A Filosofia Da Ciência

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 10

Filosofia da Ciência

O problema da demarcação
Nem todo o tipo de conhecimento humano possui as mesmas características
específicas. Por exemplo, muito antes de haver ciência (tal como atualmente é
praticado), os seres humanos adquiriram e conheciam uma grande quantidade de
informação acerca do mundo, podemos designar por:

SENSO COMUM CONHECIMENTO CIENTÍFICO


- Baseia-se na experiência da vida e - Trata-se de um saber que envolve investigações
nas tradições com alguma complexidade e que não pode ser
adquirido apenas com base na experiência e na
- É um saber essencialmente prático
vida
- Pode variar de pessoa para pessoa e
- Envolve uma sistemática preocupação com o
é utilizado sem uma preocupação
rigor e a justificação das afirmações
sistemática de rigor e justificação
- Caracteriza-se pela procura das causas dos
- Inclui também, algumas
fenómenos e pela tentativa de construir um
superstições, como, por exemplo,
conjunto organizado e coerente de conhecimentos
acreditar que o número 13 dá azar

Colocar o problema da demarcação significa perguntar se é possível encontrar um


critério de cientificidade. O que permitirá dizer quais são as características que as
teorias devem ter para serem consideradas como científicas ou o critério para
distinguir o que é ou não é ciência (como por exemplo, a filosofia, a literatura e as
artes) e o que é a pseudociência

Pode haver várias razões que justificam a necessidade de encontrar um critério de


cientificidade:

o Teóricas- A importância de delimitar e compreender o objeto de estudo e cada


uma das áreas que são referidas
o Práticas- saber identificar quando ocorrem discursos pseudocientíficos e como
agir nas situações onde isso acontece
o Educacionais- saber o que ensinar nas escolas

Diversos filósofos procuraram responder a este problema


apresentando critérios de cientificidade que possibilitassem
distinguir o que é ciência e o que não é. Para isso vamos
considerar então duas teorias: a dos positivistas lógicos
(Ayer e Carnap) e a de Popper
Verificação
Os filósofos defensores do positivismo lógico começaram por considerar que uma
teoria só é científica se for constituída por afirmações empiricamente verificáveis, ou
seja, quando se pode conceber experiências que estabeleçam conclusivamente a sua
verdade ou falsidade

Exemplos:

1. Júpiter tem satélites


2. Existe uma aura á volta da cabeça de certas pessoas
A frase 1 é verificável, pois a sua verdade ou a falsidade pode ser estabelecida através da
experiência

A frase 2 não é verificável, pois não há observações que possam evidenciar a sua verdade ou
falsidade

Segundo Ayer e outros positivistas lógicos, a verificação é um critério de cientificidade


que se aplica ás ciências empíricas

CRÍTICA AO CRITÉRIO DE VERIFICABILIDADE

Este critério de demarcação foi alvo de muitas críticas:

Uma dessas críticas diz que, sendo as hipóteses e as leis científicas expressas por
enunciados universais, estas não podem ser alvo de verificação, pois isso implicaria
algo que ninguém consegue fazer: observar todos os casos

Por maior que seja o número de casos observados , não é possível garantir a verdade
de uma lei que se expressa num enunciado universal, já que é impossível observar o
número indefinido de casos a que a proposição universal se refere

Confirmação
Devido ás objeções apontadas o critério de verificabilidade positivista nomeadamente
Carnap apresentam um critério de cientificidade alternativo chamado a confirmação

Segundo este critério, se uma teoria é científica, então é empiricamente confirmável.


Ou seja, pode acumular-se um número significativo de evidências empíricas a favor de
uma hipótese. Se assim for, esta pode ser considerada verdadeira e tomada como lei
científica, contudo o número de casos será sempre finito.

Os indícios empíricos disponíveis apoiam as hipóteses e conferem-lhes um grau de


probabilidade maior ou menor, embora não possam garantir, de forma conclusiva, a
sua verdade.

CRÍTICA AO CRITÉRIO

Todavia, também a confirmação das hipóteses coloca dificuldades: como definir, em cada
contexto, quais são os indícios empíricos relevantes e em que número para confirmar a
hipótese em causa? O próprio Carnap reconhece esta dificuldade apontada ao seu
critério de cientificidade.
A resposta de Popper : Falsificabilidade
Popper responde ao problema da demarcação propondo um outro critério: a
falsificabilidade.

De acordo com este filósofo, a principal distinção entre as teorias científicas e não
científicas é o facto de as primeiras serem falsificáveis.

o Uma teoria é falsificável se for possível pensar numa circunstância que caso,
ocorresse, a desmentiria (a tornaria falsa).

Popper salienta que essas condições empíricas que permitem refutar (ou falsificar) as
teorias científicas têm de ser logicamente pensáveis ou imagináveis; não significa que
tenham de vir a ocorrer, podem acontecer ou não.

De acordo com Popper, os cientistas devem adotar uma atitude crítica.

Ou seja, devem formular teorias claras, onde se explicitem as condições em que estas
podem revelar-se falsas e depois realizar testes exigentes, procurando eventuais erros
nessas teorias – ou seja, devem procurar falsificá-las.

Portanto, teorias como a astrologia – que procuram apresentar explicações


propositadamente vagas que não sejam refutadas por nenhum caso concreto – não são
científicas.

- Quando uma teoria não resiste às tentativas de falsificação dos testes empíricos, diz-
se que foi falsificada e terá de ser substituída por outra (na totalidade ou em parte)
que corrige os erros da anterior.

- Se, pelo contrário, os dados observacionais não conseguem pôr em causa a teoria,
diz-se que foi corroborada (saiu fortalecida).

A corroboração permite a aceitação provisória da teoria enquanto resistir aos testes


que procuram falsificá-la. Mas, ainda assim, essa teoria continua a ser falsificável.

Consequentemente, para Popper as hipóteses ou teorias científicas são sempre


conjeturais, isto é, são tentativas provisórias de explicação, suposições que podem vir a
revelar-se falsas. Por isso, não devemos dizer que são verdadeiras.

Popper : Graus de Falsificabilidade


Popper considera que as teorias mais interessantes para a ciência são aquelas que
possuem um elevado grau de falsificabilidade.
Quanto maior é a generalidade de um enunciado científico, maior é o seu grau de
falsificabilidade

Os cientistas devem procurar teorias ousadas e com elevado conteúdo empírico, que
digam mais sobre o mundo, com maior poder explicativo e, por isso, correndo maior
risco de falhar

Popper : Condições suficientes


A falsificabilidade é uma condição necessária para uma teoria ser científica. Porém,
não é uma condição suficiente. Para ser científica uma teoria deverá reunir, em
simultâneo, os seguintes requisitos:

1. Ser falsificável.
2. Ter capacidade explicativa, fornecendo respostas para problemas com alguma
complexidade.

PseudociÊncia
Popper distingue a ciência de áreas que, não sendo ciências, tentam fazer-se passar
como tal: pseudociências.

Teorias (como a astrologia) que procuram não ser sujeitas ao processo de falsificação e
dão explicações irrefutáveis são pseudociências

O problema do método
Quando se diz que o conhecimento científico é metódico, isso significa que a sua
aquisição envolve procedimentos específicos e diversas etapas, ao contrário do
conhecimento vulga ou do senso comum que não implica um raciocínio especial nem
nenhuma organização específica, porque para o adquirir basta-nos ver, ouvir e seguir
as tradições

Assim sendo a que método recorrem os cientistas para elaborar e justificar as


hipóteses

Existem várias respostas a estas questões como por exemplo o indutivismo e o


falsificacionismo

Perspetiva indutivista
De acordo com esta perspetiva, podemos descortinar as seguintes etapas do método
científico (por vezes também chamado por método experimental:
1. Observação e registo dos factos empíricos- Na primeira etapa, observam-se
determinados factos e são recolhidos, de forma imparcial e rigorosa, dados
2. Elaboração da hipótese- Na segunda etapa, formula- se através da
generalização uma hipótese, ou seja, uma tentativa provisória de explicar o que
foi observado
3. Experimentação- A terceira etapa permite testar as previsões que são feitas
com base na hipótese, correspondem ao que acontece na realidade
4. Formulação das leis científicas- Na quarta etapa, se a hipótese for confirmada
pelos dados empíricos transforma-se através da generalização numa lei
científica que é aplicável a todos os fenómenos semelhantes

CRÍTICA AO INDUTIVISMO
Segundo alguns filósofos, incluindo Popper, a visão indutivista do método científico não
corresponde a uma descrição correta das atividades dos cientistas

Duas objeções que pretendem mostrar que a perspetiva indutivista está errada:

Não há observação que pretendem mostrar que a perspetiva indutivista está errada:

Os cientistas fazem observações em função de um determinado enquadramento


mental, que engloba interesses, expectativas e conhecimentos já adquiridos.

Assim sendo, a observação é sempre orientada por pressupostos teóricos prévios e visa
responder a uma questão que, colocada antecipadamente, orienta a observação e
justifica a sua realização.

O ponto de partida não é sempre a observação:

Há fenómenos estudados pelos cientistas que não são diretamente observáveis; por
exemplo, o facto de uma parte do universo ser constituída por matéria negra. Esta não
é visível, mas sim inferida através dos efeitos gravitacionais sobre a matéria visível
(estrelas, galáxias, etc.)

Casos como estes permitem colocar em causa a perspetiva indutivista do método.

Sendo assim, as opiniões dividem-se quanto á importância da indução no método


científico. Há filósofos que defendem que os cientistas não precisam de raciocinar
indutivamente em nenhuma das etapas do método científico.
O método das conjeturas e refutações-
Popper
Em alternativa à conceção indutivista da ciência, Popper defende que, nas ciências da
natureza, os cientistas utilizam o método crítico ou o método das conjeturas e
refutações.

Assim, segundo a perspetiva falsificacionista, podemos distinguir as seguintes etapas


do método científico:

1. Problema- Na primeira etapa, o cientista coloca uma questão para a qual


pretende encontrar uma resposta.
2. Conjeturas- Na segunda etapa, o cientista formula uma hipótese (uma suposição
ou tentativa de solução do problema) desejavelmente com elevado conteúdo
empírico.

Mas como se chega a essa hipótese? Popper pensa que a descoberta das hipóteses
deve-se ao espírito criativo e imaginativo dos cientistas. O que é relevante, depois
de apresentar a hipótese, é a possibilidade de deduzir consequências empíricas, ou
seja, de fazer previsões a partir desta, de modo a testá-la.

3. Submissão a testes: refutação ou corroboração (das conjeturas)- Na terceira


etapa, as consequências deduzidas das hipóteses são submetidas a testes que
visam confrontá-las com os factos.

Popper considera que os testes são tentativas de refutação (e não de confirmação


ou verificação). Os cientistas, na discussão crítica das teorias, devem procurar
detetar erros de modo a falsificá-las.

Se as conjeturas ou teorias resistirem às tentativas de falsificação, são


corroboradas, embora nunca possam ser consideradas como absolutamente
verdadeiras porque nada indica que no futuro não possas ser submetidas a novos
testes e serem refutadas

As teorias que não resistem (porque os testes mostram que são falsas) são
refutadas e substituídas por novas teorias

O problema da indução
Popper concorda com a análise lógica que David Hume fez do problema da indução: as
conclusões das inferências indutivas ultrapassam os dados da experiência e não se
encontram racionalmente justificadas.
Poderia pensar-se que as conclusões céticas de Hume seriam extensíveis às teorias
científicas, mas Popper rejeita isso.

o Para ele, na investigação científica, não é necessário recorrer às inferências


indutivas (nem para formular as hipóteses, nem para as justificar) e, por isso, a
racionalidade e a objetividade das ciências empíricas não é posta em causa
pelas ideias defendidas por Hume.

Popper substitui os dois grandes alicerces do método indutivo:

1. Substitui a verificação / confirmação pela falsificação.

2. Substitui a indução pela dedução.

CRÍTICAS AO MÉTODO DAS CONJETURAS E REFUTAÇÕES


A distinção entre ciência e pseudociência depende da comunidade e do contexto:

O filósofo da ciência Paul Thagard deu atenção não só à dimensão lógica e


metodológica da atividade científica, como também ao contexto histórico e social em
que esta decorre.

Segundo Thagard, a distinção entre ciência e pseudociência deve ser feita a partir de
características típicas e não de características necessárias e suficientes.

Deste modo, fariam parte da pseudociência propriedades como a desatenção dos


factos empíricos, o desinteresse por teorias alternativas e a ausência de progresso,
entre outras.

O falsificacionismo não descreve corretamente a prática científica:

Em vários momentos da história da ciência verificou-se que os cientistas – e a


comunidade científica – não procederam de acordo com o método das conjeturas e
refutações, ou seja, não adotaram um ponto de vista crítico em relação às suas teorias
e não tentaram falsificá-las. Pelo contrário, resistiram às tentativas de refutação,
procurando antes confirmar e consolidar as suas teorias.

Assim, mesmo que tivessem constatado que algumas previsões empíricas tinham
falhado, colocavam antes em causa as condições em que os testes haviam sido
realizados.

O problema da evolução e da
objetividade da ciência
Os problemas do progresso científico e da objetividade da ciência, para isso é preciso
discutir algumas questões:

1. Como evolui a ciência? 2. A ciência será objetiva?

Existem respostas divergentes para estes problemas. Como por exemplo a perspetiva
de Popper e Thomas Khun

A perspetiva de Popper- a seleção natural


das teorias
Popper considera que a ciência se desenvolve através do processo de substituição das
teorias falsificadas por novas teorias e que isso proporciona um acréscimo
de conhecimento.

As novas teorias proporcionam explicações mais adequadas do que as anteriores, pois


são mais completas e conseguiram ultrapassar as tentativas de refutação dos rigorosos
testes empíricos a que estiveram submetidas. Por isso, fornecem explicações dos
fenómenos mais aproximadas da realidade.

Popper compara o desenvolvimento da ciência ao processo de seleção natural, descrito


pela teoria evolucionista de Darwin.

Em termos biológicos, a sobrevivência dos seres vivos depende da capacidade de estes


se adaptarem ao meio natural, modificando gradualmente os seus organismos de
forma a conseguirem viver num determinado meio ambiente.

o Popper considera que o mesmo acontece com as teorias científicas: apenas


sobrevivem as que resistem às tentativas de falsificação dos testes empíricos,
as mais aptas, portanto.

Contudo, os testes podem corroborar a teoria sobrevivente mas nunca provar a


sua verdade: as teorias são sempre conjeturas.

Segundo Popper, a verdade é um ideal que deve orientar a


prática dos cientistas.

Ainda que as teorias sejam criações humanas


que não correspondem inteiramente à realidade,
a eliminação dos erros faz com que os cientistas consigam
alcançar representações
cada vez mais corretas dos fenómenos.
PROGRESSO CIENTÍFICO = APROXIMAÇÃO À
VERDADE
Do ponto de vista popperiano, o progresso científico é cumulativo, pois as teorias do
presente corrigem as falhas das teorias anteriores e trazem novos conhecimentos, o
que permite um acréscimo de saber e uma aproximação à verdade.

Portanto, as novas teorias são aceites porque contêm menos erros e são mais
completas do que as anteriores. Na linguagem de Popper, são mais verosímeis.

Mas para Popper será a ciência objetiva?


De acordo com Popper, a ciência é objetiva, pois este filósofo considera que a escolha
das teorias é feita de modo imparcial e impessoal.

Popper reconhece que fatores de natureza individual, social ou política podem por
vezes afetar a atividade de certos cientistas. No entanto, pensa que esses fatores não
interferem na avaliação crítica das teorias. A escolha destas depende dos resultados
dos testes empíricos realizados e da discussão crítica.

OBJEÇÕES A POPPER
Não nos dá boas razões para confiar na ciência

De acordo com a perspetiva falsificacionista, a ciência tem-se desenvolvido através da


eliminação de teorias erradas.

Embora exista um progresso no sentido de uma maior aproximação à verdade, as


teorias são sempre conjeturais, nunca estamos em condições de garantir que são
verdadeiras.

Ora, se as ideias de Popper fossem corretas, não teríamos motivos racionais para
acreditar na ciência.

Pensaríamos que muitas explicações e instrumentos que usamos resultam de teorias


que podem vir a ser falsificadas e que, portanto, não são inteiramente fiáveis.
De facto, uma teoria ter resistido até agora às tentativas de refutação não é
uma justificação plausível. Precisamos de outro tipo de razões que a teoria de Popper
não nos proporciona.

Você também pode gostar