AES5P6 - Malária - 241019 - 082202
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Ciclo biológico
No hospedeiro vertebrado (humanos):
Ciclo exoeretrocítico, pré-eritrocítica ou tissular:
1) Esporozoíto infectante é inoculado pelo inseto (vetor) em seu hospedeiro vertebrado
2) Eles são inseridos na derme do humano pelo inseto, alcançando vasos sanguíneos e linfáticos posteriormente (nesse último
caso, a maioria é destruída no linfonodo mais próximo).
3) Os esporozoítos podem atravessar células do hospedeiro, nelas se desenvolvendo e formando vacúolo parasitóforo até
alcançarem os hepatócitos (células do fígado)
4) Quando invadem o hepatócito, o esporozoíto se diferencia em trofozoíto pré-eritrocítico que se multiplicam por esquizogonia,
originando esquizontes teciduais, células multinucleadas que, posteriormente, irão se dividir e dar origem a merozoítos:
a. P. falciparum e P. vivax: 1 semana para realizar o desenvolvimento
b. P. malariaes: 2 semanas
c. P. vivax e P. ovale: podem dar origem a hipnozoítos
5) Esses merozoítos serão levados para a corrente sanguínea por meio de vesículas denominadas merossomos que levam
esses merozoítos maduros até os capilares sinuisoides hepáticos.
Obs.: anteriormente, acreditava-se que os merozoítos seriam liberados na corrente sanguínea por meio da ruptura dos
hepatócitos, contudo, essa ideia já foi anulada, pois houve a descoberta dos merossomos.
OBS.: esporozoítos da espécie P. vivax podem dar origem a hipnozoítos
recaídas tardias da doença, pois a esquizogonia é feita tardiamente. A reativação desse hipnozoíto ainda não é bem
esclarecida, mas há evidências sobre a associação com uma nova infecção de malária, bactérias e parasitas concomitante a
essa primeira infecção para que esse hipnozoíto saia do estado latente.
Móvel, apesar de não possuir cílios nem flagelos, apresentando outras estruturas que garantem essa mobilidade, sendo estas
proteínas presentes na superfície do parasito, exemplos:
o Circum-esporozoito (CS)
o Proteínas adesivas relacionadas à trombospondina (TRAP)
Eles podem transitar por diferentes células do hospedeiro, contudo, possuem o hepatócito como célula-alvo, sugerindo que
há moléculas no parasito que são específicas para receptores na superfície do hepatócito:
o Proteína CS do parasito possui a região II que se liga a proteoglicanos de cadeias de heparan-sulfato na superfície dos
hepatócitos, possibilitando a infecção destes.
O comportamento de migração ou invasão celular apresentado pelo esporozoíto varia de acordo com a conformação da
proteína CS:
o Domínio C-terminal exposto esporozoíto realiza migração
o Domíno N-terminal exposto esporozoíto realiza invasão celular
Ciclo eritrocítico:
1) Merozoitos tissulares invadem os eritrócitos por meio do reconhecimento de receptores específicos que variam conforme a
especie:
a. P. falciparium: glicoforinas (glicoproteínas presentes nos eritrócitos), invadindo hemácias em diferentes fases de
maturação
b. P. vivax: glicoproteínas do grupo sanguíneo duffy, invadindo apenas reticulócitos
c. P. malariae: invade apenas hemácias maduras
2) Após adentrar o eritrócito, o Plamodium sp. se desenvolve por esquizogonia, formando esquizontes (célula multinucleada) que
irá se romper e liberar novos merozoitos, estes ser serão liberados na corrente sanguínea para invadir outros eritrócitos.
3) Passadas gerações de merozoítos sanguíneos, eles começam a se diferenciar em gametócitos. Esses gametócitos serão
capturados pelo mosquito vetor quando este picar o humano infectado e realizar o repasto sanguíneo, assim, ele irá se
desenvolver no interior do mosquito vetor.
a. A produção de gametócitos nas infecções pelo P. falciparium ocorre mais tardiamente, enquanto é iniciada logo após as
primeiras esquizogonias sanguíneas nas infecções por P. vivax, P. malariae e P. ovale.
Esse ciclo sanguíneo se repete a cada 48h nas infecções por P. falciparium, P. vivax e P. ovale e a cada 72h nas infecções por
P. malariae.
Os esquizontes e trofozoítos causam complicações ao seu hospedeiro por causa da fonte nutritiva deles, sendo ela:
Hemoglobina (principalmente)
Glicose, metionina, biotina, algumas purinas e pirimidinas, fosfato e ácido paraminobenzoido (PABA).
Habitat
O habitat desse parasito varia conforme a sua fase do ciclo.
No homem derme, corrente sanguínea, hepatócitos e eritrócitos.
No inseto interior da matriz peritrófica (epitélio médio), hemolinfa e glândulas salivares.
Transmissão
Mosquito humano: ocorre quando as fêmeas do mosquito anofelino (do gênero Anopheles) infectadas com esporozoítos
em suas glândulas salivares inoculam o esporozoíto no homem durante o repasto sanguíneo (hematofagia/picada).
Homem mosquito: indivíduos infectados (até mesmo assintomáticos) que possuem gametócitos a forma sexual desse
parasito na sua circulação sanguínea.
Mamíferos mosquito: primatas não humanos podem ser reservatórios para a P. malariae.
Transfusão sanguínea
Infecção congênita
Morfologia
Os plasmódios variam em tamanho, forma e aparência de acordo com seu estágio de desenvolvimento.
OBS.: formas evolutivas extracelulares com capacidade de invadir células hospedeiras (esporozoítos, merozoítos e oocineto)
possuem um complexo apical formado por organelas como roptrias e micronemas que participam do processo de invasão
celular. Esse complexo é AUSENTE em formas intracelulares (trofozoítos, esquizontes e gametócitos)..
Característica geral:
Apresentam 2 membranas:
Membrana externa simples
Membrana interna dupla (fenestrada e incompleta principalmente na extremidade anterior, no local
do completo apical)
Esporozoíto:
Unicelular com núcleo central.
Bicamada membranosa a membrana externa com bastante proteína CS que participa da invasão celular durante o ciclo
Trofozoito:
Esporozoíto adentra os hepatócitos, perdendo organelas do complexo apical.
Arredondado
Células capazes de invadir hemácias (seja originada nos hepatócitos seja nos eritrócitos).
Unicelular com núcleo central.
Trofozoíto (após
Arredondada adentrar
Menor que o esporozoíto. hepatócitos)
Membrana externa trilaminar
Merozoítos
Macrogameta:
Célula com estrutura proeminente na superfície, onde é feita a penetração do microgameta para a fecundação.
Oocineto:
Alongado e vermiforme.
Móvel com núcleo volumoso e excêntrico (não ocupa a região central celular
Oocisto:
Esférica.
Grânulos pigmentados no seu interior, apresentando cores e distribuições que variam conforme a espécie.
Envolto por uma cápsula.
Apresenta tamanho único em
infecções baixas, contudo,
dimensões múltiplas nas infecções
intensas.
Em infecções antigas, a parede do
oocisto fica aderida ao intestino
médio, tornando-se quitinosa.
Vetor:
Família: Culicidae
Gênero: Anopheles
eles costumam colocar seus ovos
em água parada, onde eles se
separam e as larvas eclodem cerca
de 4 dias depois. Essas larvas se
transformam em pupas cerca de 10
dias depois.
As larvas e pupas se desenvolvem
em meio aquático, indo para
superfície para respirar.
O inseto adulto insetos adultos se
alimentam de água e seivas vegetais.
Contudo, após o acasalamento, as
fêmeas necessitam de uma fonte
nutritiva maior, tornando-se
hematófagas, o que facilita a
transmissão de doenças.
Resistência inata:
Ela é inerente ao hospedeiro e está presente mesmo quando não houver um contato anterior com o parasita.
Absoluta: protege completamente o indivíduo da doença.
Relativa: a doença começa a se desenvolver, mas não há um avanço desse processo infeccioso.
Desse modo, a infecção é controlada pelo hospedeiro antes mesmo de ele apresentar manifestações clínicas da doença.
Fatores que provocam a resistência inata:
A maioria está associado a fatores genéticos do hospedeiro.
Ausência de receptores específico para merozoítos na superfície de eritrócitos, impossibilitando essa ligação (ex.: há
populações da África sem o receptor duffy em seus reticulócitos, por isso, não é comum encontrat infecção por P. vivax em
algumas regiões.
Anemia falciforme: raramente, pessoas afetadas pela anemia falciforme (traço genético HbAS) desenvolvem malária grave,
por 2 razões:
o parasitismo das hemácias leva ao aumento do consumo de oxigênio, diminuindo a pressão desse gás. Assim, as
membranas desses eritrócitos são modificadas pelo estresse oxidativo, sendo fagocitados por macrófagos, o que
prejudica o crescimento e desenvolvimento do parasito.
o nos eritrócitos falciformes, o nível de potássio intracelular é diminuído, pois há baixa afinidade da hemoglobina S pelo
oxigênio, levando à morte do parasito.
Talassemia: condição em que a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue é normal, contudo, há mais hemoglobinas
(proteína transportadora de O2) de cadeia GAMA ou DELTA do que de cadeia , isso prejudica o desenvolvimento parasitário
no eritrócito
Deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase: a hemoglobina com essa carência é falcilmente oxidadaa, formando
metahemoglobina (tóxica para o parasito).
Antes de penetrar: induzem a produção de anticorpos contra antígenos presentes na sua superfície (especialmente,
direcionados a proteína CS), dificultando a penetração do parasito na célula hospedeira.
Após a penetração (no interior da célula): há a ação de linfócitos T citoctóxicos e citocinas (ex.: INF- , IL-1, IL-16 e TNF- ).
Ação da imunoglobulina G:
Anticorpos opsonizantes promovem a fagocitose de eritrócitos infectados.
Anticorpos citolíticos (subclasses IgG1 e IgG3) se ligam aos monócitos e promovem a inibição do crescimento do parasito no
interior do eritrócito.
Quadro clínico
O período de incubação da malária varia conforme a espécie do Plasmodium sp.:
P. falciparum: 9 a 14 dias
P. vivax: 12 a 17 dias Período de incubação: parasito
está presente no corpo,
P. malariae: 16 a 18 dias contudo, ainda não há
P. ovale: 16 a 18 dias manifestação da doença
Fases periódicas:
Passada a fase inicial, a febre ressurge de forma intermitente, pois ela acompanha o momento de ruptura das hemácias
com esquizontes maduros.
Esse período varia conforme a espécie:
P. falciparum, P. ovale e P. vivax: 48h
P. malariae: 72h
Contudo, atualmente, o tratamento precoce modifica esse padrão, que passa a ser de febres irregulares cotidianas.
Fase crônica:
Quadros de infecção encontrados em regiões endêmicas.
Esplenomegalia
Hepatomegalia
Anemia, leucopenia e plaquetopenia
Níveis de IgM total e IgG antiplasmódio são elevados
Hipoalbunemia e edema (nos casos de P. malariae)
Diagnóstico
Ocorre pela demonstração do parasito ou de seus antígenos no sangue do hospedeiro.
Obs.: indivíduos semi-imunes moradores de regiões hiperendêmicas podem apresentar o parasito no sangue e serem
assintomáticos.
Diagnóstico clínico:
Os sintomas da malária são inespecíficos, sendo difícil de diferenciá-los de outras infecções, assim, programas oficiais
determinam que, em situação de epidemia ou em áreas de difícil acesso ao serviço de saúde, indivíduos com febre já sejam
considerados portadores de malária.
Nesse caso, o importante é uma anamnese bem feita, sendo analisada a área de residência do paciente, locais para onde
viajou recentemente e se fez alguma transfusão sanguínea (malária induzida).
Diagnóstico laboratorial:
Análise da gota de sangue:
É realizado pela análise da presença de parasitos no sangue do hospedeiro pelo esfregaço espesso ou delgado do sangue:
1) Realização da coleta da gota de sangue
2) Aplicação da coloração vital (azul-de-metileno ou Giemsa)
3) Visualização do parasito por microscopia óptica
Esse método é rápido e possui baixo custo.
Maísa Raquel M37
Deve ser feita em 0,2ml de sangue, apresentando diferentes classificações expressa em cruzes:
+/2: 40 a 60 parasitos/100 campos de gota espessa
+: 1 parasito/campo de gota espessa
++: 2 a 20 parasitos/campo de gota espessa
+++: 21 a 200 parasitos/campo de gota espessa
++++: +200 parasitos/campo de gota espessa
A diferenciação do tipo de parasito também é necessária para o tipo de tratamento que será realizado.
Métodos imunocromatófagos:
São feitos com a ação de anticorpos monoclonais e policlonais direcionados para a proteína2 rica em histidina do P.
falciparum; a enzimas desidrogenases do lactato e aldolases presentes nos 4 tipos de Plamodium sp.
Esse método possui elevada eficácia e especificidade, sendo usado em locais sem profissionais competentes para análise
microcópica.
Não realiza diagnostico de uma infecção mista
Epidemiologia
É uma doença que afeta principalmente regiões tropicais e subtropicais.
A característica intermitente dessa doença foi descrita em achados escritos chineses datados de 3000 a.C. e tábuas
mesopotâmicas. Remetendo a uma doença presente há milênios no mundo.
Em áreas de alta transmissão da malária, crianças e adolescentes são as principais fontes de infecção para o mosquito
vetor, pois possuem níveis de gametócitos circulantes maiores que adultos infectados.
Endêmica:
Incidência estável de casos durante sucessivos anos em uma região.
A endemicidade da região é definida pela proporção de crianças entre 2 e 10 anos com esplenomegalia:
Hipoendêmica: < 10%
Mesoendêmico: 11% a 50%
Hiperendêmico: 51 a 75%
Holoendêmico: 75% <
Podendo também ser classificada de acordo com a frequência de incidência:
Estável: nível de transmissão é alto, não sofrendo alterações significativas no decorrer dos anos (pode haver alterações
sazonais), não sendo frequente epidemia.
Instável: a incidência varia a cada ano, podendo ocorrer epidemias, uma vez que maior parte da população está vulnerável
e exposta ao parasito.
No Brasil, há uma classificação espcífica feita pelo Programa Nacional de Controle da Malária:
Alto risco: 50 casos/1000 habitantes
Médio risco: 10 a 49 casos/1000 hab
Baixo risco: inferior a 10 casos/1000 hab
Epidêmica:
Há o agravamento dessa doença em determinados períodos, sendo o número de casos maior do que o esperado (até
mesmo em regiões que ela já é endêmica).
Brasil:
No país, a malária tem distribuição heterogênea (endêmica apenas em algumas regiões), infectando principalmente
trabalhadores de determinadas partes da Amazônia e populações ribeirinhas, por exemplo, garimpeiros e indivíduos envolvidos
em projetos agropecuários e de colonização. Desse modo, como a população desses assentamentos no interior da Amazônia
não está imune à doença, ela possui uma elevada taxa de morbidade entre eles.
Assim, a Amazônia é local com maior número de casos não apenas no Brasil, mas na América Latina, sendo a maioria das
infecções por P vivax e o P. malariae de ocorrência rara.
Também pode ser comum em regiões periféricas de algumas cidades, sendo trazida por imigrantes infectados. Assim, as
más condições de habitação e a presença de vetores da doença favorece a instalação de focos (ex.: Belém e Manaus).
Profilaxia
Medidas de proteção individual:
Consistem em evitar o contato do mosquito anofelino (vetor) com a pele, para não haver inoculação. Desse modo, há
recomendações que são feitas a moradores de áreas endêmicas ou pessoas que estão viajando para essas regiões:
Uso de roupas claras e de manga longa, aplicando repelente nas regiões expostas (medicamentos ou alimentos que
promovem sudorese com odor forte no hospedeiro ex.: alho e tiamina também devem ser consumidos)
Instalar barreiras em janelas e portas, fazendo uso de ar-condicionado e mosqueteiro
Evitar locais com maior presença do vetor no período noturno, pois é seu momento de maior atividade.
Quimioprofilaxia:
Na ausência de uma vacina profilática, pode ser feito o uso de antimaláricos com ação esquizonticida sanguínea (evita a
formação de merozoítos no sangue).
Há críticas à persistência d uso desse meio, uma vez que tem possibilitado o desenvolvimento de resistência em Plasmodium
falciparum.
Essa não é uma medida adotada efetivamente no Brasil, pois o medicamento usado aqui (doxiciclina 100mg/dia) não possui
tanta eficiência, já que sua dose eficiente é próxima da tóxica. Sendo indicados para viajantes, principalmente internacionais,
em que a prevalência não será de mais de 60 dias na região endêmica.
Medidas coletivas:
Elas visam reduzir o nível de transmissão em regiões endêmicas.
Medidas de combate ao vetor adulto:
Borrifar inseticidas em paredes de moradias
Espalhar inseticidas no ar de regiões próximas a locais de moradias (inclusive, em florestas)
Vacinas:
Baseando-se no conhecimento sobre a imunidade naturalmente adquirida, estudos para identificar antígenos de diferentes
estágios e possíveis para serem usados em vacinas têm sido desenvolvidos.
Algumas vacinas já foram testadas, apresentando resultados diversos.
Brasil:
Como a prevalência da doença é maior em regiões de assentamentos da Amazônia, medidas tradicionais de
enfrentamento como o uso de inseticidas contra o mosquito vetor têm eficácia menor nessas regiões, uma vez que as
condições ambientais são extremamente favoráveis à proliferação da doença.
Nesse sentido, a partir de 1993, há ações específicas realizadas em território brasileiro para conter o avanço da doença:
Diagnóstico precoce e tratamento imediato dos casos
Uso de medidas seletivas contra o vetor
Detecção de epidemias oportunas rapidamente
Monitoramento constante dos fatores de risco, havendo uma avaliação regular a situação local da malária.