Professor Leitor 2
Professor Leitor 2
Professor Leitor 2
Resumo
Este trabalho tem como tema a formação do professor leitor e decorre de uma pesquisa mais
ampla que em sua versão final pretende proceder a análise da formação leitora e da prática
decorrente dessa formação, no que diz respeito aos professores alfabetizadores e aos
professores de Língua, egressos de cursos presenciais de Pedagogia e Letras da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP, campi de Assis e de Presidente
Prudente). Este trabalho investigativo se vincula a um programa de cooperação Acadêmica da
CAPES, e está vinculado a um projeto denominado Leitura nas licenciaturas: espaços,
materialidades e contextos na formação docente. Este texto é resultado dos estudos iniciais
desenvolvidos com a intenção de proceder ao levantamento bibliográfico dos conhecimentos
existentes nas áreas da formação de professores e na área do ensino da leitura. A pesquisa que
dá origem ao trabalho está sendo realizada numa abordagem quali-quantitativa, com análise
bibliográfica e referencial, tendo a finalidade de articular os conhecimentos teóricos já
produzidos com as práticas de ensino de leitura que ocorrem nas séries iniciais da educação
básica. Como procedimentos de pesquisa, utilizamos o levantamento das teses e dissertações
produzidas nos últimos cinco anos que tratam da formação do professor leitor e sua prática.
Os dados levantados foram analisados de acordo com fundamentos teóricos que dão
sustentação ao projeto: concepções sobre a leitura e maneiras de ler como prática cultural
(CHARTIER), a linguagem como instrumento de mediação (VIGOTSKY) e como processo
de enunciação (BAKHTIN). Com este trabalho pretendemos colaborar no desenvolvimento
de um plano de ações para qualificar a formação de leitores.
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Cursa o 4º ano do Curso de Pedagogia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP –
Campi de Marília-SP. Políticas Públicas em leitura. E-mail: daniele.mnascimento@hotmail.com
2
Professora Doutora na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP –Campi de Marília-SP
– Departamento de Administração e Supervisão Escolar. Políticas Públicas em leitura. E-mail:
netezeu@gmail.com
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Cursa o 4º ano do Curso de Pedagogia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP –
Campi de Marília-SP. Políticas Públicas em leitura. E-mail: camilasílvia_92@hotmail.com
ISSN 2176-1396
1791
Introdução
Iniciamos esse texto explicitando que optamos por tomar como objeto de pesquisa a
leitura e a formação e a prática do professor leitor, porque temos a concepção de que a leitura
é prática social essencial à vida contemporânea e meio fundamental de acesso à cultura
letrada e aos conhecimentos produzidos pela humanidade. A pesquisa que dá sustentação a
esse trabalho está sendo realizada como parte do programa de iniciação científica na
Universidade Estadual Paulista – Júlio de Mesquita Filho – UNESP, campus de Marília, onde
a pesquisadora frequenta o último ano da Faculdade de Pedagogia.
Este texto registra uma parte de uma pesquisa mais ampla denominada Leitura nas
licenciaturas: espaços, materialidades e contextos na formação docente, cuja finalidade é
analisar o perfil leitor de universitários ingressantes nas licenciaturas de Letras e Pedagogia,
de quatro universidades brasileiras, apontando princípios, conhecimentos e ações pedagógicas
para a formação de leitores na universidade como espaço privilegiado de mediação da leitura
e de circulação de práticas de leitura. Na versão total do projeto, serão sujeitos da pesquisa
alunos ingressantes e egressos de ambas licenciaturas, em razão de constituírem-se
professores da Educação Básica, que ensinam a leitura e suas práticas.
É importante esclarecer que a aproximação destas pesquisadoras com o tema da
formação do leitor aconteceu nas atividades de ensino, pesquisa e extensão no curso de
Pedagogia. Essas atividades, ao serem realizadas, contribuíram com o delineamento deste
texto que, como dissemos, pretende contemplar as temáticas – da formação de professores
alfabetizadores e de Língua Portuguesa nas séries iniciais do Ensino Fundamental, os efeitos
dessas formações na constituição do professor leitor e as práticas de ensino da leitura,
decorrentes desses processos formativos.
Partimos da concepção de que o tema do ensino da leitura pressupõe pensar na
formação do professor leitor, pois, a leitura é fator essencial no desenvolvimento da
identidade profissional do docente e constitui um instrumento fundamental de sua prática. Isto
porque, a expectativa é a de que o professor seja um mediador no desenvolvimento de
capacidades leitoras, no processo de aprendizagem do aluno, como está explicito nos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa – PCNLP - para o ensino
fundamental:
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[...] da mesma maneira que a formação não se pode dissociar da produção de saber,
também não se pode alhear de uma intervenção no terreno profissional. As escolas
não podem mudar sem o empenho dos professores; e estes não podem mudar sem
uma transformação das instituições em que trabalham. O desenvolvimento
profissional dos professores tem de estar articulado com as escolas e os seus
projetos.
Tendo esses autores como referência e com a finalidade de analisar como os cursos de
formação de professores trabalham a leitura em seus currículos e, como é ensinado ao
professor os encaminhamentos que deve dar à sua prática para melhor ensinar seus alunos a
lerem com proficiência, em um primeiro momento deste trabalho, fomos aplicar um
questionário aos alunos ingressantes dos cursos de Pedagogia questionando sobre o repertório
de cultura letrada e as práticas de leitura que possuem ao iniciar seu processo de formação
inicial.
Para dar maior significação aos dados que conseguimos coletar, é importante informar
que foi cinquenta e oito o total de sujeitos respondentes. Todos eles são alunos ingressantes
do curso de Pedagogia de uma universidade pública estadual do Estado de São Paulo, e alguns
são alunos que frequentam esse curso no período vespertino e outros no período noturno.
Diante do volume de dados coletados, optamos, nos limites deste texto, por fazer
alguns recortes que estão mais voltados para as preocupações assumidas por nós, na
realização deste trabalho de pesquisa. Com esta intenção, selecionamos como categoria de
análise o item o “papel das instituições e mediadores de leitura”, que, no nosso entender,
ajuda a pensar a temática sobre a qual nos dedicamos neste estudo. A questão que escolhemos
para refletir foi a seguinte: “Cite algum fato, sujeito, objeto, espaço, prática, experiência ou
rotina que tenha sido relevante para a sua história de leitor” Com essa proposta, tínhamos a
intenção de buscar identificar quais os espaços e/ou os sujeitos que foram responsáveis pela
mediação da leitura para esses futuros professores. É interessante destacar que dos cinquenta
e oito licenciandos ingressantes do curso de Pedagogia que responderam ao questionário,
trinta e nove deles não tiveram o que indicar nesse item, ou seja, não reconheceram as
instituições escolares pelas quais passaram e nem os sujeitos com os quais conviveram nesses
espaços, como mediadores nas suas trajetórias de formação leitora.
Na perspectiva defendida por Vygostky (1989) a mediação a que nos referimos
aqui, é vista como um processo interativo e sócio histórico, ou seja, na concepção desse
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teórico que também assumimos, é na interação com o outro, um sujeito social mais
experiente que o homem se constitui como tal e constrói conhecimentos, Assim, a
participação do grupo social (mediadores) é fundamental porque esse processo de mediação
se dá a partir das relações interpessoais entre os sujeitos. Para o autor:
Talvez isso possa ser explicado no fato de que professores e instituições escolares
ensinam a ler, mas não propõem tarefas que envolvam práticas sociais reais de leitura e
escrita, para que os alunos pratiquem e desenvolvam a competência leitora. Infelizmente,
mesmo com toda a produção teórica na área do ensino da leitura, ainda muitos docentes
consideram que esse conhecimento é uma habilidade que é adquirida em processos mecânicos
e individuais, em que a decodificação de grafemas em fonemas é a base da aquisição dessa
competência.
Consideramos que é fundamental que os futuros professores vivenciem práticas reais
de leitura durante sua formação inicial, para que ela seja significativa e consequente para uma
profissionalização, resultante de escolhas didáticas coerentes com as necessidades de leitura
dos seus alunos. Não qualquer leitura, mas aquela que traz como consequência a emancipação
e autonomia e é defendida por Silva (1998) quando afirma: “dessa forma a leitura crítica,
aquela que desvela, mostra e exige posicionamentos, pode colaborar significativamente na
mudança de rumos, na saída do mundo da opressão e, consequentemente, na busca de uma
vida mais feliz e produtiva em sociedade” (1998, p. 73).
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Temos como pressuposto que a formação do professor envolve mais elementos do que
aqueles contidos no espaço-tempo de formação e de atuação: a escola e a educação formal.
Evidentemente esse processo de formação inicia-se antes da escola, mas se prolonga além da
escola, mas esse fato não retira da formação inicial a responsabilidade por ampliar a cultura
letrada e por oportunizar aos licenciandos a vivência de práticas sociais reais de leitura de
textos de diferentes gêneros e variados propósitos.
Concordamos com os teóricos que têm defendido a necessidade de focar os aspectos
que estão relacionados com a formação de professores para buscar alternativas de qualificação
docente (Tardif, 2002; Freire, 2001; Guimarães, 2004: Gatti, 2010). Defendemos a ideia de
que a formação plena como leitor é um dos aspectos fundamentais para se obter a qualificação
docente defendida por esses e outros teóricos. A falta de oportunidade de ampliar a cultura
letrada por intermédio de mediações que deveriam ser proporcionadas nos espaços escolares,
pode explicar, no nosso entender, os resultados obtidos em outra questão constante no
instrumento de pesquisa, que analisaremos a seguir
Ao serem indagados sobre a frequência com que leem, quando o objeto de leitura são
outros textos que não os das leituras necessárias para atividades escolares/acadêmicas, apenas
32% dos respondentes afirmaram que o fazem diariamente. Já cerca de 20% leem, nessas
circunstâncias, semanalmente. O que mais surpreende é o fato de 32% dos futuros professores
admitirem que nunca leem ou só o fazem só raramente quando não precisam atender as
demandas acadêmicas.
Conclusões parciais
Este trabalho teve como objeto de estudo o tema da formação do professor leitor está
vinculado a uma pesquisa mais ampla que em sua versão final pretende proceder à análise da
formação leitora e da prática decorrente dessa formação. Este texto é resultado dos estudos
iniciais desenvolvidos com a intenção de proceder ao levantamento bibliográfico dos
conhecimentos existentes nas áreas da formação de professores e na área do ensino da leitura.
Numa abordagem quali-quantitativa e com análise bibliográfica e referencial,
procuramos articular os resultados obtidos na aplicação de um questionário que tinha o
objetivo de levantar o perfil de leitura de alunos ingressantes no curso de Pedagogia, com os
conhecimentos teóricos/científicos produzidos na área da formação do leitor e do ensino da
leitura. Desse cotejamento, ficou evidenciado que a maioria dos futuros professores não
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reconhece na escola e nem nos educadores o papel de mediação no ensino da leitura que
julgamos ser inerente desses espaços e sujeitos.
Ao assumirmos que é responsabilidade do professor tanto o planejar, como
implementar e organizar as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e
orientar o esforço de ação e reflexão do aluno sobre os muitos textos que circulam nesses e
em outros espaços sociais, com vistas a garantir aprendizagens efetivas das capacidades
leitoras. Assumimos também ser responsabilidade da escola garantir objetivamente que isso
ocorra. Por isso, entendemos que existe um caminho longo, mas inquestionável na revisão dos
currículos e encaminhamentos dos cursos de formação inicial de professores responsáveis
pelo ensino da leitura na educação básica, para que isso ocorra.
REFERÊNCIAS
_________. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 29. ed. São
Paulo: Cortez, 1994
SOUZA, Renata Junqueira (org.). Caminhos para a formação do leitor. São Paulo: DCL,
2004.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. – 3. ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1989.