Licenciamento Ambiental
Licenciamento Ambiental
Licenciamento Ambiental
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................2
2. CONCEITO, FUNDAMENTOS E NATUREZA JURÍDICA .............................................................2
3. ETAPAS ........................................................................................................................................4
3.1. Estudos ambientais ................................................................................................................6
4. ATIVIDADES SUJEITAS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL ......................................................7
5. COMPETÊNCIA ............................................................................................................................8
5.1. Competência para o licenciamento em APAs ......................................................................11
5.2. Requisitos para o ente efetuar o licenciamento ambiental ................................................... 13
5.3. Taxa Incidente sobre o licenciamento ambiental .................................................................. 14
5.4. Competência supletiva e competência subsidiária ...............................................................15
5.5. Competência para a fiscalização ambiental ........................................................................17
6. LICENÇA AMBIENTAL ................................................................................................................19
6.1. Natureza jurídica da licença ambiental .................................................................................20
6.2. Publicidade da licença ambiental ..........................................................................................21
6.3. Tipos de licença ambiental....................................................................................................22
6.4. Prazo para a análise da licença ambiental ............................................................................23
6.5. Prazos de validade da licença ambiental .............................................................................24
6.6. Renovação da licença ambiental ..........................................................................................25
6.7. Revisão da licença ambiental ...............................................................................................25
6.8. Regularização de atividades em funcionamento .................................................................. 26
6.9. Compensação ambiental ......................................................................................................27
6.10. Erro na concessão de licença ambiental e reparação por lesão ao meio ambiente ........... 30
7. CRIMES RELATIVOS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL ....................................................... 31
1. INTRODUÇÃO
A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81 – LPNMA), responsável pela
compatibilização do desenvolvimento das atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente,
elencou, dentre seus instrumentos, o licenciamento de atividades potencialmente poluidoras.
O licenciamento ambiental foi definido pela Resolução 237/97 do CONAMA como o proce-
dimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, insta-
lação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer
forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares
e as normas técnicas aplicáveis ao caso (art. 1º, I).
1 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
2 Nada obstante, é possível que hipóteses de licenciamentos especiais tenham regulamentação específica, tal
O licenciamento ambiental dispõe de base constitucional e não pode ser suprimido, ainda que de
forma indireta, por lei. Também não pode ser simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a norma
que o excepcionar apresentar outro instrumento apto a assegurar a proteção ao meio ambiente com
igual ou maior qualidade.
STF. Plenário. ADI 6.808/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 28/04/2022.
A princípio, todos os entes políticos, diretamente ou por meio de seus entes integrantes
da Administração Pública Indireta têm o dever constitucional de exercer o poder de polícia
ambiental. Isso porque a proteção ao meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas
formas são competência comum da União, Estados, DF e Municípios. (art. 23, VI, da CF/88 4).
3 Art. 78 do CTN. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou discipli-
nando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exer-
cício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade
pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
4 Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VI – proteger o
3. ETAPAS
5“(...) cria-se para o Poder Público um dever constitucional, geral e positivo, representado por verdadeiras
obrigações de fazer, isto é, de zelar pela defesa (defender) e preservação (preservar) do meio ambiente. Não
mais tem o Poder Público uma mera faculdade, mas está atado por verdadeiro dever. Quanto à possibilidade
de ação positiva de defesa e preservação, sua atuação transforma-se de discricionária em vinculada. Sai da
esfera da conveniência e oportunidade para se ingressar num campo estritamente delimitado, o da imposição,
onde só cabe um único e nada mais que único comportamento: defender e proteger o meio ambiente”. Direito
do Ambiente. Édis Milaré. 2016.
5. Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;
Obs.: A audiência pública poderá ou não acontecer, não tendo cunho obrigatório. A realização
dar-se-á:
Todavia, caso não seja realizada a audiência pública, tendo havido requerimento de alguns dos
legitimados, a licença concedida será inválida.
5
7. Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;
Por fim, o art. 12, § 2º, da Resolução 237/97 do CONAMA previu a admissão de processo
de licenciamento único para pequenos empreendimentos e atividades similares e vizinhos
ou para aqueles integrantes de planos de desenvolvimento aprovados, previamente, pelo ór-
gão governamental competente, desde que definida a responsabilidade legal pelo conjunto de
empreendimentos ou atividades.
3.1. ESTUDOS AMBIENTAIS
Art. 1º, III – Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais
relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento,
apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental,
plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de
manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.
Nessa linha de raciocínio, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA) elencou a
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como instrumento da PNMA, para a implementação dos
seus objetivos fundamentais (art. 9º, III, da Lei 6938/81).
Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou empreendimento não
é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambi-
entais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento. 6
Não são todas as atividades que estão sujeitas ao licenciamento, mas somente aquelas
utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem
como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental.
Nessas atividades, o procedimento administrativo de licenciamento será obrigatório.
• Indústria metalúrgica
• Indústria mecânica
• Indústria de madeira
• Indústria de borracha
• Indústria química
• Indústria de fumo
• Indústrias diversas
• Obras civis
• Serviços de utilidade
• Turismo 8
• Atividades diversas
• Atividades agropecuárias
5. COMPETÊNCIA
Conforme mencionado, a CF/88 definiu a competência comum dos Entes Políticos para
proteção do meio ambiente.
Até o advento da LC 140/11, por falta de regulamentação do art. 23 da CF, diversas correntes
doutrinárias se firmaram na tentativa de estabelecer os critérios para definir, em cada caso, qual seria
a autoridade competente para emitir a anuência do Estado, em matéria de licenciamento.
Não obstante, nada impede que os demais entes se manifestem, sem efeito vinculante,
no procedimento instaurado:
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Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um
único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei
Complementar.
§ 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável pela li-
cença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licen-
ciamento ambiental.
O art. 7º da LCP 140/2011 dispõe sobre a competência da União, nos seguintes termos:
Critério da Dominialidade
Critério Geográfico
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição
da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da
atividade ou empreendimento.
Obs.: O Decreto 8.437/15 estabeleceu que serão licenciados pela União atividades relacio-
nadas a rodovias federais, ferrovias federais, hidrovias federais, portos organizados, terminais de
uso privado e instalações portuárias, exploração e produção de petróleo, gás natural e outros hidro-
carbonetos fluidos e sistemas de geração e transmissão de energia elétrica.
Por sua vez, o art. 8º da LC 140/11 firma a competência residual dos Estados-membros
– todos os empreendimentos que não sejam de competência da União ou dos Municípios.
Competência Residual
XIV – observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar,
promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia
definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de
porte, potencial poluidor e natureza da atividade. A propósito:
“Cabe aos municípios promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos que
possam causar impacto ambiental de âmbito local.”
STF. Plenário. ADI 2.142/CE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 24/06/2022.
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Critério do Ente instituidor da UC
Art. 10. São ações administrativas do Distrito Federal as previstas nos arts. 8º e 9º.
Segundo o STF, a lei estadual pode criar modelo simplificado de licenciamento ambiental
para regularização de atividades ou empreendimentos em instalação ou funcionamento e para ati-
vidades de baixo e médio potencial poluidor — sem que se cogite violação ao princípio do pacto
federativo e às regras do sistema de repartição de competências:
“Cabe à União elaborar as normas gerais sobre proteção do meio ambiente e responsabilidade por
dano ambiental, de modo a fixar, no interesse nacional, as diretrizes que devem ser observadas pelas
demais unidades federativas (CF/1988, art. 24, VI e VIII). Assim, em matéria de licenciamento ambi-
ental, os estados possuem competência suplementar, a fim de atender às peculiaridades locais e
preencherem lacunas normativas que atendam às características e necessidades regionais.
Conforme jurisprudência desta Corte, os estados podem criar procedimentos ambientais simplificados
em complementação à legislação federal.
Na espécie, a lei estadual impugnada criou a Licença de Regularização (LR) e a Licença Ambiental
por Adesão e Compromisso (LAC), as quais se situam no âmbito normativo concorrente e concretizam
o dever constitucional de suplementar a legislação sobre licenciamento ambiental (Lei federal
6.938/1981), à luz da predominância do interesse em estabelecer procedimentos específicos para
atividades e empreendimentos locais.”
STF. Plenário. ADI 5.014/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 10/11/2023.
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Art. 12. Para fins de licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de re-
cursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, e para autorização de supressão e manejo de vegetação, o critério do ente
federativo instituidor da unidade de conservação não será aplicado às Áreas de Proteção
Ambiental (APAs).
9 Lei 9985/00. Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes
para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
naturais.
§ 1º A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas.
§ 2º Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de
uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental.
§ 3º As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público
serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade.
§ 4º Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visi-
tação pelo público, observadas as exigências e restrições legais.
§ 5º A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua admi-
nistração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da
população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei.
Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável pelo licenciamento e autorização a que
se refere o caput, no caso das APAs, seguirá os critérios previstos nas alíneas “a” 10, “b” 11, “e” 12, “f” 13
e “h” 14 do inciso XIV do art. 7o, no inciso XIV 15 do art. 8o e na alínea “a” 16 do inciso XIV do art. 9o.
13 f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo,
aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar no
97, de 9 de junho de 1999;
14 h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão
Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Co-
nama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento;
15 XIV – promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º;
16 a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos
respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade; ou
Art. 20 – Os entes federados, para exercerem suas competências licenciatórias, deverão ter imple-
mentados os Conselhos de Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação social e, ainda,
possuir em seus quadros ou a sua disposição profissionais legalmente habilitados. 17
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Obs.: A LC 140 (art. 5º 19) previu a possibilidade de um ente federativo delegar, mediante
convênio, a execução de ações administrativas a ele atribuídas, dentre as quais as de licencia-
mento, desde que o ente destinatário da delegação atenda, tanto quanto, os requisitos acima refe-
ridos – disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações administrativas delegadas e
de conselho de meio ambiente.
É possível que seja instituída, por lei, taxa incidente sobre a promoção do licenciamento,
decorrente do exercício do poder de polícia ambiental, pelo ente competente. A exação tem por
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objetivo ressarcir o Estado pelos custos despendidos nas análises e procedimentos formais
relacionados ao licenciamento.
Art. 13 – O custo de análise para a obtenção da licença ambiental deverá ser estabelecido por dispo-
sitivo legal, visando o ressarcimento, pelo empreendedor, das despesas realizadas pelo órgão ambi-
ental competente.
Parágrafo único. Facultar-se-á ao empreendedor acesso à planilha de custos realizados pelo órgão
ambiental para a análise da licença 20.
atribuídas nesta Lei Complementar, desde que o ente destinatário da delegação disponha de órgão ambiental
capacitado a executar as ações administrativas a serem delegadas e de conselho de meio ambiente.
Parágrafo único. Considera-se órgão ambiental capacitado, para os efeitos do disposto no caput, aquele que
possui técnicos próprios ou em consórcio, devidamente habilitados e em número compatível com a demanda
das ações administrativas a serem delegadas.
20 Resolução CONAMA 237/97.
Art. 13. § 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem
guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado pelo ente
federativo.
Não é demais destacar que o cumprimento dessa obrigação tributária não garante ao inte-
ressado a concessão da licença requerida nem o isenta de imposição de penalidade por infração
às normas ambientais vigentes.
Obs.: A taxa em comento não se confunde com a Taxa de Controle e Fiscalização (TCFA),
instituída pela Lei 6.938/8121 e seu pagamento não gera crédito para compensação entre as espécies.
Art. 17-P. § 1º Valores recolhidos ao Estado, ao Município e ao Distrital Federal a qualquer outro título,
tais como taxas ou preços públicos de licenciamento e venda de produtos, não constituem crédito
para compensação com a TCFA. 22
Nos casos específicos em que o ente inicialmente competente para o licenciamento am-
biental não atenda aos requisitos para exercício dessa atribuição, instaura-se a competência 15
supletiva do ente “superior”, nos seguintes termos:
21 Art. 17-B. Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA, cujo fato gerador é o exer-
cício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – Ibama para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de
recursos naturais."
22 Lei 6938/1981.
Semelhantemente, é pressuposto hábil a atrair a atuação supletiva de outro órgão ambiental
o não cumprimento dos prazos legais para a emissão da licença ambiental, pelo órgão licen-
ciador competente.
Art. 14 da LCP 140/11: Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tra-
mitação dos processos de licenciamento. (...)
§ 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica
emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a compe-
tência supletiva referida no art. 15.
Por sua vez, a competência subsidiária se verifica na ação do ente federativo que visa a
auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns.
Quando em atuação subsidiária, o ente federativo atua conjuntamente com o ente federativo
detentor das atribuições.
O pacto federativo atribuiu competência aos quatro entes da federação para proteger o meio ambiente
através da fiscalização. A competência constitucional para fiscalizar é comum aos órgãos do meio
ambiente das diversas esferas da federação, inclusive o artigo 76 da Lei Federal n. 9.605/1998 prevê
a possibilidade de atuação concomitante dos integrantes do SISNAMA. Atividade desenvolvida com
risco de dano ambiental a bem da União pode ser fiscalizada pelo IBAMA, ainda que a competência
para licenciar seja de outro ente federado. 23
Dito de outra forma, o ente competente para licenciar ou autorizar uma determinada ativi-
dade ou empreendimento será o responsável originário pela sua fiscalização. Nada obstante, a
fiscalização ambiental, como manifestação do poder de polícia, decorre da competência ma- 17
terial comum para proteger o meio ambiente e poderá ser exercida por todos os entes.
1. Tratando-se de proteção ao meio ambiente, não há que falar em competência exclusiva de um ente
da federação para promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser
exercido pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano este-
jam ocorrendo. 2. O Poder de Polícia Ambiental pode – e deve – ser exercido por todos os entes
da Federação, pois se trata de competência comum, prevista constitucionalmente. Portanto, a com-
petência material para o trato das questões ambientais é comum a todos os entes. Diante de uma
infração ambiental, os agentes de fiscalização ambiental federal, estadual ou municipal terão
o dever de agir imediatamente, obstando a perpetuação da infração. 24
Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de
um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo adminis-
trativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou
atividade licenciada ou autorizada.
23 STF. AgRg no REsp 1417023/PR, DJe 25/08/2015. Relator Ministro Humberto Martins.
24 STJ. AgRg no REsp 1.373.302-CE, julgado em 11/6/2013. Relator Ministro Humberto Martins.
§ 2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federa-
tivo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou
mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis.
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição
comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencial-
mente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevale-
cendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licencia-
mento ou autorização a que se refere o caput.
No caso, não há que se falar em substituição da competência comum por competência privativa,
porque essa dimensão estática das competências administrativas é articulada à dimensão dinâmica,
performada pelas atuações supletivas e subsidiárias.
É inconstitucional regra que autoriza estado indeterminado de prorrogação automática de licença am-
biental. No ponto, o legislador foi insuficiente em sua regulamentação, uma vez que não disciplinou
qualquer consequência para a hipótese da omissão ou mora imotivada e desproporcional do órgão
ambiental diante de pedido de renovação de licença ambiental. Deve incidir o mesmo resultado nor-
mativo previsto para a hipótese de omissão do agir administrativo no processo de licenciamento, eis
que o legislador ofereceu resposta adequada, consistente na atuação supletiva de outro ente fede-
rado (LC 140/2011, art. 15).
No exercício da cooperação administrativa cabe atuação suplementar – ainda que não conflitiva – da
União com a dos órgãos estadual e municipal. Nesse contexto, o critério da prevalência de auto de
infração do órgão licenciador (LC 140/2011, art. 17, § 3º) não oferece resposta aos deveres funda-
mentais de proteção, nas situações de omissão ou falha da atuação daquele órgão na atividade
fiscalizatória e sancionatória, por insuficiência ou inadequação da medida adotada para prevenir ou
reparar situação de ilícito ou dano ambiental.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes os
pedidos de declaração de inconstitucionalidade dos arts. 4º, V e VI, 7º, XIII, XIV, h, XV e parágrafo
único, 8º, XIII e XIV, 9º, XIII e XIV, 14, § 3º, 15, 17, caput e §§ 2º, 20 e 21, todos da LC 140/2011 e,
por arrastamento, da integralidade da legislação; e julgou parcialmente procedente a ação para con-
ferir interpretação conforme a Constituição Federal: (i) ao § 4º do art. 14 da LC 140/2011, para o fim
de estabelecer que a omissão ou mora administrativa imotivada e desproporcional na manifestação
definitiva sobre os pedidos de renovação de licenças ambientais instaura a competência supletiva do
art. 15; e (ii) ao § 3º do art. 17 da LC 140/2011, esclarecendo que a prevalência do auto de infração
lavrado pelo órgão originalmente competente para o licenciamento ou autorização ambiental não
exclui a atuação supletiva de outro ente federado, desde que comprovada omissão ou insuficiência
na tutela fiscalizatória.”
STF. Plenário. ADI 4.757/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 12/12/2022.
Obs.: Consoante o art. 70, § 3º, da Lei 9.605/1998: A autoridade ambiental que tiver conheci-
mento de infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo
administrativo próprio, sob pena de corresponsabilidade.
Observe-se que, caso haja uma múltipla atuação sobre o mesmo fato e agente, prevalecerá
o auto de infração da autoridade ambiental competente para a autorização ou o licenciamento
da atividade.
I. Competência dos entes federativos em matéria de fiscalização ambiental atualmente regulada pelo 19
art. 17 da Lei Complementar nº 140/2011, que instituiu um sistema de prevalência, sem afastar a
competência comum constitucionalmente prevista.
II. Atividade concretamente licenciada deve ser preferencialmente fiscalizada pelo órgão ambiental
emissor da licença, impondo-se a efetiva atuação do órgão fiscalizador supletivo em caso de omissão
do órgão primariamente competente. Em situação de duplicidade de autuações, caberá a prevalência
da fiscalização realizada pelo órgão licenciador, com reconhecimento da insubsistência do auto de
infração anteriormente lavrado pelo órgão fiscalizador supletivo, desde que a penalidade aplicada no
processo originário ainda não esteja definitivamente constituída. 25
6. LICENÇA AMBIENTAL
O termo “licença” é geralmente utilizado, em direito administrativo, para definir o ato formal
que manifesta a concordância do Poder Público com determinada obra ou atividade.
A licença ambiental, por sua vez, é definida na Resolução 237 do CONAMA como o ato
administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e
medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou
jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos
recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qual-
quer forma, possam causar degradação ambiental (art. 1º, II).
Na seara ambiental, por sua vez, conquanto carregue a mesma denominação, a licença
reveste-se de características próprias:
A. Discricionária: Não é ato vinculado, pois é marcada pela discricionariedade (ainda que
fundamentada em dados técnicos).
Basta recordarmos que, ainda que o EIA aponte um empreendimento como desfavorável, a
autoridade ambiental pode viabilizar o licenciamento (ou vice-versa), de forma que o órgão não está
20
vinculado às conclusões veiculadas nos estudos ambientais 26. O mesmo se dá com as conclusões
alcançadas em audiência pública, quando integrante do procedimento licenciatório.
C. Não gera direito adquirido: mesmo que o empreendedor cumpra todos requisitos e
condicionantes demandados, não há que se falar em direito subjetivo à conces-
são da licença requerida;
No tocante à licença já concedida, igualmente aqui não há que se falar em direito ad-
quirido ou definitividade. Podem sobrevir regras mais restritivas aptas a alterar os requisitos
e condicionantes de licenças já emitidas, o que impõe, inclusive, a adequação de atividades em
funcionamento.
26 A não vinculatividade do Poder Público deve-se ao fato de que o EIA não oferece uma resposta objetiva e
simples acerca dos prejuízos ambientais que uma determinada obra ou atividade possa causar. É um estudo
amplo, que merece interpretação, em virtude de elencar os convenientes e inconvenientes do empreendi-
mento, bem como ofertar as medidas cabíveis à mitigação dos impactos ambientais negativos e medidas
compensatórias. Não se trata de formalismo simplório, sem teor ou conteúdo interpretativo. Licenciamento e
Compensação Ambiental. Erika Bechara. 2009.
A complexidade ambiental não permitiria que a atividade de concessão da licença se cir-
cunscrevesse à simples verificação de cumprimento, por parte do empreendedor, de requisitos
precisos, pré-estabelecidos e imutáveis.
Com base nessas características, parte da doutrina sustenta que a licença ambiental tem
natureza jurídica de “autorização”.
Art. 17. 4º Resguardado o sigilo industrial, os pedidos de licenciamento, em qualquer das suas
modalidades, sua renovação e a respectiva concessão da licença serão objeto de publicação
resumida, paga pelo interessado, no jornal oficial do Estado e em um periódico de grande circulação,
regional ou local, conforme modelo aprovado pelo Conama.
27 Podemos afirmar que a licença ambiental — enquanto licença — deixa de ser um ato vinculado para ser
um ato com discricionariedade sui generis. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. Celso Antonio Pacheco
Fiorillo. 2013.
28 “Não há falar, portanto, em equívoco do legislador na utilização do vocábulo ‘licença’, já que disse exata-
mente o que queria (lex tantum dixit quam voluit). O equívoco está em se pretender identificar na ‘licença
ambiental’, regida pelos princípios informadores do Direito do Ambiente, os mesmos traços que caracterizam
a ‘licença tradicional’, modelada segundo o cânon do Direito Administrativo, nem sempre compatíveis. O pa-
rentesco próximo não induz, portanto, considerá-las irmãs gêmeas.” Direito do Ambiente. Édis Milaré. 2016.
29 Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem,
respectivamente sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências.
6.3. TIPOS DE LICENÇA AMBIENTAL
A legislação classifica a licença ambiental em três espécies distintas, que poderão ser
expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empre-
endimento ou atividade:
Obs.: 1: Nas atividades que causem pequeno impacto ambiental, são possíveis o abandono
do sistema trifásico e a adoção de licença única.
É possível que o órgão ambiental estabeleça prazos de análise diferenciados para cada
modalidade de licença (LP, LI e LO), tendo em vista as peculiaridades da atividade ou empreendi-
mento, bem como para a formulação de exigências complementares.
Tais prazos, entretanto, devem respeitar o limite máximo de 6 meses, desde o protocolo
do requerimento. Esse interregno, todavia, será de 12 meses, nos casos em que se realizar, no
procedimento, EIA/RIMA ou audiências públicas. 23
Art. 14 – O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de análise diferenciados para
cada modalidade de licença (LP, LI e LO), em função das peculiaridades da atividade ou empreendi-
mento, bem como para a formulação de exigências complementares, desde que observado o prazo
máximo de 6 (seis) meses a contar do ato de protocolar o requerimento até seu deferimento ou
indeferimento, ressalvados os casos em que houver EIA/RIMA e/ou audiência pública, quando o
prazo será de até 12 (doze) meses.
§ 1º – A contagem do prazo previsto no caput deste artigo será suspensa durante a elaboração dos
estudos ambientais complementares ou preparação de esclarecimentos pelo empreendedor.
§ 2º – Os prazos estipulados no caput poderão ser alterados, desde que justificados e com a concor-
dância do empreendedor e do órgão ambiental competente. 33
O não cumprimento dos prazos estipulados, tal como descritos acima, sujeita o licen-
ciamento à ação do órgão que detenha competência para atuar supletivamente in casu. Não há
que se falar, contudo, em autorização tácita para atividade ou emissão tácita de licença ambiental.
LC 140. Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação
dos processos de licenciamento.
§ 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emis-
são tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência
supletiva referida no art. 15.
Parágrafo Único – O prazo estipulado no caput poderá ser prorrogado, desde que justificado e com
a concordância do empreendedor e do órgão ambiental competente.
Note-se que essa solicitação deve ser feita uma única vez, ressalvadas aquelas decorrentes
de fatos novos e que, uma vez notificadas, essas exigências suspendem o prazo de aprovação
da licença.
Cada uma das espécies de licença ambiental tem prazo específico definido na legislação 34.
O prazo de validade inicialmente estabelecido pode ser prorrogado, desde que não
ultrapasse o prazo máximo de 5 anos.
Segundo art. 14, § 4º, da LC 140/11, a renovação de licenças ambientais deve ser requerida
com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade,
fixado na respectiva licença.
Art. 19 – O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os condicio-
nantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida,
quando ocorrer:
investimentos empreendidos.36
Observe que tais prazos podem, eventualmente, ser alterados diante das peculiaridades do caso
concreto.
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