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Revista UNINGÁ ISSN 2318-0579

ALEITAMENTO MATERNO EM MULHERES DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA

BREASTFEEDING IN WOMEN OF THE CARCERARY POPULATION

DYENE KELLY LEOPOLDINA RODRIGUES DA SILVA. Acadêmica de


Enfermagem do UniFOA.
ALINE CRISTINA DE BARROS RIBEIRO. Acadêmica de Enfermagem do
UniFOA.
ANA LUCIA TORRES DEVEZAS SOUZA. Professora do Curso de Enfermagem
do UniFOA. Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Meio Ambiente.
RENATA MARTINS DA SILVA PEREIRA. Professora do Curso de Enfermagem
do UniFOA. Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Meio Ambiente.
Doutoranda do PPGENFBIO da UNIRIO.
MARIANE DE PAULA GOMES. Professora do Curso de Enfermagem do
UniFOA. Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Meio Ambiente.
NELITA CRISTINA DA SILVA TEIXEIRA PEREIRA. Professora do Curso de
Enfermagem do UniFOA. Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Meio
Ambiente.

Rua Cinco, 80. Aero Clube. Volta Redonda (RJ) Cep: 27283-125. E-mail:
renataenfprofessora@gmail.com

RESUMO

De modo geral, as penitenciárias no Brasil não foram arquitetadas para abrigar


puérperas com seus filhos durante o período da amamentação. É direito da
criança o aleitamento materno exclusivo desde o nascimento até os seis meses
de vida. Objetivo: destacar, a partir de textos publicados, aspectos do
aleitamento materno dentro das prisões.Trata-se de uma pesquisa bibliográfica,
descritiva e de natureza qualitativa. Foram analisados dez artigos. Os critérios
de inclusão foram textos publicados entre os anos de 2014 a 2017, nos idiomas
português e espanhol. Para busca elegeu-se os termos: Aleitamento materno,
prisões e mulheres. Os resultados mostraram que 40% dos artigos foram
publicados no ano de 2015, seguidos por 30% em 2014 e 30% em 2016; 70%
eram pesquisas bibliográficas; e 90 % utilizaram análise qualitativa. Após a
leitura e análise foram elaboradas duas categorias: Aleitamento Materno
Prisional no Brasil e Arquitetura Prisional e o Processo de Amamentação.
Conclui-se que há necessidade de ampliação das discussões sobre este tema,
e é preciso que os profissionais da área de saúde tenham um olhar
diferenciado sobre o aleitamento materno em mulheres da população
carcerária, de modo que possam apoiar, orientar e facilitar a prática da
amamentação nesse cenário.

PALAVRAS-CHAVE: Aleitamento Materno. Prisões. Assistência do Enfermeiro.


Puérperas.

ABSTRACT

In general, penitentiaries in Brazil were not designed to house puerperae with


their children during the period of breastfeeding. It is the child's right to

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exclusive breastfeeding from birth to six months of life. Objective: highlighting,


from published texts, aspects of breastfeeding within prisons. It is a
bibliographical, descriptive and qualitative research. Ten articles were analyzed.
The inclusion criteria were texts published between 2014 and 2017, in
Portuguese and Spanish. For the search the terms: Breastfeeding, prisons and
women were chosen. The results showed that 40% of articles were published in
2015, followed by 30% in 2014 and 30% in 2016; 70% were bibliographical
research; and 90% used qualitative analysis. After reading and analyzing, two
categories were elaborated: Prison Breastfeeding in Brazil and Prison
Architecture and the Breastfeeding Process. It is concluded that there is a need
to broaden the discussions on this topic, and health professionals must have a
differentiated view on breastfeeding in women of the prison population, so that
they can support, guide and facilitate the practice of breastfeeding.
breastfeeding in this scenario.

KEYWORDS: Breastfeeding. Prisons. Nurse's Assistance. Puerperas.

INTRODUÇÃO

No Brasil, a maioria das penitenciárias não foram arquitetadas para


acolher as mulheres no período de lactação. As condições nesses
estabelecimentos são, na maioria das vezes, precárias quanto a falta de
iluminação, alimentação, higiene e superlotação das celas. Esta realidade
advém de uma perspectiva destinada ao gênero masculino, sendo uma
pequena parcela destinada ao gênero feminino. Ainda são encontradas
estruturas mistas, onde anteriormente eram celas masculinas e no momento
funcionam como alas femininas.
A desagregação de estabelecimentos prisionais em gêneros masculinos
e femininos é prevista pela Lei de Execução Penal (lei nº 7.210, de 11 de julho
de 1984). O INFOPEN - Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
(2014), afirma que quanto aos estabelecimentos serem distribuídos por gênero,
é um dever do Estado e representa aspecto essencial para a realização de
políticas públicas singulares, voltadas a esse segmento.
No que diz respeito à prática de amamentação no ambiente prisional,
vale a pena destacar quanto é importante as alas femininas possuírem um local
onde tenham espaço adequado para a prática de amamentação juntamente
com berçários para que essas puérperas possam amamentar seus filhos em
livre demanda nos primeiros seis meses de vida da criança.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 2012), “ a
criança deve gozar de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, assegurando-lhes, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social”, sendo
assim o processo do aleitamento materno prisional deve ser apoiado pelos
profissionais de saúde.
Como amamentar é muito mais do que nutrir a criança, a mãe que se
encontra reclusa deve ter a oportunidade ímpar de criar um vínculo com seu
filho e ainda fortalecer-se para enfrentar o período de reclusão de forma salutar
e com vistas a ressocialização tão necessária e discutida. “Amamentar é um
processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões
no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de

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infecções, e em sua saúde no longo prazo, além de ter implicações na saúde


física e psíquica da mãe. ” (BRASIL, 2015).
Fochi et al. (2014) destacam que as reclusas grávidas carecem de
atenção individualizada, devido às condições inapropriadas enfrentadas no
cárcere e suas circunstâncias especiais. A prestação de cuidados às gestantes
em situação de cárcere, principalmente pelo profissional de enfermagem, deve
identificar fatores socioculturais e aqueles intrínsecos a esta condição, que é
diferente de qualquer outra, na tentativa de proporcionar um cuidado eficaz.
Mesmo estando em um ambiente prisional, as puérperas devem gozar
do direito de aleitar em um local tranquilo, onde não exista estresse físico e
mental, buscando manter a saúde e evitar futuras doenças físicas e mentais.
A teoria ambientalista desenvolvida por Florence Nightingale, na
segunda metade do século XIX, “aborda o provimento de fatores para a
manutenção de um ambiente favorável e o viver saudável, tais como:
ventilação, limpeza, iluminação, calor, ruídos, odores e a alimentação, de modo
que o processo de reparação, instituído pela natureza, não seja impedido” e
sim facilitado. (MEDEIROS, ENDERS e LIRA, 2015)
O objetivo desta pesquisa é destacar, a partir de textos publicados,
aspectos do aleitamento materno dentro das prisões.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, descritiva, com abordagem


qualitativa, sendo o método que associa a análise estatística à investigação,
facilitando a compreensão dos dados obtidos (BOSI, 2014).
Foram utilizados como critérios de inclusão: artigos publicados entre os
anos de 2014 a 2017, nos idiomas português ou espanhol. Os deveriam estar
disponíveis completos para consulta e ter assuntos que atendessem aos
objetivos propostos para este estudo.
Os descritores utilizados para a busca foram: “aleitamento materno”
“prisões” “mulheres”. Os descritores isolados não permitiram o acesso aos
artigos. Quando acessados unificados foi possível obter uma busca em 3
etapas :1ª foi a etapa da leitura dos títulos onde foram encontrados 1.150
artigos, os que não tinham relação com o tema, eram excluídos e os que tinha
alguma relação eram selecionados para a 2ª etapa. Nessa etapa foram
selecionados 273 artigos, onde foram lidos os resumos e foram selecionados
os textos que estavam disponíveis na íntegra em meio eletrônico. Desta forma,
na 3ª etapa selecionou-se 19 artigos e quando excluídos teses, monografias e
dissertações, foram definidos 10 artigos para compor a análise. Os artigos
estavam dispostos nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e
Google Acadêmico.
A análise dos dados foi realizada por meio de similaridade dos
conteúdos. E formação de categorias temáticas. Desse modo, foi possível
organizar as categorias através da aproximação dos assuntos que foram
abordados ao longo dos artigos pesquisados.

RESULTADOS

Os resultados mostraram que 40% dos artigos foram publicados no ano


de 2015, seguidos por 30% em 2014 e 30% em 2016; 70% eram pesquisas

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bibliográficas; e 90 % utilizaram análise qualitativa.


Segue abaixo, o quadro com principais resultados encontrados,
demonstrando a relação do tipo de estudo e seus objetivos.

Quadro 1 – Artigos que abordam sobre Amamentação, Presídios, Puérperas e


Enfermagem
Artigo Título Ano Revista Tipo de estudo Objetivos
1 Maternidade atrás 2015 Caderno de Saúde Pesquisa bibliográfica Conhecer acerca da
das grades: em Pública. e qualitativa. regulamentação do
busca da direito das mães e
Cidadania e da seus filhos durante o
saúde. Um estudo aprisionamento.
sobre a
Legislação
brasileira.
2 Amamentação em 2015 Revista Pesquisa de campo e Buscou conhecer as
ambiente prisional: Iberoamericana de qualitativa. percepções de
perspectivas das Educación e enfermeiras acerca da
enfermeiras de uma Investigación en amamentação
penitenciária. Enfermería. praticadas por
detentas, como
aprofundamento em
fatores que
influenciam essa
prática, bem como no
suporte disponível as
presas e atitude das
profissionais em
relação ao
aleitamento materno.
3 Mulheres e prisão: 2016 Revista Anais. Pesquisa bibliográfica Mostrar as condições
gestação e Sciencult. e quantitativa. em que se encontram
liberdade. a gestantes
carcerárias no Brasil
especialmente no
estado de Mato
Grosso do Sul.
4 Amamentação no 2016 Revista Pesquisa bibliográfica Mostrar que mesmo
cárcere: vínculos e pensamento e qualitativa. existindo políticas
rupturas. penal. públicas que facilitam
o acesso dessas
mães as informações
sobre o aleitamento
materno e seus
benefícios, existe
pouca preocupação
com relação ao
estabelecimento do
vínculo.
5 Mães e filhos atrás 2016 Revista Pesquisa de campo e Conhecer as
das grades, um Enfermagem qualitativa. condições de saúde
olhar sobre o drama Contemporânea. relacionadas aos
do cuidado de filhos cuidados a puérperas
na prisão. e seus filhos na
realidade prisional de
um conjunto penal
Feminino da Bahia,
identificando ações e
cuidados relacionados
a puérperas privadas
de liberdades e seu
recém-nascido.
6 Percepções de 2015 Revista Brasileira Pesquisa bibliográfica Discutir acerca do
mães encarceradas de História & qualitativa. direito à

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sobre o direito a Ciências Sociais. amamentação e as


amamentação no estratégias pensadas
sistema prisional. para a sua efetivação
no contexto do
cárcere.
7 Percepções de 2014 Revista Pesquisa de campo e Analisar a percepção
mães presidiárias Enfermagem qualitativa. de mulheres
sobre os motivos Contemporânea. presidiárias sobre o
que dificultam a processo
vivência do amamentação em
binômio. conjunto penal
feminino da Bahia.

8 Desafios de 2015 Revista do Centro Pesquisa bibliográfica Apresentar o projeto


educação de de Educação. e qualitativa. de atenção ao
crianças que desenvolvimento
residem com suas infantil dos bebês que
mães em unidade residem com suas
prisional: O papel mães apenadas na
da universidade do instituição prisional,
poder público. Penitenciária
Feminina Estadual
Madre Pelletier/RS.
9 Amamentação no 2014 Revista Jurídica Pesquisa bibliográfica Contribuir para uma
ambiente prisional: da UNIRON. e qualitativa. reflexão sobre o papel
um olhar sobre a dos profissionais de
assistência do enfermagem frente a
profissional de mulher em situação
enfermagem. carcerária que
vivencia o processo
da amamentação.
10 O direito 2014 Revista do curso Pesquisa A finalidade desse
fundamental das de direito da bibliográfica e trabalho e demonstrar
presidiárias e seus faculdade de qualitativa. a fundamentalidade
filhos ao humanidades e do aleitamento
aleitamento direito. materno a partir da
Materno. interpretação
sistemática da
legislação e
infraconstituciona
Fonte: os autores.

DISCUSSÃO

Quanto à caracterização dos artigos analisados, percebeu-se um forte


componente bibliográfico atrelado a análise qualitativa dos achados. Fica
evidente a questão da dificuldade logística dos pesquisadores em acessar o
sistema prisional a fim de coletar dados ou ter maior vivência junto às mulheres
que se encontram encarceradas. Trata-se de ambiente desconfortável, por
vezes inseguro, que reflete cautela por parte dos pesquisadores interessados
no tema.
Quanto aos artigos analisados, foi possível destacar alguns aspectos
sobre as condições as quais vivem as puérperas durante o período de
amamentação quando submetidas ao cárcere e as dificuldades vivenciadas por
elas.
Desse modo, foi possível apresentar as seguintes categorias:
Aleitamento Materno Prisional no Brasil e Arquitetura Prisional e o Processo de
Amamentação.

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Aleitamento Materno Prisional no Brasil

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde e a


Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), o Brasil destaca-se quando
relacionado ao aleitamento materno em relação aos países como Estados
Unidos, Reino Unido, Portugal, Espanha e China, em função das políticas
públicas adotadas há pelo menos 30 anos.
Apesar do Brasil se destacar em relação ao aleitamento materno, nas
penitenciárias o cenário muda , visto que as gestantes e puérperas se
encontram com grandes dificuldades no processo de amamentação, sendo um
momento delicado e novo para muitas mulheres.
De acordo com Oliveira e Teixeira (2014), no 9º artigo do ECA: “O Poder
Público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas
ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas à medida
privativa de liberdade.”
“O direito que a mulher presa tem de estar, cuidar e amamentar seu filho
teve sua inserção no Código de Processo Penal após o advento da Lei n.º
12.403/2011, que trouxe nova redação ao Capítulo da Prisão Domiciliar.”
(OLIVEIRA e TEIXEIRA, 2014). A legislação trata da conduta frente a falta de
condições das penitenciárias brasileiras em prover o necessário para que a
mãe permaneca com o recém-nascido durante a amamentação, trazendo a
possibilidade inclusive da prisão domiciliar em caso específicos.
Mariano, Silva e Andrew (2015), afirmam que nas penitenciárias
irlandesas as mulheres optam em amamentar seus filhos com mamadeiras ,
pois faltam conhecimento adequado sobre qual seria a melhor maneira de
amamentar seus filhos e manter o aleitamento pelo tempo recomendado.
Sabe-se que o vínculo entre o binômio mãe bebê é estabelecido desde o
início da gestação e com o passar do tempo após o parto ele aumenta no
período em que a mãe aleita seu filho. Trata-se de um momento único e
exclusivo do binômio mãe bebê, onde é notório que esta relação aumenta o
afeto, o vínculo e traz benefícios para a saúde no binômio mãe e filho no
período de amamentação. (OLIVEIRA e TEIXEIRA, 2014).
Abbott e Scott (2017) em sua pesquisa com vinte e oito gestantes e
novas puérperas na Inglaterra apontam que existe relutância por parte das
puérperas em sustentarem o aleitamento materno e ressaltam que existe a
primordialidade de “ampliar totalmente o incentivo a amamentação para essas
puérperas que vivem no cárcere e fortalecer o papel humano essencial que
pode ser potencializado, quando a atenção adequada e garantia de direitos
desse público que vive em estado de vulnerabilidade”.
De acordo com Amaral e Bispo (2016), outro fato que pode prejudicar a
lactação é o fato das mães não receberem recomendações necessárias quanto
aos cuidados dispensados aos seus filhos, agravando-se ainda o quadro para
que possa haver o desmame precoce .
Silva, Pestana e Barros (2014 ), afirmam que a mãe que aleita seu bebê
sente-se menos ansiosa, demonstrando-se confiante e segura quanto ao ato
de amamentação. Para eles o processo de amamentar manifesta-se na
perspectiva de colaborar com o binômio mãe filho.
O aleitamento materno é um direito legal da criança e da mulher mesmo
aquelas em situação de cárcere previsto por leis, negar esse direito à criança é
como se a pena se estendesse da mãe à criança. A falta da garantia dos

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direitos da mãe que amamenta no cárcere faz com que essas mães não se
sintam acolhidas pelo Sistema Carcerário Brasileiro . O descaso com essa
parcela da população é preocupante, visto que o direito à amamentação é
assegurada por leis Brasileiras tais como: Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984:
Lei de Execução Penal e Lei 8.069, de 13 de julho de 1990: Estatuto da criança
e do adolescente.
Para reforçar que o leite materno seja ofertado nesse ambiente é
importante que os profissionais de saúde que atuam nas penitenciaárias
apoiem e favoreçam o processo de aleitamento. Estando ao lado, ouvindo as
puérperas e buscando alternativas possíveis para a convivência e a
alimentação saudável para a criança. Ventura, Simas e Larouzé (2015)
reconhecem que houve um grande avanço em relação a possibilidade da mãe
conviver com seu filho dentro da prisão , porém as detentas demonstraram-se
aflitas pelas condições das penitenciárias que podem interromper o convívio da
mãe com seu bebê .
Gominho (2016) afirma que não há garantias de que somente o
aleitamento materno fortaleça a relação, visto que é fundamental a qualidade
desse vínculo e o tempo que mãe passa com a criança. A autora ainda,
salienta que, “mesmo existindo programas que facilitam o acesso dessas mães
encarceradas às informações sobre o aleitamento materno, não existe
preocupação com a salubridade do ambiente e a importância dos vínculos
afetivos que existem dentro da relação mãe-bebê”.
Araújo et al (2014) colaboram com a reflexão apontando que as mães
que encontram apoio de profissionais de saúde, incluindo enfermeiros, quanto
a prática de amamentaçao sentem-se mais decididas em promover o
aleitamento, elevando seus sentimentos e relação entre a mãe o bebê.
Portanto, observa-se um desafio imposto aos profissionais de saúde que
atuam nas penitenciárias brasileiras e também a toda sociedade, que reflete as
questões relativas a qualidade de vida, no cumprimento das penas em regime
fechado e da modificação real do comportamento daqueles que cumprem
essas penas e no futuro irão voltar a convivência com a familia e a sociedade.
As mulheres encarceradas necessitam de cuidados, orientação e atenção a
saúde para promoção de sua dignidade humana e sua recuperação social.

Arquitetura Prisional e o Processo de Amamentação

Sabe-se que as primeiras penitenciárias Brasileiras foram arquitetadas


para a reeducação social de homens, desse modo os ambientes prisionais não
foram elaborados para acolher mulheres, muito menos aquelas que estão
amamentando.
Vasone e Santana (2015) afirmam que as mulheres no período
gestacional ficam mais frágeis , e em se tratando de mulheres em situação
carcerária o momento é ainda mais delicado, sendo este um local inapropriado
tanto para a mãe quanto para o bebê.
De acordo com os dados de 2014 do Departamento Penitenciário
Nacional (DEPEN), a maioria dos estabelecimentos penais (75%) são voltados
excepcionalmente ao público masculino, apenas 7% são destinados ao gênero
feminino e outros 17% são para ambos os gêneros, no sentido de que podem
ter uma ala exclusiva para mulheres dentro de um estabelecimento antes
masculino.

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Bruscato e Rangel (2015) afirmam que não é de hoje o aumento célebre


das mulheres nos cárceres que se torna fator preocupante, mas a quantidade
de grávidas e, consequentemente, dos RNs que vivem nas penitenciárias,
tornando-se prioridade a implantação de políticas voltadas a este tema. Ainda
destacam que as estruturas carcerárias são predominantemente improvisadas,
que a maior parte das unidades foram construídas para acolher homens e
posteriormente, transformada em unidades prisionais femininas, não tendo
espaço adequado para a amamentação, berçário e creches para bebês, que
nascem perante a tutela do Estado.
De acordo com a LEP (Lei de Execução Penal), o artigo 83 § 2º afirma
que os estabelecimentos penais designados a mulheres serão beneficiados de
berçários, onde as infratoras possam cuidar de seus filhos, inclusive
amamentá-los, no mínimo, até os 6 (seis) primeiros meses de vida.
Conforme Dalmácio, Cruz e Cavalcante (2015), as prisões no Brasil se
encontram em condições de habitações precárias e o problema se amplia na
medida em que as prisões femininas não dispõem de recursos humanos
individualizados e ambientes físicos necessários à saúde da mulher, exclusivo
ao tratamento do pré-natal e pós-natal.
A falta de apoio, orientação, incentivo, o ambiente apresentar-se
insalubre, o local não ser apropriado para prática da amamentação são
motivos que podem facilitar que as gestantes e as puérperas não queiram
amamentar , desse modo ocorrendo o desmame precoce dessa criança. Pois
a amamentação embora instintiva do ponto de vista fisiológico, necessita
ambiente adequado, de apoio no campo emocional e psicológico, para
fundamenta-se como prática ativa e eficaz.
Essas condições ambientais podem acarretar problemas na saúde das
mulheres encarceradas. Nightingale conceitua “ambiente como sendo o local
no qual se encontra a pessoa e/ou os familiares, compreendendo as
instituições de saúde e o domicílio, e considerando seus componentes físico,
social e psicológico, os quais precisam ser entendidos como inter-
relacionados” .
A Teoria ambientalista de Florence Nightingale, vem ao encontro da
proposta de solução dos problemas no espaço penitenciário, pois preocupa-se
em dar condições para o pleno desenvolvimento da socialização com saúde,
incluindo aí o processo de amamentação. Além do ambiente, são
apresentados como conceitos não comuns: o arejamento, no que diz respeito a
conservar o ambiente tão puro quanto o ar exterior; o aquecimento, ao
proporcionar uma temperatura moderada evitando o seu resfriamento; as
condições sanitárias dos locais, no que se refere a assegurar a higiene,
enfatizando a utilização de água pura, rede de esgoto eficiente, limpeza,
fazendo referência já à prevenção de infecções, e iluminação, envolvendo a
claridade e a necessidade de exposição à luz solar direta. (MEDEIROS,
ENDERS e LIRA, 2015)
É justo que a mãe amamente seu filho independente do ambiente a qual
ambos estão inseridos. Vale salientar que o aleitamento materno é uma das
principais formas de estabelecer vínculos entre o binômio, que é um período
essencial para proporcionar proteção e saúde ao bebê. E ainda a mãe deve
experimentar a maternidade e alactação, e se preparar para sua rotina após a
saída do bebê, e o cumprimento de sua pena na prisão.

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CONCLUSÃO

Constatou-se que a produção científica sobre aleitamento materno


prisional ainda é tímida. Os estudos analisados em sua maioria são de
natureza bibliográfica e com análise qualitativa. Carecendo de novos olhares in
loco para as rotinas de aleitamento dentro das penitenciárias brasileiras.
Os estudos versam sobre contextos diferenciados, de ordem legal e
sobre os benefícios do aleitamento prisional.
Conclui-se que as dificuldades vivenciadas pelas mulheres em situação
de aleitamento materno prisional são a falta de informação, pouca orientação
sobre qual seria o melhor meio para amamentar seu bebê, falta de incentivo na
prática de amamentação e o ambiente inadequado, tanto na parte física quanto
no acolhimento das equipes que atendem tais mulheres.
Apesar das penitenciárias terem sofrido mudanças ao longo do tempo
para abrigá-las, ainda faltam melhorias a serem realizadas, para que essas
novas mães possam amamentar seus filhos e seus direitos não sejam
infligidos, de modo que tenham maior dignidade frente a esta fase importante
de seu processo evolutivo e social.
Faz-se necessário discutir nos meios acadêmico e de atuação
profissional, o papel de profissionais de saúde frente ao manejo da
amamentação junto as mães submetidas ao cárcere, durante o pré-natal e o
aleitamento materno de forma que os(as) enfermeiros(as) possam cooperar na
orientação e acompanhamento dessas mães com seus bebê que estão em
condição de vulnerabilidade.

REFERÊNCIAS

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