Fraternidade Na Igualdade de Gêneros A Mulher Na Política

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FRATERNIDADE NA IGUALDADE DE GÊNEROS: A MULHER NA POLÍTICA

INTRODUÇÃO

A mulher tem ganhado, nos últimos anos, bastante espaço na política, porém o
número de mulheres que pleiteiam por um cargo nas eleições gerais desse ano representa
apenas 29, 73% dos candidatos1, ainda é um número considerado baixo em relação à
candidatura masculina, apesar deste número ter aumentado em relação as eleições de 2010.
Estes números são influenciados por componentes culturais, como defende Bourdieu (2014),
pela dominação masculina, que atua sobre a condição feminina através da violência
simbólica, que não é facilmente perceptível, já que é incorporada socialmente pela
legitimação do discurso do dominante, o homem:

As divisões constitutivas da ordem social e, mais precisamente, as relações sociais


de dominação e de exploração que estão instituídas entre os gêneros se inscrevem,
assim, progressivamente, (...) Cabe aos homens, situados do lado do exterior, do
oficial, do público, do direito, do seco, do alto, do decsontínuo, realizarem todos os
atos ao mesmo tempo breves (...) Às mulheres pelo contrário, estando situadas do
lado do úmido, do baixo, do curvo e do contínuo, são atribuídos todos os trabalhos
domésticos, ou seja, privados e escondidos ou até mesmo invisíveis. (BOURDIEU,
2014, p. 49)

Este artigo tem como objetivo analisar esta dicotomia entre os gêneros,
principalmente objetivando discutir a mulher na política, levantando a discussão sobre a
inserção da fraternidade no que tange a igualdade entre os gêneros no espaço do poder. O
presente estudo justifica-se pela importância da valorização da questão da igualdade de
gênero, prevista na legislação eleitoral. O estudo foi realizado a parti de leituras teóricas que
foram de estrema relevância para o enriquecimento do trabalho, como o texto de Filho que
aborda a concepção de gênero, como também o de Silva mostrando os primeiros passos
femininos rumo ao campo político.

1
Porcentagem segundo DivugaCand 2014. Disponível
em:http://www.tse.jus.br/noticias-tse/2014/Julho/eleicoes-2014-aumenta-participacao-das-mulheres-na-politica-
brasileira. Acesso em: 17/08/2014.
1. CONCEPÇÕES DE GÊNERO

Muito se discute sobres as relações de gênero, mas, afinal o que seria gênero? Este
termo começou a ser usado em diversos estudos a parti de 1970, para dar conta das
indagações das teóricas femininas, nesta década é marcada a participação visível feminina na
academia.O conceito de gênero não se restringi a diferenciar concepções entre o masculino e
o feminino, vai além dessa definição, pois como afirma Joan Scott (apud CORRÊA, 2011,
p.341), o gênero é entendido como a organização social da diferença sexual, assim, gênero é
um instrumento para a identificação das desigualdades entre homens e mulheres.

A categoria gramatical "gênero" já foi utilizada para distinguir diferenças biológicas


entres os sexos, ou até mesmo era utilizado para referir a história das mulheres, sendo usado
também como sinônimo de mulheres. Nesta perspectiva, Filho (2004, p. 06) ao citar Joan
Scott traz três posições diferentes acerca dos estudos de gêneros. A primeira seria defendida
pelas feministas que tentaram entender a origem do patriarcalismo; já a segunda, estaria presa
às consequências econômicas defendida pelo marxismo, e por último o pós-estruturalismo
francês e as teorias de relação do objeto, baseadas as escolas da psicanálise que explicar a
produção e a reprodução da identidade de gênero do sujeito.

Dentre os vários conceitos e definições do termo discutido, neste artigo, devemos


entender gênero conforme Scott (apud FILHO, 2004, p. 08), para a autora o gênero é um
elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os
sexos. Assim, gênero insere-se no conjunto de relações, papéis sociais e crenças que definem
o significado de homem e mulher na sociedade.

2. AS MULHERES E OS ESTIGMAS SOCIAIS: INFÂNCIA E IMAGEM

Apesar do grande progresso que a mulher teve, e vem tendo nos últimos anos, não
podemos negar que ainda nos dias atuais a formação da personalidade feminina é
condicionada por um processo em que a educação familiar, os brinquedos e a escola
configuram padrões diferentes para os sexos. Os brinquedos das meninas são relacionados ao
trabalho doméstico, e a escola corrobora com a desigualdade dos gêneros, ensinando que
existem cores e brincadeiras destinados a meninos e menina. Além disso, esta deve ser meiga,
sensível, disciplinada e submissa, a esposa, a mãe (SILVA, 1996, p. 57).

Concomitantemente há uma diferença quanto à disciplina dos corpos masculino e


feminino, desde a infância. Como já foi mencionado anteriormente, os brinquedos femininos
funcionam como uma parte da aprendizagem social da mulher que será no futuro.
Encontramos objetos do mundo adulto; maquiagem, acessórios (anel, brinco, bolsa, sapatos
de salto) transportado para o mundo infantil, até mesmo o vestuário infantil faz parte da
construção da projeção da mulher que a menina será futuramente, roupas que mostram a
sexualidade feminina:

Através dos brinquedos, um destino se constrói, ainda baseado na ideia de que a


mulher é ser sexualmente atraente, ser mãe e dona de casa. Nas entrelinhas,
escondem-se os outros elementos do conjunto: através do corpo e, em especial, do
sexo, as mulheres, casam-se com eles, têm filhos e cuidam da casa e da família.
A mesma situação repete-se com a moda infantil. No Brasil, as roupas das meninas
são miniaturas das roupas de mulheres adultas - na maior parte das vezes, justas,
curtas e decotadas (...) (PORTELLA, 2001, p. 108-109)

Além disso, Portella (2001) discerne sobre a imagem da mulher como produto
publicitário, que meados dos anos 60, o corpo da mulher passa a ser utilizado como atração
para a venda de qualquer mercadoria, apelando para a relação produto-mulher, associando a
compra do produto com a conquista da mulher, havendo uma supervalorização dos atrativos
sexuais em relação a imagem tradicional feminina de beleza e delicadeza, pois a mulher
agora tem que ser sex, tornando-se uma mulher-objeto, como defende a autora.

A imagem da mulher é utilizada, principalmente, em propagandas e anúncios


destinados ao público masculino, estando associada a variedades de produtos, assim, a
mulher torna-se um produto, um objeto, funcionando como um instrumento de persuasivo,
que vê a imagem feminina como presa do consumo e como tema anatomicamente
privilegiado, fez-se dela um objeto de uso, comprovando a cumplicidade dos meios de
comunicação social, o seu papel de objeto, de mercadoria (VERÍSSMO, 2013, p. 1707)

3. NOVOS ESPAÇOS, NOVOS DESAFIOS: MULHERES NA POLÍTICA

3.2 A CONQUISTA DO VOTO FEMININO NO BRASIL


Como forma de combater os estigmas sociais da época, surgi indagações acerca da
participação da mulher na política, ou seja, o direito do sufrágio, já que se pensava que não
fazia parte dos dotes femininos as atividades referentes a política. Um dos fatores
importantíssimos que contribuiu para a luta das mulheres ao voto foi o acesso à educação, a
qual era negado às mulheres. Segundo Silva (2012, p. 13), a educação de qualidade para as
mulheres é crucial para a conquista da participação política. Ainda segundo o autor, uma das
primeiras mulheres a ingressar na Ordem dos advogados, a advogada Myrthes de Campos,
diligenciou seu alistamento eleitoral, afirmando que a Constituição não negava à mulher este
direito, infelizmente, o pedido não foi concedido. Embora a Constituição de 1824 tivesse
artigos discernentes aos direitos políticos que não faziam exclusão expressa do sexo
feminino, faltava o substrato histórico-social para que as mulheres fossem incluídas no texto
constitucional como cidadã (TABAK,1982, p. 88).
Todavia, a luta não acabou em 1910 foi fundado o Partido Republicano Feminino,
pela professora Leolinda Daltro, que lutava pelo direito do voto feminino. No mesmo ano,
um projeto de lei sugerido pelo deputado Maurício de Lacerda, requer o sufrágio feminino.
Posteriormente, em 1919 Bertha Lutz convoca as mulheres para a formação da Liga para
Emancipação Intelectual das mulheres, objetivando igualdade quanto os direitos. E não parou
por aí, pois organizou a I Conferência Internacional Feminista no Rio de Janeiro, acarretando
a FBPF (Federação Brasileira para o Progresso Feminino). Engajando nesta empreitada o
Governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine foi o primeiro a conceder o direito
do voto feminino em 1927 (SILVA, 2012), este fato abri precedentes, oferecendo maior
oportunidade para outras mulheres requererem o alistamento eleitoral em diversos Estados.
Em consequência disto, em 1928, foi eleita a primeira prefeita do Brasil, no Rio
Grande do Norte, Alzira Teixeira Soriano. Porém, somente em 1932, com o governo de
Getúlio Vargas foi proclamado o Decreto nº 21.076, o qual aprovara o voto feminino às
mulheres casadas, mesmo assim, foi bastante restrito e ainda carregado de desigualdade, pois
mulheres só poderiam votar com autorização dos maridos e a algumas solteiras ou viúvas
condicionadas a renda própria.
Apesar de constates lutas por direitos iguais as mulheres ainda sofrem com as
desigualdades de gênero, principalmente no que se refere a obtenção do poder, neste caso a
política, tanto é que em 2009, na tentativa de ampliar e facilitar a participação das mulheres
nos processos de tomada de decisão e nas instâncias de poder na sociedade brasileira, foi
aprovada a Lei nº 12.034/2009, na qual obriga no rol de cada partido político o número
mínimo de 30% e máximo de 70% de candidaturas de cada sexo, além disso, 5% dos recursos
do fundo partidário sejam destinados em ações que instiguem as candidaturas das mulheres
reserva das cotas passou a ser obrigatória. Infelizmente, a obrigatoriedade das cotas não
cominou em um amparo concreto às candidaturas das mulheres:

O movimento de mulheres tem entendido que a política de cotas não resultou em


apoio efetivo e adequado às candidaturas femininas, denunciando que os partidos
políticos não cumprem as cotas e seus fundos não destinam recursos de caráter
afirmativo às candidaturas das mulheres (PIOVESAN, 2011, p. 69)

3.3 FRATERNIDAD:UM INCENTIVO A IGUALDA DE GÊNERO NA


POLÍTICA

Neste texto, devemos entender a fraternidade um princípio universal, neste sentido


relaciona-se com o solidário, respeitando a alteridade, não ver o outro como inferior, mas
reconhecer que somos todos iguais quanto seres humanos: O outro é uma pessoa como ele,
que compartilha as mesmas carências e necessidades: reconhecer o outro é ter compaixão, ou
seja, identificar-se como uma pessoa igual a você. Este é o sentido profundo e originário da
fraternidade que pode ser experimentado por cada ser humano (TOSI, 2014, p. 32).
Dessa forma, sugeri a fraternidade na política é uma forma para o igualitarismo nas
chances de ingressos das mulheres na vida política, reconhecendo a necessidade de ações
orientadas por igualar direitos e espaços de homens e mulheres, já que há um padrão de
desequilíbrio no que tange a participação por sexo a partir das relações de gênero, assentada
na sociedade patriarcal (ARAÚJO, 2011, p. 120).
Mesmo com os avanços da mulher nas esferas sociais ainda há estigmas que acercam,
pois existe uma associação entre política e os valores morais, mesmo ganhando novos
espaços a mulher encontra-se aprisionada, enquadrada na ideia de que podem ser
independentes, exercerem atividades, antes atribuídas somente aos homens, porém não
devem deixar suas principais obrigações, ser esposa, mãe e dona de casa.
O sentido de fraternidade também detém a ideia de princípio político, sendo
considerado por Baggio (apud LACERDA E NÓBREGA, 2014, p.84), inseparável ao
processo político, e importantíssima para o tripé da democracia, liberdade, igualdade e
fraternidade. Neste sentido, a fraternidade aplicada na política contribuiria para uma menor
desigualdade quanto a participação feminina no campo político.
CONCLUSÃO

A inserção discussão acerca do desenvolvimento do uso do gênero na política é


importante para o pluralismo diante das diversidades sociais, estreitando esta ideia a
concepção de que minorias diferentes necessitem primordialmente um representante, mas
enxergar como uma forma de limitar as desigualdades entre os grupos sociais.

Dessa forma, a fraternidade ganha o sentido de participação de perspectivas sociais


diversas, não por diferença entre o aspecto físico ou moral entre os homens ou mulheres, mas
pelo fato das experiências diferenciadas da estrutura da sociedade (PINHEIROS, 2007, p.57),
pois estes obtiveram socialização diferenciada, assim há interesses diferentes situados em
esferas distintas.

Assim, para uma política mais fraterna é necessário a relevância do gênero e que não
pode ser desconsiderado, havendo um maior incentivo para a participação feminina na
política, criando campanhas que visem esta questão, como a "Mulher na Política" lançada
este ano, instigando a legibilidade feminina, deliberando.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Clara. As mulheres e o poder político - desafios para a democracia nas


próximas décadas. In: Leila Linhares Barsted, Jacqueline Pitanguy (Orgs). O Progresso das
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