças passaram por dois programas de exercícios de diferentes intensidades. Um programa era o
exercício leve, com 15 minutos de caminhada e o outro era mais intenso, com 15 minutos de jogging. Houve redução
parcial de movimentos estereotipados por cerca de 90 minutos após as sessões de jogging, mas não de caminhada. De
forma similar, celiberti et al13 . Publicaram o caso de uma criança de 5 anos com alto grau de movimentos
estereotipados. Essa criança participou de dois programas de exercícios, 6 minutos de caminhada contínua e lenta e 6
minutos de corrida moderada. Após descanso por 3 minutos, retorn ava para a sala de aula, onde observou-se que por 40
minutos houve redução de movimentos estereotipados.
Pan 14 realizou um estudo com 16 crianças entre 6 e 9 anos, todas do sexo masculino. Eles participaram de um programa
de natação duas vezes por semana, em sessões de 90 minutos. Após 10 semanas, houve melhora significativa nas
habilidades de natação e diminuição dos problemas comportamentais, entre os quais movimentos estereotipados.
Também, essas crianças apresentaram melhor equilíbrio, velocidade, agilidade, potência muscular, força muscular,
flexibilidade e função cardiorrespiratória. Também com exercícios aquáticos, fragala, haley e o’neil 6 estudaram 12
crianças com diagnóstico de tea. O programa foi de duas vezes por semana, em sessões de 40 minutos. Os exercícios
entram divididos entre atividades aeróbias, treinamento de força, resistência muscular e alongamento. Em todos os itens
avaliados houve melhora, sendo a principal a habilidade de natação, e algumas crianças apresentaram melhora mais
significativa que outras.
Com relação a equitação, gabriels et al 15 dividiu dois grupos de crianças com o diagnóstico de tea, no qual o grupo
intervenção passava por diversas lições de equitação terapêutica dividida entre habilidades terapêuticas e habilidades d e
equitação. O grupo controle não teve contato com os cavalos. Dentre as 116 crianças participantes que completaram
toda a intervenção, de duração de doze meses, houve resultados positivos em comparação com o grupo controle na
irritabilidade e hiperatividade a partir da quinta semana. Também houve melhora nos quadros de cognição social e
comunicação social.
Maskey et al16 apresentou a realidade virtual como opção terapêutica a fim de diminuir a ansiedade em situações de
fobia para crianças autistas. O estudo foi realizado com nove meninos entre 7 e 13 anos de idade, que passaram por
quatro sessões de realidade virtual entre 20 e 30 minutos cada uma. Após as sessões, oito meninos conseguiram
enfrentar as situações de fobia e quatro conseguiram enfrentar completamente essas situações. O acompanhamento
mostra que as crianças mantiveram os resultados por doze meses.
o trabalho de toscano, carvalho e ferreira 12 abrangeu 64 crianças entre 6 e 12 anos, sendo 46 em um grupo
experimental e 18 em um grupo controle. O grupo experimental participou de exercícios de força, equilíbrio e
coordenação de 40 minutos por sessão em 48 semanas. O estudo constatou uma melhora na saúde metabólica das
crianças do grupo exposto comparados ao grupo controle com redução de elementos do autismo na percepção dos pais.
Entretanto, houve limitações metodológicas na coleta de informações sobre a qualidade de vida, já que eram os pais que
forneciam tais informações.

Figura 1. Fluxograma da seleção dos artigos.

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Tabela 3. Resultados extraídos dos estudos selecionados como elegíveis neste estudo

Autor/ano/tipo Descrição da Descrição da intervenção Descrição das Resultados


de estudo amostra utilizada nos estudos avaliações
realizadas

Pan (2010)14 N= 16 Exercícios aquáticos Na primeira fase de Melhoras no


10 semanas, oito equilíbrio da criança,
Sexo feminino =
crianças (ga) agilidade, força
0
Ensaio clínico 90 minutos de exercícios receberam o wesp, muscular dos
controlado Sexo masculino = aeróbicos na água, 2x/10 enquanto oito membros inferiores e
16 semanas. crianças (gb) não. superiores e aptidão
Uma segunda fase de cardiovascular. Além
Média de idade =
10 semanas foi de redução dos
- seguida movimentos
imediatamente, com estereotipados.
os tratamentos
revertidos. Ambos os
grupos continuaram

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seu tratamento /
atividade regular ao
longo do estudo

Fragala, N= 12 Exercícios aquáticos As habilidades de Melhora nas


haley,o’neil natação, resistência habilidades
Sexo feminino =
(2011)6 cardiorrespiratória, funcionais, além de
-
40 minutos de atividade resistência muscular, evolução no
Sexo masculino = aeróbica, treinamento de força habilidades de exercício de natação.
Série de casos - e resistência muscular e mobilidade e
alongamento, 2x/14 semanas. satisfação dos
Média de idade = participantes e dos
-
pais foram medidas
antes e após a
intervenção

Levinson, reid N=3 Exercício aeróbicos Foram Uma redução de


(1993)11 implementados dois movimentos
Sexo feminino =
programas de estereotipados
-
15 minutos de caminhada exercícios que (imediatamente após
Sexo masculino = (exercício leve) e 15 minutos diferiram com base o jogging) em
- de jogging (exercício na intensidade 17,5%.
rigoroso), o teste foi medida pela
Média de idade =
realizado apenas uma vez. frequência cardíaca.
- A frequência de
comportamentos
estereotipados foi
medida antes do
exercício,
imediatamente após o
exercício e após x
tempo findo o
exercício.

Celiberti et al. N= 1 Exercício aeróbicos Comportamentos Redução


(1997)10 auto-estimuladores dos movimentos
Sexo femenino =
desadaptativos foram estereotipados
-
6 minutos de caminhada rastreados imediatamente após
Relato de caso Sexo masculino = contínua e lenta e 6 minutos separadamente, a conclusão dos
1 de corrida moderada, o teste permitindo a exercícios.
foi realizado uma vez só. identificação de
Média de idade =
comportamentos
5,9
mais suscetíveis à
mudança (por
exemplo, auto-
estimulação física e
comportamento "fora
do banco") versus
aqueles que eram
mais resistentes (por
exemplo, auto-
estimulação visual).

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Gabriel et al. N = 127 Equitação terapêutica Participantes com tea Melhoras


(2016)15 foram estratificados significativas na
Sexo feminino =
por escores padrão irritabilidade,
15
10 semanas de intervenção não-verbais de qi hiperatividade,
Teste controlado e Sexo masculino = com avaliação um mês antes e (≤85 ou> 85) e cognição social e
aleatório 101 um mês após o tratamento. randomizados para 1 comunicação social
Foi realizada observação de 2 grupos por 10
Média de idade = semanas: intervenção
semanal do comportamento
11 anos
thr ou atividade de
celeiro grupo
controle sem cavalos
que usaram métodos
semelhantes. A
fidelidade da
intervenção thr foi
monitorada.

Maskey et al. N=9 Realidade virtual No ambiente de Após o estudo, oito


(2014)16 realidade virtual, os dos nove
Sexo feminino =
participantes foram participantes
-
4 sessões de realidade virtual treinados por um conseguiram
Série de casos Sexo masculino = com duração de 20 – 30 psicólogo em enfrentar as situações
9 minutos cada uma. técnicas cognitivas e de fobia e os
comportamentais resultados
Média de idade =
(por exemplo, foram mantidos por
10 anos
exercícios de 12 meses.
relaxamento e
respiração) enquanto
a exposição ao
estímulo de fobia /
medo aumentava
gradualmente à
medida que a criança
se sentia pronta.

toscano et al. N= 120 Exercícios de força e Crianças Houve melhoras


(2019)12 diagnosticadas com significativas no
Sexo feminino = Coordenação
transtornos do aspecto de qualidade
-
espectro autista de vida avaliado pela
Estudo Sexo masculino = foram avaliadas em família.
48 semanas de intervenção,
longitudinal 120 três ocasiões
sendo duas sessões de até 40
repetidas em um
Média de idade = minutos por semana, período de 4 anos.
7,2 anos realizando atividade de força e
Foram considerados
coordenação
estatura, massa
corporal e índice de
massa corporal. O
modelo multinível
bayesiano foi
utilizado para
descrever os padrões
de crescimento
individual.

Discussão
o transtorno do espectro autista refere-se a um conjunto de distúrbios da socialização com início precoce e curso

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97 Nível de atividade física, qualidade de vida e fatores psicológicos em professores universitários

crônico 17 . Estima-se que haja cerca de 70 milhões de pacientes autistas em todo o mundo 18 , e a sistematização
diagnóstica tem feito com que haja aumento constante de incidência na população mundial, merecendo destaque sua
caracterização por kanner19 , levando a busca por tratamentos mais eficazes 17 . As alterações motoras relacionadas ao tea
acontecem em decorrência de alterações nos padrões de sulcamento cortical nos lobos frontais e temporais, bem como
pelo mau funcionamento de estruturas como o cerebelo, a amígdala, o hipocampo, o corpo calo so e o giro do cíngulo 5 .
Tais regiões cerebrais participam do processamento da informação referente ao ato motor voluntário (planejamento,
sequenciação e execução) 20 .
A alteração da coordenação motora ocasiona atraso na aquisição de habilidades motoras finas e complexas
(coordenação motora global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal). Crianças autistas também
apresentam distúrbios da percepção que as incapacitam de usar estímulos sensoriais para discriminar o que é importante
ou não, isto é, ocorre um erro de seletividade, prejudicando, assim, a função motora eficiente 5 . O exercício físico tem se
mostrado promissor na redução de comportamentos repetitivos em crianças autistas, bem como na melhora da função
cognitiva21 . Uma vez que os indivíduos com transtorno do espectro autista podem apresentar deficiências em
habilidades motoras, são pouco propensos a se envolver em exercícios, por falta de oportunidade 22 ou até mesmo receio
de realizar as atividades físicas devido suas limitações . Então, a princípio, sugere-se que o nível de complexidade de
exercícios físicos para as crianças com autismo seja mais baixo do que para os indivíduos normativos 6 .
O tratamento para indivíduos com tea deve ser integrador e multidisciplinar, principalmente para sua evolução cognitiva
e motora23 , envolvendo desde medicamentos até acompanhamento pedagógico, psicológico, fonoaudiólogo e físico 24 .
Nesse sentido, a função do fisioterapeuta é essencial no acompanhamento desses pacientes, trabalhando o
desenvolvimento motor e a ativação de áreas de concentração e interação social 25 . O acompanhamento físico pode ser
realizado por também por educadores físicos ou ser um trabalho multiprofissional, como é realizado em algumas
escolas de educação especial.
Movimentos estereotipados são características comuns na criança autista 26 . O exercício físico também pode contribuir
diretamente na redução de estereotipia. Há a hipótese de que os comportamentos estereotipados (por exemplo, balançar
o corpo, o braço batendo e girando em círculos) ocorrem porque produzem consequências internas agradáveis para o
indivíduo (ou seja, o reforço automático). Uma vez que o exercício envolva mecanismos corporais semelhantes, é
possível que essas crianças obtenham este reforço automático durante as sessões, de modo a que elas aceitem melhor a
realização de tarefas acadêmicas ou relacionadas ao trabalho 27 .
Embora não incluídos na presente revisão, os estudos mais recentes apresentam a tendência em focar na eficácia dos
exercícios aquáticos para indivíduos portadores do tea. A imersão em água geralmente é um estímulo agradável para a
criança e oferece resistência, melhorando o tônus muscular normal e permitindo o movimento mais eficiente 28 ,
aumentando a força e a capacidade aeróbica 6 . A flutuabilidade permite o início do movimento independente, o qual não
é possível em exercícios de solo devido a força gravitacional29 . A hidroterapia também fornece estimulação visual e
auditiva, tentando também melhorar a respiração, de modo a possibilitar um maior equilíbrio e controle pessoal 30 .
Nos trabalhos aqui levantados, houve também uma observação quanto a prevenção de sobrepeso em pessoas com tea,
conforme constatado por diversos autores 31 . Por sua vez, a qualidade de vida tem sido avaliada a partir de questionários
aos pais, já que a questão familiar de convivência, rotina, emoção, tempo e comportamento tem um impacto direto na
qualidade de vida dos pacientes 32 .
No geral, em uma comparação entre os resultados de hidroterapia e os exercícios aeróbios de solo, pode -se observar que
os exercícios aquáticos tiveram um melhor resultado na redução dos movimentos estereotipados. Isso confirma o que
attwood 33 sugeriu no seu manual the complete guide to asperger’s syndrome, que a capacidade de nadar foi menos
afetada em crianças autistas do que em outras atividades físicas. Afastando-se um pouco dos tratamentos baseados em
exercícios físicos, estudos mais atuais trazem a realidade virtual e as terapias com animais como alternativas para as
crianças com tea.

Conclusão

Ainda há escassez de estudos sistemáticos sobre a abordagem fisioterapêutica no tea, mas opções com resultados
iniciais promissores incluem a realidade virtual, a terapia com animais e as terapias em meio aquático. Espera-se que
com o trabalho cotidiano de fisioterapeutas pediátrico s ou neurológicos, obtenham-se evidências mais robustas sobre o
assunto, buscando tratamentos mais eficazes.
Referências

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https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5702:oms-divulga-nova-classificacao-
internacional-de-doencas-cid-11&itemid=8752
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