Governos Lula, Dilma e Bolsonaro: As Políticas Públicas Educacionais Seus Avanços, Reveses e Perspectivas
Governos Lula, Dilma e Bolsonaro: As Políticas Públicas Educacionais Seus Avanços, Reveses e Perspectivas
Governos Lula, Dilma e Bolsonaro: As Políticas Públicas Educacionais Seus Avanços, Reveses e Perspectivas
Resumo: Este artigo analisa o panorama da educação brasileira nos governos Lula,
Dilma e Bolsonaro, no que tange aos avanços, reveses e projeções relacionadas às
políticas públicas educacionais. A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica
e documental com abordagem de análise crítica. A justificativa para este estudo é o
amplo debate na mídia e nas comunidades científicas, em nível nacional e internacional,
sobre as políticas promovidas pelo governo atual que impactam nos rumos da educação.
Finalmente, destaca-se que a pandemia gerou inércia a algumas ações e práticas no
Brasil.
Abstract: This article analyzes the panorama of Brazilian education in the Lula, Dilma
and Bolsonaro governments, in terms of advances, setbacks and projections related to
public educational policies. The methodology used was a bibliographic and
documentary research with a critical analysis approach. The justification for this study
is the wide debate in the media and in the scientific communities, at national and
international level, about the policies promoted by the current government that impact
the direction of education. Finally, it is noteworthy that the pandemic has generated
inertia to some actions and practices in Brazil.
Histórico presidencial
Esse estudo aborda apreciações dos três últimos governantes do país, para a
compreensão dos processos constitutivos das políticas públicas educacionais brasileiras.
Esse recorte se dá pelos motivos que dois dos presidentes se mostraram democráticos,
mas o atual tem uma trajetória e um projeto reacionário explícito em ações e práticas,
que é foco analítico desse dossiê.
O primeiro Luiz Inácio Lula da Silva e José de Alencar tomaram posse no dia 1º
de janeiro de 2003. Na ocasião, pela primeira vez desde a redemocratização do país em
1985, um presidente passa a faixa presidencial ao seu sucessor eleito pelo voto direto.
Chegava ao poder um operário, líder sindical, sem nível superior, nascido em
Pernambuco, nordestino, advindo da região mais pobre do Brasil. Em 2006, foram
reeleitos para mais um mandato (POLITIZE, 2020).
A segunda foi Dilma Rousseff instituída à presidência da república em janeiro
de 2011, como primeira mulher a assumir o cargo no país, empossada junto com o vice,
Michel Temer. Em 2014, Dilma foi reeleita, entretanto, deixou o segundo mandato na
presidência após sofrer impeachment em meio a denúncias de corrupção e manobras
fiscais. Por ocasião da interrupção, Temer assume a presidência interinamente por três
meses e 19 dias, e, em definitivo, no dia 31 de agosto de 2016, o posto mais alto da
República (O NACIONAL, 2016).
E, o terceiro é Jair Bolsonaro e seu vice Hamilton Mourão que tomaram posse
em janeiro de 2019. Embora seja possível localizar a eleição de Bolsonaro num contexto
de geopolítica global, também é importante aprofundar a análise do caso brasileiro
específico à educação. Durante este primeiro ano, e ainda, tomando ciência da realidade
nacional, quase nada foi realizado.
Entretanto, 2020 teve início com dois grandes acontecimentos: a recessão
econômica mundial e a difusão da Covid-19. Isso gerou tendências que interferem no
destino de povos e nações, que passam pelo isolamento social e por um longo período
de quarentena. Com a ausência de vacinas e um tratamento complexo que precisa de
respiratórios artificiais, que são poucos na rede de saúde brasileira, os clamores das
instituições científicas e da Organização Mundial da Saúde (OMS) foram ouvidos, para
impedir uma catástrofe mundial, e as políticas de confinamento social foram
gradativamente implantadas (COLEMARX, 2020).
Em meio a essa situação caótica, o Tribunal de Contas da União (TCU)
informou em relatório que o governo atual nada tem feito para enfrentar a pandemia.
Bolsonaro destinou aos estados somente 39% dos recursos da União para o combate.
Até meados do mês de julho, o Brasil acumulava 54.971 mortos (FOLHA DE SÃO
PAULO, 2020).
Alguns setores produtivos foram forçados a interromper seus processos de
produção, assim como atividades culturais e educacionais foram suspensas por tempo
indeterminado. Segundo Nez e Morosini (2020), o colapso dos mercados financeiros e
da economia é uma ideia que assombra aos governos e está relacionada com a evolução
do coronavírus, tanto no Brasil quanto no mundo global.
No que diz respeito ao histórico da condução do Ministério da Educação (MEC),
observa-se no quadro que segue, quem foram os ministros e o tempo de permanência no
cargo, o que de certo modo ilustra a rotatividade em função das problemáticas
envolvidas em cada governo.
Nos governos Lula e Dilma, houve um "plus” educacional, a educação vem para
o centro do poder como essência de desenvolvimento do Brasil que se insere em um
mundo global pelo viés social, somando-se ao político, ao econômico, ao cultural. A
nova ordem mundial, para além do discurso, cria o bloco econômico dos países
emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), 5 onde se amplia a
influência geopolítica. A agenda deixa de ser puramente econômica, passa a ser social
arraigada de uma narrativa concreta direcionada para um processo inversamente
1
Ministro da Educação interino.
2
Presidente interino.
3
Após a posse de Temer, o Ministério da Cultura foi extinto e reincorporado ao MEC. Porém, a decisão
foi revista e o Ministério voltou a ser apenas "Ministério da Educação".
4
Indicado, mas não tomou posse por inconsistências na formação acadêmica.
5
É um agrupamento de países emergentes que juntos representam cerca de 42% da população, 23% do
PIB, 30% do território e 18% do comércio mundial, se destacando no cenário mundial pelo rápido
crescimento das suas economias em desenvolvimento. O acrônimo foi cunhado por O'Neill, em 2001
(BRICS BRASIL, 2019).
proporcional àquela que existe há décadas nos outros blocos econômicos (com fim em
si mesmo na dimensão econômica).
O processo de impedimento da Presidente Dilma, que começou em maio de
2016, culminou com sua saída definitiva em agosto do mesmo ano. Produziu uma
“fratura exposta” no avanço das políticas educacionais, pois a maioria dos projetos
foram sendo destituídos tanto no governo Temer quanto no atual.
Bolsonaro criou a ideia de “terra arrasada”, tudo não teria sido feito, as políticas
educacionais representariam um caos, por isso, seu indicativo é privatizar tudo que for
possível. Além disso, instituir a educação a distância desde o Ensino Fundamental,
destituir as políticas de inclusão social em relação às ações vinculadas a gênero, entre
outras que, grosso modo, parecem sem sentido, mas, que quando analisadas
integralmente, fazem parte de um modelo de governo autoritário e articulado aos
interesses do capital.
Em relação, aos ministros da educação e levando em consideração as diretrizes
de seus respectivos planos de governo, vale-se da conclusão de que são distintos, com
olhares opostos e atuações antagônicas. Infere-se que a gestão do MEC em cada um dos
períodos, por meio de seus ministros, atende a uma determinada concepção de educação
e sinaliza um Brasil que atua em sintonias que se chocam e não se encontram nunca.
Vale destacar, finalmente que o único ministro que ficou por mais tempo no
cargo foi Fernando Haddad, que esteve à frente da pasta da gestão Lula (seis anos), e no
governo Dilma permaneceu mais um ano. Bolsonaro em mais de um ano de mandato já
teve quatro ministros, o que demonstra total desrespeito a uma área norteadora dos
rumos do país, e, que em meio da pandemia do covid-19 precisa de uma postura atuante
e que pudesse favorecer o desenvolvimento do país.
Concepção de educação
Orçamento/financiamento da educação
O orçamento para a educação em 2003 era de R$ 18,1 bilhões, avançando para
R$ 54,2 bi, em 2010. Um salto de quase três vezes o valor, em oito anos do governo
Lula. Ao estender o olhar até 2016, ano em que Dilma sofreu o golpe, o montante
atingiu 100 bilhões (COSTA, 2020).
Importante salientar que o divisor de águas de todo o processo, que colocou a
educação no centro das atenções, foi à transformação do Fundo de Desenvolvimento da
Educação Básica (FUNDEF) que tinha centralidade no ensino fundamental para criar o
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). A decisão perseguiu a
superação da exclusão que estava posta naquele momento no país, assegurando-se os
repasses dos recursos para todos os níveis da Educação Básica: Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio (BRASIL. 1996).
Entre outras coisas, há se lembrar que junto com o dinheiro investido na
Educação, criou-se o Bolsa Escola/Bolsa Família 6 , nesse período, um aumento
significativo da renda da população mais pobre. Ao condicionar o recebimento do
6
O Bolsa Escola (criado em 2001) substituído pelo Bolsa Família (em 2003) consiste na garantia de uma
renda mensal mínima, paga preferencialmente à mãe, a fim de que seus filhos estudem e não sejam
obrigados a trabalhar para ajudar no sustento de suas famílias (NEZ, 2005). É importante lembrar que a
educação era vista, principalmente nos Governos Lula e Dilma como principal estratégia de combate à
pobreza; o que não se observa no atual governo.
benefício à frequência das crianças na escola, o programa extrapolou o aspecto da
transferência de renda para se tornar um incentivo ao ensino.
Monteiro e Leal (2001) sinalizam que as políticas de combate à pobreza
entraram na agenda brasileira nos anos 90 pela influência de vários fatores. A mais
marcante, sem dúvida, foi a Campanha Nacional da Ação da Cidadania Contra a Fome,
a Miséria e pela Vida, um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos
que, liderado pelo sociólogo Betinho, conclamou a sociedade brasileira a indignar-se e a
mobilizar-se na luta contra a fome e a pobreza.
Outros desdobramentos resultaram, na revogação da Desvinculação de Receitas
da União (DRU), implantada em 1994. A medida citada retirava 20% dos recursos
vinculados para educação, definidos pela Constituição Federal de 1988. O padrão que se
produziu com a desvinculação da DRU permitiu aos governos Lula e Dilma aumentar
em 206%, em termos reais, o orçamento da educação (MERCADANTE e ZERO,
2018).
Em vista do esforço da desvinculação, a presidenta Dilma investiu e R$ 54
bilhões acima do piso constitucional. Outro fato importante foi a aprovação da Lei nº
12.858/2013 que trata da destinação da parcela de participação no resultado ou da
compensação financeira relativa à exploração de petróleo e gás natural. A base da lei
indicava a constituição da vinculação de 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo
Social do pré-sal para a educação e para a saúde.
A estimativa de recursos a serem repassados no momento da aprovação da lei,
que depende da produção futura, preço internacional do petróleo e taxa de câmbio. Mas,
a Emenda Constitucional (EC) nº 95 congelou o gasto público por vinte anos e acabou
com o piso constitucional da educação e as mudanças na lei do pré-sal, que reduziram as
exigências ambientais, isentaram de impostos as multinacionais de petróleo, em uma
renúncia fiscal (COSTA, 2020).
Segundo dados do Tesouro Nacional divulgados no ano passado, o Brasil gasta
atualmente, em educação pública, cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB), valor
superior à média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) que é de 5,5% — que engloba as principais economias mundiais — e de pares
como Argentina (5,3%), Colômbia (4,7%), Chile (4,8%), México (5,3%) e Estados
Unidos (5,4%). De acordo com os números, cerca de 80% dos países, incluindo vários
países desenvolvidos, gastam menos que o Brasil em educação relativamente ao PIB
(MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019).
Liborio, Ribeiro e Ciscati (2020) enfatizam que a realidade é diferente quando se
trata do gasto do país por aluno. O estudo Education at a Glance 2017, com números de
2014, mostra que a média dos países membros da OCDE era de US$ 10.759 anuais por
aluno, levando em conta todos os níveis de educação. Já o Brasil desembolsou apenas
metade do valor: US$ 5.610 anuais. A situação é melhor na Educação Superior do que
na Educação Básica.
Segundo Bolsonaro (2020), o Brasil gasta mais em educação em relação ao PIB
que a média de países desenvolvidos, mas ainda assim ocupa as últimas posições no
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) 7. Em fevereiro, o presidente
informou em seu Twitter que era preciso, além de investir em educação, garantir que os
investimentos sejam bem aplicados e gerem resultados. Ao citar apenas os gastos em
relação ao PIB brasileiro, no entanto, o presidente não leva em conta quanto o país gasta
por aluno — e esse número mostra uma realidade bem diferente em relação às nações
desenvolvidas.
Costin citado por Liborio, Ribeiro e Ciscati (2020) esclarece que há três pontos a
serem considerados na análise dessa comparação. O primeiro é que o gasto por aluno
ainda é baixo. Outro, é que países que já universalizaram o acesso a Educação Básica
podem diminuir a quantidade de gastos, o que ainda não é o caso do Brasil. Por fim, o
fato de que gastamos de maneira desigual. “Gastamos mais por aluno no ensino superior
do que na educação básica. Quando comparamos gasto por aluno na educação básica,
ele é muito inferior à média internacional (p. 1).”
O índice custo aluno qualidade (CAQ), da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação, calcula quanto deveria ser o investido anualmente por aluno para garantir o
padrão mínimo de qualidade estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE) na
Educação Básica. Nas creches urbanas de tempo integral a Campanha estimou um
valor/aluno de R$23.579,62; de R$ 9.607,02 na pré-escola em tempo parcial; R$
7.545,06 nos anos iniciais do Ensino Fundamental; R$ 6.604,99 no tempo integral; e
R$5.454,74 no Ensino Médio.
7
Realizado a cada três anos e avalia o desempenho escolar de diversos países em três quesitos principais:
matemática, ciências e leitura. A última edição foi realizada em 2015 e analisou 70 países. O Brasil ficou
entre os dez últimos no ranking em ciências (63º) e matemática (65º), e ocupou a 59ª posição em leitura
(PORTAL INEP, 2020).
Entretanto, os números diferem dos estimados pelo FUNDEB, que mostram uma
estimativa de investimento anual por aluno no ensino público por Estado brasileiro. O
Brasil deveria investir até cinco vezes mais do que gasta hoje, para garantir uma
educação pública de qualidade da creche ao Ensino Médio -- seriam necessários R$
21.280,12 anuais por aluno para custear a oferta em área urbana, e hoje são pagos R$
3.921,67 (LIBORIO, RIBEIRO e CISCATI, 2020).
Dados do Portal da Transparência sinalizam que o orçamento para a educação,
gerido pelo MEC em 2018, foi de R$ 115,7 bilhões. Desse total, o que foi executado de
fato chegou a R$ 95,6 bilhões. A maior parte dos recursos fica com a Educação
Superior (R$ 29,6 bilhões), refletindo o aumento no número de estudantes nesse
segmento. O segundo maior gasto é com as transferências para a Educação Básica (R$
13,7 bilhões). Soma-se aqui a complementação ao FUNDEB que é repassada a estados e
municípios para evitar que o valor investido por aluno fique abaixo do mínimo nacional.
No ano passado, essa complementação chegou a esses R$ 13,7 bilhões (PORTAL DA
TRANSPARÊNCIA, 2020).
Além dessa complementação, Liborio, Ribeiro e Ciscati (2020) explicitam que o
fundo contou em 2018 com outros R$ 39,95 bilhões, que são recursos provenientes de
impostos e outras contribuições que são transferidas aos estados que, junto com os
municípios, são os responsáveis pela Educação Básica. A divisão dos recursos é feita de
acordo com o número de alunos matriculados na rede pública.
Especificamente, com relação ao FUNDEB, o governo Bolsonaro teve uma
“surpresa” inesperada. Na terça-feira, 21 de julho de 2020 – dia histórico para a
educação, a proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 15/15 foi aprovada na Câmara
de Deputados em dois turnos. Torna permanente o FUNDEB, elevando a participação
da União no financiamento da Educação Infantil e do Ensino Fundamental e Médio. O
texto-base da proposta foi aprovado em segundo turno por 492 votos a 6, com 1
abstenção. A PEC seguirá para o Senado para mais dois turnos de votação no próximo
mês (AZEVEDO, 2020).
Oliveira e Ferreira (2020) comentam que a participação do governo no fundo,
que hoje é de 10%, aumenta progressivamente até 23%, no período até 2026; a
progressão será: 12% (2021), 15% (2022), 17% (2023), 19% (2024), 21% (2025) e 23%
(2026); sendo que o valor aluno ano total (VAAT) passa de um mínimo de R$ 3.700,00
hoje para R$ 5.700,00 em 2026. Além disso, o que exceder os 10% da União, passam a
ser assim distribuídos: 2,5% a municípios com bons resultados educacionais; o restante
(10,5%), de acordo com a necessidade dos municípios, desde que 5% sejam
direcionados à Educação Infantil. O texto mantém a obrigatoriedade de se investir um
mínimo de 70% do valor recebido do FUNDEB para pagamentos de professores e
servidores da educação. E, por fim, a proposta reserva 15% para investimentos, na
prática, o limite para pagamentos de salários passa a ser de 85%.
Do ponto de vista do orçamento, o governo do Bolsonaro prevê a inversão no
investimento de recursos do nível superior para a Educação Básica, sendo que o Ensino
Médio tinha como princípio basilar a formação técnica profissionalizante (OLIVEIRA e
FERREIRA, 2020). Em relação à Educação Superior, o foco seria nas parcerias e
pesquisas com a iniciativa privada, formando um jovem empreendedor. Mas, até o
momento não houveram muitos avanços relacionados a isso, porque o que impera é a
total inoperância durante a pandemia.
8
Um dos maiores desafios da educação como política de Estado é a construção de parâmetros de
qualidade. O IDEB foi uma tentativa que obteve êxito tendo como objetivo avaliar a proficiência e fluxo
escolar. Nesse indicador, Bolsonaro não alterou nada até o momento, isso significa dizer que o índice
continua valendo.
Gráfico 2 – Quantitativo de crianças e jovens no Ensino Fundamental (2012/2019)
9
Implantado no governo Lula permitiu um crescimento real dos salários de aproximadamente 49%, entre
2009 e 2015. Os investimentos na formação inicial e continuada dos professores realizados por meio da
criação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2012), no governo Dilma assegurou bolsa
de estudos e um programa especial de formação para cerca de 300 mil professores alfabetizadores.
Nacional Comum Curricular (BNCC), no início do segundo mandato de Dilma
buscando um currículo flexível (MERCADANTE e ZERO, 2018).
Conforme é perceptível, no gráfico 3, no Ensino médio, as matrículas na faixa
etária de 15 a 17 anos cresceram. Nessa faixa etária, frequentam a escola 84,6% da
população. Entre os 20% da população brasileira mais pobre, em 2002, apenas 31,6%
estavam na série esperada; e, em 2015, 60,2% estavam nessa condição. Entre os 5%
mais pobres, aumentou em quatro vezes o número de adolescentes que acessou o Ensino
Médio na idade certa nos últimos anos.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC),
implantado a partir de 2011, no governo Dilma, foi um dos maiores programa de
educação técnica e profissionalizante da história do país. Ofertou 9,4 milhões de vagas,
de modo a estimular a inclusão produtiva e para abrir novas possibilidades no mercado
de trabalho (MERCADANTE e ZERO, 2018).
Em linhas gerais, o presidente Jair Bolsonaro deixou explícito no seu plano de
governo o treinamento dos estudantes da Educação Básica para a realização das
avaliações em larga escala e um Ensino Médio voltado para a formação de mão de obra
por meio dos cursos profissionalizantes. Também vem intensificando parcerias com a
iniciativa privada na Educação Superior e a tendência ao endurecimento do controle
ideológico de estudantes e de professores. Os dados encontrados ainda são
insignificantes para uma análise, se vem cumprindo a proposta objetivada.
Sobre a rede de universidades federais nos governos do Partido dos
Trabalhadores (PT), houve a maior expansão de sua história. Ela era composta, em
2002, por 45 universidades, com 148 campi, e, atingiu em 2015, 65 universidades com
327 campi. Mercadante e Zero (2018) destacam que foram criadas nos mandatos de
Lula e Dilma um total de 18 universidades, 173 campi e centenas de unidades dos
Institutos Federais de Educação (IFES).
No final do governo Dilma, já eram 38 IFES distribuídos em 600 campi. As
matrículas dobraram, de 558 mil estudantes em 2002, para mais de 1 milhão em 2015,
considerando apenas o Ensino Médio e Profissional Técnico. Toda essa expansão
promoveu a inclusão de uma parcela da população historicamente excluída. O acesso
ocorreu com maior ênfase por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em
2009, no governo Lula (BRASIL, 2019).
Além desses esforços, a lei de Cotas (nº 12.711/2012) também incrementa a
democratização da Educação Superior, enfrentando a desigualdade social e a
discriminação racial, buscando assegurar políticas de acesso aos estudantes da escola
pública, com recortes para as famílias de baixa renda, negros e indígenas. As políticas
de financiamento da Educação Superior fortalecem a expansão de oportunidades, entre
elas: o Programa Universidade para todos (PROUNI), o Fundo de Financiamento ao
Estudante do Ensino Superior (FIES) e Sistema de Seleção Unificada (SISU) incluíram
milhões de jovens e ampliaram suas oportunidades (BRASIL, 2019).
A partir desse conjunto de medidas, é possível inferir que 35% dos concluintes
que fizeram o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), em 2015,
foram os primeiros de suas famílias a serem diplomados. Além disso, Mercadante e
Zero (2018) expõem a confirmação da presença de jovens negros nesse processo. No
que tange à oferta de formação de professores, a Universidade Aberta do Brasil (UaB)
ofereceu ensino a distância e gratuito para os docentes da rede e foi constituído o
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID)10.
Nos gráficos que seguem é possível observar o avanço nas matrículas nos
últimos 10 anos, por categoria administrativa (universidades federais, estaduais e
municipais) e o quantitativo relativo aos concluintes que possibilitam uma reflexão
sobre o relevo dado à Educação Superior nos governos Lula e Dilma.
10
O programa é uma das ações da Política Nacional de Formação de Professores do MEC que visa
proporcionar aos discentes na primeira metade dos cursos de licenciatura, uma aproximação com o
cotidiano das escolas de Educação Básica. No final de 2017, já no Governo Temer, encaminhou-se o
Programa de Residência Pedagógica e uma reestruturação no PIBID, que começou a ser implementado
em 2018 (SOUZA e NEZ, 2020).
Gráfico 5 – Matrículas em curso de graduação na rede pública (2008/2018)
Vale ressaltar nesse contexto que o Programa Ciência sem Fronteiras 11 criado no
início do governo Dilma, atuou como um avanço na mobilidade internacional estudantil
e para o fomento à internacionalização das universidades e da produção científica,
levando cerca de 100 mil estudantes e pesquisadores brasileiros às universidades e
centros de pesquisa, em 54 países. Os investimentos em educação, ciência, tecnologia e
inovação também cresceram expressivamente nos governos do PT e tinham o objetivo
de preparar o país para a economia do conhecimento (MERCADANTE e ZERO, 2018).
Outro programa proposto pela CAPES, em 2017, foi o Mais Ciência Mais
Desenvolvimento que objetivava integrar ações referentes à internacionalização dos
programas de pós-graduação, contudo, teve curta duração. Logo em seguida, no mesmo
ano, foi substituído pelo Programa Institucional de Internacionalização (PRInt) que
entre muitos objetivos, buscava fomentar a construção, a implementação e a
consolidação de planos estratégicos de internacionalização das IES nas áreas do
conhecimento priorizadas (NEZ, 2020).
No governo do atual presidente, por causa do coronavírus, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) informou oficialmente que
estariam suspensas todas as ações de mobilidade do PrInt agendadas. Nesse contexto,
foi impossível executar as ações. Países limitaram a locomoção interna dos cidadãos
que impactou nos docentes que já estavam fora do Brasil. Estes ficaram desorientados
11
Lançado em 2011, e se constituía de um programa de intercâmbio, em parceria com o governo federal e
empresas privadas. Seu objetivo era estimular o avanço da ciência nacional em tecnologia, inovação e
competitividade, por meio da mobilidade. Também buscava incrementar o quantitativo de pesquisadores
e acadêmicos em instituições de excelência no exterior, assim como atrair pesquisadores para trabalhar no
Brasil, por meio de incentivo financeiro (BRASIL, 2015).
em função de uma brutal mudança de comportamento frente à pandemia, imobilizados
nos países destino, sem conseguir executar o planejamento proposto. Os semestres
letivos foram sobrestados e instalou-se a incapacidade de racionalizar e implementar os
projetos e missões de pesquisa que deveriam ser desenvolvidos neste primeiro semestre
de 2020 (NEZ, 2020).
Borssoi e Nez (2019) explicitam que o papel da universidade pública frente à
Emenda Constitucional 95 (EC 95) aprovada pelo governo Temer (2016), que instituiu
um Novo Regime Fiscal (NRF) no país com o congelamento de gastos, já tinha
inviabilizado as políticas públicas sociais, na Educação Básica e Superior, colocando
em risco a universidade e a existência da pesquisa. Por fim, é imprescindível esclarecer
que o modelo de pesquisa defendido pelo governo Bolsonaro é a pesquisa aplicada, pois
considera que o campo da ciência e do conhecimento nunca deve ser estéril. Também
prioriza algumas áreas em detrimento de outras.
O atual presidente ainda sugere que a Educação na modalidade à Distância
(EaD) como um importante instrumento de formação da juventude, principalmente nas
áreas rurais, segundo Libório, Ribeiro e Ciscati (2020). Mas, até o momento não há
dados relativamente suficientes para serem observados e validados.
Considerações finais
Levando-se em conta o objetivo proposto nesse ensaio teórico, é possível
constatar que Lula e Dilma ampliaram em 206% o orçamento do MEC, criaram o
FUNDEB e o Piso Salarial Nacional do Magistério, além de expandirem a escolarização
obrigatória (dos 4 aos 17 anos).
A qualidade da educação melhorou visto que as metas do IDEB foram
alcançadas em inúmeras cidades nos anos iniciais do Ensino Fundamental e avançaram
nos anos finais. Houve investimento na educação do campo, indígena e quilombola. O
programa Mais Educação ampliou o acesso à educação integral, o que qualifica a
educação de um modo geral.
Os desafios dos governos petistas foram na diminuição dos passivos que ainda
permaneciam para o cumprimento do direito constitucional à educação de qualidade
social no plano nacional (CARDOSO NETO, 2019). Isto porque os desmontes advindos
do golpe concretizado pelo afastamento da Presidente Dilma, aliado às políticas de
caráter liberal, claramente demonstram princípios comuns.
Alguns dos temas em que a campanha presidencial de Bolsonaro foi alavancada
precisam de uma análise profunda para entender as mudanças em curso ou total
imobilidade da implementação das políticas públicas. Seu programa de governo
anunciava que educação era uma tragédia, com mau uso do dinheiro, evasão escolar,
péssimo desempenho dos estudantes no PISA, gestão educacional, esgotamento do
modelo de pesquisa e desenvolvimento, doutrinação.
Para solucioná-los durante o período que já se encontra governando não houve
nenhuma proposta efetiva ao falar de integração dos entes federados, muito menos
como será implementada ou que instrumentos serão utilizados.
Como solução, o governo atual propôs o modelo de gestão escolar e o
endurecimento da disciplina dos alunos com a criação de inúmeras escolas militares,
apontando como referência o modelo adotado em Goiás. Todavia, essa proposta como
muitas outras ficou sem encaminhamento, em partes em função da pandemia, mas antes
disso, pela ingerência que se instalou no MEC.
Destaca-se, também a ingerência de uma teocracia neopentecostal atrasada,
nazifascistas, que mistura o privado com o público, criando e incitando notícias falsas
(fake news), que tem pouco ou nenhum apreço pela liturgia do poder, age descontruindo
boa parte das políticas públicas implementadas em quase duas décadas em todas as
esferas e escalões de poder em Brasília.
As atitudes atingem em maior e menor graus estados e municípios. Exemplo
dessa atuação no campo educacional é o que vem acontecendo com as universidades, os
institutos federais, a diminuição sistemática de recursos para prover a ciência e
tecnologia, as bolsas de estudos na pós-graduação, graduação, monitoria e outras tantas
políticas públicas de Estado para a educação. Todo esse movimento constitui ações
pulverizadas por terraplanistas, negacionistas emperdenidos assentados em cargos
estratégicos para banir “esquerdopatas” amantes do legado de Paulo Freire na educação
brasileira.
O covid-19 deu outra direção para todas as atividades realizadas e com isso
algumas ações e práticas ficaram esquecidas em meio ao processo pandêmico. Além
disso, evidenciou um fracasso coletivo dos sistemas de educação em incentivar formas
democráticas de engajamento e de colaboração entre cidadãos e governos de todas as
regiões do mundo, no Brasil não foi diferente.
Referências
ANUÁRIO Todos pela Educação. Disponível em:
https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/anuario-2020-Todos-Pela-Educacao-e-
Editora-Moderna-lancam-publicacao-com-dados-fundamentais-para-monitorar-o-
ensino-brasileiro/. Acesso em: 01 ago. 2020.
SOUZA, W. C.; NEZ. E. Diálogos entre universidade e educação básica: o PIBID como
interlocução na formação de professores. Educação, cultura e sociedade. Sinop, v. 10,
n. 1, p. 66-79, jan./jun. 2020.