Governos Lula, Dilma e Bolsonaro: As Políticas Públicas Educacionais Seus Avanços, Reveses e Perspectivas

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Governos Lula, Dilma e Bolsonaro: as políticas públicas

educacionais seus avanços, reveses e perspectivas

Lula, Dilma and Bolsonaro governments: public educational


policies its advances, setbacks and perspectives

Odorico Ferreira Cardoso Neto


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Campus Universitário do Araguaia (CUA)
0000-0002-0104-2945
kikoptbg@gmail.com
Egeslaine de Nez
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Faculdade de Educação (FACED)
0000-0002-0316-0080
e.denez@yahoo.com.br

Resumo: Este artigo analisa o panorama da educação brasileira nos governos Lula,
Dilma e Bolsonaro, no que tange aos avanços, reveses e projeções relacionadas às
políticas públicas educacionais. A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica
e documental com abordagem de análise crítica. A justificativa para este estudo é o
amplo debate na mídia e nas comunidades científicas, em nível nacional e internacional,
sobre as políticas promovidas pelo governo atual que impactam nos rumos da educação.
Finalmente, destaca-se que a pandemia gerou inércia a algumas ações e práticas no
Brasil.

Palavras-chave: Brasil, Políticas Públicas Educacionais, Perspectivas, Avanços,


Pandemia.

Abstract: This article analyzes the panorama of Brazilian education in the Lula, Dilma
and Bolsonaro governments, in terms of advances, setbacks and projections related to
public educational policies. The methodology used was a bibliographic and
documentary research with a critical analysis approach. The justification for this study
is the wide debate in the media and in the scientific communities, at national and
international level, about the policies promoted by the current government that impact
the direction of education. Finally, it is noteworthy that the pandemic has generated
inertia to some actions and practices in Brazil.

Keywords: Brazil, Educational Public Policies, Perspectives, Advances, Pandemic.


Introdução
As últimas décadas do século XX foram marcadas pela articulação entre a
acumulação capitalista e a expansão da pobreza e da exclusão social. A crise dos anos
70 demoliu as bases sociais e impôs um desafio de reconstrução em todas as partes do
mundo. Essa reorganização provocou complexas relações entre os países e ampliação do
espaço econômico por meio da globalização e do neoliberalismo.
Silva e Gentili (1996) consideram que o complexo processo da construção
hegemônica dá-se por meio de estratégias de poder que se implementam em dois
sentidos: por um lado, através de um conjunto de reformas concretas no plano
econômico, político, jurídico e educacional; e, por outro, via uma série de estratégias
orientadas a impor diagnósticos acerca de novos significados sociais, como sendo os
únicos que podem ser aplicados na contemporaneidade.
Nesse contexto socioeconômico, as políticas públicas, segundo Nez (2014),
constituem um dos campos que mais têm desencadeado o interesse de intelectuais,
economistas e políticos. Isso significa dizer que, não se pode ignorar que a toda política
está subjacente a uma intencionalidade teórica e que o pano de fundo, no qual se
constitui, está entremeado pelos interesses econômicos mundiais.
A educação é política pública fundamental que visa assegurar inclusão e justiça
social, uma das exigências indispensáveis para o desenvolvimento sustentável e, assim
como a economia do conhecimento, é impactada profunda e diretamente pelas
inovações tecnológicas.
Conforme dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 2010, constata-se, que grande parte da população brasileira tem
o atendimento de suas necessidades sociais restringidas. Isso acontece em decorrência
de inúmeros fatores, entre eles, o fato de o Estado favorecer os interesses do capital, que
reforça a lógica privatista e mercadológica das políticas sociais, e, consecutivamente das
educacionais. Nega-se, deste modo, o caráter público, universal e gratuito, que
conforme dispõe a Constituição Federal (CF) no bojo do artigo 6º, deveria tratar os
cidadãos como sujeitos de direitos (BRASIL, 1988).
Assim, a herança histórica do Brasil é marcada por um atraso educacional que
acarretou uma dívida cultural e social com as famílias pobres e vulneráveis
(MERCADANTE e ZERO, 2018). Por isso, foi preciso instituir um imenso esforço de
democratização do acesso, com a inclusão dos excluídos, especialmente de crianças e
jovens mais pobres nos sistemas de ensino.
No governo Lula, apostou-se em um “conjunto sistêmico, articulado, integrado e
complementar de políticas educacionais em que todas as etapas e modalidades estavam
interligadas e orientadas para assegurar acesso, permanência e qualidade, desde a creche
até a pós-graduação” (MERCADANTE e ZERO, 2018, p. 25).
Nessa direção, o presente artigo objetiva analisar o panorama da educação
brasileira nos governos Lula, Dilma e Bolsonaro, no que tange principalmente aos
avanços, reveses e projeções. O procedimento metodológico utilizado foi uma pesquisa
bibliográfica e documental com abordagem de análise crítica. Essa discussão se
justifica, pois, as políticas promovidas pelo governo atual provocam, em nível nacional
e internacional, um amplo debate na mídia e nas comunidades científicas.
Para isso, o texto foi dividido em cinco partes além da introdução e das
considerações finais. Na primeira, apresenta-se um breve histórico presidencial e de
seus ministros da educação que possa contribuir no esclarecimento do período histórico
que se analisa; na segunda do artigo, o foco está na concepção de educação para cada
um dos governos; a parte três discute o orçamento e o financiamento da educação; a
expansão e o atendimento da Educação Básica e Superior são os destaques da quarta
parte; e, na última parte desse artigo, aborda-se o Plano Nacional de Educação.

Histórico presidencial

“Estudantes das universidades brasileiras fazem


tudo, menos estudar” (JAIR BOLSANARO, 2019).

Esse estudo aborda apreciações dos três últimos governantes do país, para a
compreensão dos processos constitutivos das políticas públicas educacionais brasileiras.
Esse recorte se dá pelos motivos que dois dos presidentes se mostraram democráticos,
mas o atual tem uma trajetória e um projeto reacionário explícito em ações e práticas,
que é foco analítico desse dossiê.
O primeiro Luiz Inácio Lula da Silva e José de Alencar tomaram posse no dia 1º
de janeiro de 2003. Na ocasião, pela primeira vez desde a redemocratização do país em
1985, um presidente passa a faixa presidencial ao seu sucessor eleito pelo voto direto.
Chegava ao poder um operário, líder sindical, sem nível superior, nascido em
Pernambuco, nordestino, advindo da região mais pobre do Brasil. Em 2006, foram
reeleitos para mais um mandato (POLITIZE, 2020).
A segunda foi Dilma Rousseff instituída à presidência da república em janeiro
de 2011, como primeira mulher a assumir o cargo no país, empossada junto com o vice,
Michel Temer. Em 2014, Dilma foi reeleita, entretanto, deixou o segundo mandato na
presidência após sofrer impeachment em meio a denúncias de corrupção e manobras
fiscais. Por ocasião da interrupção, Temer assume a presidência interinamente por três
meses e 19 dias, e, em definitivo, no dia 31 de agosto de 2016, o posto mais alto da
República (O NACIONAL, 2016).
E, o terceiro é Jair Bolsonaro e seu vice Hamilton Mourão que tomaram posse
em janeiro de 2019. Embora seja possível localizar a eleição de Bolsonaro num contexto
de geopolítica global, também é importante aprofundar a análise do caso brasileiro
específico à educação. Durante este primeiro ano, e ainda, tomando ciência da realidade
nacional, quase nada foi realizado.
Entretanto, 2020 teve início com dois grandes acontecimentos: a recessão
econômica mundial e a difusão da Covid-19. Isso gerou tendências que interferem no
destino de povos e nações, que passam pelo isolamento social e por um longo período
de quarentena. Com a ausência de vacinas e um tratamento complexo que precisa de
respiratórios artificiais, que são poucos na rede de saúde brasileira, os clamores das
instituições científicas e da Organização Mundial da Saúde (OMS) foram ouvidos, para
impedir uma catástrofe mundial, e as políticas de confinamento social foram
gradativamente implantadas (COLEMARX, 2020).
Em meio a essa situação caótica, o Tribunal de Contas da União (TCU)
informou em relatório que o governo atual nada tem feito para enfrentar a pandemia.
Bolsonaro destinou aos estados somente 39% dos recursos da União para o combate.
Até meados do mês de julho, o Brasil acumulava 54.971 mortos (FOLHA DE SÃO
PAULO, 2020).
Alguns setores produtivos foram forçados a interromper seus processos de
produção, assim como atividades culturais e educacionais foram suspensas por tempo
indeterminado. Segundo Nez e Morosini (2020), o colapso dos mercados financeiros e
da economia é uma ideia que assombra aos governos e está relacionada com a evolução
do coronavírus, tanto no Brasil quanto no mundo global.
No que diz respeito ao histórico da condução do Ministério da Educação (MEC),
observa-se no quadro que segue, quem foram os ministros e o tempo de permanência no
cargo, o que de certo modo ilustra a rotatividade em função das problemáticas
envolvidas em cada governo.

Quadro 1 - Lista de presidentes e ministros da Educação do Brasil com respectivos períodos da


amostra estudada

PRESIDENTE MINISTRO DA INÍCIO FINAL


EDUCAÇÃO (MÊS E ANO) (MÊS E ANO)
Luiz Inácio Lula da Cristovam Buarque 01/2003 01/2004
Silva Tarso Genro 01/2004 07/2005
Fernando Haddad 07/2005 01/2011
Dilma Rousseff Fernando Haddad 01/2011 01/2012
Aloizio Mercadante 01/2012 02/2014
José Henrique Paim 02/2014 01/2015
Cid Gomes 01/2015 03/2015
Luiz Cláudio Costa1 03/2015 04/2015
Renato Janine Ribeiro 04/2015 10/2015
Aloizio Mercadante 10/2015 05/2016
Michel Temer 2
Mendonça Filho 3
05/2016 04/2018
Rossieli Soares 04/2018 12/2018
Jair Bolsonaro Ricardo Vélez Rodríguez 01/2019 04/2019
Abraham Weintraub 04/2019 06/2020
Carlos Alberto Decotelli4 06/2020 07/2020
Milton Ribeiro 07/2020 Atual
Fonte: Adaptado de http://portal.mec.gov.br/institucional/galeria-de-ministros. Acesso em: 25
jun. 2020.

Nos governos Lula e Dilma, houve um "plus” educacional, a educação vem para
o centro do poder como essência de desenvolvimento do Brasil que se insere em um
mundo global pelo viés social, somando-se ao político, ao econômico, ao cultural. A
nova ordem mundial, para além do discurso, cria o bloco econômico dos países
emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), 5 onde se amplia a
influência geopolítica. A agenda deixa de ser puramente econômica, passa a ser social
arraigada de uma narrativa concreta direcionada para um processo inversamente

1
Ministro da Educação interino.
2
Presidente interino.
3
Após a posse de Temer, o Ministério da Cultura foi extinto e reincorporado ao MEC. Porém, a decisão
foi revista e o Ministério voltou a ser apenas "Ministério da Educação".
4
Indicado, mas não tomou posse por inconsistências na formação acadêmica.
5
É um agrupamento de países emergentes que juntos representam cerca de 42% da população, 23% do
PIB, 30% do território e 18% do comércio mundial, se destacando no cenário mundial pelo rápido
crescimento das suas economias em desenvolvimento. O acrônimo foi cunhado por O'Neill, em 2001
(BRICS BRASIL, 2019).
proporcional àquela que existe há décadas nos outros blocos econômicos (com fim em
si mesmo na dimensão econômica).
O processo de impedimento da Presidente Dilma, que começou em maio de
2016, culminou com sua saída definitiva em agosto do mesmo ano. Produziu uma
“fratura exposta” no avanço das políticas educacionais, pois a maioria dos projetos
foram sendo destituídos tanto no governo Temer quanto no atual.
Bolsonaro criou a ideia de “terra arrasada”, tudo não teria sido feito, as políticas
educacionais representariam um caos, por isso, seu indicativo é privatizar tudo que for
possível. Além disso, instituir a educação a distância desde o Ensino Fundamental,
destituir as políticas de inclusão social em relação às ações vinculadas a gênero, entre
outras que, grosso modo, parecem sem sentido, mas, que quando analisadas
integralmente, fazem parte de um modelo de governo autoritário e articulado aos
interesses do capital.
Em relação, aos ministros da educação e levando em consideração as diretrizes
de seus respectivos planos de governo, vale-se da conclusão de que são distintos, com
olhares opostos e atuações antagônicas. Infere-se que a gestão do MEC em cada um dos
períodos, por meio de seus ministros, atende a uma determinada concepção de educação
e sinaliza um Brasil que atua em sintonias que se chocam e não se encontram nunca.
Vale destacar, finalmente que o único ministro que ficou por mais tempo no
cargo foi Fernando Haddad, que esteve à frente da pasta da gestão Lula (seis anos), e no
governo Dilma permaneceu mais um ano. Bolsonaro em mais de um ano de mandato já
teve quatro ministros, o que demonstra total desrespeito a uma área norteadora dos
rumos do país, e, que em meio da pandemia do covid-19 precisa de uma postura atuante
e que pudesse favorecer o desenvolvimento do país.

Concepção de educação

"Estudar não é gasto, é investimento. Aliás, é o


melhor, o mais barato e o mais duradouro
investimento. Quando você forma alguém, é para
sempre. O Brasil vai poder deixar de ser apenas
exportador de minério de ferro, de soja e vai virar
exportador de conhecimento" (LUIS INACIO
LULA DA SILVA, 2020).

Os governos populares de Lula e Dilma construíram entre 2003 a 2016, quando


o golpe mediático-jurídico cassou o segundo mandato de Dilma, a ideia de que a
educação é bem público, “um direito subjetivo de todo cidadão, uma política pública de
responsabilidade do Estado, estratégica e imprescindível para o novo projeto de
desenvolvimento da nação” (MERCADANTE e ZERO, 2018. p. 24).
Sendo assim, na concepção desses presidentes, a educação é um direito humano
fundamental e um dos principais meios de acesso à cultura, além de um instrumento
poderoso de desenvolvimento econômico e social. Por isso, os governos petistas
priorizaram os investimentos em educação, da creche à pós-graduação, por meio da
adoção de uma série de políticas públicas integradas e articuladas (PARTIDO DOS
TRABALHADORES, 2020).
Com relação ao programa de governo do atual Presidente da República continha
o mais do mesmo em relação aos outros candidatos presidenciais João Amoedo (Partido
Novo - NOVO), Geraldo Alckmim (Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB),
Henrique Meirelles (Movimento Democrático Brasileiro - MDB) e Álvaro Dias
(Podemos -PODE). Eles tinham em comum, a concepção de centralidade do discurso
focado na descentralização do Estado e na consequente privatização do setor
educacional.
No entanto, mais do que em outros programas, Bolsonaro baseava-se no senso
comum, desconsiderava inúmeras pesquisas e dados, pautando a educação brasileira nas
estratégias desenvolvidas no Japão, Taiwan e Coréia do Sul. Esses seriam, segundo o
candidato, modelos a serem copiados. Todavia, passado vinte meses de governo, nada
foi articulado para a educação. O que se implementou ao longo desse período inicial de
governo instiga a intolerância ao marxismo, Paulo Freire, a discussão de gênero na
escola e outros elementos controversos.
A seguir apresenta-se uma imagem que serve como síntese ilustrativa de cada
um dos governos analisados, em vermelho as palavras-chaves do mandato de Lula; em
azul, os destaques para a presidenta Dilma; e, em verde, as palavras que dizem respeito
ao atual governo.
Figura 1 – Nuvem de palavras dos governos do período analisado

Arte: Marina Graziano (2020).


Fonte: Nez e Cardoso Neto (2021).

Orçamento/financiamento da educação
O orçamento para a educação em 2003 era de R$ 18,1 bilhões, avançando para
R$ 54,2 bi, em 2010. Um salto de quase três vezes o valor, em oito anos do governo
Lula. Ao estender o olhar até 2016, ano em que Dilma sofreu o golpe, o montante
atingiu 100 bilhões (COSTA, 2020).
Importante salientar que o divisor de águas de todo o processo, que colocou a
educação no centro das atenções, foi à transformação do Fundo de Desenvolvimento da
Educação Básica (FUNDEF) que tinha centralidade no ensino fundamental para criar o
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). A decisão perseguiu a
superação da exclusão que estava posta naquele momento no país, assegurando-se os
repasses dos recursos para todos os níveis da Educação Básica: Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio (BRASIL. 1996).
Entre outras coisas, há se lembrar que junto com o dinheiro investido na
Educação, criou-se o Bolsa Escola/Bolsa Família 6 , nesse período, um aumento
significativo da renda da população mais pobre. Ao condicionar o recebimento do

6
O Bolsa Escola (criado em 2001) substituído pelo Bolsa Família (em 2003) consiste na garantia de uma
renda mensal mínima, paga preferencialmente à mãe, a fim de que seus filhos estudem e não sejam
obrigados a trabalhar para ajudar no sustento de suas famílias (NEZ, 2005). É importante lembrar que a
educação era vista, principalmente nos Governos Lula e Dilma como principal estratégia de combate à
pobreza; o que não se observa no atual governo.
benefício à frequência das crianças na escola, o programa extrapolou o aspecto da
transferência de renda para se tornar um incentivo ao ensino.
Monteiro e Leal (2001) sinalizam que as políticas de combate à pobreza
entraram na agenda brasileira nos anos 90 pela influência de vários fatores. A mais
marcante, sem dúvida, foi a Campanha Nacional da Ação da Cidadania Contra a Fome,
a Miséria e pela Vida, um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos
que, liderado pelo sociólogo Betinho, conclamou a sociedade brasileira a indignar-se e a
mobilizar-se na luta contra a fome e a pobreza.
Outros desdobramentos resultaram, na revogação da Desvinculação de Receitas
da União (DRU), implantada em 1994. A medida citada retirava 20% dos recursos
vinculados para educação, definidos pela Constituição Federal de 1988. O padrão que se
produziu com a desvinculação da DRU permitiu aos governos Lula e Dilma aumentar
em 206%, em termos reais, o orçamento da educação (MERCADANTE e ZERO,
2018).
Em vista do esforço da desvinculação, a presidenta Dilma investiu e R$ 54
bilhões acima do piso constitucional. Outro fato importante foi a aprovação da Lei nº
12.858/2013 que trata da destinação da parcela de participação no resultado ou da
compensação financeira relativa à exploração de petróleo e gás natural. A base da lei
indicava a constituição da vinculação de 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo
Social do pré-sal para a educação e para a saúde.
A estimativa de recursos a serem repassados no momento da aprovação da lei,
que depende da produção futura, preço internacional do petróleo e taxa de câmbio. Mas,
a Emenda Constitucional (EC) nº 95 congelou o gasto público por vinte anos e acabou
com o piso constitucional da educação e as mudanças na lei do pré-sal, que reduziram as
exigências ambientais, isentaram de impostos as multinacionais de petróleo, em uma
renúncia fiscal (COSTA, 2020).
Segundo dados do Tesouro Nacional divulgados no ano passado, o Brasil gasta
atualmente, em educação pública, cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB), valor
superior à média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) que é de 5,5% — que engloba as principais economias mundiais — e de pares
como Argentina (5,3%), Colômbia (4,7%), Chile (4,8%), México (5,3%) e Estados
Unidos (5,4%). De acordo com os números, cerca de 80% dos países, incluindo vários
países desenvolvidos, gastam menos que o Brasil em educação relativamente ao PIB
(MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019).
Liborio, Ribeiro e Ciscati (2020) enfatizam que a realidade é diferente quando se
trata do gasto do país por aluno. O estudo Education at a Glance 2017, com números de
2014, mostra que a média dos países membros da OCDE era de US$ 10.759 anuais por
aluno, levando em conta todos os níveis de educação. Já o Brasil desembolsou apenas
metade do valor: US$ 5.610 anuais. A situação é melhor na Educação Superior do que
na Educação Básica.
Segundo Bolsonaro (2020), o Brasil gasta mais em educação em relação ao PIB
que a média de países desenvolvidos, mas ainda assim ocupa as últimas posições no
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) 7. Em fevereiro, o presidente
informou em seu Twitter que era preciso, além de investir em educação, garantir que os
investimentos sejam bem aplicados e gerem resultados. Ao citar apenas os gastos em
relação ao PIB brasileiro, no entanto, o presidente não leva em conta quanto o país gasta
por aluno — e esse número mostra uma realidade bem diferente em relação às nações
desenvolvidas.
Costin citado por Liborio, Ribeiro e Ciscati (2020) esclarece que há três pontos a
serem considerados na análise dessa comparação. O primeiro é que o gasto por aluno
ainda é baixo. Outro, é que países que já universalizaram o acesso a Educação Básica
podem diminuir a quantidade de gastos, o que ainda não é o caso do Brasil. Por fim, o
fato de que gastamos de maneira desigual. “Gastamos mais por aluno no ensino superior
do que na educação básica. Quando comparamos gasto por aluno na educação básica,
ele é muito inferior à média internacional (p. 1).”
O índice custo aluno qualidade (CAQ), da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação, calcula quanto deveria ser o investido anualmente por aluno para garantir o
padrão mínimo de qualidade estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE) na
Educação Básica. Nas creches urbanas de tempo integral a Campanha estimou um
valor/aluno de R$23.579,62; de R$ 9.607,02 na pré-escola em tempo parcial; R$
7.545,06 nos anos iniciais do Ensino Fundamental; R$ 6.604,99 no tempo integral; e
R$5.454,74 no Ensino Médio.

7
Realizado a cada três anos e avalia o desempenho escolar de diversos países em três quesitos principais:
matemática, ciências e leitura. A última edição foi realizada em 2015 e analisou 70 países. O Brasil ficou
entre os dez últimos no ranking em ciências (63º) e matemática (65º), e ocupou a 59ª posição em leitura
(PORTAL INEP, 2020).
Entretanto, os números diferem dos estimados pelo FUNDEB, que mostram uma
estimativa de investimento anual por aluno no ensino público por Estado brasileiro. O
Brasil deveria investir até cinco vezes mais do que gasta hoje, para garantir uma
educação pública de qualidade da creche ao Ensino Médio -- seriam necessários R$
21.280,12 anuais por aluno para custear a oferta em área urbana, e hoje são pagos R$
3.921,67 (LIBORIO, RIBEIRO e CISCATI, 2020).
Dados do Portal da Transparência sinalizam que o orçamento para a educação,
gerido pelo MEC em 2018, foi de R$ 115,7 bilhões. Desse total, o que foi executado de
fato chegou a R$ 95,6 bilhões. A maior parte dos recursos fica com a Educação
Superior (R$ 29,6 bilhões), refletindo o aumento no número de estudantes nesse
segmento. O segundo maior gasto é com as transferências para a Educação Básica (R$
13,7 bilhões). Soma-se aqui a complementação ao FUNDEB que é repassada a estados e
municípios para evitar que o valor investido por aluno fique abaixo do mínimo nacional.
No ano passado, essa complementação chegou a esses R$ 13,7 bilhões (PORTAL DA
TRANSPARÊNCIA, 2020).
Além dessa complementação, Liborio, Ribeiro e Ciscati (2020) explicitam que o
fundo contou em 2018 com outros R$ 39,95 bilhões, que são recursos provenientes de
impostos e outras contribuições que são transferidas aos estados que, junto com os
municípios, são os responsáveis pela Educação Básica. A divisão dos recursos é feita de
acordo com o número de alunos matriculados na rede pública.
Especificamente, com relação ao FUNDEB, o governo Bolsonaro teve uma
“surpresa” inesperada. Na terça-feira, 21 de julho de 2020 – dia histórico para a
educação, a proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 15/15 foi aprovada na Câmara
de Deputados em dois turnos. Torna permanente o FUNDEB, elevando a participação
da União no financiamento da Educação Infantil e do Ensino Fundamental e Médio. O
texto-base da proposta foi aprovado em segundo turno por 492 votos a 6, com 1
abstenção. A PEC seguirá para o Senado para mais dois turnos de votação no próximo
mês (AZEVEDO, 2020).
Oliveira e Ferreira (2020) comentam que a participação do governo no fundo,
que hoje é de 10%, aumenta progressivamente até 23%, no período até 2026; a
progressão será: 12% (2021), 15% (2022), 17% (2023), 19% (2024), 21% (2025) e 23%
(2026); sendo que o valor aluno ano total (VAAT) passa de um mínimo de R$ 3.700,00
hoje para R$ 5.700,00 em 2026. Além disso, o que exceder os 10% da União, passam a
ser assim distribuídos: 2,5% a municípios com bons resultados educacionais; o restante
(10,5%), de acordo com a necessidade dos municípios, desde que 5% sejam
direcionados à Educação Infantil. O texto mantém a obrigatoriedade de se investir um
mínimo de 70% do valor recebido do FUNDEB para pagamentos de professores e
servidores da educação. E, por fim, a proposta reserva 15% para investimentos, na
prática, o limite para pagamentos de salários passa a ser de 85%.
Do ponto de vista do orçamento, o governo do Bolsonaro prevê a inversão no
investimento de recursos do nível superior para a Educação Básica, sendo que o Ensino
Médio tinha como princípio basilar a formação técnica profissionalizante (OLIVEIRA e
FERREIRA, 2020). Em relação à Educação Superior, o foco seria nas parcerias e
pesquisas com a iniciativa privada, formando um jovem empreendedor. Mas, até o
momento não houveram muitos avanços relacionados a isso, porque o que impera é a
total inoperância durante a pandemia.

Expansão e atendimento: Educação Básica e Superior

“Mas só existirá ensino de qualidade se o


professor e a professora forem tratados como as
verdadeiras autoridades da educação, com
formação continuada, remuneração adequada e
sólido compromisso com a educação das crianças
e jovens” (DILMA ROUSSEFF, 2020).

Os governos de Lula e Dilma investiram em educação como nunca na história


recente do Brasil e atingiram todas as etapas do ensino. Na Educação Infantil, primeira
etapa na infância e de extrema relevância para o desenvolvimento da criança, o governo
Lula retomou a colaboração com municípios para ampliação com qualidade das vagas
em creches, além de fortalecer as políticas voltadas para a pré-escola (PARTIDO DOS
TRABALHADORES, 2020).
As matrículas em creches quase triplicaram (de 1,23 milhão de matrículas, em
2003, para mais de 3,04 milhões em 2015) e o acesso à pré-escola foi praticamente
universalizado. Sobre o acesso à Educação Infantil no Brasil, ver mais informações no
gráfico que segue:
Gráfico 1 – Quantitativo de crianças matriculadas na Educação Infantil (2012/2018)

Fonte: Anuário Todos pela Educação (2020).

Os dados apontam que as matrículas na Educação Infantil cresceram 84,7%,


entre 2008 e 2016. Em 2012, a presidenta Dilma lançou o programa Brasil Carinhoso
para apoio às creches existentes e construção de novas com elevado padrão
arquitetônico e pedagógico. Foram concluídas e entregues 2.940 unidades até 2015, e
deixadas em andamento, com recursos orçamentários assegurados, mais 2.093 creches,
foram pactuadas com as prefeituras outras 3.167 novas creches. O governo que assumiu
interinamente em 2016 acabou com o Brasil Carinhoso e abandonou a política de
construção de creches e de apoio à Educação Infantil. Segundo a análise do Todos Pela
Educação em 2019, o Brasil tinha 1.085 obras de creches e pré-escolas que não foram
concluídas e menor repasse de verbas desde 2009 (MERCADANTE, e ZERO, 2018).
Em 2007, Haddad (ministro da educação do governo de Lula) criou o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) para avaliar a qualidade do ensino nas
escolas públicas e desenvolver ações para superar os principais desafios encontrados.
Entre 2007 e 2013, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) destinou recurso
para mais de 37 mil escolas, priorizando as com IDEB8 abaixo da meta nacional. No
total, o governo federal investiu R$ 1,4 bilhão para os planos de ação de cada uma
dessas escolas (MERCADANTE e ZERO, 2018).
Especificamente, com relação à taxa de atendimento do Ensino Fundamental e
Médio, ver dados que seguem nos gráficos 2 e 3.

8
Um dos maiores desafios da educação como política de Estado é a construção de parâmetros de
qualidade. O IDEB foi uma tentativa que obteve êxito tendo como objetivo avaliar a proficiência e fluxo
escolar. Nesse indicador, Bolsonaro não alterou nada até o momento, isso significa dizer que o índice
continua valendo.
Gráfico 2 – Quantitativo de crianças e jovens no Ensino Fundamental (2012/2019)

Fonte: Anuário Todos pela Educação (2020).

Gráfico 3 – Quantitativo de jovens no Ensino Médio (2012/2019)

Fonte: Anuário Todos pela Educação (2020).

O Presidente Lula demonstrou, por meio de seu governo, compromisso com


todas as etapas e modalidades de educação. No país, aumentou o número de jovens que
ingressaram no Ensino Fundamental e concluíram o Ensino Médio, cresceu o acesso a
Educação Superior, as universidades chegaram ao interior do Brasil e os professores
ganharam a instituição de um piso salarial9.
Além disso, no governo Lula, houve ênfase no Programa Nacional de Formação
de Professores (PARFOR), no qual os professores se inscrevem em cursos
correspondentes às disciplinas que ministram. Merece destaque também os
investimentos na escola em tempo integral e no Programa Mais Educação. Uma
iniciativa importante foi o processo democrático para a construção de uma nova Base

9
Implantado no governo Lula permitiu um crescimento real dos salários de aproximadamente 49%, entre
2009 e 2015. Os investimentos na formação inicial e continuada dos professores realizados por meio da
criação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2012), no governo Dilma assegurou bolsa
de estudos e um programa especial de formação para cerca de 300 mil professores alfabetizadores.
Nacional Comum Curricular (BNCC), no início do segundo mandato de Dilma
buscando um currículo flexível (MERCADANTE e ZERO, 2018).
Conforme é perceptível, no gráfico 3, no Ensino médio, as matrículas na faixa
etária de 15 a 17 anos cresceram. Nessa faixa etária, frequentam a escola 84,6% da
população. Entre os 20% da população brasileira mais pobre, em 2002, apenas 31,6%
estavam na série esperada; e, em 2015, 60,2% estavam nessa condição. Entre os 5%
mais pobres, aumentou em quatro vezes o número de adolescentes que acessou o Ensino
Médio na idade certa nos últimos anos.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC),
implantado a partir de 2011, no governo Dilma, foi um dos maiores programa de
educação técnica e profissionalizante da história do país. Ofertou 9,4 milhões de vagas,
de modo a estimular a inclusão produtiva e para abrir novas possibilidades no mercado
de trabalho (MERCADANTE e ZERO, 2018).
Em linhas gerais, o presidente Jair Bolsonaro deixou explícito no seu plano de
governo o treinamento dos estudantes da Educação Básica para a realização das
avaliações em larga escala e um Ensino Médio voltado para a formação de mão de obra
por meio dos cursos profissionalizantes. Também vem intensificando parcerias com a
iniciativa privada na Educação Superior e a tendência ao endurecimento do controle
ideológico de estudantes e de professores. Os dados encontrados ainda são
insignificantes para uma análise, se vem cumprindo a proposta objetivada.
Sobre a rede de universidades federais nos governos do Partido dos
Trabalhadores (PT), houve a maior expansão de sua história. Ela era composta, em
2002, por 45 universidades, com 148 campi, e, atingiu em 2015, 65 universidades com
327 campi. Mercadante e Zero (2018) destacam que foram criadas nos mandatos de
Lula e Dilma um total de 18 universidades, 173 campi e centenas de unidades dos
Institutos Federais de Educação (IFES).
No final do governo Dilma, já eram 38 IFES distribuídos em 600 campi. As
matrículas dobraram, de 558 mil estudantes em 2002, para mais de 1 milhão em 2015,
considerando apenas o Ensino Médio e Profissional Técnico. Toda essa expansão
promoveu a inclusão de uma parcela da população historicamente excluída. O acesso
ocorreu com maior ênfase por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em
2009, no governo Lula (BRASIL, 2019).
Além desses esforços, a lei de Cotas (nº 12.711/2012) também incrementa a
democratização da Educação Superior, enfrentando a desigualdade social e a
discriminação racial, buscando assegurar políticas de acesso aos estudantes da escola
pública, com recortes para as famílias de baixa renda, negros e indígenas. As políticas
de financiamento da Educação Superior fortalecem a expansão de oportunidades, entre
elas: o Programa Universidade para todos (PROUNI), o Fundo de Financiamento ao
Estudante do Ensino Superior (FIES) e Sistema de Seleção Unificada (SISU) incluíram
milhões de jovens e ampliaram suas oportunidades (BRASIL, 2019).
A partir desse conjunto de medidas, é possível inferir que 35% dos concluintes
que fizeram o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), em 2015,
foram os primeiros de suas famílias a serem diplomados. Além disso, Mercadante e
Zero (2018) expõem a confirmação da presença de jovens negros nesse processo. No
que tange à oferta de formação de professores, a Universidade Aberta do Brasil (UaB)
ofereceu ensino a distância e gratuito para os docentes da rede e foi constituído o
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID)10.
Nos gráficos que seguem é possível observar o avanço nas matrículas nos
últimos 10 anos, por categoria administrativa (universidades federais, estaduais e
municipais) e o quantitativo relativo aos concluintes que possibilitam uma reflexão
sobre o relevo dado à Educação Superior nos governos Lula e Dilma.

Gráfico 4 – Matrículas em curso de graduação na rede pública (2008/2018)

Fonte: Censo da Educação Superior (2018).

10
O programa é uma das ações da Política Nacional de Formação de Professores do MEC que visa
proporcionar aos discentes na primeira metade dos cursos de licenciatura, uma aproximação com o
cotidiano das escolas de Educação Básica. No final de 2017, já no Governo Temer, encaminhou-se o
Programa de Residência Pedagógica e uma reestruturação no PIBID, que começou a ser implementado
em 2018 (SOUZA e NEZ, 2020).
Gráfico 5 – Matrículas em curso de graduação na rede pública (2008/2018)

Fonte: Censo da Educação Superior (2018).

Vale ressaltar nesse contexto que o Programa Ciência sem Fronteiras 11 criado no
início do governo Dilma, atuou como um avanço na mobilidade internacional estudantil
e para o fomento à internacionalização das universidades e da produção científica,
levando cerca de 100 mil estudantes e pesquisadores brasileiros às universidades e
centros de pesquisa, em 54 países. Os investimentos em educação, ciência, tecnologia e
inovação também cresceram expressivamente nos governos do PT e tinham o objetivo
de preparar o país para a economia do conhecimento (MERCADANTE e ZERO, 2018).
Outro programa proposto pela CAPES, em 2017, foi o Mais Ciência Mais
Desenvolvimento que objetivava integrar ações referentes à internacionalização dos
programas de pós-graduação, contudo, teve curta duração. Logo em seguida, no mesmo
ano, foi substituído pelo Programa Institucional de Internacionalização (PRInt) que
entre muitos objetivos, buscava fomentar a construção, a implementação e a
consolidação de planos estratégicos de internacionalização das IES nas áreas do
conhecimento priorizadas (NEZ, 2020).
No governo do atual presidente, por causa do coronavírus, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) informou oficialmente que
estariam suspensas todas as ações de mobilidade do PrInt agendadas. Nesse contexto,
foi impossível executar as ações. Países limitaram a locomoção interna dos cidadãos
que impactou nos docentes que já estavam fora do Brasil. Estes ficaram desorientados

11
Lançado em 2011, e se constituía de um programa de intercâmbio, em parceria com o governo federal e
empresas privadas. Seu objetivo era estimular o avanço da ciência nacional em tecnologia, inovação e
competitividade, por meio da mobilidade. Também buscava incrementar o quantitativo de pesquisadores
e acadêmicos em instituições de excelência no exterior, assim como atrair pesquisadores para trabalhar no
Brasil, por meio de incentivo financeiro (BRASIL, 2015).
em função de uma brutal mudança de comportamento frente à pandemia, imobilizados
nos países destino, sem conseguir executar o planejamento proposto. Os semestres
letivos foram sobrestados e instalou-se a incapacidade de racionalizar e implementar os
projetos e missões de pesquisa que deveriam ser desenvolvidos neste primeiro semestre
de 2020 (NEZ, 2020).
Borssoi e Nez (2019) explicitam que o papel da universidade pública frente à
Emenda Constitucional 95 (EC 95) aprovada pelo governo Temer (2016), que instituiu
um Novo Regime Fiscal (NRF) no país com o congelamento de gastos, já tinha
inviabilizado as políticas públicas sociais, na Educação Básica e Superior, colocando
em risco a universidade e a existência da pesquisa. Por fim, é imprescindível esclarecer
que o modelo de pesquisa defendido pelo governo Bolsonaro é a pesquisa aplicada, pois
considera que o campo da ciência e do conhecimento nunca deve ser estéril. Também
prioriza algumas áreas em detrimento de outras.
O atual presidente ainda sugere que a Educação na modalidade à Distância
(EaD) como um importante instrumento de formação da juventude, principalmente nas
áreas rurais, segundo Libório, Ribeiro e Ciscati (2020). Mas, até o momento não há
dados relativamente suficientes para serem observados e validados.

Plano Nacional de Educação


O PNE (2014-2024) sintetizou os desafios, reunindo metas a serem perseguidas
pelo Estado e pela sociedade na década seguinte. O golpe de 2016, no entanto,
interrompeu um ciclo virtuoso de investimentos e abriu caminho para o desmonte da
educação pública. As metas são ousadas para um período de dez anos, trabalham com a
previsão de 10% do PIB em investimentos públicos para a educação (meta 20). Cardoso
Neto (2016) pontua que:

Para muitos estudiosos do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado


sob a Lei nº 13.005/2014, para viger de 25 de junho de 2014 a 24 de junho de
2024, composto de 14 artigos, 20 metas e 254 estratégias depois de uma
tramitação de três anos e meio, quase três mil emendas apresentadas à
discussão na Câmara e no Senado, depois de idas e vindas, avanços e recuos,
deverá ser a bússola das transformações a serem implementadas na educação
brasileira (p. 101).

Ainda lembra que juntamente ao PNE está referenciada a organização do sistema


nacional de educação (SNE) que passa pelo arranjo institucional da educação pública e
privada. Cardoso Neto (2018) expõe que as características da educação pública são:
gratuidade, concurso público, eleição direta para diretores, conselhos deliberativos da
comunidade escolar, organização das conferências, fóruns, conselhos nacional,
estaduais e municipais de educação, viabilizados pelo princípio da gestão democrática.
Elementos esses dispostos na CF (BRASIL, 1988) no artigo 206 - título VII e na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n°. 9.394/96, em seu artigo 3°, VIII e
no artigo 14 (BRASIL, 1996).
Tanto a lei no seu artigo 3° quanto na estratégia 20.9 à proposição seria
estabelecer normas de cooperação entre os entes federados com maior harmonia,
permitindo o efetivo combate às desigualdades educacionais regionais. Contudo, o
tempo foi passando e mais das 254 estratégias descumpridas que deveriam estar em
vigor desde 2016, não foram realizadas.
Cardoso Neto (2016), no relatório final do seu estágio pós-doutoral lembra que
para ter plano nacional, planos estaduais, planos municipais de educação que funcionem
se faz necessária uma simbiose com a visão dos pioneiros da educação (manifesto de
1932), por isso, afirmou que o desafio é:

[...] superar as fraturas interpostas pelos contingenciamentos de despesas, as


imposições dos organismos de financiamento internacional e a reação dos
profissionais da educação; reivindicando universalização do ensino, o respeito aos
direitos conquistados legitimamente; garantindo a democratização do acesso,
vislumbrando a democratização da gestão da educação por meio de um “Plano
Nacional de Educação” que viabilizasse a instituição do Sistema Nacional de
Educação e lutando para que a educação seja entendida do ponto de vista de sua
qualidade social, como superadora de toda exclusão sócio-político-econômico-cultural
(p. 30).

Considerações finais
Levando-se em conta o objetivo proposto nesse ensaio teórico, é possível
constatar que Lula e Dilma ampliaram em 206% o orçamento do MEC, criaram o
FUNDEB e o Piso Salarial Nacional do Magistério, além de expandirem a escolarização
obrigatória (dos 4 aos 17 anos).
A qualidade da educação melhorou visto que as metas do IDEB foram
alcançadas em inúmeras cidades nos anos iniciais do Ensino Fundamental e avançaram
nos anos finais. Houve investimento na educação do campo, indígena e quilombola. O
programa Mais Educação ampliou o acesso à educação integral, o que qualifica a
educação de um modo geral.
Os desafios dos governos petistas foram na diminuição dos passivos que ainda
permaneciam para o cumprimento do direito constitucional à educação de qualidade
social no plano nacional (CARDOSO NETO, 2019). Isto porque os desmontes advindos
do golpe concretizado pelo afastamento da Presidente Dilma, aliado às políticas de
caráter liberal, claramente demonstram princípios comuns.
Alguns dos temas em que a campanha presidencial de Bolsonaro foi alavancada
precisam de uma análise profunda para entender as mudanças em curso ou total
imobilidade da implementação das políticas públicas. Seu programa de governo
anunciava que educação era uma tragédia, com mau uso do dinheiro, evasão escolar,
péssimo desempenho dos estudantes no PISA, gestão educacional, esgotamento do
modelo de pesquisa e desenvolvimento, doutrinação.
Para solucioná-los durante o período que já se encontra governando não houve
nenhuma proposta efetiva ao falar de integração dos entes federados, muito menos
como será implementada ou que instrumentos serão utilizados.
Como solução, o governo atual propôs o modelo de gestão escolar e o
endurecimento da disciplina dos alunos com a criação de inúmeras escolas militares,
apontando como referência o modelo adotado em Goiás. Todavia, essa proposta como
muitas outras ficou sem encaminhamento, em partes em função da pandemia, mas antes
disso, pela ingerência que se instalou no MEC.
Destaca-se, também a ingerência de uma teocracia neopentecostal atrasada,
nazifascistas, que mistura o privado com o público, criando e incitando notícias falsas
(fake news), que tem pouco ou nenhum apreço pela liturgia do poder, age descontruindo
boa parte das políticas públicas implementadas em quase duas décadas em todas as
esferas e escalões de poder em Brasília.
As atitudes atingem em maior e menor graus estados e municípios. Exemplo
dessa atuação no campo educacional é o que vem acontecendo com as universidades, os
institutos federais, a diminuição sistemática de recursos para prover a ciência e
tecnologia, as bolsas de estudos na pós-graduação, graduação, monitoria e outras tantas
políticas públicas de Estado para a educação. Todo esse movimento constitui ações
pulverizadas por terraplanistas, negacionistas emperdenidos assentados em cargos
estratégicos para banir “esquerdopatas” amantes do legado de Paulo Freire na educação
brasileira.
O covid-19 deu outra direção para todas as atividades realizadas e com isso
algumas ações e práticas ficaram esquecidas em meio ao processo pandêmico. Além
disso, evidenciou um fracasso coletivo dos sistemas de educação em incentivar formas
democráticas de engajamento e de colaboração entre cidadãos e governos de todas as
regiões do mundo, no Brasil não foi diferente.

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