The Quarterback 1 - Fabíola Alexia

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Copyright © - Fabíola Alexia

Capa: Stephanie Santos Diagramação: Becca Queiroz


Revisão: Becca Queiroz

Essa é uma obra de ficção.

Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são frutos de minha própria


imaginação. Qualquer semelhança com no
mes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Proibido a
reprodução, ou imitação de qualquer parte dessa obra, através de qualquer
meio - Sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Dedico a todos que acreditaram que isso algum dia seria possível. Amo
vocês!
Uma reflexão às vezes mostra mais da realidade do que o objeto que a imita.
— Alice no País das Maravilhas

Prólogo
Jaime
New York, seis anos antes...

Beijo sua barriga avantajada e ela sorri para mim, entrelaçando os dedos em
meus cabelos.

— Ei, carinha. Quando vai sair para deixar a mamãe dormir?— Pergunto,
sussurrando, com o ouvido colocado na barriga macia, contendo algumas
pequenas marcas de estrias debaixo do umbigo, desenhando lindamente na
pele. Como se Zayn fosse responder, espero pela resposta e vejo a onda se
formando na lateral, quando ele chuta.

— Acho que ele gosta de você. — Glenda ri, com as mãos em cima das
minhas. Sorrio, deixando mais um beijo e arqueio o corpo, alcançando o rosto
da minha gatinha.

— Não tem como não gostar de mim. — Zombo e ela ri, segurando meu
rosto. Afasto os cabelos louros de suas faces e beijo os lábios avermelhados.

Faltam duas semanas para que Zayn, nosso filho, nasça e não podia estar
mais ansioso com tudo. Glenda e eu nos casaremos em pouco mais de um
mês, após o nascimento do nosso pequeno. Ela geme e rio sacana, descendo
meus dedos para sua calcinha de velha. Sim, minha garota usa calcinhas
feias. Mas isso a tornava ainda mais atraente, se sentia bem em usálas e era o
que importava. Só eu veria.

— Opa, opa! — Aidren resmunga, entrando no meu quarto e ranjo os dentes,


afastando a mão de seu destino. Meneio a cabeça para o lado, vendo meus
dois empatas foda, de braços cruzados, em frente a porta escancarada. —
Hora de safadezas é apenas à noite!

— Por que não trancamos a porta?— Glenda suspira, arrastando as mãos por
minhas costas, segurando o lençol que cobre minha falta de roupa.

— Ótima pergunta. — Concordo, rolando na cama, deitando-me ao seu lado.


— O que vocês querem aqui?
— Semana da nacional, Jaiminho. — Simon revira os olhos. Bufo, levando a
mão ao rosto e volto a encarar o idiota com cabelo com cor de merda
desbotada.
— Desculpa. — Peço, Glenda curva o canto dos lábios finos em um sorriso
compreensivo e se move, debruçando em meu peito.
— Tudo bem, vá até lá e arrase, como sempre, il mi amore. — Murmura a
última parte em italiano, com o sotaque britânico arrastando em sua
pronuncia. Sorrio, apaixonado em sua tentativa de me agradar.
— Volto logo, vita. — Sussurro e ela sorri. Deixo um beijo estalado em sua
boca, ouvindo o resmungo dos intrusos em meu quarto e me levanto, sem me
preocupar com a falta de roupa.
— O que é aquilo? Uma cobra?— Lenny torce a boca, os olhos arregalados,
encarando meu pau.
— Larga de ser gay, Simon! — Connor bate em sua cabeça e rio, indo para
meu banheiro.
Éramos sempre assim. Simon e Aidren entravam em meu quarto quando bem
entendessem por terem entrada liberada por meus pais. Sim, aos vinte anos
ainda morava com meus pais. Era um saco, não vou mentir, mas não
conseguia desgrudar da minha família, de jeito nenhum! Então, no ano
passado, comprei esta casa e dei de presente aos meus velhos. Quando eu e
Glenda descobrimos a gravidez, decidimos morar juntos.
Mudei da casa dos meus pais, esta, no caso, e fomos para meu chalé, que
adquiri quando entrei para o futebol, há dois anos. Ficamos por dois meses,
até meu pai entrar em depressão com minha saída de casa. Meu velho sempre
foi muito apegado à família, e eu, como seu filho único, era seu único
companheiro. Levando em conta, que seu melhor amigo havia morrido há
poucos meses. Dada a situação de papai, Glenda sugeriu que nos
mudássemos para a casa ao lado desta, mas na compra, perdi por alguns
segundos para um casal brasileiro que comprou a propriedade. Enfim,
terminamos por optar em morar com eles, onde estamos até hoje.
— Porra, caras, vocês não têm casa não? — Inquiro, brincando, ao descer
para a sala com minha pequena mala, vendo Asaf, Simon e Aidren sentados
no meu sofá com as caras de paisagem costumeiras. Diferentemente de mim,
Aidren e Simon, Asaf não era jogador de futebol. Era empresário e cuidava
da carreira de modelo de Glenda, devido à nossa proximidade. Então, ele se
safava das viagens que nós costumamos fazer na temporada de jogos.
O invejava por isso. Mas mesmo assim, não largo o futebol. É minha vida.
— Temos, mas fazer o que se a dona Lara só mora com você?— Simon
lamenta, enfiando um pedaço de bolo de laranja na boca. Malditos
esfomeados!
— Vamos, se nos atrasarmos, Harry arranca nossos coros. — Chamo, indo
atrás da minha noiva loura. — Nos vemos no sábado.
— Tenha cuidado. — Alerta e assinto, beijando seus lábios com gosto de
cereja e me abaixo na altura de sua barriga.
— Papai volta logo, eu prometo! — Sussurro acariciando a casinha do meu
pequeno. Beijo sutilmente, me levanto e vou atrás dos meus velhos.

Phoenix, Arizona, horas depois...

Khai
Rio, jogando os braços para cima, o álcool me deixando totalmente solta,
relaxada e entregue na diversão que tinha por ali. Sinto mãos em minha
cintura, um corpo colando as minhas costas. Sorrio, mordendo o lábio
inferior, olhando para Ian por cima do ombro direito.

Sou pega de surpresa quando me beija, mas deixo rolar, enquanto a música
ensurdecedora ao nosso redor estoura no ritmo latino, que é excitante e
envolvente. Morde minha boca, afastando o rosto com o sorriso depravado de
sempre e volta a dançar nas minhas costas. Não se fazendo de rogado ao se
esfregar em mim. Jogo o cabelo para o lado, enquanto mais um par de mãos
se apossava da minha cintura, o peito duro colando na parte da frente do meu
corpo. Rio mais uma vez, movendo os quadris, acompanhando os irmãos na
dança nada inocente. As mãos, indecentes, vagam meu corpo e passo os
braços ao redor do pescoço de Chris.

— Responda com sinceridade minha pergunta, por favor. — Ian rosna em


meu ouvido. Apesar do tom brando, posso sentir o tesão na sua voz, assim
como sua ereção na minha coluna. Oh, Céus... Olho para ele por cima do
ombro, ainda me movendo no ritmo da música. Misericórdia, eu sou uma
piranha! Mas, eu não podia negar que adorava estar ali. — Já teve uma
experiência à três, Khai?— Passo a língua nos lábios, sorrindo
completamente insana e encaro minha parceira de festas, Victória. A ruiva
irlandesa sorri em cumplicidade, dançando com uma garota e um cara
qualquer.

— Talvez. — Respondo, descendo as unhas pelo peito de Chris, que pisca


para mim. Puxo seu rosto e o beijo, movendo meus quadris, roçando minha
bunda no pau duro logo atrás de mim. Ouço o riso sacana de Ian e me afasto
de Chris, que dá um olhar para o irmão. Passam as mãos por minha cintura,
me indicando a saída em um claro convite para estendermos a noite.

Oh... estranho? Para mim não. Tirem as crianças da sala e se estiver


esperando por um livro de romance clichê, indico que procurem na sessão
infantil, porque isso aqui... Rio. Isso aqui vai esquentar e muito. Nos últimos
dois meses, desde que entrei para a universidade de jornalismo, tenho
participado com frequência, religiosamente, das festas clandestinas. Que
aconteciam no porão da universidade às sextas-feiras. E para ser sincera, eu
adorava, amava, me meter em problemas. Ainda mais quando o problema, os
problemas, têm mais de um metro e oitenta, cabelos escuros e olhos claros. E,
com certeza, um material que saiba bem como manusear.

Gemo com a pegada no pescoço, no escuro, mal podendo ver seu rosto, mas
sei que se trata de Chris. Sempre bruto, viril e sexy. Eu adorava isso nele. Me
beija, encostando-me na parede e puxa minhas pernas para rodear seu corpo.
Sinto minhas costas desencostando da parede, ele se move e logo, o corpo
musculoso encosta em mim. As mãos exploram minhas coxas, puxando a saia
para cima. A boca gulosa se ocupando em meu pescoço, chupando e
lambendo, provocando calafrios. Grunho em frustração quando a música para
de tocar, e uma bomba faz as bocas dos irmãos abandonarem meu corpo.
Chris pragueja algo, me soltando no chão e junto do irmão, correm para a
saída de emergência com os outros covardes, fugindo da polícia. Frouxos!
Rio furtivamente vendo o tio policial vindo em minha direção, com a mesma
cara desgostosa de toda semana.

— De novo você!
— Eu, de novo. — Gargalho. Ele, como o careta que é, desce minha saia,
após pedir licença e me puxa pelo braço em direção a saída. Lá vamos nós
para mais uma volta na viatura confortável. Robert, meu vizinho, que
reprimia uma paixonite secreta por minha mãe, policial do batalhão local, me
olha com repreensão. Eu adorava ver sua cara nada amigável ao me tirar das
festas. Mas odiava quando empatava minhas fodas da noite. Mal podia
esperar para ver a cara extremamente brava de mamãe ao ir me buscar na
delegacia de novo. Malditos dezessete anos intermináveis!
Não tinha uma boa relação com ela. Queria que eu fosse responsável,
estudasse direito ou medicina. Bom... eu fodi com suas esperanças e com
quem eu queria na sua cama de casal com colchão macio. Nunca fui fácil,
mas desde que ela começou a regular, ou tentar, minhas noites de diversão,
nossa situação só piorou. Se queria um filho exemplar, que criasse e
moldasse Jhonnie, seu filho do último relacionamento, como ela esperava.
Porque comigo não ia rolar.

Capítulo 1
Phoenix, Arizona, dias atuais...
Jaime
Paro no salão do hotel em que ficarei enquanto estiver na cidade, olhando ao
redor, notando o quão diferente ele estava desde a última vez em que estive
ali. Eu adorava a simplicidade, adorava me sentir normal, mas depois de
alguns problemas que me aconteceram na mídia, acabei ganhando muita
visibilidade. Precisei de seguranças, assessoria de imprensa reforçada, me
mudar para um condomínio e aceitar o que minha equipe oferecia. Como
todo adolescente amante de futebol, cresci sonhando em ser um dos
jogadores mais famosos da história, queria ser reconhecido pelo meu talento,
mudar de vida. Oferecer aos meus pais uma condição melhor para viverem
bem. No entanto, não queria que as coisas tivessem acontecido daquela
forma.

— Grande Hastings!— Exaspera Victor, vindo em minha direção com o


grande sorriso receptivo de sempre.— Como foi de viagem?

— Olá, Victor. Bem, como vai?— Aperto sua mão em um cumprimento


formal e ele suspira.

— Ansioso, finalmente está apto a quebrar aquele recorde.— Comenta e


sorrio de leve, assentindo.— Seu quarto fica na cobertura, pegue a chave na
recepção e suba para descansar um pouco. Logo mais avisarei por mensagem
de texto a hora do treino.

Meneio a cabeça e passo por ele, não dando muita importância para meu
assessor de imprensa. Faço como o pedido e subo para o décimo oitavo andar
do prédio. Ao passar o cartão pelo pequeno aparelho ao lado da porta, a luz
antes vermelha, fica verde, indicando que estava aberta e entro no quarto.
Vejo minhas malas postas próximas a cama de casal no meio do cômodo
amplo e espaçoso. A decoração seguindo cores claras, com detalhes em
dourado para todos os lados, exagerados. Movo-me preguiçosa e
cansadamente, alongando os músculos. Não preciso olhar muito ao redor,
para saber que o quarto é o melhor do prédio, como todas as vezes. Victor
adorava se exibir e dizer que podia conseguir coisas boas para seu garoto de
ouro. Convenhamos, se eu não pagasse seu salário, não teríamos que lidar
com seu carinho excessivo, certo?
Tiro minha jaqueta a deixando de lado e me jogo na cama, esticando os
músculos, relaxando. Tudo o que não se dava para fazer dentro de um
minúsculo avião comercial. Como o prometido, meu telefone vibra no bolso
do meu jeans, nem precisando olhar para saber de quem se trata.

19:00 hrs no saguão do prédio terá um motorista esperando por você.

Leio a mensagem, entediado, e encaro o relógio no canto superior da tela,


vendo que se passam dás onze da manhã. Jogo o aparelho na cama e não
demoro muito a pegar no sono. Mais tarde naquele dia, encontrei com Dylan,
o motorista, no saguão do prédio. O cumprimentei brevemente e nos
encaminhamos para fora, em direção ao seu carro, Audi A3, grafite.

— Ansioso para o jogo no domingo?— Puxa assunto, alternando o olhar


entre mim, no retrovisor, e na avenida movimentada de Phoenix, capital da
Arizona, um dos condados mais belos do estado norte-americano.

— Não, estou tranquilo.


— Não sei como consegue. O país só fala nesse jogo e na possibilidade de
uma quebra de recorde.— Conta e sorrio de leve, girando o rosto para fora.
Encaro os prédios correndo pela janela, lembranças não muito boas
sacudindo minha memória.
— O melhor caminho para uma conquista é a paciência e a calma, não
ganharei nada de bom me exaltando.— Murmuro e ele emite um som em
concordância, fazendo o resto do trajeto em silêncio.
Eu admirava o silêncio, tão logo me degustando da paz e calmaria.
Entretanto, o silêncio me assombrava na mesma medida em que acalentava.
Uma interminável confusão e mistura de sentimentos e pensamentos.
Conversando consigo mesmo.
Longos minutos se passam, enquanto uma música tocava nos alto falantes do
carro em volume ambiente. Minha mente reconhece o toque eletrizante da
música, isolando qualquer pensamento negativo. Focando inteira e
exclusivamente na letra de Wake Me Up. Acompanho o dobrar a esquina do
estádio, onde já se podia ver um aglomerado de homens e mulheres
segurando cartazes e bolas ovais. Respiro fundo e desço do carro, sendo salvo
pelos seguranças, dos fãs. Como bem dizia meu pai: os fãs são maravilhosos,
mas longe de mim. Como sinto sua falta. Meu velho faleceu quase cinco anos
atrás, rumores levantados pela mídia, diziam que ele morreu de desgosto.
Mas, ele faleceu por problemas no coração durante meu processo contra a
imprensa. Céus... meu exemplo de homem partiu em um momento nada
agradável!
Fleches de câmeras vieram em minha direção e travo o maxilar. Reprimindo
a vontade de revirar os olhos e mandálos a merda. Odeio paparazzi e
jornalistas. Já me causaram grandes dores de cabeça, porém esse assunto não
é por ora importante. As vozes são todas uma só, impossíveis de serem
compreendidas. As tentativas de tocar-me ao avançarem sobre os quatro
seguranças, barradas. Passo pela entrada do estádio e me dirijo para o início
do campo, onde Victor conversava com uma mulher e três homens com
crachás da imprensa, pendurados no pescoço. Guardo as mãos nos bolsos do
casaco grosso, tentando as manter aquecidas. O frio em Phoenix era tenso,
mas não tanto quanto em New York, diferentemente de minha terra natal,
raramente neva. Me aproximo dos quatro que conversavam sobre algo que,
não entendi, por darem fim ao assunto com minha chegada.
— Boa noite.— Cumprimento de olhos atentos para qualquer gracinha que
poderiam fazer. Sem me preocupar em olhar em suas caras sardentas.
— Boa noite, Jaime. Estes são Aaron, Ernesto, Paul e Khaillane. São da
imprensa e gostariam de gravar uma entrevista com você.— Aguardo o
término da frase e sorrio de leve para os fofoqueiros de plantão.
— Seria um prazer!— Exagero no cinismo. Passo por eles, ignorando todo e
qualquer chamado a mim.
Inspiro com força, admirando o verde do gramado bem cuidado, marcado
pelas jardas e ouço passos se aproximando. Reviro os olhos ao ouvir sua voz
repreensiva, me advertindo.
— Com essa última, foram seiscentas e oitenta e duas recusas a uma
entrevista. Não acha que está sendo duro demais com a imprensa?
— Sinceramente?— Ele assente e eu prossigo:— Não. São todos uns urubus
em busca de uma notícia cabeluda para foder com nossa vida e reputação.
— Obrigado por me poupar da palavra chula, e isso já tem anos, Jaime. Os dê
um crédito. Nem todas as colunas de imprensa são baixas àquele nível.—
Argumenta na defensiva e abano a mão direita, descartando o assunto.
— Eles terão uma matéria na segunda de manhã e já até posso ver o slogan
da campanha refletindo na tela do meu notebook. Obviamente, tosca, como
sempre.
— Você é impossível, Hastings! Junte-se aos outros no vestiário, estávamos
apenas aguardando sua chegada para iniciarmos o treino— Aponta. Levanto
o polegar em sua direção, dirigindo-me para o vestiário.
— Olha ele aí!— Berra a garotinha com uma toalha ao redor do corpo.—
Jaime Hastings, o maior quarterback da história. — Zomba, rindo. Deixando
claro a ironia em se referir ao tamanho. Idiota.
— Por enquanto!— Acrescenta a outra escandalosa, esfregando a toalha de
rosto nos mínimos cabelos cor-de-rosa.
— Também é bom vê-los novamente, Connor, Lenny— Reviro os olhos. Eles
riem, vindo em minha direção com os braços levantados.— Sem contato
físico, seus imundos! — Simon Lenny e Aidren Connor, meus melhores
amigos desde a infância. Parceiros da vida e colegas de time de longa data.
Éramos como os três mosqueteiros. Um por todos e todos por um. Nosso
antigo lema, aderido com a apreciação ao filme de 1993. Onde os bravos
guerreiros mostravam sua insistência e fidelidade ao proteger seu rei a todo
custo, indo contra o traidor que, secretamente, queria usurpar o trono. Minha
relação com os caras era assim. Confiança, fidelidade e companheirismo. Oh
não me olhe assim! Não somos gays, apenas amigos. Quase irmãos.
Estávamos ali um pelo outro. Sempre.
— Own Hastings, onde aprendeu a fazer isso?— Lenny, a garotinha de
cabelos de cor afeminada força a voz, arrastando o tom de seu sotaque inglês,
na tentativa falha de imitar a garota com quem dormi em NY, que mais
parecia uma tagarela.
— Já perdeu a graça.— Advirto, cerrando os olhos. Connor nega com a
cabeça, curvando os lábios em um sorriso debochado.
— Aquela foda foi épica! Isso, porque nem era eu quem estava transando!—
Balança o indicador no ar com divertimento no tom sarcástico.
— As mocinhas virgens poderiam deixar de brincadeiras e se arrumarem
logo?— O treinador entra no vestiário, impedindo a farra dos imbecis dos
meus companheiros de time.
Olho ao redor vendo os outros caras com quem não tenho afinidade e eles se
trocam com rapidez pela presença do homem. Se tem algo que aprendi nesses
últimos oito anos jogando para o Arizona, era que o time poderia ser
desunido no vestiário, mas no campo, deixaríamos nossas diferenças de lado,
por bem, ou por mal. E o treinador Vlogit fazia questão de nos manter na
linha e exigir de nós o melhor empenho, castigando aqueles que
desobedeciam suas ordens. Não era para menos que nós éramos o melhor
time do futebol americano.
— Espero que esteja pronto para derrubar o pódio no domingo Hastings, não
nos decepcione.— Bate em meu ombro algumas vezes assim que passo por
ele para sair do vestiário, junto aos outros.
— Darei meu melhor, treinador— Garanto. Ele assente, mordendo as
bochechas e sai a minha frente.

Khai
Observo o pequeno deitado de bruços com os joelhos contra o colchão,
deixando o bumbum empinado para o ar e sorrio com diversão.

— Jhonnie, hora de acordar. — Murmuro. Puxo sua perna com cuidado, o


virando na cama para que a luz do sol que entrava no cômodo, o
incomodasse.

— Me deixa dormir! — Resmunga com voz de sono. Rio cutucando as


laterais de sua barriga, o vendo se contorcer em gargalhadas abafadas pela
falta de ar.— Ok! Para!

— Vai levantar?— Pergunto, sem cessar as cócegas e ele berra que sim.
Então, me afasto deixando um beijo em sua testa. — Te espero na cozinha,
não demora ou nos atrasaremos.

Saio de seu quarto e sigo para a cozinha. Enrolo meus cabelos em um coque
no alto da cabeça, esticando-me preguiçosamente no processo.

Apronto o café de Jou e arrumo sua lancheira. Suspiro, me servindo de café


preto em minha caneca como em todas as manhãs. Os pensamentos se
arrastando no silêncio da cozinha, trazendo-me lembranças nem tão
agradáveis. Outras, já nostálgicas, para no fim, terminar melancólica e me
sentindo insuficiente. O sorriso antes tão iluminado e alegre, fazia falta nos
meus dias. Mamãe era uma mulher linda e alegre. Mesmo que nossa relação
tendo sido de cão e gato, sob provocações e discussões.

Dois anos atrás, quando faleceu de ataque cardíaco, chorei por semanas, me
arrependendo por muitos de nossos momentos difíceis e por não ter
aproveitado ao máximo sua presença que, hoje em dia, faz tanta falta. Era tão
jovem e tinha a vida longa pela frente. Mas não cabendo a mim questionar as
vontades de Deus, balanço a cabeça, expulsando o rumo que aquelas
conotações tomariam. Hoje, somos apenas eu e Jhonnie, meu irmão caçula de
nove anos. Meu pai faleceu dois anos após meu nascimento, acidente de
caminhão. Sim, papai era caminhoneiro, isso explicava o que uma brasileira,
minha mãe, no caso, fazia nos Estados Unidos.

Descendente de brasileira e de irlandês, geminiana. Já calcularam a mistura


maluca?
Há horas que me pergunto se sou suficiente para ele, Jhonnie. Se sou capaz
de criá-lo com tudo o que ele merece e precisa. E a resposta fica bem na
minha frente todos os dias. Meu armário, sem portas, está quase vazio, o que
indica que precisarei fazer uma compra de urgência ainda esta semana. Não
tínhamos o melhor, apenas o suficiente para nos manter. Eu sou tão burra,
que ao invés de estudar para algo que já teria um cargo alto e de bom salário,
gastei quatro anos da minha vida em uma faculdade que estou, até hoje,
lutando para conseguir uma vaga mínima em alguma revista, ou jornal.
Há um ano, consegui um emprego na revista onde trabalho, bom, huh?
Seria, se o emprego fosse para algo que eu estudei para fazer. Algo que eu
amo. Mas consegui apenas um emprego como faxineira do prédio. Uma das,
na verdade. Deprimente. Completamente decepcionante. Dada as situações,
eu agarrei a vaga com unhas e dentes, sem opções e tendo que cuidar de uma
criança que depende somente de mim. Sem largar a esperança que, algum dia,
eu poderia conseguir a vaga naquela empresa maravilhosa da revista mais
vendida do país. A esperança é a última que morre, como dizia mamãe.
— Bom dia. — Cumprimenta Jhonnie, se sentando à mesa.
— Bom dia. — Respondo, bebericando o último gole do meu café. — Se
apresse, vamos ter que passar no mercado antes de eu te deixar na escola.
Ele assente, com um— quase— imperceptível sorriso de satisfação. Jhonnie
era um bom garoto, não tinha o que reclamar dele. Se tínhamos apenas arroz
no prato, ele comia sem reclamar. Mesmo sempre podendo notar a
preocupação e a vontade de comer algo diferente. Se torna impossível
conviver com alguém e não notar quando algo o agrada ou o decepciona. É
algo automático. Indiscutível.
— Se quiser eu posso faltar a aula hoje e te ajudo a arrumar o apartamento.
— Oferece com um sorriso doce, sujo de margarina.
Eu pegaria uma semana de folga da empresa, contando natal até o réveillon,
mas recebi uma proposta de emprego e aceitei sem nem pensar duas vezes. A
minha tão esperada promoção! Então tenho duas semanas até entregar o que
me pediram, ou rua. Maluquice? Eu sei!
— Não querido, tudo bem. Eu dou um jeito sozinha e o senhor, trate de
jamais perder aula sem algum motivo. E o motivo que digo, é doença séria!
— Esfrego seus cabelos e deixo a caneca sobre a pia.
Deixo-o na cozinha tomando seu café e vou ao meu quarto para me vestir
adequadamente para o mercado. Visto uma regata preta com uma ilustração
da Minnie, por cima uma jaqueta jeans e por último uma calça jeans, rasgada
nos joelhos. O rasgo não veio junto a calça na compra. Digamos que por falta
de variedades, acabei usando demais e rasguei o joelho ao me abaixar.
Consequência de várias lavagens. Como estava na moda calça rasgada, só
rasguei o outro lado para parear. E pronto. Estava na moda sem ter gastado
para isso. Ser pobre tinha seus males, mas também suas práticas.
Por fim, calço meu par de tênis All Star e pego minha bolsa. Jhonnie já deve
ter terminado de tomar seu café. Alcanço a cozinha e o vejo lavando a pouca
louça sujada no café. Me olha por cima do ombro e sorri, desligando a
torneira ao começar a ensaboar o prato.
— Deixe aí, na volta termino. Vamos?— Pergunto. Ele assente, tirando o
sabão do prato e o deixando no escoador.
Passa por mim, abanando as mãos e as seca no pano de prato, suspenso no
aparador ao lado da geladeira. Indo para a sala. Confiro se desliguei o botijão
de gás e vou atrás do meu pequeno responsável. Minha vida de festas, farras
e vicio em atormentar minha mãe foi deixada para trás, tão logo precisei
assumir com a responsabilidade de cuidar do meu irmão. Ele tem o pai vivo,
mas o inútil não serve nem para perguntar se a criança precisa de um fio
dental. Era decepcionante conviver com esse nojento e vê-lo fazer pouco caso
do filho. Jhonnie tinha apenas seis anos quando mamãe faleceu e eu não tive
coragem de deixa-lo ainda no luto com o pai. Acabou que entrei na justiça e
consegui sua guarda e uma pequena pensão do miserável. Entretanto, abri
uma conta no banco para ele e deixei como poupança para sua faculdade. Ele
merece ter um futuro melhor do que o meu e eu poderia o ajudar nisso,
poupando a miséria do dinheiro de seu pai. Por mais pouco que seja, não
posso ser uma ignorante e ignorar o fato de que com o passar dos anos e
depósitos, teria uma grande quantia e ele poderia estudar o que quisesse.
Jhonnie coloca a mochila nas costas e nos encaminhamos para fora. Tranco a
porta e fazemos o caminho até o estacionamento pelas escadas em silêncio.
— Quando eu fizer dezesseis anos me ensina a dirigir? — Inquere, abrindo
um sorriso inocente, quando destravo as portas do meu velho carro. Presente
ao completar a maioridade de mamãe.
— Claro, vai ser divertido.
Sorrio.
Minutos depois, estaciono o carro em uma vaga do mercado e entramos, com
Jhonnie empurrando o carrinho. Respiro fundo discretamente, fazendo as
contas mentalmente para ver quanto posso gastar, já que o pagamento ainda
falta duas semanas. Eu receberia ainda o salário da faxina até ser
definitivamente contratada pela empresa, então não dava para abusar.
Começamos nossa compra com o básico.
— Podemos pegar seu cereal. — Jhonnie encara a prateleira colorida, os
preços, para ser exata.
— Não, tudo bem. Eu gosto de comer pão com margarina. — Sorri e empurra
o carrinho, se afastando. Meu coração se parte em mil pedacinhos o vendo
abrir mão do vício matinal para que não gastássemos muito. Fechei meus
olhos, reprimindo a vontade de me bater por ser tão estúpida e peguei a caixa
maior do seu cereal favorito, indo atrás do meu rapazinho.
— Khai... — Tenta me impedir quando coloco a caixa no carrinho.
— Não, Jou, tudo bem. Podemos comprar. — Garanto e ele abaixa a cabeça,
suspirando.
Voltamos a caminhar indo em direção ao açougue e tento amenizar o clima,
puxando assunto. Não gosto de o esconder as coisas, nós éramos sinceros um
com o outro na maior parte do tempo. Há coisas que não se dá para conversar
com uma criança, então, com minha falta de amizades, acabo guardando para
mim. Às vezes chega a ser sufocante a vontade de falar com alguém a
respeito dos meus problemas e minhas conquistas. Hoje, posso ver o quanto
faz falta um amigo de verdade, sem interesses, aquele amigo que está ali para
tudo.
— Recebi uma proposta de emprego. — Comento, reprimindo a euforia. Era
cedo demais. Incerto demais, para comemorar. O garotinho de olhos verdes
me encara com surpresa.
— Sério?
— Sim, mas... não vamos nos precipitar, é só uma possibilidade.
— Por que é uma possibilidade?
A curiosidade estampada em seus olhos, refletindo a imagem da ansiedade
tão presente no semblante de nossa mãe. Era bom tê-lo por perto. Era como
ter a versão masculina, infantil, de mamãe. Eu o amava, mais que tudo.
— A revista quer que eu consiga uma entrevista em primeira mão com
Hastings... — Conto baixo e Jhonnie levanta o olhar para mim.
— Você vai conseguir, tenho certeza! — Eu sorrio para sua gentileza,
abraçando-o de lado. Assim eu espero, Jou.
— Mais tarde podemos ir ao parque, o que acha?— Questiono, minutos
depois já no caixa, passando nossa compra para quinze dias.
— Vai ser legal, podemos jogar bola. — Arquiteta, me passando os legumes.
— Quem sabe não fazemos um amiguinho por lá?— Ergo um ombro e ele
me olha rapidamente, antes de ignorar meu comentário.
Jhonnie não tem amigos. Ele diz que os garotos de sua idade não gostam dele
por responder a professora em todas as perguntas feitas. Sinceramente, qual o
problema das crianças de hoje em dia? Inteligência deveria ser mútua, não
algo que faria o estudante sofrer bullying! Definitivamente, eu tenho o melhor
irmão do mundo e só espero saber o que fazer para criá-lo como ele merece.

Capítulo 2
Khai
— Sai lindinha, por favor, sai daí! — Resmungo, balançando o pano laranja
na direção do ralo do banheiro.
Tem alguns minutos desde que vim para o banheiro laválo, mas eu,
simplesmente, travei ao deparar com a aranha bunduda no meu box. Sim! Eu
morro de medo de aranhas e não me lembro o que me levou a ter tanto pavor
da coitadinha. Se fosse Jhonnie aqui, ele pegaria seu vidro e aprisionaria o
bicho peçonhento. É maluco! Tremendo e incerta, atiro o chinelo na coisinha,
que parece se divertir com a situação e recuo um passo no mesmo tempo.
Sem coragem de encarar o que acabo de fazer. Segundos após, viro o rosto
em direção aonde ela estava e a vejo no mesmo lugar, olhando para mim.
Quer dizer, acredito que esteja olhando para mim. Eu estou falando! A aranha
é debochada!
Está certo que minha mira é horrível, mas ela não precisa humilhar!
Bufo desistindo da minha falha tentativa de espantar a aranha e me afasto,
saindo do banheiro. Fecho a porta, garantindo que ela continue lá e encaro o
apartamento pequeno, ajeitado, limpo e cheiroso. Respiro fundo e sigo para
meu quarto. Confiro as horas e suspiro, me sentando nos pés da cama de
solteiro. Recordo-me de no início da noite de ontem ter sido mandada para o
estádio, onde acontecerá na próxima semana o último jogo do ano do
Arizona, o qual— possivelmente — Hastings bateria o recorde mundial,
enquanto Jhonnie estava em sua aula de violão. Quando aceitei o acordo
sobre a entrevista com Hastings, não pensei que seria tão difícil! O homem
não grava entrevista a pelo menos seis anos!
E tudo indica que não vai ser fácil tirar, no mínimo, alguma declaração para a
revista. O som de notificação do meu celular sobre a cama chama minha
atenção e o pego, vendo se tratar de Natasha, secretária de Candice.

O tempo estipulado para a entrega do material é de duas semanas. Dia


primeiro de janeiro.

Suspiro, jogando o aparelho de volta em seu lugar e me levanto, indo até a


escrivaninha que sustenta o computador antigo. Ligo o mesmo e me sento na
cadeira, buscando um pouco sobre o tão misterioso jogador.

— Jaime Edward Hastings, vinte e seis anos, naturalidade norte americano,


nascido em New York em treze de maio de mil novecentos e noventa. Criado
na costa da Itália... Blá, blá, blá... — Rolo a página, buscando por coisas
menos desnecessárias— até certo ponto—, e paro ao ver a manchete de um
jornal de seis anos atrás, sendo seguida por outras de vários sites, revistas e
jornais.

Franzo o cenho, lendo o título da matéria e proíbo-me de ler o conteúdo.

Arrasto a cadeira, me levantando e coloco a mão na testa. Enquanto a outra


está apoiada na cintura. Balanço a cabeça, afastando o rumo dos meus
pensamentos e foco em montar um plano mental para conseguir uma
conversa com ele. Encaro o relógio mais uma vez e me troco rapidamente da
forma mais decente que consigo, puxando o que precisaria.

Longos minutos depois de dirigir pela cidade, estaciono o carro um pouco


afastado do prédio, vendo um aglomerado de pessoas fazendo bagunça na
entrada do local. Apresso-me, indo a entrada e vejo Hastings saindo
acompanhado de Victor, seu assessor, e os seguranças.
— Victor! — Chamo e ele olha por cima das pessoas, sorrindo em minha
direção. Alguns segundos depois, a porta do carro se fecha com Hastings
dentro do automóvel luxuoso e Victor vem em minha direção.

— Senhorita Marin, em que posso ajudar?— Oferece sua mão em


cumprimento e a pego.
— Só Khai, por favor — Peço. Ele meneia a cabeça, esperando pelo que eu
teria a dizer. — A revista gostaria de uma entrevista com Hastings, assim
como o senhor já está ciente. Fui mandada para tentar fazer com que ele
mudasse de ideia quanto a recusa. Seria pedir muito se o senhor pudesse me
ajudar de alguma forma?
Seguro a respiração nervosamente com seu silêncio. Jesus, Victor era um
homem lindo! A expressão de surpresa e admiração fazendo jus no belo
semblante do homem bonito, que aparenta estar na casa dos trinta anos.
— Admiro pessoas ousadas, mas sinto em dizer. Não há nada que eu possa
fazer quanto a isso, Khai. Jaime é teimoso e persistente. — Lamenta e franzo
o cenho, quando ele me entrega seu cartão de contato pessoal. — Não posso
ajudá-la nesse quesito, mas se quiser sair qualquer dia desses que estou na
cidade, ligue-me.
Sorrio educada para ele, tentando não ser indelicada ao recusar seu convite.
Não me olhem assim, estou na luta para conseguir uma vida melhor e,
obrigada pela realidade, a superar meu passado tortuoso e amadurecer, criar
responsabilidade.
— Agradeço pelo seu tempo, Victor. — Ele assente e se vai para o carro
parado a sua espera. Acompanho com o olhar o carro saindo e depois abaixo
o olhar para o cartão preto com escrita em dourado.

Jaime Hastings.

Leio e levanto meu olhar para o carro que dobra a esquina, não fazendo ideia
do que aquele número significava. Pensativa, foi como fui o caminho todo até
alcançar o portão de saída da escola de Jhonnie. Victor não me passaria o
contato pessoal de Hastings, certo? Ou pelo menos, não seria profissional de
sua parte se fizesse aquilo para benefício pessoal, não é?

— Oi. — Murmuro aturdida, vendo Jou sair do prédio bem estruturado. Ele
sorri, vindo em minha direção e deixo um beijo em sua testa.
— Está bonita. — Elogia. Desço o olhar para meu vestido social, um número
menor ao que costumo usar.
— Obrigada. Vamos almoçar por aqui mesmo, gastei a manhã toda fazendo
faxina e depois tive que fazer algo na rua. Então, não tive tempo de fazer
almoço. — Argumento. Jhonnie me olha desconfiado, mas assente.
— Trabalhando?— Pergunta minutos depois, quando entramos na lanchonete
do outro lado da rua, de frente a escola.
— Sim. O que quer comer?— Suspiro, olhando para os salgados.
— Coxinha de frango com catupiry. — Murmura e espero que o atendente
venha até nós.
— Seis coxinhas, por favor, e dois sucos. — Peço ao homem alto com sorriso
simpático e ele pega nossos pedidos, nos entregando em seguida.
Jhonnie vai na frente, se sentando em uma das mesas do fundo e o sigo.
— Você me disse que era uma possibilidade. — Lembra, os olhos afiados,
me olhando por cima da coxinha que come. Jhonnie não era nem de longe
bobo, ou influenciável. O pequeno sabia bem como tirar a verdade de quem
quer que fosse. Principalmente de mim.
Suspiro, preparando-me para contar a ele.
— Vamos comer, depois falamos disso, tudo bem?— Indago. Ele concorda
com um leve balançar de cabeça e voltamos a comer com calma.
— Agora fala. — Levanta levemente a sobrancelha direita, me encarando
com os olhos cerrados.
— A proposta foi dada e eu aceitei, mas o emprego só consigo se fizer a
entrevista com ele. Se não entregar a matéria até dia primeiro, vou ter que
procurar outro emprego— Conto em um único fôlego, esperando por sua
reação.
— Eu não duvido que você vá conseguir, mas já parou pra pensar se...
— Sim. Por isso eu já comprei currículos. Eu sinto muito por isso, Jou, eu
tinha que tentar. — Lamento, agora vendo o quão idiota é essa ideia dizendo
em voz alta. Muita falta de responsabilidade de minha parte. Oh, Santo Deus,
tenha pena de sua serva...
— Tudo bem. Você vai conseguir, se não conseguir, posso ajudar com...
— Não! Nem pense em completar essa frase, Jhonnie Carter! A poupança é
para sua faculdade. Eu tenho algumas economias e daremos um jeito. Não vai
demorar para que eu consiga um emprego.— Garanto e ele assente.
Assim eu espero.
Jaime
— Quem era a garota?— Pergunto assim que Victor se acomoda ao meu lado
no banco do carro.
— Khai, uma... amiga. — Responde e sorri, a malícia brincando em suas
írises castanhas. — Por que?
— Curiosidade, apenas. É bonita demais para dar bola a você. — Provoco,
lembrando-me das suas últimas conquistas. Viro o rosto, encarando a garota
com um corpo bonito, marcado pelo vestido social.
— Somos apenas amigos, bem queria algo a mais, ela é linda. Mas é jovem
demais para mim.— Comenta e o olho de novo.
— Qual a idade dela?
— Acredito que seja entre vinte e vinte e dois anos. — Desce o olhar para o
aparelho telefônico em suas mãos. — Se quiser algo com ela, eu indico que
invista.
— Sabe que não quero relacionamentos. — Grunho, desviando meu olhar
para a avenida.
— Quem disse que ela quer?— Devolve, arqueando as sobrancelhas, me
olhando com divertimento.
Travo o maxilar, olhando para os prédios correndo pela janela e espero até
que chegássemos ao almoço com alguns empresários que tenho investido em
seus novos projetos comerciais. Ideia de papai. Meses antes de tudo
acontecer, eu o presenteei com uma poupança gorda e ele investiu o dinheiro
com o propósito de deixar mamãe e eu bem, caso eu desistisse do futebol.
Dona Lara não quis saber dos investimentos e sobrou para mim ter que
administrar tudo com a partida de papai. As coisas entre mim e ela não estão
boas a muito tempo. Quando meu velho se foi, ela entrou em depressão e me
culpou por muitas coisas, principalmente sua morte.
Acabei por preferir me afastar, enfrentar meus problemas sozinho. Porque se
nem minha própria mãe estava ao meu lado, quem mais estaria? Ao menos
ela teve o bom senso de ficar com Zayn, uma vez que eu não tenho
proximidade com a criança e nem faço questão de ter.

Assisto os homens de terno conversando sobre negócios e me sinto


entediado. Nada consegue prender minha atenção. Então me questiono, o
motivo pelo qual eu cursei administração. Era um saco ver pessoas paradas, e
estar parado. A comida já acabou tem algum tempo e eu só consigo pensar
em todas as possibilidades do que estaria fazendo se não estivesse preso
naquele almoço de negócios, completa e totalmente chato.

Como um salvamento, sinto o celular vibrar no bolso e vejo a escapatória


para fugir da mesa. Puxo o aparelho do bolso e me levanto, atendendo ao
número desconhecido.

— Oi Victor... desculpe ligar sem avisar, mas estive pensando e aceito a


sugestão de mais cedo. — A voz nervosa, feminina, muito bonita e entonada
por sinal, chega em meus ouvidos antes que eu dissesse qualquer coisa. —
Estou disponível hoje à noite.

Penso em dizer alguma coisa, no entanto, desligo a chamada, sabendo que


houve um engano. Se essa é a garota que estava falando com Victor, ele deve
ter se confundido ao entregar o número de seu telefone. Ele sempre troca de
número e desta vez, acho que se confundiu.

— Victor. — Chamo ao alcançar a mesa e ele se vira para mim. — Tem um


minuto?
Ele assente, pede licença antes de se levantar e caminhamos para nos
afastarmos dos homens.
— Algum problema?
— Recebi uma ligação de uma mulher a sua procura. Acho que se confundiu
ao passar o... — Tento explicar, mas ele ri e nega com a cabeça.
— Oh, não Jaime. Passei seu número para Khai com consciência que era o
seu. — Suspira com diversão e segura em meu ombro. — Saia um pouco,
anda chato demais. Acredito que seja falta de sexo. — Bate em meu ombro e
se afasta, me deixando com cara de idiota. Quer dizer, com certeza estava
com cara de idiota.
— Chato?— Inquiro para mim mesmo.
Repenso o acontecido e volto minha atenção para o celular em minha mão.
Arrasto o ícone de mensagem de texto sobre o número desconhecido que me
ligou a pouco.

Desculpe por desligar sem, ao menos, dizer algo. Estava ocupado e acabei
atendendo sem perceber.
Envio e me sirvo com um copo com whisky, sentandome na poltrona do
canto inferior da sala. Alguns segundos depois, sua resposta chega:

Tudo bem. Acho que não ouviu o que eu disse, então, repetirei kkk.

Encaro a tela e arqueio a sobrancelha esquerda, vendo os três pontinhos


pulando. Indicando que estava digitando. Balanço o copo, brincando com o
gelo e bebo um pouco, assistindo uma mensagem chegar.

Repensei sua sugestão e cheguei à conclusão de que seria bom descontrair.


Hoje à noite estou disponível, caso o senhor esteja também, podíamos sair.

Leio atento em suas palavras bem articuladas. Não é que o velho Victor tem
contatos interessantes? Rio do meu pensamento e deixo o copo sobre a
mesinha ao lado.

Por mim tudo bem, há alguma preferência de lugar para irmos?

Envio, adorando meu pseudônimo. Não me olhem assim. Eu sei que não é
certo se passar por outra pessoa, todavia quem nunca se passou por um
amigo, namorado (a) ao responder alguém por mensagem? Certo, sei que não
é uma justificativa, mas é a única que me veio em mente.

Não, a escolha é toda sua. Horas?


Às 19 hrs passo te pegar. Mande o endereço por mensagem.
Finalizo e guardo o aparelho no bolso. Volto minha atenção para meu whisky
e a conversa chata dos meus sócios.

Respiro fundo, mordendo o lábio inferior e encaro o endereço enviado a


alguns minutos atrás. Sua resposta não vem. Deixo o aparelho sobre a cama e
volto a olhar para Jhonnie, que arruma sua mochila com suas duas trocas de
roupa e utensílios de higiene pessoal.

— Tudo bem, consegui. Se tudo der certo mais tarde consigo convencer
Victor a me ajudar com Hastings. — Balbucio. Jou sorri para mim, fechando
a mochila.

— Não gosto do meu pai, mas vou para lá porque é necessário. Só não
esquece de ir me buscar amanhã, assim que possível! — Pede com seus
olhinhos de pidão piscando, como sempre fazia ao pedir algo. Rio e assinto
puxando-o para um abraço. Eu também odiava a ideia de deixa-lo com aquele
imundo, mas é por uma boa causa.

— Prometo que jamais fará algo que não queira quando eu conseguir esse
emprego. Vamos melhor nossa situação financeira. — Prometo e sua mão
pequena esfrega minhas costas com delicadeza. Então, ele se afasta e deixa
um beijo em minha testa.

— Amo você, Khai. Obrigado por ficar comigo ao invés de me deixar com
ele. — Murmura e reprimo os lábios com vontade de chorar.

— Você teria uma vida mais fácil com ele. — Relembroo, melancólica.

— Nada que venha fácil é satisfatório. Prefiro nossa vida doida a conviver
com ele. — Sorrio com pesar e o aperto em um abraço. Meu garotinho está
crescendo!

— Te amo tanto! — Resmungo com o rosto perdido em seus cabelos louros


lisos.

— Então, como estou?— Pergunto, dando uma voltinha na sala e Jou sorri
para mim em admiração.
— Linda!— Responde e sorrio para ele. Então o som de bater à porta atrai
nossa atenção.
— Deve ser seu pai. — Sibilo e ele torce o rosto em uma careta. Abro a porta
vendo o homem alguns mínimos centímetros maior que eu, vestindo roupas
casuais, despojadas, de marca. O homem era um nojo. Não sei o que mamãe
viu nele. Quer dizer, ele é até bonito, mas sua personalidade e opiniões, o
tornam o lixo de pessoa desprezível que é. Sem falar no salário gordo que o
imprestável recebe mensalmente com seus investimentos comerciais.
— Khaillane. — Meneia a cabeça em um cumprimento e faço o mesmo. —
Ei garotão, está pronto?
Jou pega sua mochila do sofá e vem até nós, me abraçando apertado.
— Boa noite, Khai. — Se despede.
— Boa noite, não se esquece de escovar os dentes antes de dormir. Não
dorme com os cabelos molhados, pode dar dor de ouvido. Não fique
acordado até tarde, amanhã tem aula... — Disparo, preocupada em o deixar ir.
— Calma, é só uma noite. — Steven ri e cerro os olhos em sua direção.
— Cuide dele e se houver um arranhão nele amanhã quando eu for o buscar
na escola vai se ver comigo! — Eu ameaço, apontando o dedo em sua cara de
paspalho e ele assente com ar de superioridade. Odeio sua arrogância. Por
que homens assim andam pela Terra, senhor? Suspiro, jogando os cabelos
para trás. Preciso lembrar de cortá-los, está terrivelmente comprido. Quase
alcançando a bunda, em um liso ondulado.
Fecho a porta quando eles se vão e sinto um vazio. A casa é tão quieta sem
Jhonnie. Suspiro outra vez, encarando o celular sobre o balcão, como se por
telepatia, faria alguma coisa dar sinal de vida através de uma ligação ou
mensagem de texto. Respiro fundo tentando controlar os nervos, segundos
depois, ouvindo o som de mensagem e sigo para o balcão, alcançando o
aparelho.

Estou esperando aqui em baixo. Você desce?

Leio e respondo com algo em concordância, alcançando a bolsa. Saio do


apartamento, verificando se tranquei tudo certo e desço com cuidado os
degraus da escada. Odeio salto! Jamais gostei. Usava mesmo para me sentir
menos baixa demais perto de todos. Acho que meu coração bate tão forte no
peito, que os mendigos do outro lado da cidade poderiam ouvir. Nunca estive
tão nervosa na minha vida, como agora.

Chego à calçada e vejo o mesmo carro preto de hoje de manhã, parado em


frente ao meu prédio. Tento me lembrar de como se respira e vejo a porta da
corona ser aberta por dentro, empurrando para que eu entrasse. Sigo até a
mesma e entro no automóvel luxuoso, fechando a porta com cuidado.

— Boa noite, Victor. — Cumprimento, virando-me para o encarar. — Porra!


Cubro a boca ao perceber a palavra chula que deferi e respiro
aceleradamente, nervosa com o que vejo. Caralho! Que merda! Desculpa
Deus...
— Boa noite, Khai. Acho que prefiro ser chamado de Jaime. — Sorri para
mim.
Capítulo 3
— Meu Deus, me desculpe. Pensei que fosse Victor. — Argumento
procurando pelas palavras, enquanto ele me assiste com diversão.

— Eu que peço perdão. Deveria ter dito que não era ele. — Passa a língua
sobre os lábios bem desenhados, curvandoos em um sorriso bonito. Céus,
quando esse homem foi tão lindo e eu não notei? Exagerada? Sou!

— Espera... O quê?
— Nos falamos mais cedo, Khai. Victor passou meu número para você,
apenas não sei o motivo. Quer me contar?— Questiona arqueando a
sobrancelha esquerda. Os olhos azuis cintilantes brilham com uma sombra
misteriosa no meio fio de luz do poste do lado de fora e do painel do carro.
— Eu não sei... ele sugeriu que saíssemos qualquer dia e depois me deu o
telefone. Mais que caralho. Baralho! Perdão Deus! — Resmungo cobrindo
meu rosto. Vergonha que se diz? Houve o tempo em que eu falava palavrões,
mas tive que abandonar por ter que aderir responsabilidades imensas. Não
seria bem visto aos olhos da sociedade, uma criança esbravejando, deferindo
e praguejando palavrões. Então, costumo me repreender e focar em mantê-los
longe do meu vocabulário. — Vou entender se quiser recusar o jantar...—
Penso rápido e levanto meu olhar para ele de novo, que me olha esperando
por minha resposta.
— Não... eu... — Merda de mente. Pensa, Khaillane, pensa!— Jhonnie saiu e
eu estou sozinha e... não queria ficar sozinha. — Sopro com pesar.
— Então quer minha companhia por não ter opções?— Toca o peito,
indignado.
— Não! Não é isso. Perdoe-me. Estou nervosa e quando fico nervosa falo
sem pensar e na frente de pessoas bonitas... — Me calo de imediato ao notar
o que havia dito.
— Calma, estou brincando. — Raspa o polegar em minha mão e depois vira
para a rua, checando o retrovisor. Acho que se estivesse sozinha me bateria
por ser tão estupida e burra! — Então, me fale um pouco de você. — Puxa
assunto, quando chegamos em um restaurante que jamais imaginaria entrar na
vida e sermos levados a uma mesa reservada para dois em seu nome.
— Não tenho o que dizer, sou apenas uma pessoa comum. — Levanto o
ombro direito e ele arqueia a sobrancelha esquerda. Será que ele tem
problema no rosto? Quer dizer... ele faz muito esse movimento com a
sobrancelha. Não deve ser normal, certo?
— Então me diga, pessoa comum, o que a torna sem ter o que dizer?—
Implica e rio fraco, bebendo um pouco de água na taça.
— Diferentemente de você, não tenho visibilidade na mídia e não sou rica. —
Torço o rosto, fingindo indignação. Quem me dera ser rica...
— Quem é Jhonnie? Namorado, marido, ficante?— Me observa atentamente.
— Por que eu aceitaria sair com alguém que não fosse meu namorado, ficante
ou marido, se tivesse um deles?— Devolvo a pergunta e ele balança a cabeça,
ponderando. — Jhonnie é meu irmão que crio desde... o falecimento de
minha mãe.
— Oh... sinto muito— Pede, ficando sério e sorrio abanando a mão,
descartando o assunto.
— E você? Acredito que tenha uma vida muito mais interessante que a
minha.
— Na verdade não tenho, não. Sou apenas alguém prestes a se tornar o
assunto do momento. Coisa pouca — Retruca, levando a taça de vinho a
boca. A sombra do sorriso arrogante curvando o canto dos lábios rosados
bem desenhados. Seus olhos indiscretos me medem sem qualquer cerimônia.
— Metido ele. — Comento e me repreendo segundos depois. Se segura,
Khaillane. Vocês não têm intimidade! — Desculpe.
— Tudo bem. Vai querer pedir agora, ou depois?
— Por mim tanto faz. — Quero comer agora, mas vou fazer a lady, educada.
— Ok... trabalha?— Pergunta apoiando o cotovelo sobre a mesa, brincando
com o próprio maxilar.
— Ah... sou estudante de jornalismo. — Minto, sorrindo de leve e ele assente
desviando seu olhar do meu, voltando segundos depois.
Seus olhos safiras me encaram com curiosidade, quase me fazendo questionar
o que o fazia ser tão fechado. Os próprios olhos deduravam que por detrás
deles, havia muito mais do que aparentava. As sobrancelhas pretas franzidas
dão um charme maior para seu rosto, assim como o corte de seu maxilar
quadrado. Contudo, os cabelos pretos são o que mais atraíram minha atenção,
jogados de forma elaborada para o lado, deixando uma mecha na diagonal do
rosto. Quase cobrindo parte de seu olho direito.
— Se continuar me olhando assim, não responderei pelos meus atos! —
Sussurra com um sorriso de canto, sugestivo, e rio, sentindo as bochechas
queimando em vergonha. Flagrada!
— O que o fez aceitar sair hoje, comigo?— Indago com curiosidade. Ele
passa a língua pelo lábio inferior, mordendoo em seguida. Os olhos
desencontram dos meus e me sinto mortificada, quando seus olhos encaram a
fenda do meu vestido, completamente sem hesitação.
— Você mencionou que achava que minha vida era mais interessante. —
Começa voltando a olhar em meus olhos. — Meus amigos mais próximos,
acredito que sejam os únicos que tenho, costumam dizer que sou sincero. Às
vezes até demais. — Conta e assinto pegando a taça com água, levando-a até
a boca. — E a resposta para sua outra pergunta, é que eu quero você. —
Anuncia e arregalo os olhos, a garganta fechando. Afasto a taça do rosto,
agradecendo por não ter cuspido o líquido.— Nua.
— Como?— Pigarreio, tocando meu peito.
— Você me causa curiosidade. E não vamos ser ilusórios. Quero você hoje à
noite, na minha cama. — Conclui e é minha vez de arquear as sobrancelhas.
— Você é bem direto. — Murmuro, sem ter o que dizer e encaro o talher de
peixe ao lado do meu prato.
— Não imagina o quanto. — Ressoa e levanto os olhos, encarando a
imensidão ilegível que era seu olhar. Ilegível era uma boa palavra para
descrever Jaime. Desde o momento em que nos encontramos, ele tem apenas
a aparência séria, risonho ou malicioso. Em momento algum transparecendo
algo na postura e olhar. O homem, de fato, era uma incógnita, um mistério
que eu estava, até certo ponto, curiosa, deixando de lado o motivo pelo qual
eu estava ali. Disponibilizando minha toda e total insólita curiosidade. Eu
costumava me sentir atraída por homens problemáticos e misteriosos. Talvez
tivesse herdado de mocinhas de livros clichês, onde se apaixonavam pelo
protagonista com passado sombrio e caráter duvidoso. E, aparentemente,
estava de frente para um típico clichê, jantando.
O jantar desenrolou-se de forma agradável, com alguns flertes de ambas as
partes. Sim, inacreditável da minha parte, huh? Muito profissional, Khaillane!
Meu subconsciente debocha de mim. Balanço a taça de cristal, vendo o
líquido amarelado do vinho branco e a levo a boca, bebendo um breve gole
antes de a deixar sobre a mesa. Encontro com seus olhos novamente, não
sendo retribuída, já que ele estava mais que ocupado conferindo a fenda de
meu vestido. Preciso me lembrar de não usar mais esses vestidos que comprei
no segundo ano de faculdade, estavam realmente alguns números menores
que o indicado para um jantar.
Não me recordava quantas taças de vinho haviam sido. Aquela seria a
primeira, ou terceira? Não importava, apenas importava que eu estava solta e
relaxada com o álcool em meu organismo, ao ponto de não me incomodar
com seu olhar descarado. Não que eu estivesse bêbada. Ainda faltava muito
para que acontecesse. Graças ao curto período quando era caloura em festas
na república. Um porre era mais complexo de se acontecer, após muitos
sofrimentos com a ressaca no dia seguinte.
— Com licença, vou ao banheiro. — Aviso passando as mãos no colo,
alinhando o vestido ao corpo. Ele assente e então me levanto, girando sobre
as agulhas do salto. Havia me esquecido a facilidade que era caminhar com
saltos com a ajuda do álcool. Era menos incômodo e relaxante, ao menos para
mim. Tracei o caminho até o indicado pela recepcionista e alcancei o
banheiro luxuoso e cheiroso.

Jaime
Qual era meu problema? Estava parecendo um adolescente que não consegue
conter os hormônios! Poderia culpar a bebida, certo? Seria menos
constrangedor, ao menos. Porém, o assunto em questão estava mais que
evidente em minha calça jeans escura. Era um lindo par de seios. Mais o que
eu estou dizendo? Quem usa essa expressão? Sopro com frustração ao sentir
o vibrar do celular em meu bolso e o alcanço, vendo se tratar de Victor, que
avisa estar saindo e só volta pela manhã. Menos mal.

Nesses últimos anos, seis para ser exato, sexo tem sido sem importância,
coisa que para mim, tinha significado, contexto. Era algo complexo em
minha realidade da época, baseando-se apenas de sentimentalismo.
Entretanto, por que levar algo tão íntimo à sério, se a quem você deu sua
confiança e coração não ligava? Então, venho me divertindo com meus
parceiros, Aidren e Simon. Sexo sem compromisso, sempre. Lidando com
meus problemas sozinho. Ninguém entende suas dores mais que você
mesmo. Então, superar, cabe a você, sozinho, consigo mesmo. Adotando a
vida dos meus amigos, caçando a distração da noite que mais me atraísse. E
sempre conseguia o que quisesse, quem quisesse. Que a verdade seja dita. O
fato de ter um nome conhecido fazia calcinhas caírem. Bem assim, minha
aparência favorecia.
E a garota morena de olhinhos especuladores no banheiro, está mais que
aprovada para me distrair o resto da noite. Khai é linda, não se dá para negar,
mas não mentirei que minha decepção ao saber que está prestes a fazer parte
da multidão podre empresarial bateu com força. No entanto, bastou olhar
novamente para a fenda de seu vestido abraçando o corpo curvilíneo que
minha vontade de tirar aquele pano provocante voltou depressa.

Meneio o aparelho até o ouvido simulando uma ligação e essa é minha deixa
para seguir em direção aos sanitários. Confiro se não vem ninguém no
corredor, guardando o celular e ouso pegar na maçaneta, entrando no
banheiro claro e bem estruturado, feminino. Encaro Khai apoiada no
mármore branco da pia movendo a cabeça de forma que alongasse os
músculos do pescoço e cruzo o único espaço que restava entre nós, parando
atrás do corpo bem marcado no vestido justo de cor preta.

— Podemos ir para outro lugar. — Sugiro em um sussurro contra a lateral de


seu pescoço, apoiando as mãos no mármore, ao lado das suas. Vejo-a arrepiar
e estremecer, abrindo os olhos antes fechados, me encarando pelo espelho a
nossa frente. Prende o lábio inferior com os dentes, virando um pouco o rosto
para o lado, me encarando de soslaio, olhos atentos.

— Como entrou aqui?— Puxa os cabelos castanhos para o outro ombro,


deixando acesso livre ao seu pescoço.
— Não importa. Estou com um problema e queria que me ajudasse. —
Provoco sua pele cheirosa com os lábios, esperando por sua recusa, mas ela
não vem. Uma vertigem potente tomando meu corpo, o cheiro de seu
perfume suavemente adocicado adentrando minhas narinas.
— Qual problema?— Murmura tão baixo que se não estivéssemos tão
próximos, não teria a ouvido. Khai curva o corpo, esbarrando em minha calça
e não se move mais, mantendo-se parada ali. As mãos segurando o mármore
com aspereza. Ri ardilosa e volta a me encarar pelo espelho. — É um grande
problema para se preocupar, senhor Hastings.
Aposso-me de sua cintura, alcançando com a mão livre o zíper da fenda de
seu vestido, puxando-o para baixo e travo o maxilar ao encontrar a renda
preta juntando os seios médios. Por mais que eu quisesse tirar as roupas que a
separavam de mim e admirar a bela vista, não tínhamos tempo, era arriscado.
E muito bom. Virei-a de frente para mim, seus olhos escuros intensos me
encaram com malícia, lascívia nua e crua, os lábios reprimidos e o peito
subindo e descendo com a respiração desregulada. Selando o espaço que
estava entre nós, Khai investiu com calma contra minha boca, me beijando
com delicadeza. Até demais para o momento. Peço passagem com minha
língua, tendo o controle em minha posse quando ela aceita, me deixando
comandar o ritmo.
Minhas mãos acompanharam o processo, quase cravadas em sua cintura
curvilínea, deixando nossos corpos separados apenas pelas roupas que
vestíamos. Encosto-a contra o mármore, puxando suas pernas para meus
quadris, tendo-as os rodeando, enquanto era depositada, sentada, no amplo
apoio. O salto pressionando contra minha coluna, formando uma flexão
deliciosa. Agora, ela se encontrava maior que eu, seus seios raspam em meu
peito, e posso senti-los rígidos através da roupa, enlouquecendo com o
erotismo que nos envolve.
Desço os lábios por seu pescoço, alcançando a clavícula, lambendo a pele
macia, enquanto me ocupava em descer as alças finas de seus ombros. Chego
ao peito, deferindo beijos curtos, perdendo-me no vale entre seus seios, em
êxtase, alucinado, excitado com a sensação de ter sua pele quente contra
minhas mãos e boca. Em uma dança erótica, suas mãos me seguravam pelos
antebraços, as pernas ainda me abraçando e os lábios, dela, abertos deixando
mínimos suspiros escaparem e, os meus, ocupados demais em tomar o
mamilo direito rosado com fervor. Grunhi feito um animal, apertando o seio
livre. Khai joga a cabeça para trás e seguro em sua coxa, empurrando o tecido
agarrado para cima e arrasto os dedos em sua virilha arrepiada. Os dedos
emaranhando em meus cabelos, me puxam para cima, e volta a me beijar com
mais fervor que antes. A desço da pia, virando-a de costas para mim de novo,
subindo seu vestido e afasto a mínima calcinha rendada, acompanhando seu
cair ao chão.
Ela levanta um pé após o outro, se desvencilhando da peça intima e se inclina
para frente, empinando a bunda para mim. Como um desesperado por água
em um deserto, afasto o zíper, abrindo o botão da calça, descendo a boxer,
beijando sua nuca livre do cabelo. Afasto as bochechas cheias das nádegas
firmes, me esfregando como um animal no cio, desesperado demais por sua
fêmea, desejando acabar com a tortura gostosa das preliminares. Surpreso
demais com o jeito em que meu corpo reagia diante dela. Tenso, tesudo,
ofegante, faminto.
— Não tenho camisinhas. — Suspiro, achando que nossa diversão estava
limitada. Ela geme baixinho em frustração, abrindo os olhos. A mão direita
sai do mármore, aventurandose entre as pernas e me toca com a ponta dos
dedos. — Você é decepcionante. — Resmunga, deitando a cabeça em meu
ombro. Rio baixinho e puxo a camisinha do bolso traseiro da calça. Rasgando
a embalagem.
— Hoje não, linda. — Sussurro em seu ouvido, afastando os quadris do seu
corpo. Mordo o lóbulo de sua orelha, investindo contra seu corpo quente e
apertado. Seguro o seio livre do sutiã, a respiração contra sua nuca e os
quadris puxando e empurrando sem cessar os movimentos. Khai se debruça
na pia, agarrada ao mármore, rebolando em minha direção e deixando curtos
gemidos baixos saírem de seus lábios entreabertos. Porra, muito gostosa!
Onde aprendeu a fazer isso? Estranhamente, a ideia de não ser o primeiro
dela me incomoda. Mas afasto os pensamentos depressa. Sexo, apenas isso.
Seguro seu clitóris com as pontas dos dedos, polegar e indicador,
provocando-o com o mindinho. Bato em sua nádega direita e ela geme
desesperadamente, tapando a boca para não gemer alto demais.
Enrolando seus cabelos na mão, puxando de leve a trazendo para perto, os
olhos me encarando com lascívia, luxúria, tesão, através do espelho, a boca
inchada e avermelhada vindo de encontro a minha. Seguro seu queixo e
mordo seus lábios, enquanto seus dedos seguram em minha camisa, gemendo
e contraindo, enquanto gozava. Ganindo, urrando, alcancei o orgasmo,
ofegante.
— Ainda sou decepcionante?— Sibilo com minha testa encostada em seu
ombro, após alcançarmos o orgasmo.
— Não imagina o quanto. — Sopra sem fôlego e rio baixinho.

Capítulo 4
Khai
— Deixa de ser bobo!— Rio, empurrando seu ombro, enquanto
caminhávamos para fora do restaurante pelos fundos.

— Estou falando. A culpa foi toda sua.— Provoca e mordo o lábio inferior,
me segurando para não rir.— Lidou muito bem com a situação, já passou por
isso antes?

— Não, tecnicamente. No primeiro ano na faculdade eu era um pouco


irresponsável e, completamente, maluca, insana.— Comento.

Alguns minutos atrás após nossa pequena aventura no banheiro do


restaurante, fomos flagrados pela recepcionista e não foi nada confortável.
Apesar da vergonha momentânea, deixei o restaurante rindo do desespero de
Jaime, enquanto ele resmungava que a culpa era minha, já que o seduzi.

— Irresponsável a que ponto?


— Ahm... eu só queria festas, bebidas, sexo e participar de trotes.— Conto
levantando o ombro direito e prendo uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha.
— E o que te fez criar juízo, se é que criou?— Indaga com um ar de diversão,
me encarando as vezes, andando ao meu lado pela viela.
— No segundo ano, passei por algumas coisas em casa, então eu saí de casa,
alugando meu apartamento. Dali em diante, eu soube que precisaria deixar a
fase de caloura para trás, crescer e buscar pelo que eu queria. Dali um tempo,
mamãe faleceu e fiquei responsável por Jhonnie.— Explico com um sorriso
pequeno e ele continua andando ao meu lado, só que agora, de cabeça baixa.
— E se arrepende?— Pergunta, levantando os olhos para os meus, ao
alcançarmos seu carro em frente ao prédio luxuoso do restaurante.
— De quê, necessariamente?
— De deixar a diversão de lado para seguir com o que queria, e... cuidar do
seu irmão, como se fosse seu filho. — Resfolega, guardando as mãos nos
bolsos frontais de sua calça jeans.
— Não. Às vezes sinto uma carência, ou nostalgia, mas passa quando olho
para Jhonnie. Faz todo meu esforço valer a pena.— Sorrio. Jaime passa a
língua nos lábios e então sorri pequeno, desviando seu olhar do meu.— Tem
coisas, pessoas, que faz com que tudo faça sentido, mesmo após o caos
deixado por uma perca enorme.
— Você é uma boa pessoa, Khai. Vamos, vou te deixar em casa.— Meneia a
cabeça e assinto de leve, vendo-o abrir a porta do passageiro para mim. Por
um fim à noite parecia ser a melhor escolha, mesmo que meu corpo gritava
após o rápido momento que tivemos no banheiro por mais, sabia que não
passaria de sexo casual. Passamos o trajeto todo sem trocarmos uma palavra
sequer, o silêncio era preenchido com a música baixa o suficiente, na voz de
Shawn Mendes, Imaginations.
In my dreams
You are with me
We will be everything
I want us to be
And from then on, who knows?
Maybe that will be the night we kiss for the first time Or is it just me and my imagination?

Ao pararmos em frente ao meu prédio de oito andares, virei o rosto na


direção de Jaime, o vendo com o maxilar travado, tenso, trazendo o olhar
para mim. Seu histórico de mulherengo era curto demais segundo as notícias
espalhadas por todos os lugares na internet, isso explicava sua perca de jeito
em nossa despedida. Minha reputação de anos atrás ajudava a ver que ele não
era bom em despedidas, ainda mais quando se tratava de nunca mais ir atrás
da pessoa. Jaime era um bom homem, apesar do que estava prestes a fazer.

— Obrigada pela noite.— Começo com um meio sorriso, sem mostrar os


dentes.
— Foi divertido.— Concorda. Certo... acho que algumas atitudes desta noite
influenciaram para nossa perca de sincronia ao nos comunicarmos. Mas, era
apenas isso que o levou a sair comigo. Sexo. Nada mais. E eu, como a
péssima profissional, me deixei levar em vez de investir naquilo para que fui
até lá. E, possivelmente, jamais terei outra chance como esta. Aceno em
despedida e saio do carro, respirando fundo. Em curtos passos até a entrada,
onde parei por seu chamado. Girei sobre a agulha do salto, o vendo deixar o
carro, vindo até mim com receio em sua feição.
— Desculpe-me, eu não fazia ideia da pessoa com quem estava lidando.
Algumas horas atrás, eu só queria foder com você.— Os ombros caem em um
suspiro.
— E agora, o que você quer?— Cruzo os braços, pacientemente.
— Eu não busco por relacionamentos, se é isso o que quer saber. Mas ao
mesmo tempo que eu quero ir embora e fingir que jamais tenha te conhecido,
eu quero ficar. Uma amizade talvez.
— Então fica. — Quando vejo, as palavras já deixaram meus lábios, sem que
eu pudesse filtrá-las antes de as pronunciar.
As sobrancelhas arqueadas, como se estivesse surpreso pelo que eu havia
dito. Talvez eu fosse uma tola, sonhadora. Me iludindo com a pequena faísca
que se ascendeu com sua vindo atrás de mim. Minha nova versão, sonhadora
com um clichê, fascinada demais com livros de romances, querendo se iludir
sem qualquer resquício de chances de aquilo acontecer. A imensa vontade de
viver um romance influenciando em meus atos, encobertos pelo álcool do
vinho. Os olhos surpresos em uma tonalidade escarlate me encaram por
alguns segundos, parecendo ponderar minha sugestão, até desviá-los para o
chão, seguido da rua. As mãos sendo escondidas nos bolsos frontais do jeans
escuro, ombros rígidos e o maxilar trincado. Jaime era lindo, fato. Apesar
disso, algo nele me dizia que as notícias nas matérias da internet não se
aplicavam em sua personalidade. Os pontos não ligavam, a aparência
discordava do abordado. Entretanto, quem seria eu a deletar qualquer
informação da mídia que nunca foi descartada por sua negação, ou afirmada?
— Começamos errado, acredito. — Aponta, passando a língua sobre o lábio
inferior, segurando-o entre os dentes. Os olhos cintilantes tornam a me olhar,
expressando indecisão. — Não me arrependo do que fizemos, mas de como
fizemos.
— O que quer dizer?— Indago, franzindo o cenho. Buscando entender seu
próximo passo.
— Eu tenho uma dificuldade grande em confiar nas pessoas, Khai. E sinto
que posso confiar em você. — Suspira e dá dois passos, chegando mais perto.
Os olhos baixos, parecendo envergonhado.
— Não deveria confiar em mim, talvez eu fosse uma psicopata pronta para te
atacar. — Empurro seu ombro de leve e ele sorri.
— Nos vemos outra hora?— Murmura, me olhando com um leve curvar dos
lábios. Balanço a cabeça em concordância e reprimo os lábios. — Boa noite,
Khai.
— Boa noite. Jaime. — Sopro desconcertada, vendo-o avançar lentamente,
alcançando minha testa. Deixa um beijo suave e então se afasta, levando
consigo o cheiro do perfume de marca.

Os gritos de alegria das crianças invadem meus ouvidos e sorrio pequeno,


encarando o portão de saída da escola de Jou. Era comovente sentir a alegria
deles ao entrarem em um lugar, que até meus treze anos, eu tinha pavor.

— Espera só até chegarem ao ensino médio. — A voz repleta de diversão


sugere e viro meu rosto para o lado, vendo Jaime de braços cruzados, ao meu
lado.

— Está aí a quanto tempo?— Questiono, olhando ao redor. Deus, como sou


tão desligada das coisas!
— A pelo menos meio minuto. — Responde e balanço a cabeça.
— O que o traz até uma escola? Não me diga que tem filhos! — Zombo,
cruzando os braços. Jaime sorri passando o polegar no lábio inferior e ajeita a
toca do moletom na cabeça.
— Achei que te encontraria aqui. — Assinto, compreensiva. — Queria me
desculpar por ontem e recomeçar.
— Oh! — Abro a boca, estupefata com sua atitude. — Achei que já tínhamos
resolvido essa parte.
— Não por inteira. Um almoço, talvez?— Sugere, arqueando a sobrancelha
esquerda. Reprimo os lábios, soltando os braços ao lado do corpo.
— Estou com Jhonnie, desculpe. — Nego e ele suspira, guardando as mãos
no bolso do moletom preto, com ilustração.
— Traga-o junto. — Levanta a sobrancelha esquerda e empurra meu ombro
com o seu de leve.
— Eu... — Arrasto meu olhar para a saída da escola, vendo Jou vindo em
nossa direção com confusão em seu olhar. — Oi! — Curvo-me para deixar
um beijo no topo de sua cabeça, o vendo sorrir para mim.
— Como foi?— Pergunta, dispensando o cumprimento e ignorando a
presença ao meu lado. Reprimo os lábios, recordando-me da noite agitada e
balanço a cabeça, descartando o assunto.
— Conversamos sobre isso outra hora. — Apoio a mão por trás de sua
cabeça. — Jou, esse é Hastings. Jaime, Jhonnie.
— Ei, carinha. — Levanta a mão o oferecendo um soquinho de punho, Jou o
cumprimenta de olhos cerrados.
— Olá. — Assobia o curto cumprimento e volta a olhar para mim. —
Podemos ir?
— Já vamos, Jou. — Levanto meu olhar para Jaime e o vejo nos assistir, sem
qualquer expressão. — Jou não gosta de restaurantes, mas se quiser almoçar
conosco, está convidado.
— Se Jhonnie não se incomodar, eu aceito.— Olho para Jou, que nos assiste
sem dizer qualquer coisa, dando de ombros em seguida.


— Jhonnie parece não ter gostado de mim.— Diz Jaime, cortando cebola.

— Oi? Ah, não, não! — Descarto a afirmação. — Jhonnie é apenas tímido,


não gosta muito de conhecer novas pessoas. — Rio, pondo o macarrão na
água fervente.

— E você? É tímida?— Levanta a sobrancelha esquerda, sisuda, oferecendo


um sorriso cínico e mordo o lábio inferior, desviando meu olhar do seu.

— Depende da situação. — Arqueio o ombro, buscando por um garfo e mexo


o macarrão.
— Em momento algum te achei tímida, talvez ele tenha puxado isso da sua
mãe, ou do pai. — Implica e rio de leve, envergonhada com a direção que
estamos tomando. Era um caminho perigoso, fato. Mas se vamos flertar, acho
que não tem problema, diante de nossa intimidade na noite passada.
— Nossa mãe era tímida. — Conto, abrindo um sorriso nostálgico e me
encosto no mármore da pia, cruzando os braços.
Jaime termina de cortar a cebola e se vira, deixando a faca sobre a tábua de
corte. Acompanho seu lavar de mãos, o vendo balançá-las em seguida e apoia
a direita no mármore ao meu lado. Obrigo-me a não o encarar, enquanto sinto
sua respiração na minha bochecha. Meu peito faz festa, um frio na barriga e
um nervosismo que não sei de onde surgiram me assaltam, ao ponto de quase
me deixar paralisada e, completamente, desarmada. Céus, estou tendo uma
vertigem. Ontem achei que fosse efeito da bebida, mas não. Agora, sã, sinto-
me atordoada com sua proximidade. Fecho os olhos com o raspar de seus
lábios em minha bochecha, desejando o toque de suas mãos, em qualquer
parte que fosse do meu corpo. Ignorando toda e qualquer conversa sobre
recomeçar e esquecer o que fizemos.
Não obedecendo aos meus comandos, meu rosto veio de encontro ao seu,
sendo separados por mínimos milímetros. De olhos abertos, encarei as safiras
incomparáveis, expressivas, destacadas pelos longos cílios pretos e
maravilhosos. O movimento da língua sobre os lábios atraindo minha
atenção, vendo-o molhá-los e em seguida curvá-los em um sorriso de canto.
Fecho os olhos com seu afastamento e o sinto puxar o pano de prato,
pendurado em meu ombro.
— O macarrão vai grudar, subchefe.— Sopra com diversão e então abro os
olhos, entendendo o que ele havia dito. Viro-me para o fogão, buscando com
o olhar perdido, o garfo. Mexo o macarrão e me afasto, indo até o vidro da
janela em cima da pia, a abrindo, sentindo-me com um calor insuportável.
Seu riso atrai minha atenção, e o vejo indo em direção ao fogão com a tábua
em mãos, despejando a cebola na panela ao fogo.
Passo a mão em minha blusinha preta, alinhando-a ao corpo, descendo para o
short jeans miseravelmente curto e prendo meus cabelos em um coque, no
alto da cabeça.
— Er...— Pigarreio recompondo-me e desvio meu olhar do seu corpo
másculo, focando em qualquer coisa que fosse. — Não tem treino para o
jogo?
— Hoje à noite. Não gosto de treinar de dia, então... — Estala a língua e
assinto.
— Quais são suas expectativas para o recorde?— Pergunto, como quem não
quer nada. Jaime se vai acrescentando os ingredientes na panela e torce a
boca, balançando a cabeça.
— Pelo menos cinquenta pontos a mais que o recorde. — Conta e mexe o
conteúdo na panela, acrescentando os pequenos cubinhos de picadinhos de
carne.
— Não entendo de futebol, mas se você for tão bom quanto aparenta cozinhar
bem, sei que vai acabar com o recorde que está lá. — Inspiro, embriagada
com o cheiro gostoso do tempero.
— Isso era para ter sido um elogio? — Indaga, me olhando com um mínimo
sorriso debochado.
— É, acho que sim.— Balanço a cabeça, prendendo os lábios entre os dentes.
— Sinto-me ofendido com ele. — Toca o próprio peito, fingindo ofensa. Rio
cruzando os braços e ele mexe a carne no tempero, que começa a fritar. —
Sou ótimo no futebol, sem modéstia parte. Tão, quanto na cama e em
cozinhar.
— Você vai conseguir, tenho certeza. — Resmungo sem jeito. Ele assente e
curva os lábios em um curto sorriso relaxado.

Jaime
— Hmm... — Um gemido em apreciação deixa seus lábios, de olhos
fechados e cenho franzido, enquanto tenho a colher em sua boca.

— Então? — Pergunto, recolhendo a colher, a vendo abrir os olhos castanhos


me encarando em admiração, mastigando o picadinho ao molho.

— Vou te prender nessa cozinha e não vou te deixar sair, jamais! — Exagera
e rio, deixando a colher sobre a pia. Seguro sua cintura com a mão direita,
subindo a esquerda até seu rosto, limpando o mínimo vestígio do molho em
seu lábio inferior com o polegar, levando-o aos lábios.

— Tem razão, ficou uma delícia. — Sussurro. Ela mastiga devagar me


encarando nos olhos, com a respiração desregulada. O maxilar dançando
lentamente com o mastigar, o corpo reagindo incrivelmente ao meu toque,
que me dá uma imensa vontade de cruzar o espaço entre nós e acabar com
essa tortura.

Travo o maxilar, repreendendo meu olhar, que desce descaradamente por seu
rosto, encarando os lábios rosados, naturais, passando pela garganta e
alcançando o vale entre seus seios. Muito bem gravados em minha memória.
Realçados pela rigidez de seus mamilos, pela primeira vez, aparentando estar
sem a peça íntima. O tecido preto fino do algodão contorna suas curvas, se
tornando estupidamente desnecessário e empata. Meu polegar em sua cintura,
inquieto, se mexia em círculos imaginários, traçando a barra da blusinha de
alças finas, tocando sua pele quente em brasa, implorando para a despir ali
mesmo.

— Me peça para parar. — Grunho, incapaz de parar sozinho, tendo os seios


subindo e descendo com sua respiração pesada em meu campo de visão. Ela
engole em seco, não atendendo ao meu pedido agoniado e encaro seus olhos
nebulosos, envolvendo sua garganta com minha mão. Khai sopra um gemido
quase inaudível com a boca entreaberta, atentando-me ainda mais. Giro
minha mão parada em sua cintura, agarrando a bunda coberta pelo curto pano
jeans claro. O quadril vindo de encontro ao meu corpo, o suspiro indecente
deixando sua boca, ao encostar no desconforto em minha calça. A cabeça
inclinada para alcançar meu rosto, oferecendo-me o que estava me matando,
os mamilos endurecidos contra meu peito.

Fecho os olhos, amaldiçoando meu corpo por a desejar como o inferno,


encostando minha boca em sua bochecha e seguro em seu rosto, mordendo a
pele corada e a sugo necessitado. Suas mãos pequenas abraçam-me, subindo
as unhas por minhas costas, provocando um arrepio em minha coluna e
alcança meus cabelos, os puxando de leve. A boca ávida agarrando a minha,
os seios roçando em meu peito com o movimento de nossos corpos, irado por
querer rasgar suas roupas, acompanho o dançar de nossas bocas apertando
seu seio e a encosto em qualquer coisa, totalmente sem controle dos meus
próprios atos.

Meus dedos se aventuram entre suas pernas, esfregando o centro sobre o


jeans, o gemido abafado por minha boca. Meu nome sendo soprado em um
gemido, enquanto lambo indecentemente seu pescoço.

— Céus, como quero te foder agora. — Suspiro contra seu ouvido. Encontro
com seus olhos desejosos, lábios entreabertos, inchados, e a respiração tão
desregulada quanto a minha.

— O macarrão. — Sussurra e fecho os olhos, preparandome


psicologicamente para a soltar. Acredito ter demorado mais que o necessário
para a soltar, apoiando-me no balcão, tentando distrair minhas cabeças. — Li
uma matéria sobre sua ida para New York após o jogo. — Comenta e a olho
por cima do ombro. Khai se abana, olhando para cima.— Não volta mais sem
ser para jogar, não é?

— Possivelmente, por que?— Pergunto, de cenho franzido e olhar cabisbaixo


nega, abrindo um sorriso contido.
— Apenas curiosidade. — Abana a mão, descartando o assunto e posiciona o
escorredor de macarrão na pia, buscando pela panela.
— Quer ajuda?— A ofereço e ela nega. Com cuidado, virando o conteúdo da
panela no escorredor, abrindo a torneira. — Anda lendo muito sobre mim?
— Um pouco. Não é como se conseguisse evitar, já que é a temporada do
fechamento dos jogos e prestes a ter uma atualização no placar. — Levanta o
ombro direito ainda de costas para mim O movimento inocente, me fazendo
ter pensamentos indecentes. Viro-me, recostando-me ao balcão, a assistindo
escorrer o macarrão.
— O que estão falando? Não gosto de ler as matérias, são insignificantes. —
Inquiro e ela balança o escorredor, apoiando-o na panela e se vira para mim,
pegando o pano de prato da mesa.
— O mesmo de sempre, torcendo para que conseguisse atingir o recorde e...
— Hesita, desviando a atenção para a mesa e me olhando em seguida, sem
jeito—, sobre Glenda.
Fico parado por alguns segundos tentando digerir o assunto e desvio o olhar,
buscando por concentração e foco, para desviar meus pensamentos a respeito.
— O que falam dela?— Engulo minha aversão a esse assunto, sendo vencido
pela curiosidade, sabendo que não me agradaria.
— A morte e o seu envolvimento no processo. — Completa. Volto a olhar
em seus olhos, completamente inexpressivos.
— Não esperava menos que isso. — Debocha e sorrio de leve sem emoção.
— Por que nunca se pronunciou a respeito? — Especula, cruzando os braços.
— Evitar polêmicas é melhor do que as alimentá-las, não acha?
— Não, não acho. Acho que se você tivesse explicado os fatos quando
aconteceram, já teria calado a mídia nessa altura do campeonato. — Levanta
o ombro direito, frisando seu lado e suspiro, guardando as mãos nos bolsos
frontais das calças. — Não quero discutir sobre isso com você, podemos
mudar de assunto?— Khai reprime os lábios, voltando a se virar e despeja o
macarrão em uma travessa de vidro.
Vou em silêncio até o fogão e mexo o molho já quase pronto.

Capítulo 5
— Ficou muito bom! — Jhonnie elogia, me olhando por cima do prato a sua
frente. Sorrio agradecido para ele e busco amenizar o clima que ficou após
minha recusa a responder as perguntas de Khai. Não é como se eu confiasse
nela, ou como se fosse um assunto que eu costumava tocar muito. Era apenas
algo que eu preferia esquecer, superar. Sozinho. E a conheci ontem, apesar do
que sinto, em relação a poder a confiar nela, não sei se devo. Para falar a
verdade, eu nem devia estar aqui. Me afastado seria o mais indicado. Seguro,
para ela.

— Como vai na escola?


— Bem. Hoje foi o último dia. — Conta e assinto. — Gosta de ir à escola?
— Sim, os professores são legais. — Responde, enrolando o espaguete no
garfo, levando-o a boca.

— Aposto que tem muitos amigos. — Sorrio para ele, que olha para Khai e
depois para mim novamente. Então, nega com a cabeça.
— As pessoas não gostam de mim.
— Por que?
— Porque acham que eu quero a atenção dos professores

só para mim. — Sorri tristonho, voltando a encarar seu prato. Olho para Khai
que encara o irmão e respira fundo antes de dizer qualquer coisa.
— Não é que elas não gostam de você, Jou. Elas nem ao

menos tiveram a chance de ver o quão incrível você é. — Ressoa, atenciosa.

— Eles não se mostraram interessados em querer me conhecer. — Aponta.


— Se assim como você todas as pessoas pensassem dessa forma, ninguém
seria amigo de ninguém. O mundo seria menos unido do que já é, com a
diferença que não existiria amizades. — Reforça.
— O que quer dizer?— Jhonnie pergunta de cenho franzido, confuso.
— Quer dizer que você deve mostrar a elas o que estão perdendo. Não se
gabando, apenas mostrando seus talentos e seu caráter. Poucas pessoas vão
ver seu valor, mas muitas enxergarão sua capacidade de ser um amigo e
tanto.— Acrescento. O garoto louro me olha com admiração e assente,
voltando a olhar em seu prato.
Desço meu olhar para a mão de Khai sobre a minha em uma breve carícia e
olho seus olhos agradecidos. Sorrio de leve, a vendo recolher a mão em
seguida.
Passei a tarde com os dois, conversando e me recriminando quando meu
olhar insiste em secar a garota simpática. Nunca pensei que ficaria muito
tempo na companhia de uma mulher que me atraísse fisicamente sem a tocar,
sem estar em cima dela. Mas cá estava eu, sentado em seu sofá simples,
conversando com ela e seu irmão caçula, reprimindo-me ao admirar o quão
seu sorriso me parecia ainda mais bonito a cada segundo.
Khai precisava de alguém, embora nossos momentos de interesse sexual um
no outro, eu sabia que precisava parar de brincar ou insistir em querer mais
do que provei. Eu não podia a oferecer o que estava claro em seus olhos que
buscava, que sonhava. Mesmo com sua história muito bem descrita durante
nossa tarde, de diversões e vício em sexo no começo da universidade, ela tem
adotado um novo estilo de vida, adaptandose ao que o irmão precisava. Era
imensamente comovente ver o que ela estava fazendo para cria-lo da melhor
forma possível. Deixando de lado sua vida, desejos, luxos, para cuidar do
filho de sua mãe que partiu, mesmo o garoto tendo o pai que poderia ficar
com ele.
Aperto meu pulso dolorido pelo mal jeito que dei no último treino e respiro
fundo, após ter rido muito com a falta de jeito de Khai ao explicar para o
irmão como os bebês eram feitos. A pressão em minhas bolas me assaltando
de repente, endurecendo meu pai ao imaginá-la nua na minha cama, entregue,
quando encaro sua bunda dividida pela costura insignificante do minúsculo
short quando se abaixa ao lado do irmão no chão, explicando-o com gestos
inocentes.
— Então, quando um homem ama a mulher, eles decidem fazer bebês, para
simbolizar a união e formar uma família. — Conclui.
— Mas a tia Stace está grávida e não tem namorado! — Insiste e rio, vendo o
rosto corado de Khai.— Além do mais, você não disse como eles são feitos.
Porque é impossível serem trazidos por cegonhas.
— Claro que não é impossível! Quem disse isso? A cegonha quem traz os
bebês. Os pais fazem o pedido ao... ao correio das cegonhas e então entregam
sementes para o casal, que precisam ir ao médico para ele por dentro da
barriga da mulher. — Gargalho, desviando minha atenção da bunda
empinada inocentemente para mim.
Seguimos com a breve explicação para ele, que insatisfeito com a resposta, se
cala, deixando de lado a pergunta desconfortável. Khai volta a se sentar ao
meu lado, apoiando a mão em meu joelho para se levantar e gemo baixo a
contragosto pela perca da minha visão satisfatória. Seus olhos me encaram
confusos e olho rapidamente para baixo, vendo-a seguir meu olhar e arregalar
os olhos, se ajeitando no sofá, constrangida. Jhonnie se vai da sala, dizendo
que iria tomar banho para sua aula de violão, nos deixando sozinhos e Khai
me olha incrédula, sussurrando palavras repreensivas, pedido que eu me
controlasse e rio, apertando a ereção incomoda em meu jeans.
Quando pronto, vou com eles até o estúdio onde o pai dele paga mensamente
seu curso por pedidos incansáveis do garoto e espero até que Khai voltasse
para o carro. A deixaria em seu apartamento antes de seguir para o treino que
se aproximava. Quanto mais eu a olhava, mais minhas bolas judiavam de
mim, pressionando, causando uma dor desagradável no espaço curto que me
prendia. Porém, eu não conseguia sequer tirar os olhos dela. Para falar a
verdade, eu nem tentava.
As írises castanhas, transparecendo seu interesse em mim, confirmando que
minha atração física era mútua, me encarava fixamente, parecendo
empenhada em decifrar todos os meus segredos, querendo ler meus
pensamentos sujos que a envolvia. Não deixei passar quando estacionei o
carro em frente ao seu prédio. Agarrei sua boca quente, mordendo os lábios
carnudos, apertando seu corpo contra o meu, agradecendo estar escurecendo,
nos dando certa privacidade. A puxei para cima de mim, engolindo sua boca
com gula, apertando as bochechas firmes de sua bunda que se move
incansavelmente em meu pau dolorido nas calças.
O tesão se negando a ceder, quanto mais a provo, aperto, moo, chupo, meu
desejo lascivo se espalha pelo corpo, descontando em minhas pobres bolas.
Grunho feito um animal, descendo minha língua por seu pescoço e alcanço o
seio rígido, coberto pela fodida roupa. Khai geme, empurrando seu centro em
meu pau, arranhando meus ombros e morde meu pescoço. Chupo seus
mamilos endurecidos sobre a blusinha miserável e ela me para, segurando em
meu peito.

Khai
— Você... precisa ir. — Resfolego, tentando acalmar minha respiração. Os
olhos safiras brilham, contendo uma sombra nas írises e eu sabia bem o
porquê de estarem naquela tonalidade, escuras.

— Não... — Resmunga, puxando meu corpo contra o seu novamente.

— Jaime... Não quero que se atrase por minha causa. — Sibilo, apertando seu
ombro, mantendo-me afastada, suficientemente. Torce o rosto em uma careta
frustrada, escorregando os dedos em minhas coxas, envolvendo a virilha com
os mesmos. Arquejo, tentando disfarçar o quanto aquilo me afetou.

— Uma rapidinha, aqui, em frente ao seu prédio. Onde podíamos seremos


flagrados... sua bunda rebolando no meu pau, livre do aperto desse short
miseravelmente curto, justo. Céus, Khai... — Tenta avançar em minha boca
outra vez, mas o impeço, pondo as mãos abertas contra seu peito.

— Por mais que seja uma tentação e tanto, eu não posso ir a diante com isso.
— Sussurro e ele me encara por alguns segundos, com a curiosidade e
confusão tomando a frente de seu semblante. — Você quer sexo casual e eu
não estou mais disposta e aberta a esse estilo de vida.
Seus dedos afrouxam o aperto em minhas coxas próximo à virilha. Supondo
que ele havia entendido, movi-me com cuidado, levantando de seu colo e
colocando-me no acento de couro marrom. O olho por mais alguns segundos,
vendo que sua expressão não era a das mais pacíficas. Penso em dizer ao
menos tchau antes de sair do carro, mas a única coisa que deixa minha boca,
é um rápido agradecimento pela carona. Alcanço a calçada, com passos
lentos para chegar à porta, algo em mim torcendo para que me chamasse,
como fez na noite passada. Decepciono-me quando entro no saguão do prédio
e o som do carro nasce com o ato de dar partida.

Estou fazendo o certo, acredito.


— Oi. — Murmuro, surpresa ao abrir a porta e encontrar com Jaime.


— Khai. — Curva os lábios rosados em um curto sorriso. Reprimo os lábios,
prendendo a respiração brevemente, não sabendo como lidar em sua
presença.
Quando ele se foi e eu subi para me pacato apartamento, pensei que não
voltaria a vê-lo e que a segunda chance para conseguir uma entrevista, havia
ido ralo à baixo. No entanto, sua presença, rígida, cautelosa e despojada em
minha frente indicava que ele não desistiria de persistir enquanto não tivesse
aquilo o que vinha buscar.
Jaime era lindo e dado a nossa pequena experiência no banheiro do
restaurante, eu estou retraída a respeito. Ele poderia ser comparado à maçã do
jardim de Éden e eu a Eva. A serpente que a besta se fez passar era nada mais
nada menos que seu equipamento grande, grosso e gostoso. Uma verdadeira
tentação. Me manter afastada, recuando, não o dando brechas, parecia ser o
mais ideal. Jaime não parecia querer se prender. Então, o que ele fazia aqui?
Bom... Sexo fácil.
Fui fácil, o cedi quando me encurralou contra a pia do lavabo. Entreguei
aquilo o que ele procurava naquela noite, de qualquer jeito, porém. Ele estava
cercando, fazendo sala para a visita enquanto o banquete era terminado de ser
posto à mesa. Temperando e atacando sem deixar brechas, traçando seu
plano. Não temo por meu coração. De longe eu sou tipo de garota que se
fascina, encanta e se apaixona por caras por seus dotes sexuais.
Temo pela minha sanidade. Autocontrole. Cair na tentação e foder com ele
quando e onde quisesse, sem o cansar para isso, seria assinar minha
contratação na mesma vida de antes. Transar apenas para saciar um desejo
momentâneo, usando quem quer que fosse e descartando em seguida.
Viciando aos poucos e, lentamente, aderindo a vida antiga de festas e sexo
fácil. Jhonnie precisava de uma pessoa madura e sem vícios em sem-
vergonhices. E eu pretendia manter-me assim a longo prazo.
— Posso entrar?— Pergunta, com a voz mais rouca que segundos atrás.
Passo a língua sobre os lábios, sentindo meus pelos da nuca eriçarem,
enviando um calafrio para minha espinha. Aquele pedido não soou certo,
correto, sem uma segunda intenção por detrás das palavras proferidas. Abro a
boca algumas vezes, tentando fazer minha voz sair, totalmente sem sucesso.
Desvio meu olhar do seu, buscando por autocontrole e assinto. Recuo
pequenos passos, dando-o espaço e ele entra, guardando as mãos nos bolsos
frontais do jeans surrado. Fecho a porta, soprando silenciosamente minha
respiração pesada e viro-me para encará-lo.
— Está sozinha?— Pergunta e movo s cabeça em concordância. Pigarreio
procurando pela minha voz.
— O pai de Jhonnie veio o buscar. Aula de francês.
— Pensei que tivessem o mesmo pai. — Comenta e nego, gesticulando para
que se sentasse.
— Não. Não me lembro do meu pai. Ele faleceu em um acidente de transito
quando eu tinha dois anos. Steven foi um relacionamento passageiro de
minha mãe e veio Jhonnie de brinde. — Dou os ombros, sentando-me na
outra ponta do sofá.
— Compreendo. Se Jhonnie tem o pai, por que continua cuidando dele?—
Inquere, arqueando a sobrancelha esquerda.
— Jou não se sente bem, estando com o pai. Steven trata ele como um
prêmio, forçando-o a fazer diversos cursos e coisas para enriquecer o
vocabulário, prepará-lo para o mercado de trabalho. Como ele diz. Eu não
nego que o que faz será bom para o filho, mas o jeito como faz acaba
passando dos limites. Jhonnie tem quase dez anos de idade e já está em um
nível intermediário em português e francês. É muita pressão em cima de uma
criança...— Suspiro, deixando os ombros caírem. — Estando comigo, a carga
horária de estudos e cursos diminuem. Sem contar que não regulo seu
consumo de doces, salgados e tudo mais. Steven quer um cavalo premiado,
não um filho.
— Pela idade dele está muito avançado. Deveria pegar leve, Jhonnie é apenas
uma criança. — Concorda e respiro fundo, antes de puxar o motivo de sua
vinda até aqui ao assunto em pauta.
— O que veio fazer aqui?— Questiono e seus olhos atentos me observam
cautelosamente.
— Sinto que te devo desculpas. — Murmura, abaixando seu olhar para o
tapete.
— Pelo o que?— Questiono franzindo o cenho, confusa.
— Por te propor uma amizade, quando o que eu mais quero é foder com
você. Sem tréguas. — Responde, voltando a olhar nos meus olhos.
Jaime se levanta, vindo até mim com passos calmos, rápidos, no entanto e se
coloca de joelhos à minha frente. As safiras cintilantes brilham com uma
sombra causada pelos cílios, me encarando com intensidade. Como se
pudesse me despir apenas com a tensão que se estendia entre nós pela
maneira como a que estava me olhando. Solto o ar que nem percebi estar
segurando, quando levanta sua mão direita no ar, trazendo-a para meu rosto.
Impulsiona o corpo, lentamente, aproximando nossos rostos e quase suspiro
no momento em que sussurra contra minha boca.
— Eu quero te propor uma amizade. Mantê-la por perto. Mas, ao mesmo
tempo, quero rasgar essa maldita camisa social e ver sem barreiras a rigidez
que se encontra seu corpo lindo, gostoso. — Resfolego, apertando as pernas
uma na outra, enquanto minha calcinha molhava e um arrepio insignificante
se apossava do meu ventre.
— Por que eu?— Sibilo, afetada até demais por sua aproximação do que eu
gostaria de assumir. Encaro seus lábios curvarem minimamente na sugestão
de um sorriso, os olhos mais fixos nos meus que em qualquer momento. Toca
meu rosto, deslizando com delicadeza até minha nuca, adentrando os dedos
em meus fios de cabelos revoltosos. Arrepio quando os puxa, me obrigando a
inclinar a cabeça e sinto o sopro de seu riso em meu pescoço.
— Porque você me desperta um desejo devasso, Khai. — Assobia, e sinto sua
barba rala raspar em minha pele. Fecho os olhos brevemente, tentando conter
que um gemido deixasse minha boca, repreendendo meu corpo por deixá-lo
me provocar nesse nível. Sem que dissesse qualquer coisa, meneou minha
cabeça com o puxar em meus cabelos, fazendo nossas bocas roçarem. Sopro
minha respiração com pesar, apertando um joelho contra o outro, moendo e
latejando entre as pernas. Contraí, arrepiando com a maneira que seus dedos
da mão livre tocaram minha coxa livre de qualquer pano decente. Uma
péssima ideia ter me mantido com a camisa longa social após a saída de
Jhonnie. — Seja minha hoje.
Gemo sem que pudesse controlar, enquanto ele tomava o som primitivo como
uma confirmação, avançando em minha boca. Levo alguns segundos para
entender o que estava acontecido, retribuindo seu beijo, indo contra tudo
aquilo que eu estava pensando e me empenhando para fazer. Jaime empurra
meu corpo para trás, vindo por cima e se coloca de joelhos sobre meu corpo.
Ronrono enquanto suas mãos se dividem, uma servindo de apoio para seu
peso e a outra parecia inspecionar minha pele arrepiada exposta. Grunhe,
mordendo meus lábios, descendo a boca para minha bochecha. Ofego,
arrastando as unhas em suas costas cobertas pela grossa camiseta de algodão
e em um puxão, ele fez com que as costuras dos botões da minha camisa se
rompessem, escancarando o tecido fino.
— Jaime! — Protesto, ouvindo seu riso soprar contra meu pescoço. Aperto os
olhos com força, sentindo as pontas dos dedos me tocarem com sutileza,
empurrando-os em seguida para minha entrada. Deito a cabeça, deixando
para lá a chateação de ter perdido meu blusão favorito, dando-o livre acesso
ao meu corpo.
Range os dentes, encarando meus olhos com firmeza, enquanto abaixa o rosto
na altura dos meus seios desnudos. Prendo a respiração por alguns segundos,
apertando as pernas ao seu redor, puxando sua camisa para cima. Lamento,
rebolando contra os movimentos lentos que seus dedos exercem, tentando
remover sua camisa pela cabeça. Seus lábios quentes, macios, envolvem a
rigidez da minha pele sensível e arrepiada, sugando sem pressa, fazendo-me
latejar ainda mais, procurando por alívio.
— Porra! — Pragueja, soltando meu seio direito e afastando a mão do meu
centro. Demoro alguns segundos até entender que o motivo de sua chateação
vinha pelo fato da campainha ter tocado e ainda estar tocando,
desesperadamente. Sopro minha respiração com pesar, frustrada com a
interrupção e desvencilho-me de seu corpo, arrastando-me para levantar,
aturdida.
Pigarreio, empurrando meus cabelos para trás, puxando o resto da minha
camisa, fazendo-a abraçar meu corpo para cobrir minha nudez. Abro a porta,
vendo Jhonnie vindo correndo em minha direção me abraçando pela cintura e
logo atrás a figura ignorante de seu pai aparece em frente à minha porta.
Franzo o cenho, tocando nos cabelos lisos louros do garoto trêmulo ao meu
socorro.
— O que você fez para ele dessa vez?— Cerro os olhos, encarando os olhos
pretos de Stevan.
— Não é da sua conta, garota. Coloque esse moleque na linha. Amanhã
venho busca-lo para a aula de piano. — Rosna.
— Ei, espera aí. Mais um curso? Você perdeu a noção, Steven? — Brado,
puxando Jhonnie para trás do meu corpo, apertando a camisa com força. —
Você não irá leva-lo para aula alguma amanhã.
— É meu filho, eu o levarei onde e quando quiser. Não se meta nisso,
Khaillane. Quando tiver um filho, você decide como cria-lo! — Rebate,
abrindo um curto sorriso sinistro, fazendo um calafrio se apossar da minha
coluna. Mesmo assim, não recuo, cruzando meus braços, impondo minha
posição nesta discussão.
— Jhonnie, vá para seu quarto. — Falo, sem desviar meu olhar dos olhos
escuros que debocham claramente de mim. Sinto o aperto dele se afastar e o
som de seus passos se vão. — Escuta aqui, seu merda, eu posso não ser a mãe
de Jhonnie e dou graças a Deus por isso, porque não me deitaria com um lixo
feito você nem que fosse o último homem na face da Terra. O garoto que
você trata como um boneco tem sentimentos, desejos, vontades e vida
social...
— Cala a boca, garota. Você acha que tem moral para falar de mim? Você
fede a sua época de caloura irresponsável e cretina. Tão suja, imoral e
hipócrita quanto a mim. Abaixe o tom para se dirigir a mim, porque eu não
me importaria de a colocar em seu devido lugar.
— Eu não sou minha mãe, Stevan. Não engulo as merdas que você fala. Não
abaixo meu tom e me repreendo ao mostrar minha insatisfação diante de
ações. Continue sendo um babaca egoísta e eu faço questão de pedir uma
medida preventiva, proibindo sua aproximação à criança. — Ameaço, dando
um passo em sua direção. Sopra um riso com escárnio, olha ao redor, antes de
dar um longo passo em minha direção, colando seu peito ao meu.
— Tenho dinheiro, querida. Continue me ameaçando e em um mínimo
período de tempo, tirarei Jhonnie de você, a proibindo de vê-lo. Não se
esqueça que eu deixei que você ficasse com ele. — Cerra os olhos e torço a
boca em nojo, quando seus dedos tocam meu braço. — Se me irritar muito, te
coloco de joelhos à minha frente, para usar essa boca de um jeito muito mais
apreciativo do que ouvi-la deferindo palavras ofensivas. Vista-se
adequadamente para dividir essa espelunca com meu filho, sua vadiazinha.
— Algum problema?— Jaime questiona atrás de mim.
Capítulo 6
Jaime
— Jaime?— O homem que suponho ser Steven, pai de Jhonnie, questiona,
dando passos curtos para trás, se afastando do corpo da garota tensa. Travo o
maxilar, emparelhando com Khai.

— Queira me desculpar, senhor, mas não o dei liberdade para me tratar pelo
primeiro nome.— Cerro os olhos e ele tem uma expressão surpresa,
engolindo toda sua arrogância ao se tratar com Khai. — Já trouxe o menino,
agora pode ir.

— Novo cliente, Marin?— Ri com sarcasmo e a garota ao meu lado respira


fundo, ignorando a ofensa. Reprimo o quão desgastado estava com sua
conduta, tentando não partir para a violência. Não é o melhor caminho,
Jaime. A voz de meu pai soa em minha mente, lembrando-me da lição de
moral que recebi após ter brigado no colégio aos dezesseis anos.

— Não que seja da sua conta, colega. Mas somos amigos e eu não gosto nada
de ouvir meus amigos sendo agredidos verbalmente, apenas assistindo.
Queira se retirar, por gentileza. — Peço em um fio de paciência. Ele é muita
porcaria para que eu me rebaixe ao nível de agredi-lo fisicamente, sem contar
que poderia dificultar a vida de Khai com o irmão e não quero isso. De jeito
algum!

O tal Steven sorri torto, se virando e some pelo corredor. Khai suspira
longamente, empurrando a porta para que se fechasse e se vira para mim.

— Não precisava se meter. Meus problemas. Eu resolvo. — Murmura, não


deixando sua carranca de lado.
— Você estava por um fio de perder o controle da situação. — Relembro e
ela bufa, desviando de mim.— Ele já disse outras vezes essas coisas para
você?
— Já. É o pai de Jou, não tenho muito o que fazer a respeito. — Responde,
dando de ombros.
— Não era disso que eu me referia. — Coaxo, a vendo virar o rosto para
mim, arqueando a sobrancelha direita. — Ele ameaçou te assediar, Khai.
— Steven é um babaca. Não dá para esperar menos dele. — Me dá ombros
outra vez e solta o ar pesadamente, sentando no sofá. Toco o rosto, arrastando
as mãos para os cabelos e os puxo, odiando meu cérebro ter recebido sua
resposta como positiva à pergunta anterior.
— Já prestou queixa?
— O que? Não! Isso são apenas ameaças vazias. — Ri, achando graça. —
Cão que late não morde.
— Ele...
— Jaime, esquece isso, por favor.
Antes que eu pudesse insistir por sua segurança, meu celular toca e eu bufo.
Khai passa a língua sobre o lábio inferior, prendendo-o entre os dentes e
levanta a perna, apoiando o pé sobre o sofá. Abraça o joelho, relaxando a
postura, enquanto sua camiseta sem os botões abre, deixando seu corpo
seminu à vista. Desvio o olhar de seu corpo, puxando o aparelho do bolso do
jeans e atendo à ligação.
— Jaime.
— Aonde você está, Hastings? Estamos há pelo menos quinze minutos
aguardando por sua chegada! — Victor range os dentes do outro lado da linha
e eu reviro os olhos por me lembrar da maldita reunião com os outros
acionistas da companhia de transportação. Anton marcou uma reunião com os
investidores para oferecer sua parte na empresa, porque se casou com sua ex
cunhada que é irmã de sua ex namorada, que por sua vez, é prima de seu
amigo de infância e vai se mudar para o norte da Rússia. Confuso?
Compreendo.
— Já estou indo. — Aviso e ele encerra a ligação em seguida.

Khai
— Não. — Respondo pela milésima vez. Tem alguns minutos que Steven
chegou ao meu apartamento e está tentando levar Jhonnie para a tal aula de
piano. O imbecil se mantém insistente, mas por algum motivo desconhecido
por mim, ele simplesmente está calmo, como se não se irritasse como todas
as outras vezes em que eu o impedi de levar meu irmão. Sua expressão
risonha, debochada, me causava tédio e um leve calafrio na espinha. Era
desconfortável, muito desconfortável estar diante de um cara que se expresse
de forma tão grotesca. — Jhonnie, vamos! — Altera a voz e mantenho-me
parada a sua frente, braços cruzados acima do peito, queixo erguido.

— Chame o quanto quiser, ele não sairá do quarto ao menos que eu o diga. Já
chega por hoje, Steven. — Cerro os olhos, vendo um brilho maldoso passar
rapidamente em seus olhos, o fazendo alongar o sorriso imundo.

Dá dois passos curtos, entrando em meu apartamento, colando seu peito ao


meu.
— Você se acha a intocável, não é, Khai? — Sibila contra meu rosto,
pronunciando meu apelido de forma lenta e arrastado. Quase se desfazendo
do mesmo. Como se eu me importasse. Rio com esse pensamento, torcendo
meu rosto em nojo.
— Esse papel é todo seu, querido. Saia daqui antes que eu chame a polícia.
— Eu ameaço, favorecendo o fato de sua expressão se tornar debochada.
Sem que eu previsse, Stevan seguro em meu pescoço, empurrando meu corpo
para trás e chutou a porta, fechando-a com brutalidade. Deixei de cruzar os
braços, segurando em sua mão que envolvia minha garganta, apertando-a, e
gemi de dor quando chocou meu corpo contra a madeira da porta.
— Pare de me testar, menina! — Adverte, prensando sua virilha contra a
minha. — Acha que me irrita agindo dessa forma? Hm?— Rosna contra meu
rosto. Encarei seus olhos escuros com escárnio, pronta para rir na sua cara.
— Vai para o inferno, seu imundo. — Coaxo, sorrindo no fim, o vendo
franzir o cenho, se irritando.
— Não me irrita o fato de me atacar, pequena Khai. — O tom que Steven usa
ao me chamar pelo jeito que costumava pronunciar na época em que teve um
curto envolvimento com minha mãe me fez enjoar, quase supondo o que se
passava em sua mente suja e porca. — As coisas teriam sido tão diferente se
você não tivesse apenas quatorze anos naquela época... — Suga o ar entre os
dentes, roçando seu nariz em minha bochecha. — Foder sua mãe enquanto o
que eu realmente queria dormia no quarto ao lado era deprimente.
Encaro-o enojada, incrédula, temendo o que viria em seguida. Seus dedos da
mão livre tocaram em minha coxa nua pelo curto tecido jeans, subindo-os
para meu quadril, apertando-o. Empurra sua pélvis, esfregando contra a
minha e proibi-me de expressar qualquer coisa que fosse. Homens acham que
nos destroem quando nos assediam de alguma forma, mas o que poucos
sabem é que só cai em lastima quem permite ser violada psicologicamente.
— Não sabe o quanto me excita sua postura indiferente, pequena Khai. —
Sussurra, subindo a mão para meu seio alvo, amassando o monte coberto pelo
sutiã e a camisa. Nojento! — Torça para que Jhonnie realmente não saia do
quarto...
Fecho os olhos, irritada, pedindo que aquilo acabasse de uma vez. Minha
cabeça recebe mínimos choques quando alguém bate à porta e prendo a
respiração, abrindo os olhos. Vejo os olhos irritados de Steven encararem a
madeira logo atrás de mim, voltando para os meus e quase posso dizer que
me pediu por silêncio. A pessoa do outro lado bate novamente, e quando
chama pelo meu nome solto a respiração lentamente, reconhecendo a voz.
— Khai, eu sei que está aí. — Jaime suspira e Steven cerra os olhos.
— Dispense-o. — Ele range os dentes. Penso por alguns segundos, tentando
arranjar um jeito de me livrar do imbecil colado em mim.
— Olha, eu só quero conversar com você... — Murmura.
— Estou ocupada, Jaime. — Minha voz sai ofegante, expectante, esperando
que ele não desistisse e se fosse. Agora não!
— Cinco minutos, por favor. — Insiste. Sopro minha respiração com
dificuldade, procurando pelas palavras certas.
— A porta está emperrada. — Digo de uma vez e Stevan aperta meu pescoço
com mais força, me fazendo erguer-me nas pontas dos pés para alcançar sua
altura e diminuir a fricção do aperto. Bato o pé na porta sem querer, perdendo
o equilíbrio, quase sem ar.
— Khai?— Ouço por Jhonnie e o procuro com o olhar, vendo-o próximo ao
corredor dos quartos.
— Volta para o quarto, moleque. — Steven grunhiu.
— Se afaste da porta, vou tentar abri-la. — Jaime instrui e no segundo
seguinte, sinto a porta ser aberta, empurrando a mim e Steven de uma única
vez. Respiro fundo, fugindo do aperto do homem em meu apartamento e me
desvencilho rapidamente, ignorando a dor que a porta causou em minha
cabeça ao ser aberta abruptamente.
— Maldita! — Steven ruge, vindo para cima de mim novamente e agarra em
meus cabelos, puxando o coque que se desfez em suas mãos. Puxo o ar com
dificuldade, quando seu aperto se foi, me soltando, caindo sentada no chão.
Sons de socos e grunhidos, gemidos, rugidos ecoam pela sala, atraindo meu
olhar, vendo Jaime derrubando Steven no chão, deferindo diversos socos na
cara já ensanguentada do pai de meu irmão. Ofego, levantando-me, pedindo
que Jaime parasse, mesmo algo dentro de mim, minha parte rancorosa,
gritando para que deixasse que Jaime continuasse o socar sem parar.
Jhonnie se foi para o quarto atrás do telefone para ligar para a polícia por
pedido de Jaime e seguro em seus braços, puxando-o com custo do inútil
caído no chão.
— Chega, por favor. — Peço, encarando seus olhos nebulosos que não
desviam de Steven atrás de mim. Suas írises claras brilham, ofuscadas, no
entanto e ele me olha pela primeira vez, respirando rapidamente.
— Você está bem?— Pergunta com a voz grave pouco mais rouca, segurando
meu rosto entre as palmas. Assinto, tentando o acalmar. Jaime toca em meu
queixo com o indicador e o polegar, levantando-o. — Filho de uma puta!
Range, antes de tentar se desvencilhar de mim para ir até Steven novamente,
mas o aperto com mais força contra meu corpo.
— Jaime... — Sussurro e ele para, se voltando para mim.
— A polícia está vindo. — Jhonnie anuncia e fecho os olhos, notando apenas
agora as lágrimas escorrendo por minhas faces. Os polegares de Jaime
acariciam meu rosto, afastando as lágrimas e ele me envolve em um abraço
apertado.

Tem algumas horas desde que a polícia se foi levando Steven, preso em
flagrante por invasão de domicilio e tentativa de assédio. Acabamos de
chegar da delegacia, onde eu e Jaime prestamos queixa e depoimento e agora
era apenas esperar que a justiça faça sua parte. Na saída da delegacia, haviam
diversos jornalistas que nos encheram de perguntas e Jaime apenas puxou a
mim e Jou para seu carro, ignorando as pessoas curiosas e ansiosas por uma
matéria.

Logo mais, assim que chegamos, Jhonnie ligou a televisão para assistir a
qualquer canal, quando avisou que estávamos no canal de noticiário. A
legenda foi surpreendente. Diziam que Jaime e sua mais nova conquista
foram vistos saindo da delegacia, acompanhados por uma criança.

Mudamos de canal para ignorar as porcarias que estavam supondo ao meu


respeito e de Jou, mas o próximo foi ainda pior. Um canal de fofocas. No
entanto, foram mais respeitosos e pesquisaram sobre nós e fizeram
comentários sobre se Jaime estaria envolvido comigo de alguma forma além
de um caso como todas as garotas fotografadas com ele.
— Deixe de me olhar assim. — Jaime resmunga e pisco algumas vezes,
confusa. Desvio meu olhar dele, notando que estou a muito tempo o olhando
e respiro fundo, esfregando minhas pernas.

— Está com fome, Jhonnie? — Inquiro, querendo fugir da sala. O garotinho


assente, voltando-se para a televisão novamente.

Levanto-me do sofá, seguindo para a cozinha e abro a geladeira. Vejo por


minha visão periférica Jaime parar na entrada, apoiando seus braços no
balcão e ignoro, puxando os ingredientes para fazer três sanduiches.

— Você está estranha. — Comenta. Olho para ele rapidamente, voltando-me


para a pia.
— Não nos conhecemos, isso nos torna estranhos. — Lembro, lavando o
tomate e algumas pequenas folhas de alface.
— O fato de não nos conhecermos não explica o fato de que você está
diferente. Eu entendo que deve ser traumatizante passar pelo que você
passou, mas não precisa...
— Jaime, eu tô bem. Não estou traumatizada. Apenas estou tentando digerir
algumas informações e a falta de algumas delas. — Suspiro, olhando-o por
cima do ombro direito, arqueando-o.
— Tipo o que?
— Tipo o fato de eu estar em alguns canais de fofocas ao seu lado sendo
taxada de mais uma de suas conquistas. Não que eu não seja, convenhamos.
— Levanto o dedo indicador no ar, balançando em ponderação. Esse era o
dilema. Sou apenas mais uma no meio de tantas outras que ele come, se
lambuza e depois vai embora. Como se nada tivesse acontecido.
— Não, você não é. — Replica, se aproximando com precaução. Nego com a
cabeça, voltando-me para o que tinha que fazer.
— Ah, não?
— Não. Acha que eu apareço na mídia saindo de delegacias com minhas
conquistas?— Fatio o tomate sobre a tabua e respiro fundo, vendo-o de canto
parar logo ao meu lado. — Não podemos esquecer que conquista é um
sinônimo muito ultrapassado.
— Então vai dizer que mulherengo é um agravo a você? — Inquiro,
arqueando a sobrancelha direita, encarando-o.
— Talvez. — Torce a boca, assentindo.
— Perdoe-me senhor celebridade. — Gracejo, passando a maionese nos pães.
— A princípio, eu não tenho conquistas, não preciso ter. — Rumoreja e rolo
os olhos, colocando os frios seguido pela salada.
— Com certeza, as mulheres devem se jogar em cima de você.
— Quase sempre.
— E você acha isso aplausível?— Questiono, levantando meus olhos para
ele, estudando sua expressão risonha, debochada.
— Na verdade não, mas poupa esforços e dores de cabeça. Mas deixa eu ver
se entendi. — Levanta o punho no ar, me olhando entre os escuros cílios. —
Você está chateada por não ser minha conquista, ou por se considerar uma?—
Pergunta levantando dois dedos, enumerando as opções. Rio em zombaria,
balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Você é muito arrogante.
— Posso ser o que você quiser, até porque não podemos negar que você,
assim como eu, quer mais do que provamos naquele restaurante. Sinceridade
acima de tudo e eu em cima de você. — Me oferece uma piscadela.
— Você... — Procuro pelas palavras, vendo-me em um labirinto sem saída.
— Deve ir embora. Não quero ser taxada como uma das suas acompanhantes
privilegiadas.
— Belas palavras, Khai, adorei o termo que usou para descrever as meninas...
— Jaime, para, ok?— Peço, virando-me de frente para ele. — Se acha que
jogando esse papinho barato para cima de mim vai colar e eu vou transar com
você de novo, pode esquecer, huh? Mulher odeia ver a outra usando a mesma
roupa que ela, porque acha que é diferente quando o assunto é homem? —
Suspiro, acompanhando sua postura risonha o abandonar, assumindo uma
pose séria. — Depois da minha época de caloura irresponsável eu tentei
namorar, sossegar, porque eu era viciada em sexo e em arrumar problemas.
Mas eu levei belos pares de chifres. Não por faltar na cama, uma vez que eu
me garanto muito nesse quesito e sim, por querer apenas sexo. As pessoas
procuram mais que apenas saciar o desejo carnal, entende? E agora, eu estou
focada. Quero ser diferente, ser tratada diferente. Entende?
— Entendi. — Expiro com força, soprando todo o ar dos pulmões para fora e
assinto, esperando que agora sua postura mude diante do que vem buscar
aqui. Não vai ter, não pode ter.

Capítulo 7
Jaime
Khai deixa de me encarar, pegando o prato com o sanduíche do irmão e me
deixa sozinho na cozinha.
Ao mesmo tempo em que meu lado consciente abre mão de tentar algo com
ela, o outro lado aperta na mesma tecla, pressionando, insistindo que em
algum momento ela cederia. Estava ciente do que ela queria, buscava, pelas
suas palavras desde que nos conhecemos e também sabia que eu não poderia
a proporcionar isso. Eu quero apenas sexo com ela e como já disse, eu tentar
a oferecer algo por interesse não é o suficiente. Nada parece ser suficiente.
Merda Jaime, o que você está fazendo aqui? Resmungo.
Giro sobre os calcanhares, andando até a saída da cozinha, pronto para uma
breve despedida. Seria o melhor a se fazer. Travo os passos, enrijecendo o
corpo quando trombo em algo, ou melhor, alguém e por reflexo, envolvo sua
cintura, a mantendo em pé. Sopra sua respiração com dificuldade, erguendo
os olhos amendoados para os meus, entreabrindo os lábios. Trinco o maxilar,
dividindo meu olhar entre sua boca e os olhos surpresos, nervosos.
— Desculpe... — Sussurro. — Estava indo me despedir. — Já?— Ofega,
segurando em meus antebraços, parecendo não confiar em suas pernas. Passo
a língua demoradamente sobre os lábios, tentado a descer meu rosto ao seu.
Assinto, alcançando a fina mecha de seus longos cabelos castanhos,
afastando-a de sua face direita e raspo o polegar suavemente na maçã de seu
rosto. Por uma pequena fração de segundos, arrisco em dizer que consegui
sentir os batimentos acelerados de seu coração, mas agora, noto ser o meu,
disparado. — É a última vez. — Sibila em um som quase inaudível,
segurando em minha nuca, puxando meu rosto contra o seu.
Mordo seus lábios, apertando-a ainda mais contra mim, pedindo passagem
com minha língua. Khai geme em minha boca, adentrando os dedos em meus
cabelos, os puxando e emaranhando-os. Grunho baixo, traçando sua pele
coberta pela camiseta, agarrando os globos cheios em cima do jeans,
apertando-os com força. Ronrona, descendo os dedos por minhas costas,
arrastando as unhas e a encosto contra a parede mais próxima.
Ora ou outra, seus seios roçam em meu peito, me causando uma agonia
gostosa, fazendo todo o sangue do corpo descer para meu pau preso nas
calças, enrijecendo-o. Suspiro em meio ao seu beijo viciante, lambendo seus
lábios e largo uma nádega, alcançando seu rosto, segurando-o. Quase perco o
controle quando mordo sua bochecha, sugando-a e a lambendo em seguida,
esfregando meu eixo em sua pélvis. Ela geme baixinho, abraçando-me pelos
ombros. Puxo suas coxas, obrigando-a a me abraçar pelos quadris, fazendo
uma fricção em nossos centros.
Escorrego o rosto para seu pescoço, deixando um rápido chupão, alcançando
seu ouvido.
— Eu quero te chupar, agora. — Rosno, segurando seu lóbulo entre os
dentes. Ela geme, cravando as unhas em minhas clavículas, apertando as
pernas ao meu redor. — Bem aqui, contra essa parede.
— Jaime... — Tenta dizer algo, mas apenas me aperta com mais força contra
seu peito, arrastando as unhas em meus ombros. Giro no ar, colocando-a
sentada sobre a mesa, apertando sua cintura fina. Volto-me para sua boca,
chupando-a como se fosse o doce preferido, movido pela excitação e tensão
sexual que o nos envolvia. Khai e eu tínhamos sincronia, nos encaixávamos
perfeitamente, não podia negar. Chegava a ser tortura o modo como seu gosto
não saía da minha memória.
Afasto meus quadris dos seus, rolando o polegar direito até o cós de seu short
jeans escuro e solto os botões que o mantinha fechado. Suas mãos apertam
meus cabelos na nuca, tomando a frente de como nos moveríamos,
adentrando sua língua em minha boca, reivindicando posse da situação.
Escorrego os dedos por sua pélvis coberta pelo tecido rendado da calcinha,
raspando a ponta dos mesmos no monte úmido. Geme baixinho apertando as
pernas ao meu redor, movendo os quadris em um rebolado lento.
Fricciono seu ponto sensível, esfregando-o e desfaço-me de sua boca,
descendo para o pescoço. Ela arranha sem dó minhas costas, mordendo a
curva do meu pescoço.
— Khai! — Afasto o rosto de sua pele cheirosa, quando a voz de Jhonnie soa
em advertência atrás de mim. Khai puxa uma respiração tensa, descendo da
mesa, abotoando o short. Prendo os lábios entre os dentes, repreendendo-me
por ter esquecido da criança.
— A quanto tempo está aí?
— Você e ele são namorados?— Pergunta segundos depois em silêncio,
ignorando a pergunta da irmã. Olho para Khai que está corada, boca inchada
e os olhos ainda escuros. Ela me olha por uma pequena fração de segundo,
voltando a encarar o irmão.
— Não. — Responde, hesitante.
— Então por que...
— Jou, vamos conversar lá na sala, sim?— Diz, interrompendo o garoto. Me
olha segundos após os passos do garoto se afastarem. — Já volto.
— Acho melhor eu... ir embora. — Suspiro, apoiando a palma da mão na
madeira da mesa, tentando fazer o problema em questão brochar.
— De jeito algum! — Cerra os olhos, me surpreendendo quando traz a mão
direita para meu pau sobre o jeans, tateando-o e o segurando com firmeza em
seguida.— Você provocou, se não vai comer não tempere.— Aperta meu pau
um pouco mais forte, me fazendo inspirar com força, prendendo o ar,
sentindo todo meu sangue concentrado naquela região. — Fui clara?
Assinto, mordendo o maxilar, extasiado. Ela aproxima o rosto do meu,
deixando um rápido selinho e então me solta, se afastando. Mulher maldita!

— Fecha, tranca a porta. — Pede, afastando minimamente da minha boca.


Depois de sua conversa com Jhonnie, preferimos deixar para terminar o que
começamos depois que ele dormisse.

Minha ereção não sedia e tudo piorava quando me lembrava da prensa que
levei após sugerir ir embora. Essa garota estava me fodendo à seco, cru, e eu
estava gostando. Essa era a pior parte em assumir isso. Estava feito um
submisso, adorando os estímulos e provocações.

Passei a chave na porta, voltando a atenção para seu corpo, puxando o zíper
de seu moletom, empurrando a blusa por seus ombros, tirando com sua ajuda.
Mordo seus lábios, puxando as pernas para cruzarem ao meu redor, andando
até sua cama de solteiro. Agarra minha camisa, tirando-a de meu corpo pela
cabeça. Ofega, impulsionando o corpo, invertendo nossas posições, sentando
em meu colo.

Aperto suas coxas, empurrando os dedos pela pele exposta, erguendo o tecido
do vestido que tomou o lugar da roupa casual após seu banho, agarrado em
suas curvas. Para de me beijar, erguendo o corpo, empurrando meu peito,
mantendo-me deitado e move os quadris, rebolando, rolando as pontas dos
dedos finos por meu torço. Franzo o cenho, entreabrindo a boca quase em
êxtase, vendo-a se mover lentamente e jogar os cabelos para trás.
Ao chegar no cós da minha calça, soltou o botão, descendo o zíper, sem
desviar os olhos dos meus. Mordeu o canto dos lábios, reprimindo o sorriso
safado e ergueu o corpo, puxando o jeans e a cueca. Após se livrar dos panos,
retornou para a posição em que estava, se livrando sozinha do vestido justo.
Salivo, molhando os lábios secos, admirando o corpo curvilíneo sobre mim.
Khai sorri satisfeita, nua, linda, sentada em cima do seu objeto. Volta a se
debruçar em meu peito, roçando os bicos dos seios em mim
propositadamente, se demorando em um beijo lento, provocativo, sem língua.

Assisto seu rosto virar para a mesa de cabeceira, abrindo a gaveta e tirando de
lá uma camisinha.
Em silêncio, a deixo ir no ritmo que quiser, esperando o processo de abertura
da embalagem e o revestimento em meu pau rígido, dolorido. Aliso a pele de
suas coxas, prendendo a respiração quando meneia meu eixo, esfregando-o
em sua boceta, procurando pela vúlva.
Travo o maxilar, soltando o ar com força, tentando me controlar para não
gozar apenas com o movimento de sua sentada lenta e torturante. Começa a
subir e descer devagar, apoiada em meu peito, espremendo meu comprimento
com sua entrada. Gemo, segurando a parte debaixo de suas pernas, atrás dos
joelhos, apoiando os pés em seu colchão, erguendo os quadris contra seus
movimentos. Empurrando e puxando com mais força. Khai tapa a boca,
gemendo abafado, segurando os cabelos para trás.
Debruça em meu peito outra vez, me deixando assumir a frente, empinando a
bunda. Levanto a cabeça, buscando por seus seios que balançam com nossos
movimentos, prendendo um dos mamilos entre os dentes, chupando-o.
Viro-a na cama, segurando suas bochechas e volto a penetrá-la, socando com
força até o fundo, puxando e tornando a empurrar. Moo sua entrada,
esfregando o clitóris sob seus gemidos que soavam livres e em agonia.
Grunhi, sentindo-a me apertar, enquanto sacudia seu corpo com as investidas,
gozando e arranhando meus braços.
— Gostosa! — Urro, deixando um tapa na lateral de sua coxa esquerda,
saindo de seu interior. Saio da cama, puxandoa para a beirada e me abaixo,
lambendo seus lábios, chupandoos em seguida. Lamenta, rebolando contra
meu rosto, agarrando em meus cabelos. Movo a cabeça de um lado para o
outro rapidamente, segurando seu clitóris com os dentes.
— Não para! — Resfolega entre os dentes, arqueando o corpo, tremendo e
geme pouca coisa mais alto, me entregando seu segundo orgasmo. Chupo-a
por mais alguns segundos, deixando uma palmada em seu centro, voltando a
me posicionar em sua entrada. Invado seu corpo, metendo até o talo,
curvando o corpo sobre o seu.
— Vou te foder a madrugada toda. — Prometo em um murmúrio
enrouquecido baixo, não abandonando os movimentos dos meus quadris.

Khai
— Você precisa ir! — Resmungo, sendo prensada contra a parede do lado de
fora do meu apartamento, enquanto Jaime me beijava.

— Nãoo... — Arrasta a voz com um leve sotaque, trazendo o rosto para a


curva do meu pescoço. Abraçando-me apertado, como se eu fosse fugir.

— Já está tarde, precisa ir. — Insisto, agora acariciando seus cabelos,


aceitando de bom grado seu abraço e carência.
— Você está me expulsando?— Implica, ofendido, levantando o olhar para
me encarar.
— Não! — Rio. — Só estou dizendo que é perigoso dirigir à essa hora.
— Se esse é o problema, você pode me convidar para ficar. — Sugere,
curvando a boca em um sorriso de segundas intenções.
— Como você é oferecido!— Empurro seu peito, mas ele não afrouxa o
aperto ao redor de minha cintura, rindo com meu ato.
— Se você não me oferece, eu me ofereço. — Pisca, impassível e eu nego
com a cabeça, encarando a parede logo atrás dele. — Mas então, vai ou não
me convidar a ficar?— Sussurra, beijando minha bochecha, empurrando os
dedos para minhas nádegas, descendo os lábios para meu pescoço. —
Podíamos aproveitar que o Jhonnie está dormindo...
— Você é um sem vergonha. — Protesto, tentando me controlar. Ainda estou
dolorida. Na noite passada, acabamos exagerando, varando a madrugada,
resultando a minha dor e incomodo. Em defesa, digo que é porque estava a
muito tempo na seca, sem sequer beijar na boca!
— E você gosta! — Devolve e segura o lóbulo de minha orelha entre os
dentes. Os dedos seguram meu queixo, trazendo sua boca a minha.
— Ok, você fica — Cedi, após a perca de fôlego e ele abre um sorriso
vitorioso, até que eu o tirei:—, mas não vamos fazer nada. Ainda estou
dolorida por ontem.
— Ok! — Levanta as mãos em rendição e olho em seus olhos, buscando por
algum vestígio de intenção a mais que dormir, não encontrando. Afasto-me
da parede e me viro para a porta. Abro-a e o arrasto, pedindo por silêncio.
Jaime tranca a porta e me abraça por trás, enquanto íamos para meu quarto no
fim do corredor.
— Como foi o treino?— Pergunto, me virando para o guarda-roupas, após ele
ter me soltado e ido de encontro a cama de solteiro.
— Cansativo, mas produtivo. E seu dia?— Devolve e levanto o ombro
direito, pegando uma de minhas camisolas de cetim.
— Normal. — Respondo de costas para ele, tirando minha roupa.
— Suas aulas voltam quando?— Indaga e já vestida, me viro para ele.
— Aulas?
— Não estuda jornalismo, Khai? — Ri, divertido e arqueio minhas
sobrancelhas, me lembrando dessa... mentira.
— Em fevereiro. — Conto e ele assente. O vejo relaxado, apenas de boxer
preta, deitado em minha cama, fazendo-a parecer menor que já é com sua
montanha de músculos. Apago a luz, juntando-me a ele na cama, alinhando-
me ao seu corpo. Passa as pontas de seus dedos em minha coxa nua sobre sua
perna, encontrando meus cabelos com a mão livre, afagandoos.
— A madrugada serve apenas para duas coisas. — Sussurra.
— E quais são?
— Dormir, ou ficar acordado. — Diz e levanto meu olhar para ele, o vendo
pela brecha de luz que ilumina o quarto, sorrir zombeteiro. Reviro os olhos e
volto a deitar minha cabeça em seu peito. O silêncio nos envolve novamente,
o vento entrando pela janela soprando as cortinas claras.
— Quando se está acordado de madrugada, sozinho, costuma pensar sobre a
vida. Sobre o que fazer, ou o que já fez dela. Pensamentos não muito
agradáveis podem surgir do nada na sua cabeça em meio a recordações
alegres. E então, você se lembra que está completamente sozinho com sua
orquestra de erros e percas. — Sopra com pesar, apertando-me ainda mais
contra seu corpo, parecendo temer que eu me distancie. Levanto meu olhar
para ele, encarando os olhos expressando medo e angústia, me encarando
enquanto os dedos traçam a pele de minhas costas em uma carícia sutil.
— É assim que se sente?— Indago, subindo meus dedos por seu peito,
brincando com os mínimos fios de sua barba, que apontam no rosto.
— Na maior parte do tempo. — Concorda, alcançando minha mão que o
toca, cruzando nossos dedos, sem abandonar a carícia em minhas costas.
Franzo o cenho tentando o entender, e então, ele prossegue:—, não me sinto
sozinho quando estou com você.
Sorrio pequeno e deixo um beijo em seu peito, voltando a me aconchegar ali.
— O que vai acontecer depois do jogo? Com a gente. — Acrescento e ele
suspira, fazendo círculos imaginários na lateral do meu polegar.
— Eu não sei e não acho que gostaria de descobrir agora. — Aceito sua
resposta e fico quieta, aproveitando o momento abraçada a ele, na torcida
para que tudo saísse como o esperado.

— Bom dia. — Murmuro, entrando na cozinha com cheiro bom, vendo Jaime
despejar um líquido na frigideira.
— Bom dia, dormiu bem?— Pergunta sorrindo para mim. Cruza o espaço
que nos separa, deixando um selinho rápido e retorna para sua função no
fogão.
— Sim e você?— Sento-me em uma cadeira da mesa, o assistindo se mexer
com leveza pela minúscula cozinha. Familiarizado com o ambiente.
— Não tão bem quanto acordar e ver você dormindo. — Pisca para mim e rio
curiosa com o que ele estava fazendo. Alguns segundos após ajeitar o
conteúdo na panela, o jogou para cima, pegando-o novamente com a
frigideira e noto ser panquecas.
— Hmm... panquecas. — Ronrono e ele ri, colocando-a em um prato repleto
de outras, estendendo-o em minha direção.
— Achei que seria uma boa e saí para comprar os ingredientes mais cedo.
— O quê? Por que? Eu tenho as coisas...
— Essa panqueca é diferente. Receita de família, então não tente discutir
dizendo que tem as coisas, porque não tem. — Arqueia a sobrancelha
esquerda em minha direção, desligando o fogo e vai até minha geladeira.
— Esse mel tem canela e menta, com panquecas fica espetacular! — Garante,
trazendo uma pequena jarra de vidro com o conteúdo citado. Corta um
pedaço da panqueca, trazendo-o no prato a minha frente e despeja o mel.
Espeta-o com um garfo e traz a minha boca. Fecho os olhos com o gosto
maravilhoso na boca, não encontrando com o paladar o que diferencia a
panqueca da normal. Gemo em apreciação e abro os olhos, o vendo me
encarar esperançoso.
— Magnífico! — Elogio e ele sorri se gabando. Rio e ele mela o canto da
minha boca com o garfo. — Jaime!
— Oh, como sou desastrado! Vou ter que te ajudar a limpar... — Resmunga,
forçando a voz em descrença e rio deixando um tapa em seu antebraço, o
vendo se curvar em minha direção. Lambe a curva dos cantos dos meus
lábios descaradamente e prende o inferior entre os dentes, puxando meu
rosto. Rapidamente nos afastamos do beijo quando ouvimos Jou entrar na
cozinha, sonolento, com seu pijama ilustrado.
— Hm, bom dia Jou. — Murmuro recompondo-me e ele me olha pela
primeira vez, com o rosto amassado de sono e sorri de leve.
— Bom dia, Khai, Jaime. — Diz baixinho, se sentando à mesa.
— Gosta de panquecas, Jhonnie?— Pergunta Jaime, já servindo Jou, que
levanta o olhar arregalando os olhos e assente. Passo a língua sobre o lábio
inferior, o prendendo entre os dentes e assisto Jhonnie comer, parecendo em
êxtase com o gosto da panqueca.
Não sei dizer, mas é uma sensação horrível de prepotência vê-lo nessa
situação, confinado a mim, por não ter tido a chance de crescer junto dos pais
que teriam mais condições de cuidar dele, do que eu, uma simples faxineira
com um salário mínimo por mês, gasto com contas e o necessário para
sobreviver. Certo, foi por escolher estar comigo, mas o pai não se opôs a
decisão e nunca se mostrou presente na vida do pequeno. A mínima pensão
mixuruca que paga é depositada todo mês em sua conta, que eu decidi não
mexer, para o dar a chance de estudar o que quisesse quando atingisse a
maturidade. Sei que disso eu jamais vou pode me arrepender. Jamais me
arrependerei da escolha que fiz, de estar o dando a chance de ter um futuro
melhor do que eu poderia lhe oferecer com meu custo de vida baixo.
Amo Jhonnie como minha vida, mais que tudo. E é por ele que estou de pé,
lutando por uma vida melhor.

Capítulo 8
Jaime
— Tchau, Jou. — Digo, passando por ele jogado no sofá. — Tchau, Jay. —
Responde com um sorriso agradecido. Khai me acompanha até o lado de fora
do apartamento, onde fecha a porta e se vira para mim de braços cruzados e
um sorriso surpreso.
— Em que momento vocês ficaram amigos?— Questi

ona.
— Após o café, quando ficamos sozinhos na sala. Você
me abandonou e então ele me fez companhia.
— Esse seu lado dramático é novo para mim. — Comenta
divertida e rio puxando-a pela cintura para mais perto, descendo meu rosto de
encontro ao seu. — Cuidado.
— Só vou quebrar alguns ossos, coisa pouca, não se preocupe. — Zombo e
ela me encara, entediada.
— Estou falando sério. Quero que esteja inteiro amanhã.
— Ajeita minha camiseta preta e sobe os olhos para os meus. — O que tem
amanhã?— Pergunto já sabendo, mas querendo que as palavras saíssem da
sua boca. Ela sorri mordendo
o lábio inferior, movendo os quadris contra minhas calças. — Uma pré-
comemoração pelo seu troféu.— Sussurra,
batendo os cílios.
— Hmm... me parece sugestivo. — Beijo sua bochecha. — Talvez seja. —
Balança a cabeça em concordância e
passa os braços por meus ombros, envolvendo meu pescoço. — Vou deixar
seus ingressos com Victor, ele virá buscálos. — Aviso e ela assente,
levantando os pés para alcançar
meu rosto. Entrelaço meus dedos em seus cabelos soltos, mordendo os lábios
rosados e ingressando em um beijo quente demais para uma despedida
rápida.
Huh, pelo menos era para ter sido uma despedida rápida.

— Atrasado oito minutos. — Harry Vlogit, o treinador, adverte olhando para


seu relógio de pulso, assim que o passei pela entrada do vestiário.

— Aglomerado de pessoas paradas na entrada. — Minto na cara dura e ele


emite um som em sarcasmo. Havia de fato algumas pessoas na entrada, mas
elas nunca eram um problema que me atrasasse, já que não costumo dar bola
ou parar para dar autógrafos. Harry, o homem de pelo menos trinta e cinco
anos, o treinador mais jovem da história do futebol americano, conhecia seu
time como a própria palma da mão. Conheça sua família e assim, a manterá
na linha. Seu velho dilema. Porque, apesar de falarmos de futebol e nossa
interação ser inteiramente sobre o esporte ao entrarmos no estádio, não se
tratava do futebol, somos uma família. Há discordância, desentendimentos,
falta de afinidade, como em toda família. Mas é certo que estávamos ali um
por todos e todos por um. Vlogit se certificava de dar atenção a cada um dos
seus soldados, como nos chama, preocupando-se com nossa imagem pública
e nossos problemas particulares. Um verdadeiro chefe de família.

— Mande lembranças para quem lhe deixou a marca no pescoço. — Acena e


sai dizendo que tenho cinco minutos.
Mordo o lábio inferior me recordando da mordida seguida do chupão,
presente de Khai, minutos antes e sorrio entrando no vestiário, encontrando
Lenny e Connor sentados no banco calçando as chuteiras.
— Babalu, Barbie. — Os cumprimento, deixando um toque em seus ombros,
que se levantam para me cumprimentar.
— A princesa está de bom humor. — Implica Lenny e rio, indo para meu
armário.
— Anda sumido, Hastings. — Observa Connor, atrás da porta de metal.
— Ando ocupado. — Evito dar detalhes e eles riem, batucando no ferro dos
armários como os idiotas que são.
— Essa ocupação usa calcinha e tem um nome?— Questiona Lenny.
— Não que seja da conta de vocês, mas sim. — Respondo, tirando minha
camisa, seguido pela calça jeans e os tênis. Eles me encaram com malícia,
provavelmente esperando por informações.
— É uma garota só?— Torna a perguntar mais sério.
— É. — Concordo, vestindo minha companheira dos treinos Face Mask, que
é minha armadura, feita sob medida de aço de carbono.
— Isso não vai dar certo, tsc, tsc. — Resmunga Lenny, estalando a língua,
agora mais sério também.
— Por que não?— Indago, o encarando por cima da gola da camisa.
— Mulheres não entendem quando falamos dos nossos problemas, e se
entendem, é fingimento. Interesse. Não está pensando em se relacionar sério
com ela, está?— Connor cruza os braços para mim, que visto o resto das
proteções do corpo antes de vestir a calça.
— Por que estamos falando de mim?
— Por que está hesitando responder à pergunta de Aidren?— Lenny cruza os
braços, levantando a sobrancelha direita, sisuda, tentando me intimidar com
os olhos claros, como em todas as vezes.
— Porque nem todas as mulheres são interesseiras!
— Como você sabe? Eu e Simon já tivemos experiências demais para te
alertar sobre. — Frisa Connor.
— Khai não é assim.— Murmuro, os encarando com o maxilar travado,
querendo acreditar nas minhas próprias palavras. Está certo que a conheci
tem poucos dias, mas o que me mostra, passa longe de ser algo feito por
interesse. E tem o fato também, de que não estamos juntos, só estamos...
juntos.
— Esperamos, meu amigo. — Diz Connor, me dando as costas e Lenny deixa
tapinhas em meu ombro, antes de seguir o melhor amigo.
— Ainda está cru, Hastings?— Exaspera o treinador e me apresso para calçar
as chuteiras.

Khai
— Oi, como foi?— Pergunto, ouvindo um barulho de vozes e música.
— Ooh messss-mo. — Sua voz soa arrastada e risonha. Deixo o travesseiro
sobre a cama, pegando o aparelho.
— Está bêbado?— Indago, cautelosa e espero por sua resposta.
— Talvez.— Ri baixinho e suspiro.— Queria ouvir sua voz.
Sorrio pequeno e mordo o lábio inferior. É errado me sentir feliz por ele
lembrar de mim bêbado? Se for, podem me julgar! Estou adorando, amando.
Talvez eu não devesse criar expectativas, ele irá embora um dia após o jogo,
o que significa, que ele irá embora em dois dias. Sem previsão para voltar.
Temos uma sincronia boa, no sentido sexual, mas não passa disso. Quer
dizer, homens como ele, não se envolveriam afetuosamente com pessoas
como eu. Nós, de classe social baixa, que cede sexo quando ele busca, somos
e sempre seremos, um escape, um tira gosto, até conhecerem uma mulher
rica, de boa família, bem-sucedida e com uma imagem formada na mídia. E
bem, eu não era nada. Não passava de uma faxineira de quinta que seria
demitida em poucos dias por ainda não ter o convencido a gravar a entrevista.
Mais conhecida que posso ser, é pelo padeiro na padaria a duas quadras
daqui. Se eu virasse uma maníaca do pão, assaltando a padaria, na certa seria
pega entrando no meu prédio.
— Está com quem aí?
— O time e...— Enrola um pouco antes de completar sua resposta:— a
gestão e umas garotas. O que está vestindo?
— Garotas é?— Implico, ignorando a pergunta idiota.
— Queria estar com você.— Resmunga e sopro um riso.— Sabe, eu não sei o
que ela fez comigo, mas eu não paro de pensar nela.
— Nela?— Indago, sentindo meu sorriso sumir aos poucos.
— Sim, a baixinha de um metro e sessenta e sete. Ela tem um sorriso bonito.
Hoje meus amigos e eu discutimos por causa dela. — Conta e emito um som
em concordância.— Eles acham que por eu estar com ela mais de uma noite
vai dar ruim, que ela é interesseira como as exs deles.
— E o que você acha?
— Não conta para ela.— Pede em tom de confidencia.— Ela é a única que
confio. — Sorrio.— Eu posso te pedir uma coisa?— Murmura com a voz
arrastada. Concordo e ele prossegue:— Não deixe que eu me apaixonar por
ela. Eu não suportaria a perder.
— Por que acha que a perderia?— Questiono.
— Por que ela é perfeita demais para mim, cum! — Franzo o cenho, não
entendendo a última palavra. — Penso che mi sto innamorando.
— Jaime, não estou entendendo.
— Khai! Achei que estava falando com Lexie. — Exaspera e gargalha em
seguida. Posso ouvir algumas vozes no fundo e Jaime resmunga algo.
— Oi, desculpe. Perdemos o bêbado de vista por alguns minutos. — Pede um
homem do outro lado da linha.
— Olá, como ele está?— Pergunto, preocupada, deixando a toalha estendida
nas costas da cadeira.
— Só um pouco... bêbado. Parece que alguém é o motivo da bebedeira dele.
Suponho ser você.
— Desculpe, com quem eu falo?
— Aidren, amigo. E você deve ser Khai, a mulher que roubou nosso
Hastings. Darei um breve aviso, não o machuque. Ele tem um time inteiro
que faria de tudo para vê-lo bem. — Franzo o cenho, coçando minha cabeça.
— Não pretendo o machucar, garanto.
— Assim espero. — Frisa e ouço Jaime gritar próximo ao telefone algo em
outra língua. — Chega por hoje, italiano de merda! Até mais, Khai.
Diz por fim e encerra a ligação. O que foi que acabou de acontecer?

Jaime
Resmungo ao abrir os olhos, encarando a claridade que doía a vista e a
cabeça. Mexo-me na cama e dou um salto de susto ao ver Connor sentado na
poltrona ao lado. Merda!

— Que porra, o que faz aqui?— Inquiro, cobrindo o rosto pela dor de cabeça
insuportável. Preciso me lembrar de não beber tanto.

— Ontem depois que você encheu a cara, tirei o celular de você, que falava
em italiano com a tal de Khai. — Aponta. Franzo o cenho, o encarando, não
me lembrando do acontecido. Impossível, rio com esse pensamento.

— O quê? Lógico que não, só falo em italiano com Lexie. — Relembro.


— São, porque bêbado com a Khai também. E se eu me lembro bem das
quase seis aulas de italiano que tive na infância, você disse em alto e bom
tom que achava que está se apaixonando. Quer apostar comigo que você
estará enchendo a cara, se lamentando e chorando por ela tão logo? Assumir
a vergonha que vai passar assim que ela te der um pé?— O encaro por entre
os dedos.
— Some daqui. — Grunho e ele torce a boca, se pondo em pé.
— Não diga que não avisei. Se precisar de um motorista quando estiver
bêbado, me chame. — Sorri com cinismo e sai do quarto. Era sempre assim.
Nos alertávamos, zombávamos, mas no fim, ainda sim, estávamos ali um
pelo outro. O que nos tornava melhores amigos. A cumplicidade e parceria.
No entanto, desta vez ele estava errado. Tem que estar.

Olho para os dois lugares que reservei para Khai e Jhonnie entre as outras
pessoas e a vejo, linda, com os cabelos soltos caídos nos ombros cobertos
pela camiseta do time. Jhonnie ao seu lado, com os olhos curiosos, observa
tudo, comendo pipoca. Suspiro longamente e sigo os caras, entrando no
campo marcado com as divisões de jardas. Olho na direção dela e a mesma
sorri para mim. Toco meu peito, onde o número meia nove se inicia,
estendendo pela camisa e aponto em sua direção. Um sorriso cúmplice
curvando meus lábios. Aquele número, naquele momento, tinha mais
significado, que de fato tinha. E eu mal podia esperar pelo fim da noite.

— Pronto para conseguir mais um troféu para mim roubar de novo?—


Provoca Lenny, batendo em meu tronco.
— Mexe nos meus troféus e atiro você da ponte, Babalu. — Sorrio para ele,
batendo em seu ombro e o puxo para nossas marcações.
— Pronto, Hastings?— Indaga o treinador pelo som em meu capacete.
Levanto o polegar em sua direção.
— Pronto.
— Perfeito. Vá lá e mostre para eles do que é capaz. Acredito no seu
potencial, Jaime — Diz e assinto. Harry se volta para a equipe e vejo Toby,
quarterback titular do Dallas vindo para sua posição.
— Grande Hastings! — Exagera no sarcasmo.
— Quentoon! Aprendeu a falar? Pensei que só soubesse latir feito o vira-lata
de esquina! — Provoco com um sorriso debochado e ele cerra os olhos.
— Eu vou acabar com você, então não espere quebrar o recorde esse ano. —
Arrasta o sotaque irlandês, em zombaria.
— Veremos, princesa. — Mandei um beijo no ar para ele, virando-me para o
árbitro que vem com a bola oval.
— Cara ou coroa?— Me pergunta.
— Cara.— Responde Quentoon e o olho. — Qual é, todos sabemos que você
sempre escolhe cara. — Fato. Desde meus vinte e dois anos, acostumei-me
apenas em escolher cara. Papai dizia que cara equivalia ao lado direito da
moeda, dando a cara a tapa, se entregando inteiramente para o esporte. Que o
esquerdo, se baseava em jogo sujo, algo que ninguém fazia direito,
trapaceando. Eu achava bobagem, entretanto, todas as vezes em que eu
escolhia coroa, perdia a posse de bola. Então, com a partida do meu velho,
quis tê-lo presente, junto a mim em todos os meus jogos, assistindo, torcendo
por mim. Porque, eu sei que de onde quer que ele esteja, estaria olhando por
mim. Sempre.
E, a cada conquista, o dedico. Meu exemplo masculino sempre foi um
homem religioso, correto, sensato e inteligente. Ele fazia minha vida ter um
sentido maior e, agora, eu me sentia perdido, inteiramente desfocado, de tudo
e todos. Tendo como escape, o futebol e as mulheres. Se você segue qualquer
caminho sem saber o que esperar dali, apenas por seguir, tem que estar ciente
de que pode se decepcionar com o resulto. Como dizia papai. E nesta hora,
posso ver perfeitamente a carranca dele ao me ouvir pedindo algo apenas por
provocação, indo contra a moralidade, para entrar na zombaria de meu velho
conhecido implicante.
— Oh, escolho coroa. Surpresa! — Zombo. O árbitro sorri e joga a moeda
para cima, depositando-a no dorso de sua mão. Tendo noção de que poderia
perder por desafiar a lógica de meu pai, esperei tentando não transparecer
meu nervosismo com a oportunidade jogada fora.
— Arizona Cardinals começa com a posse de bola. — Anuncia e nos mostra
a moeda antes de se afastar. Acho que sofri um pequeno infarto com a ideia
de ter ganhado no cara ou coroa. Desculpa aí, pai, mas sua lógica falhou aqui.
— Sorte de principiante, donzela. — Resmunga, empurrando o protetor na
boca.
— Pois então tenha cuidado, posso brincar disso por vários tempos. —
Devolvo e olho sobre o ombro direito, encarando Connor na minha diagonal
esquerda e Lenny mais atrás na diagonal direita. Bhiool me olha esperando
por minhas coordenadas, e então, assinto para ele. Empurro o protetor rosa na
boca, o ajeitando de forma que não machucaria a gengiva e respiro fundo.
O campo fica em silêncio e eu amo esse suspense, a adrenalina, a torcida tão
concentrada quanto nós. Encaro a bola na divisória do campo e quase posso
ouvir os batimentos acelerados do meu coração. Subo meu olhar para
Quentoon, que me analisa de olhos cerrados e o apito do árbitro soa ecoando
pelo campo.

Khai
Tudo acontece muito rápido. Quando vejo, Jaime está com a bola que o foi
passada, arremessando para sua diagonal e pula em cima do adversário logo a
frente.

— Meu Deus! — Reclamo, cobrindo os olhos e ouvindo o grito de


comemoração de Jou. — O que? O que houve?
— Jaime está com a bola!— Conta com empolgação e afasto as mãos dos
olhos, o vendo correr, enquanto dois homens tentam o segurar. Os gritos de
Jhonnie se misturam com os gritos da plateia. Jou parece eufórico e então se
levanta, berrando junto a todos quando Jaime ultrapassa lentamente a última
jarda, alcançando a endzone, fazendo um touchdown.
Não sirvo para assistir esse tipo de jogo, ainda mais quando se trata de algo
que possa sair machucado no final. A violência me deixa zonza e preocupada,
quase me obrigando a desviar os olhos, mas obrigo-me a assistir, para saber o
exato momento em que ele iria conseguir ultrapassar a meta de sua pontuação
esperada para este jogo. O jogo vai passando e eu quase tenho um infarto
toda vez em que ele é atirado no chão com brutalidade pelos adversários.
Acho que eu chorei em algum momento, porque meu nariz não para de
escorrer. Faz dois minutos que teve um tempo e Jaime está sentado,
reparando suas chuteiras e tomando água ao lado do treinador, que parece o
passar algumas instruções.
— Fica calma. Futebol é violento, mas eles nem sempre se machucam. —
Garante Jou.
— Nem sempre?— Indago incrédula, com o coração na garganta. Ele assente
e morde o cachorro quente. — Eu te proíbo de jogar isso, Jhonnie. Está me
ouvindo?
— Sim.— Concorda rindo. Volto a olhar para Jaime, que agora está de pé,
prestes a colocar o capacete de volta.
Quantos pontos ele já fez? Não faço a menor ideia, me perdi toda vez no jogo
evitando ver a violência e só sei que ele fez dois touchdowns. Um deles
houve ponto extra e fez também um Field Goal, chutando da linha de
quarenta jardas. Um homem com camisa de número dois do time adversário
para na frente de Jaime e os dois parecem estar de provocações. O homem o
estende a mão na sugestão de um cumprimento e Jaime levanta sua
sobrancelha esquerda dizendo algo, e então o rapaz se vai rindo com a recusa
de Jaime.
— Cheguei. — Diz Victor, parando ao meu lado com um copo de cerveja e
dois de refrigerantes em mãos.
— Por favor, me diz que há penalidade caso haja violência. — Peço e Victor
me olha esperando por algo. — Briga, digo.
— Oh... há sim, por que?
— O número dois do time adversário parece estar provocando Jaime.
— Não se preocupe, Toby e Jaime são puras provocações desde sempre,
jamais houve agressão de ambas as partes. — Murmura e se senta,
oferecendo-me o refrigerante, passando o outro para Jou.
Assim que os jogadores retornam para suas posições de início, trocando o
lado do gramado verde vivo, a partida inicia e a bola está na posse do time
adversário. Acompanho a corrida de um dos jogadores, que está sendo
marcado por diversos homens, sendo derrubado próximo da endzone. Cubro a
boca, a adrenalina percorrendo meu corpo e acompanho a bola sendo
arremessada para Jaime no canto do campo, que faz menção de correr para
mais um touchdown, quando é agarrado e atirado no chão pelo camisa dois.
Respiro fundo, preocupada com sua demora para se levantar. Toby se levanta
e tenho a impressão de tê-lo visto sorrir, se afastando dali, enquanto Jaime
está no chão envolvendo o pulso com a palma da mão.
— Desgraçado! — Victor grita junto a todos, que xingam e berram pedindo
que Jaime levantasse.
Junto as mãos a frente do corpo, fazendo uma breve prece para que ele não
tivesse sido machucado. A equipe de enfermagem o alcança, fazendo os
primeiros socorros e o dão assistência. Minha garganta tranca, os olhos
marejando e a boca seca.
Poucos segundos depois, ele está em pé, conferindo algo no pulso enfaixado
com gases e se ajeita. A voz estridente avisa pelos altos falantes que ele
voltará para a partida e a plateia vai a loucura. Solto o ar com força,
suspirando em alívio por ele estar bem.

Capítulo 9
— Touchdooooown!— O narrador berra através das diversas saídas de som
espalhadas pelo estádio, enquanto a maioria das pessoas ao meu redor
gritavam em comemoração com mais um touchdown feito pelo número oito,
após um passe de Jaime.

— Dois pontos, Jaime, você consegue! — Afirma Victor ao meu lado para si
mesmo, vidrado no jogo.
Volto a encarar o campo gramado e busco por Jaime, que está com posse da
bola, com os diversos jogadores se jogando para cima dele. Tenta se livrar do
objeto, jogando-o para seu parceiro mais afastado e parte da marcação se vai.
Então corre em direção a endzone, ainda sendo marcado, quando a bola é
arremessada novamente para ele. Mas, antes que a bola o alcançasse, um dos
adversários agarrou Jaime o tirando da direção da bola, fazendo com que o
árbitro jogasse uma bandeira amarela no campo pela falta. Victor soca o ar
exasperando algo em comemoração e acredito ser algo bom.
Definitivamente, preciso aprender sobre futebol.
— Não está entendendo, não é?— Victor ri, negando com um aceno. Encolho
os ombros e balanço a cabeça. — A falta foi cometida pela interferência no
passe da bola e ele está muito próximo da endzone, com um passe, um
touchdown, ou um Face Mask, ele bate o recorde.
Suavizo minha expressão, agora entendendo. Abençoado seja Victor!
Assisto os jogadores se posicionando, faltando poucos minutos para o fim da
partida. O árbitro libera a bola e em um passe rápido, passa o objeto oval para
trás. Jaime marca um dos jogadores, o impedindo que vá atrás do seu parceiro
e o homem de camisa número trinta e nove consegue alcançar a endzone com
a posse de bola. Os minutos vão correndo e não sei necessariamente em que
momento Jaime alcançou a pontuação desejada, já que Victor, como todos os
outros torcedores do Arizona, levantaram gritando e exasperando
comemorações a plenos pulmões. A bola é passada para Jaime e seu parceiro
empurra com o ombro, dois dos adversários em sua frente, liberando a
passagem, que logo é aproveitada e Jaime consegue alcançar a linha de trinta
e cinco jardas, fazendo um kickoff. Antes de recuperar a bola, passando-a
para a defesa, que sai em disparada para a endzone, a alcançando com
sucesso.
O fim da partida é anunciado e sorrio acompanhando dois dos jogadores
pularem em cima dele em comemoração.
Após uma longa, mas breve, comemoração, Jaime se levanta com a ajuda dos
amigos tirando o capacete e se vira para a arquibancada, removendo o
protetor da boca, caindo de joelhos. Abaixa a cabeça, deixando as mãos soltas
sobre o gramado como se agradecesse a algo, ou alguém. Levanta a cabeça e
seus olhos se abrem, vindo de encontro diretamente para mim. Envolvidos
em um mundo somente nosso, ele sorri para mim sinceramente, fazendo um
símbolo de cruz no peito, sob o coração e levanta o polegar para mim. Sorrio
feliz com sua conquista, feliz em vê-lo bem e tão expressivo.
Seus olhos claros e transparecendo emoções, marejados, se desviam do meu
pela primeira vez e sigo seu olhar, vendo uma garota loura correndo até ele,
que abre um sorriso maior ainda, se levantando e agarra a garota no ar,
girando-a. Sinto meu sorriso sumir aos poucos, incomodada com o longo
abraço sem fim, não sabendo qual a ligação dos dois. Droga! Por que estou
me chateando por conta de um abraço? É só um abraço! Abraço em uma
garota linda... a voz em minha mente acrescenta. Resmungo, desgostosa com
o que vejo, não sabendo lidar com a sensação estranha no meu peito.
— Lexie, melhor amiga dele. — Anuncia Victor e o olho, vendo-o me
assistir, risonho. — Não precisa ter ciúmes.
— Eu não... não tenho ciúmes. — Afirmo, negando com a cabeça. Eu não
tenho ciúmes, não mesmo!
Ele ri e nega com a cabeça.
— Claro que não.

— Oi... — Declaro, ou tento, quando Jaime vem em minha direção e passa os


braços ao redor da minha cintura, beijando minha boca com uma necessidade
inexplicável. Passo os braços por seus ombros, sendo apertada com força.
Nada nem ninguém importava naquele momento, apenas eu, ele e a incrível
sensação que estar com ele me despertava. Feito uma adolescente com os
hormônios aflorados, apaixonada pelo capitão do time do colegial. Céus...
apaixonada? Não, não foi o que eu quis dizer. Ignorem essa última parte!
Ergue-me no ar, me fazendo passar as pernas ao seu redor, rindo em meio ao
beijo e o aperto em um abraço, afastando nossas bocas o suficiente para
buscar por ar.— Você está bem, e o pulso?— Pergunto, buscando pelo
mesmo, enfaixado.

— Shii... estou bem. Não sabe o quanto eu queria fazer isso. — Sussurra. Me
encara com o maxilar trincado, os olhos brilhando mais que em qualquer
momento que eu tivesse tido a chance de ver. Podendo ser confundido
facilmente com safiras que acabara de serem lapidadas. Mordo o lábio
inferior e sorrio.

— Não sabe o quanto você merece a mais que um beijo. — Ele curva os
lábios com malícia, me colocando no chão.
— Vale mais que quatorze mil e quinhentas jardas e quatrocentos e vinte e
cinco touchdowns? — Pergunta, tocando meu rosto com as pontas dos dedos
e afasta meus cabelos.
— Quem tem que decidir isso é você. — Aponto e ele ri, selando minha
boca, afastando-se por um chamado.
— Desculpe atrapalhar, mas a imprensa quer dar uma palavrinha com você.
— Avisa a tal Lexie, vindo até nós. Sinto os ombros de Jaime ficando rígidos
e seu descontentamento fica mais que evidente. Acompanho seu humor
mudando rapidamente, deixando o riso libidinoso de lado, tensionando e
travando o maxilar.
— Mande todos para o inferno. — Range os dentes e volta seu olhar para
mim. Franzo o cenho e vejo Lexie revirar os olhos, se afastando. Ela vai de
encontro a dois homens. Os amigos de Jaime, Aidren e Simon.
— Por que isso?— Indago, ainda encarando Lexie falando com os dois
amigos.
— Você não sabe quão podre é a imprensa e seus métodos para conseguir
matérias, ou melhor, fofocas sobre as pessoas. — Profere sem relaxar a
postura.
— O que aconteceu para você agir dessa forma?— Insisto, encarando seus
olhos irados.
— Não importa. Esquece isso.
— Não vou esquecer, se estamos juntos você precisa me contar o que houve,
ao menos para mim poder entender a situação! — Declaro e ele morde o
maxilar, desviando seu olhar do meu. A ruga sisuda separando as
sobrancelhas. Seguro em seu rosto, trazendo-o de volta para me encarar e
acaricio a barba por fazer, encarando seus olhos impassíveis.
— Não estraga esse dia, por favor. — Pede, agora aparentando não ser mais
que um garoto assustado, com medo do que o escuro o causaria ao levantar
de madrugada para ir ao banheiro. Assinto achando tudo muito estranho,
concordando apenas por ver que aquele assunto era mais desagradável do que
aparentava e o puxo para um abraço, o tendo com o rosto fundo na curva de
meu pescoço. Seja o que for que tenha acontecido entre ele e a imprensa, me
parece ser algo totalmente chocante, devido ao seu comportamento. E eu não
descansaria até descobrir o que aconteceu, que o deixou assim.
— Victor disse que levaria Jou para um passeio e ficaria com ele no hotel de
vocês. — Conto, me recordando de mais cedo quando Victor me convenceu a
deixá-lo levar Jhonnie, na tentativa de mudar de assunto e melhorar o clima
tenso que nos envolve.
— Então estaremos sozinhos?— Levanta o rosto, a feição séria dando lugar
para um sorriso sugestivo nos cantos dos lábios rosados. Passo a língua sobre
os lábios, reprimindo um sorriso depravado.
— Completamente.
— O que acha de irmos agora?— Pergunta, arqueando a sobrancelha
esquerda e morde o lábio inferior.
— Está sugerindo que saíamos daqui, deixando seus amigos que contam com
sua presença para uma comemoração?— Levanto o ombro direito, vendo
seus olhos encararem meu ato.
— Estou.— Passa a língua sobre o lábio inferior, o prendendo entre os dentes
em seguida, outra vez. Levanta os olhos para mim novamente e há uma
sombra, deixando-os mais escuros entre os fios negros de sua sobrancelha.
Jaime com certeza tinha noção de sua beleza, se não soubesse, não me
encararia como se pudesse me despir com o olhar. Sua beleza parecia ser
extremamente exagerada, ao ponto de ser agonizante olhar para ele sabendo
que teria que deixar de o encarar.
— Então acho que aceitar não faria mal, já que foi você quem sugeriu, não?
— Faço círculos imaginários em seus cabelos da nuca, nossas testas
encostadas e sua respiração batendo contra meu rosto. Balança a cabeça em
negação e rio com sua cara de pau.
Jaime avança o curto espaço entre nós, mordendo minha boca, iniciando um
breve beijo antes de segurar em minhas mãos, puxando-me até seus amigos.
Após uma rápida despedida, ele me guiou para fora do salão, onde tinham
diversos fotógrafos, jornalistas e alguns fãs, que se amontoaram como urubus
na carniça, querendo atenção de Jaime. Porém, ele se manteve firme, me
puxando no meio da multidão que chamava por seu nome, passando com a
ajuda dos seguranças. Alcançamos seu carro esportivo e em questão de
segundos, já estávamos saindo da frente do prédio da fraternidade do time.
— Oh meu Deus!— Exclamo, vendo o carro diminuindo a velocidade e
virando na entrada de um motel. Olho para Jaime que tem a expressão plena,
como se não estivesse ligando para meu espanto.
— Trouxe documentos, Khai? — Pergunta, me olhando após parar na
recepção da garagem. Ainda espantada, assinto puxando a identidade do
bolso traseiro do meu jeans, o entregando.
Pega a chave de um quarto VIP e dirige por alguns segundos até estacionar
na frente de uma porta de vidro fumê. Desço do carro ainda atordoada com a
ideia de estar em um motel com ele. Olho ao redor quando passo pela porta,
admirada com a elegância do quarto e me perco nos detalhes, ouvindo uma
música nascendo em tom ambiente.
— Relaxa.— Sussurra, se aproximando e segura em minha mão, me virando
trazendo-me para si.— Hoje você é por inteira minha.

Jaime
Nossos pés se movem lentamente em sincronia no ritmo da música, lenta
Umbrella, na voz de Ember Island. Os dedos gelados tocam minha pele na
nuca, espalhando um calafrio atrativo, contrastando com sua respiração
quente em meu pescoço. Meu coração se já não estivesse acostumado a bater
tão depressa, diria que estaria prestes a enfartar. O frio, o maldito frio na
barriga, me causando sensações estranhas e duvidosas, agarrado a pequena
esperança que me resta em meio ao meu martírio agonizante. Khai era minha
esperança, e eu soube disso no momento em que conversamos do lado de fora
do restaurante, quando nos conhecemos.

Era estranho se agarrar a alguém em busca de redenção, por pecados incertos.


Era errado a ter como esperança e confiar nela sem, ao menos, a conhecer
realmente? Agarrar algo que poderia ir embora, cansada de lidar comigo e
minhas recusas e mudanças de assunto? Continuar ao seu lado sem filtrar
nossa relação, apenas continuarmos ali, juntos, sem precisar nos amarrar um
ao outro. Seria menos dolorido, para ela. Sem esperanças de um futuro.
Ilusão não era comigo. Odiava iludir, por isso já deixava mais que claro
minhas intenções. Mas Khai... O que eu estava fazendo com ela? Eu
precisava deixa-la ir. Entretanto, eu estava sendo egoísta com ela, queria sua
presença. Sua amizade, com benefícios, não posso negar. Porém, o medo
estava me corroendo noite, após noite, o que ela estava fazendo comigo?

— No que está pensando?— Sua voz doce suspira próximo ao meu ouvido e
levanto meu olhar para ela. Os braços ao redor de meu pescoço, balançando
no ritmo lento da música na voz de Luca Fogale. I Don’t Want to Lose You.

— Em como você me faz bem.— Sussurro. Ela sorri pequeno com as


bochechas atingindo uma tonalidade rosada. Como é possível corar, Jesus?

— Quando disse sobre a orquestra de erros e percas, o que quis dizer com
isso?— Especula, tom solene, balançando os quadris devagar.

— Quis dizer que como música, coisas que já fizemos surgem em nossa
mente. Coisas que causaram percas, medos, receios, iras, remorso. Tormento.
Como ir ao inferno sem ao menos ter ido, de fato.— Expliquei baixinho,
afastando os longos cabelos castanhos de suas faces. — Não me deixe errar
com você, Khai.

Ela balança a cabeça em negativo e me beija demoradamente. Engrenho meus


dedos em seus cabelos da nuca, os puxando de leve e ela geme em minha
boca. Aperto sua cintura, andando a curtos passos até a cama, onde a deitei e
trilhei beijos em seu rosto até o pescoço. Puxo a barra da camiseta do time, a
sensação de orgulho por não a ter decepcionado no jogo me tomando. Ira por
não gostar de tê-la em meio a diversos caras na arquibancada. O tesão
insaciável que seu corpo me causava. A vontade de despir peça por peça para
admirar o corpo curvilíneo, cheio nos pontos certos. O frio na barriga. A
vontade de agradá-la, idolatrá-la. Tudo em uma única vez, arrebatando minha
mente e corpo, trazendo a vertigem do primeiro dia de volta.

Seguro suas mãos que exploram meu corpo com pressa e os suspendo, tendo
acesso livre ao corpo ofegante debaixo de mim, querendo fazer tudo com
calma. Diferentemente de todas as outras vezes, que tivemos pressa. Lambo o
vale entre seus seios, mordiscando o monte claro coberto com a renda do
sutiã branco. Desço beijando seu corpo e solto o botão, afastando o zíper com
a mão livre. Olho em seus olhos que me assistem, nebulosos, a boca
entreaberta e os cabelos começando a bagunçar. Solto suas mãos e me
concentro em tirar seus tênis, meias, seguidos pela calça jeans. Desfaço-me
de minha camiseta e tênis, curvando-me de volta na cama e beijo o lado
inferior de suas coxas demoradamente, raspando minha barba por fazer em
sua pele arrepiada. No fundo toca Lovely da Billie Eilish e Khalid, me
incentivando a ir com calma.

Seus dedos encontram meus cabelos e subo os beijos até o tecido da calcinha
vermelha de tiras, a lambendo por cima da mesma. Seus gemidos baixos
incendeiam meus ouvidos, descontando em minhas bolas. Os dedos
desprendem de meus cabelos, alcançando o lençol e o agarrando com força.
Afasto a calcinha para o lado, movendo minha língua por seus lábios em
movimentos repetitivos, segurando seus quadris inquietos e deixo uma
mordida em sua coxa antes de levantar o corpo em sua direção. Khai agarra
minhas costas buscando por minha boca em desespero e me beija, invertendo
nossas posições.

Seguro em sua cintura, que se move junto aos quadris, esfregando a pélvis em
mim, as unhas descontando a frustração por ter que esperar em meus ombros.
Mordo seus lábios, batendo em sua nádega esquerda e ela geme descendo as
mãos de encontro ao botão das minhas calças. Nem meio minuto depois,
Khai tirava minha calça pelos pés, a arremessando para trás, me encarando
como uma felina faminta. Morde meu abdômen, o chupando em seguida,
puxando minha boxer do corpo e me olha nos olhos antes de descer a língua
por minha glande até o talo, voltando para a cabeça engolindo-o aos poucos
com maestria. Suspiro puxando o ar entre os dentes, segurando seus cabelos
que caíam na frente de meu campo de visão, movendo os quadris contra sua
boca quente e gulosa. Meu eixo dolorido e tesudo. Na linha tênue entre
estragar a calmaria e ser obsceno e, ir com calma, apenas para agradá-la e
enrolar nosso momento o máximo possível.

— Porra, Khai!— Praguejo, o vocabulário indo ao ralo junto meus planos de


calmaria. Puxo-a para cima, vendo seu sorriso libidinoso. Seguro seu rosto
entre as palmas, passando o polegar em seus lábios. Ela geme safada, abrindo
a boca e chupa meu polegar descaradamente, simulando sexo oral. Ofegante,
seguro em suas coxas, virando-a na cama e beijo sua boca. Rapidamente me
afastando e puxo a coxa direita, virando seu corpo de costas para mim,
ficando de bruços sobre a cama. Bato sem conseguir conter em sua bunda,
puxando a calcinha para sair de seu corpo. Apoiando-se pelas mãos e joelhos,
levanta os quadris empinando a bunda para mim, pondo-se de quatro e puxa o
cabelo, me olhando sobre o ombro sendo movido como se o arqueasse. Beijo
sua bochecha e me aproximo, entrando em seu corpo devagar, esperando sua
boceta apertada se acostumar. Gemo baixinho antes de começar a me mover,
puxando os cabelos e os envolvendo em meu punho.

Altero o ritmo das estocadas sob seus gemidos e grunhidos. Mordo seu
ombro que costuma arquear quando quer frisar sua postura diante de uma
conversa e marco sem dó a pele em meu caminho.

— Eu adoro quando arqueia esse ombro.— Confesso em um sussurro ao pé


de seu ouvido e ela geme, empurrando o corpo contra minhas investidas. Ela
ri de algo, puxando meu rosto e morde minha boca. Empurro sua coluna com
as mãos a incentivando deitar e puxo suas mãos para trás, mantendo-as
paradas nas costas. Os quadris descem também. Ajeito-me da forma que dê
para me mover melhor e acelero os movimentos. — Gostosa pra caralho! —
Grunho.

— Jaime— geme e a sinto contrair.

Mantenho o ritmo e segundos depois, ela goza gemendo alto meu nome.
Afunda o rosto no lençol, solto seus braços e a viro de frente para mim. Beijo
sua boca inquieta, movendome com pressa, fome, e me levanto, trazendo-a
junto. Atravesso o quarto, suspendendo seu corpo no ar. Encosto-a contra a
pilastra, entrando e saindo de seu corpo com ferocidade. As unhas me
marcando sem dó, em uma confusão de bocas e respirações. Não sei
necessariamente em que momento acabamos, ou a hora em que fomos
dormir, mas aquela madrugada estava na minha lista de melhores noites que
já tive na vida.

Esfrego devagar com cuidado seu couro cabeludo, enquanto ela cochila em
meu peito. Encaro o teto espelhado e o silêncio que me envolve me
desagrada. A insônia era uma das piores coisas que eu já tive que passar.
Com a insônia, vinham pensamentos; com os pensamentos, vinham
lembranças. Ao menos os pesadelos deram trégua, assim como o vazio
deixado por alguém que partiu. Entretanto, bastava me afastar de Khai e tudo
me asfixiava novamente. Em uma constante descida, meu emocional estava
mais abalado que nunca. Droga, eu preciso me decidir!

Ao mesmo tempo que a garota adormecida em meu peito me causava coisas


boas, me causava confusão e medo. Medo do que sinto por ela, medo da
dependência de sua presença, medo da verdade e da perca. Tudo soava
irônico demais, sarcástico demais, cômico demais. Fui presenteado a primeira
vez e esfaqueado pelas costas. Não tive a tão desejada felicidade e família
que tanto queria. Por que agora com Khai isso seria diferente? Não que eu
esteja dizendo que ela me trairia, quebraria minha confiança.

Apenas que se acontecesse algo para que eu a perdesse mais para frente,
apaixonado, eu me acabaria mais uma vez, só que desta eu não teria suporte
ou esperança alguma. Seria eu, meus fantasmas do passado e minha dor de
perder alguém tão fantástica quanto Khai. Não podia continuar sendo egoísta
e prendê-la a mim, a algo incerto e extremamente confuso. Porque eu era
isso, confuso, incerto, covarde e imbecil. Ao mesmo tempo em que minha
mente desenha planos para um futuro que a inclui, aponta as linhas soltas que
podem desfiar a qualquer momento e ela, assim como a maioria, me
acusarem de algo que eu não sei se realmente fiz. E, o pior, eu não fazia ideia
do que eu fiz naquela noite que caí drasticamente na rede, sendo acusado de
coisas que jamais faria em toda minha vida, não me lembrava.

Tudo daquela maldita noite que se repetia em minha cabeça, era o fato de eu
estar bêbado, acabado, envolto por policiais, paramédicos e bombeiros.
Tenho valores, caráter. Papai me ensinou a ter, mas, em alguns momentos, as
palavras ofensivas, fortes, que me recepcionaram naquela época fazia sentido.
Talvez meu velho, de fato, tenha morrido por minha culpa. Desgosto. Eu
posso ser um maldito miserável que tenha cometido assassinatos e, Khai não
merecia estar envolvida com alguém assim.

Capítulo 10
Khai
— Você tem mesmo que ir?— Pergunto, abraçando meu próprio corpo e ele
assente, dando um passo para frente tocando meu antebraço.

Hoje Jaime parte para New York, onde mora para assinar alguns documentos
antes do natal, que é quando as empresas que ele tem investimentos irão parar
em férias. E adivinhem! Sem previsão para retorno. Quando acordei pela
manhã nos braços de Jaime, ele estava acordado me assistindo dormir e abriu
um imenso sorriso ao me ver o encarar. Tem sido uma experiência gostosa
dormir e acordar com ele. No entanto, temerosa. Mesmo que seja cedo
demais, tenha sido pouco tempo. É como se nós encaixássemos e eu como a
ex piranha de faculdade que aderiu uma vida sonhadora, vou me ferrar
direitinho, tenho certeza!

— Você e Jhonnie podiam vir comigo. — Murmura, prendendo uma mecha


do meu cabelo atrás da orelha.
— Já falamos sobre isso. Nós não temos passaporte.
Encolho os ombros e ele abre um sorriso sem mostrar os dentes, me
abraçando pelo tronco.
— Podemos ir de carro. — Sugere.
— Ah não, não. Você de avião, ela e Jhonnie de carro. — Victor interrompe
ao nosso lado.
— Eu pago seu salário, eu digo como as coisas serão, não você. — Jaime
cerra os olhos para ele, que não recua diante da oposição de Jaime.
— Paga meu salário porque precisa de mim.
— Cala a boca Peyton.
— Como quiser, senhor. — Victor soa sarcástico com a falta de argumentos
de Jaime.
— Se você quiser vamos de carro...
— Eu já disse! — Victor insiste e rio, vendo Jaime se virar para ele, deixando
um soco em seu ombro.
— E eu já disse para você se calar.
— Quanta violência. — Zombo. — Eu... tenho que fazer algumas coisas
antes do natal, então eu realmente não posso ir. — Lamento.
— Você vai voltar, Jay?— Jhonnie pergunta ao lado de Victor, comendo
Doritos que Victor o deu a alguns minutos atrás.
— Só se sua irmã quiser. — Levanta a sobrancelha esquerda para mim.
Franzo o cenho, confusa com sua resposta à pergunta. Na nossa conversa
enquanto voltávamos para meu apartamento, falamos sobre sua ida e ele não
deu confirmação de que voltaria ou não. Estava estranho, mesmo tentando
disfarçar, me fazendo lembrar do dia do restaurante. Ele estava se preparando
para me dispensar outra vez?
— Ai de você se não voltar! — Cruzo os braços e ele sorri, envolvendo meu
corpo em um abraço. Beija minha testa e escorrega o nariz em meu rosto,
alcançando meu ouvido.
— Você vai ser a minha ceia no réveillon. — Promete em um sussurro.
Sorrio abraçando-o pelo pescoço. Mal posso esperar.
— Jaiminho!
— Vai se foder. — Cospe em incredulidade, virando o rosto para o lado e
acompanho, vendo seus amigos vindo até nós.
— Já estava indo sem se despedir?— Pergunta em tom de ofensa, o de cabelo
cor de rosa, que me lembro se chamar Simon.
— Vamos nos ver em New York, Babalu. — Devolve a provocação.
— Mesmo assim, quanta consideração! — Implica Aidren, encarando o
amigo, desgostoso.
— Chega garotas. — Revira os olhos, se voltando para mim.— Te vejo em
uma semana. — Assinto e então ele me beija rapidamente, seguindo os
amigos após se despedir de Jou.
— Ele vai voltar. — Comenta Victor. — O que aconteceu quando pediu a ele
para gravar uma entrevista?— Abaixo meu olhar, envergonhada, e encaro
novamente as costas de Jaime, que vai para o portão de embarque. Nego com
um balançar de cabeça. — Oh! Isso explica a harmonia no ar.
— Você trabalha há muito tempo com ele?
— Dez anos, pelo menos. — Explica.
— Então sabe o que o deixou assim, recluso e... rancoroso com a mídia. —
Suponho e Victor assente, guardando as mãos nos bolsos frontais de sua calça
social.
— Sei, mas não cabe a mim te contar, me desculpe. Por favor, não me
pergunte sobre dois mil e onze. É um assunto que só cabe a ele te contar. —
Pede e aceito sua resposta. — Se precisar de qualquer coisa me ligue, ou
mude de ideia e queira ir a New York. — Estende um cartão branco em minha
direção e levanto meu ombro direito, encarando seus olhos.
— Desta vez é seu contato mesmo?— Questiono e ele ri, levantando-o.
Indica seu nome atrás do cartão.
— Desta vez sim.
— Obrigada Victor, por tudo. — Agradeço e ele assente. Passo minha mão
por trás da cabeça de Jhonnie e o incentivo a me seguir. O pequeno garoto
acena com os dedos alaranjados pelo salgadinho e fomos para casa.

— Styles's, com quem falo?— Pergunta a mesma voz antipática de sempre.


— Khaillane Marin, gostaria de falar com Candice.
— Irei ver se ela irá atendê-la, senhorita Marin. — Avisa e espero na linha,
até ouvir a voz de Candice. Eufórica até demais. Só assim conseguimos ver
até onde as pessoas chegam por interesse.
— Khai, querida! Como vai? Estive me perguntando quando receberia sua
ligação.
— Olá Candice, vou bem e você?
— Perfeitamente, ansiosa. Conseguiu o que combinamos?
— É sobre isso que gostaria de lhe falar. — Começo e vejo Jhonnie me
olhando, atento a minhas palavras e sorri para mim.
— Pode falar querida, sou toda a ouvidos. Soube por sites e revistas que você
e Hastings estão tendo um caso. Estão em todos os lugares. — Sopra um riso
como se tivéssemos intimidade para falarmos de nossas vidas particulares e
eu franzo o cenho, indo para meu computador no canto do quarto. — Pensei
que você fosse burrinha, mas laçou o quarterback! — Ri, continuando a falar
e presto atenção apenas nas matérias correndo em minha tela. Há fotos de nós
dois na saída do restaurante, depois uma matéria dizendo sobre ele estar
dedicando sua conquista a mim quando estava ajoelhado no gramado. Nego
com a cabeça, surpresa ao ver diversas fotos nossas e fofocas atrás de
fofocas. Quer dizer, boatos, pois até onde sei ninguém tem informações do
nosso “relacionamento”.
Sinto meu rosto queimar em vergonha, vendo a página recarregar com
informações que acabaram de ser atualizadas e fotos do carro de Jaime
entrando no motel na noite passada e da nossa despedida no aeroporto. As
notícias são completamente constrangedoras, vergonhosas e intimidantes.
Agora consigo entender como é ser encurralada pela mídia. São sem limites!
— Er... — Pigarreio, atraindo sua atenção e a fazendo se calar. — Não
estamos tendo um caso, estamos juntos. Mas sobre o que venho a te falar, é
que eu me demito. — A linha fica muda por alguns segundos, até ela parecer
perdida no assunto.
— Como?
— Eu me demito, não irei entregar uma matéria sobre Jaime, que odeia a
mídia e odeia que sua vida pessoal esteja em cartaz nas colunas de imprensa.
— Concluo, ainda lendo as postagens escandalosas sobre nós dois.
— Decepcionante sua posição, Khaillane. Esperava mais profissionalismo.
Eu poderia te dar muita visibilidade no mercado de trabalho. Não adianta se
arrepender do feito, porque não a darei uma segunda chance.
— Não me arrependerei, Candice. — Garanto por fim e ela encerra a ligação
antes mesmo de se despedir. Talvez eu tenha a irritado... mas é apenas um
talvez. Pouco me importando, suspiro deixando o aparelho sobre a raque do
computador.
— Você fez a coisa certa. — Jou me ampara e sorrio pequeno, virando-me
para ele, assentindo. Jaime merecia mais que ter a vida especulada por uma
pessoa formada em jornalismo sem qualquer experiência no ramo para se
beneficiar. E quem eu seria se o colocasse contra a parede para benefício
próprio? Que tipo de pessoa eu estaria me tornando o magoando de alguma
forma para subir de nível financeiro? Poderia ser pobre, passar necessidades,
ficar sem comer para dar a Jou uma refeição a mais; faria de tudo que
coubesse dentro do meu caráter e bom senso. Mas, jamais cederia a cobiça.
Se for para mim e Jaime ficarmos juntos, assim será. Sem pressão, com
confiança e força de vontade. Caso seja apenas algo momentâneo, guardarei
comigo para sempre, pois tive a melhor fase da minha vida, enquanto tinha
que escolher em me deixar ser alguém— até certo ponto— importante na
vida de uma pessoa, e me favorecer, proporcionando uma vida melhor para
meu irmão. De uma coisa eu sei: jamais me arrependerei da escolha tomada a
pouco.

Três duas depois...


— Volta quando?— Pergunto, ouvindo sua manha do outro lado da linha.
Nesses últimos três dias desde a partida de Jaime, entrei em contato com
Victor e nos preparamos para uma viagem rápida de carro até Jaime, porém,
tudo em sigilo, sem que o senhor apressadinho soubesse. Temos nos falado
todos os dias e, apesar de eu ter pensado que ele se afastaria indo embora, ele
estava mais que presente, mandando mensagens de texto e me ligando
quando tinha tempo. O homem parece extremamente carente e eu acho uma
graça isso nele. Jamais que imaginaria alguém de seu porte ser tão frágil e
sentimental, mas confesso que estou adorando isso.
— Em dois dias. — Resmunga, descontente. — Eu queria você aqui comigo.
— E se eu fosse? — Pergunto sugestiva, vendo as luzes de New York
correndo pela janela do carro. Estava livre de qualquer coisa que poderia
atrapalhar minha relação com ele, consciência limpa. Seu riso soa arrastado e
mordo o lábio inferior, imaginando sua língua dançando sobre os lábios antes
de sorrir em conspiração contra minha calcinha.
— Seria magnífico. Fez o que precisava fazer? O natal é amanhã e eu não
queria passar sozinho. — Concordo com um som qualquer. — O que era tão
importante que você precisava fazer para não ter vindo comigo mesmo? —
Indaga, emburrado. Jaime sabe ser insuportável quando quer, mas de alguma
forma, seu drama me alegrava e me deixava ansiosa para vêlo novamente.
Quase podia sentir suas mãos pesadas em minha cintura, o rosto fundo na
curva de meu pescoço, resmungando que não queria se despedir naquela
hora. Prolongando o tempo em que estávamos juntos. Eu sei, me joguei de
cabeça. Mas não posso negar que sinto sua falta.
— Precisava me demitir. — Conto e ele emite um som em confusão.—
Queriam que eu fizesse uma coisa e eu preferi me demitir para não ter que
fazer.
— Entendi, eu acho. Está sozinha?
— Não necessariamente, por que?
— Cuidado com sua galeria, Khai. — Alerta e franzo o cenho, sem entender
do que ele falava.
— Como assim?— Pergunto e meu celular vibra, indicando uma nova
mensagem. Afasto o aparelho do ouvido e vejo ser de Jaime. Abro a mesma e
me deparo com meu— não tão— namorado de frente para um espelho com
apenas uma toalha branca enrolada na cintura, enquanto sua mão esquerda se
ocupava em segurar o volume rígido. Passo a língua sobre os lábios secos e
volto a aproximar o telefone do ouvido. — O que foi isso?
— Um incentivo para não me deixar passar o natal sozinho. — Responde
como se nada havia acontecido. — Estive duro todos os dias, tenso, com
tesão. Só de lembrar o quanto você é gostosa. — Ronrona em meu ouvido.
Disfarço minha respiração ofegante, apertando as coxas com o incomodo que
estava se formando em meu centro.
— Você é impossível, Jaime. — Rio fraco, sem jeito e sem ter como
responder como queria. Acompanho o carro virar uma esquina, entrando em
um condomínio de luxo.
— Espera só eu chegar aí, vou te mostrar o impossível. É fácil viciar em você
por cima, por baixo, na frente... — Suga o ar dentre os dentes e rio saindo de
nossa bolha com o carro parando em uma das primeiras mansões da rua.
— Vou aguardar ansiosamente, sem a biancheria intima. — Murmuro a
última parte em italiano, sabendo que tanto Victor, quanto Jhonnie não
entenderiam.
— Parli italiano, piccola? — Pergunta com malícia em sua voz.
— Não faço ideia do que você disse agora. — Choramingo. Sou um fracasso,
Deus!
— Perguntei se fala em italiano, mas pelo visto, não. — Ri e mordo o lábio
inferior. Victor faz sinal de silêncio para a senhora de uniforme que atende a
porta e ela assente, liberando nossa entrada.
— Talvez eu tenha pesquisado algumas mínimas palavras. — Dou de
ombros, tapando o microfone do telefone, quando Victor me faz sinal.
— Última porta do corredor. — Sussurra e assinto, olhando para Jhonnie que
sorri em cumplicidade, dando a mão para Victor. — Divirtam-se crianças! —
Rio em constrangimento e subo a ampla escada de mármore branco,
encantada com a decoração delicada e caríssima.
— Posso te ensinar uma segunda língua. — Sugere. Bato à porta de seu
quarto e ele grunhe em irritação e prendo os lábios. — Espera um pouco. —
Range e me mantenho quieta, vendo a porta abrir e seu olhar enfurecido se
transforma em surpreso.
— Acho uma boa ideia, a aula de italiano. — Recito, sorrindo pequeno. Ele
abre a boca para dizer alguma coisa, mas nada sai da mesma. Seus olhos me
encaram com um misto de expressões se passando de uma única vez,
descendo-os pelo meu corpo. Retribuo o ato, vendo que ele se encontra
apenas com a bendita toalha branca enrolada na cintura. — Costuma abrir a
porta apenas de toalha, amor?
— Mas o que... — Sibila, mas não termina a frase, avançando no espaço
entre nós, agarrando minha boca com ferocidade. As mãos me apertam contra
seu corpo, subindo-as como se conferisse se eu estava de fato ali. Passo os
braços ao redor de seu pescoço e separo nossas bocas, afundando o rosto na
curva do pescoço. — Jhonnie, onde está?
— Lá em baixo com Victor. — Respondo baixinho, acarinhando seus cabelos
da nuca.
— Ótimo! — Beija meu ombro, descendo as mãos até minhas coxas,
puxando-as para cima e envolvo seus quadris. Após empurrar a porta,
fechando-a, Jaime andou comigo pelo quarto e me deitou na cama, vindo por
cima. Grunhe contra minha boca, enquanto aperta meu corpo coberto pela
roupa grossa pelo frio que fez na viagem, afastando-as com pressa sem deixar
de me beijar. Mordo seu lábio inferior, arrastando as minhas unhas por suas
costas, abraçando sua cintura e na pressa, Jaime rasga minha camisa.
— Jaime! — Reclamo e ele não se pronuncia a respeito, mordendo meu
rosto. Alcança o vale entre meus seios, mordendo e chupando a pele sensível.
Entrelaço os dedos em seus cabelos, o puxando para cima e beijo sua boca,
soltando a toalha de seu corpo.
Giro-o na cama, deixando-o por baixo, vestida apenas com a mínima calcinha
rendada, os restos da minha camisa e o sutiã, sentada sobre sua ereção rígida.
As mãos me apertam, a boca trilha beijos, mordidas e lambidas por meu
peito. Tão logo se livra do sutiã e o resto da camisa, descendo a boca com
fome, espalhando uma descarga elétrica por minha coluna, fazendo-me jogar
a cabeça para trás, puxando seus cabelos. Movo os quadris em um esfregar
lento, as mãos agarradas as bochechas da minha bunda. Volto a beijá-lo,
empurrando seu tronco para trás, apoiando as mãos contra seu peito rígido.
Jogo meus cabelos para o lado, suspirando com seu toque em minha calcinha.
Movo-me contra a rigidez encostada em meu centro e Jaime afasta minha
calcinha, alcançando meu rosto com a mão livre, apertando-o, enquanto
morde minha bochecha, sugando-a em seguida. Eu amava o jeito que se
ocupava em minha bochecha, parecia ser uma tara, estranhamente deliciosa.
— Senta. — Manda com a voz mais grossa que minutos atrás. Gemo
descendo as unhas por seu peito, aventurando-a em sua magnitude e o seguro,
encostando-o em minha entrada molhada. Sopra contra meu pescoço,
lambendo libidinosamente minha pele e aperta minha nádega esquerda,
influenciando para que eu sentasse na busca de aliviar a tensão de meus
músculos. Fecho os olhos com a sensação de tê-lo em mim. Começo a me
mover com sua ajuda e gemo baixinho contra sua boca, abrindo os olhos,
encontrando com os seus, nebulosos.
— Vamos parar que agora não é hora! — Travo ao ouvir a voz entrando no
quarto. Jaime trinca o maxilar, sentando na cama, puxando alguma coisa para
cobrir minha bunda.
— O que vocês estão fazendo aqui?— Rosna Jaime, olhando para trás de
mim. Passo os braços ao redor de seu pescoço, cobrindo minha nudez de
alguma forma. Brochando.
— É véspera de natal, o que quer dizer que temos cinco horas até o natal.
Não podíamos passar essa data comemorativa sozinhos, não acha?—
Pergunta Simon e olho para eles por cima do ombro direito.
— O que são trinta minutos perto de cinco horas, seus putos?— Range os
dentes.
— Meia hora você prepara meia ceia, senhor pau pequeno. — Provoca
Aidren. Puxo o enorme lençol que desprendeu do colchão, passando por trás
do meu corpo e me levanto um pouco, tirando Jaime da minha entrada,
frustrada com a interrupção.
— Vaza, Lenny, Connor! — Manda e me deito na cama, enrolada no lençol,
encarando os dois marmanjos empata.
— Cinco minutos lá em baixo, ou entramos aqui de novo. — Aponta Aidren.
— Entra e eu jogo a camisinha com porra na sua cara. — Ameaça Jaime e
arregalo meus olhos, levantando o lençol discretamente, encarando seu pênis
em uma ereção inabalável, livre de camisinha. Meu Deus, esquecemos a
camisinha! Calma, não pira! Pede meu subconsciente, berrando em pavor.
— Temos um problema. — Murmuro assim que Aidren e Simon saem do
quarto.
— Claro que temos, meu pau está duro, doendo! — Resmunga, se mexendo
na cama, vindo para cima de mim.
— Não usamos camisinha. — Digo antes que ele me beije.
— Eu sei. — Ri, tentando avançar em mim novamente, mas seguro em seu
peito, mantendo-o afastado.
— E por que está tão calmo?
— A pergunta certa a se fazer é: por que você está nervosa?
— Eu não tomo anticoncepcional tem anos. — Conto em um fio de sanidade.
— Ok... temos um problema.


— Oi. — Uma voz feminina atrai minha atenção, me fazendo levantar o olhar
para a porta da cozinha. Uma senhora aparentando ter cerca de cinquenta
anos me olha com um sorriso bonito, parada na entrada.

— Olá.
— Sabe onde está meu filho?— Pergunta, olhando ao redor, esfregando as
mãos. Franzo o cenho confusa e ela se explica com um leve sorriso. — Jaime.
— Reprimo minha vontade de abrir a boca, sorrindo nervosamente para
descontrair minha surpresa.
— Ele... — Pigarreio.— Teve que ir à farmácia aqui próximo, não deve
demorar. — Respondo, sorrindo de leve sem saber como agir em sua frente.
Ela assente, adentrando a cozinha.
— Ele não me contou sobre uma namorada vir jantar conosco. — Comenta,
deixando o par de luvas de marca sobre o balcão da ilha da cozinha e se senta
na banqueta. Abro a boca algumas vezes para a responder, mas nada me vem
em mente para lhe dizer. Não somos namorados, somos? O que somos?
— Acho que não deu tempo. Tem alguns minutos que cheguei de viagem. —
Sibilo, sem graça.
— Compreendo. Khaillane, certo? — Levanta a sobrancelha esquerda e noto
o quão semelhante é ao ato de Jaime. Assinto, desconcertada. — Me chame
apenas de Lara. — Pede me encarando com os grandes olhos castanhos e um
sorriso simpático. Balanço a cabeça e desvio o olhar, constrangida com sua
atenção em mim, voltando a preparar o molho do peru. Olho na direção do
fogão, vendo as vagens de Jaime que já estão fervendo. — Jaime tem irmãos?
— Pergunto não conseguindo controlar a curiosidade. Como nunca o
perguntei sobre sua família?
— Não que eu saiba. — Conta e rio fraco, assentindo, sem saber como
abandonar o desconforto em sua frente. — Simon me disse um pouco sobre
você.
— Espero que bem.
— Sim, sim. Muito bem, aliás. Disse que não via Jaime tão feliz há muito
tempo. — Sorrio de leve e desligo o fogo das vagens.
— Jaime não costuma se abrir muito.
— Eu sei querida, o filho dele é quem mais sofre com isso. — Conta e paro
de mexer na panela.
— Filho?
Capítulo 11
Jaime
— Poderia ter dito que traria Khai para jantar conosco. — Lara murmura
assim que entro na cozinha com a sacola da farmácia em mãos. Levanto meu
olhar, vendo a mulher por quem eu daria meu mundo anos atrás e nada de
Khai que tomou meu lugar na cozinha quando tive que sair atrás de suas
pílulas.

— Pensei que só viria amanhã. — Aponto. Desde a morte de papai, não


tínhamos uma relação boa, ela se mudou da casa que os dei e se fechou, me
expulsou de sua vida. Eu quis morrer quando ela me expulsou do velório e
me proibiu de acompanhar o enterro do meu velho. Só Deus sabe o quanto eu
a amava, amava meu pai. Amo. Dois anos atrás, ela tentou se reaproximar,
por mais que a ame muito, não consigo esquecer suas palavras frias e
rancorosas em meio ao choro. Passo datas comemorativas com ela, Zayn e
meus amigos porque papai fazia questão disso. No entanto, eu não tinha mais
toda aquela euforia de antes.

Preferia me manter afastado. Seria melhor para todo mundo e eu não seria
uma decepção para a criança que não tem culpa da vadia que a mãe era.

— Seu filho pediu para vir, então pensei: por que não? — Trouxe Zayn?—
Questiono, cerrando os dentes.

— Claro que sim, achou que eu o deixaria sozinho em casa?— Devolve e


suspiro esfregando os cabelos. Droga!
— Onde está Khai?
— Tem um tempo que disse ir ao banheiro. Não voltou desde então. —
Responde e saio da cozinha, indo para o lavabo no fim do corredor antes da
sala. Bato na porta e ninguém responde.
— Khai?— A chamo e abro a porta, não vendo ninguém. Olho para a porta
do jardim, a vendo apenas encostada e vou até lá, encontrando Khai parada
no gramado coberto pela neve, olhando a garoa esbranquiçada caindo, sem
qualquer roupa de frio. — Khai?— Ela me olha por um tempo, mas não diz
nada, voltando a olhar para a neve. Mordo o maxilar, saindo novamente no
frio e tiro meu sobretudo, passando por cima dos seus ombros gelados e
arrepiados. — Vem, vamos entrar. Está muito frio aqui fora. — Seguro em
seus braços, a puxando contra meu corpo, mas a mesma se desvencilha, me
encarando nos olhos pela primeira vez.
— Quando iria me contar que tem mãe e um filho?
— Vamos entrar, conversamos lá dentro. Ok?— Ela me encara por alguns
segundos e se vira, indo para dentro. Respiro fundo e a sigo para dentro,
fechando a porta de vidro sentindo o ar quente do aquecedor me envolver.
Khai me olha por cima do ombro e eu aceno em direção a porta do escritório.
— Senta. — Aponto para o sofá de dois lugares.
— Você não respondeu minha pergunta. — Lembra, cruzando os braços sem
sair do lugar.
— Eu te convidei para cá na intenção de te contar. Te contar um pouco sobre
mim antes de um... encontro não previsto— Suspiro. Ela se mantém em
silêncio, me encarando.
— Eu soube desde o começo quando nos envolvemos que você era, é,
reservado. Já tive um ou dois relacionamentos passados que não deram certo
por falta de comunicação e de confiança. — Começa deixando a decepção
transparecer em seu olhar. — Estamos juntos, caramba! E em momento
algum você citou sua família, seu filho! Eu não sei o que devo esperar vindo
de você...
— Sei que errei, mas é algo que tenho para mim por muito tempo. Coisas me
fizeram ser assim. Influências fizeram com que eu deixasse de confiar nas
pessoas.
— Então está dizendo que não confia em mim?— Pergunta e reprimo os
lábios. Sim eu confiava, e como confiava. Como se manda fotos intimas para
quem não confia? Confiava minha vida a ela, mas não estava seguro comigo
mesmo em relação a compartilhar meus problemas e cargos com ela. Khai
balança a cabeça com um sorriso sarcástico. — Está bem. Acho melhor eu ir
para casa. — Levanta a mão no ar, a soltando, como se desistisse.
— O que? Não. — Apresso-me para a alcançar antes que saísse do escritório.
— Khai, me desculpa, ok? Me deixa explicar.
— Então começa a explicar, Jaime. Pesquisas sobre sua vida exposta na
mídia em momento algum mostrou que você tem um filho. Como posso saber
se não vai aparecer algo mais para frente, como se estivéssemos em um
romance clichê de livros, para querer atrapalhar o que tem entre a gente? Um
sequestro, uma chantagem...
— Só acredite em mim, por favor. Eu não me sinto tão bem assim há muito
tempo, e se você se fosse agora, eu perderia a única coisa, única pessoa que
mantém minha mínima esperança em algo bom na minha vida. — Suspiro,
enquanto seus olhos castanhos me encaram buscando por algo.
— Onde está a mãe dele?— Inquere e mordo o maxilar.
— Ela morreu.

Khai
Seus ombros rígidos caem, juntando os braços nas laterais do corpo, olhos
baixos e sem qualquer tipo de emoção ao dizer aquelas palavras. Jaime não
passava imagem a mais que de destruído, indefeso. Me quebrava vê-lo mal,
aparentando não gostar do assunto. Mas eu tinha que o pôr contra a parede,
não?

— Como ela morreu?


Jaime inclina a cabeça, desviando seu olhar do meu.

Franzo o cenho, vendo sua hesitação em responder à pergunta. — Glenda é a


mãe dele. — Sua voz soa em um soprar
ferido, como se as palavras rasgassem sua garganta ao serem
proferidas. — Morreu em dois mil e onze quando eu e Asaf
brigávamos.
— Como diz nas matérias?— Seus olhos irados encaram
os meus, punhos cerrados e uma curva de irritação em suas
sobrancelhas.
— Não. Eu não a matei. — Grunhe, o corpo voltando a
ficar mais rígido e dá passos para trás. — Não vou falar disso,
se quiser ir, peça para que Victor a leve. — Gira sobre os calcanhares, indo
até um pequeno aparador ao lado do sofá e se
serve com um copo de whisky.
— Eu não estudo jornalismo. — Conto, o vendo se virar
para mim com o cenho franzido, o copo preso em seus dedos
e a mão livre no bolso de seu moletom. — Concluí o curso há
quase dois anos.
— Por que está me contando isso?— Range os dentes. — Porque eu quero
que confie em mim. Diante de mentiras, só mentiremos um para o outro e não
é o que quero. —
Passo as mãos na saia do vestido solto, a alinhando ao corpo.
— Trabalhei em uma revista desde então, onde eu era faxineira sem ter tido a
chance de mostrar meu trabalho para diversas empresas. Mas há alguns dias,
recebi uma proposta e
aceitei. — Jaime se encosta contra a madeira escura da mesa,
pura atenção nas minhas palavras. — Uma entrevista com
você e eu ganharia uma promoção. De faxineira a jornalista
digital, seria demitida se não entregasse a matéria até o prazo
espirrar, ou seja, a promoção, ou a rua. Me pareceu uma ótima
oportunidade, até eu te conhecer. Pedi demissão dois dias atrás
por não querer te forçar a expor algo que não quisesse. —
Abraço meu próprio corpo, prepotência dançando em meu
peito, temendo sua reação diante da minha confissão. Mas,
preparada para uma possível expulsão.
Jaime morde o maxilar com força, leva o copo aos lábios
e bebe de uma vez o líquido.
— Chegou a escrever alguma coisa?
— Não. — Sopro e ele volta a se virar para a mesa, deixando o copo sobre a
mesma. Dou curtos passos em sua dire
ção, levantando as mãos, tocando em suas costas tensas. — Por muito tempo
estive no escuro, odiando tudo ao
meu redor, inclusive minha família. Me tornei alguém que não
reconheço ao me olhar no espelho. — Mussita baixo, os ombros caindo em
prepotência. — Você tem sido a única que não
odeio, de fato. Por mais que eu queira te odiar por fazer parte
da imprensa, indiretamente. — Puxo seu ombro de leve e
Jaime se vira, me encarando com os olhos tensos. Seguro seu
rosto entre as palmas das mãos e alcanço seus cabelos macios.
— Não deixe de ser a única faísca em minha escuridão. —
Pede parecendo um garotinho indefeso e amedrontado. — Nem que eu
quisesse.— Sussurro e o abraço, tendo
seu rosto perdido na curva de meu pescoço. — Só confie em
mim e me deixe te ajudar, ok?
As coisas jamais foram fáceis, na verdade, para que seriam fáceis, se as
melhores coisas levam tempo e outras, o
tempo leva? Uma eternidade de um sentimento básico não era
suficiente para mim. Buscava por algo cativante, excitante e
exuberante; acabando fascinada, encantada e ligeiramente
apaixonada por Jaime. Alguém que esconde seu passado até
de si mesmo, alguém que, aparentemente, tem muito mais que
um pequeno segredo guardado em sua cabeça. Segredos esses,
que eu iria até o fundo para descobrir e ajudá-lo, como puder,
a superar seus receios. Era isso o que eu faria. Jaime apenas
precisa de alguém que não desistisse dele, e é isso o que farei. Não desistirei
no primeiro obstáculo. Apenas espero não me
decepcionar e me arrepender dessa escolha.
Naquela noite, véspera de natal, Jaime hesitava em vários
momentos interagir com sua família, sendo mãe e filho. Parecia estar preso
em uma dimensão entre o inferno e a terra, no
próprio inferno. Dado meia noite, o pequeno Zy, como Aidren
e Simon o chamavam, recebeu um embrulho de presente, assim como Jou, de
Jaime. Seria lindo de ver a cena, se não fosse
tão vácuo e vazio de sentimentos dele ao receber o abraço do
filho. Esse era um dos pontos que eu gostava em mim. Passar
metade do tempo observando os fatos e as reações me favorecia em alguma
coisa. Era como ser telespectadora da minha
própria vida, sendo possível apontar erros e sugestões com
mais facilidade. Porém, tinha seu lado ruim. Nem sempre gostava do que via
e interpretava nas ações alheias. Muitas das
vezes, eram decepcionantes. Agora, não passa de algo vago,
sem qualquer camuflagem ou categoria para decifrar os sentimentos.
— Você esteve quieta a noite toda. — Observa Jaime
mais tarde, após termos colocado as crianças para dormirem
no quarto de Zayn.
— Pensando um pouco. Melhores decisões não são tomadas no calor do
momento. — Asseguro e sinto seus braços
passarem ao redor de minha cintura, puxando-me para si. — Eu não
concordo. Por impulso você entrou na minha
vida. — Levanta a sobrancelha esquerda para mim e sorrio. — Costumo ser
alguém observadora — Admito—, e não
gostei do que vi hoje. Sei que deve ser difícil para você, mas não podia tentar
ser àquele por quem seu filho teria orgulho e
admiração?
Jaime torce a boca, os olhos desviando dos meus. — Eu não sei lidar com
essa situação toda e tudo o que
me faz sentir, entende?— Talvez fosse uma pergunta retórica,
mas acenei negativamente, esclarecendo minha incompreensão diante de suas
palavras. — Ele não representa algo bom
na minha vida, não representa algo que eu quisesse que fizesse
parte da superação daquela época. Talvez tivesse sido minha
razão pela qual continuar se não tivesse vindo de alguém que
me quebrou. A intensidade do que sinto me mata, porque era
para mim ser alguém melhor do que meu pai foi para mim. Ser
alguém que ele iria querer se espelhar. Mas eu não passo de
uma sombra do que fui no passado, de um fracassado temendo
perder algo que me ajude a mudar.
Reprimo os lábios, sentindo um raspar na garanta, querendo chorar com sua
confissão profunda.
— Zayn pode não ter vindo de um relacionamento que
tenha dado certo, mas de qualquer forma, não tem qualquer
culpa pelo que possa ter acontecido entre você, Glenda e Asaf.
É uma criança, pura e ansiosa para ter o carinho de um pai
incrível. Por mais ruim que seja a realidade, não devia descontar em quem
não tem culpa. Não acha?— Indago com a voz
chorosa, as lágrimas grossas escorrendo em minhas faces. Jaime alcança meu
rosto e afasta as lágrimas dali, deixando um beijo em minha testa.
— Tente dar a ele seu melhor, por você, por ele. Talvez
por mim, já que disse que eu sou sua salvação. Mas tente ter uma relação
melhor com ele, ele poderia ser quem realmente te salvaria do seu martírio.
— Imploro, abraçada a seu corpo, odiando ser tão fraca, chorando quando se
trata de assuntos relacionados a crianças. — Jou não é meu filho, mas de
alguma forma, meu extinto materno foi ativado quando ele se tornou minha
responsabilidade e eu daria minha vida por ele, porque o amo mais que
qualquer coisa nessa vida. Zayn é tão
pequeno e inocente. Tente.
— Vem, vamos deitar, você deve estar cansada. — Murmura, alisando meus
cabelos. Evito me importar por agora
com sua tirada do assunto, e o sigo para o quarto.
Encolhi-me na cama, agarrada ao seu corpo, sentindo as
carícias em meus cabelos e suspiro. O silêncio nos envolve e
permito-me pensar a respeito da nossa breve conversa, recordando das
matérias que li a respeito da morte de sua ex noiva
grávida. Não imaginava que a criança havia sobrevivido, quer
dizer, ela morreu no caminho para o hospital. Expulso esses
pensamentos, encarando um ponto qualquer no meio ponto de
luz que entrava pelas portas de vidros da varanda e relaxo.

Capítulo 12
— Bom dia! — Exclama Lara, entrando na sala de jantar.

— Bom dia. — Sorrio para ela, que se senta do outro lado da mesa, a minha
frente, se servindo de seu café.
— Jaime, onde está?— Pergunta, batendo os dedos com longas unhas bem
cuidadas na cor vinho contra a têmpora esquerda.
— Saiu para correr mais cedo, já deve estar voltando. — Respondo e olho
para a porta, vendo Jhonnie entrando com o rosto amassado. Ele sorri
pequeno para Lara e se senta ao meu lado. — Bom dia.
— Bom dia. — Resmunga, traçando com o indicador a toalha da mesa,
fazendo desenhos imaginários. Deixo minha caneca sobre a mesa e o sirvo
com o que ele toma pela manhã.
— Esta casa fica silenciosa quando os rapazes estão dormindo. — Comenta e
levanto meu olhar para ela.
— Sim, eles aparentam serem bem bagunceiros. — Rio de leve, não
encontrando a graça.
— São sim, o primeiro natal que passamos juntos, Jaime e Aidren
derrubaram a árvore de natal do segundo andar. — Conta com um grande
sorriso nostálgico nos lábios.
— Você deve ter ficado irada com isso. — Sopro tentando não soar
sarcástica.
— Oh, não querida. Eu ri muito. Derick quem ficou irritado, deixou Jaime de
castigo por uma semana. — Conclui e rio de leve, arrastando o olhar pela
sala, vendo Jaime entrando, já com outra roupa da qual havia saído. Vestido
com uma calça de moletom cinza e uma camisa de manga longa preta. Se
aproximou de mim, deixando um beijo em minha testa, sentando-se na
cabeceira da mesa, em minha diagonal.
— Bom dia, Lara.
— Bom dia, filho. — Cumprimenta, parecendo feliz pelo cumprimento.
Jaime se serve e pousa a mão esquerda em meu joelho debaixo da mesa,
fazendo círculos imaginários sobre a malha da calça.
— Bom dia família mais linda! — Exaspera Simon, entrando na cozinha
sorridente.
— A causa da minha dor de cabeça acordou. — Choraminga Lara,
esfregando as têmporas e Simon ri indo até ela, beijando sua cabeça.
— Prometo não gritar, tanto.
— Me sinto lisonjeada. — Zomba e ele ri, indo até Jaime.
— Bom dia, Jaiminho! — Simon afina a voz, debruçando para alcançar o
rosto do amigo. Rio vendo a carranca de Jaime, encarando o homem de quase
um metro e noventa com graça para seu lado.
— Senta seu rabo naquela cadeira e fica quieto. — Manda.
— Oh Jaiminho, faço tudo o que você mandar! — Geme, indo para seu lugar
ao lado de Lara.
Nosso café da manhã correu rápido com as provocações de Simon e depois
Aidren se juntou a nós, rindo de Jaime. Quando o pequeno Zy acordou, Lara
se despediu assim como a criança e se foram. Ainda estava estranho a relação
de Jaime e Zayn, mas menos incômoda quanto na noite passada. Talvez
minha conversa com ele fez algum efeito sobre seus atos, porém é um
enorme talvez.
— Jaiminho, ainda tem aquele quarto dos jogos?— Pergunta Simon e Jaime
morde o maxilar o encarando.
— Vá a merda, Lenny e você sabe que sim! — Simon ri e se retira da sala de
jantar, levando Aidren e Jhonnie para jogarem algo, deixando apenas o
silêncio.
— Por que te chamam de Jaiminho?— Pergunto, o ajudando a tirar a mesa.
— Sério que quer saber disso? — Levanta as sobrancelhas para mim com a
sombra de sorriso no canto dos lábios. Assinto curiosa e ele ri, negando com
a cabeça, alcançando a pia para lavar a louça.
— Por favor, eu quero saber! — Insisto, empurrando seu ombro de leve.
— No último ano do fundamental, estávamos jogando verdade ou
consequência no ginásio do colégio. Garotas contra garotos, era para ser um
jogo inocente, levando em conta nossa idade. Mas Lexie estava jogando
conosco e todos sabíamos que se ela fosse escolher nosso desafio, estaríamos
perdidos. Só que eu não me importava. — Ri negando com a cabeça e fica
por alguns segundos em silêncio me passando a louça para a secar. — Então
caiu em mim e nela, ela me desafiou a medir meu pênis e os contar o
tamanho.
— Oh, você não fez isso! — Gargalho, ficando quase sem ar.
— Fiz, me arrependo até hoje. — Confessa.
— E... — Respiro fundo, tentando controlar meu riso. — Qual era o
tamanho?— Jaime levanta a sobrancelha esquerda para mim com um sorriso
torto nos lábios, puro deboche.
— Não tá bom do tamanho de hoje em dia?
— Está, mas eu quero entender... — Reprimi os lábios, tentando não rir. Ele
bufa em frustração e balança a cabeça de um lado para o outro antes de falar:
— Tinha treze centímetros, um centímetro e meio abaixo da média. — Abana
as mãos, parecendo envergonhado e puxa o pano de prato das minhas mãos.
— É aceitável para alguém de quatorze anos. — Implico e ele cerra os olhos
para mim. Gargalho andando para trás a cada passo que ele dava em minha
direção. — Agora tem o que? Quinze centímetros?
— Vai rindo! — Me ataca com as pontas dos dedos, fazendo cócegas em
minha cintura. Debruço já não aguentando mais rir e Jaime para seu ataque,
mantendo-me presa contra a parede.
— Já mediu depois de alcançar a maturidade? Quer dizer, o membro genital
cresce até os dezoito anos... — Questiono, tentando passar a imagem de
seriedade, falhando miseravelmente. Qual é, é hilário!
— Não, para que outra decepção, huh?— Devolve, afastando meus cabelos
da frente do rosto.
— Acho que não é tão decepcionante, talvez um pouquinho. — Zombo e ele
levanta a sobrancelha esquerda para mim. Rio outra vez segurando em seu
peito, o mantendo afastado de mim. — Mede para atracar minha curiosidade?
— Pisco vezes demais e ele ri em escárnio, balançando a cabeça em negativa.
— Qual seu problema?— Inquere e rio, levantando o ombro direito.
— A ciência não soube explicar. Por favor, Jaime! — Peço, fazendo
biquinho.
— Não, seria deprimente deixar duro só para medir. — Torce a boca. Olho
para a porta que dá para ver a sala de jantar e a de estar e depois volto a olhá-
lo.
— Talvez eu ajude em algo. — Sussurro em sugestão, separando as mãos.
Jaime passa a língua sobre o lábio inferior e o segura entre os dentes,
contendo um mínimo sorriso, repleto de segundas intenções.
— Promessa é dívida, amor. — Sussurra cruzando o pequeno espaço entre
nós, roçando o nariz em minha bochecha.
— Sei disso. — Sopro, o abraçando pelo pescoço. Desce suas mãos para
minhas nádegas, as apertando e morde minha bochecha. — Aqui não.

Jaime
A encosto contra a parede do corredor, seu sorriso curvando o canto dos
lábios. Quadris vindo de encontro aos meus. Mordo sua bochecha, puxando
as pernas que rodeiam meu corpo, encontrando com a boca rosada. Os
pequenos dedos agarram minha camisa e a puxa pela cabeça, abraçando-me
pelos ombros. Segurando em sua bunda, a suspendo no ar a fazendo se mover
de forma que alcançasse minha calça em movimentos repetitivos, abafando
seus leves suspiros. Traço beijos até seu pescoço, lambendo e sugando sua
pele arrepiada.

Os seios rígidos apontando na blusinha de alças na cor branca, sem sutiã,


roçam em meu peito, enquanto os lábios inquietos buscam por contato,
perdendo-se em meu pescoço. Coloco-a no chão, virando-a de costas para
mim e a toco sobre o tecido fino da calça de malha. Khai deita sua cabeça,
parecendo não suportar o peso da mesma, em meu ombro. Os suspiros
deixando a garganta melodiosa, dividindo sua atenção em segurar a parede e
meu corpo, mantendo seu equilíbrio, enquanto esfregava incansavelmente sua
bunda em minha ereção.

— Não sabe o nível da minha vontade de rasgar essa maldita calça! — Urro
em seu ouvido, apertando sua nádega direita. Khai sopra um riso zombeteiro
e levanta o ombro, me olhando por cima dele.

— Se rasgar vai me dar o dobro. — Alerta e rio, buscando pela costura do


tecido.
— Sabe que isso não me soa como advertência, não é? — Mordo o lóbulo de
sua orelha, a pele arrepiando com o raspar de minha barba por fazer.
— Seu amigo está suficientemente duro, acho que já dá para medi-lo. —
Sussurra com um sorriso travesso curvando os lábios inchados. A olho por
alguns instantes, buscando qualquer sinal que mostrasse que era brincadeira
sua última afirmação, mas nada denunciava que era uma brincadeira de mau
gosto.
— Não está falando sério, está?— Questiono, levemente alterado com a
possibilidade de uma ereção insatisfeita logo pela manhã. Ela sorri e dá de
ombros, antes de afastar minhas mãos de seu corpo, passando minha camisa
ao redor de meu pescoço, puxando-me para o escritório. — Khai?
— Onde tem uma régua?— Pergunta, me soltando e se vira para a sala,
passando os olhos ao redor. Esfrego meu rosto, subindo as mãos pelos
cabelos em indignação e aponto para a mesa. Burro! Burro! Feito uma
adolescente que acabara de ganhar o aparelho telefônico de último
lançamento, Khai saltou até o outro lado da sala, parando atrás da mesa e
abriu gaveta por gaveta. Seus olhos brilharam em satisfação ao alcançar a
régua, me olhando com malícia e move o indicador em um chamado nada
inocente. Gemo em contragosto e me aproximo, me sentando nada contente
na cadeira de couro estofada. — Sem cara feia ou não vai ganhar beijinho!—
Ela ameaça, forçando o cenho a franzir e rio, achando graça.
Puxa minha cadeira e me olha por alguns segundos, antes de se curvar,
abaixando-se e segura em meus joelhos. Dividindo sua atenção entre meus
olhos e minha calça, Khai segura o elástico do meu moletom e o afasta junto
a boxer branca, segurando-me com firmeza. Passo a língua sobre o lábio
inferior, a sala aquecendo drasticamente rápido, a língua cutucando a curva
de seu sorriso safado. Debruça em meu colo e coloca a língua para fora,
lambendo-me do talo à cabeça. Travo o maxilar, acompanhando seus
movimentos precisos e muito bem feitos, hipnotizado com o dançar de sua
cabeça, enquanto me chupa magnificamente. Aperto seus cabelos e ela sorri,
me tirando da boca avermelhada, movendo a mão. Alcança a régua em cima
da mesa e a leva ao meu eixo dolorido e tenso.
— Vejamos... — Olha em meus olhos com zombaria e volta a encarar o
material em suas mãos. — Cresceu um centímetro.
— Engraçadinha. — Cuspo com sarcasmo e ela ri. Tomo a régua de sua mão,
afastando-a dali e me rebaixo ao nível precário, novamente, ao medir meu
pênis. Movo a mão em agonia com a sensação tão recente de ter seus lábios
em mim, encostando de uma vez a régua em minha pélvis. Seguro na
marcação em que ele termina e a estendo a régua, revirando os olhos ao ver
seu sorriso vitorioso.
— Hmm... vinte e um centímetros... não é tão ruim.— Ri em escárnio e
ignoro seu comentário ridículo. Suspiro frustrado e me levanto, ajeitando
minha roupa. — Onde vai?
Viro-me para ela, com meu melhor sorriso irônico e respondo sua pergunta
óbvia:
— Dar um jeito nisso aqui. — Aponto para o volume em meu moletom.
Khai arqueia a sobrancelha junto ao ombro, cruzando os braços. A perna
esquerda se move em movimentos sincronizados, demonstrando sua
impaciência, enquanto sua pose sisuda me excita. Um grunhido deixa minha
garganta, meus músculos tensos pesados e meu peito parece ser o parapeito
de um carro em meio a um acidente interminável. Eu não saberia dizer o que
sinto por ela, pois é extremamente surreal. Essa garota, minha garota, entrou
na minha vida em tão pouco tempo e parece já ter uma coleira em torno de
meu pescoço e pau. Feito um adolescente com hormônios aflorados, Khai me
fascinava e me excitava de tal forma, totalmente, curiosa. Talvez fosse uma
atração incrivelmente forte, que está me corroendo de dentro para fora, ou
seria algo a mais? De fato, eu não saberia descrever, mas é como se ela fosse
a única mulher existente no meu mundo, capaz de entrar na minha bolha e me
deixar irredutivelmente, desarmado e despreparado para suas atitudes.
Khai seria minha perdição, onde eu me salvaria, ou me acabaria. Éramos
como Romeu e Julita da era moderna com um toque de perversão, com a
diferença de que o único problema em nossa relação, era eu e meus surtos de
consciência. Recitar um poema nunca pareceu tão difícil quanto agora, mas
por ela eu escalaria as estrelas e escreveria usando minhas palavras negativas
a favor do meu sentimento indecifrável por minha garota. Mesmo que o amor
não se trate de grandes gestos. Ela merece o melhor, busca pelo melhor, e se
viu algo em mim que valha a pena, fazer por merecer sua atenção e presença
era o mínimo que eu poderia fazer.
— Você não vai dar um jeito nisso, pelo menos não sozinho. — Morde o
lábio inferior, curvando um sorriso sugestivo e se senta na mesa, pernas
cruzadas e corpo inclinado para trás, apoiando as mãos na madeira. — Essa
mesa me cheira a virgindade e eu odeio desperdiçar uma chance...
Cruzo o curto espaço entre nós, afastando suas pernas e me encaixo entre
elas, segurando em seu queixo. Os olhos castanhos me encarando com
diversão, malícia.
— Provoque o quanto quiser, porque assim que eu rasgar essa maldita calça
apertada, você não será nada mais que gemidos e orgasmos. Um após o outro.
— Prometo em um sussurro.
— Promessas existem para serem cumpridas, amor. — Morde meu lábio
inferior e me aperta sobre a calça. Envolvo seu pescoço com a mão direita,
apertando as laterais e desço minha boca a sua.
Suas pernas envolvem ao meu redor, pressionando em minha coluna,
puxando-me para mais perto e me desfaço de sua blusinha fina. Lambo sua
pele clara, abocanhando o seio e mordo seu mamilo direito, seguido do outro.
Raspo os dentes em sua pele e esfrego sua boceta por cima da calça legging.
Empurro seu corpo para que se deitasse, deslizando as mãos para a costura do
tecido agarrado a pele, úmido por sua excitação e puxo, rasgando, o puxando
de seu corpo sobre seu gemido surpreso.
Movo o polegar sobre seu clitóris enrijecido, friccionando-o e escorrego o
indicador em sua abertura, entrando e saindo. Aliso sua pele macia da cintura,
subindo para as montanhas arrepiadas e rígidas e curvo-me, chupando seu
seio direito, encarando seus olhos escuros me acompanhando com atenção,
enquanto gemia e movia os quadris contra minhas investidas. Acrescento
mais um dedo e Khai segura em meus braços, levantando a cabeça.
Deixo o seio e alcanço sua boca, mordendo os lábios inquietos, enquanto sua
mão livre puxa minha calça para baixo. Suspiro quando move a palma ao
meu redor, batendo-me de leve em sua virilha. Lambe minha boca e tiro
minha mão de sua vulva que está mais que escorregadia, esfregando-me nela.
Gemo invadindo seu corpo pequeno e quente, viciando rapidamente com o
esfregar de nossas carnes nuas, sem qualquer proteção e ela suspira,
arrastando as unhas em minhas costas, até a nuca. Começo meus movimentos
encarando seus olhos e perco-me na sensação gostosa em meu peito, saindo e
entrando em seu corpo com mais força. Sugo seu pescoço ainda marcado pela
semana passada e deixo outra marca sem dó, mordendo seu ombro.
Segura em minha mão, gemendo descontroladamente, tirando-a de seu seio e
a leva até seu pescoço. Grunho, envolvendo a pele pulsante, apertando
excitado com sua entrega. Afasto-me, deixando um tapa sobre sua boceta a
ouvindo dar um leve gritinho e me abaixo, lambendo-a. Sugo a pele inchada e
ela range os dentes, empurrando-me pelo ombro com o pé. Sento-me na
cadeira e ela se levanta, pondo-se sobre mim com uma perna de cada lado do
meu corpo. Ajeita minha ereção em sua vulva, sentando com um suspiro e
segura em meus ombros. Aperto sua cintura fina, mordendo sua bochecha,
sugando-a e agarro sua bunda, ajudando-a a subir e descer. Escorrego meu
dedo médio para o meio de suas bochechas, provocando sua pele enrugada e
ela geme mais alto, rebolando.
Sopra a respiração ofegante em meu pescoço, tremendo as pernas e molho o
dedo em sua lubrificação natural, molhando sua portinha apertada. Escorrego
o dedo delicadamente, suas unhas judiam de meus ombros e mia, quando
movo o dedo, pondo e tirando devagar. Khai grunhe gozando e contraindo a
vagina, apertando-me. Gemo em seu ouvido, encontrando com seu rosto
corado e chupo seus lábios, grunhindo enquanto gozo demoradamente.
— Gostosa. — Sussurro de olhos fechados.
— Não se atreva a dizer que somos amigos. — Ofega de olhos fechados,
prendendo meus fios de cabelos entre os dedos.
— Por que? Paguei caro para colori-la. — Gracejo e ela rola os olhos,
deixando um tapa em minha costela direita. Rio alto, deixando um beijo lento
em seus lábios.

Capítulo 13
Um mês depois...

Existe um velho ditado que diz: A pressa é a inimiga da perfeição. Mamãe


amava lhe usar, aliás. Mas se tem uma palavra que me define agora, ela é
pressa.

— Jaime, Céus, vamos nos atrasar! — Grito da sala, impaciente com sua
demora.
Nesse último mês, Jaime tem passado todos os dias em meu apartamento,
aproveitando as férias do começo de ano. Fez questão de comprar uma cama
maior, coisa que não era necessário. Era apertado para nós dois? Sim, mas
quem disse que eu queria me livrar da minha cama? Victor nos visita quando
Jaime precisa de algo, isso inclui seus serviços de babá. Zayn tem vindo uma
vez a cada quinze dias, passa três dias conosco, e Lara vem o buscar. Estava
tudo se encaminhando, sossegado.
Consegui um emprego na área de marketing de uma empresa muito
conhecida, Donatelly’s. Ao menos meus cursos online durante a faculdade
ajudaram em alguma coisa. Onde descobri que Jaime tinha contratos, ou seja,
era patrocinador. Foi surpreendente vê-lo entrando na empresa de terno e
gravata. Fantasiei por dias sendo comida em cima da minha mesa, enquanto
ele usava aquele terno escuro. Até em uma de suas visitas, entrar em minha
sala que divido com Hannah, dispensando a garota e realizando minha
fantasia sem vergonha. Céus, eu sou uma vergonha! Pervertida!
— Ele conseguiu te superar na demora para se arrumar. — Ri Jou, jogado no
sofá.
— Ficar gostoso leva tempo! — Jaime entra na sala, vestido em uma jeans
escura e camiseta social preta com as mangas dobradas próximo aos
cotovelos, nos pés um par de tênis. Sim, gostoso, mas precisava demorar?
— Podemos ir?— Resmungo, já quase desistindo de sair.
— Claro, Victor, coloque as crianças para dormir cedo, sim?— Instrui e vejo
a cara de tédio de Victor.
— De assessor de imprensa a babá, o que eu fiz para merecer isso meu Deus?
— Retruca e rio.
— Você faz o que eu precisar que faça, para isso pago seu...
— Para isso pago seu salário e blá, blá, blá. Ok, já entendemos. — Rolo os
olhos, entediada com a mesma frase de sempre.
— Ótimo. Zayn, comporte-se. — Murmura, olhando para o mini Jaime
sentado no sofá, vestido com um pijama de duas peças, abraçado ao
travesseiro.
— Está bem, papai. — Sorri pequeno e acompanho o curvar dos lábios de
Jaime em um sorriso satisfeito. A relação dos dois deu uma melhorada de
pelo menos dezoito por cento. É até bonitinho de ver o garotinho se
esforçando para chamar a atenção do pai com sua carisma e doçura.
— O mesmo Jou. — Replico antes de ser puxada para fora por Jaime,
impaciente. Agora o infeliz está impaciente?
Jaime tem se tornado meu ponto de equilíbrio, minha força. Acima de tudo,
meu namorado. Demorei horas para entender que ele realmente queria algo
sério comigo. Quer dizer, não que eu não quisesse, só que ele sendo tão... ele,
é impossível de creditar que queira compromisso comigo. Conseguem
imaginar minha surpresa o vendo se pôr de joelhos, com um Donuts em mãos
e fazendo o pedido?
Está certo que comi o Donuts que usurpava o lugar do anel meio minuto
depois, mas a intenção valeu.
— Fez o que pedi?— Pergunta, já dentro de seu carro, olhando-me de canto.
— Não, será prazeroso te ver arrancando minha calcinha com os dentes,
como no prometido. — Passo a língua nos lábios e ele grunhe, segurando em
minha coxa, próximo a virilha.
— Não me teste, Khai. Tire-a, agora. — Manda com o olhar nebuloso sobre
mim, maxilar travado. Pondero sua exigência e acabo cedendo, já que sairei
ganhando com esse jogo. Arqueio o corpo no banco do pequeno espaço do
carro esportivo, puxando as alças da calcinha vinho de renda e a tiro. Suspiro
fingindo tédio e entrego em sua mão estendida em minha direção. Guarda o
tecido no porta-luvas e volta toda sua atenção para a avenida até o
restaurante.
— Quer pedir agora?— Pergunta após o garçom se retirar, nos deixando os
cardápios.
— Sim, escolhe por mim, seu pedido sempre é melhor que o meu. —
Balbucio e ele ri, assentindo. Olho ao redor vendo o palco improvisado mais
à frente e as mesas redondas espalhadas pelo local com casais e grupos de
amigos. A decoração segue em tonalidades neutras, tudo muito bem ajeitado,
um lugar que suspeito que Jaime não entraria.
— Por que viemos a esse restaurante?— Questiono, olhando para meu
acompanhante que me olha atentamente.
— Privacidade e discrição. Este é um ótimo restaurante, aliás, há karaokê ao
vivo.
— Gosta dessas coisas?
— Gosto de assistir, é divertido ver bêbados caindo do palco. — Sopra um
riso nostálgico e sorrio, olhando tudo atentamente. Volto minha atenção para
Jaime que me estende uma taça de vinho, empurrando em minha boca com
delicadeza. Sorrio para ele e aceito, sentindo seus dedos tocando minha coxa
nua.
— Eu tenho que trabalhar amanhã. — Rio de leve e ele passa a língua no
lábio inferior, sua cadeira próxima a minha, o braço rodeando meu corpo,
posto na costa da cadeira.
— Seu chefe não se importará com atrasos. — Arrasta um sotaque italiano,
bebendo um pouco do vinho antes de colocar a taça sobre a mesa.
— Acontece, subchefe, que eu não gosto de atrasos.
— Você tem tudo para acordar cedo. Vinho, carona, sexo quente antes de
dormir para relaxar, uma cama enorme comigo de brinde e um despertador
irritante. Talvez ressaca, mas é o de menos. — Levanta a sobrancelha
esquerda.
— Promissório, senhor Hastings.
— Não imagina o quanto, amor... — Roça o nariz em minha bochecha e beija
sutilmente meu pescoço. — Estive a semana toda aguardando por esse jantar,
sabe porquê, Khai?
— Não. — Sussurro, sentindo a ponta dos seus dedos delicadamente indo em
direção ao meu centro.
— Porque eu imaginava você gemendo agarrada a essa toalha de mesa,
enquanto eu te fodia com meus dedos. Disfarçadamente, sem atrair a atenção
alheia. — Sussurra em meu ouvido, fazendo-me latejar e desejar um toque
mais ousado que a simples carícia em minha virilha. — Entretanto, minha
imaginação não era suficientemente boa para a ocasião. Então me diga, amor.
Você vai gemer e expor nossa aventura, ou vai ficar quieta, entalada com a
vontade de gemer?
— Gemer... — Respondo em um suspiro, segurando em seu antebraço.
— Então, Khai, como não quero ser atrapalhado, vou mandar que coloque
sua mão esquerda sobre a mesa e que fique quieta. Se quiser gemer desconte
sua frustração por não poder, apertando a longa toalha de mesa. Entendeu?—
Balanço a cabeça em compreensão e o sinto invadir a saia de meu vestido, me
tocando com sutileza. — Molhada, como imaginei que estaria.
— Cala a boca e me fode. — Grunho, odiando sua fala depravada em
público. Sopra um riso e morde minha bochecha, puxando minha perna
direita para cima da sua, escancarando-me e arrasta sua mão de volta para
meu sexo, desejoso. Mordo os lábios, reprimindo-os ao ter seu dedo
indicador em minha entrada, puxando e empurrando, juntando-se ao médio
para meu eterno delírio. Segurando em seu antebraço e na toalha da mesa,
fechei os olhos na mínima iluminação do restaurante, seus lábios e barba
provocando meu pescoço. O gemido escapa-me em um suspiro, Jaime grunhe
e morde meus lábios antes de me beijar. — Controle-se, amor. Não queremos
ser expulsos, não é?— Suga meu lábio inferior e meneio negativamente a
cabeça. — Abra mais as pernas para mim.
Afasto a perna feito uma desesperada, que não notei ter a juntado, os dedos
trabalhando em sincronia com tanta maestria que me deixava curiosa com
tamanha habilidade, a boca gulosa ora mordendo, beijando, chupando minha
pele, ora sussurrando amenidades em meu ouvido. Busco por sua boca e a
beijo, gemendo baixinho com a sensação do orgasmo se formando em meu
ventre.
— As estrelas perdem para a imensidão brilhante em seus olhos quando goza.
— Sussurra contra meu rosto, se afastando em seguida. Tira os dedos de
mim, levando-os até a boca e os chupa, fechando os olhos em apreciação. —
Não vejo a hora de te ter em nossa cama, nua, gemendo e pedindo por mais e
mais.
Engulo em seco o vendo puxar uma flanelinha do bolso de seu jeans,
trazendo-o ao meu centro e me limpa com cuidado, mascarado toda sua
agressividade no olhar com ternura. Sem sombras de dúvidas eu estava
completamente apaixonada por ele. Irreversivelmente à fura roupa, prestes a
atravessar fronteiras por ele e o mistério em seus olhos doloridos e intensos.
Jaime Edward Hastings me tinha na palma da mão, e o odiava em sincronia
em que o amava por isso. Homens e seu charme eram uma perdição, que nem
notavam o quão dono de suas mulheres eram. Ou notavam e nos faziam de
bobas?
Submissa a ele, odiando o fato, mas ainda sim, submissa de Jaime. Uma
submissa diferenciada, porém.
— Preciso que faça uma coisa para mim.— Sussurra, acarinhando meu rosto.
Olho em seus olhos atenta na espera de que pedisse o que queria. — Tem
algo incomodando meu pau duro. Seria deselegante da minha parte abrir a
calça agora para procurar o que é.— Sopro um riso nasalado descendo os
olhos discretamente para o volume empurrando sua calça.
— Se quisesse um boquete era só ter dito, não precisa inventar que tem algo
te incomodando. — Arqueio as sobrancelhas, movendo lentamente a cabeça
de um lado para o outro. Jaime morde um sorriso, escorregando o polegar até
meus lábios, roçando-o ali.
— Como seu namorado digo que seria espetacular você me chupando
debaixo da mesa, aqui, agora. Mas como um cliente reservado do restaurante
cheio, digo que você está muito atirada, senhorita Marin.— Torce os lábios
em reprovação e sorrio.— Vai ou não me ajudar?
Pondero seu questionamento, apontando quais eram as chances de ter algo
dentro de sua calça e quais eram as chances de ser apenas um método de me
fazer agradá-lo de alguma forma em meio ao restaurante.
Vencida pelo seu argumento, seguro em sua coxa, ajeitando-me na cadeira e
solto o botão, descendo o zíper em seguida de sua calça jeans e afasto os
panos, procurando pelo que o incomodava.
— Mais para a direita. — Instrui e rio baixinho, passando a mão sem dó em
sua ereção. Ele geme, acariciando minha nuca por trás dos cabelos, como se
aprovasse meu descaramento e mordo o lábio inferior, apertando-o
inspirando com força quando seus dedos enroscaram em meus cabelos, os
puxando para trás. Encosta a boca em minha bochecha, respirando
aceleradamente e nega com a cabeça. — Tsc, tsc, amor. Não vai querer
terminar a noite na cadeia, não é? Então sugiro que não me provoque. —
Rosna com a boca colada em meu rosto.
Penso em não o dar ouvidos, mas sinto algo realmente incômodo dentro de
sua cueca. Alcanço a espessura fria e a puxo de lá, arregalando os olhos ao
conferir do que se tratava. Engulo em seco, piscando algumas vezes voltando
a olhá-lo que força confusão.
— Como isso veio parar aqui?— Pergunta, tomando o pequeno anel com
uma pedra em diamante da minha mão. Ainda aturdida, o vejo segurar minha
mão direita, empurrando o círculo em ouro branco em meu dedo anelar.
— Jaime...
— Estava te devendo algo por ter te dado algo comestível em vez desse
círculo. — Murmura, entrelaçando seus dedos aos meus. Enrugo a testa,
ainda muito atordoada, pega de surpresa.— Eu vou tentar por você. —
Sussurra.

— Senhor Hastings, uma palavrinha para a imprensa, por favor. — Pede uma
mulher em meio ao aglomerado de jornalista que nos abordaram na saída do
restaurante. Sinto o aperto em minha mão se tornar mais forte que o
necessário, a sua estava suada e tremendo levemente, enquanto ele mantinha
o maxilar travado, passando pela imprensa, puxando-me para o acompanhar
sem qualquer segurança para nos ajudar.

— Senhorita Marin, é verdade que está grávida de Jaime? — Pergunta um


homem e levanto meu rosto para ele, com a maior expressão de interrogação
em meu rosto.

— O quê? Nã...
— Continue andando e não responda as perguntas. — Jaime range os dentes
e abre a porta do carro para mim. Já dentro do carro, acompanho com o olhar
Jaime contornando o carro com a imprensa em sua cola, até ficarem do lado
de fora, batendo no vidro desesperadamente por uma entrevista.
— De onde eles tiraram que estou grávida? — Inquiro com um pequeno
sorriso, tentando amenizar seu claro desconforto com a situação.
— Talvez de Nárnia. — Zomba, ainda sério e rio, o vendo buzinar pedindo
por passagem.
O trajeto até meu prédio é feito em silêncio, sendo brevemente preenchido
por alguns suspiros pesados dele, que parecia buscar por controle dos
próprios pensamentos. Uma noite que começou magnífica com grandes
significados e intensidade, terminando de forma tensa e incômoda. Tinha
tudo para ser uma sexta-feira perfeita, sendo estragada pela imprensa
surgindo do nada em um restaurante discreto, e o incômodo, a aversão que
ainda não consegui compreender a origem que Jaime tinha pela mídia.
Ainda iria descobrir o que o incomodava ao ser convidado a gravar uma
entrevista, ou não me chamava Khaillane.
— O que esses desgraçados fazem aqui também?— Grunhe ao parar o carro
inclinado para entrar na garagem do prédio. Vejo alguns jornalistas parados
na calçada a frente e todos esperam pela nossa chegada. Estranhando a
movimentação da imprensa, tomo a decisão de descer do carro para falar com
alguém para saber do que se trata tamanha euforia, já que nunca presenciei
tanta persistência, nem mesmo após o jogo e a quebra do recorde.
— Eu vou falar com eles para saber o que está acontecendo e para saírem da
frente. — Aviso e Jaime não se opõem, ficando em silêncio apertando o
volante. Desço do carro sendo bombardeada de perguntas e flashes das
câmeras fotográficas.
— Senhorita Marin, nesta última semana recebemos notícias de que poderia
haver um herdeiro de Jaime a caminho, o que tem a dizer a respeito?—
Questiona uma garota quase enfiando o gravador de voz em minha boca.
— Não estamos grávidos, é tudo o que tenho a dizer. Agora, por favor,
deixem-nos passar. — Peço, alcançando o portão e aceno para o porteiro.
— Khai! — Exaspera uma voz masculina e olho para trás, vendo um sorriso
conhecido entre os curiosos da imprensa.
— Oi! — Cumprimento com um aceno, dando passos para trás, deixando que
Jaime entrasse com o carro na garagem.
— Quanto tempo, tem o quê... dois anos?— Pergunta vindo até mim,
enquanto a imprensa parece urubu em cima da carniça.
— Acho que não chega a tanto, mas sim, faz um tempo. Jornalista?
— Locutor. — Levanta o bloco de notas e o gravador e assinto. — Lembro
que queria entrar para Styles’s, conseguiu?
— De certa forma sim, mas não estou mais lá. — Ergo o ombro direito e ele
assente, reprimindo os lábios.
— Estou sabendo... Donatelly's parece ser um ótimo emprego. — Comenta e
assinto.
— Khai. — Jaime chama por mim, encostado no carro de braços cruzados.
Acho que tive um curto espasmo vendo-o sério contra a porta do carro já
fechada.
— Preciso ir.
— Ah claro, me procure para relembrarmos os tempos da universidade. Um
café, talvez. — Sugere, levantando um cartão vermelho com números em
relevo.
— Ligarei sim. — Garanto e me despeço.
— Quem era ele? — Inquere de cara feia, parecendo mais irritado que antes.
— Christian, um colega de universidade. — Respondo e toco em seu
antebraço, acariciando-o. — Vamos subir.
Sem dizer qualquer palavra, Jaime me acompanha pelas escadas até nosso
andar e entramos no apartamento silencioso, vendo Victor dormindo no sofá
junto aos meninos, encolhidos debaixo do cobertor. Sorrio pequeno ao ver a
cena e faço sinal de silêncio para Jaime, que assente e vai em direção ao
quarto. Suspiro longamente e tranco a porta antes de ir atrás do senhor mau-
humor. Tiro o par de saltos que incomodam meus pés, subindo na cama e
parando ajoelhada atrás de Jaime, massageando suas costas, ombros e nuca.
— Quer me contar o que houve entre você e a imprensa? — Sussurro
próximo ao seu ouvido, o ouvindo suspirar, relaxando os músculos.
— Não. — Diz firmemente e segura minha mão direita, puxando-me por
cima do ombro, me trazendo para seu colo.
— Por que?
— Porque não quero que julgue meus atos como eles fizeram.— Murmura.
Abraço seu corpo, afundando o rosto em seu peito.
— Não cabe a mim julgar os atos das pessoas, já deveria estar mais que claro
minhas opiniões diante de situações como essa. — Resmungo, desgostosa.
— Eu sei o que você pensa e os valores que você defende, mas também sei o
tamanho do meu envolvimento e do cargo que carrego desde meu feito. Você
não compreenderia a minha atitude e muito menos o que me levou àquilo. —
Afasto o rosto do seu peito, encarando seus olhos azuis com expressões
ilegíveis, incapazes de serem lidas.
— Jaime, eu li coisas terríveis sobre você e a época na qual não conversamos,
sei o posicionamento sobre o ocorrido da imprensa, mas nada seu. Nenhuma
palavra descrevendo como você se sente, como você se sentiu, como chegou
ao ponto...
— Como cheguei ao ponto de quê, Khai?— Levanta a sobrancelha esquerda,
afrouxando o aperto ao meu corpo.
— De se envolver nessa bagunça toda. — Completo e Jaime sopra um riso
debochado, desviando seu olhar do meu.
— Ser pintado como assassino já não bastava, agora a única pessoa que tenho
duvida da minha palavra. — Seu tom é repleto de sarcasmo e ironia, me
fazendo levantar de seu colo.
— Jamais duvidei da sua palavra e não acredito que você tenha matado a mãe
do seu filho. — Aponto, perdendo a dádiva tão apreciada pela humanidade,
paciência. — Talvez as coisas seriam mais fáceis se você se abrisse comigo e
me contasse o que te fez assim, o que te tornou esse... — Respiro fundo
controlando minha boca. Não era um bom momento. Na verdade, nuca seria
se ele não superasse o que o oprime.
— Pode dizer, vá em frente. — Incentiva, sorrindo com ironia.
— Imbecil. Esse imbecil, idiota e completamente obcecado pela privacidade,
que priva todos ao seu redor que querem seu bem, de estar com você.
— Eu me tornei esse idiota obcecado para proteger quem eu amo. — Cerra os
olhos, levantando da cama.
— Agora proteção tem um novo significado?
— Eu sou a porra de um fodido, Khai. Tanto psicologicamente, quanto
descrito pelas pessoas. — Geme, parecendo sentir dor, mas não ameniza o
tom. — As pessoas julgam umas às outras, apontam o dedo, falam mal pelas
costas. Mas no fundo, são todos uns covardes que não sabem dar-lhes o
devido valor para o que, de fato, merece atenção. Perdem tempo cuidando da
vida alheia ao invés de buscarem progredir como pessoa e profissionalmente.
A sociedade caga para você e seus prêmios conquistados ao decorrer da vida,
fingem se importar, pois o que elas mais esperam, é uma oportunidade para te
humilhar, rir e julgar.
— Jaime...
— Não. Você estava há pouco reclamando de falta de comunicação, então
vamos nos comunicar. Não queria ouvir como eu me sinto? Eu me sinto a
porra de um fodido, quebrado, fracassado e completamente obcecado pela
privacidade. Obcecado por meus segredos sujos do passado. Preso em uma
infinita roda gigante, onde meus defeitos e atos me assombram a cada toque
ao chão. Eu errei e sei assumir isso, mas já não tenho mais forças para
suportar tudo isso. — Cospe as palavras, rosto corado, olhos afiados e tom
coberto de dor. — E me sinto fraco, fraco por ter medo. Meus ombros pesam
a cada pergunta deferida pela imprensa sobre Glenda, sua morte, meu
envolvimento no assassinato, como se tivesse um papagaio repetindo notas
infernais, sem fim. Dia após dia.
Puxo o ar com força pelo nariz, sentindo-o escorrer pelo choro silencioso que
me tomou de repente, sentindo parte de sua dor transmitida nas palavras
afiadas e extremamente encharcadas de remorso e temor.
— Eu sou um imã para problemas e polêmicas, então escolha se vai continuar
ao meu lado, suportando todo esse cargo que trago para um relacionamento,
ou me mande embora agora. Eu não desejo o que sinto para ninguém, Khai. É
a pior coisa que poderia sentir. É como se todos estivessem contra mim. Se
quiser que eu vá, vou compreender e te deixar em paz. Mas faça isso antes de
se envolver emocionalmente. — Conclui, afastando as grossas lágrimas que
escorrem por suas faces.
— Acontece, Jaime...— Começo criando coragem para falar e tentando, de
alguma forma, controlar meu choro incessante —, que estou completamente
apaixonada por você.
O sopro do meu sussurro pareceu ter algum efeito sobre ele, fazendo a
confusão tomar seus olhos, cenho franzido. Jaime respirava de forma
desregulada, o peito subindo e descendo desenfreadamente, finas lágrimas
surgem em suas faces, escorrendo por sua estrutura dolorida, perdendo-se nas
pelugens escuras de sua barba por fazer. Os lábios trêmulos se abrem
algumas vezes, mas nada é dito, deixando apenas o silêncio e o som de sua
respiração barulhenta.
— Não sei quando aconteceu, mas me dei conta de que você é quem eu quero
que esteja comigo. E até onde sei, o amor é capaz de superar coisas, capaz de
unir forças e dar incentivo para quem pensa em desistir. Não seria amor,
paixão, da minha parte se eu te mandasse embora agora por medo de me
envolver com seus problemas. Eu te amo, Jaime, e estou pronta para o que for
para poder continuar ao seu lado. — Termino, deixando os ombros caírem,
completamente desarmada e à mercê da sua decisão.

Capítulo 14
Em silêncio, Jaime cruzou o espaço entre nós e me beijou com sutileza,
acariciando meu rosto. Não saberia descrever o que aquele beijo significou,
mas ao mesmo tempo em que ele era dócil, era intenso. Lento. Se desfez do
meu vestido devagar, acariciando a pele exposta, me deitando na cama,
enquanto vinha por cima. Beijos eram deferidos por meu corpo, assim como
carícias, enquanto me preparava com cuidado para o receber. Dócil,
cuidadoso e carinhoso foi como ele me tomou, sem pressa e euforia. Sem
toda aquela volúpia, fogo e baixarias. Jaime era a personificação de amante
quente e namorado amoroso, mesmo sem estar amando; fato que me
assombrava. Ele não costumava falar de sentimentos, então eu estava sendo
idiota ao me jogar de cabeça em um relacionamento com alguém que
demonstrava, mas parecia não sentir?

Era um risco que eu corria ao me declarar, me agonizava o simples fato de


imaginar vê-lo indo embora após terminarmos o que estávamos fazendo.
Massacrava meu peito a ideia de afastá-lo ao assumir em voz alta o que eu
tinha a dizer. Ser dependente de uma pessoa, ou algo material nunca foi uma
escolha sabia do ser humano. Coisas somem, pessoas se vão. Somos
sozinhos, lutando contra o mundo.

— Eu te amo. — Sussurro quando alcançamos o ápice juntos, em plena


sincronia. Jaime sorri pequeno e deixa um beijo em minha testa, rolando para
meu lado na cama. Movome devagar em alerta, deitando com medo de sua
recusa em seu peito. Passa o braço ao meu redor, aconchegando-me mais e
beija minha cabeça, alcançando meus cabelos em uma carícia relaxante. Sinto
as lágrimas escorrendo em meu rosto, perdendo-se em seu peito e me
amaldiçoo por ser tão idiota por chorar, não conseguindo conter a confusão
em meus pensamentos.

A dúvida me matava, era como um pressentimento de que algo aconteceria,


mas a calmaria e o carinho, de alguma forma, me acalmavam. Não ao ponto
de tirar toda angústia do meu peito, entretanto, ainda sim acalmavam. Seu
silêncio me deixava decepcionada, porque, eu esperava uma resposta, ou
qualquer coisa que pudesse dizer para usurpar o lugar de um “eu também te
amo”. No entanto, recebi apenas um cafuné até dormir, com sua tentativa de
fugir do assunto sem me magoar. Mas, eu estava magoada. Mais se tivesse
ouvido algo que comprovasse que ele não sentia o mesmo por mim.

Abro os olhos devagar, sentindo dor de cabeça, fazendome lembrar do choro


incessante na madrugada e olho para o relógio da cabeceira, vendo que já se
passa das dez da manhã. Resmungo descontente por ter perdido a hora e me
viro devagar, encontrando a cama vazia. Sento, segurando o lençol contra o
peito e olho ao redor, vendo que nossas roupas já não estão mais no chão
como antes. Meu vestido está posto contra a costa da poltrona no canto do
quarto e nada de suas roupas.

Franzo o cenho ao encontrar com o olhar uma folha dobrada sobre a mesa de
cabeceira. Engulo em seco, a vontade de chorar com a possibilidade que
ronda minha mente voltando, meu peito se apertando conforme me curvava
para alcançar o papel. Criando coragem, desdobrei a folha e encontrei um
pequeno texto, escrito à mão em caneta preta.

Para minha Khai,

Oi, Khai. Como você está? Espero que esteja bem. Quero que saiba que
relutei e repensei muito antes de escrever e deixar essa carta. Estava e ainda
estou apreensivo, remoendo a decisão que acabei de tomar, às quatro da
manhã. Nesse momento, você está linda, dormindo, os cabelos espalhados no
travesseiro, corpo coberto com o lençol. Uma perfeita obra de arte. A
imagem mais linda que tive em toda minha vida e que me confortava em
todas as madrugadas em claro com minha insônia. Desculpe-me por ser esse
covarde que precisa se despedir com uma carta. Mas não encontrei outra
forma, não queria ir sem ao menos me despedir e dizer o motivo da minha
partida. Você merece uma explicação.

Paro de ler, as lágrimas embaçando minha vista, os soluços ameaçando


saírem livremente.

Há pouco mais de seis anos, jurei que não me envolveria emocionalmente


com outro alguém. Amor tem como significado muitas coisas e atitudes, abrir
mão é uma delas. Eu respeito a mulher que você é, seus valores, suas dádivas
e tudo o que se trata de você. Respeito ao ponto de abrir mão de estar com
você para evitar que sofra com tudo o que eu carrego nas costas. São coisas
terríveis, escuras, incertas, e você não merece, não precisa conviver com
isso.

Por isso, eu estou indo. Sei que se dependesse de uma resposta sua, estaria
sempre ao meu lado, insistindo em algo que eu não posso te oferecer. Siga
em frente, você é linda e tem uma vida e carreira brilhante pela frente. Se é
para ser sincero, ao menos na minha partida, eu quero, preciso, falar o que
venho retraindo todos esses dias intermitentes. Eu amo você, Khai. Amo
muito.

Pauso a leitura novamente, soluçando, os olhos transbordando as grossas


lágrimas. A dor de ter sua despedida e declaração nas palmas das mãos.
Deus, como ele pode amar e me machucar tanto assim?

Passei seis malditos anos esperando por redenção, por uma memória que
tiraria o peso das minhas costas, que me provaria não ser um monstro.
Submerso no meu passado confuso, tenso e amaldiçoado. Desacreditado do
amor e de relacionamentos com um futuro sem desconfianças e traições. Até
você entrar na minha vida. Me mostrando o que era amar e poder confiar
nas pessoas, mostrando que era possível compartilhar problemas, dores,
remorsos e todo o resto.

Talvez te propor uma amizade tenha sido o início que me levou a errar com
você. Sei que estou errando nesse exato momento, mas eu preciso ir. Estava
certo quando pensei que você seria minha salvação ou ruína. E bem... Eu
estou em ruína, porque eu é quem estou indo. Te deixando.

Inspiro com força tentando controlar e choro barulhento, dolorido. Sufocando


com a dor tão intensa no peito.

Espero te encontrar em algum momento depois que eu encontrar meu


caminho. Saciar minhas dúvidas, e ser merecedor de alguém tão perfeita
quanto você. Estou pegando minhas coisas, deixando apenas algo explicando
minha partida. Olhando você por uma última vez, meu peito está minúsculo,
murcho, a dor está me matando em abrir mão de estar com você. Mas é o
melhor a se fazer. Melhor para você. Por favor, eu te clamo. Não me
procure, eu preciso me afastar. Siga em frente, eu estarei esperando por
você. Nem que se passe dez meses, um ano, trinta anos. Sempre, minha
esperança.

Com amor, Jaime.

Viro a folha, buscando por mais alguma coisa que possa estar escrito, perdida
em lágrimas e soluços. Indignada com sua atitude egoísta. Bato contra o
colchão e amasso a carta, atirando-a para qualquer canto do quarto. Deito
chorando com os longos soluços preenchendo o cômodo, puxando um
travesseiro para abraçar. Tentando estancar o buraco deixado em meu peito.
As sensações ainda tão nítidas em minha pele de seus carinhos me sufocando,
as palavras na carta ecoando em minha mente.

— Khai?— Ouço por Jhonnie e puxo o lençol, cobrindome a tempo antes que
ele entrasse. — Não chora, por favor. Eu não gosto de te ver assim e saber
que não posso fazer nada para ajudar. — Pede com os olhos marejados da
porta. Reprimo os lábios tentando controlar meu choro e assinto para ele.

— Só preciso de alguns minutos. — Murmuro com a voz embargada e ele


meneia a cabeça antes de sair do quarto, fechando a porta.

Cubro a boca, abafando os soluços, chorando em silêncio feito uma idiota


com o coração partido. Como ele pôde ser tão... egoísta?

Burra! Mil vezes burra!


Lembro-me do anel, encarando a pequena pedra de diamante em meu dedo
anelar e tiro, vazia. Aperto os olhos e atiro o que me deu na noite passada
contra a parede do outro lado do quarto.

Alguns dias depois...


Sento exausta na cadeira, encarando o notebook aberto em cima da mesa e
suspiro vendo o slogan da campanha.

— Você está horrível. — Observa Hannah com um sorriso zombeteiro nos


lábios, me olhando de sua mesa, em minha diagonal.

— Não tenho dormido muito esses últimos dias.— Levo o copo de café a
boca.
— Já disse para parar de chorar por macho, não vale a pena. — Abana as
mãos, fazendo uma careta enojada. Deixo o copo em cima da mesa e apoio os
cotovelos na mesma. Balanço a cabeça de um lado para o outro, descartando
o assunto e solto um longo suspiro.
Passaram-se longos dias, longas semanas desde a partida de Jaime. Desde
então, não tive mais notícias dele, muito menos de Victor, ou Zayn. É como
se nada tivesse acontecido, que nosso pequeno envolvimento não tivesse
importância. Deveria ter imaginado que ele queria apenas sexo, nenhum
envolvimento sentimental. Ele poderia ter ao menos o bom senso e ter me
avisado. Bufo entediada com meus próprios pensamentos e descarto a
melancolia. Patética. Homens são decepcionantes, não sei como ainda me
surpreendo. Sim, eu não acredito na declaração que fez na carta deixada para
trás. Porque, quem ama não abandona.
Neste tempo em que estou trabalhando na Donatelly’s conheci Hannah, que
vem se tornado uma boa amiga e ouvinte. Quer dizer, eu precisava de uma
pessoa para conversar coisas que não dá para compartilhar com uma criança
de nove anos. A garota desengonçada, e louca, tinha minha confiança.
Engraçado. Em pouco tempo, entrego minha confiança para tantas pessoas,
que chega a ser cômico o modo como nos decepcionam. Entretanto, eu não
achava que a morena iria me desapontar, algo nela me deixava confortável.
Me fazia confiar.
— Se lembra do convite que seu amigo locutor nos fez outro dia?—
Pergunta, digitando algo em seu notebook.
Outro dia, Christian esbarrou em nós na saída do prédio e nos convidou para
a inauguração da boate de seu irmão. Era um convite repleto de segundas
intenções, já que a primeira coisa a fazer ao nos convidar, foi relembrar
minha época de caloura, viciada em sexo e festas. Relembrando a época em
que eu fui sua cachorrinha, que o seguia de cima a baixo, nos divertindo no
fim da noite, como dois adolescentes sem responsabilidades. Sim, eu era esse
tipo de garota. Tenho vergonha do meu passado, mas é algo que ficou para
trás. Algo que não quero mais para mim.
Ceder ao convite seria um caminho sem volta, então, eu descartei de
primeira, deixando Hannah nem um pouco satisfeita. Christian, no entanto,
deixou o convite em aberto, deixando seu telefone com Hannah, que só
faltava tirar as roupas para se jogar em cima dele. Não a julgo, Chris era
lindo, com seus cabelos castanhos claros, beirando o louro escuro em um
corte moderno, o rosto com um formato quadrado, marcado no queixo. Os
olhos verdes eram vividos e completamente maliciosos, exibindo a luxúria e
a avareza. Tinham um brilho misterioso e malvado, talvez tenha sido isso que
vi nele naquela época em que me prendi, de certa forma, nele. Por fim, os
lábios, eram médios, o inferior maior, porém. Seu porte físico não era atleta,
mas tinha um belo corpo, alto.
— Me lembro.
— O que acha? Faltam apenas dois dias e eu queria muito irrr... — Arrasta a
última parte, desviando seu olhar do trabalho, para mim.
— Vá, eu não quero e nem posso ir.
— Por que? Não faria sentido eu ir sendo que a convidada foi você! Qual é
Khai, Jaime não vai voltar e você sabe disso. — Argumenta.
— Não estou preocupada com isso, Hannah. — Suspiro, cruzando os braços.
— Eu tenho Jhonnie e muito trabalho acumulado.
— Sabe que eu posso resolver os dois problemas, não é? — Arqueia a
sobrancelha direita.
— Jhonnie não é um problema.
— Céus, Khai, eu não disse que era um problema, apenas disse que consigo
uma solução para as desculpas que você está dando para adiar uma diversão,
quando nós duas sabemos que seu único receio é se deixar levar pela diversão
e se arrepender se ele voltar de uma hora para outra. Cresce, Khaillane. Ele
não vai voltar, e mesmo que voltasse, você não poderia perdoá-lo por ter ido.
— Exaspera, gesticulando para frisar seu ponto. Por um lado, ela tinha razão,
mas eu não podia confessar isso, nem mesmo para mim. Seria fazer papel de
trouxa duas vezes, seria levar ao pé da letra ser submissa a ele. Estaria sendo
dependente de homem e não é o que eu quero para mim. O mundo gira, a
vida continua e os homens que vão a merda. — Onde Jou ficaria?— Cedi,
reprimindo toda minha hesitação.
— Na casa da minha irmã, ela adora crianças e trabalhou como babá por dois
anos. — Diz com empolgação. Assinto e descarto o assunto, por hora,
voltando minha atenção para o trabalho.

Alguns dias depois...

— Busco você pela manhã, ok? — Murmuro, abraçada a

Jhonnie.
— Não se preocupe, só vá se divertir. — Se afasta e Cyn
tia sorri para nós.
— Gosta de filmes, Jhonnie? — Pergunta para o garotinho, que vai até ela,
entrando em uma conversa sobre filmes
da Marvel e da DC.
— Ele vai ficar bem! — Garante Hannah. Assinto e sigo
a garota de longos cabelos pretos, vestida em um pequeno vestido amarelo,
para fora. — O que você tinha com Chris... — Não temos nada e não
significou coisa boa na minha
vida, não recomendo, mas se quiser está avisada. — Respondo
antes que ela faça a pergunta.
Fomos até a boate no endereço passado por SMS em seu
carro conversível, onde encontramos com Christian na frente,
ao lado de um homem de porte atlético, com as mesmas características
físicas, com a diferença que continha barba, ralinha
e corpo atlético. Ian.
— Uau, estão lindas. — Elogia Chris, dividindo sua atenção entre mim e
Hannah. Sorrio pequeno e olho para seu irmão
mais velho, tendo sua atenção toda em mim.
— Khai.
— Oi. — Reprimo os lábios, desconcertada com o clima
estranho. Como reagir normalmente diante de uma situação
constrangedora, Google pesquisar.
— Aparentemente velhos hábitos não morrem. — Sorri,
sugestivo.
— Está enganado, Ian. A mudança é constante, basta
você querer. — Sopro com sarcasmo, cruzando os braços. — Se mudou
tanto, o que faz aqui?— Estala a língua e
reviro os olhos, não cedendo a discussão prestes a começar.
Como nos velhos tempos. — Divirtam-se, garotas. — Seu sorriso debochado
me enjoa, mas passo por ele, indo junto a Chris
e Hannah para dentro da boate, que transbordava pessoas bem
vestidas dançando e bebendo.

Capítulo 15
Bebo o segundo, ou será sexto, shot de tequila? Rindo de tudo, enquanto tudo
rodava ao meu redor. Meu discurso de responsabilidade sendo jogado ao
vento, entregue para um passado não muito distante, apenas buscando atracar
a dor no meu peito. Levemente alterada. Bem, não era o melhor caminho, e
sim, o mais prático. Abraçar seu passado vergonhoso era estar, de fato, no
fundo do poço. Odiando a mim mesma por estar nesse caminho por causa de
homem. Ou eu queria estar ali e estava usando aquilo como desculpa? Não
saberia responder qualquer pergunta a respeito, muito menos, gostaria de
descobrir a resposta. Ambas as duas me desagradavam.
— Pensei que precisaria te pedir para se soltar. — Chris sussurrou em meu
ouvido, as mãos agarradas em minha cintura. Sorrio para ele por cima do
ombro, movendo-me no ritmo da música.
— Você é chato!— Resmungo e encosto meu corpo no seu.
— Vai com calma, Khai. Ainda está cedo. — Ri. Me segurou com mais
firmeza, impedindo que eu me esfregasse nele. — Daqui a pouco, lá em cima.
Eu, você, Hannah e Ian. Topa?
Viro-me para ele, passando os braços por seus ombros, a sugestão baixa e
completamente insana rodando em minha mente. Realmente, velhos hábitos
não morrem. Lá estava o antigo Christian. Um vagabundo, sem vergonha,
mulherengo e insano. Amante da noite e de sexo fácil com quem quer que
fosse topasse. Tenho vergonha de assumir que já fui sua seguidora nessa
vida. Usando pessoas bem-intencionadas, que tinha desejo, sentimentos e
fariam de tudo por mim, para sair do tédio. Transando feito uma vadia,
usando de seus sentimentos e carência, para saciar um desejo extremamente
idiota de incapacidade e excluída das reuniões entre amigos e familiares por
minhas atitudes infantis. Os jogando de lado, descartando após me saciar da
atenção e entediar com os caras. Meu sorriso se abre, descaradamente,
debochando de sua forma de vida, que um dia já foi a minha.
— Hannah aceitou isso?— Ele ri, os olhos cerrando com o abrir de seu
sorriso. Os olhos esverdeados têm uma sombra me olhando com diversão,
estreitando o brilho sombrio em minha direção.
— Mais que aceitou... — Meneia a cabeça para a direita. Sigo com o olhar,
vendo Hannah atracada na boca de Ian. Rio voltando a olhar para Christian.
— Chrisss... — Arrasto seu apelido curto e rio mais ainda, batendo em seu
rosto de leve algumas vezes. — Você é um vagabundo. Não presta.
— Eu sei disso.
— Sem vergonha. Todos os homens são iguais mesmo! — Gargalho
encostando no balcão, me afastando de seu toque.
— Qual é, Khai. Ao menos eu estou deixando claro que é apenas sexo. —
Aponta.
— Isso! Sexo. Só isso. Eu daria sempre para ele só para continuar estando ao
seu lado. — Rio, as lágrimas se formando em minhas orbes, sentindo uma
leve tontura.
— Mas ele não te quis. Eu quero.
— Cala a boca, Christian. Você não sabe da minha relação com Jaime! —
Aponto o dedo em sua cara. O álcool me deixando bêbada, mas ainda
continuando dona das minhas decisões e atitudes, consciente. Algo útil que o
imbecil a minha frente me ensinou. Eu beberia, mas não cairia e não passaria
vergonha. Me deixando forte para a bebida. Sem recuar, encaro seus olhos
ferozes, de uma forma, que nunca vi antes. Mas não recuo.
— Então fala. O que o fazia diferente ao ponto de defende-lo depois que ele
te deixou?— Questiona, cruzando o espaço que nos separava, me encarando
com raiva.
— Ele fazia com que eu me sentisse bem. Viva. Amada. Desejada. — Choro
sem controlar, ou querer controlar. Queixo levantado, sem ceder.
Enfrentando-o na troca de olhares. — Ele me deixou, porque fui idiota e me
declarei.
Sento na banqueta, apoiada no balcão para não cair, enquanto tudo rodava ao
meu redor. Confusa com a vertigem que me pegou de assalto.
— Perdeu o jeito para beber, querida?— Zomba.
— Não vou transar com vocês, procurem outra pessoa e me deixe em paz. —
Grunho, mantendo-me firme. Viro-me para o bar, não ouço mais sua voz por
cima da música, mas vejo por relance, ele saindo de perto. Afasto as grossas
lágrimas do meu rosto, encarando o copo de tequila vazio. A música alta
gritando ao meu redor, mal podendo ouvir meus próprios pensamentos. Peço
outro shot de tequila e levanto o pacato copo no ar, oferecendo um brinde ao
universo. À o amor e suas dores. Rio com esse pensamento, não encontrando
a graça.
Bebo de uma vez, não passando de refresco na garganta.
— Vamos, vou te levar para casa. — Um toque em meu ombro chama minha
atenção. Olho para trás, vendo Victor com um olhar de pena para mim.
— Victor! — Exaspero alto demais.
— Vamos, Khai.— Pede e me levanto, deixando o copo sobre o balcão.
— Jaime está com você?— Pergunto olhando ao redor, buscando pelos olhos
azuis em meio à multidão. A faísca de esperança se ascendendo e meu
coração erra uma batida.
— Não. Ele não está aqui. — Suspira me puxando para fora. Abro a boca,
mas não digo nada. A decepção corroendo meu peito com o balde d’água fria
sendo jogado em cima de mim. Gargalho alto e Victor me olha com
curiosidade.
— Ele meteu o pé e mandou o cachorrinho para tomar conta de mim?—
Zombo, rindo.
— Não.
— Não? Olhe bem, Victor. Para isso pago seu salário.— Engrosso a voz
imitando, ou tentando, a voz de Jaime. — Não encosta em mim! — Bato em
seu peito, o empurrando e abraço meu próprio corpo. — Eu não quero nada
vindo dele, inclusive carona depois de um porre. — Aviso entre os dentes. —
Eu me viro. Sempre foi assim, eu por mim mesma. E sempre vai ser.
Dou as costas para ele, tirando meu salto e caminho pela calçada.
Péssima ideia ter saído essa noite. Bem dizia mamãe: nada mais te acolhe tão
bem quanto a própria casa. Estava certa, como sempre. Mulheres inteligentes
deveriam ser imperatrizes eternas, imortais. Elas sim deveriam governar o
mundo. Deixariam muitos governantes no chinelo com toda sua graciosidade
e inteligência. A falta do colo de minha mãe e seus conselhos me batendo
com força, enquanto caminho com as grossas lágrimas embaçando minha
vista. Paro de andar, vendo o sinal aberto e espero até que ele feche, voltando
a traçar meu caminho. Estanco os passos, encolhendo os ombros. O som
ensurdecedor do freio fazendo meu corpo gelar. O vento me atordoando.
Olho para o lado, vendo um casal no carro que pareciam discutir. Meu
estomago embrulhando com a adrenalina correndo em minhas veias, seguro
no capô do carro, debruçando-me com ânsia, vendo tudo escurecer, de
repente.

Abro os olhos, sentindo uma manada de elefante passando por cima de mim,
a claridade do lugar me fazendo fechar os olhos novamente. Grunho
atordoada e torno a abrir os olhos, devagar, porém. Sento-me na cama,
alcançando a cabeça e afasto os cabelos, massageando as têmporas. A dor de
cabeça pelo choro judiando, moendo, matando.

Sinto-me aérea desde a notícia pela manhã quando acordei no hospital,


assentindo, concordando com tudo e todos, sem ao menos prestar atenção em
suas perguntas. Era como estar fora de órbita, totalmente perdida, à mercê da
realidade que me bombardeava de uma única vez, estapeando-me. O que eu
faria dali em diante não me deixava em paz, era torturante não ter as
respostas para as próprias perguntas e delírios da mente. Oh, Deus, eu...
grávida! Eu mal sei cuidar de mim! A prova está no envelope pardo nos pés
da cama enorme de casal. Circulado com a caneta azul do médico, positivo se
destacava na folha repleta de números e resultado de outros exames de rotina.

Não me lembro de ter me despedido de quem quer que tenha sido que me
trouxe para casa. Tem um ponto em que você pensa tantas coisas de uma
única vez, que chega a travar a mente e confundir a realidade com as
possibilidades. E o que estava me enlouquecendo, era o fato de não ter o pai
da criança ao lado para criar nosso filho. Mesmo que minha vida financeira
tenha dado uma melhorada desde minha entrada na Donatelly's, não era um
bom momento para sequer pensar em ter filhos. Entretanto, abortar não era
uma opção, jamais. Veja bem. Não sou contra o aborto, sou até a favor,
porque a mulher tem o direito de decidir se quer ou não trazer ao mundo uma
criança indesejada. Não esperada. É uma escolha que cabe apenas a mulher e
não a religião, governo e a caralhada toda, servir de incubadora.

Saio de minhas divagações ao ouvir o som de bater à porta. Mantenho-me


quieta, encolhida na cabeceira, acompanhando com o olhar Hannah entrando
no quarto. O olhar baixo, trazendo consigo uma travessa de louça com algo
cheirando bom.

— Trouxe uma sopa para você. — Murmura com um sorriso pequeno no


rosto, os olhos atenciosos, mascarando a pena que expressou com a minha
chegada do hospital. Sento-me corretamente, Hannah me entrega com
cuidado a sopa e sinto fome pela primeira vez em horas. Respiro fundo,
encarando o liquido avermelhado da sopa de macarrão com picadinho e
alguns legumes e começo a comer, assoprando o conteúdo na colher funda.
— Já pensou no que vai fazer daqui em diante?

Levanto os olhos para minha amiga preocupada, a garganta raspando quando


engulo a sopa. Passo a língua nos lábios, limpando qualquer vestígio que
tenha ficado do líquido com tempero bom. Balanço a cabeça devagar de um
lado para o outro e volto a olhar para a comida, envergonhada da minha
situação. Hannah toca meu joelho coberto pela calça de pijama, fazendo leves
movimentos circulares com o polegar.

— Pensou se vai contar, ou tentar, para Jaime?— Torna a perguntar e


suspiro, assentindo.
— Mesmo que ele tenha ido embora por escolha, acho que deveria saber. Ao
menos eu não teria agido como uma vadia egoísta e totalmente impulsionada
pela raiva. — Resfolego e caímos em um silêncio confortável. Eu não o
odiava, essa era a verdade. Estava entre a linha tênue entre o culpar pela
minha desgraça e chorar por saudade, sufocada com a culpa de tê-lo perdido
e o amor que ainda estava dentro de mim, me consumindo.
— Então ligue. — Incentiva e a olho novamente. Com um sorriso carinhoso,
me estende seu celular.
Reprimo os lábios alcançando o aparelho. Passo a mão no rosto
nervosamente, antes de deslizar o dedo sobre a tela de bloqueio. Mãos
tremulas, respiração vacilante e garganta seca. Disco o número decorado
pelas várias vezes que pensei em liga-lo e aperto para completar a ligação.
Toques e mais toques e nada dele atender. Quando está prestes a cair na caixa
postal, o som de tocar para, indicando que ele atendeu.
— Jaime. — A voz igualmente grossa e potente, com o timbre capaz de
arrepiar até minha alma. Os pelos das minhas pernas e braços eriçando, a
coluna sofrendo com o calafrio em ouvir sua voz depois de tanto tempo.
— Jaime.— Repito seu nome, saindo em um suspiro, quase de alívio. Não
ouço sua resposta, nada de retorno.— Eu... preciso falar com você.
Um sopro sai do outro lado da linha telefônica e então ele se pronuncia pela
primeira vez:
— Eu não quero que fique me ligando. Acabou o que tínhamos.— As
palavras frias tem o poder de trancar minha garganta, marejando meus olhos.
Passo a língua sobre os lábios e abaixo a cabeça, decepcionada com minha
atitude derrotada e totalmente idiota.
— Já entendi isso... mas, eu não ligaria se não fosse algo importante.—
Sussurro, encolhendo os ombros.
— Estou ocupado, seja breve.— Range os dentes e posso imaginar sua
carranca de incômodo. Ao fundo ouço uma mulher chamando por seu nome e
sinto uma onda de náusea me nocauteando. A ideia de que ele estaria fodendo
com outra pessoa enquanto eu estava em meio a um conflito pessoal comigo
mesma em busca de respostas para as perguntas não respondidas da minha
mente me enjoando. A prova de que nada naquela carta era de verdade me
batendo. Sexo, era só sexo. Repete minha mente. As lágrimas querendo
descer. — Eu estou grávida e não sei o que fazer. — Conto baixinho,
encolhendo-me na cama. Deixo a travessa da sopa de lado, abraçando os
joelhos, pernas coladas ao peito. A linha fica muda novamente por longos
segundos, chegando a me agonizar e amedrontar.
Até seu riso debochado soprar em meus ouvidos.
— Por que está fazendo isso?
— Isso o quê?— Pergunto com hesitação.
— Você não pode usar algo sério para se engrandecer e se beneficiar,
Khaillane— Responde repleto de sarcasmo. A frieza com que me chama
fazendo as lágrimas escorrerem sem cessar. — Caso isso não seja uma
mentira, engravidou de quem? Quer saber, não me interessa. Não volte a
ligar.
No segundo seguinte, encerra a ligação e me sinto além de perdida, magoada
e ofendida.
Como chegamos a esse nível? Em que momento eu me tornei tão submissa de
homem? Desde quando me importava com a opinião do sexo oposto? Essa
era questão, eu não me importava com a opinião dos homens, não abaixava a
cabeça para macho, não me ofendia com seus insultos. Só quando se tratava
dele. Achei que seria diferente, achei que tínhamos uma conexão, que
teríamos futuro. Ledo engano. Jaime Hastings não passava de um
conquistador, conseguia o que queria e ia embora. Tirando seu corpo da reta,
se livrando de responsabilidades como o cafajeste que era.
Encostada na cabeceira de ferro da cama, chorei por mim, por ser a idiota
iludida e apaixonada por alguém que não presta, por meu filho sem qualquer
expectativa de uma vida social com um pai e por ele ser esse nojento. Hannah
me olha com o cenho franzido, olhos repassando sua pena e preocupação.
— O que ele disse?— Hesita.
— Ele perguntou quem era o pai. — Choro, um soluço me escapando.
— Que filho da puta! Maldito! — Grunhe e se levanta. A observo com a
visão embaçada pelas intermináveis lagrimas. Bufa e se vira de novo para
mim, se abaixando ao meu lado na cama.— Não chora por ele, está bem?
Vamos dar um jeito. Eu estou aqui com você e não vou sair enquanto você
não me mandar embora. Eu prometo, amiga.
Horas depois, Hannah havia ido para seu apartamento do outro lado da
cidade. Jhonnie estava, aparentemente, em seu quarto e eu continuava no
quarto. Com as reservas de lágrimas esgotadas, o peito agoniado e minha
mente persistente expulsando Jaime e toda sua arrogância da minha vida. Me
levantei recolhendo o resto da minha dignidade, jurando para mim mesma e
para meu filho, que dali em diante, seríamos eu, Jhonnie e meu bebê. Um o
apoio do outro. Sem acreditar em promessas vazias, declarações baratas e
homens. Deixando para trás aquilo que não era saudável, que não era bem-
vindo na minha vida, nas minhas decisões.
Mais uma vez a vida me mostrou o quão decepcionante as pessoas podem
ser, e o quanto confiar em alguém custava. Sacrifícios não são feitos por
obrigação, apenas escolha e eu estava fazendo a minha. Não tem mais espaço
para decepções, apenas minha família, que por ela, eu faria de tudo. Jaime
Hastings foi apenas mais uma das minhas escolhas erradas, que pagaria o
preço por ter insistido. Erros são feitos para te derrubar, cabendo a você
decidir se vai continuar no chão, ou se levantará novamente. E eu estou me
levantando.

Capítulo 16
Condado de Maricopa, Arizona, cinco meses depois...

— Dá para você sentar e sossegar esse rabo, baleia?— Hannah range os


dentes, olhos cerrados e bufo revirando os olhos, indo para o sofá coberto
pelo plástico protetor, posto no meio da ampla sala clara. Gemo em tédio a
vendo abrindo caixa após caixa, retirando as peças de decoração, presentes de
Arthur, meu chefe.

— Você está me dando sono com essa lerdeza em tirar as coisas da caixa!—
Reclamo, pressionando de leve a lateral esquerda de minha barriga, onde há
chutes incômodos.

— Vá comer e me deixe fazer em paz! Não quero ser acusada de maltrato a


grávidas.
— Você é uma ogra!— Mostro-a a língua e me levanto, observando como
está ficando a sala de estar da nossa casa.
Há alguns meses, Hannah achou melhor se manter por perto caso eu precise
de ajuda com as coisas do bebê e com Jhonnie, já que ficaria difícil minha
locomoção com minha barriga que não para de crescer. Desde então viveu em
função de encontrar uma casa, que segundo ela, era mais apropriado para
criar uma criança pequena. Entramos em contato com a imobiliária mais
próxima, e fizemos diversas visitas em vários estilos de casas. Até a maluca
enlouquecer nesta, onde estamos, que por acaso, era a terceira mais cara.
Fizemos um empréstimo no banco e compramos a propriedade a quase dois
meses atrás. Hannah investiu seu dinheiro guardado no banco reformando a
casa e pintando cômodos no seu gosto. Nunca vi alguém tão empenhado em
organizar tudo e controlar com total capacidade para não se perder daquela
forma. Se eu fui contra algo? Bom, minha opinião não valeu de nada.
Não tinha o que reclamar de Hannah, procurei um emprego e ganhei uma
amiga e tanto, que seria capaz de matar por mim e as crianças. Quem olhasse,
pensava que éramos um casal, e bem... eu não me importava. Gostaria de ter
alguém tão maravilhoso quanto ela, mas não era minha praia. Nos tornamos
uma família. Minha irmã postiça mais velha, responsavelmente irresponsável,
meu irmão caçula de dez anos recém feitos e meu bebê prestes a chegar.
Estava feliz, aceitando minha nova vida. Tinha amigos queridos ao meu lado
e era tudo o que importava. Tudo caminhava perfeitamente.
Ele? Era um assunto proibido dentro de casa e em qualquer outro lugar. Não
voltei a procurá-lo, evitava ver noticiários e qualquer coisa sobre esporte para
não ter qualquer notícia a respeito. Mas vezes ou outra, algo escapava. Lindo
e charmoso como sempre com o rosto sempre sério e um toque de mistério
nas irises. Última notícia que tive, foi que continuava com o maior número no
placar, mantendo-se na frente com o maior recorde mundial, estando prestes a
bater o recorde de mais touchdowns feitos mundialmente desde o início de
sua carreira. Lembro-me perfeitamente do dia em que fui ao último pré-natal
e a imprensa aguardava pela minha chegada na portaria da clínica. Foi surreal
o jeito que caíram em cima de mim em busca de acalentar suas dúvidas e
curiosidades.
Como das vezes em que fui para a clínica para as outras consultas, ao quarto
mês de gestação, no dia anterior Jaime foi visto e fotografado saindo de uma
casa de show acompanhado de uma modelo sueca, o que gerou o tumulto na
minha porta por dias atrás de respostas. Vocês não estão mais juntos?
Perguntavam. E a criança? Tornavam a me atormentar. Hannah achou melhor
nos mudarmos na calada da noite para despistar a mídia. Mudei de cidade,
meu posto e de Hannah na empresa foram transferidos para a sede local, onde
facilitou bastante nossa vida e eu tenho trabalhado de casa. Assim seria até o
parto, quando entraria em licença maternidade.
Tenho tido o apoio de Arthur em tudo em relação a criança. Era muito doce e
atencioso. Me presenteou com um armário cheio de fraudas e uma babá
eletrônica, estava sempre presente em relação a criança. Amava o pequeno B,
como o chamo por não saber o sexo, mesmo sem ter nascido e eu apreciava
muito a atenção que nos dava. Era impressionante presenciar alguém que
havia perdido a esperança na vida ao perder a esposa e a filha em um acidente
de transito, se ligar a alguém que ainda nem havia nascido. Eu o admirava,
muito. Um ótimo amigo e chefe.
Abro a geladeira posta no espaço quadrado do armário de parede, vendo as
diversas opções de comida. Uma sensação boa de aconchego e estabilidade
me envolvendo. Puxo a travessa de vidro da terceira prateleira, fechando a
porta e coloco em cima do balcão em mármore escuro da ilha da cozinha. B
chuta e sorrio acariciando minha barriga enorme. Não é exagero da minha
parte, acho que engordei pelo menos dezoito quilos desde o quarto mês de
gestação e a barriga pontuda mede a altura do fundo vinte e sete centímetros.
Segundo o médico, Khalil, ideal para o tempo em que estou, vigésima oitava
semana.
Alcanço uma colher na gaveta do gabinete da pia e me sento na banqueta
larga com estofado, debruçando sobre o mármore para comer o pudim de
chocolate com avelã. Parecendo satisfeito com minha escolha, B cede,
parando de chutar e sorrio achando engraçado.
— Chegou uma carta para você. — Anuncia Hannah entrando na cozinha
com uma carta em mãos.
— Carta?— Inquiro com a boca cheia, a vendo torcer a cara em reprovação.
Rio e ela me entrega o envelope com selo italiano.
— Sem remetente. Não coma tudo meu pudim. — Resmunga, saindo da
cozinha.
Levo mais uma colherada a boca antes de abrir o envelope, encontrando uma
folha amarelada, parecendo ser papel antigo, com as letras escritas a mão. A
caligrafia reconhecível. Volto a dobrar o papel, suspirando longamente,
passando a língua no céu da boca, na tentativa de evitar um enjoo. Por que
depois de tanto tempo me enviar uma carta? E como sabe meu endereço?
Deixo a carta sobre o balcão, empurrando-a para longe e pego minha colher
de volta, ignorando, ou tentando o meio de comunicação mais antigo
existente.
Não conseguindo conter minha curiosidade e a vontade de ler, deixo a colher
de lado mais uma vez, puxando a carta de volta para mim. Abro-a
nervosamente, o enjoo me envolvendo e encontro com a escrita italiana na
caligrafia perfeita dele, em itálico. Passo os olhos nas linhas buscando
alguma palavra conhecida e nada. Respiro fundo antes de me levantar,
deixando a carta ali, indo atrás do meu notebook. Sentada no mesmo lugar de
antes, notebook posto a minha frente, movo os dedos pelas teclas do teclado,
traduzindo o texto para o inglês.

Para Khai, minha esperança,

Oi, amor. Como vocês estão? Anseio que estejam bem. Já tem algum tempo
desde que a vi pela última vez, talvez dois meses. Você estava linda em um
vestido branco que marcava sua barriga avantajada, nosso pequeno está
crescendo rápido. O corte do cabelo favorecia seu rosto, caiu perfeitamente,
que me fez questionar como era possível você ser tão linda e combinar com
qualquer estilo, visual. Os olhos tão brilhantes que me deu, por alguns dias,
conforto por saber que estava bem e feliz. Algo em você me deu um pouco de
esperança para continuar buscando por redenção e a tão esperada
felicidade.

Reprimo os lábios, tentando controlar o choro furtivo que surgiu. Nosso


filho? Céus, o que o fez mudar sua postura diante da gravidez, de mim?

Então, em um dia desses, acordei e não vi a mulher que costumava dividir


meu espaço. Notei que minha felicidade estava do outro lado do oceano
atlântico, ao seu lado. Mas não tenho o direito de lhe procurar. Não depois
do que eu disse na última vez que nos falamos. Depois do que aconteceu e de
atrapalhar sua vida com seu... namorado? Estou escrevendo para você, por
um pequeno motivo, talvez seja insignificante para você em dada situação.
Porém, falarei mesmo assim.

Céus! Namorado?

Eu amo você. Até mais que antes, acredito. Eu tinha esse sentimento dentro
de mim bem antes da minha partida, tinha consciência. E estava tudo bem
para mim continuar com você, te amando em silêncio, fazendo com gestos, o
que não saía em palavras. Não foi fácil virar as costas para quem eu queria
estar, não está sendo fácil. Mas, te ver feliz com outra pessoa é demais para
mim. Me chame de egoísta, tosco, babaca. Do que quiser, eu mereço. Mas
não me peça para vê-la, feliz, com outro. Celebre a felicidade do próximo,
dizia minha mãe. A questão é que não consigo.

Você é um babaca, Jaime Hastings, o maior de todos. Tendo consciência que


será pai pela segunda vez dentro de alguns meses, ainda sim não me
procurou. Não se importou com a mídia me sufocando enquanto você fodia
quem quisesse, quando quisesse. Minha mente me lembra. As lágrimas
grossas descem desenfreadas por meu rosto.

Na falta de comunicação no nosso relacionamento, eu te perdi. Eu causei


isso, se é para falarmos o fato concreto. A pior parte não foi te deixar. Foi
lembrar que eu quem te deixou. Mas, me fez perceber que eu estaria sempre
sozinho, triste e sem alcançar a felicidade se me mantivesse fechado, lidando
sozinho com o que me atormenta dia após dia. Por isso, tenho que agradecer
pelo nosso pequeno romance, mesmo que não tenha acabado da melhor
forma. Estou buscando por ajuda, faço terapias todas as terças, não que seja
algo que você queira saber. Talvez até tenha jogado a carta fora sem ler,
mas vale a pena arriscar. E como vale.

Não imagina o tamanho da minha vontade de bater em você, seu cachorro


imundo, lindo. Grrr! Imbecil!

Perdoe-me por minha grosseria, minha incapacidade de lutar e de persistir.


Mas eu não sou como você, não consigo ser. Desejo do fundo do meu
coração, que bate me lembrando de que tenho um por sua presença nele.
Seria tarde tentar me redimir, lutar e me perdoar por tudo o que te causei?
Eu espero, realmente, que algum dia, possa me perdoar e me dar uma nova
chance, mas não ainda, porém. Ainda não estou livre de mim mesmo para
estar com você. Completo, sem mentiras e segredos.

Com amor, Jaiminho.

Um sorriso em meio as lágrimas curva meus lábios ao ler o apelido no fim da


carta e solto um longo suspiro, olhando para o teto branco, tentando controlar
o choro insistente.

— Por que está chorando?— Pergunta Jhonnie entrando na cozinha e


empurro a carta para debaixo do notebook, fechando o Google tradutor.

— Nada — sorrio para ele, enxugando as grossas lágrimas. — Estou ansiosa


com o nascimento de B.
— Você e esses hormônios. Não sei quem mais me confunde — Torce o
rosto em uma careta e puxa uma banqueta, se sentando ao meu lado.
— Já terminou de arrumar suas coisas?— Pergunto cortando uma fatia de
pudim, voltando a comer, agora me sentindo totalmente melancólica,
contraditória e carente.
— Já. Hannah disse para mim te fazer companhia — Responde e assinto.
Respiro fundo afundando-me no doce a minha frente, meus pensamentos
emaranhados como há muito tempo não ficavam confundindo-me, obrigando-
me a lembrar do quão bem ele me fazia, perdida em vários sentimentos de
uma única vez. Por que se comunicar comigo depois de tanto tempo? Para
quê dizer essas coisas para me confundir? Para quê desenterrar algo que eu
estava lutando para enterrar em meu peito, expulsar da minha vida? Ele não
tinha esse direito, não tinha o direito de me fazer ser contraditória. Ir contra
minhas crenças e escolhas eram imorais, baixas, escuras, um buraco sem fim.
Onde eu caía em um abismo infinito, não sabendo como voltar ao topo, tomar
a frente da minha mente.
Era para mim estar enfurecida, odiando, menosprezando, destratando,
pisando e amassando-o para jogá-lo no lixo junto as péssimas sensações que
ele estava me trazendo de novo. Mas eu, simplesmente, não conseguia. Era
mais forte que eu, me deixava anestesiada, dolorida, expectante, sonhadora e
completamente supositória, supondo diversas opções de quando, ou como
iríamos nos ver novamente, se é que isso fosse acontecer. Feito uma idiota,
burra e insana, comecei a fazer planos para um futuro que, supostamente,
estaria próximo. O tocar, vê-lo, senti-lo, amá-lo nunca estive tão necessitada
de o fazer quanto agora com tudo o que despertou em meu peito e mente.
— Obrigada por deixar para mim!— Hannah reclama, despertando-me de
minhas divagações ao entrar na cozinha. A olho confusa e então, aponta para
a travessa a minha frente já vazia.
— Desculpe, me distrai.— Peço sorrindo, envergonhada.
Hannah maneia a cabeça, abanando as mãos descartando o assunto e vai até a
geladeira.
— Qual o motivo da distração?— Pergunta, levantando a sobrancelha
esquerda, me encarando com os olhos verdes penetrantes.
Passo a língua no céu da boca, fazendo uma breve carícia, a boca ainda
sensível pelo doce, um gesto que adquiri na gestação, que de alguma forma
desconhecida, me ajudava a controlar a ânsia. Repasso rapidamente uma
desculpa qualquer em minha mente antes de a responder:
— Parou para pensar que segundo os mitos de mulheres, se for menino o
bebê vai fazer maior quantidade de cocô? Seriam mais de dezoito fraudas por
dia.— Ela franze o cenho, me encarando incrédula e bebe sua água gelada de
uma vez.
— Tá brincando que estava pensando em merda enquanto comia!— Exaspera
enojada e dou de ombros.
— Acho que vamos a falência se for menino.— Aponto e ela se vira para a
pia, dando-me as costas.
— Você vai à falência, cartão de crédito é todo seu, baleia.— Rebate e
arqueio as sobrancelhas.
— Achei que tínhamos um acordo.— Lembro, levantando o ombro direito,
dando ênfase em meu ponto.
— Temos, ajudo na média mundial de fraudas, se for maior quantidade é por
sua conta. Não engravidei de ninguém.— Argumenta, pegando o que sujei
para lavar.
— Que ofensa! Vou procurar outra madrinha para o meu filho.— Provoco, a
vendo soltar as coisas dentro da pia, se virando para mim.
— Faça isso e eu te mato.— Ameaça apontando o dedo na minha direção,
olhos cerrados. B chuta próximo a minha costela e curvo gemendo de dor,
apoiando o braço no mármore e a mão livre na coluna. Inspiro com força,
soltando em seguida.
— O que foi, Khai?— Jou choraminga ao meu lado, parecendo em alerta.
— São chutes, Jou. É normal nessa fase doer um pouco.— Hannah explica.
— Um pouco...— Zombo em um sopro, debochando do meu próprio
sofrimento. Espero por mais alguns segundos em silêncio, respirando
controladamente, acariciando meu ventre, como se fosse acalmar B. — Já
quer sair? Eu dou total apoio.— Sussurro, encarando minha barriga pontuda.
Em resposta recebi outro chute, ou será soco? Próximo a minha bexiga.
Resmungo me levantando da banqueta com a ajuda de Hannah, ajeitando
minha postura como consigo e, apoiada em Hannah, sigo para o lavabo no
fim do corredor.— Sinto como se tivesse bebido uma caixa d'água.
— Transa mais sem camisinha.— Ri, me servindo de apoio para me sentar no
vaso.
— Juro que se não precisasse da sua ajuda te mandaria a merda.— Balbucio,
nem me sentindo mais envergonhada em dividir o banheiro com ela, como no
início.
— Também te amo, baleia.
— Isso magoa, sabia?— Ameaço chorar e ela revira os olhos.
— Terminou?— Inquere entediada, assinto e ela me auxilia enquanto me
levanto, secando-me.
— Acha que você pode entrar na sala de parto comigo?— Pergunto incerta,
lavando as mãos.
— Quer que eu entre com você?— Questiona em tom solene, olhando-me
pelo espelho. Assinto e ela reprime os lábios, sorrindo de leve para mim.—
Vemos isso na próxima ultrassonografia.
Respiro fundo abraçada a sensação boa que nos envolveu de parceria,
companheirismo, força, confiança e amizade. Eu amava a idiota debochada
de mau-humor atrás de mim, estava mais que inclusa na minha família e nada
no mundo pagaria o que ela fez e faz por mim, Jhonnie e B. Uma eternidade
não seria suficiente para pagar e demonstrar minha gratidão por têla em
minha vida. Era uma das coisas boas que surgiram em meio ao meu drama
pessoal, minha melhor amiga e irmã. Pessoas como ela me davam esperança
de que o mundo ainda não estava perdido, ainda haviam pessoas boas e
confiáveis. E por minha família, eu enfrentaria o que fosse.

— Oi, querida, como se sente?— A voz de Arth soa carinhosa do outro lado
da linha.
— Vou bem e você?
— Melhor agora. Estive pensando e cheguei à conclusão, de que montarei o
quarto de B, se você deixar. Sophia tinha muitas coisas e depois do acidente,
Anna achou melhor desfazermos de tudo... — Começa e dá uma pausa,
parecendo emocionado com o que está pensando em me dizer. — Eu não me
desfiz e o quarto dela está intacto, como antes. E... eu queria que ficasse com
você. Acho que B é Bonnie e não Brace, mas de qualquer jeito, fazemos
ajustes e adaptamos se for um garotinho.
Arthur perdeu a família dois anos atrás quando sua esposa Vitória estava indo
para casa depois de uma visita a empresa. Soube pelos corredores que ela era
dona de cinquenta por cento da companhia e gostava de acompanhar tudo de
perto mesmo com a filha com poucos meses de nascida. A irmã de Arth
guardou os quadros de fotografias espalhadas da cunhada e sobrinha,
tentando ajudar o irmão a superar a perca. Quando me mudei para cá e fui ao
primeiro dia trabalhar com minha barriga saliente e marcada no vestido
social, o homem de quase trinta anos que mal aparecia na empresa me viu e
me chamou para conversar em sua sala. De imediato pensei que seria
demitida por estar grávida, porque eu mal havia chego e já teria que entrar de
licença maternidade.
Enganei-me direitinho. Ele foi atencioso, cuidadoso e me perguntou sobre a
gestação e Jaime, pois querendo ou não, eu virei de alguma forma, uma
imagem pública carregando um possível filho do quarterback do momento. O
contei em partes, mascarando algumas coisas e nossa conversa ficou por isso.
Arthur Donatelly, dono das diversas empresas espalhadas pela América do
Norte mesmo estando quebrado e em um luto de anos, foi um ótimo chefe e
amigo, o que vem sendo desde então. Temos contatos sempre e aprecio cada
ligação e demonstração de preocupação.
— Eu acho uma boa ideia. — Concordo ouvindo seu sorriso soprar do outro
lado. Ele adora agradar e presentear B e eu não o nego isso, ele era um bom
homem se prendendo em uma possibilidade de superação. — Não conte a
Hannah, mas também acho que é menina.
— Ficará apenas entre nós, querida, fique tranquila. E Jaime?
— Ele... — Pigarreio olhando ao redor, vendo que estou sozinha na sala.
Hannah havia ido para o banho e Jhonnie estava se arrumando para mais uma
de suas aulas de violão. — Entrou em contato. Me mandou uma carta.
— Uma carta? Não era mais fácil um telefonema ou uma mensagem de
texto?— Pergunta tão encabulado quanto eu.
— Penso o mesmo. Mas... estive pensando e acho que ele fez isso para
mostrar que sabe meu endereço e tem ficado de olho. — Conto, sussurrando e
como minhas unhas, abraçada a almofada em meu colo.
— Como?
— Ele se referiu a B como nosso filho, se declarou e disse que não podia vir
atrás de mim para não atrapalhar minha vida com um namorado. — Suspiro.
— Hastings é doente, não é possível. Do que me contou, ele parece ser mais
confuso que Anna. — Ri e concordo.
— Talvez eu só devesse esquecer, ele não vai voltar. Já aceitei isso e não
posso me iludir por uma carta com palavras bonitas, quando ele está saindo
deixando rastros de calcinhas pela mídia.
— Eu sempre te apoiarei, mesmo que não concorde com tudo o que pensa a
respeito dele, querida. — Murmura.
— Por que?
— Er... eu preciso ir. Anna vai se casar na próxima sextafeira e eu prometi
leva-la para a última prova ao vestido hoje. — Concordo e me despeço,
mesmo sabendo que não passou de uma fuga do assunto, uma vez que Anna
já foi à última prova do vestido e agora só a resta a ansiedade para que o dia
chegue logo.

Capítulo 17
Cinco semanas depois...
Para Khai,
Franzo o cenho, vendo que falta a saudação atenciosa de sempre.

Saciada? Realmente espero que sim. Porque eu não me importaria de rasgar,


quebrar, espancar quem, ou o que fosse para te mostrar o que é ser fodida de
verdade.

Ofego, reconhecendo qual o sentimento posto nesta carta, sexta carta.

Há algum tempo tenho me perguntado coisas, sentido coisas. A dúvida me


assombrava, então, eu queria saber. Seja sincera consigo mesma. Ele te toca
como eu tocava? Te chupa como eu chupava? Te fode como eu fodia? Excita
como eu excitava?

Imaginá-la sendo tomada por outro me deixa totalmente furioso, eufórico,


excitado. Excitado, porque desejo te mostrar como posso ser o único que
desejaria mais que qualquer coisa. Minha calça de moletom está apertada,
amor. Estou nesse momento duro, imaginado o momento em que eu te
tocaria de novo, matando todo o tesão reprimido que sinto por você. Porque,
porra! São malditos meses sem estar com você, estar dentro de você.
Perdendo-me em seu corpo por horas, incansavelmente, para não deixar de
ouvir seus gemidos, suspiros, chamados. Céus, como eu daria o céu e as
estrelas para estar com você de novo. Para poder beijar sua boca fogosa de
novo, chupar sua boceta enquanto via seu corpo arquear em desespero e
excitação em cima do mármore da sua cozinha.

Um gemido me escapa, a excitação se tornando palpável.

Dona dos meus desejos mais impuros e fantasias insanas. Minha Julieta,
safada, estaria esperando por mim? Não, ela seguia em frente. Mas se ela
quisesse, a qualquer momento, se entregar a mim novamente, me deixaria
extremamente satisfeito e completo. Nossa relação nunca se tratou apenas de
sexo e você sabe disso. Haviam momentos harmoniosos. Mas nesse momento,
o que eu mais sinto falta, é de estar entre suas pernas provocando você ao
máximo antes de sequer pensar em invadir seu corpo.

Então pense comigo, amor. O que acha que eu faria com você se eu estivesse
na sua frente agora?
Jaiminho.

Termino de ler com a respiração ofegante. Caralho. Uma por semana.


Mostrando seus diferentes momentos e sentimentos. A primeira, o
arrependimento; segunda, declaração; terceira, raiva; quarta, medo; quinta,
nojo e por fim, sexta; safada, imoral, suja, erótica, excitante. Merda. Eu
estava quase descendo as mãos para a calcinha!

Como se o verão tivesse chegado mais cedo, meu quarto era pequeno demais,
quente demais.
Talvez eu estivesse muito sensível em relação a tudo durante a gravidez, mas
também por mais que eu não queira admitir para mim mesma, eu sinto a falta
dele. Sempre. Dizer isso em voz alta não era uma opção e nem o faria. Seria
deprimente e decadente demais. Como em todas as cartas ele pede perdão por
algum de seus erros e atitudes em nossa relação, eu sabia que não estava
errada. Meu posicionamento era coerente dada a nossa relação atual. Ele
quem me expulsou de sua vida. Nem tem sentido sua atitude e suas cartas,
muito menos as declarações sem nem mais e nem menos. Como acreditar em
alguém que te tratou tão bem e, de uma hora para outra, te jogou para
escanteio?
Explicações? Teve, porém, acreditar e aceitar era o difícil a se fazer.
Respiro fundo tentando mudar o foco dos meus pensamentos, focando nos
detalhes em amarelo do berço no canto do quarto. O cortinado preso acima
do berço, preso no teto, preso nas laterais de madeira tingida. Suspiro,
passando as mãos sobre minha camisola, a barriga que deu trégua nas últimas
duas semanas, parando de crescer, ondula, com o chutar de B.
Sorrio acompanhando o movimento e cutuco, tendo sua resposta com dois
chutes mais fortes que os outros. Rio e ajeito os travesseiros nas costas,
puxando uma almofada debaixo dos pés inchados e doloridos. Amanhã seria
um grande dia, a última ultrassonografia, onde descobriria o sexo de B.
Ansiedade, melancolia e carência na mesma intensidade.
— Licença, precisa de alguma coisa?— Pergunta Hannah, abrindo a porta do
quarto.
— Não, estou bem. Obrigada.
— Já não está tarde para trabalhar?— Indaga de braços cruzados da porta.
Olho para o notebook aberto em cima da cama e meneio a cabeça,
concordando.
— Só estava revisando uma criação.— Puxo o aparelho com a carta sobre o
teclado, fechando. Hannah vem até mim, pegando-o e coloca na mesa de
cabeceira ao meu lado.
— Descansa, amanhã cedo temos que atravessar o Condado de Maricopa.—
Murmura, oferecendo-me a mão. Aceito sua ajuda, arrastando-me pelo
colchão confortável e me deito.
— Sim senhora, mamãe.— Resmungo e ela sopra um riso.
— Boa noite pequeno Brace.— Afina a voz, tocando minha barriga.
— E se for menina?
— Não é.— Assegura com convicção e torço a boca, não querendo discutir a
respeito.— Boa noite criança teimosa.
— Boa noite, mamãe.— Respondo e ela bate em minha bunda antes de sair.
— Ei!
— Gostosinha até.— Torce o rosto e sai do quarto, apagando a luz. Fecha a
porta.
Fecho os olhos repassando o dia na mente, preparandome para o dia seguinte,
divagando sobre diversas coisas ao mesmo tempo. Não sei o exato momento
em que minha mente chegou na carta recebida pela manhã, em que momento
Jaime entrou em minha mente. Se tornando presente no quarto. Era como tê-
lo deitado atrás de mim, com a mão sobre a minha em meu ventre,
acariciando a casa de nosso filho, acompanhando nossa gestação de perto.
Como era possível alguém se manter presente na vida de alguém, mesmo
após ter feito a relação desandar? Mandar cartas não me parecia fazer o estilo
dele, que sempre é muito fechado, gostando de coisas em silêncio. Hobbies
desconhecidos por mim, que arrisco dizer ainda amálo, amando um completo
estranho, recluso e misterioso.
Talvez tenha sido isso que mais me atraiu nele. O mistério. Nada que vem
fácil me parece atraente, é daí que vem meu erro. Sabendo do meu gosto nada
saudável, entrei e me joguei de cabeça em uma relação incerta, cedendo ao
desejo e as sensações nada inocentes que ele despertava em mim. Hastings
era de fato minha perdição, alguém que mesmo após me quebrar, machucar,
ferir e perder minha confiança continuava preso a mim, dentro do meu peito.
Amando e me machucando a cada mensagem em uma carta recebida. Feito
uma masoquista, querendo mais e mais para tê-lo por perto de alguma forma,
lia e esperava pela próxima, contando os dias.
Expectativas, sonhos e persistência neste caso eram algo bom, ou burro?
Abrir mão e tentar esquecer de vez um sentimento que não me faz bem era
uma opção, sofrer era uma opção. Porém, quem disse que eu queria fazer o
melhor para mim?
— Jaime, saia da minha cabeça— sussurro abraçada ao meu travesseiro.

Phoenix, Arizona, dia seguinte...

Aperto a mão da minha amiga ao meu lado, seus dedos entrelaçados aos
meus me passavam força. Acho que todo mundo deveria encontrar amizades
como essa, que durassem e superassem as diferenças, apoiando-se e estando
ali para tudo. Nas horas boas e ruins. Eu encontrei depois de muitos anos
colocando esperanças em amizades vazias e interesseiras, e não podia estar
mais agradecida.

— Vai dar tudo certo, se acalma.— Hannah sussurra, prendendo uma mecha
de meu cabelo atrás da orelha.
No momento, estamos sentadas na cadeira de espera no consultório
particular, que o convênio da empresa cobria, esperando para sermos
chamadas para a consulta mais esperada da minha vida. Feito uma manteiga
derretida, eu chorava em ansiedade e medo. Desde às três da manhã estou
acordada com uma sensação ruim e preocupada. B não chutou de noite e não
se moveu como no costume. Estava agoniada com a falta que as dores
rotineiras dos chutes e cotoveladas me causavam, era como se ele estivesse
parado, sem se comunicar comigo de alguma forma.
Meu braço esquerdo se encontrava envolto ao ventre, abraçando o motivo do
meu desespero.
— Ela está bem, vai ver— Cynn sussurra do meu outro lado, segurando em
meu ombro e Jou ajoelhado a minha frente, acariciava meu ventre com o
cenho franzido, parecendo confuso.
— Se acalma, ou vou ter que te dar uma surra. Vai fazer mal para o meu
afilhado!— Hannah reclama e a olho, tentando soar ameaçadora o suficiente.
— Khaillane Marin.— Ouço pelo meu nome e solto o ar com força,
levantando de imediato. Com a ajuda das meninas, segui até a sala do meu
obstetra, acomodando-me com uma pressa surreal. — Como tem passado,
Khai?— Pergunta.
— Ansiosa e com medo— Respondo, afastando as lágrimas insistentes.
— Algum motivo para o temor?
— B parou de se mexer, último movimento dele foi ontem, por volta dás
vinte horas.— Murmuro com a voz falha pelo choro. Droga! Eu não deveria
ter me masturbado! Kall não parece preocupado, ou sequer em alerta, apenas
está... pleno.
— Você está na trigésima quinta semana de gestação, Khai. Geralmente
nesse período os chutes e movimentos diminuem as frequências e os bebês
seguem uma rotina. Se movem em apenas um período do dia pela falta de
espaço.— Explica. Ainda tentando digerir a informação, afasto as grossas
lágrimas de meu rosto.
— É normal então?— Pergunto, ainda alarmada e ele assente.
— Está próximo ao parto, você sentirá menos movimentos, mas as dores
quando ele se mover vão ser maiores por ele estar grande e o espaço ser
quase nulo. — Respiro fundo, alivia, e sentindo a massagem de Hannah em
meus ombros e nuca. Cyntia me oferece um copo d'água e o tomo de uma
vez, tentando me acalmar. Maldito seja Jaime e suas cartas indecentes! Nunca
mais me masturbo!
Passados minutos, longos demais para meu gosto e desespero, Kall pede para
que eu vá me trocar. Já deitada na maca desconfortável, posso ouvir meu
coração em movimentos acelerados demais, as mãos tremendo e suando,
acompanhando os movimentos do obstetra e amigo ao passar o gel gelado em
minha barriga, espalhando com o transdutor. Respiro fundo, virando o rosto
em direção ao monitor embaçado. A imagem preta, com um borrado
alaranjado no formato de B se tornando aparente e o som do coração
invadindo meus ouvidos, trazendo paz ao meu peito.
— Não está com as pernas cruzadas desta vez!— Kall afirma e sorrio
nervosamente, apertando a mão de Hannah.— Querem saber agora, ou depois
de conversarmos algo sério?
— Algo sério?— Indago levantando meu olhar para ele. Estende-me um
pedaço de papel, o qual Hannah pega e limpa minha barriga.
— Sim, sobre estresse e exercícios. Khai, está na hora de se licenciar para
ficar de repouso, evitar escadas, evitar andar demais e o mais importante.
Evitar estresses. Está em um período que exige cuidados muito maiores que
no início da gestação. A criança já está encaixada e corre risco maior de você
ter descolamento de placenta, ter sangramentos, problemas na pressão e
vários outros diversos casos. Por segurança, alerto e prescrevo repouso.—
Finaliza e assinto, compreensiva. Hannah afasta os cabelos de meu rosto e me
ajuda a sentar.
— Agora, qual o sexo?— Pergunta a ansiosa da Hannah, tendo a atenção do
médico toda para ela. Por alguns segundos, parecendo se distrair encara a
morena ao meu lado, mas foca novamente no assunto em pauta. Nem conto o
enrosco desses dois.
— B já pode parar de ser a pseudônima da Bonnie.— Responde com um
pequeno sorriso. Acho que terei cãibra no rosto, meu sorriso se abre de orelha
a orelha, tocando minha barriga enquanto assistia a bagunça na sala.
— Eu disse!— Exaspera Cyntia.
— Merda!— Hannah solta minha mão e tira uma nota de cem dólares do
bolso de seu jeans. Abro a boca desacreditada com a cena e Kall está
sorridente, achando graça da situação.
— Vocês apostaram?— Pergunto.
— Claro, acha que eu iria perder a oportunidade de conseguir cem dólares?—
Devolve Cynn e arqueio as sobrancelhas.
— Quanta falta de noção!— Jou se pronuncia pela primeira vez e rio, vendo
as garotas se virarem para ele. Jhonnie cora violentamente, parecendo
constrangido demais com toda atenção.
— Você não palpita, piolho!— Hannah aponta o dedo para ele.
— Você me deixa curioso, Hannah, como pode ser tão imatura e cuidadosa
ao mesmo tempo?— Kall cruza os braços, nos assistindo com diversão.
— Essa pergunta prova que não me conhece, Khalil.— Rola os olhos, se
voltando para mim.— Vamos, temos cinquenta minutos de estrada pela
frente.
— Ainda vai sair casamento entre vocês dois.— Cynn alfineta a irmã, saindo
da sala com Jhonnie. Rio vendo a careta enojada de Hannah e a sigo para fora
depois de uma breve despedida de Kall.
Khalil não era um homem feio, muito pelo contrário. Era um médico novo,
bonito, porte físico atlético e de descendência árabe. Totalmente o tipo de
Hannah, mas desde a descoberta de minha gravidez, ela se nega a sair do meu
lado e recusa todo e qualquer convite de homens. Tinha hora que me sentia
mal por estar atrapalhando a vida dela, mas então, ela se explicava e falava
que preferia mil vezes estar comigo a sair com homens toscos.
De fato, eu tinha a melhor amiga de todas.
Quando fiz o primeiro ultrassom, Hannah me acompanhava e no fim da
consulta, ele a convidou para sair. Sim! Convidou sem cerimônias! O que é
raro. Homens costumam ser tão lerdos quando se trata de convidar uma
garota para sair, que a verdade seja dita. E a resposta pela qual estão
esperando, é não. Hannah não saiu com ele, o que me confundia. Ela ama
sexo, fato. Tanto é, que se houver uma brecha no assunto, ela está fazendo
suposições, ou está fazendo comentários totalmente obscenos. Pois é, minha
amiga é uma tarada que encurtou as rédeas neste meio tempo. E eu estava
doidinha para ver ela pagando sua língua.
Ah, não os contei isso? Bom... Hannah abriu a boca e disse em alto e bom
som que jamais sairia com Khalil por ele parecer ser inexperiente. Que ela
prefere homens com dotes já muito experiente para a satisfazer em todos os
sentidos.
— Não falamos sobre isso. — Murmuro encarando o corredor de casa,
quando chegamos em casa e Hannah foi para seu quarto. Khalil está a quase
dois minutos em ligação comigo, perguntando sobre Hannah e bem, eu como
a boa cupido, estou atirando feito uma cega no escuro.
— Eu sei o que ela pensa de mim, quer dizer, ela deixou claro o que pensa
quando me bateu no rosto e deu o número do telefone para Rafe. — Comenta
e rio fraco, imaginando a cena. — Tem horas que me arrependo de não ter
tido uma pequena época na minha adolescência para estar ao nível das
mulheres. — Lamenta. Ah sim, esqueci de acrescentar que meu amigo é
virgem, um princeso.
— Ei, nada disso. Muitas mulheres fariam de tudo para estar com você, sem
se importar com sua inocência, huh!?
— Menos ela. — Zomba e rolo os olhos. — Eu tenho que ir. Tenho uma
paciente em seis minutos. — E assim nos despedimos encerrando a ligação.
A vida amorosa dele era mais atrativa que a minha. Hannah está de doce e ele
de lamentações. Eu daria um jeito nesses dois junto a Cynn, ou não me
chamo Khaillane. Nem que para isso, eu tranque os dois no mesmo quarto.

Capítulo 18
Hannah
Um mês depois...

Ouço atentamente seu desabafo. Minha mente tentava processar de forma


coerente e civilizada, sem debochar e fazer comentários que o irritem. Pois é,
meninas. O senhor cavalheiro era esquentadinho e odiava deboches e
brincadeiras. Jaime vem se comunicando comigo nesses últimos sete meses e
eu venho o ajudando em questões relacionadas ao seu comportamento pós
terapia. Claro que não perdi a chance de meter a mão na cara do infeliz
quando tive a chance três meses atrás. Ele merecia perder o saco por ser tão
desgraçado com minha amiga.

Contudo, criamos uma amizade. Sim, gritem. Eu, Hannah King, amiga de um
babaca. Dá para acreditar? Bufo com esse pensamento. Tenho enviado tudo o
que o idiota pendurado na ligação comigo, há mais de trinta minutos, precisa
saber a respeito da gestação e de Khai, que é obvio que ainda sente algo por
ele. Mas vamos deixar isso entre a gente. Se ela souber me mata!

— Estou falando, está próximo. Hoje pela manhã ela reclamou de estar
soltando uma gosma estranha na calcinha.— Conto e ouço seu suspiro.

— Bonnie está prestes a nascer.— Suspira outra vez do outro lado da linha.—
Acha que ela me aceitaria de volta?
Penso batendo a bunda da caneta contra o mármore da cozinha, repassando os
últimos meses que tenho recebido cartas dele, passando para ela fingindo não
saber o conteúdo e remetente. Khai é muito orgulhosa para compartilhar
comigo algo que ela sabe que está indo contra sua palavra de meses atrás.
Escondendo cartas, treze no total, de alguém que ela ainda quer em sua vida.
Escondendo sua vontade e esperanças de que voltassem a se ver. Atitude que
admiro, mas não quero para mim.
Amor é algo complexo demais para meu cérebro aceitar e entender como
funciona. Quer dizer, amor entre alguém que você quer como parceiro para o
resto da vida, porque amar Khai, Bonnie e Jhonnie era algo do qual eu jamais
me arrependeria. E sobre Jaime... bom, ele era um idiota nato, mas era
compreensível seu lado. Prestem atenção no que eu estou dizendo!
Compreensível, não que eu apoie! Merece um chute bem dado nos países
baixos, isso sim! Mas, mesmo longe, ele estava acompanhando a gestação,
ansioso e extremamente nervoso. Suas emoções estavam uma bagunça,
pioravam ainda mais após a consulta rotineira ao seu psicólogo. Entretanto,
era... comovente, sua vontade de estar bem consigo mesmo antes de retornar
a vida dela, delas. Eles eram um casal bonito, essa é a verdade. Mesmo com a
forma torta como começaram.
Há alguns meses, decidi morar com Khai, ela precisava de ajuda, então eu
obriguei, sim, obriguei, Jaime a me dar dinheiro. Oh, não me olhem assim! A
casa e a reforma são para a pequena Bonnie nem nascida! Ela tem um pai
milionário, o que é uma casa perto da fortuna bancária dele? Então, sem que
Khai soubesse, sequer desconfiasse, tudo por debaixo dos panos, Jaime paga
as contas e a clínica onde ela tem ido a todas as consultas. Sem contar com as
contas do cartão de crédito meu e dela. Eu afundei o desgraçado, se quer se
redimir vai pagar caro por isso, financeira e emocionalmente, porque eu vou
fazer o favor de ajudar minha amiga a colocá-lo na linha. Oh se vou! Me
julguem.
Tanto é que o fiz acreditar que estava namorando com Arthur que, não passa
de um amigo e padrinho de Bonnie. Má, talvez?
— Acho que você deveria perguntar isso a ela, mas espere...
— Com quem está falando?— Pergunta Khai entrando na cozinha com as
mãos apoiadas na coluna.
— Cynn e você deveria estar deitada.— Cerro os olhos. O grunhido de Jaime
do outro lado da linha totalmente frustrado.
— Fique você deitada o dia todo!— Resmunga, abrindo a geladeira.
— Alguma hora eu te amarro naquela cama com um pote com água e ração
ao lado!
— Cadela é você, piranha.— Rebate, levando uma travessa com arroz doce
abraçada ao corpo.
— Lá vai a baleia engordar mais um pouco.— Provoco e ela levanta o dedo
médio, antes de sair da cozinha.
— Vocês são impossíveis.— Ri do outro lado da linha. — Somos como Tom
e Jerry, Finn e Jack, Salsicha e Scooby Doo, Luna e Nina, Ana e Elsa, enfim.
Nos amamos, entre tapas e beijos.— Comento e ele ri fraco.
— Sinto a falta dela.— Sussurra.
— Você quem fez a merda, lide com as consequências.
— Obrigado pela sinceridade.— Debocha.
— Quando precisar J...
— Hannah!— Pulo da banqueta, ouvindo Jaime gritando, perguntando o que
estava havendo. Deixo o aparelho em qualquer lugar, correndo em direção ao
berro da barriguda.
Alcanço Khai na sala, debruçada, envolvendo a barriga, enquanto uma poça
rodeava seus pés. Agora fodeu! A bolsa estourou. O que eu faço? Calma!
Respira Hannah! Agonizando de dor, a deixei sentada no sofá, correndo atrás
do que precisaríamos. Com pressa, tudo parecia lento demais, devagar
demais, atrapalhar demais. Irritar demais! Deus, não me leve ainda, tenho
uma afilhada para estragar!
— A Khai está em trabalho de parto!— Berro pelo telefone, já dentro do
carro, ouvindo o grito de Khai no banco de trás e o desespero de Cynn do
outro lado da linha.
Em desespero, buzinava para os carros. Berrando pela janela para eles saírem
da frente, acelerando em direção a clínica indicada por Khalil. Discando o
número pelo telefone, dividindo minha atenção entre a rua e a ligação que
chamava e nada do desgraçado, pinto frouxo, atender a porra da ligação.
— Qual seu fodido problema, seu merda? Ela está agonizando de dor e eu
estou chorando desesperada sem saber o que fazer!— Grito a plenos
pulmões, irritada, e ouço sua resposta rápida. Jogo o aparelho no banco do
carona.— Khai, só mais alguns minutos, espera só um pouquinho.— Choro
nervosa. Merda, eu nunca pari, não sei o que fazer ou dizer! Ouvindo seu
grito, vendo-a pelo retrovisor abraçada a barriga, as pernas afastadas,
respiração pesada.
— Acelera, eu não vou ter minha filha nesse carro!— Grunhe enfurecida.
Comigo ou a dor? Era algo preocupante. Sigo o que pede, ou manda.
Longos minutos depois, alcanço o estacionamento da clínica, já vendo uma
equipe vindo em nossa direção. Desço do carro, abrindo a porta traseira, os
deixando trabalhar para tirála de dentro. Respiro fundo, buscando pela chave
do carro e meu celular. Acompanho rapidamente os enfermeiros correndo
com Khai para dentro, ouvindo meu nome ser gritado ao longe. Paro de ir
atrás dos enfermeiros, quando sou barrada na recepção.
— Hannah.— Choro preocupada, vendo minha amiga me chamando.
— Céus, me deixa entrar!— Peço e o homem nega com a cabeça.
— Apenas o pai da criança.— Sinto vontade de bater no poste a minha frente,
quando sinto alguém segurar em meu ombro. Viro-me pronta para o acertar
um soco no desgraçado, vendo um par de olhos azuis.
— Cuida do Jhonnie.— Range os dentes, passando por mim feito um raio,
atrás da enfermeira que o leva pelo corredor em que Khai foi levada.
Ah pronto, trago a barriguda e fico de fora!

Jaime
Sinto meu coração na garganta vendo o corpo pronto para dar à luz sobre a
maca, os aparelhos de pressão e batimentos cardíacos ligados a ela, enquanto
ela chora e grita. Isso, com certeza, dói. Puxo uma respiração profunda antes
de alcançala e rever seu rosto de novo depois de tanto tempo. Em passos
curtos, temerosos, tensos, preocupados e ansiosos, me aproximo da cama. O
rosto que vem sendo a única coisa tomando conta da minha mente, agora está
bem na minha frente, choroso. Os olhos castanhos se abrem em agonia,
avermelhados, inchados. Expulsando lágrimas grossas que se perdem no
rosto coberto pelo suor. E me olhando com uma mistura de espanto, surpresa
e dor.

Ouso segurar a mão trêmula, suada, que me aperta com força. Um gemido
escapando de sua boca, os olhos brilhando mais do que em qualquer
momento que podia ter visto. Desvio meu olhar do seu pela primeira vez,
contrariado, no entanto, e toco na pequena parte da barriga antes do tecido
que a impede de olhar para baixo. Sinto meus olhos marejarem, meu peito em
festa e o frio em minha barriga me envolvendo. Nada mais importando ao
nosso redor, olho em seus olhos marejados e a boca entreaberta e me curvo
para alcançar suas faces coradas.

Afasto a máscara de meu rosto, beijando sua testa, afastando as mechas do


cabelo castanho de seu rosto suado.
— Eu estou aqui com você, amor.— Sussurro, deixando um beijo longo em
sua testa. Ela chora baixinho.
— Khai, preciso que preste atenção na minha voz.— Khalil, o obstetra,
chama sua atenção, levando os olhos para ele. Afasto meu rosto do seu,
olhando para o homem vestido de azul que olha para a minha mulher por
cima dos óculos. — Quando sentir uma contração, preciso que empurre com
toda força que conseguir, tudo bem?— Khai assente e nem meio minuto
depois, minha garota grita, fechando os olhos. O aperto em minha mão se
tornando mais tenso. Seguido por mais algumas vezes no comando do
médico, que a incentivava e elogiava seu empenho.
Minutos, horas, talvez, depois, Khai geme em meio a um grunhido e posso
ver o médico segurando a pequena Bonnie em suas mãos. A garotinha com a
pele rosada, molhada, suja, chora com a palmada de Khalil, puxando o ar
com força. As lágrimas descendo sem que eu quisesse as controlar. Meu peito
inflado com as sensações boas que me envolvem e acompanho minha
garotinha ser levada pela enfermeira para o canto da sala. Suspiro
longamente, descendo meus olhos, emocionados ao último, para a minha
mulher a minha frente. Os olhos castanhos atentos na direção da enfermeira,
enquanto ainda segura minha mão, com menos força como se fossem atraídos
pelos meus, me encara sem dizer qualquer coisa que fosse e me abaixo.
Afasto os curtos fios de seus cabelos do rosto, os olhos atentos em mim e
beijo sua cabeça.
— Eu espero que tenha puxado você em todos os sentidos. — Sussurro sem
conseguir tirar minhas mãos e olhos dela. Khai ofega, deixando a sugestão de
um sorriso aparentar em seus lábios.

Uma hora depois...

Suspiro vendo Bonnie com a enfermeira no berçário, onde a veste com


cuidado. A pequena parecia uma boneca de tão delicada. Tiro as mãos dos
bolsos, tocando o vidro com a aproximação da enfermeira, que a traz com um
sorriso carinhoso. Sorrio com o cenho franzido, meus olhos marejando outra
vez ao ver os olhos abertos levemente, me olhando. A imensidão azul me
prendendo. Os delicados lábios se abrem brevemente, e a língua aparece,
como se estivesse me dando língua. Sorrio.

Até a pequena Bonnie me acha um idiota, tenho certeza. Então em um


balançar, a enfermeira pede por minha atenção, avisando que vai se afastar e
assinto, agradecendo por seu gesto. Segundos depois, afasto as lágrimas que
me escaparam e passo a língua sobre os lábios, girando sobre os calcanhares.
Caminho em direção a sala de espera, Hannah, Cyntia e Jhonnie levantam de
pressa, vindo até mim com a ansiedade palpável.
— Como elas estão?— Hannah é a primeira de pergun

tar.
— Estão bem. Bonnie está no berçário e Khai no quarto.
Em alguns minutos a pequena vai ser levada para Khai e Khalil disse que em
duas horas, as visitas estarão liberadas.—
Murmuro com a voz solene, guardando as mãos nos bolsos do
meu jeans.
— Você estava na cidade.— Observa Hannah, cerrando
os olhos em minha direção.
— Estava.— Concordo. A garota cruza os braços. — Em qual parte mesmo
decidimos que precisaríamos os
dois de sinceridade? Ah, é mesmo, no início. E você não me
disse que estava aqui!
— Você não perguntou.— Dou de ombros e a garota de
olhos verdes abre a boca, mas nada sai.— Vou ver Khai. Sigo pelo corredor,
preparando-me para nossa conversa
tão esperada por mim, buscando palavras e por onde começar.
Seguro a maçaneta e a giro devagar, empurrando a porta com
cuidado. Minhas garotas estão juntas, me trazendo uma
imensa paz no peito, como a muito tempo não tinha. Khai desvia seus olhos
do embrulho cor-de-rosa em seus braços, me
olhando ao notar minha presença.
Entro no quarto, fechando a porta logo atrás de mim, caminhando em curtos
passos silenciosos para perto da cama.
Sem conseguir desviar minha atenção das írises escuras com
rajadas em mel, os olhos mais lindos que já vi na vida, suspiro.
Abaixo os olhos para meu raio de sol, os olhos claros cerrados
enquanto se alimenta pela primeira vez, a mão minúscula agarrada ao dedo da
mãe. Céus, é a cena mais linda que já vi! Suspiro, erguendo a mão direita
com hesitação e toco na cabeça
enfeitada com uma tiara branca, com uma borboleta roxa.
Acaricio de leve, temendo quebrar meu bem mais precioso.
Porque, porra! Ela é, elas são, meu bem mais preciso. Recuo, caindo de
joelhos à frente da cama, cabeça baixa.
Meus olhos deixando as lágrimas caírem, chorando em silêncio. Apoio os
dorsos das mãos no chão, deixando as mãos
abertas e me ponho a agradecer a Deus pelo pequeno presente
me dado. Nem sempre fui um cara religioso, mas, se eu tenho
tido a chance de ser alguém presenteado com acontecimentos
históricos em minha vida, eu sei que tem alguém, algo, lá em
cima olhando por mim e decidindo como as coisas serão, assim como meu
velho acreditava. Escrevendo certo, por linhas
tortas. E neste momento, agraciado, apaixonado, servo das minhas garotas,
completa e verdadeiramente pronto para ser o
que elas querem, o que precisam, me disponho a algo que merecem. Para me
moldarem como quiserem. Pronto para buscar
por seu perdão e sua segunda chance.
— Perdão. Perdão por não estar ao seu lado na descoberta
da gravidez, perdão por ser um idiota. Perdão por fazer tudo
errado, perdão por não estar com você quando precisava, perdão por me
afastar, perdão por tudo.— Começo com os olhos
baixos, me sentindo um mero imbecil diante de suas presenças.— Estive por
esses nove meses buscando ser melhor para
te oferecer o melhor, para as duas. Me preparando para o momento em que eu
te veria novamente e não me sentisse incapaz
e insuficiente para você e nossa filha.
Suspiro olhando em seus olhos marejados, reprimindo a
vontade de tocar seu rosto. Mantendo-me de joelhos, não passando de um
plebeu em frente à minha rainha.
— Sonhando com o dia em que estaria apto e suficientemente bem comigo
mesmo para estar na sua frente, te oferecendo algo mais fixo, seguro e
verdadeiro. Algo que eu poderia dar certeza de que daria certo, me
preparando para o momento em que eu dissesse o que não disse há nove
meses. Aguardando desesperado e ansioso pelo momento em que eu tomasse
minhas decisões sem qualquer influência negativa. Lutando por um Jaime
sem meias verdades e meias histórias, sendo completo e certeiro para me
ajoelhar na sua frente— sussurro. Meu peito novamente a mil com as
expectativas e adrenalina corroendo meu corpo—, te pedisse desculpas,
perdões e que me desse mais uma chance para te exaltar, admirar, tocar,
beijar, amar, estar com você, vocês. Pedindo que me permitisse voltar para a
sua vida, implorando completamente desesperado, ao ponto de vomitar o
coração caso a resposta
demorasse. Correndo o risco de levar uma negativa. Murmuro em tom
brando, vendo as lágrimas banhando
suas faces. Ouso levantar a mão direita, secando seu rosto com
o dorso, recolhendo as lágrimas simbólicas, que eu causei. E,
por isso, nunca vou me perdoar.
— Poderia correr para longe, com vergonha das minhas
atitudes estupidas para com você, minhas palavras ofensivas
ao me contar sobre a gravidez. Mas, eu tenho que assumir com
meus atos, aceitar as consequências. No entanto, Khai, eu seria
o cara mais sortudo por ter você na minha vida, completamente satisfeito,
feliz e insanamente realizado; porque é com
você que minha cabeça, peito, coração, alma e felicidade está. Completo,
segurando na mão que descansa na manta cor
de-rosa, preparando-me para a pergunta final.
— Treze cartas não são suficientes para expressar em palavras o que sinto por
você, a eternidade seria curta demais
para que eu a usasse para dizer as diversas palavras, sentimentos e sensações
que você me causa. Então, deixe-me mostrar
o quão importante na minha vida você foi e é para mim. Permita-me ser o
único homem que vai estar com você de agora
em diante, em todos os momentos. Dê-me a honra, aceitando
meus sentimentos reprimidos, casando-se comigo. Puxo a pequena caixa do
bolso de meu jeans, soltando
sua mão. Abro a pacata caixa, revelando o anel que comprei
há alguns meses. Khai tem seus olhos arregalados, as lágrimas
descendo sem qualquer cerimônia, a mão direita alcançando o
rosto, tapando a boca. Mordo o maxilar com sua demora, minhas pernas
ameaçando falhar e a dor de barriga vindo com
força. Sobe seu olhar do anel para meus olhos, tirando a mão
do rosto, deixando os lábios, trêmulos, livres para a resposta
que eu tanto ansiava.
— Jaime.— Sopra meu nome, a mão alcançando meu
rosto. A caricia delicada, dedos entrelaçando em minha barba
pouco maior do que antes, me fazendo fechar os olhos brevemente,
encarando novamente as irises castanhas marejadas parecendo gravar cada
traço do meu rosto.— Muita coisa aconteceu, nós mudamos, eu mudei. Passei
por muitas coisas sem
o pai da minha filha do meu lado, na gestação. Minha vida se
transformou completamente e minha realidade é outra, ainda
mais séria que antes, quando tinha apenas Jhonnie. A mágoa e as dores são as
únicas coisas que sinto com intensidade, além do meu amor por você. E... eu
tenho tantas dúvidas que me
deixam confusa.
Suspira, roçando o polegar em meu lábio inferior. — Por mais que eu queira
aceitar esse pedido, eu preciso
pensar antes de responder. Não é algo que se responda sem ter
certeza do que está aceitando. Então... só me dá um tempo para
pensar.— Pede e remoendo minha ansiedade, engolindo o
bolo formado em minha garganta, assenti, respeitando seu pedido.
— No seu tempo.— Concordo e acompanho o movimento de sua língua,
passando sobre os lábios, mordendo o
inferior.
Reprimo a vontade de quebrar a distância entre nós e fecho a caixinha,
segurando em sua mão. Deposito-a na palma,
fechando-a e olho em seus olhos novamente. Mordo o lábio
inferior, desejando morder os seus e levanto minha mão até
seu rosto, afastando os cabelos dali. Me levanto, curvando-me
e encosto os lábios em sua bochecha, ousando próximo a sua
boca. Fecho os olhos com a sensação boa de ter sua pele macia
contra os lábios novamente. Afasto-me devagar, o suficiente
para ver seus olhos se abrindo.
Roço o polegar contra sua bochecha rosada, nossos rostos próximos demais
para minha sanidade. Encaro os lábios
que tanto me enlouquecem e me afasto, respeitando seu
tempo.
No seu tempo, amor. Repito em minha mente e vejo seu
sorriso se abrindo com um misto de expressões correndo nos olhos
avermelhados, irritados. Esperar por uma resposta. Eu
esperaria o tempo que fosse. Tudo, faria tudo por ela, elas. — Se importa se
eu segurá-la?— Pergunto hesitante
quando a pequena termina de mamar. Khai me inspeciona por
alguns segundos antes de negar e me aproximo, impedindo
que ela fizesse qualquer esforço para não estourar os pontos.
Balanço minha pequena safira que tem os olhos fechados e a
boquinha delicada entreaberta. Acaricio sua cabeça e seguro
em sua mãozinha, que agarra meu dedo, segurando em minha
camisa. — Zayn sente sua falta. — Conto e ela sorri pequeno. — Também
sinto a dele. — Sorri e abaixo meu olhar para
Bonnie.
— Eu... quero explicar tantas coisas para você. — Sibilo,
sem conseguir encarar seus olhos.
— Não. Não quero falar disso aqui.

Capítulo 19
Khai
Condado de Maricopa, Arizona, três dias depois...

— Deixa eu te ajudar. — Murmura, oferecendo-me seu braço de apoio. Olho


para ele por alguns segundos e depois para Hannah que se afasta, largando
meu braço. Solto o ar com pesar e assinto, voltando a olhá-lo para enlaçar seu
braço, quando me surpreende, pegando-me no colo. Fecho os olhos,
mordendo o maxilar com o desconforto e espero até entrarmos em casa.

— Parabéns, gênio, a imprensa descobriu nosso endereço!— Hannah zomba,


e ele parece a ignorar, enquanto me coloca com cuidado no sofá. Ajeito-me e
puxo uma almofada para meu colo, vendo Cynn balançando minha
princesinha resmungona. Quando saímos há alguns minutos da clínica após
nossa alta, a imprensa estava amontoada na frente esperando por nossa saída,
pois um dos enfermeiros gravou uma entrevista que passou na televisão,
anunciando o nascimento da filha de Jaime.

Hannah quase o bateu por ser tão descuidado, mas a impedi. Ele não teve
culpa pelo enfermeiro ser linguarudo, que a verdade seja dita. Nos cercaram
no estacionamento, onde fomos resgatados por Victor que veio ao nosso
socorro com alguns seguranças. Boo que estava dormindo no colo de
Hannah, acordou com a aglomeração desrespeitosa e chorou, me alugando
por todo o trajeto para a acalmar.

— Eu te disse para comprar uma casa em um condomínio, comprou essa


porque quis! — Ele rebate atraindo meu olhar para os dois.

— O que?— Pergunto, vendo Jaime guardar as mãos nos bolsos de sua calça
jeans, me encarando e Hannah me olha com cara de paisagem. — Ele disse
para comprar?
— Khai, não é o que parece. — Hannah sibila, coçando o couro cabeludo
como faz quando é presa contra a parede e bufa.

— É o que parece, sim. — Jaime a interrompe. — Jhonnie, vamos lá em cima


mostrar o quarto da Bonnie?— Cynn meneia a cabeça para meu irmão, que
tem os olhos regalados pelo clima na sala e assente, seguindo-a para o andar
superior. Volto minha atenção para a dupla a minha frente e espero para que
começassem a falar.
— Sete meses atrás liguei para o número que você havia me ligado pensando
que era o seu, mas quando atenderam era Hannah. Eu a convenci a me ajudar
dando informações sobre você e a gravidez. Ela não tem culpa, apenas fez o
que eu pedi. — Jaime explica e cruzo os braços sobre a almofada.
— Em troca do que? — Inquiro, cerrando os olhos na direção da morena que
mantém a cara de paisagem, como se não soubesse de nada.
— Nada.
— E ela aceitou te ajudar mesmo sabendo que eu não queria saber de você.—
Sorrio, negando com a cabeça e encaro a parede branca, agora tudo fazendo
sentido. — Te ajudou enquanto você saia com uma mulher diferente por
semana e se divertia com a minha cara, usando a minha amiga.
— As mulheres eram modelos contratadas para despistar a mídia e tirar o
foco de cima de você. Eu não me deitava com elas. — Conta e rio em
escárnio, meu peito apertando com a porcaria do ciúme e a decepção
voltando. Fecho os olhos, apoiando a mão na testa, negando com a cabeça. —
Hannah, me deixa a sós com ela, por favor?
— Não. — Apresso-me. — Você vai embora. Não quero conversar com
ninguém, hoje. — Suspiro. Tiro a almofada do meu colo e movo-me devagar
até a beirada do estofado claro felpudo. Vejo por minha visão periférica
Hannah deixando a sala e respiro fundo, vendo Jaime se abaixar a minha
frente. — Eu deveria socar a sua cara. — Confesso encarando seus olhos
azuis e ele sorri, assentindo.
— Eu não desviaria, sou merecedor. — Concorda e segura em minhas mãos.
— Depois que eu fui embora, precisava te manter longe, eu tinha acabado de
começar a terapia quando você me ligou contando da gravidez. O psicólogo
fala coisas que tem o poder de acabar com você, te deixar sem chão,
pensativo e questionar muitas coisas. Naquele dia, eu estava péssimo, porque
ele me acusou de ser um assassino. Me fez reviver tudo de novo. Então
quando saí do consultório, meu celular tocou e eu não fazia ideia de quem
era. Quando ouvi sua voz, eu me irritei porque o doutor disse que eu era o
culpado por ter lhe perdido.
— Ele estava errado, Jaime?— Pergunto.
— Não. Eu quem fui embora. — Sussurra, abaixando seu olhar, voltando a
me encarar em seguida. — A imprensa caiu em cima de você quando foi
fotografada entrando na clínica e Victor sugeriu que eu contratasse garotas
para tirar o foco de cima de você. Eu aceitei, porque nas suas condições não
seria bom toda a pressão da mídia. Toda semana uma garota diferente, sem
informações e nada. Apenas para despistar, mas acabou que piorando tudo. E
eu sinto muito por isso.
Suspira deixando os ombros caírem, ajoelhando-se no chão e toca meu rosto
afastando meus cabelos curtos. Roça o polegar em minha bochecha, descendo
o olhar para minha boca, mas desvia em seguida, voltando a me encarar nos
olhos.
— Te vi no quinto mês de gestação quando estava saindo da empresa para ir
à consulta acompanhada do tal Arthur. Enlouqueci quando Hannah disse que
ele era seu namorado que estava feliz e que assumiria minha filha. Quis ir até
você e bater naquele idiota, mas Victor me impediu, usando como desculpa
minha imagem com os outros investidores. Cedi e na consulta com o
psicólogo na semana seguinte, ele me sugeriu que escrevesse meus
sentimentos e desabafasse sobre o que quisesse. Foi então que comecei a
escrever as cartas. Mas, comecei as enviar depois de um tempo, pois não era
sempre que eu escrevia. Eram uma a cada quinze dias. Nunca fui bom com
escritas e sentimentos. — Conta baixinho, empurrando os dedos
delicadamente para meu pescoço, fazendo círculos imaginários sobre minha
garganta com o polegar.
— Aonde a casa entra nessa história?— Questiono encarando-o com atenção.
— Hannah comentou comigo que estava pensando em se mudar para seu
apartamento para te ajudar com Jhonnie e a gestação. Então eu dei a ideia de
comprar uma casa, quer dizer, ela me obrigou a comprar uma casa sem que
você soubesse, colocando no seu nome para depois passar para a criança
quando nascesse. Eu concordei de imediato, porque não queria perder contato
com ela e não saber mais de você. Transferi a quantia da casa quando ela me
mandou os documentos da compra e venda e dei uma quantia a mais para que
mobiliasse no seu gosto.
— A vadia me disse que o banco tinha aprovado o empréstimo e que tinha
uma poupança guardada!— Resmungo, chateada com as mentiras.
— Eu a incentivei dizer isso, não fique brava com ela. Estive com Arthur
depois que você começou a trabalhar de casa e conversamos. Foi então que
descobri que ele não tinha nada com você a não ser carinho. Depois com
Khalil que fotografou os ultrassons e me mostrou, era da minha confiança, o
conheci há alguns meses e indiquei para Hannah te levar que eu cobriria os
gastos. Eu sei que dinheiro não compra perdão, ou usado a favor em um
pedido de desculpas. Mas eu sempre estive por perto, mantendo-me longe
porque eu estava uma confusão de sentimentos, estava tudo aflorado, intenso
e sufocante. — Respira fundo e se senta no chão, afastando as mãos de mim.
Mordo o maxilar, cruzando os braços e continuo em silêncio esperando pelo
fim do que tinha a dizer.
— Eu... me perdoa, eu sei que sou um babaca de marca maior, mas eu fiz
tudo por você. Para ser merecedor de alguém tão espetacular quanto você.
Estar à altura de quem você precisava e queria. Eu era um completo ferrado,
não que eu não esteja ainda, mas... eu aprendi a falar abertamente sobre o que
me perguntam. Consigo ignorar meus medos e ficar na sua frente sem correr
feito um covarde.
— Então prova. — Peço. Se ele estivesse dizendo a verdade, ele teria que
falar algo que o deixava mal, que nunca conversamos. Seus olhos claros me
observam por alguns segundos até assentir e desviar o olhar, parecendo
perdido.
— Eu... meu pai, ele morreu um ano depois de Glenda. Eu era muito apegado
nele e... ele faleceu quando eu estava enfrentando a imprensa em um processo
de calúnia e difamação e a mídia supôs que ele havia falecido de desgosto e
desapontamento. No velório dele dois dias após sua morte, que doamos seus
órgãos por ser algo que ele queria, Lara me expulsou de lá, dizendo que era
minha culpa sua perca. — Conta afastando as lágrimas do rosto, inspirando
com força. Vê-lo chorando era horrível, ainda mais sabendo da sua história
conturbada com a mãe.— Eu não pude acompanhar o enterro do meu pai. —
Sua voz soa embriagada, seu olhar marejado cai para o chão, movendo os
dedos nos pelos do tapete. — Eu sinto muito. — Sussurro.
— Lara me odiou e se mudou da nossa casa, ficando com Zayn, porque eu
não fazia questão de ficar perto dele. Me mudei também, e segui minha vida,
sozinho, adotando a rotina de festas de Aidren e Simon. Então ela começou a
se reaproximar aos poucos, mostrando arrependimento, mas eu não conseguia
a perdoar e esquecer que me privou de participar e ver meu pai por uma
última vez. Passávamos todos os natais, dia de ação de graças e páscoa juntos
porque papai fazia questão e ficava só por isso. Mal via Zayn quando
pequeno, até ele começar a pedir por mim e ela começar a fazer visitas
frequentes quando eu estava na cidade. — Funga, secando o rosto com o
dorso da mão.
— Ele está com ela agora?— Pergunto e ele levanta o olhar.
— Não... está com uma garota que Victor tem namorado, eles estão no hotel
na entrada da cidade. — Explica e assinto.
— Por que se recusa a gravar entrevistas?— Indago e ele demora alguns
segundos até responder.
— Depois da polêmica sobre a morte de Glenda, eu fui taxado como
psicopata, bandido, assassino, imundo. Toda minha conquista desde o início
da minha carreira foi ralo à baixo com o que eu fiz e eu tinha consciência
disso. Foi então que uma revista de fofoca publicou uma matéria sobre mim,
dizendo que eu estava envolvido com o tráfico de crianças na internet, onde
pedófilos disputam pela virgindade de crianças. Forjaram documentos que
ligavam minha conta bancária a compra da virtude de uma garota de nove
anos. Foi aí, que processei a imprensa e meu velho faleceu. — Conclui,
puxando as pernas para próximo do corpo, abraçando os joelhos, feito um
adolescente pensativo, se recuando.
— E o que houve com Glenda, na noite da morte dela? — Especulo,
prendendo a respiração, expectante com a ideia de saber finalmente o que o
deixava tão péssimo. Tudo parecia se encaixar agora, e se é para falar a
verdade, acho totalmente coerente seu posicionamento diante da imprensa.
Jaime abre a boca para falar, quando batem à porta e rouba nossa atenção.
Suspiro fazendo menção de me levantar, quando ele me impede, se pondo em
pé para atender. Encostome no sofá, deitando a cabeça nas costas do mesmo e
respiro fundo encarando o teto claro. Se tivesse encoberto a merda não estaria
fedendo. Essa é minha opinião sobre ter se pronunciado a respeito da morte
de Glenda.
— Khai, minha querida. Como está?— Arth entra na sala e levanto a cabeça
o vendo com um buquê de mini girassóis e um urso de pelúcia marrom com
uma faixa roxa enrolada no pescoço com um laço. Sorrio para ele que se
aproxima e me cumprimenta com um beijo no rosto.
— Bem e você?
— Ansioso para conhecer a pequena Bonnie. Não achei que seria uma boa
ideia ir a clínica visita-las. — Murmura e assinto. — Trouxe esses girassóis
para a mamãe e uma pelúcia para a pequena.
— Obrigada! — Agradeço esticando-me para pegar as flores e Jaime corta
minha vez, pegando o buquê.
— Eu cuido disso. — Sorri pequeno e franzo o cenho, o vendo encarando
Arthur de cara feia. Chama por Hannah que surge do nada e leva para a
cozinha.
— Pensei que você fosse cuidar do buquê.— Comento. Ele curva os lábios
em sugestão de um sorriso, se sentando ao meu lado no sofá.
— Vou acompanha-los na conversa. — Afirma e reviro os olhos. Ouço o
choro de Bonnie e viro-me para a escada, vendo Cynn vindo com minha
pequena com Jou em sua cola.

New York, cinco meses depois...

— Qual é, Khai! — Resmunga, prensando-me contra a geladeira.


— Eu já disse, sem beijo, sem sexo, sem toques ousados ou qualquer coisa
desse tipo, ou não aceito me casar com você. — Imponho. Se aproximando
com o sorriso sacana de sempre. Reviro os olhos e coloco minha mão entre
nós dois, virando o rosto a tempo, obrigando-o a beijar minha bochecha.
— Quase! — Reclama em um sussurro contra minha bochecha, as mãos
apertando minha cintura.
Muitas coisas mudaram nesses últimos meses, incluindo minha relação com
Jaime que era inexistente desde quase um ano e meio atrás. Há cinco meses,
aceitei seu pedido de casamento, mas o fiz com uma condição. Teríamos
qualquer contato como um casal, incluindo beijos, depois do casamento.
Pense em uma fera com raiva, pensou? Agora triplique e terá como resultado
Jaime e a frustração em pessoa. Foi engraçado na hora, mas eu me amaldiçoei
a partir do momento em que ele iniciou suas provocações. Entretanto, eu não
cederia. Jamais. Esse era seu castigo por ter me feito sofrer por nove meses,
mesmo que eu me agonizasse e sempre terminava as noites de visitas dele
jogada na cama deprimida, após me masturbar.
Comecei a tomar anticoncepcional, não por ele, mais por conta da minha
menstruação que estava desregulada depois da gravidez. Hannah se mudou
depois que nossa casa começou a ser ponto de visitas de Jaime e seus fies
escudeiros, Aidren e Simon, dizendo não suportar os homens que tentavam a
levar para a cama a qualquer custo. Não mentirei, mas que fique entre nós
apenas. Minha amiga relutante, evita os dois, tendo um desejo absurdo pelo
fato deles serem dois idiotas, babacas e mulherengos. Sim, ela sente pelos
dois. Mas não dirá isso para qualquer um. Minha amiga é tão confusa e
enrolada que ás vezes, me perco em meio a sua bolha e confissões. Sem
contar com sua opinião em relação a Khalil! Me sentia um padre em um
confessionário! Porque, Deus, eram pensamentos e sentimentos que nem o
diabo iria a querer no inferno!
Sobre Jaime, eu o queria mais que tudo, mas teria que ter a prova de que ele
sentia algo por mim que não fosse apenas tesão. Precisava fazer minha mente
voltar a confiar em suas palavras e gestos. E não estava me esforçando para
isso. Nesse momento, Jaime me encurralou na cozinha, pedindo por um beijo,
enquanto Hannah, seus amigos, Arthur, Khalil, as crianças e Cyntia estavam
na área da churrasqueira, nos fundos. Eu o conhecia bem para saber que um
beijo não seria suficiente e que as mãos bobas começariam a me provocar até
que eu cedesse a algo mais. Ele não é bobo, mas se acha que pode me
engravidar e ir embora e ficar por isso mesmo, ele está engano.
— Só um beijo, por favor. — Sussurra escorregando o nariz em minha
bochecha, mordendo-a.
— Qual seu problema com minhas bochechas?— Inquiro, cruzando os braços
e ele sorri contra meu rosto. Antes de lamber onde mordeu.
— Suas bochechas são gostosas de morder.— Dá de ombros e aperta minha
cintura, empurrando os quadris para colar aos meus. — Me dá um beijinho?
Só um selinho?— Implora e beija a ponta do meu nariz. Reviro os olhos,
aproximando meu rosto do seu, vendo um sorriso convencido nascendo em
seus lábios rosados, provavelmente, pensando que eu o cederia.
— Não pense que vai conseguir me arrastar para o quarto. — Sussurro e ele
sorri amplamente, segurando em meu rosto. Desce a boca para meu ouvido,
roçando os lábios ali e mordisca o lóbulo.
— Eu pedi um beijo inocente, mas se você quiser eu beijo outro lugar.
Chupo... mordo, é só você dizer. — Ronrona e abocanha minha bochecha,
segurando-a com os dentes e chupa no seu jeito incrivelmente estranho e
erótico. Levanto a mão direita, segurando seu peito, mantendo-o um pouco
afastado.
— Satisfeito com minha bochecha? Pois é só isso o que vai ter de mim até o
casamento, claro, se você aceitar meus termos. — Bato os cílios e
desvencilho de seu corpo. Ouço seu grunhido frustrado e rolo os olhos para
não rir.
— Tá, ok. Ok, você ganhou. Eu aceito seus termos. — Exaspera e o olho por
cima do ombro direito, arqueando-o.
— Assim, tão fácil?
— Claro, vamos nos casar amanhã. — Resmunga e gargalho saindo da
cozinha. Vai sonhando!
Hoje pela manhã, batizamos Bonnie na igreja onde o pai de Jaime
frequentava e Hannah e Arthur são oficialmente os padrinhos da minha
princesinha. Agora, estamos na casa de Jaime aqui em New York almoçando
antes de pegarmos o voo de volta para Maricopa. Tirei nossos passaportes
quando Jaime foi registrar Boo no cartório e aproveitamos para fazer tudo de
uma vez. Ela está a cada dia mais parecida com Jaime, tendo apenas a cor dos
meus cabelos de mim. Eu sei, é deprimente carregar a criança por nove meses
e ela puxar o cachorro sem vergonha do pai!
Jaime insistiu em comprarmos uma casa maior e em um condomínio para ter
segurança para as crianças e para mim. Depois de muitos prós e contras, ele
me convenceu e comprou uma casa exageradamente enorme. No entanto, só
me mudaria para lá depois do casamento, porque se conheço o espertinho, ele
daria um jeito de me convencer de que precisava morar comigo. Arthur nos
presenteou com a mobília da mansão, cai entre nós, aquilo não é uma casa, e
cuidou da nossa segurança, contratando seis seguranças de sua confiança para
nós. Não vou negar, é estranho demais você se distrair e quando olhar para o
lado tem um armário de preto fazendo seu trabalho. Demorei a me acostumar,
agora tudo parece normal.
Sorrio vendo Hannah com Bonnie na piscina e logo atrás delas estão Aidren e
Simon, implicando com a madrinha que é a vez deles de segurar meu bebê.
Mais afastados, debaixo da varanda, estão Khalil e Arthur conversando e
bebendo suas cervejas. Procuro com o olhar os meninos e os encontro
encolhidos de costas para todos no gramado, próximos ao jardim. Franzo o
cenho e vou até eles.
— Meninos, algum problema?— Pergunto e eles se levantam depressa,
virando para mim com as mãos para trás.
— Não! — Jhonnie é o primeiro de negar.
— É não! — Zayn concorda sorrindo. Ambos tem virado grandes amigos e
eu gosto muito de vê-los juntos, mesmo que aprontando. Porque se estão
quietos, estão doentes ou aprontando.
— O que estão fazendo aqui? — Passo os olhos no jardim e não vejo nada de
anormal.
— Nada, estávamos apenas... procurando minhocas. Tio Arth disse que nos
ensinaria pescar se achássemos quinze minhocas. — Jhonnie hesita e noto ser
mentira, uma vez que Arthur não sabe pescar e jamais falaria para eles
fazerem isso, ainda mais na casa de Jaime que não tem uma boa relação com
ele. Sim, Jaime tem ciúmes, nem dá para acreditar.
— Acharam alguma minhoca?— Inquiro entrando no jogo deles e olho para
seus pés, vendo um rabo balançar.
— Nenhuma. Acho que precisa chover para elas aparecerem. — Zayn
murmura, e solta uma risadinha.
— Entendi. Boa sorte e guardem esse rabo, humanos não costumam ter um.
Vocês podem ser um ET invadindo o planeta. — Cochicho e me viro, saindo
de perto deles. Escondendo um cachorro no jardim de Jaime. Se ele ver, vai
ficar maluco, já que ele tem alergia a pelos. Acho que vou adotar um gato, ou
um cachorro e viver com ele no colo por proteção. A carne é fraca e sei que
as armas de Jaime são capazes de me dobrar para conseguir o que quer.
— Cheguei família linda! — Lexie sai pela porta da cozinha e sorrio para ela
que vem em minha direção. Me cumprimenta com um beijo no rosto e um
abraço, indo cumprimentar os outros.
Depois do nascimento de Bonnie, ela esteve em Maricopa para nos visitar e
acabamos conversando um pouco. Lexie de longe era uma pessoa egocêntrica
e metida, era engraçada e via malícia em tudo. É uma ótima companhia se
você quer rir de bobagens desnecessárias e comentários descontraídos. Uma
Hannah mais depravada. Essas duas juntas enlouquecem qualquer um!
Sem que eu pudesse evitar, Jaime apareceu do nada em minha frente e me
beijou, apertando meu corpo contra o seu. Se afastou e sorriu para mim,
apertando minha bunda.
— Quando eu te pegar, você vai se arrepender de ter ficado tanto tempo nos
negando qualquer coisa. — Avisa, pisca e se afasta, indo com os amigos.
Ofegante, pisco algumas vezes perdida com o acontecido e vejo o sorriso
debochado de Hannah e Lexie para mim. Suspiro contraindo os lábios e tento
voltar a pensar com clareza.

Capítulo 20
Prestem atenção no que vou dizer: Khaillane é uma psicopata vingativa. Por
que? Bom, os métodos dela podem ser comparados a atos terroristas!
Presenteei minha garota por todos esses meses, dia após dia, semana atrás de
semana. Tínhamos regredido em nosso relacionamento. Sentia isso.
Estávamos a cópia perfeita de um casal virgem, tímido, na adolescência.
Cara, jamais imaginei que iria me sentir virjão de novo! Mas essa mulher está
com minhas bolas presas em uma coleira e quando tento afrouxar para pular
nela, a mesma aperta ainda mais, ajustando, deixando-as roxas, doloridas. E
agora, Khai está a porra de uma gostosa usando um biquíni preto de
franjinhas que desenham lindamente seus seios maiores do que eu me
lembrava. A tanga, ou sei lá como se chama aquele pano, cobre sua bunda,
impedindo minha visão privilegiada do playground.

Se sentindo confortável em ficar de biquíni outra vez, já que houve um tempo


que cismou com seu peso. Os dezoito quilos ganhos pela gravidez a
incomodava e então, decidiu emagrecer. Agora, sua forma magra, cintura
fina, corpo curvilíneo e cheio nos pontos certos me deixava hipnotizado e
irritado. Minha mulher exposta para os filhos da puta que estão em nossa
casa.
Um mês após o nascimento de Bonnie, Khai estava fissurada com as estrias
que ficaram em sua pele, e, particularmente, eu amo cada uma delas. Ela me
enlouqueceu quando me puxou para o quarto, me colocou contra a porta, no
sentido literal, e tirou a roupa sem nem mais e nem menos, ficando nua,
linda, gostosa, apenas de lingerie de algodão cinza, me questionando o que
achava das estrias e celulites em sua pele clara.

— Gostosa. — Foi minha resposta. Ela revirou os olhos e se foi para a frente
do espelho.
Não vou mentir, tentei reascender nossa nem tão relação e levei foi um não
na cara.
— Não vamos transar. Eu estou gorda e cheia de imperfeições. Se quiser algo
comigo, só vai conseguir depois de pagar academia, nutricionista e uma
cessão de laser. — Sorriu com sarcasmo e me empurrou de perto dela.
Aquela imagem ficou na minha mente por semanas, me enlouquecendo e me
fazendo terminar maldito em uma cama depois de banhos frios e punhetas.
De fato, havia regredido. Sou um adolescente de novo. Um adolescente
pervertido e virgem. Me neguei a pagar o que me pediu e, por mais que eu
quisesse me enterrar até as bolas nela, eu a queria daquele jeito. Perfeita. Eu a
quero de qualquer jeito.
Saio das minhas divagações quando sinto um tapa em minha nuca e olho para
os imbecis ao meu lado.
— Está feito um tarado olhando para Khai. — Simon adverte risonho e
balança a cabeça, levando a long neck de Heineken a boca.
— Ela está me enlouquecendo com essa ideia de sexo só depois do
casamento.— Resmungo voltando a olhar para ela. Khai sorri a todo o
momento, abaixando-se na beirada da piscina para pegar nossa filha.
— Desse mal não morremos! — Aidren ri com Simon e levantam a pequena
garrafa de pouco mais de trezentas ml e brindam com minha desgraça.
— Vão para o inferno, seus malditos! — Ranjo os dentes e os dois
gargalham. Khai se senta na beirada da piscina, colocando os pés na água e
coloca Boo sentada em seu colo. Vejo Hannah sair da água apenas com sua
roupa de banho minúscula e as piadas e risos de Aidren e Simon morrem
encarando a garota. — Parece que tão logo suas bolas vão sofrer o mesmo
que eu, já que foi ela quem sugeriu essa crueldade comigo.— Comento e me
levanto rindo, deixando um tapa em suas cabeças de vento.
O mais engraçado de vê-los hipnotizados por uma garota, era vê-los e ouvi-
los babar por ela, tentarem algo e sempre serem jogados de lado por sua
tirada. Me divirto com suas frustrações diante dos foras de Hannah.
— Acho que você tem mais chances com ela do que os idiotas ali. — Conto
juntando-me a Arthur e Khalil debaixo da varanda. Khalil desvia seu olhar da
garota e sorri pequeno para mim.
— Se minhas chances são zero, a deles são negativas. — Nega com a cabeça.
Conheci Khalil em minha volta para cá depois que rompi o que tinha com
Khai. Ele era novo na cidade e eu resolvi o ajudar com uma informação.
Ficamos por horas conversando no balcão de um bar e acabamos trocando
contato. Quando Khai me ligou falando da gravidez, lembrei dele e cá
estamos. Uma amizade incrível nascida de uma noite de bebedeira. Quando
Bonnie nasceu, entendi que suas visitas a minha casa nem sempre eram para
vê-la, que não passava de desculpas para ficar de olho na morena de olhos
verdes que morava com Khai. Até suas chances de poder ter algo como
desculpa não servir de nada, uma vez que Hannah logo se mudou.
A garota não parecia gostar do tipo de cara que Kall é, mas ainda sim, sua
implicância me deixava curioso e expectante. Por mais que eu saiba do
interesse dos meus amigos por ela, torço que ela fique com Khalil, pois ele
não é do tipo de cara que só vai transar com ela e dispensar no dia seguinte.
Aidren e Simon apenas tem fogo de palha por ela, então, o que posso fazer é
me manter bem quieto no meu canto.
— E você, Arthur. Pensa em se casar outra vez?— Pergunto cerrando os
olhos e vejo-o encarar a direção de Khai e Boo. Já falei que não gosto de
como ele olha para elas?
— Não... eu venho de uma família criada apenas para uma pessoa, um
casamento. E, depois da morte de Vitória e Sophia, eu não tenho mais essa
chance. Mas não me arrependo, foram as pessoas que mais amei na minha
vida. — Murmura e curva a boca em um sorriso triste. Soube de sua história
meses atrás e senti por sua perca, não sou um troglodita sem sentimentos.
— Você tem décadas de vida pela frente. Alguém especial e que te fará se
apaixonar de novo pode aparecer. — Khalil sibila.
— Duvido, meu amigo. Contudo, eu não irei me prender a outra pessoa.
Evitar trazer mais pessoas para sua vida evita que haja mais percas.—
Balança a cabeça, descartando o assunto.
Mais tarde, após as crianças derem um último mergulho na piscina, Khai e
Hannah as levaram para o quarto para se trocarem e cada um foi para seu
canto se aprontar para pegar o voo de volta para casa. Longas horas dentro do
avião se passaram e logo estávamos em casa. Quer dizer, eu esperava poder
ficar ali aquela noite.
— Boa noite, Jaime. — Khai sorri, fazendo menção de fechar a porta antes
que eu entrasse.
— Você é uma péssima hospitaleira. Seus hospedes são maltratados.
— Concordo com você, por isso, tem um hotel logo mais, em três
quarteirões. — Sorri, empurrando a porta e eu a seguro.
— Calma, já é tarde. Onde está toda a preocupação em me deixar dirigir tarde
da noite?— Faço minha melhor cara de coitado e ela revira os olhos.
— Você fica, mas se eu te ver andando pela casa, te jogo para dormir no
quintal. — Cerra os olhos e abre espaço para que eu entre. Entro pondo
minhas mãos dentro dos bolsos frontais de meu jeans e observo Boo
dormindo no bebê conforto em cima do sofá e a casa está silenciosa com a
subida dos meninos para o quarto. — Khalil levou Hannah para o
apartamento dela e Aidren e Simon disseram que iriam embora, porque você
estava demorando. Os meninos dormiram tem pouco mais de meia hora.
Onde você estava?— Inquere cruzando os braços.
— Eu estava no aeroporto, no banheiro. Me deu diarreia. — Minto e ela
aperta mais os olhos, espremendo os braços impacientemente contra os seios
cheios na roupa justa.
— Se continuar mentindo, eu juro que acabou tudo entre nós e você só vai
ver Bonnie uma vez por mês. Quem era a vadia?— Meus pelos eriçam com
sua postura rígida e questionadora, batendo o pé contra o chão. — Estou
esperando, Hastings!
— Ela era alta, ruiva, usava um vestido social escarlate e tinha os olhos azuis.
Trabalhava no sex shop do aeroporto. — Dou de ombros, lembrando-me da
dona da loja. Khai nega com a cabeça e bufa, antes de ir até o sofá carregando
o objeto que segura nossa filha.
— Vai embora, agora.— Manda e sem se virar para mim, vai para as escadas.
Rio e tranco a porta, seguindo-a para o andar de cima. Paro no limiar da porta
do quarto de Bonnie, a vendo colocar a bebê adormecida no berço.
Aproximo-me e paro atrás de seu corpo.
— A ruiva estava me explicando algumas coisas.— Sussurro em seu ouvido e
a ouço bufar, curvando-se para encobrir Boo, que está deitada de lado,
provavelmente já foi amamentada. Encosto minha frente em sua bunda
marcada na calça saruel de moletinho preta e quase gemo pela sensação.
Apalpo sua cintura fina, escorregando os dedos na barriga lisa e Khai volta a
se levantar, parando minha mão antes que descesse para meu destino.
— Achei que estivesse de acordo com minhas condições, mas não. Como um
maldito babaca que não aguenta segurar a cabeça de baixo, transou com a
primeira que apareceu. — Grunhe e me empurra, indo para a porta. — Espero
que vá embora antes que eu acorde.
Sorrio adorando minha garota com ciúmes. Guardo as mãos nos bolsos
frontais, indo para seu quarto no fim do corredor e abro a porta já fechada. Há
alguns meses peguei a chave e escondi para o meu próprio bem, ou levaria a
porta na cara. Passo a língua nos lábios, vendo minha mulher tirando suas
roupas e a observo ir para a cama de cara fechada. Caminho com passos
cuidadosos até ela. Vai que a doida tenta me acertar com alguma coisa fatal?
— Você fica linda com ciúmes. — Sorrio, ajoelhandome a frente da cama.—
Eu não transei com ela e nem com ninguém. Ainda. Porque quem eu quero
está bem na minha frente. — Sussurro, empurrando meus dedos para seu
rosto rígido e emburrado, brincando com os fios de seus cabelos. — Se
lembra quando fantasiou por semanas eu te comendo em cima da sua mesa na
empresa? Apenas o zíper abaixado e sua calcinha de lado... E quando
realizamos essa fantasia, o quanto você gemia, me dava e me puxava pela
gravata? Como você me fez gozar duas vezes sem tirar de dentro... — Puxo o
ar entre os dentes, encostando minha boca em sua bochecha corada, enquanto
ouvia sua respiração barulhenta ofegar. — Jaime...
— Deixa eu terminar. — Peço, calando sua repreensão. — Estive fantasiando
por meses estar dentro de você de novo, de vários jeitos diferentes.
Imaginando o que faria quando você me cedesse de novo. E, minha
imaginação está bastante aguçada com a falta de sexo. Me lembrei da nossa
diversão no escritório em New York, o jeito como você gozou quando eu
provocava seu cu, o prazer que você sentiu enquanto eu simulava um anal. —
Ofego, mordendo sua bochecha, chupando a pele quente e aperto seus
cabelos. — Eu quero tanto você que chega a doer. — Confesso em um rugido
baixo, rouco.
— Para... — Sopra ofegante, mas não se move para me afastar.
— Estou parado, amor. Tenho tido sonhos, torturantes, comigo fodendo você
com força, sem conseguir parar até depois do amanhecer, gozando diversas
vezes. Te chupando, mordendo, lambendo, apertando, beijando. Tenho tanta
energia acumulada que eu mal durmo e quando o faço, preciso trocar as
roupas de cama. Como um adolescente virgem sonhando com a garota
gostosa da escola. Você tem estado na minha cabeça desde sempre. Se não é
me excitando, amando, é torturando. — Sibilo, deslizando meu polegar em
sua face, empurrando para seus lábios trêmulos. Gemo encarando a boca
entreaberta tomando meu dedo, chupando-o, simulando um boquete e puxo
devagar, empurrando de novo, desejando que não fosse meu polegar ali.
Viro seu rosto para mim, encarando seus olhos nebulosos e aproximo ainda
mais nossos rostos. Hipnotizado com a cena dos seus lábios se movendo ao
me receber, quebrei a distância que nos separava e mordi a carne rosada,
tirando meu polegar dali, beijando-a como se minha vida dependesse daquele
toque. Khai não se fez de rogada, retribuindo de imediato, agarrando em
meus cabelos menores que o normal. Puxa-me para cima dela e curvo-me,
empurrando o edredom do caminho, encaixando-me entre suas pernas. Chupo
seus lábios, alisando sua pele macia das coxas, excitado com sua entrega.
Envolve meus quadris com as pernas, descendo as unhas por minhas costas,
enquanto movia seu centro, esfregando-se em minha ereção presa do jeans.
Grunho, descendo a boca por seu pescoço, lambendo e mordendo o caminho
por onde passava, demorando-me em dar atenção para os montes cobertos
pela renda do baby doll cor-de-rosa clarinho, deixando-o ser confundido
facilmente com sua pele. Sendo egoísta com Boo, mordo os mamilos rígidos,
chupando-os sobre o tecido e volto a traçar meu caminho até sua intimidade,
beijando-a sobre a renda da calcinha seguindo a cor do conjunto. Puxo-a sem
fazer festa e desço a língua em sua boceta molhada, provocando o clitóris e o
chupando com fome. Khai geme alto, tapando a boca e agarra em meus
cabelos, enquanto balanço a cabeça de um lado para o outro rapidamente sem
soltar seu grelinho inchado. Empurro o indicador em sua abertura, vendo seu
corpo arquear e o rebolado em meu rosto se tornando necessitado.
Acrescento mais um dedo, tirando e pondo, acelerando com a necessidade
que seu corpo parecia ter. Afastando-me dali apenas depois que ela gozou
gemendo meu nome, puxando-me para cima outra vez. Beijo sua boca
inquieta e deixo um tapa em sua boceta inchada, engolindo seu gemido.
Seguro sua cocha direita e a viro na cama, deixando-a de bruços, descendo
minha boca por suas costas nuas pelo modelo do baby doll aberto, preso
apenas por uma tira como o de sutiã, desfazendo-me do mesmo e mordo sua
coluna, assoprando enquanto ela arrepia e suspira, relaxando na cama. Mordo
sua bunda e faço com que ela arqueasse os quadris, empinando-a para mim.
Ronrona quando lambo suas bochechas, uma de cada vez, deixando um tapa
em cada em seguida e giro a linda, levando-a para o centro dos globos,
lubrificando sua entrada. Ela geme baixinho e começo a provocar, forçando o
polegar em sua abertura, puxando o plug anal do meu bolso.
Enfio-o na boca, lubrificando-o e ajeito sua postura melhor, encostando o
metal oval gelado em sua portinha enrugada e o empurro devagar, enquanto
ela geme, soltando o ar pesadamente, apertando o travesseiro. Posiciono o
plug certo, mordendo sua bunda assim que o coloquei e me afasto, descendo
o indicador em sua boceta molhada outra vez. Respiro fundo, desfazendo-me
de minha camisa, pegando o mínimo controle, apertando o único botão no
mesmo.
Khai se esparrama no colchão, gemendo, enquanto acompanho seu corpo
tremer com as suaves tremedeiras que o vibrador causava. Massageio seu
cóccix, deixando um tapa em sua bunda antes de me levantar, desfazendo-me
dos sapatos e o resto de minhas roupas. Sugo o ar entre os dentes, olhos fixos
na imagem gostosa e volto para a cama, encaixando-me atrás dela. Sua mão
direita deixa o travesseiro, vindo para minha coxa e a aperta. Esfrego-me em
sua boceta escorregadia, encaixando-me e me enfio de uma única vez,
gemendo rouco com a sensação de tê-la apertada me envolvendo e as
vibrações massageando meu comprimento.
Sopro o ar tentando controlar o gozo e começo a me mover devagar,
aumentando conforme consigo administrar o tesão.
— Gostosa demais... — Ranjo os dentes, acertando-a mais um tapa e ela
afunda o rosto nos panos, abafando o grito. Geme diversas vezes meu nome,
gozando outra vez e volta a apertar o travesseiro. Debruço-me e cheiro seus
cabelos, marcando sua nuca com chupões. Agarro os fios cheirosos, os
puxando e arqueando sua cabeça, mordendo seu ombro direito. — Vai gozar
de novo pra mim?— Gemo em seu ouvido, segurando o lóbulo entre os
dentes. — Hum?
— Vou... ah merda. Me fode com força! — Grunhe entre os dentes, e aperto
sua cintura com a mão livre girando os quadris e empurrando com mais força.
Prendo a respiração, segurando o orgasmo que quer me derrubar e escorrego
a mão até seu clitóris, pressionando-o. Chupo seu pescoço, sentindo sua mão
alcançar meus cabelos, os puxando e rio, segurando seus dedos, entrelaçando-
os e me arqueio, levantando seus quadris e ela entende que é para ficar de
quatro.
Volto a me enterrar em sua boceta gulosa e acerto seu clitóris outro tapa a
sentindo contrair e gozar outra vez com as pernas trêmulas. Retardo meu
gozo por mais algum tempo, me retirando de dentro dela quando não consigo
mais controlar, esfregando meu eixo com ânsia, esporrando em sua bunda e
costas. Khai geme outra vez, deitando a cabeça no travesseiro e o corpo
tremendo. Respiro fundo, puxando o controle da cama e o desligo a ouvindo
suspirar em desgosto. Safada insaciável!
— Descanse, vou querer mais uma e dessa vez vou comer aqui. — Sussurro e
movo o plug. Ela resmunga algo e eu retiro o metal, a vendo rolar na cama
com a respiração entrecortada.
— Você vai me matar. — Sibila com o rosto perdido entre os fios
bagunçados dos cabelos. Sorrio, deitando-me sobre seu corpo.
— Tenho quatorze meses atrasados, amor. — Beijo a ponta de seu nariz e ela
choraminga como se não estivesse gostando.

— Bom dia. — Khai murmura assim que entro na cozinha. Sorrio para ela
que tem a expressão suave, relaxada, de mulher que foi bem fodida na noite
passada e gozou muito e me aproximo, deixando um selinho em sua boca.

— Bom dia. — Sussurro antes de me afastar e ver as crianças à mesa


tomando café. — E aí, criançada.
— Bom dia. — Jhonnie e Zayn respondem ao mesmo tempo e sorriem em
diversão. Não evito meu sorriso em ver que eles se deram bem e que são
grandes amigos e sigo até minha pedra preciosa que tem um grande sorriso
banguela e brinca com a colher de sua salada de frutas triturada na bolacha.
Uma mistura doida que Hannah viciou minha boneca. Confesso que fiquei
com medo de Boo engasgar ou ter dor de barriga, mas a pequena draga
comeu tudo e ainda queria mais. Khai tem a incentivado bastante em comer
comidas físicas sem ficar apenas no leite que não a satisfazia por inteira e o
leite do peito ela só toma antes de dormir, depois do jantar. Com a falta dos
dentes, temos dado bastante frutas amassadas e papinhas que Hannah
pesquisa na internet e tem dado tudo certo. Ela adora e vive com o sorriso no
rosto, amando ser paparicada por todos por ser o único bebê da casa.
— Ei, safira. — Ela dá um gritinho e me oferece seu café da manhã de cor
duvidosa. Aceito hesitante e ela ri batendo as palmas. Beijo sua bochecha e
inspiro com força seu perfume delicado a ouvindo rir enquanto me segura.
Rio, beijando mais uma vez sua bochecha e me afasto com meu nariz irritado
com seu perfume. Esfrego-o e espirro sentindo meu rosto arder.
— Algum problema?— Khai pergunta, quando vou para a pia lavar as mãos.
— Acho que o perfume dela irritou meu nariz. — Nego com a cabeça.
— Trocamos depois. — Assinto e me sento à mesa. Khai se senta ao meu
lado e começamos a tomar nosso café. Esfrego o nariz com o braço, e espirro
outra vez contra a manga da camisa de manga comprida e a vejo me olhar
com preocupação.
Termino com meu café vendo as crianças comendo seus mistos-quentes e em
um momento de distração, vejo Zayn olhar para nós disfarçadamente, tirando
um pedaço do seu pão, levando a mão para debaixo da mesa. Franzo o cenho
e ignoro. Ele deve estar guardando comida para comer no quarto. Já que Lara
não o deixava subir com comida para o quarto e eu o ensinei a fazer isso.
— Bom dia família!— A voz de Simon puxa minha atenção e reviro os olhos
olhando para a entrada da cozinha, vendo-o entrar acompanhado de Hannah e
Aidren.
— Quem te deixou entrar?— Pergunto e esfrego meu nariz outra vez.
— Eu tenho a chave e eles chegaram junto comigo. — Hannah explica e
encosto a boca na manga da camisa espirrando.
— Merda! — Praguejo com o rosto queimando.
— Resfriado, Jaiminho?— Aidren questiona, se juntando a nós na mesa.
— Não. Acho que o perfume da Bonnie irritou meu nariz. — Repito mais
uma vez.
— Fresco.— Simon ri, beijando a bochecha da minha filha.
Espirro mais algumas vezes em menos de um minuto e vejo Zayn fazer cara
de espanto com Jhonnie. Antes que eu perguntasse se há algum problema,
algo quente molha minha perna. Franzo o cenho e desço meu olhar, vendo
um cachorro com a perna levantada enquanto me usa de poste. Debruço-me e
o pego, virando o rosto para espirrar outra vez.
— Acho que não é o perfume da Bonnie.— Khai ri e olho para os dois
suspeitos à mesa.
— Podemos explicar! — Zayn intercede. Solto o bicho peludo no chão e me
levanto, espirrando outra vez.
— Primeiro, o que esse bicho tá fazendo aqui? Segundo, por que Bonnie está
com pelos dele?— Passo os olhos em Jou e Zy, depois em Khai.
— Bonnie estava no chão, no tapete, enquanto eu estava fazendo o café.
Acho que o cachorro deve ter passado por ela e ela o agarrou. — Khai
explica e agora minha atenção é toda da dupla de pestes.
— Kevin não tinha casa, estava sozinho na rua. Nós o adotamos. — Jhonnie
explica. Kevin?
— Vamos devolvê-lo, ele deve ter um dono. — Ranjo os dentes, levantando-
me e balanço meu pé encharcado de urina. Bufo indo para a pia e lavo
minhas, me livrando dos pelos.
— O trouxemos de New York. — Zayn conta e me viro para o olhar.
— Como vocês trouxeram um cachorro no avião sem ninguém ver?— Simon
pergunta risonho.
— Cala a boca, Lenny! — Grunho.
— Olha, vamos nos acalmar, tudo bem? Jaime, suba e tome um banho, você
está fedendo. Meninos, vão com o Kevin lá no quintal. Vamos ver o que
vamos fazer depois. — Khai intervém e esfrego meus cabelos, irritado e meu
nariz voltando a coçar. Sigo para fora da cozinha e ouço Khai gritar para tirar
os tênis. Era só o que me faltava!

Epílogo
Jaime
Condado de Maricopa, Arizona, um ano depois...

— Me dá sua mão. — Pede abandonando o sorriso de segundos atrás, ficando


sério.
Passo a língua sobre os lábios encarando seus olhos safiras, que brilham no
meio fio de luz da lua e a lanterna de seu celular, iluminando a grama da
trilha que tomamos da estrada. Levanto a mão pegando a sua, que a envolve e
se vira caminhando em minha frente, enquanto o sigo. Os pinheiros nos
cercam cada vez mais que invadimos mais a falha do gramado de uma cerca,
que indicava propriedade privada. Viajamos por algumas horas de carro e se
eu não reconhecesse o caminho da saída da cidade, não saberia que estamos
em Phoenix, nas áreas rochosas.
Passei pela estrada em que deixamos o carro algumas vezes, via pessoas
invadindo a propriedade, mas nunca me interessei em entrar para ver o que
tinha de tão atrativo ali. Agora, caminhando por mais de dez minutos,
entendo o motivo de Jaime ter me pedido para calçar os tênis, na nossa fuga
de Maricopa. Já se passa dás duas da manhã e assim que amanhecesse,
Hannah, Cynthia e Anna me arrastariam para o Spa, onde me aprontaria,
restando apenas o vestido, que colocaria na cabana improvisada na
confraternização do time de futebol, Arizona. Estive muito nervosa nos
últimos meses, ansiosa com esse dia tão esperado por mim e por ele.
Tem uma semana que as garotas e os rapazes estão dormindo em casa e,
cismaram em não deixar que eu e Jaime tivéssemos qualquer momento a sós.
Se estávamos no mesmo ambiente, teria que ter crianças ou um deles. Velas.
Como diz Hannah. Era engraçado, mas sinto falta de estar com ele, de termos
qualquer momento, sozinhos, apenas nós dois. Mesmo que fosse só para
assistir à um filme. Então, como uma garota apaixonada pelo filho dos
inimigos dos pais, fugi na calada da noite do quarto onde Hannah e Cynn
dormiam comigo e encontrei com Jaime no lugar marcado pela troca de
bilhetes do dia anterior.
Após nosso longo, mas breve, momento dentro do carro que quase saiu do
controle, Jaime propôs um passeio. Movida a insônia de ansiedade, aceitei e
cá estávamos. Invadindo uma propriedade particular perdida em mato alto e
pernilongos. Mais à frente, posso ver uma iluminação maior, onde os longos
pinheiros terminam e continuo seguindo-o. Entrelaça nossos dedos e
emparelha comigo, andando ao meu lado. Diminuo os passos, vendo a
imensidão rochosa logo a frente, nos cercando, e ofego olhando para o céu
forrado de estrelas.
Dou uma volta e vejo a lua caindo atrás dos milhares pinheiros, e encaro os
olhos satisfeitos de Jaime, que abre um curto sorriso de canto, aproximando-
se de mim. Afasta meus cabelos que mais uma vez estão imensos e escorrega
os polegares em minha bochecha, antes de deixar um sutil beijo na ponta do
meu nariz. Sorrio e ele anda de costas, me puxando para a beirada, onde nos
sentamos. Passa o braço pelos meus ombros, puxando-me para encostar em
seu peito.
— Aqui é lindo. — Suspiro vendo a corredeira do rio do Colorado cercado
pela bacia avermelhada.
— Eu sou mais, mas tenho que concordar. — Sussurra e rio, abraçando seus
braços que me envolvem.
— Dado pela direção em que a lua está seguindo, suspeito estarmos no Grand
Canyon. — Comento e sinto seu beijo em meu pescoço.
— Não necessariamente. Estamos no Grand Canyon National Park. —
Responde e sorrio em diversão, olhando-o por cima do ombro.
— Você tem uma conta bancária bufando de dinheiro e precisa invadir um
parque?
— Qual a graça de pagar por duas entradas, se seriamos vigiados o tempo
todo?— Indaga e olho para frente, arqueando o ombro direito.
— Não pagaríamos multa ou seriamos infratores.
— Se não seremos e não pagaremos se não formos pegos. Essa é a regra de
infringir a barreira da propriedade. Além do mais, teríamos que ter muito azar
para sermos pego de madrugada aqui. — Afasta o tecido da minha jaqueta do
ombro direito, deixando um beijo no mesmo. — Estive pensando esses dias.
— Em quê?
— No nosso futuro, o jeito com que mudamos. As opiniões e tudo mais. —
Conta, apertando-me mais e ajeito-me entre suas pernas, envolvendo seus
braços com os meus. — Eu era um zé ninguém. Não tinha nada e você
chegou, me deu uma família e incentivo para melhoras por você e nossa filha.
Tudo o que eu sou e tenho hoje, é por você e, eu não poderia querer mais que
isso. Sou o homem mais sortudo e feliz do mundo por ter você, só para mim.
— Nossos filhos terão muito orgulho de você quando crescerem.—
Murmuro, envolvida em sua confissão. Desde sua entrevista uma semana
atrás, Jaime tem parecido mais confortável e seguro de si.
Sim, Jaime Hastings gravou uma entrevista! Inacreditável, huh?
Estávamos em um momento íntimo, tínhamos acabado o terceiro round,
quando ele suspirou que me amava. Não vou negar que meu peito
transbordou de alegria e emoção em ouvir aquelas três palavras, que não
foram ditas da boca para fora. Mas, o pedi uma prova.
— Eu te amo.— Ofegou em meio ao gemido. Respirei fundo, tentando
controlar minha respiração e desvencilhei-me de seu aperto, encontrando com
seus olhos claros.
— Prove. — Encarei o rosto confuso por alguns segundos, emaranhando os
dedos em seus cabelos bagunçados.
— Como?— Foi sua pergunta.
— Grave uma entrevista com a imprensa.
Estudou minhas feições por alguns segundos, a ruga de curiosidade se
tornando aparente entre as grossas sobrancelhas escuras e assentiu. Afastou
meus cabelos do rosto e roçou nossos narizes.
— Gravo o que você quiser.
Muitos me julgariam por pedi-lo que provasse que me amava, que estava
disposto a fazer o que fosse por mim, por nós. Porém, eu não me importava.
As pessoas vão te julgar de qualquer forma, estando correta, duvidosa ou
errada. Como se diz em Alice no País das Maravilhas: não pode viver a vida
para agradar os outros. A escolha tem que ser sua. E bem... clássicos como
obras antigas, até mesmo os novos autores que criam mundos novos, trazendo
mais abas para a literatura, fazem o vocabulário e as opiniões aflorarem.
Como numa primavera a florescer, as sementes são espalhadas pelos
pássaros, enterradas com as chuvas e florescem dando uma imagem mais
viva. Amadurecemos, sendo vítimas da mudança constante. Porque é disso
que somos feitos.
Jaime amadureceu, eu amadureci, todos sofremos mudanças com o decorrer
do tempo. E o silêncio que nos envolve no pico das paredes rochosas
avermelhadas, debaixo do céu estrelado, é relaxante e prova de que
estávamos indo pelo caminho certo.
— Vamos ter mais filhos?— Sou tirada de minhas divagações pela sua
pergunta assaltante. Franzo o cenho, caindo em dúvida com sua pergunta.
— Não sei... por que?
— Tenho visto você tomar anticoncepcional todas as manhãs e, penso que é
por medo de engravidar de novo. — Murmura, não cedendo ao cafuné em
meus cabelos.
— Não, não é por medo de engravidar de novo. Eu só estava com a
menstruação desregulada depois da gravidez. Ele me ajuda a ter o controle de
quando vai vir. Mas... quanto a gravidez, eu acredito que agora não seja o
momento, então o anticoncepcional veio a calhar. Bonnie tem um ano e meio,
Zayn está criando agora intimidade e um elo com você. Jhonnie está prestes a
entrar na adolescência. Eu só...
— Relaxa, amor. Foi uma pergunta para o futuro. Eu sei que agora não é o
momento. — Ri beijando minha bochecha. Solto o ar que nem percebi estar
segurando.

Jaime
Uma semana antes...

— Jaime, o que o fez gravar uma entrevista depois de anos?— A mulher


ruiva a minha frente pergunta. Seu gravador pequeno está posto sobre a mesa
de centro, enquanto em sua mão tinha um tablet e ao lado, o rapaz com um
bloco de notas. Olho por cima de seu ombro, vendo minha futura esposa e
mãe da minha filha, me olhando com expectativa no olhar.

— Minha família, minha mulher, quem eu devo minha vida e faria de tudo
para tê-la sempre comigo.
— Quanto o incidente de anos atrás, o qual o senhor foi acusado pela família
de sua ex noiva, Glenda, de ter participação no assassinato da falecida
modelo. Como se declarou e o que houve, de fato, na sua versão?— Inquere e
engulo em seco, repassando a imagem em minha mente, respirando fundo,
lembrando-me da terapia que acabou seis meses atrás na tentativa de falar a
respeito do que tanto me atormentava. Suspiro, meu peito inflando, as
imagens se passando na minha mente de novo, seguindo por mais outras
vezes intermináveis.
— Mesmo sendo uma modelo bastante conhecida, Glenda não gostava de ter
toda a atenção da mídia em cima dela. Namoramos por anos para que nos
conhecêssemos, noivamos e engravidamos. Era a realização de um sonho
meu, a paternidade, estávamos felizes e ansiosos com o casamento e a
chegada da criança. Mas, faltando pouco mais de duas semanas para a
chegada de Zayn, precisei viajar novamente para uma nacional. Voltaria no
fim da semana com o time.— Começo, enrolando, vendo os olhos castanhos
me assistindo com atenção.— Porém, decidi voltar antes, um dia após o jogo,
e encontrei Glenda com Asaf na nossa cama.
Passo a língua sobre os lábios, controlando a enxurrada de sentimentos
caindo sobre meus ombros, me cagando de medo. Medo da reação dela.
— Asaf Raswik, seu melhor amigo da época, certo?— Indaga a jornalista e
assinto.
— Sim. Brigamos, Glenda entrou na frente, defendendo o amante e na fúria
do momento, Asaf a acertou um soco. Meu nojo por ele aumentou ainda
mais. No entanto, Glenda anunciou em desespero que o filho que esperava
era de Asaf e não meu.— Minha garganta trava, a prepotência me
arrebatando. Os olhos marejando. Tocado com a intensidade que estávamos
indo na entrevista. Eu sabia que não seria fácil falar abertamente sobre.
Entretanto, eu faria de tudo por ela. Ainda lutando para alcançar a superação
e aceitação que ainda não havia conseguido, mas que deu trégua ao lado das
minhas garotas, meus filhos. Minha família.
— Se quiser podemos fazer uma pausa.— Sugere e meneio a cabeça,
querendo acabar logo com aquilo.
— Naquela tarde após ter a notícia que me dera, saí de casa e fui para um bar,
retornando tarde da noite, bêbado. Carregando a trinta e oito que andava
comigo no carro e depois disso, eu não me lembro do ocorrido, apenas
sangue, gritos e a chegada da polícia e ambulância.— Completo, desviando
meu olhar de Khai, evitando encontrar a decepção em sua feição.
— Os jornais do país apontaram sua inocência, comprovada pelas digitais,
posição em que o tiro foi efetuado e os restos da pólvora da arma de fogo,
confere?— Prossegue com as perguntas, frias, curiosas.
— Isso.
— Agora, Zayn, como tem sido sua relação com a criança que não é seu
filho?
— Zayn é meu filho. — Garanto, levantando meus olhos para ela. — Depois
do parto de emergência feito no centro cirúrgico e Zayn nasceu, foi feito um
teste de DNA para comprovar a paternidade de Asaf, para entregar a criança
para a família dele. No teste, deu negativo a compatibilidade paterna, então
eu fiz o teste e ele é meu filho. Nossa relação não era muito boa, mas de
alguns meses para cá, está melhorando e apesar do impasse na minha relação
com a mãe dele, não me arrependo de tê-lo em minha vida. É um Hastings,
meu filho e tenho orgulho de cada progresso em suas ações.
Vejo por minha visão periférica Khai secar o rosto com o dorso das mãos e
me recuso a encarar seus olhos. Vergonha dos meus atos, vergonha de quem
eu fui.
— Como se sente em relação a proximidade em que estamos da véspera de
seu casamento com Khaillane, mãe da primeira filha do casal?— Sorrio
pequeno em meio as lágrimas, movendo a aliança em meu dedo anelar,
encontrando com seus olhos brilhantes pela primeira vez, não sabendo como
descrever suas características agora.
— Realizado.
— O que houve em dois mil e onze para sua recusa e despensa a imprensa?
— Uma coluna de revistas levantou fake news a meu respeito, que se
espalhou rapidamente, dizendo que eu tinha envolvimento com tráfico de
armas de fogo e participava de leilões clandestinos, onde pedófilos
disputavam pela virgindade de crianças em um site, derrubado meses depois.
— Respondo travando o maxilar.— Fui afastado do meu posto de
quarterback do time do Arizona até o fim das investigações. Levantei uma
imagem suja, asquerosa e imoral da coluna empresarial, generalizando o
mau-caráter da mídia para conseguir dinheiro porco.
— Se te pedisse para descrever sua vida hoje, quase oito anos após o
acontecido, com três palavras, quais seriam elas?— Pergunta e lambo os
lábios, as palavras na ponta da língua.
— Persistência, coragem, força.— Murmuro e vejo os lábios de Khai
curvando em um sorriso orgulhoso, provavelmente se lembrando da primeira
carta que a deixei na minha partida.
— Alguma mensagem que queira deixar para fãs, amigos ou familiares?
— Acho que todos deveriam ter ao lado uma pessoa que lhe inspira, te ajuda
a levantar após cair, manter-se no caminho certo. Então, meu recado é: não
perca tempo ao lado de pessoas vazias e pobres de alma e caráter; busque por
sensações e sentimentos verdadeiros. Eu encontrei a minha e não poderia ser
o cara mais sortudo do mundo. No amor vale a espera e a persistência.

Agora...

Tem alguns minutos desde que caímos no silêncio confortável. Aquele lugar
era relaxante, às vezes costumava a me perder ali durante a madrugada na
minha visita à cidade. Em uma delas, perdi a hora do treino, que antes era
logo pela manhã, antes do sol judiar. Phoenix tinha grande participação na
minha jornada de superação. Foi nessa cidade, nesse Condado, que encontrei
a minha garota. A minha esperança.

Mal podia esperar para que o dia amanhecesse e caísse ao pôr do sol, para ver
minha futura esposa vestida de noiva e costurar nossas vidas de vez. Eu a
quero mais que tudo e o círculo de ouro branco que se apossaria de seu dedo
anelar em poucas horas, era a confirmação de que ela estava ali comigo,
desfazendo-se de qualquer insegurança e incerteza. Volto minha atenção para
Khai que ri baixinho, desvencilhando do meu abraço e se vira, passando as
pernas por cima das minhas, obrigando-me a juntá-las para que ela se
sentasse.

— Que está fazendo?— Pergunto, sorrindo em confusão. Seus dedos gélidos


tocam minha nuca, espalhando um calafrio por minha espinha. Seu sorriso
façanhoso brevemente iluminado se abre, enquanto aproxima nossos rostos.

— Estamos há uma semana sem sexo, senhor Jaiminho. — Sussurra e


arqueio as sobrancelhas. — Você tem me acostumado mal, eu era uma
viciada em sexo, sofrendo abstinência, então você com todo esse fôlego
apareceu e tem me feito delirar com todos aqueles brinquedos de sex shop.

Isso é verdade. Fiz umas compras pela internet meses atrás depois de termos
feito um breve teste-drive com o plug anal e comprei mais algumas coisas.
Desde então, nosso quarto, sim nosso, fica trancado vinte e quatro horas por
dia. Meu ódio só aumenta por lembrar que suas amigas estavam jogadas,
babando, na nossa cama agora, quando éramos para estar varando a noite
estreando mais uma novidade da nossa gaveta trancada.

— Quem disse que eu te arrastei para a garagem sem preparação? — Indago


segurando em sua cintura, vendo seus olhos castanhos me encararem
sugerindo dúvida. — Você tem usado diversas vezes nessa última semana
roupas claras, justas, que parecem transparente. Ou aquelas blusinhas toscas
sem o maldito sutiã. Você acha mesmo que eu iria conseguir controlar
quando você, minha pervertida encubada, partisse para cima de mim?

— Encubada?— Ri, trazendo os dedos da mão direita para meu rosto,


roçando-os em minha barba.
— Só de dia... — Balbucio, agarrando sua boca com necessidade. — Vem
comigo. Levanto-me a contragosto, colocando-a no chão e me ponho a
caminhar em sua frente, puxando o celular para iluminar o caminho. Fizemos
todo o caminho depressa, em silêncio e usei o tempo até lá, para pensar,
repassar o que faria assim que alcançássemos o carro. Abro a porta do
passageiro, dando espaço para eu ela entrasse, prensando-a contra a porta
quando tenta entrar. — Quero que fique de joelhos em seu banco, apoiando
as mãos no acento do meu, empinando essa bunda para mim.— Sussurro,
apertando a carne coberta pela calça de moletom.
Sem questionar ou hesitar, Khai entra e se posiciona do jeito que pedi quando
a soltei e passo a língua sobre os lábios, deixando um tapa em sua bunda.
Abro o porta-luvas, puxando a caixinha quadrada e a deixo sobre o teto do
carro, puxando sua calça, tirando-a com sua ajuda. Aliso a pele clara,
iluminada pela lâmpada do carro pela porta estar aberta e as luzes dos postes
da estrada vazia e afasto sua calcinha azul rendada, abaixando-me. Beijo suas
bochechas, escorregando a língua em seu centro enrugado, molhando-o bem
e a ouço gemer, já sentindo o cheiro de sua excitação.
Desço a boca para sua boceta molhada e a chupo, esfregando seu clitóris com
o polegar. Torno a subir, preparando seu traseiro para nossa brincadeira e
pego a caixa de cima do carro, abrindo-a. Puxo as bolinhas tailandesas
metálicas, corde-rosa champagne, molhando uma por uma na boca,
empurrando devagar em sua vulva, enquanto ela geme e treme, respirando
pesadamente. Mordo sua nádega direita antes de me levantar, puxando-a com
cuidado para fora do carro. Fecho a porta, encostando-a na mesma e mordo
sua bochecha, chupando a mesma em seguida.
— Se lembra das regras, huh?— Pergunto e sua resposta não passa de um
gemido e um aceno. Aperto sua bunda, vendo seus olhos semicerrados, suas
bochechas coradas e arrasto o dedo médio para o meio de suas bochechas,
escorregando-o na humidade do lubrificante, provocando sua entrada. —
Segure as bolas, contraia as paredes dessa boceta gostosa e não as deixe cair.
Caso caia, não deixo você gozar. — Relembro, excitado com a ideia de tê-la
apertada mais tarde, esfregando nossas carnes.
Ela balança a cabeça em entendimento e desce as unhas por minhas costas,
me arranhando e me beija com fome. Deixo um tapa em sua bunda, puxando-
a para a frente do carro e a coloco de bruços contra o capô. Levanto sua perna
esquerda, apoiando-a ao lado do corpo, dificultando que ela segurasse com
confiança as bolinhas e desço a frente do meu moletom, puxando meu pau
dolorido livre de cueca. Esfrego-me em sua bunda, molhando-me com o
lubrificante e massageio seu cóccix coberto pela renda da calcinha. Forço sua
entrada escorregadia, empurrando meu eixo devagar, enroscando os dedos em
seus cabelos. Khai geme, movendo os quadris e sua entrada me espreme,
enquanto aguardo alguns segundos para que ela se acostumasse comigo.
Grunho, começando a me mover e bato em sua bunda, buscando pelo clitóris.
Belisco a pele rígida, prendendo-o entre os dedos, movendo-me devagar e
debruço chupando sua nuca. Vejo seus dedos apertando a lataria do
Lamborghini grafite, ficando brancos com a pressão e passo a me mover com
mais rapidez e força.
— Assim, amor... segura as bolas pra deixar ela bem apertadinha. — Ranjo
os dentes, quase urrando de tesão em seu ouvido. Aperto os cabelos, sua
cabeça arqueando e mordo seu ombro livre da jaqueta que está quase fora de
seus braços. Entrelaço nossos dedos com a mão livre, girando a pélvis,
puxando quase tudo, voltando a empurrar com pressão. Deposito uma
palmada em sua vagina, a ouvindo gemer, apertando meus dedos e estremece,
gozando, balbuciando meu nome.— Gostosa! — Esfrego seu clitóris, me
retirando do seu corpo.
Khai suspira, abaixando a perna e a viro de frente para mim, afastando seus
cabelos e beijo sua boca rapidamente, levantando-a para que sentasse no
capô. Traço uma reta de beijos em sua pele até o vale entre os seios, podendo
ver que a renda azul claro se estende por seu corpo. Franzo o cenho, correndo
os dedos pela renda quase transparente, notando ser um body e resmungo não
tendo acesso a sua pele macia e cheirosa.
Puxo as bolinhas tailandesas de sua vulva, ela geme e arrasta os dedos em
minha cintura, levantando minha camisa. Enfio a primeira bolinha de dois
centímetros e meio em sua boca e ela chupa, enquanto me desfaço da minha
camisa. Khai toma o pano das minhas mãos, envolvendo meu pescoço com o
mesmo, me puxando para seus lábios, abraçando-me com as pernas. Mordo
seus lábios, encaixando-me em sua entrada e a forço, até senti-la me envolver
por completo. Beijo seu ombro direito arqueado, movendo-me com força sob
seus gemidos, ganindo.
Suas mãos descem por meu corpo, alcançando minha bunda, apertando-a, seu
vício que tem aderido nos últimos meses. Assim que gozamos, mantenho-me
parado, encarando seu rosto rubro e sorrio pequeno, tomando o objeto de sua
mão, a ideia se formando em minha mente.
— Vamos para casa. — Sussurro, deixando um beijo em sua bochecha.

Hannah
— Bom dia, morena, ruiva. — Simon entra na cozinha e suspiro.
— Bom dia, Simon. — Cynn cumprimenta e ignoro sua entrada, voltando
minha atenção para meu celular. Bebo mais um pouco do meu café,
estranhando Khai ainda não ter acordado e olho na direção do sofá, vendo
Jaime também desmaiado no sofá.
— Não acham que o casal ali está dormindo demais hoje? — Pergunto,
querendo que fosse apenas impressão minha.
— Acho. Khai sempre é a primeira a acordar. — Cynn concorda e respiro
fundo, minhas paranoias começando a trabalhar. — Eu conheço essa cara.
— Será que eles...
— Transaram enquanto dormíamos? Não. Tenho sono leve e é impossível
terem trepado em qualquer canto da casa e eu não ter acordado. — Simon me
interrompe e arqueio a sobrancelha direita, não satisfeita com sua resposta.
Volto meu olhar para o celular quando recebo notificação de um site de
fofoca que vivo de olho. Sim, gosto de uma boa fofoca, me julguem! Fofoca
pela manhã para começar o dia é vida, ok? Quase cuspo o café quando leio a
legenda da matéria de hoje.

Rapidinha na calada da noite, ou incêndio no playground?

— Desgraçados! — Praguejo, abrindo a matéria e vejo logo de cara uma foto


dos bonitinhos em questão saindo de carro na madrugada anterior. Cynn se
debruça em cima de mim, juntando-se em mim e exaspera um som em
incredulidade. Rolo a página passando os olhos pelas diversas linhas narradas
por Luc Joshua, o fofoqueiro de plantão que amo, pasmando com as notícias.

— Pelo menos a bunda do Jaime escondeu a Khai da câmera. — Cynn ri


vendo a última foto do casal no bem bom, em cima do capô do carro. Olho
para Boo sentada em sua cadeirinha na cabeceira da mesa, cutucando o prato
com sua colher de plástico amarela.

— Oh, meu Deus, quem é o amor da dinda?— Pergunto levantando-me da


minha cadeira, tendo toda sua atenção para mim. A mini safira abre seu
imenso sorriso com os dois primeiros dentinhos já bem visíveis e eu me
derreto com essa fofura. — Mamãe e papai estão dormindo. Vamos acordar
eles? Vamos! — Afirmo a vendo assentir e esticar os braços para mim. Tiro-a
de sua cadeira e abro o armário, pegando uma frigideira e busco pela colher
de pau. — Chega bem pertinho do papai e bate a colher na panela, tá bem
amor?

— Tá! — Concorda e a sigo, tomando cuidado para que ela não tombasse
para traz. A neném aprendeu a andar sem apoio tem pouco mais de três
meses, mas ainda não confio em deixa-la andando por aí sem supervisão. —
Bate... — Murmura, levantando a colher para bater em Jaime. Rio fraco, não
a repreendendo e ela bate fraco na cabeça do pai algumas vezes.

— Safira, não pode... — Resmunga, afastando a colher de sua cabeça. Seguro


suas mãos, a incentivando a bater na panela, fazendo barulho até Jaime bufar
e levantar a cabeça, nos encarando. — Qual seu problema, Hannah?

— Levanta essa carcaça do sofá e vai se arrumar. — Cerro os olhos e levanto


Boo, pegando-a no colo. — Vamos acordar a mamãe também.

Subimos para o quarto de Khai no fim do corredor e beijo a bochecha da


garotinha em meus braços, antes de colocá-la no chão. Bonnie tapa o rosto
com a mão livre, soltando um risinho sapeca, antes de pegar a panela que eu a
oferecia. Vai até a cama da mãe, arrastando-se para subir na mesma e fica de
pé, batendo na panela.

— Boo, deixa a mamãe dormir...— Resmunga, cobrindo a cabeça com o


travesseiro. A menininha olha para mim em dúvida e eu nego. Ela ri, batendo
de novo na frigideira e a solta, se jogando em cima da mãe.

— Acordaaaa! — Grita, agarrada nas costas de Khai que choraminga antes de


dar atenção para a princesinha.
Ninguém mandou transar sem camisinha!
— Levanta, se eu precisar voltar, estarei com água gelada e não serei nada
sutil.— Sorrio para ela e dou as costas, deixando as duas para trás.
— Bom dia, pequena. — Aidren sorri para mim, saindo do quarto dos
meninos. Reviro os olhos e desço os degraus voltando para a cozinha, não
vendo mais Jaime no sofá.
Seria um longo dia e tudo precisa estar perfeito, em seu devido lugar. Não
aceito menos que isso.

Continua em “The Running Backs”


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