The Quarterback 1 - Fabíola Alexia
The Quarterback 1 - Fabíola Alexia
The Quarterback 1 - Fabíola Alexia
Prólogo
Jaime
New York, seis anos antes...
Beijo sua barriga avantajada e ela sorri para mim, entrelaçando os dedos em
meus cabelos.
— Ei, carinha. Quando vai sair para deixar a mamãe dormir?— Pergunto,
sussurrando, com o ouvido colocado na barriga macia, contendo algumas
pequenas marcas de estrias debaixo do umbigo, desenhando lindamente na
pele. Como se Zayn fosse responder, espero pela resposta e vejo a onda se
formando na lateral, quando ele chuta.
— Acho que ele gosta de você. — Glenda ri, com as mãos em cima das
minhas. Sorrio, deixando mais um beijo e arqueio o corpo, alcançando o rosto
da minha gatinha.
— Não tem como não gostar de mim. — Zombo e ela ri, segurando meu
rosto. Afasto os cabelos louros de suas faces e beijo os lábios avermelhados.
Faltam duas semanas para que Zayn, nosso filho, nasça e não podia estar
mais ansioso com tudo. Glenda e eu nos casaremos em pouco mais de um
mês, após o nascimento do nosso pequeno. Ela geme e rio sacana, descendo
meus dedos para sua calcinha de velha. Sim, minha garota usa calcinhas
feias. Mas isso a tornava ainda mais atraente, se sentia bem em usálas e era o
que importava. Só eu veria.
— Por que não trancamos a porta?— Glenda suspira, arrastando as mãos por
minhas costas, segurando o lençol que cobre minha falta de roupa.
Khai
Rio, jogando os braços para cima, o álcool me deixando totalmente solta,
relaxada e entregue na diversão que tinha por ali. Sinto mãos em minha
cintura, um corpo colando as minhas costas. Sorrio, mordendo o lábio
inferior, olhando para Ian por cima do ombro direito.
Sou pega de surpresa quando me beija, mas deixo rolar, enquanto a música
ensurdecedora ao nosso redor estoura no ritmo latino, que é excitante e
envolvente. Morde minha boca, afastando o rosto com o sorriso depravado de
sempre e volta a dançar nas minhas costas. Não se fazendo de rogado ao se
esfregar em mim. Jogo o cabelo para o lado, enquanto mais um par de mãos
se apossava da minha cintura, o peito duro colando na parte da frente do meu
corpo. Rio mais uma vez, movendo os quadris, acompanhando os irmãos na
dança nada inocente. As mãos, indecentes, vagam meu corpo e passo os
braços ao redor do pescoço de Chris.
Gemo com a pegada no pescoço, no escuro, mal podendo ver seu rosto, mas
sei que se trata de Chris. Sempre bruto, viril e sexy. Eu adorava isso nele. Me
beija, encostando-me na parede e puxa minhas pernas para rodear seu corpo.
Sinto minhas costas desencostando da parede, ele se move e logo, o corpo
musculoso encosta em mim. As mãos exploram minhas coxas, puxando a saia
para cima. A boca gulosa se ocupando em meu pescoço, chupando e
lambendo, provocando calafrios. Grunho em frustração quando a música para
de tocar, e uma bomba faz as bocas dos irmãos abandonarem meu corpo.
Chris pragueja algo, me soltando no chão e junto do irmão, correm para a
saída de emergência com os outros covardes, fugindo da polícia. Frouxos!
Rio furtivamente vendo o tio policial vindo em minha direção, com a mesma
cara desgostosa de toda semana.
— De novo você!
— Eu, de novo. — Gargalho. Ele, como o careta que é, desce minha saia,
após pedir licença e me puxa pelo braço em direção a saída. Lá vamos nós
para mais uma volta na viatura confortável. Robert, meu vizinho, que
reprimia uma paixonite secreta por minha mãe, policial do batalhão local, me
olha com repreensão. Eu adorava ver sua cara nada amigável ao me tirar das
festas. Mas odiava quando empatava minhas fodas da noite. Mal podia
esperar para ver a cara extremamente brava de mamãe ao ir me buscar na
delegacia de novo. Malditos dezessete anos intermináveis!
Não tinha uma boa relação com ela. Queria que eu fosse responsável,
estudasse direito ou medicina. Bom... eu fodi com suas esperanças e com
quem eu queria na sua cama de casal com colchão macio. Nunca fui fácil,
mas desde que ela começou a regular, ou tentar, minhas noites de diversão,
nossa situação só piorou. Se queria um filho exemplar, que criasse e
moldasse Jhonnie, seu filho do último relacionamento, como ela esperava.
Porque comigo não ia rolar.
Capítulo 1
Phoenix, Arizona, dias atuais...
Jaime
Paro no salão do hotel em que ficarei enquanto estiver na cidade, olhando ao
redor, notando o quão diferente ele estava desde a última vez em que estive
ali. Eu adorava a simplicidade, adorava me sentir normal, mas depois de
alguns problemas que me aconteceram na mídia, acabei ganhando muita
visibilidade. Precisei de seguranças, assessoria de imprensa reforçada, me
mudar para um condomínio e aceitar o que minha equipe oferecia. Como
todo adolescente amante de futebol, cresci sonhando em ser um dos
jogadores mais famosos da história, queria ser reconhecido pelo meu talento,
mudar de vida. Oferecer aos meus pais uma condição melhor para viverem
bem. No entanto, não queria que as coisas tivessem acontecido daquela
forma.
Meneio a cabeça e passo por ele, não dando muita importância para meu
assessor de imprensa. Faço como o pedido e subo para o décimo oitavo andar
do prédio. Ao passar o cartão pelo pequeno aparelho ao lado da porta, a luz
antes vermelha, fica verde, indicando que estava aberta e entro no quarto.
Vejo minhas malas postas próximas a cama de casal no meio do cômodo
amplo e espaçoso. A decoração seguindo cores claras, com detalhes em
dourado para todos os lados, exagerados. Movo-me preguiçosa e
cansadamente, alongando os músculos. Não preciso olhar muito ao redor,
para saber que o quarto é o melhor do prédio, como todas as vezes. Victor
adorava se exibir e dizer que podia conseguir coisas boas para seu garoto de
ouro. Convenhamos, se eu não pagasse seu salário, não teríamos que lidar
com seu carinho excessivo, certo?
Tiro minha jaqueta a deixando de lado e me jogo na cama, esticando os
músculos, relaxando. Tudo o que não se dava para fazer dentro de um
minúsculo avião comercial. Como o prometido, meu telefone vibra no bolso
do meu jeans, nem precisando olhar para saber de quem se trata.
Khai
Observo o pequeno deitado de bruços com os joelhos contra o colchão,
deixando o bumbum empinado para o ar e sorrio com diversão.
— Vai levantar?— Pergunto, sem cessar as cócegas e ele berra que sim.
Então, me afasto deixando um beijo em sua testa. — Te espero na cozinha,
não demora ou nos atrasaremos.
Saio de seu quarto e sigo para a cozinha. Enrolo meus cabelos em um coque
no alto da cabeça, esticando-me preguiçosamente no processo.
Dois anos atrás, quando faleceu de ataque cardíaco, chorei por semanas, me
arrependendo por muitos de nossos momentos difíceis e por não ter
aproveitado ao máximo sua presença que, hoje em dia, faz tanta falta. Era tão
jovem e tinha a vida longa pela frente. Mas não cabendo a mim questionar as
vontades de Deus, balanço a cabeça, expulsando o rumo que aquelas
conotações tomariam. Hoje, somos apenas eu e Jhonnie, meu irmão caçula de
nove anos. Meu pai faleceu dois anos após meu nascimento, acidente de
caminhão. Sim, papai era caminhoneiro, isso explicava o que uma brasileira,
minha mãe, no caso, fazia nos Estados Unidos.
Capítulo 2
Khai
— Sai lindinha, por favor, sai daí! — Resmungo, balançando o pano laranja
na direção do ralo do banheiro.
Tem alguns minutos desde que vim para o banheiro laválo, mas eu,
simplesmente, travei ao deparar com a aranha bunduda no meu box. Sim! Eu
morro de medo de aranhas e não me lembro o que me levou a ter tanto pavor
da coitadinha. Se fosse Jhonnie aqui, ele pegaria seu vidro e aprisionaria o
bicho peçonhento. É maluco! Tremendo e incerta, atiro o chinelo na coisinha,
que parece se divertir com a situação e recuo um passo no mesmo tempo.
Sem coragem de encarar o que acabo de fazer. Segundos após, viro o rosto
em direção aonde ela estava e a vejo no mesmo lugar, olhando para mim.
Quer dizer, acredito que esteja olhando para mim. Eu estou falando! A aranha
é debochada!
Está certo que minha mira é horrível, mas ela não precisa humilhar!
Bufo desistindo da minha falha tentativa de espantar a aranha e me afasto,
saindo do banheiro. Fecho a porta, garantindo que ela continue lá e encaro o
apartamento pequeno, ajeitado, limpo e cheiroso. Respiro fundo e sigo para
meu quarto. Confiro as horas e suspiro, me sentando nos pés da cama de
solteiro. Recordo-me de no início da noite de ontem ter sido mandada para o
estádio, onde acontecerá na próxima semana o último jogo do ano do
Arizona, o qual— possivelmente — Hastings bateria o recorde mundial,
enquanto Jhonnie estava em sua aula de violão. Quando aceitei o acordo
sobre a entrevista com Hastings, não pensei que seria tão difícil! O homem
não grava entrevista a pelo menos seis anos!
E tudo indica que não vai ser fácil tirar, no mínimo, alguma declaração para a
revista. O som de notificação do meu celular sobre a cama chama minha
atenção e o pego, vendo se tratar de Natasha, secretária de Candice.
Jaime Hastings.
Leio e levanto meu olhar para o carro que dobra a esquina, não fazendo ideia
do que aquele número significava. Pensativa, foi como fui o caminho todo até
alcançar o portão de saída da escola de Jhonnie. Victor não me passaria o
contato pessoal de Hastings, certo? Ou pelo menos, não seria profissional de
sua parte se fizesse aquilo para benefício pessoal, não é?
— Oi. — Murmuro aturdida, vendo Jou sair do prédio bem estruturado. Ele
sorri, vindo em minha direção e deixo um beijo em sua testa.
— Está bonita. — Elogia. Desço o olhar para meu vestido social, um número
menor ao que costumo usar.
— Obrigada. Vamos almoçar por aqui mesmo, gastei a manhã toda fazendo
faxina e depois tive que fazer algo na rua. Então, não tive tempo de fazer
almoço. — Argumento. Jhonnie me olha desconfiado, mas assente.
— Trabalhando?— Pergunta minutos depois, quando entramos na lanchonete
do outro lado da rua, de frente a escola.
— Sim. O que quer comer?— Suspiro, olhando para os salgados.
— Coxinha de frango com catupiry. — Murmura e espero que o atendente
venha até nós.
— Seis coxinhas, por favor, e dois sucos. — Peço ao homem alto com sorriso
simpático e ele pega nossos pedidos, nos entregando em seguida.
Jhonnie vai na frente, se sentando em uma das mesas do fundo e o sigo.
— Você me disse que era uma possibilidade. — Lembra, os olhos afiados,
me olhando por cima da coxinha que come. Jhonnie não era nem de longe
bobo, ou influenciável. O pequeno sabia bem como tirar a verdade de quem
quer que fosse. Principalmente de mim.
Suspiro, preparando-me para contar a ele.
— Vamos comer, depois falamos disso, tudo bem?— Indago. Ele concorda
com um leve balançar de cabeça e voltamos a comer com calma.
— Agora fala. — Levanta levemente a sobrancelha direita, me encarando
com os olhos cerrados.
— A proposta foi dada e eu aceitei, mas o emprego só consigo se fizer a
entrevista com ele. Se não entregar a matéria até dia primeiro, vou ter que
procurar outro emprego— Conto em um único fôlego, esperando por sua
reação.
— Eu não duvido que você vá conseguir, mas já parou pra pensar se...
— Sim. Por isso eu já comprei currículos. Eu sinto muito por isso, Jou, eu
tinha que tentar. — Lamento, agora vendo o quão idiota é essa ideia dizendo
em voz alta. Muita falta de responsabilidade de minha parte. Oh, Santo Deus,
tenha pena de sua serva...
— Tudo bem. Você vai conseguir, se não conseguir, posso ajudar com...
— Não! Nem pense em completar essa frase, Jhonnie Carter! A poupança é
para sua faculdade. Eu tenho algumas economias e daremos um jeito. Não vai
demorar para que eu consiga um emprego.— Garanto e ele assente.
Assim eu espero.
Jaime
— Quem era a garota?— Pergunto assim que Victor se acomoda ao meu lado
no banco do carro.
— Khai, uma... amiga. — Responde e sorri, a malícia brincando em suas
írises castanhas. — Por que?
— Curiosidade, apenas. É bonita demais para dar bola a você. — Provoco,
lembrando-me das suas últimas conquistas. Viro o rosto, encarando a garota
com um corpo bonito, marcado pelo vestido social.
— Somos apenas amigos, bem queria algo a mais, ela é linda. Mas é jovem
demais para mim.— Comenta e o olho de novo.
— Qual a idade dela?
— Acredito que seja entre vinte e vinte e dois anos. — Desce o olhar para o
aparelho telefônico em suas mãos. — Se quiser algo com ela, eu indico que
invista.
— Sabe que não quero relacionamentos. — Grunho, desviando meu olhar
para a avenida.
— Quem disse que ela quer?— Devolve, arqueando as sobrancelhas, me
olhando com divertimento.
Travo o maxilar, olhando para os prédios correndo pela janela e espero até
que chegássemos ao almoço com alguns empresários que tenho investido em
seus novos projetos comerciais. Ideia de papai. Meses antes de tudo
acontecer, eu o presenteei com uma poupança gorda e ele investiu o dinheiro
com o propósito de deixar mamãe e eu bem, caso eu desistisse do futebol.
Dona Lara não quis saber dos investimentos e sobrou para mim ter que
administrar tudo com a partida de papai. As coisas entre mim e ela não estão
boas a muito tempo. Quando meu velho se foi, ela entrou em depressão e me
culpou por muitas coisas, principalmente sua morte.
Acabei por preferir me afastar, enfrentar meus problemas sozinho. Porque se
nem minha própria mãe estava ao meu lado, quem mais estaria? Ao menos
ela teve o bom senso de ficar com Zayn, uma vez que eu não tenho
proximidade com a criança e nem faço questão de ter.
Desculpe por desligar sem, ao menos, dizer algo. Estava ocupado e acabei
atendendo sem perceber.
Envio e me sirvo com um copo com whisky, sentandome na poltrona do
canto inferior da sala. Alguns segundos depois, sua resposta chega:
Tudo bem. Acho que não ouviu o que eu disse, então, repetirei kkk.
Leio atento em suas palavras bem articuladas. Não é que o velho Victor tem
contatos interessantes? Rio do meu pensamento e deixo o copo sobre a
mesinha ao lado.
Envio, adorando meu pseudônimo. Não me olhem assim. Eu sei que não é
certo se passar por outra pessoa, todavia quem nunca se passou por um
amigo, namorado (a) ao responder alguém por mensagem? Certo, sei que não
é uma justificativa, mas é a única que me veio em mente.
— Tudo bem, consegui. Se tudo der certo mais tarde consigo convencer
Victor a me ajudar com Hastings. — Balbucio. Jou sorri para mim, fechando
a mochila.
— Não gosto do meu pai, mas vou para lá porque é necessário. Só não
esquece de ir me buscar amanhã, assim que possível! — Pede com seus
olhinhos de pidão piscando, como sempre fazia ao pedir algo. Rio e assinto
puxando-o para um abraço. Eu também odiava a ideia de deixa-lo com aquele
imundo, mas é por uma boa causa.
— Prometo que jamais fará algo que não queira quando eu conseguir esse
emprego. Vamos melhor nossa situação financeira. — Prometo e sua mão
pequena esfrega minhas costas com delicadeza. Então, ele se afasta e deixa
um beijo em minha testa.
— Amo você, Khai. Obrigado por ficar comigo ao invés de me deixar com
ele. — Murmura e reprimo os lábios com vontade de chorar.
— Você teria uma vida mais fácil com ele. — Relembroo, melancólica.
— Nada que venha fácil é satisfatório. Prefiro nossa vida doida a conviver
com ele. — Sorrio com pesar e o aperto em um abraço. Meu garotinho está
crescendo!
— Então, como estou?— Pergunto, dando uma voltinha na sala e Jou sorri
para mim em admiração.
— Linda!— Responde e sorrio para ele. Então o som de bater à porta atrai
nossa atenção.
— Deve ser seu pai. — Sibilo e ele torce o rosto em uma careta. Abro a porta
vendo o homem alguns mínimos centímetros maior que eu, vestindo roupas
casuais, despojadas, de marca. O homem era um nojo. Não sei o que mamãe
viu nele. Quer dizer, ele é até bonito, mas sua personalidade e opiniões, o
tornam o lixo de pessoa desprezível que é. Sem falar no salário gordo que o
imprestável recebe mensalmente com seus investimentos comerciais.
— Khaillane. — Meneia a cabeça em um cumprimento e faço o mesmo. —
Ei garotão, está pronto?
Jou pega sua mochila do sofá e vem até nós, me abraçando apertado.
— Boa noite, Khai. — Se despede.
— Boa noite, não se esquece de escovar os dentes antes de dormir. Não
dorme com os cabelos molhados, pode dar dor de ouvido. Não fique
acordado até tarde, amanhã tem aula... — Disparo, preocupada em o deixar ir.
— Calma, é só uma noite. — Steven ri e cerro os olhos em sua direção.
— Cuide dele e se houver um arranhão nele amanhã quando eu for o buscar
na escola vai se ver comigo! — Eu ameaço, apontando o dedo em sua cara de
paspalho e ele assente com ar de superioridade. Odeio sua arrogância. Por
que homens assim andam pela Terra, senhor? Suspiro, jogando os cabelos
para trás. Preciso lembrar de cortá-los, está terrivelmente comprido. Quase
alcançando a bunda, em um liso ondulado.
Fecho a porta quando eles se vão e sinto um vazio. A casa é tão quieta sem
Jhonnie. Suspiro outra vez, encarando o celular sobre o balcão, como se por
telepatia, faria alguma coisa dar sinal de vida através de uma ligação ou
mensagem de texto. Respiro fundo tentando controlar os nervos, segundos
depois, ouvindo o som de mensagem e sigo para o balcão, alcançando o
aparelho.
— Eu que peço perdão. Deveria ter dito que não era ele. — Passa a língua
sobre os lábios bem desenhados, curvandoos em um sorriso bonito. Céus,
quando esse homem foi tão lindo e eu não notei? Exagerada? Sou!
— Espera... O quê?
— Nos falamos mais cedo, Khai. Victor passou meu número para você,
apenas não sei o motivo. Quer me contar?— Questiona arqueando a
sobrancelha esquerda. Os olhos azuis cintilantes brilham com uma sombra
misteriosa no meio fio de luz do poste do lado de fora e do painel do carro.
— Eu não sei... ele sugeriu que saíssemos qualquer dia e depois me deu o
telefone. Mais que caralho. Baralho! Perdão Deus! — Resmungo cobrindo
meu rosto. Vergonha que se diz? Houve o tempo em que eu falava palavrões,
mas tive que abandonar por ter que aderir responsabilidades imensas. Não
seria bem visto aos olhos da sociedade, uma criança esbravejando, deferindo
e praguejando palavrões. Então, costumo me repreender e focar em mantê-los
longe do meu vocabulário. — Vou entender se quiser recusar o jantar...—
Penso rápido e levanto meu olhar para ele de novo, que me olha esperando
por minha resposta.
— Não... eu... — Merda de mente. Pensa, Khaillane, pensa!— Jhonnie saiu e
eu estou sozinha e... não queria ficar sozinha. — Sopro com pesar.
— Então quer minha companhia por não ter opções?— Toca o peito,
indignado.
— Não! Não é isso. Perdoe-me. Estou nervosa e quando fico nervosa falo
sem pensar e na frente de pessoas bonitas... — Me calo de imediato ao notar
o que havia dito.
— Calma, estou brincando. — Raspa o polegar em minha mão e depois vira
para a rua, checando o retrovisor. Acho que se estivesse sozinha me bateria
por ser tão estupida e burra! — Então, me fale um pouco de você. — Puxa
assunto, quando chegamos em um restaurante que jamais imaginaria entrar na
vida e sermos levados a uma mesa reservada para dois em seu nome.
— Não tenho o que dizer, sou apenas uma pessoa comum. — Levanto o
ombro direito e ele arqueia a sobrancelha esquerda. Será que ele tem
problema no rosto? Quer dizer... ele faz muito esse movimento com a
sobrancelha. Não deve ser normal, certo?
— Então me diga, pessoa comum, o que a torna sem ter o que dizer?—
Implica e rio fraco, bebendo um pouco de água na taça.
— Diferentemente de você, não tenho visibilidade na mídia e não sou rica. —
Torço o rosto, fingindo indignação. Quem me dera ser rica...
— Quem é Jhonnie? Namorado, marido, ficante?— Me observa atentamente.
— Por que eu aceitaria sair com alguém que não fosse meu namorado, ficante
ou marido, se tivesse um deles?— Devolvo a pergunta e ele balança a cabeça,
ponderando. — Jhonnie é meu irmão que crio desde... o falecimento de
minha mãe.
— Oh... sinto muito— Pede, ficando sério e sorrio abanando a mão,
descartando o assunto.
— E você? Acredito que tenha uma vida muito mais interessante que a
minha.
— Na verdade não tenho, não. Sou apenas alguém prestes a se tornar o
assunto do momento. Coisa pouca — Retruca, levando a taça de vinho a
boca. A sombra do sorriso arrogante curvando o canto dos lábios rosados
bem desenhados. Seus olhos indiscretos me medem sem qualquer cerimônia.
— Metido ele. — Comento e me repreendo segundos depois. Se segura,
Khaillane. Vocês não têm intimidade! — Desculpe.
— Tudo bem. Vai querer pedir agora, ou depois?
— Por mim tanto faz. — Quero comer agora, mas vou fazer a lady, educada.
— Ok... trabalha?— Pergunta apoiando o cotovelo sobre a mesa, brincando
com o próprio maxilar.
— Ah... sou estudante de jornalismo. — Minto, sorrindo de leve e ele assente
desviando seu olhar do meu, voltando segundos depois.
Seus olhos safiras me encaram com curiosidade, quase me fazendo questionar
o que o fazia ser tão fechado. Os próprios olhos deduravam que por detrás
deles, havia muito mais do que aparentava. As sobrancelhas pretas franzidas
dão um charme maior para seu rosto, assim como o corte de seu maxilar
quadrado. Contudo, os cabelos pretos são o que mais atraíram minha atenção,
jogados de forma elaborada para o lado, deixando uma mecha na diagonal do
rosto. Quase cobrindo parte de seu olho direito.
— Se continuar me olhando assim, não responderei pelos meus atos! —
Sussurra com um sorriso de canto, sugestivo, e rio, sentindo as bochechas
queimando em vergonha. Flagrada!
— O que o fez aceitar sair hoje, comigo?— Indago com curiosidade. Ele
passa a língua pelo lábio inferior, mordendoo em seguida. Os olhos
desencontram dos meus e me sinto mortificada, quando seus olhos encaram a
fenda do meu vestido, completamente sem hesitação.
— Você mencionou que achava que minha vida era mais interessante. —
Começa voltando a olhar em meus olhos. — Meus amigos mais próximos,
acredito que sejam os únicos que tenho, costumam dizer que sou sincero. Às
vezes até demais. — Conta e assinto pegando a taça com água, levando-a até
a boca. — E a resposta para sua outra pergunta, é que eu quero você. —
Anuncia e arregalo os olhos, a garganta fechando. Afasto a taça do rosto,
agradecendo por não ter cuspido o líquido.— Nua.
— Como?— Pigarreio, tocando meu peito.
— Você me causa curiosidade. E não vamos ser ilusórios. Quero você hoje à
noite, na minha cama. — Conclui e é minha vez de arquear as sobrancelhas.
— Você é bem direto. — Murmuro, sem ter o que dizer e encaro o talher de
peixe ao lado do meu prato.
— Não imagina o quanto. — Ressoa e levanto os olhos, encarando a
imensidão ilegível que era seu olhar. Ilegível era uma boa palavra para
descrever Jaime. Desde o momento em que nos encontramos, ele tem apenas
a aparência séria, risonho ou malicioso. Em momento algum transparecendo
algo na postura e olhar. O homem, de fato, era uma incógnita, um mistério
que eu estava, até certo ponto, curiosa, deixando de lado o motivo pelo qual
eu estava ali. Disponibilizando minha toda e total insólita curiosidade. Eu
costumava me sentir atraída por homens problemáticos e misteriosos. Talvez
tivesse herdado de mocinhas de livros clichês, onde se apaixonavam pelo
protagonista com passado sombrio e caráter duvidoso. E, aparentemente,
estava de frente para um típico clichê, jantando.
O jantar desenrolou-se de forma agradável, com alguns flertes de ambas as
partes. Sim, inacreditável da minha parte, huh? Muito profissional, Khaillane!
Meu subconsciente debocha de mim. Balanço a taça de cristal, vendo o
líquido amarelado do vinho branco e a levo a boca, bebendo um breve gole
antes de a deixar sobre a mesa. Encontro com seus olhos novamente, não
sendo retribuída, já que ele estava mais que ocupado conferindo a fenda de
meu vestido. Preciso me lembrar de não usar mais esses vestidos que comprei
no segundo ano de faculdade, estavam realmente alguns números menores
que o indicado para um jantar.
Não me recordava quantas taças de vinho haviam sido. Aquela seria a
primeira, ou terceira? Não importava, apenas importava que eu estava solta e
relaxada com o álcool em meu organismo, ao ponto de não me incomodar
com seu olhar descarado. Não que eu estivesse bêbada. Ainda faltava muito
para que acontecesse. Graças ao curto período quando era caloura em festas
na república. Um porre era mais complexo de se acontecer, após muitos
sofrimentos com a ressaca no dia seguinte.
— Com licença, vou ao banheiro. — Aviso passando as mãos no colo,
alinhando o vestido ao corpo. Ele assente e então me levanto, girando sobre
as agulhas do salto. Havia me esquecido a facilidade que era caminhar com
saltos com a ajuda do álcool. Era menos incômodo e relaxante, ao menos para
mim. Tracei o caminho até o indicado pela recepcionista e alcancei o
banheiro luxuoso e cheiroso.
Jaime
Qual era meu problema? Estava parecendo um adolescente que não consegue
conter os hormônios! Poderia culpar a bebida, certo? Seria menos
constrangedor, ao menos. Porém, o assunto em questão estava mais que
evidente em minha calça jeans escura. Era um lindo par de seios. Mais o que
eu estou dizendo? Quem usa essa expressão? Sopro com frustração ao sentir
o vibrar do celular em meu bolso e o alcanço, vendo se tratar de Victor, que
avisa estar saindo e só volta pela manhã. Menos mal.
Nesses últimos anos, seis para ser exato, sexo tem sido sem importância,
coisa que para mim, tinha significado, contexto. Era algo complexo em
minha realidade da época, baseando-se apenas de sentimentalismo.
Entretanto, por que levar algo tão íntimo à sério, se a quem você deu sua
confiança e coração não ligava? Então, venho me divertindo com meus
parceiros, Aidren e Simon. Sexo sem compromisso, sempre. Lidando com
meus problemas sozinho. Ninguém entende suas dores mais que você
mesmo. Então, superar, cabe a você, sozinho, consigo mesmo. Adotando a
vida dos meus amigos, caçando a distração da noite que mais me atraísse. E
sempre conseguia o que quisesse, quem quisesse. Que a verdade seja dita. O
fato de ter um nome conhecido fazia calcinhas caírem. Bem assim, minha
aparência favorecia.
E a garota morena de olhinhos especuladores no banheiro, está mais que
aprovada para me distrair o resto da noite. Khai é linda, não se dá para negar,
mas não mentirei que minha decepção ao saber que está prestes a fazer parte
da multidão podre empresarial bateu com força. No entanto, bastou olhar
novamente para a fenda de seu vestido abraçando o corpo curvilíneo que
minha vontade de tirar aquele pano provocante voltou depressa.
Meneio o aparelho até o ouvido simulando uma ligação e essa é minha deixa
para seguir em direção aos sanitários. Confiro se não vem ninguém no
corredor, guardando o celular e ouso pegar na maçaneta, entrando no
banheiro claro e bem estruturado, feminino. Encaro Khai apoiada no
mármore branco da pia movendo a cabeça de forma que alongasse os
músculos do pescoço e cruzo o único espaço que restava entre nós, parando
atrás do corpo bem marcado no vestido justo de cor preta.
Capítulo 4
Khai
— Deixa de ser bobo!— Rio, empurrando seu ombro, enquanto
caminhávamos para fora do restaurante pelos fundos.
— Estou falando. A culpa foi toda sua.— Provoca e mordo o lábio inferior,
me segurando para não rir.— Lidou muito bem com a situação, já passou por
isso antes?
☆
— Jhonnie parece não ter gostado de mim.— Diz Jaime, cortando cebola.
Jaime
— Hmm... — Um gemido em apreciação deixa seus lábios, de olhos
fechados e cenho franzido, enquanto tenho a colher em sua boca.
— Vou te prender nessa cozinha e não vou te deixar sair, jamais! — Exagera
e rio, deixando a colher sobre a pia. Seguro sua cintura com a mão direita,
subindo a esquerda até seu rosto, limpando o mínimo vestígio do molho em
seu lábio inferior com o polegar, levando-o aos lábios.
Travo o maxilar, repreendendo meu olhar, que desce descaradamente por seu
rosto, encarando os lábios rosados, naturais, passando pela garganta e
alcançando o vale entre seus seios. Muito bem gravados em minha memória.
Realçados pela rigidez de seus mamilos, pela primeira vez, aparentando estar
sem a peça íntima. O tecido preto fino do algodão contorna suas curvas, se
tornando estupidamente desnecessário e empata. Meu polegar em sua cintura,
inquieto, se mexia em círculos imaginários, traçando a barra da blusinha de
alças finas, tocando sua pele quente em brasa, implorando para a despir ali
mesmo.
— Céus, como quero te foder agora. — Suspiro contra seu ouvido. Encontro
com seus olhos desejosos, lábios entreabertos, inchados, e a respiração tão
desregulada quanto a minha.
Capítulo 5
— Ficou muito bom! — Jhonnie elogia, me olhando por cima do prato a sua
frente. Sorrio agradecido para ele e busco amenizar o clima que ficou após
minha recusa a responder as perguntas de Khai. Não é como se eu confiasse
nela, ou como se fosse um assunto que eu costumava tocar muito. Era apenas
algo que eu preferia esquecer, superar. Sozinho. E a conheci ontem, apesar do
que sinto, em relação a poder a confiar nela, não sei se devo. Para falar a
verdade, eu nem devia estar aqui. Me afastado seria o mais indicado. Seguro,
para ela.
— Aposto que tem muitos amigos. — Sorrio para ele, que olha para Khai e
depois para mim novamente. Então, nega com a cabeça.
— As pessoas não gostam de mim.
— Por que?
— Porque acham que eu quero a atenção dos professores
só para mim. — Sorri tristonho, voltando a encarar seu prato. Olho para Khai
que encara o irmão e respira fundo antes de dizer qualquer coisa.
— Não é que elas não gostam de você, Jou. Elas nem ao
Khai
— Você... precisa ir. — Resfolego, tentando acalmar minha respiração. Os
olhos safiras brilham, contendo uma sombra nas írises e eu sabia bem o
porquê de estarem naquela tonalidade, escuras.
— Jaime... Não quero que se atrase por minha causa. — Sibilo, apertando seu
ombro, mantendo-me afastada, suficientemente. Torce o rosto em uma careta
frustrada, escorregando os dedos em minhas coxas, envolvendo a virilha com
os mesmos. Arquejo, tentando disfarçar o quanto aquilo me afetou.
— Por mais que seja uma tentação e tanto, eu não posso ir a diante com isso.
— Sussurro e ele me encara por alguns segundos, com a curiosidade e
confusão tomando a frente de seu semblante. — Você quer sexo casual e eu
não estou mais disposta e aberta a esse estilo de vida.
Seus dedos afrouxam o aperto em minhas coxas próximo à virilha. Supondo
que ele havia entendido, movi-me com cuidado, levantando de seu colo e
colocando-me no acento de couro marrom. O olho por mais alguns segundos,
vendo que sua expressão não era a das mais pacíficas. Penso em dizer ao
menos tchau antes de sair do carro, mas a única coisa que deixa minha boca,
é um rápido agradecimento pela carona. Alcanço a calçada, com passos
lentos para chegar à porta, algo em mim torcendo para que me chamasse,
como fez na noite passada. Decepciono-me quando entro no saguão do prédio
e o som do carro nasce com o ato de dar partida.
— Queira me desculpar, senhor, mas não o dei liberdade para me tratar pelo
primeiro nome.— Cerro os olhos e ele tem uma expressão surpresa,
engolindo toda sua arrogância ao se tratar com Khai. — Já trouxe o menino,
agora pode ir.
— Não que seja da sua conta, colega. Mas somos amigos e eu não gosto nada
de ouvir meus amigos sendo agredidos verbalmente, apenas assistindo.
Queira se retirar, por gentileza. — Peço em um fio de paciência. Ele é muita
porcaria para que eu me rebaixe ao nível de agredi-lo fisicamente, sem contar
que poderia dificultar a vida de Khai com o irmão e não quero isso. De jeito
algum!
O tal Steven sorri torto, se virando e some pelo corredor. Khai suspira
longamente, empurrando a porta para que se fechasse e se vira para mim.
Khai
— Não. — Respondo pela milésima vez. Tem alguns minutos que Steven
chegou ao meu apartamento e está tentando levar Jhonnie para a tal aula de
piano. O imbecil se mantém insistente, mas por algum motivo desconhecido
por mim, ele simplesmente está calmo, como se não se irritasse como todas
as outras vezes em que eu o impedi de levar meu irmão. Sua expressão
risonha, debochada, me causava tédio e um leve calafrio na espinha. Era
desconfortável, muito desconfortável estar diante de um cara que se expresse
de forma tão grotesca. — Jhonnie, vamos! — Altera a voz e mantenho-me
parada a sua frente, braços cruzados acima do peito, queixo erguido.
— Chame o quanto quiser, ele não sairá do quarto ao menos que eu o diga. Já
chega por hoje, Steven. — Cerro os olhos, vendo um brilho maldoso passar
rapidamente em seus olhos, o fazendo alongar o sorriso imundo.
Tem algumas horas desde que a polícia se foi levando Steven, preso em
flagrante por invasão de domicilio e tentativa de assédio. Acabamos de
chegar da delegacia, onde eu e Jaime prestamos queixa e depoimento e agora
era apenas esperar que a justiça faça sua parte. Na saída da delegacia, haviam
diversos jornalistas que nos encheram de perguntas e Jaime apenas puxou a
mim e Jou para seu carro, ignorando as pessoas curiosas e ansiosas por uma
matéria.
Logo mais, assim que chegamos, Jhonnie ligou a televisão para assistir a
qualquer canal, quando avisou que estávamos no canal de noticiário. A
legenda foi surpreendente. Diziam que Jaime e sua mais nova conquista
foram vistos saindo da delegacia, acompanhados por uma criança.
Capítulo 7
Jaime
Khai deixa de me encarar, pegando o prato com o sanduíche do irmão e me
deixa sozinho na cozinha.
Ao mesmo tempo em que meu lado consciente abre mão de tentar algo com
ela, o outro lado aperta na mesma tecla, pressionando, insistindo que em
algum momento ela cederia. Estava ciente do que ela queria, buscava, pelas
suas palavras desde que nos conhecemos e também sabia que eu não poderia
a proporcionar isso. Eu quero apenas sexo com ela e como já disse, eu tentar
a oferecer algo por interesse não é o suficiente. Nada parece ser suficiente.
Merda Jaime, o que você está fazendo aqui? Resmungo.
Giro sobre os calcanhares, andando até a saída da cozinha, pronto para uma
breve despedida. Seria o melhor a se fazer. Travo os passos, enrijecendo o
corpo quando trombo em algo, ou melhor, alguém e por reflexo, envolvo sua
cintura, a mantendo em pé. Sopra sua respiração com dificuldade, erguendo
os olhos amendoados para os meus, entreabrindo os lábios. Trinco o maxilar,
dividindo meu olhar entre sua boca e os olhos surpresos, nervosos.
— Desculpe... — Sussurro. — Estava indo me despedir. — Já?— Ofega,
segurando em meus antebraços, parecendo não confiar em suas pernas. Passo
a língua demoradamente sobre os lábios, tentado a descer meu rosto ao seu.
Assinto, alcançando a fina mecha de seus longos cabelos castanhos,
afastando-a de sua face direita e raspo o polegar suavemente na maçã de seu
rosto. Por uma pequena fração de segundos, arrisco em dizer que consegui
sentir os batimentos acelerados de seu coração, mas agora, noto ser o meu,
disparado. — É a última vez. — Sibila em um som quase inaudível,
segurando em minha nuca, puxando meu rosto contra o seu.
Mordo seus lábios, apertando-a ainda mais contra mim, pedindo passagem
com minha língua. Khai geme em minha boca, adentrando os dedos em meus
cabelos, os puxando e emaranhando-os. Grunho baixo, traçando sua pele
coberta pela camiseta, agarrando os globos cheios em cima do jeans,
apertando-os com força. Ronrona, descendo os dedos por minhas costas,
arrastando as unhas e a encosto contra a parede mais próxima.
Ora ou outra, seus seios roçam em meu peito, me causando uma agonia
gostosa, fazendo todo o sangue do corpo descer para meu pau preso nas
calças, enrijecendo-o. Suspiro em meio ao seu beijo viciante, lambendo seus
lábios e largo uma nádega, alcançando seu rosto, segurando-o. Quase perco o
controle quando mordo sua bochecha, sugando-a e a lambendo em seguida,
esfregando meu eixo em sua pélvis. Ela geme baixinho, abraçando-me pelos
ombros. Puxo suas coxas, obrigando-a a me abraçar pelos quadris, fazendo
uma fricção em nossos centros.
Escorrego o rosto para seu pescoço, deixando um rápido chupão, alcançando
seu ouvido.
— Eu quero te chupar, agora. — Rosno, segurando seu lóbulo entre os
dentes. Ela geme, cravando as unhas em minhas clavículas, apertando as
pernas ao meu redor. — Bem aqui, contra essa parede.
— Jaime... — Tenta dizer algo, mas apenas me aperta com mais força contra
seu peito, arrastando as unhas em meus ombros. Giro no ar, colocando-a
sentada sobre a mesa, apertando sua cintura fina. Volto-me para sua boca,
chupando-a como se fosse o doce preferido, movido pela excitação e tensão
sexual que o nos envolvia. Khai e eu tínhamos sincronia, nos encaixávamos
perfeitamente, não podia negar. Chegava a ser tortura o modo como seu gosto
não saía da minha memória.
Afasto meus quadris dos seus, rolando o polegar direito até o cós de seu short
jeans escuro e solto os botões que o mantinha fechado. Suas mãos apertam
meus cabelos na nuca, tomando a frente de como nos moveríamos,
adentrando sua língua em minha boca, reivindicando posse da situação.
Escorrego os dedos por sua pélvis coberta pelo tecido rendado da calcinha,
raspando a ponta dos mesmos no monte úmido. Geme baixinho apertando as
pernas ao meu redor, movendo os quadris em um rebolado lento.
Fricciono seu ponto sensível, esfregando-o e desfaço-me de sua boca,
descendo para o pescoço. Ela arranha sem dó minhas costas, mordendo a
curva do meu pescoço.
— Khai! — Afasto o rosto de sua pele cheirosa, quando a voz de Jhonnie soa
em advertência atrás de mim. Khai puxa uma respiração tensa, descendo da
mesa, abotoando o short. Prendo os lábios entre os dentes, repreendendo-me
por ter esquecido da criança.
— A quanto tempo está aí?
— Você e ele são namorados?— Pergunta segundos depois em silêncio,
ignorando a pergunta da irmã. Olho para Khai que está corada, boca inchada
e os olhos ainda escuros. Ela me olha por uma pequena fração de segundo,
voltando a encarar o irmão.
— Não. — Responde, hesitante.
— Então por que...
— Jou, vamos conversar lá na sala, sim?— Diz, interrompendo o garoto. Me
olha segundos após os passos do garoto se afastarem. — Já volto.
— Acho melhor eu... ir embora. — Suspiro, apoiando a palma da mão na
madeira da mesa, tentando fazer o problema em questão brochar.
— De jeito algum! — Cerra os olhos, me surpreendendo quando traz a mão
direita para meu pau sobre o jeans, tateando-o e o segurando com firmeza em
seguida.— Você provocou, se não vai comer não tempere.— Aperta meu pau
um pouco mais forte, me fazendo inspirar com força, prendendo o ar,
sentindo todo meu sangue concentrado naquela região. — Fui clara?
Assinto, mordendo o maxilar, extasiado. Ela aproxima o rosto do meu,
deixando um rápido selinho e então me solta, se afastando. Mulher maldita!
Minha ereção não sedia e tudo piorava quando me lembrava da prensa que
levei após sugerir ir embora. Essa garota estava me fodendo à seco, cru, e eu
estava gostando. Essa era a pior parte em assumir isso. Estava feito um
submisso, adorando os estímulos e provocações.
Passei a chave na porta, voltando a atenção para seu corpo, puxando o zíper
de seu moletom, empurrando a blusa por seus ombros, tirando com sua ajuda.
Mordo seus lábios, puxando as pernas para cruzarem ao meu redor, andando
até sua cama de solteiro. Agarra minha camisa, tirando-a de meu corpo pela
cabeça. Ofega, impulsionando o corpo, invertendo nossas posições, sentando
em meu colo.
Aperto suas coxas, empurrando os dedos pela pele exposta, erguendo o tecido
do vestido que tomou o lugar da roupa casual após seu banho, agarrado em
suas curvas. Para de me beijar, erguendo o corpo, empurrando meu peito,
mantendo-me deitado e move os quadris, rebolando, rolando as pontas dos
dedos finos por meu torço. Franzo o cenho, entreabrindo a boca quase em
êxtase, vendo-a se mover lentamente e jogar os cabelos para trás.
Ao chegar no cós da minha calça, soltou o botão, descendo o zíper, sem
desviar os olhos dos meus. Mordeu o canto dos lábios, reprimindo o sorriso
safado e ergueu o corpo, puxando o jeans e a cueca. Após se livrar dos panos,
retornou para a posição em que estava, se livrando sozinha do vestido justo.
Salivo, molhando os lábios secos, admirando o corpo curvilíneo sobre mim.
Khai sorri satisfeita, nua, linda, sentada em cima do seu objeto. Volta a se
debruçar em meu peito, roçando os bicos dos seios em mim
propositadamente, se demorando em um beijo lento, provocativo, sem língua.
Assisto seu rosto virar para a mesa de cabeceira, abrindo a gaveta e tirando de
lá uma camisinha.
Em silêncio, a deixo ir no ritmo que quiser, esperando o processo de abertura
da embalagem e o revestimento em meu pau rígido, dolorido. Aliso a pele de
suas coxas, prendendo a respiração quando meneia meu eixo, esfregando-o
em sua boceta, procurando pela vúlva.
Travo o maxilar, soltando o ar com força, tentando me controlar para não
gozar apenas com o movimento de sua sentada lenta e torturante. Começa a
subir e descer devagar, apoiada em meu peito, espremendo meu comprimento
com sua entrada. Gemo, segurando a parte debaixo de suas pernas, atrás dos
joelhos, apoiando os pés em seu colchão, erguendo os quadris contra seus
movimentos. Empurrando e puxando com mais força. Khai tapa a boca,
gemendo abafado, segurando os cabelos para trás.
Debruça em meu peito outra vez, me deixando assumir a frente, empinando a
bunda. Levanto a cabeça, buscando por seus seios que balançam com nossos
movimentos, prendendo um dos mamilos entre os dentes, chupando-o.
Viro-a na cama, segurando suas bochechas e volto a penetrá-la, socando com
força até o fundo, puxando e tornando a empurrar. Moo sua entrada,
esfregando o clitóris sob seus gemidos que soavam livres e em agonia.
Grunhi, sentindo-a me apertar, enquanto sacudia seu corpo com as investidas,
gozando e arranhando meus braços.
— Gostosa! — Urro, deixando um tapa na lateral de sua coxa esquerda,
saindo de seu interior. Saio da cama, puxandoa para a beirada e me abaixo,
lambendo seus lábios, chupandoos em seguida. Lamenta, rebolando contra
meu rosto, agarrando em meus cabelos. Movo a cabeça de um lado para o
outro rapidamente, segurando seu clitóris com os dentes.
— Não para! — Resfolega entre os dentes, arqueando o corpo, tremendo e
geme pouca coisa mais alto, me entregando seu segundo orgasmo. Chupo-a
por mais alguns segundos, deixando uma palmada em seu centro, voltando a
me posicionar em sua entrada. Invado seu corpo, metendo até o talo,
curvando o corpo sobre o seu.
— Vou te foder a madrugada toda. — Prometo em um murmúrio
enrouquecido baixo, não abandonando os movimentos dos meus quadris.
Khai
— Você precisa ir! — Resmungo, sendo prensada contra a parede do lado de
fora do meu apartamento, enquanto Jaime me beijava.
— Bom dia. — Murmuro, entrando na cozinha com cheiro bom, vendo Jaime
despejar um líquido na frigideira.
— Bom dia, dormiu bem?— Pergunta sorrindo para mim. Cruza o espaço
que nos separa, deixando um selinho rápido e retorna para sua função no
fogão.
— Sim e você?— Sento-me em uma cadeira da mesa, o assistindo se mexer
com leveza pela minúscula cozinha. Familiarizado com o ambiente.
— Não tão bem quanto acordar e ver você dormindo. — Pisca para mim e rio
curiosa com o que ele estava fazendo. Alguns segundos após ajeitar o
conteúdo na panela, o jogou para cima, pegando-o novamente com a
frigideira e noto ser panquecas.
— Hmm... panquecas. — Ronrono e ele ri, colocando-a em um prato repleto
de outras, estendendo-o em minha direção.
— Achei que seria uma boa e saí para comprar os ingredientes mais cedo.
— O quê? Por que? Eu tenho as coisas...
— Essa panqueca é diferente. Receita de família, então não tente discutir
dizendo que tem as coisas, porque não tem. — Arqueia a sobrancelha
esquerda em minha direção, desligando o fogo e vai até minha geladeira.
— Esse mel tem canela e menta, com panquecas fica espetacular! — Garante,
trazendo uma pequena jarra de vidro com o conteúdo citado. Corta um
pedaço da panqueca, trazendo-o no prato a minha frente e despeja o mel.
Espeta-o com um garfo e traz a minha boca. Fecho os olhos com o gosto
maravilhoso na boca, não encontrando com o paladar o que diferencia a
panqueca da normal. Gemo em apreciação e abro os olhos, o vendo me
encarar esperançoso.
— Magnífico! — Elogio e ele sorri se gabando. Rio e ele mela o canto da
minha boca com o garfo. — Jaime!
— Oh, como sou desastrado! Vou ter que te ajudar a limpar... — Resmunga,
forçando a voz em descrença e rio deixando um tapa em seu antebraço, o
vendo se curvar em minha direção. Lambe a curva dos cantos dos meus
lábios descaradamente e prende o inferior entre os dentes, puxando meu
rosto. Rapidamente nos afastamos do beijo quando ouvimos Jou entrar na
cozinha, sonolento, com seu pijama ilustrado.
— Hm, bom dia Jou. — Murmuro recompondo-me e ele me olha pela
primeira vez, com o rosto amassado de sono e sorri de leve.
— Bom dia, Khai, Jaime. — Diz baixinho, se sentando à mesa.
— Gosta de panquecas, Jhonnie?— Pergunta Jaime, já servindo Jou, que
levanta o olhar arregalando os olhos e assente. Passo a língua sobre o lábio
inferior, o prendendo entre os dentes e assisto Jhonnie comer, parecendo em
êxtase com o gosto da panqueca.
Não sei dizer, mas é uma sensação horrível de prepotência vê-lo nessa
situação, confinado a mim, por não ter tido a chance de crescer junto dos pais
que teriam mais condições de cuidar dele, do que eu, uma simples faxineira
com um salário mínimo por mês, gasto com contas e o necessário para
sobreviver. Certo, foi por escolher estar comigo, mas o pai não se opôs a
decisão e nunca se mostrou presente na vida do pequeno. A mínima pensão
mixuruca que paga é depositada todo mês em sua conta, que eu decidi não
mexer, para o dar a chance de estudar o que quisesse quando atingisse a
maturidade. Sei que disso eu jamais vou pode me arrepender. Jamais me
arrependerei da escolha que fiz, de estar o dando a chance de ter um futuro
melhor do que eu poderia lhe oferecer com meu custo de vida baixo.
Amo Jhonnie como minha vida, mais que tudo. E é por ele que estou de pé,
lutando por uma vida melhor.
Capítulo 8
Jaime
— Tchau, Jou. — Digo, passando por ele jogado no sofá. — Tchau, Jay. —
Responde com um sorriso agradecido. Khai me acompanha até o lado de fora
do apartamento, onde fecha a porta e se vira para mim de braços cruzados e
um sorriso surpreso.
— Em que momento vocês ficaram amigos?— Questi
ona.
— Após o café, quando ficamos sozinhos na sala. Você
me abandonou e então ele me fez companhia.
— Esse seu lado dramático é novo para mim. — Comenta
divertida e rio puxando-a pela cintura para mais perto, descendo meu rosto de
encontro ao seu. — Cuidado.
— Só vou quebrar alguns ossos, coisa pouca, não se preocupe. — Zombo e
ela me encara, entediada.
— Estou falando sério. Quero que esteja inteiro amanhã.
— Ajeita minha camiseta preta e sobe os olhos para os meus. — O que tem
amanhã?— Pergunto já sabendo, mas querendo que as palavras saíssem da
sua boca. Ela sorri mordendo
o lábio inferior, movendo os quadris contra minhas calças. — Uma pré-
comemoração pelo seu troféu.— Sussurra,
batendo os cílios.
— Hmm... me parece sugestivo. — Beijo sua bochecha. — Talvez seja. —
Balança a cabeça em concordância e
passa os braços por meus ombros, envolvendo meu pescoço. — Vou deixar
seus ingressos com Victor, ele virá buscálos. — Aviso e ela assente,
levantando os pés para alcançar
meu rosto. Entrelaço meus dedos em seus cabelos soltos, mordendo os lábios
rosados e ingressando em um beijo quente demais para uma despedida
rápida.
Huh, pelo menos era para ter sido uma despedida rápida.
Khai
— Oi, como foi?— Pergunto, ouvindo um barulho de vozes e música.
— Ooh messss-mo. — Sua voz soa arrastada e risonha. Deixo o travesseiro
sobre a cama, pegando o aparelho.
— Está bêbado?— Indago, cautelosa e espero por sua resposta.
— Talvez.— Ri baixinho e suspiro.— Queria ouvir sua voz.
Sorrio pequeno e mordo o lábio inferior. É errado me sentir feliz por ele
lembrar de mim bêbado? Se for, podem me julgar! Estou adorando, amando.
Talvez eu não devesse criar expectativas, ele irá embora um dia após o jogo,
o que significa, que ele irá embora em dois dias. Sem previsão para voltar.
Temos uma sincronia boa, no sentido sexual, mas não passa disso. Quer
dizer, homens como ele, não se envolveriam afetuosamente com pessoas
como eu. Nós, de classe social baixa, que cede sexo quando ele busca, somos
e sempre seremos, um escape, um tira gosto, até conhecerem uma mulher
rica, de boa família, bem-sucedida e com uma imagem formada na mídia. E
bem, eu não era nada. Não passava de uma faxineira de quinta que seria
demitida em poucos dias por ainda não ter o convencido a gravar a entrevista.
Mais conhecida que posso ser, é pelo padeiro na padaria a duas quadras
daqui. Se eu virasse uma maníaca do pão, assaltando a padaria, na certa seria
pega entrando no meu prédio.
— Está com quem aí?
— O time e...— Enrola um pouco antes de completar sua resposta:— a
gestão e umas garotas. O que está vestindo?
— Garotas é?— Implico, ignorando a pergunta idiota.
— Queria estar com você.— Resmunga e sopro um riso.— Sabe, eu não sei o
que ela fez comigo, mas eu não paro de pensar nela.
— Nela?— Indago, sentindo meu sorriso sumir aos poucos.
— Sim, a baixinha de um metro e sessenta e sete. Ela tem um sorriso bonito.
Hoje meus amigos e eu discutimos por causa dela. — Conta e emito um som
em concordância.— Eles acham que por eu estar com ela mais de uma noite
vai dar ruim, que ela é interesseira como as exs deles.
— E o que você acha?
— Não conta para ela.— Pede em tom de confidencia.— Ela é a única que
confio. — Sorrio.— Eu posso te pedir uma coisa?— Murmura com a voz
arrastada. Concordo e ele prossegue:— Não deixe que eu me apaixonar por
ela. Eu não suportaria a perder.
— Por que acha que a perderia?— Questiono.
— Por que ela é perfeita demais para mim, cum! — Franzo o cenho, não
entendendo a última palavra. — Penso che mi sto innamorando.
— Jaime, não estou entendendo.
— Khai! Achei que estava falando com Lexie. — Exaspera e gargalha em
seguida. Posso ouvir algumas vozes no fundo e Jaime resmunga algo.
— Oi, desculpe. Perdemos o bêbado de vista por alguns minutos. — Pede um
homem do outro lado da linha.
— Olá, como ele está?— Pergunto, preocupada, deixando a toalha estendida
nas costas da cadeira.
— Só um pouco... bêbado. Parece que alguém é o motivo da bebedeira dele.
Suponho ser você.
— Desculpe, com quem eu falo?
— Aidren, amigo. E você deve ser Khai, a mulher que roubou nosso
Hastings. Darei um breve aviso, não o machuque. Ele tem um time inteiro
que faria de tudo para vê-lo bem. — Franzo o cenho, coçando minha cabeça.
— Não pretendo o machucar, garanto.
— Assim espero. — Frisa e ouço Jaime gritar próximo ao telefone algo em
outra língua. — Chega por hoje, italiano de merda! Até mais, Khai.
Diz por fim e encerra a ligação. O que foi que acabou de acontecer?
Jaime
Resmungo ao abrir os olhos, encarando a claridade que doía a vista e a
cabeça. Mexo-me na cama e dou um salto de susto ao ver Connor sentado na
poltrona ao lado. Merda!
— Que porra, o que faz aqui?— Inquiro, cobrindo o rosto pela dor de cabeça
insuportável. Preciso me lembrar de não beber tanto.
— Ontem depois que você encheu a cara, tirei o celular de você, que falava
em italiano com a tal de Khai. — Aponta. Franzo o cenho, o encarando, não
me lembrando do acontecido. Impossível, rio com esse pensamento.
Olho para os dois lugares que reservei para Khai e Jhonnie entre as outras
pessoas e a vejo, linda, com os cabelos soltos caídos nos ombros cobertos
pela camiseta do time. Jhonnie ao seu lado, com os olhos curiosos, observa
tudo, comendo pipoca. Suspiro longamente e sigo os caras, entrando no
campo marcado com as divisões de jardas. Olho na direção dela e a mesma
sorri para mim. Toco meu peito, onde o número meia nove se inicia,
estendendo pela camisa e aponto em sua direção. Um sorriso cúmplice
curvando meus lábios. Aquele número, naquele momento, tinha mais
significado, que de fato tinha. E eu mal podia esperar pelo fim da noite.
Khai
Tudo acontece muito rápido. Quando vejo, Jaime está com a bola que o foi
passada, arremessando para sua diagonal e pula em cima do adversário logo a
frente.
Capítulo 9
— Touchdooooown!— O narrador berra através das diversas saídas de som
espalhadas pelo estádio, enquanto a maioria das pessoas ao meu redor
gritavam em comemoração com mais um touchdown feito pelo número oito,
após um passe de Jaime.
— Dois pontos, Jaime, você consegue! — Afirma Victor ao meu lado para si
mesmo, vidrado no jogo.
Volto a encarar o campo gramado e busco por Jaime, que está com posse da
bola, com os diversos jogadores se jogando para cima dele. Tenta se livrar do
objeto, jogando-o para seu parceiro mais afastado e parte da marcação se vai.
Então corre em direção a endzone, ainda sendo marcado, quando a bola é
arremessada novamente para ele. Mas, antes que a bola o alcançasse, um dos
adversários agarrou Jaime o tirando da direção da bola, fazendo com que o
árbitro jogasse uma bandeira amarela no campo pela falta. Victor soca o ar
exasperando algo em comemoração e acredito ser algo bom.
Definitivamente, preciso aprender sobre futebol.
— Não está entendendo, não é?— Victor ri, negando com um aceno. Encolho
os ombros e balanço a cabeça. — A falta foi cometida pela interferência no
passe da bola e ele está muito próximo da endzone, com um passe, um
touchdown, ou um Face Mask, ele bate o recorde.
Suavizo minha expressão, agora entendendo. Abençoado seja Victor!
Assisto os jogadores se posicionando, faltando poucos minutos para o fim da
partida. O árbitro libera a bola e em um passe rápido, passa o objeto oval para
trás. Jaime marca um dos jogadores, o impedindo que vá atrás do seu parceiro
e o homem de camisa número trinta e nove consegue alcançar a endzone com
a posse de bola. Os minutos vão correndo e não sei necessariamente em que
momento Jaime alcançou a pontuação desejada, já que Victor, como todos os
outros torcedores do Arizona, levantaram gritando e exasperando
comemorações a plenos pulmões. A bola é passada para Jaime e seu parceiro
empurra com o ombro, dois dos adversários em sua frente, liberando a
passagem, que logo é aproveitada e Jaime consegue alcançar a linha de trinta
e cinco jardas, fazendo um kickoff. Antes de recuperar a bola, passando-a
para a defesa, que sai em disparada para a endzone, a alcançando com
sucesso.
O fim da partida é anunciado e sorrio acompanhando dois dos jogadores
pularem em cima dele em comemoração.
Após uma longa, mas breve, comemoração, Jaime se levanta com a ajuda dos
amigos tirando o capacete e se vira para a arquibancada, removendo o
protetor da boca, caindo de joelhos. Abaixa a cabeça, deixando as mãos soltas
sobre o gramado como se agradecesse a algo, ou alguém. Levanta a cabeça e
seus olhos se abrem, vindo de encontro diretamente para mim. Envolvidos
em um mundo somente nosso, ele sorri para mim sinceramente, fazendo um
símbolo de cruz no peito, sob o coração e levanta o polegar para mim. Sorrio
feliz com sua conquista, feliz em vê-lo bem e tão expressivo.
Seus olhos claros e transparecendo emoções, marejados, se desviam do meu
pela primeira vez e sigo seu olhar, vendo uma garota loura correndo até ele,
que abre um sorriso maior ainda, se levantando e agarra a garota no ar,
girando-a. Sinto meu sorriso sumir aos poucos, incomodada com o longo
abraço sem fim, não sabendo qual a ligação dos dois. Droga! Por que estou
me chateando por conta de um abraço? É só um abraço! Abraço em uma
garota linda... a voz em minha mente acrescenta. Resmungo, desgostosa com
o que vejo, não sabendo lidar com a sensação estranha no meu peito.
— Lexie, melhor amiga dele. — Anuncia Victor e o olho, vendo-o me
assistir, risonho. — Não precisa ter ciúmes.
— Eu não... não tenho ciúmes. — Afirmo, negando com a cabeça. Eu não
tenho ciúmes, não mesmo!
Ele ri e nega com a cabeça.
— Claro que não.
☆
— Shii... estou bem. Não sabe o quanto eu queria fazer isso. — Sussurra. Me
encara com o maxilar trincado, os olhos brilhando mais que em qualquer
momento que eu tivesse tido a chance de ver. Podendo ser confundido
facilmente com safiras que acabara de serem lapidadas. Mordo o lábio
inferior e sorrio.
— Não sabe o quanto você merece a mais que um beijo. — Ele curva os
lábios com malícia, me colocando no chão.
— Vale mais que quatorze mil e quinhentas jardas e quatrocentos e vinte e
cinco touchdowns? — Pergunta, tocando meu rosto com as pontas dos dedos
e afasta meus cabelos.
— Quem tem que decidir isso é você. — Aponto e ele ri, selando minha
boca, afastando-se por um chamado.
— Desculpe atrapalhar, mas a imprensa quer dar uma palavrinha com você.
— Avisa a tal Lexie, vindo até nós. Sinto os ombros de Jaime ficando rígidos
e seu descontentamento fica mais que evidente. Acompanho seu humor
mudando rapidamente, deixando o riso libidinoso de lado, tensionando e
travando o maxilar.
— Mande todos para o inferno. — Range os dentes e volta seu olhar para
mim. Franzo o cenho e vejo Lexie revirar os olhos, se afastando. Ela vai de
encontro a dois homens. Os amigos de Jaime, Aidren e Simon.
— Por que isso?— Indago, ainda encarando Lexie falando com os dois
amigos.
— Você não sabe quão podre é a imprensa e seus métodos para conseguir
matérias, ou melhor, fofocas sobre as pessoas. — Profere sem relaxar a
postura.
— O que aconteceu para você agir dessa forma?— Insisto, encarando seus
olhos irados.
— Não importa. Esquece isso.
— Não vou esquecer, se estamos juntos você precisa me contar o que houve,
ao menos para mim poder entender a situação! — Declaro e ele morde o
maxilar, desviando seu olhar do meu. A ruga sisuda separando as
sobrancelhas. Seguro em seu rosto, trazendo-o de volta para me encarar e
acaricio a barba por fazer, encarando seus olhos impassíveis.
— Não estraga esse dia, por favor. — Pede, agora aparentando não ser mais
que um garoto assustado, com medo do que o escuro o causaria ao levantar
de madrugada para ir ao banheiro. Assinto achando tudo muito estranho,
concordando apenas por ver que aquele assunto era mais desagradável do que
aparentava e o puxo para um abraço, o tendo com o rosto fundo na curva de
meu pescoço. Seja o que for que tenha acontecido entre ele e a imprensa, me
parece ser algo totalmente chocante, devido ao seu comportamento. E eu não
descansaria até descobrir o que aconteceu, que o deixou assim.
— Victor disse que levaria Jou para um passeio e ficaria com ele no hotel de
vocês. — Conto, me recordando de mais cedo quando Victor me convenceu a
deixá-lo levar Jhonnie, na tentativa de mudar de assunto e melhorar o clima
tenso que nos envolve.
— Então estaremos sozinhos?— Levanta o rosto, a feição séria dando lugar
para um sorriso sugestivo nos cantos dos lábios rosados. Passo a língua sobre
os lábios, reprimindo um sorriso depravado.
— Completamente.
— O que acha de irmos agora?— Pergunta, arqueando a sobrancelha
esquerda e morde o lábio inferior.
— Está sugerindo que saíamos daqui, deixando seus amigos que contam com
sua presença para uma comemoração?— Levanto o ombro direito, vendo
seus olhos encararem meu ato.
— Estou.— Passa a língua sobre o lábio inferior, o prendendo entre os dentes
em seguida, outra vez. Levanta os olhos para mim novamente e há uma
sombra, deixando-os mais escuros entre os fios negros de sua sobrancelha.
Jaime com certeza tinha noção de sua beleza, se não soubesse, não me
encararia como se pudesse me despir com o olhar. Sua beleza parecia ser
extremamente exagerada, ao ponto de ser agonizante olhar para ele sabendo
que teria que deixar de o encarar.
— Então acho que aceitar não faria mal, já que foi você quem sugeriu, não?
— Faço círculos imaginários em seus cabelos da nuca, nossas testas
encostadas e sua respiração batendo contra meu rosto. Balança a cabeça em
negação e rio com sua cara de pau.
Jaime avança o curto espaço entre nós, mordendo minha boca, iniciando um
breve beijo antes de segurar em minhas mãos, puxando-me até seus amigos.
Após uma rápida despedida, ele me guiou para fora do salão, onde tinham
diversos fotógrafos, jornalistas e alguns fãs, que se amontoaram como urubus
na carniça, querendo atenção de Jaime. Porém, ele se manteve firme, me
puxando no meio da multidão que chamava por seu nome, passando com a
ajuda dos seguranças. Alcançamos seu carro esportivo e em questão de
segundos, já estávamos saindo da frente do prédio da fraternidade do time.
— Oh meu Deus!— Exclamo, vendo o carro diminuindo a velocidade e
virando na entrada de um motel. Olho para Jaime que tem a expressão plena,
como se não estivesse ligando para meu espanto.
— Trouxe documentos, Khai? — Pergunta, me olhando após parar na
recepção da garagem. Ainda espantada, assinto puxando a identidade do
bolso traseiro do meu jeans, o entregando.
Pega a chave de um quarto VIP e dirige por alguns segundos até estacionar
na frente de uma porta de vidro fumê. Desço do carro ainda atordoada com a
ideia de estar em um motel com ele. Olho ao redor quando passo pela porta,
admirada com a elegância do quarto e me perco nos detalhes, ouvindo uma
música nascendo em tom ambiente.
— Relaxa.— Sussurra, se aproximando e segura em minha mão, me virando
trazendo-me para si.— Hoje você é por inteira minha.
Jaime
Nossos pés se movem lentamente em sincronia no ritmo da música, lenta
Umbrella, na voz de Ember Island. Os dedos gelados tocam minha pele na
nuca, espalhando um calafrio atrativo, contrastando com sua respiração
quente em meu pescoço. Meu coração se já não estivesse acostumado a bater
tão depressa, diria que estaria prestes a enfartar. O frio, o maldito frio na
barriga, me causando sensações estranhas e duvidosas, agarrado a pequena
esperança que me resta em meio ao meu martírio agonizante. Khai era minha
esperança, e eu soube disso no momento em que conversamos do lado de fora
do restaurante, quando nos conhecemos.
— No que está pensando?— Sua voz doce suspira próximo ao meu ouvido e
levanto meu olhar para ela. Os braços ao redor de meu pescoço, balançando
no ritmo lento da música na voz de Luca Fogale. I Don’t Want to Lose You.
— Quando disse sobre a orquestra de erros e percas, o que quis dizer com
isso?— Especula, tom solene, balançando os quadris devagar.
— Quis dizer que como música, coisas que já fizemos surgem em nossa
mente. Coisas que causaram percas, medos, receios, iras, remorso. Tormento.
Como ir ao inferno sem ao menos ter ido, de fato.— Expliquei baixinho,
afastando os longos cabelos castanhos de suas faces. — Não me deixe errar
com você, Khai.
Seguro suas mãos que exploram meu corpo com pressa e os suspendo, tendo
acesso livre ao corpo ofegante debaixo de mim, querendo fazer tudo com
calma. Diferentemente de todas as outras vezes, que tivemos pressa. Lambo o
vale entre seus seios, mordiscando o monte claro coberto com a renda do
sutiã branco. Desço beijando seu corpo e solto o botão, afastando o zíper com
a mão livre. Olho em seus olhos que me assistem, nebulosos, a boca
entreaberta e os cabelos começando a bagunçar. Solto suas mãos e me
concentro em tirar seus tênis, meias, seguidos pela calça jeans. Desfaço-me
de minha camiseta e tênis, curvando-me de volta na cama e beijo o lado
inferior de suas coxas demoradamente, raspando minha barba por fazer em
sua pele arrepiada. No fundo toca Lovely da Billie Eilish e Khalid, me
incentivando a ir com calma.
Seus dedos encontram meus cabelos e subo os beijos até o tecido da calcinha
vermelha de tiras, a lambendo por cima da mesma. Seus gemidos baixos
incendeiam meus ouvidos, descontando em minhas bolas. Os dedos
desprendem de meus cabelos, alcançando o lençol e o agarrando com força.
Afasto a calcinha para o lado, movendo minha língua por seus lábios em
movimentos repetitivos, segurando seus quadris inquietos e deixo uma
mordida em sua coxa antes de levantar o corpo em sua direção. Khai agarra
minhas costas buscando por minha boca em desespero e me beija, invertendo
nossas posições.
Seguro em sua cintura, que se move junto aos quadris, esfregando a pélvis em
mim, as unhas descontando a frustração por ter que esperar em meus ombros.
Mordo seus lábios, batendo em sua nádega esquerda e ela geme descendo as
mãos de encontro ao botão das minhas calças. Nem meio minuto depois,
Khai tirava minha calça pelos pés, a arremessando para trás, me encarando
como uma felina faminta. Morde meu abdômen, o chupando em seguida,
puxando minha boxer do corpo e me olha nos olhos antes de descer a língua
por minha glande até o talo, voltando para a cabeça engolindo-o aos poucos
com maestria. Suspiro puxando o ar entre os dentes, segurando seus cabelos
que caíam na frente de meu campo de visão, movendo os quadris contra sua
boca quente e gulosa. Meu eixo dolorido e tesudo. Na linha tênue entre
estragar a calmaria e ser obsceno e, ir com calma, apenas para agradá-la e
enrolar nosso momento o máximo possível.
Altero o ritmo das estocadas sob seus gemidos e grunhidos. Mordo seu
ombro que costuma arquear quando quer frisar sua postura diante de uma
conversa e marco sem dó a pele em meu caminho.
Mantenho o ritmo e segundos depois, ela goza gemendo alto meu nome.
Afunda o rosto no lençol, solto seus braços e a viro de frente para mim. Beijo
sua boca inquieta, movendome com pressa, fome, e me levanto, trazendo-a
junto. Atravesso o quarto, suspendendo seu corpo no ar. Encosto-a contra a
pilastra, entrando e saindo de seu corpo com ferocidade. As unhas me
marcando sem dó, em uma confusão de bocas e respirações. Não sei
necessariamente em que momento acabamos, ou a hora em que fomos
dormir, mas aquela madrugada estava na minha lista de melhores noites que
já tive na vida.
Esfrego devagar com cuidado seu couro cabeludo, enquanto ela cochila em
meu peito. Encaro o teto espelhado e o silêncio que me envolve me
desagrada. A insônia era uma das piores coisas que eu já tive que passar.
Com a insônia, vinham pensamentos; com os pensamentos, vinham
lembranças. Ao menos os pesadelos deram trégua, assim como o vazio
deixado por alguém que partiu. Entretanto, bastava me afastar de Khai e tudo
me asfixiava novamente. Em uma constante descida, meu emocional estava
mais abalado que nunca. Droga, eu preciso me decidir!
Apenas que se acontecesse algo para que eu a perdesse mais para frente,
apaixonado, eu me acabaria mais uma vez, só que desta eu não teria suporte
ou esperança alguma. Seria eu, meus fantasmas do passado e minha dor de
perder alguém tão fantástica quanto Khai. Não podia continuar sendo egoísta
e prendê-la a mim, a algo incerto e extremamente confuso. Porque eu era
isso, confuso, incerto, covarde e imbecil. Ao mesmo tempo em que minha
mente desenha planos para um futuro que a inclui, aponta as linhas soltas que
podem desfiar a qualquer momento e ela, assim como a maioria, me
acusarem de algo que eu não sei se realmente fiz. E, o pior, eu não fazia ideia
do que eu fiz naquela noite que caí drasticamente na rede, sendo acusado de
coisas que jamais faria em toda minha vida, não me lembrava.
Tudo daquela maldita noite que se repetia em minha cabeça, era o fato de eu
estar bêbado, acabado, envolto por policiais, paramédicos e bombeiros.
Tenho valores, caráter. Papai me ensinou a ter, mas, em alguns momentos, as
palavras ofensivas, fortes, que me recepcionaram naquela época fazia sentido.
Talvez meu velho, de fato, tenha morrido por minha culpa. Desgosto. Eu
posso ser um maldito miserável que tenha cometido assassinatos e, Khai não
merecia estar envolvida com alguém assim.
Capítulo 10
Khai
— Você tem mesmo que ir?— Pergunto, abraçando meu próprio corpo e ele
assente, dando um passo para frente tocando meu antebraço.
Hoje Jaime parte para New York, onde mora para assinar alguns documentos
antes do natal, que é quando as empresas que ele tem investimentos irão parar
em férias. E adivinhem! Sem previsão para retorno. Quando acordei pela
manhã nos braços de Jaime, ele estava acordado me assistindo dormir e abriu
um imenso sorriso ao me ver o encarar. Tem sido uma experiência gostosa
dormir e acordar com ele. No entanto, temerosa. Mesmo que seja cedo
demais, tenha sido pouco tempo. É como se nós encaixássemos e eu como a
ex piranha de faculdade que aderiu uma vida sonhadora, vou me ferrar
direitinho, tenho certeza!
☆
— Oi. — Uma voz feminina atrai minha atenção, me fazendo levantar o olhar
para a porta da cozinha. Uma senhora aparentando ter cerca de cinquenta
anos me olha com um sorriso bonito, parada na entrada.
— Olá.
— Sabe onde está meu filho?— Pergunta, olhando ao redor, esfregando as
mãos. Franzo o cenho confusa e ela se explica com um leve sorriso. — Jaime.
— Reprimo minha vontade de abrir a boca, sorrindo nervosamente para
descontrair minha surpresa.
— Ele... — Pigarreio.— Teve que ir à farmácia aqui próximo, não deve
demorar. — Respondo, sorrindo de leve sem saber como agir em sua frente.
Ela assente, adentrando a cozinha.
— Ele não me contou sobre uma namorada vir jantar conosco. — Comenta,
deixando o par de luvas de marca sobre o balcão da ilha da cozinha e se senta
na banqueta. Abro a boca algumas vezes para a responder, mas nada me vem
em mente para lhe dizer. Não somos namorados, somos? O que somos?
— Acho que não deu tempo. Tem alguns minutos que cheguei de viagem. —
Sibilo, sem graça.
— Compreendo. Khaillane, certo? — Levanta a sobrancelha esquerda e noto
o quão semelhante é ao ato de Jaime. Assinto, desconcertada. — Me chame
apenas de Lara. — Pede me encarando com os grandes olhos castanhos e um
sorriso simpático. Balanço a cabeça e desvio o olhar, constrangida com sua
atenção em mim, voltando a preparar o molho do peru. Olho na direção do
fogão, vendo as vagens de Jaime que já estão fervendo. — Jaime tem irmãos?
— Pergunto não conseguindo controlar a curiosidade. Como nunca o
perguntei sobre sua família?
— Não que eu saiba. — Conta e rio fraco, assentindo, sem saber como
abandonar o desconforto em sua frente. — Simon me disse um pouco sobre
você.
— Espero que bem.
— Sim, sim. Muito bem, aliás. Disse que não via Jaime tão feliz há muito
tempo. — Sorrio de leve e desligo o fogo das vagens.
— Jaime não costuma se abrir muito.
— Eu sei querida, o filho dele é quem mais sofre com isso. — Conta e paro
de mexer na panela.
— Filho?
Capítulo 11
Jaime
— Poderia ter dito que traria Khai para jantar conosco. — Lara murmura
assim que entro na cozinha com a sacola da farmácia em mãos. Levanto meu
olhar, vendo a mulher por quem eu daria meu mundo anos atrás e nada de
Khai que tomou meu lugar na cozinha quando tive que sair atrás de suas
pílulas.
Preferia me manter afastado. Seria melhor para todo mundo e eu não seria
uma decepção para a criança que não tem culpa da vadia que a mãe era.
— Seu filho pediu para vir, então pensei: por que não? — Trouxe Zayn?—
Questiono, cerrando os dentes.
Khai
Seus ombros rígidos caem, juntando os braços nas laterais do corpo, olhos
baixos e sem qualquer tipo de emoção ao dizer aquelas palavras. Jaime não
passava imagem a mais que de destruído, indefeso. Me quebrava vê-lo mal,
aparentando não gostar do assunto. Mas eu tinha que o pôr contra a parede,
não?
Capítulo 12
— Bom dia! — Exclama Lara, entrando na sala de jantar.
— Bom dia. — Sorrio para ela, que se senta do outro lado da mesa, a minha
frente, se servindo de seu café.
— Jaime, onde está?— Pergunta, batendo os dedos com longas unhas bem
cuidadas na cor vinho contra a têmpora esquerda.
— Saiu para correr mais cedo, já deve estar voltando. — Respondo e olho
para a porta, vendo Jhonnie entrando com o rosto amassado. Ele sorri
pequeno para Lara e se senta ao meu lado. — Bom dia.
— Bom dia. — Resmunga, traçando com o indicador a toalha da mesa,
fazendo desenhos imaginários. Deixo minha caneca sobre a mesa e o sirvo
com o que ele toma pela manhã.
— Esta casa fica silenciosa quando os rapazes estão dormindo. — Comenta e
levanto meu olhar para ela.
— Sim, eles aparentam serem bem bagunceiros. — Rio de leve, não
encontrando a graça.
— São sim, o primeiro natal que passamos juntos, Jaime e Aidren
derrubaram a árvore de natal do segundo andar. — Conta com um grande
sorriso nostálgico nos lábios.
— Você deve ter ficado irada com isso. — Sopro tentando não soar
sarcástica.
— Oh, não querida. Eu ri muito. Derick quem ficou irritado, deixou Jaime de
castigo por uma semana. — Conclui e rio de leve, arrastando o olhar pela
sala, vendo Jaime entrando, já com outra roupa da qual havia saído. Vestido
com uma calça de moletom cinza e uma camisa de manga longa preta. Se
aproximou de mim, deixando um beijo em minha testa, sentando-se na
cabeceira da mesa, em minha diagonal.
— Bom dia, Lara.
— Bom dia, filho. — Cumprimenta, parecendo feliz pelo cumprimento.
Jaime se serve e pousa a mão esquerda em meu joelho debaixo da mesa,
fazendo círculos imaginários sobre a malha da calça.
— Bom dia família mais linda! — Exaspera Simon, entrando na cozinha
sorridente.
— A causa da minha dor de cabeça acordou. — Choraminga Lara,
esfregando as têmporas e Simon ri indo até ela, beijando sua cabeça.
— Prometo não gritar, tanto.
— Me sinto lisonjeada. — Zomba e ele ri, indo até Jaime.
— Bom dia, Jaiminho! — Simon afina a voz, debruçando para alcançar o
rosto do amigo. Rio vendo a carranca de Jaime, encarando o homem de quase
um metro e noventa com graça para seu lado.
— Senta seu rabo naquela cadeira e fica quieto. — Manda.
— Oh Jaiminho, faço tudo o que você mandar! — Geme, indo para seu lugar
ao lado de Lara.
Nosso café da manhã correu rápido com as provocações de Simon e depois
Aidren se juntou a nós, rindo de Jaime. Quando o pequeno Zy acordou, Lara
se despediu assim como a criança e se foram. Ainda estava estranho a relação
de Jaime e Zayn, mas menos incômoda quanto na noite passada. Talvez
minha conversa com ele fez algum efeito sobre seus atos, porém é um
enorme talvez.
— Jaiminho, ainda tem aquele quarto dos jogos?— Pergunta Simon e Jaime
morde o maxilar o encarando.
— Vá a merda, Lenny e você sabe que sim! — Simon ri e se retira da sala de
jantar, levando Aidren e Jhonnie para jogarem algo, deixando apenas o
silêncio.
— Por que te chamam de Jaiminho?— Pergunto, o ajudando a tirar a mesa.
— Sério que quer saber disso? — Levanta as sobrancelhas para mim com a
sombra de sorriso no canto dos lábios. Assinto curiosa e ele ri, negando com
a cabeça, alcançando a pia para lavar a louça.
— Por favor, eu quero saber! — Insisto, empurrando seu ombro de leve.
— No último ano do fundamental, estávamos jogando verdade ou
consequência no ginásio do colégio. Garotas contra garotos, era para ser um
jogo inocente, levando em conta nossa idade. Mas Lexie estava jogando
conosco e todos sabíamos que se ela fosse escolher nosso desafio, estaríamos
perdidos. Só que eu não me importava. — Ri negando com a cabeça e fica
por alguns segundos em silêncio me passando a louça para a secar. — Então
caiu em mim e nela, ela me desafiou a medir meu pênis e os contar o
tamanho.
— Oh, você não fez isso! — Gargalho, ficando quase sem ar.
— Fiz, me arrependo até hoje. — Confessa.
— E... — Respiro fundo, tentando controlar meu riso. — Qual era o
tamanho?— Jaime levanta a sobrancelha esquerda para mim com um sorriso
torto nos lábios, puro deboche.
— Não tá bom do tamanho de hoje em dia?
— Está, mas eu quero entender... — Reprimi os lábios, tentando não rir. Ele
bufa em frustração e balança a cabeça de um lado para o outro antes de falar:
— Tinha treze centímetros, um centímetro e meio abaixo da média. — Abana
as mãos, parecendo envergonhado e puxa o pano de prato das minhas mãos.
— É aceitável para alguém de quatorze anos. — Implico e ele cerra os olhos
para mim. Gargalho andando para trás a cada passo que ele dava em minha
direção. — Agora tem o que? Quinze centímetros?
— Vai rindo! — Me ataca com as pontas dos dedos, fazendo cócegas em
minha cintura. Debruço já não aguentando mais rir e Jaime para seu ataque,
mantendo-me presa contra a parede.
— Já mediu depois de alcançar a maturidade? Quer dizer, o membro genital
cresce até os dezoito anos... — Questiono, tentando passar a imagem de
seriedade, falhando miseravelmente. Qual é, é hilário!
— Não, para que outra decepção, huh?— Devolve, afastando meus cabelos
da frente do rosto.
— Acho que não é tão decepcionante, talvez um pouquinho. — Zombo e ele
levanta a sobrancelha esquerda para mim. Rio outra vez segurando em seu
peito, o mantendo afastado de mim. — Mede para atracar minha curiosidade?
— Pisco vezes demais e ele ri em escárnio, balançando a cabeça em negativa.
— Qual seu problema?— Inquere e rio, levantando o ombro direito.
— A ciência não soube explicar. Por favor, Jaime! — Peço, fazendo
biquinho.
— Não, seria deprimente deixar duro só para medir. — Torce a boca. Olho
para a porta que dá para ver a sala de jantar e a de estar e depois volto a olhá-
lo.
— Talvez eu ajude em algo. — Sussurro em sugestão, separando as mãos.
Jaime passa a língua sobre o lábio inferior e o segura entre os dentes,
contendo um mínimo sorriso, repleto de segundas intenções.
— Promessa é dívida, amor. — Sussurra cruzando o pequeno espaço entre
nós, roçando o nariz em minha bochecha.
— Sei disso. — Sopro, o abraçando pelo pescoço. Desce suas mãos para
minhas nádegas, as apertando e morde minha bochecha. — Aqui não.
Jaime
A encosto contra a parede do corredor, seu sorriso curvando o canto dos
lábios. Quadris vindo de encontro aos meus. Mordo sua bochecha, puxando
as pernas que rodeiam meu corpo, encontrando com a boca rosada. Os
pequenos dedos agarram minha camisa e a puxa pela cabeça, abraçando-me
pelos ombros. Segurando em sua bunda, a suspendo no ar a fazendo se mover
de forma que alcançasse minha calça em movimentos repetitivos, abafando
seus leves suspiros. Traço beijos até seu pescoço, lambendo e sugando sua
pele arrepiada.
— Não sabe o nível da minha vontade de rasgar essa maldita calça! — Urro
em seu ouvido, apertando sua nádega direita. Khai sopra um riso zombeteiro
e levanta o ombro, me olhando por cima dele.
Capítulo 13
Um mês depois...
— Jaime, Céus, vamos nos atrasar! — Grito da sala, impaciente com sua
demora.
Nesse último mês, Jaime tem passado todos os dias em meu apartamento,
aproveitando as férias do começo de ano. Fez questão de comprar uma cama
maior, coisa que não era necessário. Era apertado para nós dois? Sim, mas
quem disse que eu queria me livrar da minha cama? Victor nos visita quando
Jaime precisa de algo, isso inclui seus serviços de babá. Zayn tem vindo uma
vez a cada quinze dias, passa três dias conosco, e Lara vem o buscar. Estava
tudo se encaminhando, sossegado.
Consegui um emprego na área de marketing de uma empresa muito
conhecida, Donatelly’s. Ao menos meus cursos online durante a faculdade
ajudaram em alguma coisa. Onde descobri que Jaime tinha contratos, ou seja,
era patrocinador. Foi surpreendente vê-lo entrando na empresa de terno e
gravata. Fantasiei por dias sendo comida em cima da minha mesa, enquanto
ele usava aquele terno escuro. Até em uma de suas visitas, entrar em minha
sala que divido com Hannah, dispensando a garota e realizando minha
fantasia sem vergonha. Céus, eu sou uma vergonha! Pervertida!
— Ele conseguiu te superar na demora para se arrumar. — Ri Jou, jogado no
sofá.
— Ficar gostoso leva tempo! — Jaime entra na sala, vestido em uma jeans
escura e camiseta social preta com as mangas dobradas próximo aos
cotovelos, nos pés um par de tênis. Sim, gostoso, mas precisava demorar?
— Podemos ir?— Resmungo, já quase desistindo de sair.
— Claro, Victor, coloque as crianças para dormir cedo, sim?— Instrui e vejo
a cara de tédio de Victor.
— De assessor de imprensa a babá, o que eu fiz para merecer isso meu Deus?
— Retruca e rio.
— Você faz o que eu precisar que faça, para isso pago seu...
— Para isso pago seu salário e blá, blá, blá. Ok, já entendemos. — Rolo os
olhos, entediada com a mesma frase de sempre.
— Ótimo. Zayn, comporte-se. — Murmura, olhando para o mini Jaime
sentado no sofá, vestido com um pijama de duas peças, abraçado ao
travesseiro.
— Está bem, papai. — Sorri pequeno e acompanho o curvar dos lábios de
Jaime em um sorriso satisfeito. A relação dos dois deu uma melhorada de
pelo menos dezoito por cento. É até bonitinho de ver o garotinho se
esforçando para chamar a atenção do pai com sua carisma e doçura.
— O mesmo Jou. — Replico antes de ser puxada para fora por Jaime,
impaciente. Agora o infeliz está impaciente?
Jaime tem se tornado meu ponto de equilíbrio, minha força. Acima de tudo,
meu namorado. Demorei horas para entender que ele realmente queria algo
sério comigo. Quer dizer, não que eu não quisesse, só que ele sendo tão... ele,
é impossível de creditar que queira compromisso comigo. Conseguem
imaginar minha surpresa o vendo se pôr de joelhos, com um Donuts em mãos
e fazendo o pedido?
Está certo que comi o Donuts que usurpava o lugar do anel meio minuto
depois, mas a intenção valeu.
— Fez o que pedi?— Pergunta, já dentro de seu carro, olhando-me de canto.
— Não, será prazeroso te ver arrancando minha calcinha com os dentes,
como no prometido. — Passo a língua nos lábios e ele grunhe, segurando em
minha coxa, próximo a virilha.
— Não me teste, Khai. Tire-a, agora. — Manda com o olhar nebuloso sobre
mim, maxilar travado. Pondero sua exigência e acabo cedendo, já que sairei
ganhando com esse jogo. Arqueio o corpo no banco do pequeno espaço do
carro esportivo, puxando as alças da calcinha vinho de renda e a tiro. Suspiro
fingindo tédio e entrego em sua mão estendida em minha direção. Guarda o
tecido no porta-luvas e volta toda sua atenção para a avenida até o
restaurante.
— Quer pedir agora?— Pergunta após o garçom se retirar, nos deixando os
cardápios.
— Sim, escolhe por mim, seu pedido sempre é melhor que o meu. —
Balbucio e ele ri, assentindo. Olho ao redor vendo o palco improvisado mais
à frente e as mesas redondas espalhadas pelo local com casais e grupos de
amigos. A decoração segue em tonalidades neutras, tudo muito bem ajeitado,
um lugar que suspeito que Jaime não entraria.
— Por que viemos a esse restaurante?— Questiono, olhando para meu
acompanhante que me olha atentamente.
— Privacidade e discrição. Este é um ótimo restaurante, aliás, há karaokê ao
vivo.
— Gosta dessas coisas?
— Gosto de assistir, é divertido ver bêbados caindo do palco. — Sopra um
riso nostálgico e sorrio, olhando tudo atentamente. Volto minha atenção para
Jaime que me estende uma taça de vinho, empurrando em minha boca com
delicadeza. Sorrio para ele e aceito, sentindo seus dedos tocando minha coxa
nua.
— Eu tenho que trabalhar amanhã. — Rio de leve e ele passa a língua no
lábio inferior, sua cadeira próxima a minha, o braço rodeando meu corpo,
posto na costa da cadeira.
— Seu chefe não se importará com atrasos. — Arrasta um sotaque italiano,
bebendo um pouco do vinho antes de colocar a taça sobre a mesa.
— Acontece, subchefe, que eu não gosto de atrasos.
— Você tem tudo para acordar cedo. Vinho, carona, sexo quente antes de
dormir para relaxar, uma cama enorme comigo de brinde e um despertador
irritante. Talvez ressaca, mas é o de menos. — Levanta a sobrancelha
esquerda.
— Promissório, senhor Hastings.
— Não imagina o quanto, amor... — Roça o nariz em minha bochecha e beija
sutilmente meu pescoço. — Estive a semana toda aguardando por esse jantar,
sabe porquê, Khai?
— Não. — Sussurro, sentindo a ponta dos seus dedos delicadamente indo em
direção ao meu centro.
— Porque eu imaginava você gemendo agarrada a essa toalha de mesa,
enquanto eu te fodia com meus dedos. Disfarçadamente, sem atrair a atenção
alheia. — Sussurra em meu ouvido, fazendo-me latejar e desejar um toque
mais ousado que a simples carícia em minha virilha. — Entretanto, minha
imaginação não era suficientemente boa para a ocasião. Então me diga, amor.
Você vai gemer e expor nossa aventura, ou vai ficar quieta, entalada com a
vontade de gemer?
— Gemer... — Respondo em um suspiro, segurando em seu antebraço.
— Então, Khai, como não quero ser atrapalhado, vou mandar que coloque
sua mão esquerda sobre a mesa e que fique quieta. Se quiser gemer desconte
sua frustração por não poder, apertando a longa toalha de mesa. Entendeu?—
Balanço a cabeça em compreensão e o sinto invadir a saia de meu vestido, me
tocando com sutileza. — Molhada, como imaginei que estaria.
— Cala a boca e me fode. — Grunho, odiando sua fala depravada em
público. Sopra um riso e morde minha bochecha, puxando minha perna
direita para cima da sua, escancarando-me e arrasta sua mão de volta para
meu sexo, desejoso. Mordo os lábios, reprimindo-os ao ter seu dedo
indicador em minha entrada, puxando e empurrando, juntando-se ao médio
para meu eterno delírio. Segurando em seu antebraço e na toalha da mesa,
fechei os olhos na mínima iluminação do restaurante, seus lábios e barba
provocando meu pescoço. O gemido escapa-me em um suspiro, Jaime grunhe
e morde meus lábios antes de me beijar. — Controle-se, amor. Não queremos
ser expulsos, não é?— Suga meu lábio inferior e meneio negativamente a
cabeça. — Abra mais as pernas para mim.
Afasto a perna feito uma desesperada, que não notei ter a juntado, os dedos
trabalhando em sincronia com tanta maestria que me deixava curiosa com
tamanha habilidade, a boca gulosa ora mordendo, beijando, chupando minha
pele, ora sussurrando amenidades em meu ouvido. Busco por sua boca e a
beijo, gemendo baixinho com a sensação do orgasmo se formando em meu
ventre.
— As estrelas perdem para a imensidão brilhante em seus olhos quando goza.
— Sussurra contra meu rosto, se afastando em seguida. Tira os dedos de
mim, levando-os até a boca e os chupa, fechando os olhos em apreciação. —
Não vejo a hora de te ter em nossa cama, nua, gemendo e pedindo por mais e
mais.
Engulo em seco o vendo puxar uma flanelinha do bolso de seu jeans,
trazendo-o ao meu centro e me limpa com cuidado, mascarado toda sua
agressividade no olhar com ternura. Sem sombras de dúvidas eu estava
completamente apaixonada por ele. Irreversivelmente à fura roupa, prestes a
atravessar fronteiras por ele e o mistério em seus olhos doloridos e intensos.
Jaime Edward Hastings me tinha na palma da mão, e o odiava em sincronia
em que o amava por isso. Homens e seu charme eram uma perdição, que nem
notavam o quão dono de suas mulheres eram. Ou notavam e nos faziam de
bobas?
Submissa a ele, odiando o fato, mas ainda sim, submissa de Jaime. Uma
submissa diferenciada, porém.
— Preciso que faça uma coisa para mim.— Sussurra, acarinhando meu rosto.
Olho em seus olhos atenta na espera de que pedisse o que queria. — Tem
algo incomodando meu pau duro. Seria deselegante da minha parte abrir a
calça agora para procurar o que é.— Sopro um riso nasalado descendo os
olhos discretamente para o volume empurrando sua calça.
— Se quisesse um boquete era só ter dito, não precisa inventar que tem algo
te incomodando. — Arqueio as sobrancelhas, movendo lentamente a cabeça
de um lado para o outro. Jaime morde um sorriso, escorregando o polegar até
meus lábios, roçando-o ali.
— Como seu namorado digo que seria espetacular você me chupando
debaixo da mesa, aqui, agora. Mas como um cliente reservado do restaurante
cheio, digo que você está muito atirada, senhorita Marin.— Torce os lábios
em reprovação e sorrio.— Vai ou não me ajudar?
Pondero seu questionamento, apontando quais eram as chances de ter algo
dentro de sua calça e quais eram as chances de ser apenas um método de me
fazer agradá-lo de alguma forma em meio ao restaurante.
Vencida pelo seu argumento, seguro em sua coxa, ajeitando-me na cadeira e
solto o botão, descendo o zíper em seguida de sua calça jeans e afasto os
panos, procurando pelo que o incomodava.
— Mais para a direita. — Instrui e rio baixinho, passando a mão sem dó em
sua ereção. Ele geme, acariciando minha nuca por trás dos cabelos, como se
aprovasse meu descaramento e mordo o lábio inferior, apertando-o
inspirando com força quando seus dedos enroscaram em meus cabelos, os
puxando para trás. Encosta a boca em minha bochecha, respirando
aceleradamente e nega com a cabeça. — Tsc, tsc, amor. Não vai querer
terminar a noite na cadeia, não é? Então sugiro que não me provoque. —
Rosna com a boca colada em meu rosto.
Penso em não o dar ouvidos, mas sinto algo realmente incômodo dentro de
sua cueca. Alcanço a espessura fria e a puxo de lá, arregalando os olhos ao
conferir do que se tratava. Engulo em seco, piscando algumas vezes voltando
a olhá-lo que força confusão.
— Como isso veio parar aqui?— Pergunta, tomando o pequeno anel com
uma pedra em diamante da minha mão. Ainda aturdida, o vejo segurar minha
mão direita, empurrando o círculo em ouro branco em meu dedo anelar.
— Jaime...
— Estava te devendo algo por ter te dado algo comestível em vez desse
círculo. — Murmura, entrelaçando seus dedos aos meus. Enrugo a testa,
ainda muito atordoada, pega de surpresa.— Eu vou tentar por você. —
Sussurra.
— Senhor Hastings, uma palavrinha para a imprensa, por favor. — Pede uma
mulher em meio ao aglomerado de jornalista que nos abordaram na saída do
restaurante. Sinto o aperto em minha mão se tornar mais forte que o
necessário, a sua estava suada e tremendo levemente, enquanto ele mantinha
o maxilar travado, passando pela imprensa, puxando-me para o acompanhar
sem qualquer segurança para nos ajudar.
— O quê? Nã...
— Continue andando e não responda as perguntas. — Jaime range os dentes
e abre a porta do carro para mim. Já dentro do carro, acompanho com o olhar
Jaime contornando o carro com a imprensa em sua cola, até ficarem do lado
de fora, batendo no vidro desesperadamente por uma entrevista.
— De onde eles tiraram que estou grávida? — Inquiro com um pequeno
sorriso, tentando amenizar seu claro desconforto com a situação.
— Talvez de Nárnia. — Zomba, ainda sério e rio, o vendo buzinar pedindo
por passagem.
O trajeto até meu prédio é feito em silêncio, sendo brevemente preenchido
por alguns suspiros pesados dele, que parecia buscar por controle dos
próprios pensamentos. Uma noite que começou magnífica com grandes
significados e intensidade, terminando de forma tensa e incômoda. Tinha
tudo para ser uma sexta-feira perfeita, sendo estragada pela imprensa
surgindo do nada em um restaurante discreto, e o incômodo, a aversão que
ainda não consegui compreender a origem que Jaime tinha pela mídia.
Ainda iria descobrir o que o incomodava ao ser convidado a gravar uma
entrevista, ou não me chamava Khaillane.
— O que esses desgraçados fazem aqui também?— Grunhe ao parar o carro
inclinado para entrar na garagem do prédio. Vejo alguns jornalistas parados
na calçada a frente e todos esperam pela nossa chegada. Estranhando a
movimentação da imprensa, tomo a decisão de descer do carro para falar com
alguém para saber do que se trata tamanha euforia, já que nunca presenciei
tanta persistência, nem mesmo após o jogo e a quebra do recorde.
— Eu vou falar com eles para saber o que está acontecendo e para saírem da
frente. — Aviso e Jaime não se opõem, ficando em silêncio apertando o
volante. Desço do carro sendo bombardeada de perguntas e flashes das
câmeras fotográficas.
— Senhorita Marin, nesta última semana recebemos notícias de que poderia
haver um herdeiro de Jaime a caminho, o que tem a dizer a respeito?—
Questiona uma garota quase enfiando o gravador de voz em minha boca.
— Não estamos grávidos, é tudo o que tenho a dizer. Agora, por favor,
deixem-nos passar. — Peço, alcançando o portão e aceno para o porteiro.
— Khai! — Exaspera uma voz masculina e olho para trás, vendo um sorriso
conhecido entre os curiosos da imprensa.
— Oi! — Cumprimento com um aceno, dando passos para trás, deixando que
Jaime entrasse com o carro na garagem.
— Quanto tempo, tem o quê... dois anos?— Pergunta vindo até mim,
enquanto a imprensa parece urubu em cima da carniça.
— Acho que não chega a tanto, mas sim, faz um tempo. Jornalista?
— Locutor. — Levanta o bloco de notas e o gravador e assinto. — Lembro
que queria entrar para Styles’s, conseguiu?
— De certa forma sim, mas não estou mais lá. — Ergo o ombro direito e ele
assente, reprimindo os lábios.
— Estou sabendo... Donatelly's parece ser um ótimo emprego. — Comenta e
assinto.
— Khai. — Jaime chama por mim, encostado no carro de braços cruzados.
Acho que tive um curto espasmo vendo-o sério contra a porta do carro já
fechada.
— Preciso ir.
— Ah claro, me procure para relembrarmos os tempos da universidade. Um
café, talvez. — Sugere, levantando um cartão vermelho com números em
relevo.
— Ligarei sim. — Garanto e me despeço.
— Quem era ele? — Inquere de cara feia, parecendo mais irritado que antes.
— Christian, um colega de universidade. — Respondo e toco em seu
antebraço, acariciando-o. — Vamos subir.
Sem dizer qualquer palavra, Jaime me acompanha pelas escadas até nosso
andar e entramos no apartamento silencioso, vendo Victor dormindo no sofá
junto aos meninos, encolhidos debaixo do cobertor. Sorrio pequeno ao ver a
cena e faço sinal de silêncio para Jaime, que assente e vai em direção ao
quarto. Suspiro longamente e tranco a porta antes de ir atrás do senhor mau-
humor. Tiro o par de saltos que incomodam meus pés, subindo na cama e
parando ajoelhada atrás de Jaime, massageando suas costas, ombros e nuca.
— Quer me contar o que houve entre você e a imprensa? — Sussurro
próximo ao seu ouvido, o ouvindo suspirar, relaxando os músculos.
— Não. — Diz firmemente e segura minha mão direita, puxando-me por
cima do ombro, me trazendo para seu colo.
— Por que?
— Porque não quero que julgue meus atos como eles fizeram.— Murmura.
Abraço seu corpo, afundando o rosto em seu peito.
— Não cabe a mim julgar os atos das pessoas, já deveria estar mais que claro
minhas opiniões diante de situações como essa. — Resmungo, desgostosa.
— Eu sei o que você pensa e os valores que você defende, mas também sei o
tamanho do meu envolvimento e do cargo que carrego desde meu feito. Você
não compreenderia a minha atitude e muito menos o que me levou àquilo. —
Afasto o rosto do seu peito, encarando seus olhos azuis com expressões
ilegíveis, incapazes de serem lidas.
— Jaime, eu li coisas terríveis sobre você e a época na qual não conversamos,
sei o posicionamento sobre o ocorrido da imprensa, mas nada seu. Nenhuma
palavra descrevendo como você se sente, como você se sentiu, como chegou
ao ponto...
— Como cheguei ao ponto de quê, Khai?— Levanta a sobrancelha esquerda,
afrouxando o aperto ao meu corpo.
— De se envolver nessa bagunça toda. — Completo e Jaime sopra um riso
debochado, desviando seu olhar do meu.
— Ser pintado como assassino já não bastava, agora a única pessoa que tenho
duvida da minha palavra. — Seu tom é repleto de sarcasmo e ironia, me
fazendo levantar de seu colo.
— Jamais duvidei da sua palavra e não acredito que você tenha matado a mãe
do seu filho. — Aponto, perdendo a dádiva tão apreciada pela humanidade,
paciência. — Talvez as coisas seriam mais fáceis se você se abrisse comigo e
me contasse o que te fez assim, o que te tornou esse... — Respiro fundo
controlando minha boca. Não era um bom momento. Na verdade, nuca seria
se ele não superasse o que o oprime.
— Pode dizer, vá em frente. — Incentiva, sorrindo com ironia.
— Imbecil. Esse imbecil, idiota e completamente obcecado pela privacidade,
que priva todos ao seu redor que querem seu bem, de estar com você.
— Eu me tornei esse idiota obcecado para proteger quem eu amo. — Cerra os
olhos, levantando da cama.
— Agora proteção tem um novo significado?
— Eu sou a porra de um fodido, Khai. Tanto psicologicamente, quanto
descrito pelas pessoas. — Geme, parecendo sentir dor, mas não ameniza o
tom. — As pessoas julgam umas às outras, apontam o dedo, falam mal pelas
costas. Mas no fundo, são todos uns covardes que não sabem dar-lhes o
devido valor para o que, de fato, merece atenção. Perdem tempo cuidando da
vida alheia ao invés de buscarem progredir como pessoa e profissionalmente.
A sociedade caga para você e seus prêmios conquistados ao decorrer da vida,
fingem se importar, pois o que elas mais esperam, é uma oportunidade para te
humilhar, rir e julgar.
— Jaime...
— Não. Você estava há pouco reclamando de falta de comunicação, então
vamos nos comunicar. Não queria ouvir como eu me sinto? Eu me sinto a
porra de um fodido, quebrado, fracassado e completamente obcecado pela
privacidade. Obcecado por meus segredos sujos do passado. Preso em uma
infinita roda gigante, onde meus defeitos e atos me assombram a cada toque
ao chão. Eu errei e sei assumir isso, mas já não tenho mais forças para
suportar tudo isso. — Cospe as palavras, rosto corado, olhos afiados e tom
coberto de dor. — E me sinto fraco, fraco por ter medo. Meus ombros pesam
a cada pergunta deferida pela imprensa sobre Glenda, sua morte, meu
envolvimento no assassinato, como se tivesse um papagaio repetindo notas
infernais, sem fim. Dia após dia.
Puxo o ar com força pelo nariz, sentindo-o escorrer pelo choro silencioso que
me tomou de repente, sentindo parte de sua dor transmitida nas palavras
afiadas e extremamente encharcadas de remorso e temor.
— Eu sou um imã para problemas e polêmicas, então escolha se vai continuar
ao meu lado, suportando todo esse cargo que trago para um relacionamento,
ou me mande embora agora. Eu não desejo o que sinto para ninguém, Khai. É
a pior coisa que poderia sentir. É como se todos estivessem contra mim. Se
quiser que eu vá, vou compreender e te deixar em paz. Mas faça isso antes de
se envolver emocionalmente. — Conclui, afastando as grossas lágrimas que
escorrem por suas faces.
— Acontece, Jaime...— Começo criando coragem para falar e tentando, de
alguma forma, controlar meu choro incessante —, que estou completamente
apaixonada por você.
O sopro do meu sussurro pareceu ter algum efeito sobre ele, fazendo a
confusão tomar seus olhos, cenho franzido. Jaime respirava de forma
desregulada, o peito subindo e descendo desenfreadamente, finas lágrimas
surgem em suas faces, escorrendo por sua estrutura dolorida, perdendo-se nas
pelugens escuras de sua barba por fazer. Os lábios trêmulos se abrem
algumas vezes, mas nada é dito, deixando apenas o silêncio e o som de sua
respiração barulhenta.
— Não sei quando aconteceu, mas me dei conta de que você é quem eu quero
que esteja comigo. E até onde sei, o amor é capaz de superar coisas, capaz de
unir forças e dar incentivo para quem pensa em desistir. Não seria amor,
paixão, da minha parte se eu te mandasse embora agora por medo de me
envolver com seus problemas. Eu te amo, Jaime, e estou pronta para o que for
para poder continuar ao seu lado. — Termino, deixando os ombros caírem,
completamente desarmada e à mercê da sua decisão.
Capítulo 14
Em silêncio, Jaime cruzou o espaço entre nós e me beijou com sutileza,
acariciando meu rosto. Não saberia descrever o que aquele beijo significou,
mas ao mesmo tempo em que ele era dócil, era intenso. Lento. Se desfez do
meu vestido devagar, acariciando a pele exposta, me deitando na cama,
enquanto vinha por cima. Beijos eram deferidos por meu corpo, assim como
carícias, enquanto me preparava com cuidado para o receber. Dócil,
cuidadoso e carinhoso foi como ele me tomou, sem pressa e euforia. Sem
toda aquela volúpia, fogo e baixarias. Jaime era a personificação de amante
quente e namorado amoroso, mesmo sem estar amando; fato que me
assombrava. Ele não costumava falar de sentimentos, então eu estava sendo
idiota ao me jogar de cabeça em um relacionamento com alguém que
demonstrava, mas parecia não sentir?
Franzo o cenho ao encontrar com o olhar uma folha dobrada sobre a mesa de
cabeceira. Engulo em seco, a vontade de chorar com a possibilidade que
ronda minha mente voltando, meu peito se apertando conforme me curvava
para alcançar o papel. Criando coragem, desdobrei a folha e encontrei um
pequeno texto, escrito à mão em caneta preta.
Oi, Khai. Como você está? Espero que esteja bem. Quero que saiba que
relutei e repensei muito antes de escrever e deixar essa carta. Estava e ainda
estou apreensivo, remoendo a decisão que acabei de tomar, às quatro da
manhã. Nesse momento, você está linda, dormindo, os cabelos espalhados no
travesseiro, corpo coberto com o lençol. Uma perfeita obra de arte. A
imagem mais linda que tive em toda minha vida e que me confortava em
todas as madrugadas em claro com minha insônia. Desculpe-me por ser esse
covarde que precisa se despedir com uma carta. Mas não encontrei outra
forma, não queria ir sem ao menos me despedir e dizer o motivo da minha
partida. Você merece uma explicação.
Por isso, eu estou indo. Sei que se dependesse de uma resposta sua, estaria
sempre ao meu lado, insistindo em algo que eu não posso te oferecer. Siga
em frente, você é linda e tem uma vida e carreira brilhante pela frente. Se é
para ser sincero, ao menos na minha partida, eu quero, preciso, falar o que
venho retraindo todos esses dias intermitentes. Eu amo você, Khai. Amo
muito.
Passei seis malditos anos esperando por redenção, por uma memória que
tiraria o peso das minhas costas, que me provaria não ser um monstro.
Submerso no meu passado confuso, tenso e amaldiçoado. Desacreditado do
amor e de relacionamentos com um futuro sem desconfianças e traições. Até
você entrar na minha vida. Me mostrando o que era amar e poder confiar
nas pessoas, mostrando que era possível compartilhar problemas, dores,
remorsos e todo o resto.
Talvez te propor uma amizade tenha sido o início que me levou a errar com
você. Sei que estou errando nesse exato momento, mas eu preciso ir. Estava
certo quando pensei que você seria minha salvação ou ruína. E bem... Eu
estou em ruína, porque eu é quem estou indo. Te deixando.
Viro a folha, buscando por mais alguma coisa que possa estar escrito, perdida
em lágrimas e soluços. Indignada com sua atitude egoísta. Bato contra o
colchão e amasso a carta, atirando-a para qualquer canto do quarto. Deito
chorando com os longos soluços preenchendo o cômodo, puxando um
travesseiro para abraçar. Tentando estancar o buraco deixado em meu peito.
As sensações ainda tão nítidas em minha pele de seus carinhos me sufocando,
as palavras na carta ecoando em minha mente.
— Khai?— Ouço por Jhonnie e puxo o lençol, cobrindome a tempo antes que
ele entrasse. — Não chora, por favor. Eu não gosto de te ver assim e saber
que não posso fazer nada para ajudar. — Pede com os olhos marejados da
porta. Reprimo os lábios tentando controlar meu choro e assinto para ele.
— Não tenho dormido muito esses últimos dias.— Levo o copo de café a
boca.
— Já disse para parar de chorar por macho, não vale a pena. — Abana as
mãos, fazendo uma careta enojada. Deixo o copo em cima da mesa e apoio os
cotovelos na mesma. Balanço a cabeça de um lado para o outro, descartando
o assunto e solto um longo suspiro.
Passaram-se longos dias, longas semanas desde a partida de Jaime. Desde
então, não tive mais notícias dele, muito menos de Victor, ou Zayn. É como
se nada tivesse acontecido, que nosso pequeno envolvimento não tivesse
importância. Deveria ter imaginado que ele queria apenas sexo, nenhum
envolvimento sentimental. Ele poderia ter ao menos o bom senso e ter me
avisado. Bufo entediada com meus próprios pensamentos e descarto a
melancolia. Patética. Homens são decepcionantes, não sei como ainda me
surpreendo. Sim, eu não acredito na declaração que fez na carta deixada para
trás. Porque, quem ama não abandona.
Neste tempo em que estou trabalhando na Donatelly’s conheci Hannah, que
vem se tornado uma boa amiga e ouvinte. Quer dizer, eu precisava de uma
pessoa para conversar coisas que não dá para compartilhar com uma criança
de nove anos. A garota desengonçada, e louca, tinha minha confiança.
Engraçado. Em pouco tempo, entrego minha confiança para tantas pessoas,
que chega a ser cômico o modo como nos decepcionam. Entretanto, eu não
achava que a morena iria me desapontar, algo nela me deixava confortável.
Me fazia confiar.
— Se lembra do convite que seu amigo locutor nos fez outro dia?—
Pergunta, digitando algo em seu notebook.
Outro dia, Christian esbarrou em nós na saída do prédio e nos convidou para
a inauguração da boate de seu irmão. Era um convite repleto de segundas
intenções, já que a primeira coisa a fazer ao nos convidar, foi relembrar
minha época de caloura, viciada em sexo e festas. Relembrando a época em
que eu fui sua cachorrinha, que o seguia de cima a baixo, nos divertindo no
fim da noite, como dois adolescentes sem responsabilidades. Sim, eu era esse
tipo de garota. Tenho vergonha do meu passado, mas é algo que ficou para
trás. Algo que não quero mais para mim.
Ceder ao convite seria um caminho sem volta, então, eu descartei de
primeira, deixando Hannah nem um pouco satisfeita. Christian, no entanto,
deixou o convite em aberto, deixando seu telefone com Hannah, que só
faltava tirar as roupas para se jogar em cima dele. Não a julgo, Chris era
lindo, com seus cabelos castanhos claros, beirando o louro escuro em um
corte moderno, o rosto com um formato quadrado, marcado no queixo. Os
olhos verdes eram vividos e completamente maliciosos, exibindo a luxúria e
a avareza. Tinham um brilho misterioso e malvado, talvez tenha sido isso que
vi nele naquela época em que me prendi, de certa forma, nele. Por fim, os
lábios, eram médios, o inferior maior, porém. Seu porte físico não era atleta,
mas tinha um belo corpo, alto.
— Me lembro.
— O que acha? Faltam apenas dois dias e eu queria muito irrr... — Arrasta a
última parte, desviando seu olhar do trabalho, para mim.
— Vá, eu não quero e nem posso ir.
— Por que? Não faria sentido eu ir sendo que a convidada foi você! Qual é
Khai, Jaime não vai voltar e você sabe disso. — Argumenta.
— Não estou preocupada com isso, Hannah. — Suspiro, cruzando os braços.
— Eu tenho Jhonnie e muito trabalho acumulado.
— Sabe que eu posso resolver os dois problemas, não é? — Arqueia a
sobrancelha direita.
— Jhonnie não é um problema.
— Céus, Khai, eu não disse que era um problema, apenas disse que consigo
uma solução para as desculpas que você está dando para adiar uma diversão,
quando nós duas sabemos que seu único receio é se deixar levar pela diversão
e se arrepender se ele voltar de uma hora para outra. Cresce, Khaillane. Ele
não vai voltar, e mesmo que voltasse, você não poderia perdoá-lo por ter ido.
— Exaspera, gesticulando para frisar seu ponto. Por um lado, ela tinha razão,
mas eu não podia confessar isso, nem mesmo para mim. Seria fazer papel de
trouxa duas vezes, seria levar ao pé da letra ser submissa a ele. Estaria sendo
dependente de homem e não é o que eu quero para mim. O mundo gira, a
vida continua e os homens que vão a merda. — Onde Jou ficaria?— Cedi,
reprimindo toda minha hesitação.
— Na casa da minha irmã, ela adora crianças e trabalhou como babá por dois
anos. — Diz com empolgação. Assinto e descarto o assunto, por hora,
voltando minha atenção para o trabalho.
Jhonnie.
— Não se preocupe, só vá se divertir. — Se afasta e Cyn
tia sorri para nós.
— Gosta de filmes, Jhonnie? — Pergunta para o garotinho, que vai até ela,
entrando em uma conversa sobre filmes
da Marvel e da DC.
— Ele vai ficar bem! — Garante Hannah. Assinto e sigo
a garota de longos cabelos pretos, vestida em um pequeno vestido amarelo,
para fora. — O que você tinha com Chris... — Não temos nada e não
significou coisa boa na minha
vida, não recomendo, mas se quiser está avisada. — Respondo
antes que ela faça a pergunta.
Fomos até a boate no endereço passado por SMS em seu
carro conversível, onde encontramos com Christian na frente,
ao lado de um homem de porte atlético, com as mesmas características
físicas, com a diferença que continha barba, ralinha
e corpo atlético. Ian.
— Uau, estão lindas. — Elogia Chris, dividindo sua atenção entre mim e
Hannah. Sorrio pequeno e olho para seu irmão
mais velho, tendo sua atenção toda em mim.
— Khai.
— Oi. — Reprimo os lábios, desconcertada com o clima
estranho. Como reagir normalmente diante de uma situação
constrangedora, Google pesquisar.
— Aparentemente velhos hábitos não morrem. — Sorri,
sugestivo.
— Está enganado, Ian. A mudança é constante, basta
você querer. — Sopro com sarcasmo, cruzando os braços. — Se mudou
tanto, o que faz aqui?— Estala a língua e
reviro os olhos, não cedendo a discussão prestes a começar.
Como nos velhos tempos. — Divirtam-se, garotas. — Seu sorriso debochado
me enjoa, mas passo por ele, indo junto a Chris
e Hannah para dentro da boate, que transbordava pessoas bem
vestidas dançando e bebendo.
Capítulo 15
Bebo o segundo, ou será sexto, shot de tequila? Rindo de tudo, enquanto tudo
rodava ao meu redor. Meu discurso de responsabilidade sendo jogado ao
vento, entregue para um passado não muito distante, apenas buscando atracar
a dor no meu peito. Levemente alterada. Bem, não era o melhor caminho, e
sim, o mais prático. Abraçar seu passado vergonhoso era estar, de fato, no
fundo do poço. Odiando a mim mesma por estar nesse caminho por causa de
homem. Ou eu queria estar ali e estava usando aquilo como desculpa? Não
saberia responder qualquer pergunta a respeito, muito menos, gostaria de
descobrir a resposta. Ambas as duas me desagradavam.
— Pensei que precisaria te pedir para se soltar. — Chris sussurrou em meu
ouvido, as mãos agarradas em minha cintura. Sorrio para ele por cima do
ombro, movendo-me no ritmo da música.
— Você é chato!— Resmungo e encosto meu corpo no seu.
— Vai com calma, Khai. Ainda está cedo. — Ri. Me segurou com mais
firmeza, impedindo que eu me esfregasse nele. — Daqui a pouco, lá em cima.
Eu, você, Hannah e Ian. Topa?
Viro-me para ele, passando os braços por seus ombros, a sugestão baixa e
completamente insana rodando em minha mente. Realmente, velhos hábitos
não morrem. Lá estava o antigo Christian. Um vagabundo, sem vergonha,
mulherengo e insano. Amante da noite e de sexo fácil com quem quer que
fosse topasse. Tenho vergonha de assumir que já fui sua seguidora nessa
vida. Usando pessoas bem-intencionadas, que tinha desejo, sentimentos e
fariam de tudo por mim, para sair do tédio. Transando feito uma vadia,
usando de seus sentimentos e carência, para saciar um desejo extremamente
idiota de incapacidade e excluída das reuniões entre amigos e familiares por
minhas atitudes infantis. Os jogando de lado, descartando após me saciar da
atenção e entediar com os caras. Meu sorriso se abre, descaradamente,
debochando de sua forma de vida, que um dia já foi a minha.
— Hannah aceitou isso?— Ele ri, os olhos cerrando com o abrir de seu
sorriso. Os olhos esverdeados têm uma sombra me olhando com diversão,
estreitando o brilho sombrio em minha direção.
— Mais que aceitou... — Meneia a cabeça para a direita. Sigo com o olhar,
vendo Hannah atracada na boca de Ian. Rio voltando a olhar para Christian.
— Chrisss... — Arrasto seu apelido curto e rio mais ainda, batendo em seu
rosto de leve algumas vezes. — Você é um vagabundo. Não presta.
— Eu sei disso.
— Sem vergonha. Todos os homens são iguais mesmo! — Gargalho
encostando no balcão, me afastando de seu toque.
— Qual é, Khai. Ao menos eu estou deixando claro que é apenas sexo. —
Aponta.
— Isso! Sexo. Só isso. Eu daria sempre para ele só para continuar estando ao
seu lado. — Rio, as lágrimas se formando em minhas orbes, sentindo uma
leve tontura.
— Mas ele não te quis. Eu quero.
— Cala a boca, Christian. Você não sabe da minha relação com Jaime! —
Aponto o dedo em sua cara. O álcool me deixando bêbada, mas ainda
continuando dona das minhas decisões e atitudes, consciente. Algo útil que o
imbecil a minha frente me ensinou. Eu beberia, mas não cairia e não passaria
vergonha. Me deixando forte para a bebida. Sem recuar, encaro seus olhos
ferozes, de uma forma, que nunca vi antes. Mas não recuo.
— Então fala. O que o fazia diferente ao ponto de defende-lo depois que ele
te deixou?— Questiona, cruzando o espaço que nos separava, me encarando
com raiva.
— Ele fazia com que eu me sentisse bem. Viva. Amada. Desejada. — Choro
sem controlar, ou querer controlar. Queixo levantado, sem ceder.
Enfrentando-o na troca de olhares. — Ele me deixou, porque fui idiota e me
declarei.
Sento na banqueta, apoiada no balcão para não cair, enquanto tudo rodava ao
meu redor. Confusa com a vertigem que me pegou de assalto.
— Perdeu o jeito para beber, querida?— Zomba.
— Não vou transar com vocês, procurem outra pessoa e me deixe em paz. —
Grunho, mantendo-me firme. Viro-me para o bar, não ouço mais sua voz por
cima da música, mas vejo por relance, ele saindo de perto. Afasto as grossas
lágrimas do meu rosto, encarando o copo de tequila vazio. A música alta
gritando ao meu redor, mal podendo ouvir meus próprios pensamentos. Peço
outro shot de tequila e levanto o pacato copo no ar, oferecendo um brinde ao
universo. À o amor e suas dores. Rio com esse pensamento, não encontrando
a graça.
Bebo de uma vez, não passando de refresco na garganta.
— Vamos, vou te levar para casa. — Um toque em meu ombro chama minha
atenção. Olho para trás, vendo Victor com um olhar de pena para mim.
— Victor! — Exaspero alto demais.
— Vamos, Khai.— Pede e me levanto, deixando o copo sobre o balcão.
— Jaime está com você?— Pergunto olhando ao redor, buscando pelos olhos
azuis em meio à multidão. A faísca de esperança se ascendendo e meu
coração erra uma batida.
— Não. Ele não está aqui. — Suspira me puxando para fora. Abro a boca,
mas não digo nada. A decepção corroendo meu peito com o balde d’água fria
sendo jogado em cima de mim. Gargalho alto e Victor me olha com
curiosidade.
— Ele meteu o pé e mandou o cachorrinho para tomar conta de mim?—
Zombo, rindo.
— Não.
— Não? Olhe bem, Victor. Para isso pago seu salário.— Engrosso a voz
imitando, ou tentando, a voz de Jaime. — Não encosta em mim! — Bato em
seu peito, o empurrando e abraço meu próprio corpo. — Eu não quero nada
vindo dele, inclusive carona depois de um porre. — Aviso entre os dentes. —
Eu me viro. Sempre foi assim, eu por mim mesma. E sempre vai ser.
Dou as costas para ele, tirando meu salto e caminho pela calçada.
Péssima ideia ter saído essa noite. Bem dizia mamãe: nada mais te acolhe tão
bem quanto a própria casa. Estava certa, como sempre. Mulheres inteligentes
deveriam ser imperatrizes eternas, imortais. Elas sim deveriam governar o
mundo. Deixariam muitos governantes no chinelo com toda sua graciosidade
e inteligência. A falta do colo de minha mãe e seus conselhos me batendo
com força, enquanto caminho com as grossas lágrimas embaçando minha
vista. Paro de andar, vendo o sinal aberto e espero até que ele feche, voltando
a traçar meu caminho. Estanco os passos, encolhendo os ombros. O som
ensurdecedor do freio fazendo meu corpo gelar. O vento me atordoando.
Olho para o lado, vendo um casal no carro que pareciam discutir. Meu
estomago embrulhando com a adrenalina correndo em minhas veias, seguro
no capô do carro, debruçando-me com ânsia, vendo tudo escurecer, de
repente.
Abro os olhos, sentindo uma manada de elefante passando por cima de mim,
a claridade do lugar me fazendo fechar os olhos novamente. Grunho
atordoada e torno a abrir os olhos, devagar, porém. Sento-me na cama,
alcançando a cabeça e afasto os cabelos, massageando as têmporas. A dor de
cabeça pelo choro judiando, moendo, matando.
Não me lembro de ter me despedido de quem quer que tenha sido que me
trouxe para casa. Tem um ponto em que você pensa tantas coisas de uma
única vez, que chega a travar a mente e confundir a realidade com as
possibilidades. E o que estava me enlouquecendo, era o fato de não ter o pai
da criança ao lado para criar nosso filho. Mesmo que minha vida financeira
tenha dado uma melhorada desde minha entrada na Donatelly's, não era um
bom momento para sequer pensar em ter filhos. Entretanto, abortar não era
uma opção, jamais. Veja bem. Não sou contra o aborto, sou até a favor,
porque a mulher tem o direito de decidir se quer ou não trazer ao mundo uma
criança indesejada. Não esperada. É uma escolha que cabe apenas a mulher e
não a religião, governo e a caralhada toda, servir de incubadora.
Capítulo 16
Condado de Maricopa, Arizona, cinco meses depois...
— Você está me dando sono com essa lerdeza em tirar as coisas da caixa!—
Reclamo, pressionando de leve a lateral esquerda de minha barriga, onde há
chutes incômodos.
Oi, amor. Como vocês estão? Anseio que estejam bem. Já tem algum tempo
desde que a vi pela última vez, talvez dois meses. Você estava linda em um
vestido branco que marcava sua barriga avantajada, nosso pequeno está
crescendo rápido. O corte do cabelo favorecia seu rosto, caiu perfeitamente,
que me fez questionar como era possível você ser tão linda e combinar com
qualquer estilo, visual. Os olhos tão brilhantes que me deu, por alguns dias,
conforto por saber que estava bem e feliz. Algo em você me deu um pouco de
esperança para continuar buscando por redenção e a tão esperada
felicidade.
Céus! Namorado?
Eu amo você. Até mais que antes, acredito. Eu tinha esse sentimento dentro
de mim bem antes da minha partida, tinha consciência. E estava tudo bem
para mim continuar com você, te amando em silêncio, fazendo com gestos, o
que não saía em palavras. Não foi fácil virar as costas para quem eu queria
estar, não está sendo fácil. Mas, te ver feliz com outra pessoa é demais para
mim. Me chame de egoísta, tosco, babaca. Do que quiser, eu mereço. Mas
não me peça para vê-la, feliz, com outro. Celebre a felicidade do próximo,
dizia minha mãe. A questão é que não consigo.
— Oi, querida, como se sente?— A voz de Arth soa carinhosa do outro lado
da linha.
— Vou bem e você?
— Melhor agora. Estive pensando e cheguei à conclusão, de que montarei o
quarto de B, se você deixar. Sophia tinha muitas coisas e depois do acidente,
Anna achou melhor desfazermos de tudo... — Começa e dá uma pausa,
parecendo emocionado com o que está pensando em me dizer. — Eu não me
desfiz e o quarto dela está intacto, como antes. E... eu queria que ficasse com
você. Acho que B é Bonnie e não Brace, mas de qualquer jeito, fazemos
ajustes e adaptamos se for um garotinho.
Arthur perdeu a família dois anos atrás quando sua esposa Vitória estava indo
para casa depois de uma visita a empresa. Soube pelos corredores que ela era
dona de cinquenta por cento da companhia e gostava de acompanhar tudo de
perto mesmo com a filha com poucos meses de nascida. A irmã de Arth
guardou os quadros de fotografias espalhadas da cunhada e sobrinha,
tentando ajudar o irmão a superar a perca. Quando me mudei para cá e fui ao
primeiro dia trabalhar com minha barriga saliente e marcada no vestido
social, o homem de quase trinta anos que mal aparecia na empresa me viu e
me chamou para conversar em sua sala. De imediato pensei que seria
demitida por estar grávida, porque eu mal havia chego e já teria que entrar de
licença maternidade.
Enganei-me direitinho. Ele foi atencioso, cuidadoso e me perguntou sobre a
gestação e Jaime, pois querendo ou não, eu virei de alguma forma, uma
imagem pública carregando um possível filho do quarterback do momento. O
contei em partes, mascarando algumas coisas e nossa conversa ficou por isso.
Arthur Donatelly, dono das diversas empresas espalhadas pela América do
Norte mesmo estando quebrado e em um luto de anos, foi um ótimo chefe e
amigo, o que vem sendo desde então. Temos contatos sempre e aprecio cada
ligação e demonstração de preocupação.
— Eu acho uma boa ideia. — Concordo ouvindo seu sorriso soprar do outro
lado. Ele adora agradar e presentear B e eu não o nego isso, ele era um bom
homem se prendendo em uma possibilidade de superação. — Não conte a
Hannah, mas também acho que é menina.
— Ficará apenas entre nós, querida, fique tranquila. E Jaime?
— Ele... — Pigarreio olhando ao redor, vendo que estou sozinha na sala.
Hannah havia ido para o banho e Jhonnie estava se arrumando para mais uma
de suas aulas de violão. — Entrou em contato. Me mandou uma carta.
— Uma carta? Não era mais fácil um telefonema ou uma mensagem de
texto?— Pergunta tão encabulado quanto eu.
— Penso o mesmo. Mas... estive pensando e acho que ele fez isso para
mostrar que sabe meu endereço e tem ficado de olho. — Conto, sussurrando e
como minhas unhas, abraçada a almofada em meu colo.
— Como?
— Ele se referiu a B como nosso filho, se declarou e disse que não podia vir
atrás de mim para não atrapalhar minha vida com um namorado. — Suspiro.
— Hastings é doente, não é possível. Do que me contou, ele parece ser mais
confuso que Anna. — Ri e concordo.
— Talvez eu só devesse esquecer, ele não vai voltar. Já aceitei isso e não
posso me iludir por uma carta com palavras bonitas, quando ele está saindo
deixando rastros de calcinhas pela mídia.
— Eu sempre te apoiarei, mesmo que não concorde com tudo o que pensa a
respeito dele, querida. — Murmura.
— Por que?
— Er... eu preciso ir. Anna vai se casar na próxima sextafeira e eu prometi
leva-la para a última prova ao vestido hoje. — Concordo e me despeço,
mesmo sabendo que não passou de uma fuga do assunto, uma vez que Anna
já foi à última prova do vestido e agora só a resta a ansiedade para que o dia
chegue logo.
Capítulo 17
Cinco semanas depois...
Para Khai,
Franzo o cenho, vendo que falta a saudação atenciosa de sempre.
Dona dos meus desejos mais impuros e fantasias insanas. Minha Julieta,
safada, estaria esperando por mim? Não, ela seguia em frente. Mas se ela
quisesse, a qualquer momento, se entregar a mim novamente, me deixaria
extremamente satisfeito e completo. Nossa relação nunca se tratou apenas de
sexo e você sabe disso. Haviam momentos harmoniosos. Mas nesse momento,
o que eu mais sinto falta, é de estar entre suas pernas provocando você ao
máximo antes de sequer pensar em invadir seu corpo.
Então pense comigo, amor. O que acha que eu faria com você se eu estivesse
na sua frente agora?
Jaiminho.
Como se o verão tivesse chegado mais cedo, meu quarto era pequeno demais,
quente demais.
Talvez eu estivesse muito sensível em relação a tudo durante a gravidez, mas
também por mais que eu não queira admitir para mim mesma, eu sinto a falta
dele. Sempre. Dizer isso em voz alta não era uma opção e nem o faria. Seria
deprimente e decadente demais. Como em todas as cartas ele pede perdão por
algum de seus erros e atitudes em nossa relação, eu sabia que não estava
errada. Meu posicionamento era coerente dada a nossa relação atual. Ele
quem me expulsou de sua vida. Nem tem sentido sua atitude e suas cartas,
muito menos as declarações sem nem mais e nem menos. Como acreditar em
alguém que te tratou tão bem e, de uma hora para outra, te jogou para
escanteio?
Explicações? Teve, porém, acreditar e aceitar era o difícil a se fazer.
Respiro fundo tentando mudar o foco dos meus pensamentos, focando nos
detalhes em amarelo do berço no canto do quarto. O cortinado preso acima
do berço, preso no teto, preso nas laterais de madeira tingida. Suspiro,
passando as mãos sobre minha camisola, a barriga que deu trégua nas últimas
duas semanas, parando de crescer, ondula, com o chutar de B.
Sorrio acompanhando o movimento e cutuco, tendo sua resposta com dois
chutes mais fortes que os outros. Rio e ajeito os travesseiros nas costas,
puxando uma almofada debaixo dos pés inchados e doloridos. Amanhã seria
um grande dia, a última ultrassonografia, onde descobriria o sexo de B.
Ansiedade, melancolia e carência na mesma intensidade.
— Licença, precisa de alguma coisa?— Pergunta Hannah, abrindo a porta do
quarto.
— Não, estou bem. Obrigada.
— Já não está tarde para trabalhar?— Indaga de braços cruzados da porta.
Olho para o notebook aberto em cima da cama e meneio a cabeça,
concordando.
— Só estava revisando uma criação.— Puxo o aparelho com a carta sobre o
teclado, fechando. Hannah vem até mim, pegando-o e coloca na mesa de
cabeceira ao meu lado.
— Descansa, amanhã cedo temos que atravessar o Condado de Maricopa.—
Murmura, oferecendo-me a mão. Aceito sua ajuda, arrastando-me pelo
colchão confortável e me deito.
— Sim senhora, mamãe.— Resmungo e ela sopra um riso.
— Boa noite pequeno Brace.— Afina a voz, tocando minha barriga.
— E se for menina?
— Não é.— Assegura com convicção e torço a boca, não querendo discutir a
respeito.— Boa noite criança teimosa.
— Boa noite, mamãe.— Respondo e ela bate em minha bunda antes de sair.
— Ei!
— Gostosinha até.— Torce o rosto e sai do quarto, apagando a luz. Fecha a
porta.
Fecho os olhos repassando o dia na mente, preparandome para o dia seguinte,
divagando sobre diversas coisas ao mesmo tempo. Não sei o exato momento
em que minha mente chegou na carta recebida pela manhã, em que momento
Jaime entrou em minha mente. Se tornando presente no quarto. Era como tê-
lo deitado atrás de mim, com a mão sobre a minha em meu ventre,
acariciando a casa de nosso filho, acompanhando nossa gestação de perto.
Como era possível alguém se manter presente na vida de alguém, mesmo
após ter feito a relação desandar? Mandar cartas não me parecia fazer o estilo
dele, que sempre é muito fechado, gostando de coisas em silêncio. Hobbies
desconhecidos por mim, que arrisco dizer ainda amálo, amando um completo
estranho, recluso e misterioso.
Talvez tenha sido isso que mais me atraiu nele. O mistério. Nada que vem
fácil me parece atraente, é daí que vem meu erro. Sabendo do meu gosto nada
saudável, entrei e me joguei de cabeça em uma relação incerta, cedendo ao
desejo e as sensações nada inocentes que ele despertava em mim. Hastings
era de fato minha perdição, alguém que mesmo após me quebrar, machucar,
ferir e perder minha confiança continuava preso a mim, dentro do meu peito.
Amando e me machucando a cada mensagem em uma carta recebida. Feito
uma masoquista, querendo mais e mais para tê-lo por perto de alguma forma,
lia e esperava pela próxima, contando os dias.
Expectativas, sonhos e persistência neste caso eram algo bom, ou burro?
Abrir mão e tentar esquecer de vez um sentimento que não me faz bem era
uma opção, sofrer era uma opção. Porém, quem disse que eu queria fazer o
melhor para mim?
— Jaime, saia da minha cabeça— sussurro abraçada ao meu travesseiro.
Aperto a mão da minha amiga ao meu lado, seus dedos entrelaçados aos
meus me passavam força. Acho que todo mundo deveria encontrar amizades
como essa, que durassem e superassem as diferenças, apoiando-se e estando
ali para tudo. Nas horas boas e ruins. Eu encontrei depois de muitos anos
colocando esperanças em amizades vazias e interesseiras, e não podia estar
mais agradecida.
— Vai dar tudo certo, se acalma.— Hannah sussurra, prendendo uma mecha
de meu cabelo atrás da orelha.
No momento, estamos sentadas na cadeira de espera no consultório
particular, que o convênio da empresa cobria, esperando para sermos
chamadas para a consulta mais esperada da minha vida. Feito uma manteiga
derretida, eu chorava em ansiedade e medo. Desde às três da manhã estou
acordada com uma sensação ruim e preocupada. B não chutou de noite e não
se moveu como no costume. Estava agoniada com a falta que as dores
rotineiras dos chutes e cotoveladas me causavam, era como se ele estivesse
parado, sem se comunicar comigo de alguma forma.
Meu braço esquerdo se encontrava envolto ao ventre, abraçando o motivo do
meu desespero.
— Ela está bem, vai ver— Cynn sussurra do meu outro lado, segurando em
meu ombro e Jou ajoelhado a minha frente, acariciava meu ventre com o
cenho franzido, parecendo confuso.
— Se acalma, ou vou ter que te dar uma surra. Vai fazer mal para o meu
afilhado!— Hannah reclama e a olho, tentando soar ameaçadora o suficiente.
— Khaillane Marin.— Ouço pelo meu nome e solto o ar com força,
levantando de imediato. Com a ajuda das meninas, segui até a sala do meu
obstetra, acomodando-me com uma pressa surreal. — Como tem passado,
Khai?— Pergunta.
— Ansiosa e com medo— Respondo, afastando as lágrimas insistentes.
— Algum motivo para o temor?
— B parou de se mexer, último movimento dele foi ontem, por volta dás
vinte horas.— Murmuro com a voz falha pelo choro. Droga! Eu não deveria
ter me masturbado! Kall não parece preocupado, ou sequer em alerta, apenas
está... pleno.
— Você está na trigésima quinta semana de gestação, Khai. Geralmente
nesse período os chutes e movimentos diminuem as frequências e os bebês
seguem uma rotina. Se movem em apenas um período do dia pela falta de
espaço.— Explica. Ainda tentando digerir a informação, afasto as grossas
lágrimas de meu rosto.
— É normal então?— Pergunto, ainda alarmada e ele assente.
— Está próximo ao parto, você sentirá menos movimentos, mas as dores
quando ele se mover vão ser maiores por ele estar grande e o espaço ser
quase nulo. — Respiro fundo, alivia, e sentindo a massagem de Hannah em
meus ombros e nuca. Cyntia me oferece um copo d'água e o tomo de uma
vez, tentando me acalmar. Maldito seja Jaime e suas cartas indecentes! Nunca
mais me masturbo!
Passados minutos, longos demais para meu gosto e desespero, Kall pede para
que eu vá me trocar. Já deitada na maca desconfortável, posso ouvir meu
coração em movimentos acelerados demais, as mãos tremendo e suando,
acompanhando os movimentos do obstetra e amigo ao passar o gel gelado em
minha barriga, espalhando com o transdutor. Respiro fundo, virando o rosto
em direção ao monitor embaçado. A imagem preta, com um borrado
alaranjado no formato de B se tornando aparente e o som do coração
invadindo meus ouvidos, trazendo paz ao meu peito.
— Não está com as pernas cruzadas desta vez!— Kall afirma e sorrio
nervosamente, apertando a mão de Hannah.— Querem saber agora, ou depois
de conversarmos algo sério?
— Algo sério?— Indago levantando meu olhar para ele. Estende-me um
pedaço de papel, o qual Hannah pega e limpa minha barriga.
— Sim, sobre estresse e exercícios. Khai, está na hora de se licenciar para
ficar de repouso, evitar escadas, evitar andar demais e o mais importante.
Evitar estresses. Está em um período que exige cuidados muito maiores que
no início da gestação. A criança já está encaixada e corre risco maior de você
ter descolamento de placenta, ter sangramentos, problemas na pressão e
vários outros diversos casos. Por segurança, alerto e prescrevo repouso.—
Finaliza e assinto, compreensiva. Hannah afasta os cabelos de meu rosto e me
ajuda a sentar.
— Agora, qual o sexo?— Pergunta a ansiosa da Hannah, tendo a atenção do
médico toda para ela. Por alguns segundos, parecendo se distrair encara a
morena ao meu lado, mas foca novamente no assunto em pauta. Nem conto o
enrosco desses dois.
— B já pode parar de ser a pseudônima da Bonnie.— Responde com um
pequeno sorriso. Acho que terei cãibra no rosto, meu sorriso se abre de orelha
a orelha, tocando minha barriga enquanto assistia a bagunça na sala.
— Eu disse!— Exaspera Cyntia.
— Merda!— Hannah solta minha mão e tira uma nota de cem dólares do
bolso de seu jeans. Abro a boca desacreditada com a cena e Kall está
sorridente, achando graça da situação.
— Vocês apostaram?— Pergunto.
— Claro, acha que eu iria perder a oportunidade de conseguir cem dólares?—
Devolve Cynn e arqueio as sobrancelhas.
— Quanta falta de noção!— Jou se pronuncia pela primeira vez e rio, vendo
as garotas se virarem para ele. Jhonnie cora violentamente, parecendo
constrangido demais com toda atenção.
— Você não palpita, piolho!— Hannah aponta o dedo para ele.
— Você me deixa curioso, Hannah, como pode ser tão imatura e cuidadosa
ao mesmo tempo?— Kall cruza os braços, nos assistindo com diversão.
— Essa pergunta prova que não me conhece, Khalil.— Rola os olhos, se
voltando para mim.— Vamos, temos cinquenta minutos de estrada pela
frente.
— Ainda vai sair casamento entre vocês dois.— Cynn alfineta a irmã, saindo
da sala com Jhonnie. Rio vendo a careta enojada de Hannah e a sigo para fora
depois de uma breve despedida de Kall.
Khalil não era um homem feio, muito pelo contrário. Era um médico novo,
bonito, porte físico atlético e de descendência árabe. Totalmente o tipo de
Hannah, mas desde a descoberta de minha gravidez, ela se nega a sair do meu
lado e recusa todo e qualquer convite de homens. Tinha hora que me sentia
mal por estar atrapalhando a vida dela, mas então, ela se explicava e falava
que preferia mil vezes estar comigo a sair com homens toscos.
De fato, eu tinha a melhor amiga de todas.
Quando fiz o primeiro ultrassom, Hannah me acompanhava e no fim da
consulta, ele a convidou para sair. Sim! Convidou sem cerimônias! O que é
raro. Homens costumam ser tão lerdos quando se trata de convidar uma
garota para sair, que a verdade seja dita. E a resposta pela qual estão
esperando, é não. Hannah não saiu com ele, o que me confundia. Ela ama
sexo, fato. Tanto é, que se houver uma brecha no assunto, ela está fazendo
suposições, ou está fazendo comentários totalmente obscenos. Pois é, minha
amiga é uma tarada que encurtou as rédeas neste meio tempo. E eu estava
doidinha para ver ela pagando sua língua.
Ah, não os contei isso? Bom... Hannah abriu a boca e disse em alto e bom
som que jamais sairia com Khalil por ele parecer ser inexperiente. Que ela
prefere homens com dotes já muito experiente para a satisfazer em todos os
sentidos.
— Não falamos sobre isso. — Murmuro encarando o corredor de casa,
quando chegamos em casa e Hannah foi para seu quarto. Khalil está a quase
dois minutos em ligação comigo, perguntando sobre Hannah e bem, eu como
a boa cupido, estou atirando feito uma cega no escuro.
— Eu sei o que ela pensa de mim, quer dizer, ela deixou claro o que pensa
quando me bateu no rosto e deu o número do telefone para Rafe. — Comenta
e rio fraco, imaginando a cena. — Tem horas que me arrependo de não ter
tido uma pequena época na minha adolescência para estar ao nível das
mulheres. — Lamenta. Ah sim, esqueci de acrescentar que meu amigo é
virgem, um princeso.
— Ei, nada disso. Muitas mulheres fariam de tudo para estar com você, sem
se importar com sua inocência, huh!?
— Menos ela. — Zomba e rolo os olhos. — Eu tenho que ir. Tenho uma
paciente em seis minutos. — E assim nos despedimos encerrando a ligação.
A vida amorosa dele era mais atrativa que a minha. Hannah está de doce e ele
de lamentações. Eu daria um jeito nesses dois junto a Cynn, ou não me
chamo Khaillane. Nem que para isso, eu tranque os dois no mesmo quarto.
Capítulo 18
Hannah
Um mês depois...
Contudo, criamos uma amizade. Sim, gritem. Eu, Hannah King, amiga de um
babaca. Dá para acreditar? Bufo com esse pensamento. Tenho enviado tudo o
que o idiota pendurado na ligação comigo, há mais de trinta minutos, precisa
saber a respeito da gestação e de Khai, que é obvio que ainda sente algo por
ele. Mas vamos deixar isso entre a gente. Se ela souber me mata!
— Estou falando, está próximo. Hoje pela manhã ela reclamou de estar
soltando uma gosma estranha na calcinha.— Conto e ouço seu suspiro.
— Bonnie está prestes a nascer.— Suspira outra vez do outro lado da linha.—
Acha que ela me aceitaria de volta?
Penso batendo a bunda da caneta contra o mármore da cozinha, repassando os
últimos meses que tenho recebido cartas dele, passando para ela fingindo não
saber o conteúdo e remetente. Khai é muito orgulhosa para compartilhar
comigo algo que ela sabe que está indo contra sua palavra de meses atrás.
Escondendo cartas, treze no total, de alguém que ela ainda quer em sua vida.
Escondendo sua vontade e esperanças de que voltassem a se ver. Atitude que
admiro, mas não quero para mim.
Amor é algo complexo demais para meu cérebro aceitar e entender como
funciona. Quer dizer, amor entre alguém que você quer como parceiro para o
resto da vida, porque amar Khai, Bonnie e Jhonnie era algo do qual eu jamais
me arrependeria. E sobre Jaime... bom, ele era um idiota nato, mas era
compreensível seu lado. Prestem atenção no que eu estou dizendo!
Compreensível, não que eu apoie! Merece um chute bem dado nos países
baixos, isso sim! Mas, mesmo longe, ele estava acompanhando a gestação,
ansioso e extremamente nervoso. Suas emoções estavam uma bagunça,
pioravam ainda mais após a consulta rotineira ao seu psicólogo. Entretanto,
era... comovente, sua vontade de estar bem consigo mesmo antes de retornar
a vida dela, delas. Eles eram um casal bonito, essa é a verdade. Mesmo com a
forma torta como começaram.
Há alguns meses, decidi morar com Khai, ela precisava de ajuda, então eu
obriguei, sim, obriguei, Jaime a me dar dinheiro. Oh, não me olhem assim! A
casa e a reforma são para a pequena Bonnie nem nascida! Ela tem um pai
milionário, o que é uma casa perto da fortuna bancária dele? Então, sem que
Khai soubesse, sequer desconfiasse, tudo por debaixo dos panos, Jaime paga
as contas e a clínica onde ela tem ido a todas as consultas. Sem contar com as
contas do cartão de crédito meu e dela. Eu afundei o desgraçado, se quer se
redimir vai pagar caro por isso, financeira e emocionalmente, porque eu vou
fazer o favor de ajudar minha amiga a colocá-lo na linha. Oh se vou! Me
julguem.
Tanto é que o fiz acreditar que estava namorando com Arthur que, não passa
de um amigo e padrinho de Bonnie. Má, talvez?
— Acho que você deveria perguntar isso a ela, mas espere...
— Com quem está falando?— Pergunta Khai entrando na cozinha com as
mãos apoiadas na coluna.
— Cynn e você deveria estar deitada.— Cerro os olhos. O grunhido de Jaime
do outro lado da linha totalmente frustrado.
— Fique você deitada o dia todo!— Resmunga, abrindo a geladeira.
— Alguma hora eu te amarro naquela cama com um pote com água e ração
ao lado!
— Cadela é você, piranha.— Rebate, levando uma travessa com arroz doce
abraçada ao corpo.
— Lá vai a baleia engordar mais um pouco.— Provoco e ela levanta o dedo
médio, antes de sair da cozinha.
— Vocês são impossíveis.— Ri do outro lado da linha. — Somos como Tom
e Jerry, Finn e Jack, Salsicha e Scooby Doo, Luna e Nina, Ana e Elsa, enfim.
Nos amamos, entre tapas e beijos.— Comento e ele ri fraco.
— Sinto a falta dela.— Sussurra.
— Você quem fez a merda, lide com as consequências.
— Obrigado pela sinceridade.— Debocha.
— Quando precisar J...
— Hannah!— Pulo da banqueta, ouvindo Jaime gritando, perguntando o que
estava havendo. Deixo o aparelho em qualquer lugar, correndo em direção ao
berro da barriguda.
Alcanço Khai na sala, debruçada, envolvendo a barriga, enquanto uma poça
rodeava seus pés. Agora fodeu! A bolsa estourou. O que eu faço? Calma!
Respira Hannah! Agonizando de dor, a deixei sentada no sofá, correndo atrás
do que precisaríamos. Com pressa, tudo parecia lento demais, devagar
demais, atrapalhar demais. Irritar demais! Deus, não me leve ainda, tenho
uma afilhada para estragar!
— A Khai está em trabalho de parto!— Berro pelo telefone, já dentro do
carro, ouvindo o grito de Khai no banco de trás e o desespero de Cynn do
outro lado da linha.
Em desespero, buzinava para os carros. Berrando pela janela para eles saírem
da frente, acelerando em direção a clínica indicada por Khalil. Discando o
número pelo telefone, dividindo minha atenção entre a rua e a ligação que
chamava e nada do desgraçado, pinto frouxo, atender a porra da ligação.
— Qual seu fodido problema, seu merda? Ela está agonizando de dor e eu
estou chorando desesperada sem saber o que fazer!— Grito a plenos
pulmões, irritada, e ouço sua resposta rápida. Jogo o aparelho no banco do
carona.— Khai, só mais alguns minutos, espera só um pouquinho.— Choro
nervosa. Merda, eu nunca pari, não sei o que fazer ou dizer! Ouvindo seu
grito, vendo-a pelo retrovisor abraçada a barriga, as pernas afastadas,
respiração pesada.
— Acelera, eu não vou ter minha filha nesse carro!— Grunhe enfurecida.
Comigo ou a dor? Era algo preocupante. Sigo o que pede, ou manda.
Longos minutos depois, alcanço o estacionamento da clínica, já vendo uma
equipe vindo em nossa direção. Desço do carro, abrindo a porta traseira, os
deixando trabalhar para tirála de dentro. Respiro fundo, buscando pela chave
do carro e meu celular. Acompanho rapidamente os enfermeiros correndo
com Khai para dentro, ouvindo meu nome ser gritado ao longe. Paro de ir
atrás dos enfermeiros, quando sou barrada na recepção.
— Hannah.— Choro preocupada, vendo minha amiga me chamando.
— Céus, me deixa entrar!— Peço e o homem nega com a cabeça.
— Apenas o pai da criança.— Sinto vontade de bater no poste a minha frente,
quando sinto alguém segurar em meu ombro. Viro-me pronta para o acertar
um soco no desgraçado, vendo um par de olhos azuis.
— Cuida do Jhonnie.— Range os dentes, passando por mim feito um raio,
atrás da enfermeira que o leva pelo corredor em que Khai foi levada.
Ah pronto, trago a barriguda e fico de fora!
Jaime
Sinto meu coração na garganta vendo o corpo pronto para dar à luz sobre a
maca, os aparelhos de pressão e batimentos cardíacos ligados a ela, enquanto
ela chora e grita. Isso, com certeza, dói. Puxo uma respiração profunda antes
de alcançala e rever seu rosto de novo depois de tanto tempo. Em passos
curtos, temerosos, tensos, preocupados e ansiosos, me aproximo da cama. O
rosto que vem sendo a única coisa tomando conta da minha mente, agora está
bem na minha frente, choroso. Os olhos castanhos se abrem em agonia,
avermelhados, inchados. Expulsando lágrimas grossas que se perdem no
rosto coberto pelo suor. E me olhando com uma mistura de espanto, surpresa
e dor.
Ouso segurar a mão trêmula, suada, que me aperta com força. Um gemido
escapando de sua boca, os olhos brilhando mais do que em qualquer
momento que podia ter visto. Desvio meu olhar do seu pela primeira vez,
contrariado, no entanto, e toco na pequena parte da barriga antes do tecido
que a impede de olhar para baixo. Sinto meus olhos marejarem, meu peito em
festa e o frio em minha barriga me envolvendo. Nada mais importando ao
nosso redor, olho em seus olhos marejados e a boca entreaberta e me curvo
para alcançar suas faces coradas.
tar.
— Estão bem. Bonnie está no berçário e Khai no quarto.
Em alguns minutos a pequena vai ser levada para Khai e Khalil disse que em
duas horas, as visitas estarão liberadas.—
Murmuro com a voz solene, guardando as mãos nos bolsos do
meu jeans.
— Você estava na cidade.— Observa Hannah, cerrando
os olhos em minha direção.
— Estava.— Concordo. A garota cruza os braços. — Em qual parte mesmo
decidimos que precisaríamos os
dois de sinceridade? Ah, é mesmo, no início. E você não me
disse que estava aqui!
— Você não perguntou.— Dou de ombros e a garota de
olhos verdes abre a boca, mas nada sai.— Vou ver Khai. Sigo pelo corredor,
preparando-me para nossa conversa
tão esperada por mim, buscando palavras e por onde começar.
Seguro a maçaneta e a giro devagar, empurrando a porta com
cuidado. Minhas garotas estão juntas, me trazendo uma
imensa paz no peito, como a muito tempo não tinha. Khai desvia seus olhos
do embrulho cor-de-rosa em seus braços, me
olhando ao notar minha presença.
Entro no quarto, fechando a porta logo atrás de mim, caminhando em curtos
passos silenciosos para perto da cama.
Sem conseguir desviar minha atenção das írises escuras com
rajadas em mel, os olhos mais lindos que já vi na vida, suspiro.
Abaixo os olhos para meu raio de sol, os olhos claros cerrados
enquanto se alimenta pela primeira vez, a mão minúscula agarrada ao dedo da
mãe. Céus, é a cena mais linda que já vi! Suspiro, erguendo a mão direita
com hesitação e toco na cabeça
enfeitada com uma tiara branca, com uma borboleta roxa.
Acaricio de leve, temendo quebrar meu bem mais precioso.
Porque, porra! Ela é, elas são, meu bem mais preciso. Recuo, caindo de
joelhos à frente da cama, cabeça baixa.
Meus olhos deixando as lágrimas caírem, chorando em silêncio. Apoio os
dorsos das mãos no chão, deixando as mãos
abertas e me ponho a agradecer a Deus pelo pequeno presente
me dado. Nem sempre fui um cara religioso, mas, se eu tenho
tido a chance de ser alguém presenteado com acontecimentos
históricos em minha vida, eu sei que tem alguém, algo, lá em
cima olhando por mim e decidindo como as coisas serão, assim como meu
velho acreditava. Escrevendo certo, por linhas
tortas. E neste momento, agraciado, apaixonado, servo das minhas garotas,
completa e verdadeiramente pronto para ser o
que elas querem, o que precisam, me disponho a algo que merecem. Para me
moldarem como quiserem. Pronto para buscar
por seu perdão e sua segunda chance.
— Perdão. Perdão por não estar ao seu lado na descoberta
da gravidez, perdão por ser um idiota. Perdão por fazer tudo
errado, perdão por não estar com você quando precisava, perdão por me
afastar, perdão por tudo.— Começo com os olhos
baixos, me sentindo um mero imbecil diante de suas presenças.— Estive por
esses nove meses buscando ser melhor para
te oferecer o melhor, para as duas. Me preparando para o momento em que eu
te veria novamente e não me sentisse incapaz
e insuficiente para você e nossa filha.
Suspiro olhando em seus olhos marejados, reprimindo a
vontade de tocar seu rosto. Mantendo-me de joelhos, não passando de um
plebeu em frente à minha rainha.
— Sonhando com o dia em que estaria apto e suficientemente bem comigo
mesmo para estar na sua frente, te oferecendo algo mais fixo, seguro e
verdadeiro. Algo que eu poderia dar certeza de que daria certo, me
preparando para o momento em que eu dissesse o que não disse há nove
meses. Aguardando desesperado e ansioso pelo momento em que eu tomasse
minhas decisões sem qualquer influência negativa. Lutando por um Jaime
sem meias verdades e meias histórias, sendo completo e certeiro para me
ajoelhar na sua frente— sussurro. Meu peito novamente a mil com as
expectativas e adrenalina corroendo meu corpo—, te pedisse desculpas,
perdões e que me desse mais uma chance para te exaltar, admirar, tocar,
beijar, amar, estar com você, vocês. Pedindo que me permitisse voltar para a
sua vida, implorando completamente desesperado, ao ponto de vomitar o
coração caso a resposta
demorasse. Correndo o risco de levar uma negativa. Murmuro em tom
brando, vendo as lágrimas banhando
suas faces. Ouso levantar a mão direita, secando seu rosto com
o dorso, recolhendo as lágrimas simbólicas, que eu causei. E,
por isso, nunca vou me perdoar.
— Poderia correr para longe, com vergonha das minhas
atitudes estupidas para com você, minhas palavras ofensivas
ao me contar sobre a gravidez. Mas, eu tenho que assumir com
meus atos, aceitar as consequências. No entanto, Khai, eu seria
o cara mais sortudo por ter você na minha vida, completamente satisfeito,
feliz e insanamente realizado; porque é com
você que minha cabeça, peito, coração, alma e felicidade está. Completo,
segurando na mão que descansa na manta cor
de-rosa, preparando-me para a pergunta final.
— Treze cartas não são suficientes para expressar em palavras o que sinto por
você, a eternidade seria curta demais
para que eu a usasse para dizer as diversas palavras, sentimentos e sensações
que você me causa. Então, deixe-me mostrar
o quão importante na minha vida você foi e é para mim. Permita-me ser o
único homem que vai estar com você de agora
em diante, em todos os momentos. Dê-me a honra, aceitando
meus sentimentos reprimidos, casando-se comigo. Puxo a pequena caixa do
bolso de meu jeans, soltando
sua mão. Abro a pacata caixa, revelando o anel que comprei
há alguns meses. Khai tem seus olhos arregalados, as lágrimas
descendo sem qualquer cerimônia, a mão direita alcançando o
rosto, tapando a boca. Mordo o maxilar com sua demora, minhas pernas
ameaçando falhar e a dor de barriga vindo com
força. Sobe seu olhar do anel para meus olhos, tirando a mão
do rosto, deixando os lábios, trêmulos, livres para a resposta
que eu tanto ansiava.
— Jaime.— Sopra meu nome, a mão alcançando meu
rosto. A caricia delicada, dedos entrelaçando em minha barba
pouco maior do que antes, me fazendo fechar os olhos brevemente,
encarando novamente as irises castanhas marejadas parecendo gravar cada
traço do meu rosto.— Muita coisa aconteceu, nós mudamos, eu mudei. Passei
por muitas coisas sem
o pai da minha filha do meu lado, na gestação. Minha vida se
transformou completamente e minha realidade é outra, ainda
mais séria que antes, quando tinha apenas Jhonnie. A mágoa e as dores são as
únicas coisas que sinto com intensidade, além do meu amor por você. E... eu
tenho tantas dúvidas que me
deixam confusa.
Suspira, roçando o polegar em meu lábio inferior. — Por mais que eu queira
aceitar esse pedido, eu preciso
pensar antes de responder. Não é algo que se responda sem ter
certeza do que está aceitando. Então... só me dá um tempo para
pensar.— Pede e remoendo minha ansiedade, engolindo o
bolo formado em minha garganta, assenti, respeitando seu pedido.
— No seu tempo.— Concordo e acompanho o movimento de sua língua,
passando sobre os lábios, mordendo o
inferior.
Reprimo a vontade de quebrar a distância entre nós e fecho a caixinha,
segurando em sua mão. Deposito-a na palma,
fechando-a e olho em seus olhos novamente. Mordo o lábio
inferior, desejando morder os seus e levanto minha mão até
seu rosto, afastando os cabelos dali. Me levanto, curvando-me
e encosto os lábios em sua bochecha, ousando próximo a sua
boca. Fecho os olhos com a sensação boa de ter sua pele macia
contra os lábios novamente. Afasto-me devagar, o suficiente
para ver seus olhos se abrindo.
Roço o polegar contra sua bochecha rosada, nossos rostos próximos demais
para minha sanidade. Encaro os lábios
que tanto me enlouquecem e me afasto, respeitando seu
tempo.
No seu tempo, amor. Repito em minha mente e vejo seu
sorriso se abrindo com um misto de expressões correndo nos olhos
avermelhados, irritados. Esperar por uma resposta. Eu
esperaria o tempo que fosse. Tudo, faria tudo por ela, elas. — Se importa se
eu segurá-la?— Pergunto hesitante
quando a pequena termina de mamar. Khai me inspeciona por
alguns segundos antes de negar e me aproximo, impedindo
que ela fizesse qualquer esforço para não estourar os pontos.
Balanço minha pequena safira que tem os olhos fechados e a
boquinha delicada entreaberta. Acaricio sua cabeça e seguro
em sua mãozinha, que agarra meu dedo, segurando em minha
camisa. — Zayn sente sua falta. — Conto e ela sorri pequeno. — Também
sinto a dele. — Sorri e abaixo meu olhar para
Bonnie.
— Eu... quero explicar tantas coisas para você. — Sibilo,
sem conseguir encarar seus olhos.
— Não. Não quero falar disso aqui.
Capítulo 19
Khai
Condado de Maricopa, Arizona, três dias depois...
Hannah quase o bateu por ser tão descuidado, mas a impedi. Ele não teve
culpa pelo enfermeiro ser linguarudo, que a verdade seja dita. Nos cercaram
no estacionamento, onde fomos resgatados por Victor que veio ao nosso
socorro com alguns seguranças. Boo que estava dormindo no colo de
Hannah, acordou com a aglomeração desrespeitosa e chorou, me alugando
por todo o trajeto para a acalmar.
— O que?— Pergunto, vendo Jaime guardar as mãos nos bolsos de sua calça
jeans, me encarando e Hannah me olha com cara de paisagem. — Ele disse
para comprar?
— Khai, não é o que parece. — Hannah sibila, coçando o couro cabeludo
como faz quando é presa contra a parede e bufa.
Capítulo 20
Prestem atenção no que vou dizer: Khaillane é uma psicopata vingativa. Por
que? Bom, os métodos dela podem ser comparados a atos terroristas!
Presenteei minha garota por todos esses meses, dia após dia, semana atrás de
semana. Tínhamos regredido em nosso relacionamento. Sentia isso.
Estávamos a cópia perfeita de um casal virgem, tímido, na adolescência.
Cara, jamais imaginei que iria me sentir virjão de novo! Mas essa mulher está
com minhas bolas presas em uma coleira e quando tento afrouxar para pular
nela, a mesma aperta ainda mais, ajustando, deixando-as roxas, doloridas. E
agora, Khai está a porra de uma gostosa usando um biquíni preto de
franjinhas que desenham lindamente seus seios maiores do que eu me
lembrava. A tanga, ou sei lá como se chama aquele pano, cobre sua bunda,
impedindo minha visão privilegiada do playground.
— Gostosa. — Foi minha resposta. Ela revirou os olhos e se foi para a frente
do espelho.
Não vou mentir, tentei reascender nossa nem tão relação e levei foi um não
na cara.
— Não vamos transar. Eu estou gorda e cheia de imperfeições. Se quiser algo
comigo, só vai conseguir depois de pagar academia, nutricionista e uma
cessão de laser. — Sorriu com sarcasmo e me empurrou de perto dela.
Aquela imagem ficou na minha mente por semanas, me enlouquecendo e me
fazendo terminar maldito em uma cama depois de banhos frios e punhetas.
De fato, havia regredido. Sou um adolescente de novo. Um adolescente
pervertido e virgem. Me neguei a pagar o que me pediu e, por mais que eu
quisesse me enterrar até as bolas nela, eu a queria daquele jeito. Perfeita. Eu a
quero de qualquer jeito.
Saio das minhas divagações quando sinto um tapa em minha nuca e olho para
os imbecis ao meu lado.
— Está feito um tarado olhando para Khai. — Simon adverte risonho e
balança a cabeça, levando a long neck de Heineken a boca.
— Ela está me enlouquecendo com essa ideia de sexo só depois do
casamento.— Resmungo voltando a olhar para ela. Khai sorri a todo o
momento, abaixando-se na beirada da piscina para pegar nossa filha.
— Desse mal não morremos! — Aidren ri com Simon e levantam a pequena
garrafa de pouco mais de trezentas ml e brindam com minha desgraça.
— Vão para o inferno, seus malditos! — Ranjo os dentes e os dois
gargalham. Khai se senta na beirada da piscina, colocando os pés na água e
coloca Boo sentada em seu colo. Vejo Hannah sair da água apenas com sua
roupa de banho minúscula e as piadas e risos de Aidren e Simon morrem
encarando a garota. — Parece que tão logo suas bolas vão sofrer o mesmo
que eu, já que foi ela quem sugeriu essa crueldade comigo.— Comento e me
levanto rindo, deixando um tapa em suas cabeças de vento.
O mais engraçado de vê-los hipnotizados por uma garota, era vê-los e ouvi-
los babar por ela, tentarem algo e sempre serem jogados de lado por sua
tirada. Me divirto com suas frustrações diante dos foras de Hannah.
— Acho que você tem mais chances com ela do que os idiotas ali. — Conto
juntando-me a Arthur e Khalil debaixo da varanda. Khalil desvia seu olhar da
garota e sorri pequeno para mim.
— Se minhas chances são zero, a deles são negativas. — Nega com a cabeça.
Conheci Khalil em minha volta para cá depois que rompi o que tinha com
Khai. Ele era novo na cidade e eu resolvi o ajudar com uma informação.
Ficamos por horas conversando no balcão de um bar e acabamos trocando
contato. Quando Khai me ligou falando da gravidez, lembrei dele e cá
estamos. Uma amizade incrível nascida de uma noite de bebedeira. Quando
Bonnie nasceu, entendi que suas visitas a minha casa nem sempre eram para
vê-la, que não passava de desculpas para ficar de olho na morena de olhos
verdes que morava com Khai. Até suas chances de poder ter algo como
desculpa não servir de nada, uma vez que Hannah logo se mudou.
A garota não parecia gostar do tipo de cara que Kall é, mas ainda sim, sua
implicância me deixava curioso e expectante. Por mais que eu saiba do
interesse dos meus amigos por ela, torço que ela fique com Khalil, pois ele
não é do tipo de cara que só vai transar com ela e dispensar no dia seguinte.
Aidren e Simon apenas tem fogo de palha por ela, então, o que posso fazer é
me manter bem quieto no meu canto.
— E você, Arthur. Pensa em se casar outra vez?— Pergunto cerrando os
olhos e vejo-o encarar a direção de Khai e Boo. Já falei que não gosto de
como ele olha para elas?
— Não... eu venho de uma família criada apenas para uma pessoa, um
casamento. E, depois da morte de Vitória e Sophia, eu não tenho mais essa
chance. Mas não me arrependo, foram as pessoas que mais amei na minha
vida. — Murmura e curva a boca em um sorriso triste. Soube de sua história
meses atrás e senti por sua perca, não sou um troglodita sem sentimentos.
— Você tem décadas de vida pela frente. Alguém especial e que te fará se
apaixonar de novo pode aparecer. — Khalil sibila.
— Duvido, meu amigo. Contudo, eu não irei me prender a outra pessoa.
Evitar trazer mais pessoas para sua vida evita que haja mais percas.—
Balança a cabeça, descartando o assunto.
Mais tarde, após as crianças derem um último mergulho na piscina, Khai e
Hannah as levaram para o quarto para se trocarem e cada um foi para seu
canto se aprontar para pegar o voo de volta para casa. Longas horas dentro do
avião se passaram e logo estávamos em casa. Quer dizer, eu esperava poder
ficar ali aquela noite.
— Boa noite, Jaime. — Khai sorri, fazendo menção de fechar a porta antes
que eu entrasse.
— Você é uma péssima hospitaleira. Seus hospedes são maltratados.
— Concordo com você, por isso, tem um hotel logo mais, em três
quarteirões. — Sorri, empurrando a porta e eu a seguro.
— Calma, já é tarde. Onde está toda a preocupação em me deixar dirigir tarde
da noite?— Faço minha melhor cara de coitado e ela revira os olhos.
— Você fica, mas se eu te ver andando pela casa, te jogo para dormir no
quintal. — Cerra os olhos e abre espaço para que eu entre. Entro pondo
minhas mãos dentro dos bolsos frontais de meu jeans e observo Boo
dormindo no bebê conforto em cima do sofá e a casa está silenciosa com a
subida dos meninos para o quarto. — Khalil levou Hannah para o
apartamento dela e Aidren e Simon disseram que iriam embora, porque você
estava demorando. Os meninos dormiram tem pouco mais de meia hora.
Onde você estava?— Inquere cruzando os braços.
— Eu estava no aeroporto, no banheiro. Me deu diarreia. — Minto e ela
aperta mais os olhos, espremendo os braços impacientemente contra os seios
cheios na roupa justa.
— Se continuar mentindo, eu juro que acabou tudo entre nós e você só vai
ver Bonnie uma vez por mês. Quem era a vadia?— Meus pelos eriçam com
sua postura rígida e questionadora, batendo o pé contra o chão. — Estou
esperando, Hastings!
— Ela era alta, ruiva, usava um vestido social escarlate e tinha os olhos azuis.
Trabalhava no sex shop do aeroporto. — Dou de ombros, lembrando-me da
dona da loja. Khai nega com a cabeça e bufa, antes de ir até o sofá carregando
o objeto que segura nossa filha.
— Vai embora, agora.— Manda e sem se virar para mim, vai para as escadas.
Rio e tranco a porta, seguindo-a para o andar de cima. Paro no limiar da porta
do quarto de Bonnie, a vendo colocar a bebê adormecida no berço.
Aproximo-me e paro atrás de seu corpo.
— A ruiva estava me explicando algumas coisas.— Sussurro em seu ouvido e
a ouço bufar, curvando-se para encobrir Boo, que está deitada de lado,
provavelmente já foi amamentada. Encosto minha frente em sua bunda
marcada na calça saruel de moletinho preta e quase gemo pela sensação.
Apalpo sua cintura fina, escorregando os dedos na barriga lisa e Khai volta a
se levantar, parando minha mão antes que descesse para meu destino.
— Achei que estivesse de acordo com minhas condições, mas não. Como um
maldito babaca que não aguenta segurar a cabeça de baixo, transou com a
primeira que apareceu. — Grunhe e me empurra, indo para a porta. — Espero
que vá embora antes que eu acorde.
Sorrio adorando minha garota com ciúmes. Guardo as mãos nos bolsos
frontais, indo para seu quarto no fim do corredor e abro a porta já fechada. Há
alguns meses peguei a chave e escondi para o meu próprio bem, ou levaria a
porta na cara. Passo a língua nos lábios, vendo minha mulher tirando suas
roupas e a observo ir para a cama de cara fechada. Caminho com passos
cuidadosos até ela. Vai que a doida tenta me acertar com alguma coisa fatal?
— Você fica linda com ciúmes. — Sorrio, ajoelhandome a frente da cama.—
Eu não transei com ela e nem com ninguém. Ainda. Porque quem eu quero
está bem na minha frente. — Sussurro, empurrando meus dedos para seu
rosto rígido e emburrado, brincando com os fios de seus cabelos. — Se
lembra quando fantasiou por semanas eu te comendo em cima da sua mesa na
empresa? Apenas o zíper abaixado e sua calcinha de lado... E quando
realizamos essa fantasia, o quanto você gemia, me dava e me puxava pela
gravata? Como você me fez gozar duas vezes sem tirar de dentro... — Puxo o
ar entre os dentes, encostando minha boca em sua bochecha corada, enquanto
ouvia sua respiração barulhenta ofegar. — Jaime...
— Deixa eu terminar. — Peço, calando sua repreensão. — Estive fantasiando
por meses estar dentro de você de novo, de vários jeitos diferentes.
Imaginando o que faria quando você me cedesse de novo. E, minha
imaginação está bastante aguçada com a falta de sexo. Me lembrei da nossa
diversão no escritório em New York, o jeito como você gozou quando eu
provocava seu cu, o prazer que você sentiu enquanto eu simulava um anal. —
Ofego, mordendo sua bochecha, chupando a pele quente e aperto seus
cabelos. — Eu quero tanto você que chega a doer. — Confesso em um rugido
baixo, rouco.
— Para... — Sopra ofegante, mas não se move para me afastar.
— Estou parado, amor. Tenho tido sonhos, torturantes, comigo fodendo você
com força, sem conseguir parar até depois do amanhecer, gozando diversas
vezes. Te chupando, mordendo, lambendo, apertando, beijando. Tenho tanta
energia acumulada que eu mal durmo e quando o faço, preciso trocar as
roupas de cama. Como um adolescente virgem sonhando com a garota
gostosa da escola. Você tem estado na minha cabeça desde sempre. Se não é
me excitando, amando, é torturando. — Sibilo, deslizando meu polegar em
sua face, empurrando para seus lábios trêmulos. Gemo encarando a boca
entreaberta tomando meu dedo, chupando-o, simulando um boquete e puxo
devagar, empurrando de novo, desejando que não fosse meu polegar ali.
Viro seu rosto para mim, encarando seus olhos nebulosos e aproximo ainda
mais nossos rostos. Hipnotizado com a cena dos seus lábios se movendo ao
me receber, quebrei a distância que nos separava e mordi a carne rosada,
tirando meu polegar dali, beijando-a como se minha vida dependesse daquele
toque. Khai não se fez de rogada, retribuindo de imediato, agarrando em
meus cabelos menores que o normal. Puxa-me para cima dela e curvo-me,
empurrando o edredom do caminho, encaixando-me entre suas pernas. Chupo
seus lábios, alisando sua pele macia das coxas, excitado com sua entrega.
Envolve meus quadris com as pernas, descendo as unhas por minhas costas,
enquanto movia seu centro, esfregando-se em minha ereção presa do jeans.
Grunho, descendo a boca por seu pescoço, lambendo e mordendo o caminho
por onde passava, demorando-me em dar atenção para os montes cobertos
pela renda do baby doll cor-de-rosa clarinho, deixando-o ser confundido
facilmente com sua pele. Sendo egoísta com Boo, mordo os mamilos rígidos,
chupando-os sobre o tecido e volto a traçar meu caminho até sua intimidade,
beijando-a sobre a renda da calcinha seguindo a cor do conjunto. Puxo-a sem
fazer festa e desço a língua em sua boceta molhada, provocando o clitóris e o
chupando com fome. Khai geme alto, tapando a boca e agarra em meus
cabelos, enquanto balanço a cabeça de um lado para o outro rapidamente sem
soltar seu grelinho inchado. Empurro o indicador em sua abertura, vendo seu
corpo arquear e o rebolado em meu rosto se tornando necessitado.
Acrescento mais um dedo, tirando e pondo, acelerando com a necessidade
que seu corpo parecia ter. Afastando-me dali apenas depois que ela gozou
gemendo meu nome, puxando-me para cima outra vez. Beijo sua boca
inquieta e deixo um tapa em sua boceta inchada, engolindo seu gemido.
Seguro sua cocha direita e a viro na cama, deixando-a de bruços, descendo
minha boca por suas costas nuas pelo modelo do baby doll aberto, preso
apenas por uma tira como o de sutiã, desfazendo-me do mesmo e mordo sua
coluna, assoprando enquanto ela arrepia e suspira, relaxando na cama. Mordo
sua bunda e faço com que ela arqueasse os quadris, empinando-a para mim.
Ronrona quando lambo suas bochechas, uma de cada vez, deixando um tapa
em cada em seguida e giro a linda, levando-a para o centro dos globos,
lubrificando sua entrada. Ela geme baixinho e começo a provocar, forçando o
polegar em sua abertura, puxando o plug anal do meu bolso.
Enfio-o na boca, lubrificando-o e ajeito sua postura melhor, encostando o
metal oval gelado em sua portinha enrugada e o empurro devagar, enquanto
ela geme, soltando o ar pesadamente, apertando o travesseiro. Posiciono o
plug certo, mordendo sua bunda assim que o coloquei e me afasto, descendo
o indicador em sua boceta molhada outra vez. Respiro fundo, desfazendo-me
de minha camisa, pegando o mínimo controle, apertando o único botão no
mesmo.
Khai se esparrama no colchão, gemendo, enquanto acompanho seu corpo
tremer com as suaves tremedeiras que o vibrador causava. Massageio seu
cóccix, deixando um tapa em sua bunda antes de me levantar, desfazendo-me
dos sapatos e o resto de minhas roupas. Sugo o ar entre os dentes, olhos fixos
na imagem gostosa e volto para a cama, encaixando-me atrás dela. Sua mão
direita deixa o travesseiro, vindo para minha coxa e a aperta. Esfrego-me em
sua boceta escorregadia, encaixando-me e me enfio de uma única vez,
gemendo rouco com a sensação de tê-la apertada me envolvendo e as
vibrações massageando meu comprimento.
Sopro o ar tentando controlar o gozo e começo a me mover devagar,
aumentando conforme consigo administrar o tesão.
— Gostosa demais... — Ranjo os dentes, acertando-a mais um tapa e ela
afunda o rosto nos panos, abafando o grito. Geme diversas vezes meu nome,
gozando outra vez e volta a apertar o travesseiro. Debruço-me e cheiro seus
cabelos, marcando sua nuca com chupões. Agarro os fios cheirosos, os
puxando e arqueando sua cabeça, mordendo seu ombro direito. — Vai gozar
de novo pra mim?— Gemo em seu ouvido, segurando o lóbulo entre os
dentes. — Hum?
— Vou... ah merda. Me fode com força! — Grunhe entre os dentes, e aperto
sua cintura com a mão livre girando os quadris e empurrando com mais força.
Prendo a respiração, segurando o orgasmo que quer me derrubar e escorrego
a mão até seu clitóris, pressionando-o. Chupo seu pescoço, sentindo sua mão
alcançar meus cabelos, os puxando e rio, segurando seus dedos, entrelaçando-
os e me arqueio, levantando seus quadris e ela entende que é para ficar de
quatro.
Volto a me enterrar em sua boceta gulosa e acerto seu clitóris outro tapa a
sentindo contrair e gozar outra vez com as pernas trêmulas. Retardo meu
gozo por mais algum tempo, me retirando de dentro dela quando não consigo
mais controlar, esfregando meu eixo com ânsia, esporrando em sua bunda e
costas. Khai geme outra vez, deitando a cabeça no travesseiro e o corpo
tremendo. Respiro fundo, puxando o controle da cama e o desligo a ouvindo
suspirar em desgosto. Safada insaciável!
— Descanse, vou querer mais uma e dessa vez vou comer aqui. — Sussurro e
movo o plug. Ela resmunga algo e eu retiro o metal, a vendo rolar na cama
com a respiração entrecortada.
— Você vai me matar. — Sibila com o rosto perdido entre os fios
bagunçados dos cabelos. Sorrio, deitando-me sobre seu corpo.
— Tenho quatorze meses atrasados, amor. — Beijo a ponta de seu nariz e ela
choraminga como se não estivesse gostando.
— Bom dia. — Khai murmura assim que entro na cozinha. Sorrio para ela
que tem a expressão suave, relaxada, de mulher que foi bem fodida na noite
passada e gozou muito e me aproximo, deixando um selinho em sua boca.
Epílogo
Jaime
Condado de Maricopa, Arizona, um ano depois...
Jaime
Uma semana antes...
— Minha família, minha mulher, quem eu devo minha vida e faria de tudo
para tê-la sempre comigo.
— Quanto o incidente de anos atrás, o qual o senhor foi acusado pela família
de sua ex noiva, Glenda, de ter participação no assassinato da falecida
modelo. Como se declarou e o que houve, de fato, na sua versão?— Inquere e
engulo em seco, repassando a imagem em minha mente, respirando fundo,
lembrando-me da terapia que acabou seis meses atrás na tentativa de falar a
respeito do que tanto me atormentava. Suspiro, meu peito inflando, as
imagens se passando na minha mente de novo, seguindo por mais outras
vezes intermináveis.
— Mesmo sendo uma modelo bastante conhecida, Glenda não gostava de ter
toda a atenção da mídia em cima dela. Namoramos por anos para que nos
conhecêssemos, noivamos e engravidamos. Era a realização de um sonho
meu, a paternidade, estávamos felizes e ansiosos com o casamento e a
chegada da criança. Mas, faltando pouco mais de duas semanas para a
chegada de Zayn, precisei viajar novamente para uma nacional. Voltaria no
fim da semana com o time.— Começo, enrolando, vendo os olhos castanhos
me assistindo com atenção.— Porém, decidi voltar antes, um dia após o jogo,
e encontrei Glenda com Asaf na nossa cama.
Passo a língua sobre os lábios, controlando a enxurrada de sentimentos
caindo sobre meus ombros, me cagando de medo. Medo da reação dela.
— Asaf Raswik, seu melhor amigo da época, certo?— Indaga a jornalista e
assinto.
— Sim. Brigamos, Glenda entrou na frente, defendendo o amante e na fúria
do momento, Asaf a acertou um soco. Meu nojo por ele aumentou ainda
mais. No entanto, Glenda anunciou em desespero que o filho que esperava
era de Asaf e não meu.— Minha garganta trava, a prepotência me
arrebatando. Os olhos marejando. Tocado com a intensidade que estávamos
indo na entrevista. Eu sabia que não seria fácil falar abertamente sobre.
Entretanto, eu faria de tudo por ela. Ainda lutando para alcançar a superação
e aceitação que ainda não havia conseguido, mas que deu trégua ao lado das
minhas garotas, meus filhos. Minha família.
— Se quiser podemos fazer uma pausa.— Sugere e meneio a cabeça,
querendo acabar logo com aquilo.
— Naquela tarde após ter a notícia que me dera, saí de casa e fui para um bar,
retornando tarde da noite, bêbado. Carregando a trinta e oito que andava
comigo no carro e depois disso, eu não me lembro do ocorrido, apenas
sangue, gritos e a chegada da polícia e ambulância.— Completo, desviando
meu olhar de Khai, evitando encontrar a decepção em sua feição.
— Os jornais do país apontaram sua inocência, comprovada pelas digitais,
posição em que o tiro foi efetuado e os restos da pólvora da arma de fogo,
confere?— Prossegue com as perguntas, frias, curiosas.
— Isso.
— Agora, Zayn, como tem sido sua relação com a criança que não é seu
filho?
— Zayn é meu filho. — Garanto, levantando meus olhos para ela. — Depois
do parto de emergência feito no centro cirúrgico e Zayn nasceu, foi feito um
teste de DNA para comprovar a paternidade de Asaf, para entregar a criança
para a família dele. No teste, deu negativo a compatibilidade paterna, então
eu fiz o teste e ele é meu filho. Nossa relação não era muito boa, mas de
alguns meses para cá, está melhorando e apesar do impasse na minha relação
com a mãe dele, não me arrependo de tê-lo em minha vida. É um Hastings,
meu filho e tenho orgulho de cada progresso em suas ações.
Vejo por minha visão periférica Khai secar o rosto com o dorso das mãos e
me recuso a encarar seus olhos. Vergonha dos meus atos, vergonha de quem
eu fui.
— Como se sente em relação a proximidade em que estamos da véspera de
seu casamento com Khaillane, mãe da primeira filha do casal?— Sorrio
pequeno em meio as lágrimas, movendo a aliança em meu dedo anelar,
encontrando com seus olhos brilhantes pela primeira vez, não sabendo como
descrever suas características agora.
— Realizado.
— O que houve em dois mil e onze para sua recusa e despensa a imprensa?
— Uma coluna de revistas levantou fake news a meu respeito, que se
espalhou rapidamente, dizendo que eu tinha envolvimento com tráfico de
armas de fogo e participava de leilões clandestinos, onde pedófilos
disputavam pela virgindade de crianças em um site, derrubado meses depois.
— Respondo travando o maxilar.— Fui afastado do meu posto de
quarterback do time do Arizona até o fim das investigações. Levantei uma
imagem suja, asquerosa e imoral da coluna empresarial, generalizando o
mau-caráter da mídia para conseguir dinheiro porco.
— Se te pedisse para descrever sua vida hoje, quase oito anos após o
acontecido, com três palavras, quais seriam elas?— Pergunta e lambo os
lábios, as palavras na ponta da língua.
— Persistência, coragem, força.— Murmuro e vejo os lábios de Khai
curvando em um sorriso orgulhoso, provavelmente se lembrando da primeira
carta que a deixei na minha partida.
— Alguma mensagem que queira deixar para fãs, amigos ou familiares?
— Acho que todos deveriam ter ao lado uma pessoa que lhe inspira, te ajuda
a levantar após cair, manter-se no caminho certo. Então, meu recado é: não
perca tempo ao lado de pessoas vazias e pobres de alma e caráter; busque por
sensações e sentimentos verdadeiros. Eu encontrei a minha e não poderia ser
o cara mais sortudo do mundo. No amor vale a espera e a persistência.
Agora...
Tem alguns minutos desde que caímos no silêncio confortável. Aquele lugar
era relaxante, às vezes costumava a me perder ali durante a madrugada na
minha visita à cidade. Em uma delas, perdi a hora do treino, que antes era
logo pela manhã, antes do sol judiar. Phoenix tinha grande participação na
minha jornada de superação. Foi nessa cidade, nesse Condado, que encontrei
a minha garota. A minha esperança.
Mal podia esperar para que o dia amanhecesse e caísse ao pôr do sol, para ver
minha futura esposa vestida de noiva e costurar nossas vidas de vez. Eu a
quero mais que tudo e o círculo de ouro branco que se apossaria de seu dedo
anelar em poucas horas, era a confirmação de que ela estava ali comigo,
desfazendo-se de qualquer insegurança e incerteza. Volto minha atenção para
Khai que ri baixinho, desvencilhando do meu abraço e se vira, passando as
pernas por cima das minhas, obrigando-me a juntá-las para que ela se
sentasse.
Isso é verdade. Fiz umas compras pela internet meses atrás depois de termos
feito um breve teste-drive com o plug anal e comprei mais algumas coisas.
Desde então, nosso quarto, sim nosso, fica trancado vinte e quatro horas por
dia. Meu ódio só aumenta por lembrar que suas amigas estavam jogadas,
babando, na nossa cama agora, quando éramos para estar varando a noite
estreando mais uma novidade da nossa gaveta trancada.
Hannah
— Bom dia, morena, ruiva. — Simon entra na cozinha e suspiro.
— Bom dia, Simon. — Cynn cumprimenta e ignoro sua entrada, voltando
minha atenção para meu celular. Bebo mais um pouco do meu café,
estranhando Khai ainda não ter acordado e olho na direção do sofá, vendo
Jaime também desmaiado no sofá.
— Não acham que o casal ali está dormindo demais hoje? — Pergunto,
querendo que fosse apenas impressão minha.
— Acho. Khai sempre é a primeira a acordar. — Cynn concorda e respiro
fundo, minhas paranoias começando a trabalhar. — Eu conheço essa cara.
— Será que eles...
— Transaram enquanto dormíamos? Não. Tenho sono leve e é impossível
terem trepado em qualquer canto da casa e eu não ter acordado. — Simon me
interrompe e arqueio a sobrancelha direita, não satisfeita com sua resposta.
Volto meu olhar para o celular quando recebo notificação de um site de
fofoca que vivo de olho. Sim, gosto de uma boa fofoca, me julguem! Fofoca
pela manhã para começar o dia é vida, ok? Quase cuspo o café quando leio a
legenda da matéria de hoje.
— Tá! — Concorda e a sigo, tomando cuidado para que ela não tombasse
para traz. A neném aprendeu a andar sem apoio tem pouco mais de três
meses, mas ainda não confio em deixa-la andando por aí sem supervisão. —
Bate... — Murmura, levantando a colher para bater em Jaime. Rio fraco, não
a repreendendo e ela bate fraco na cabeça do pai algumas vezes.