Introdução Ao Estudo e Diagnóstico de Transtornos Mentais

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11/11/23, 04:42 Introdução ao estudo e diagnóstico de transtornos mentais

Introdução ao
estudo e diagnóstico
de transtornos mentais
Vanessa Nolasco Ferreira

Descrição

Introdução ao estudo da Psicopatologia e do diagnóstico de transtornos


mentais: histórico, noções de normal e patológico, sofrimento subjetivo,
conceituação de transtorno e doença mental, técnicas de exame
psíquico.

Propósito

Proporcionar uma visão descritiva dos fenômenos e comportamentos


disfuncionais, tomando como ponto de partida o entendimento das
alterações mentais, e promover a discussão acerca da diversidade
humana, normalidade e patologia são pontos fundamentais para o
profissional psicólogo ter uma visão mais integrada sobre a realidade
humana.

Objetivos

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Módulo 1

Correntes teóricas da Psicopatologia

Reconhecer as principais correntes teóricas da Psicopatologia.

Módulo 2

Concepções de diversidade

Avaliar as diferentes concepções de diversidade, normal e patológico.

Módulo 3

Conceituação de transtornos e doenças


mentais
Reconhecer a conceituação de transtornos e doenças mentais, e os
sistemas classificatórios existentes.

Módulo 4

Técnicas no exame psíquico

Avaliar o comportamento humano, a partir do emprego de técnicas


no exame psíquico.

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Introdução
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O campo da Psicopatologia pode ser entendido como o conjunto


de conhecimentos acerca do processo de adoecimento mental
em seres humanos. Esses fenômenos são marcados pela
especificidade psicológica relativa às vivências dos que adoecem
e sua dimensão própria, genuína, não sendo apenas exagero do
que é considerado corriqueiro e funcional. E, também, são
marcados por suas conexões complexas com a Psicologia, no
que diz respeito ao mundo da doença mental como um mundo
não totalmente estranho às experiências psicológicas funcionais.

Embora o conceito de saúde inclua as dimensões de bem-estar


biológico, psíquico e social, ainda há uma forte influência
enraizada pelo modelo biomédico no estudo da Psicopatologia.
Sendo assim, cabe ao campo de conhecimento da Psicologia
considerar, para além do modelo de observação de
comportamentos disfuncionais e desadaptativos, para então
considerar as características sociais presentes na formação da
personalidade, tanto funcional como disfuncional.

Dessa maneira, este material se propõe a definir o campo da


Psicopatologia e o problema da classificação, assim como
apresentar os conceitos básicos da semiologia psiquiátrica,
proporcionando a análise de modelos uni e multidimensionais.
Para isso, são discutidas as contribuições das diversas áreas, o
estudo sobre normal e patológico, e é apresentada uma
introdução ao modelo de exame psíquico.

Para que esse estudo tenha a base necessária para a formação


do psicólogo, são também aprofundados os conceitos de normal
e patológico, que não possuem uma demarcação fixa, mas algo
tido como extremamente flexível ao longo da história da
Psicopatologia. Assim, vamos caminhar entendendo como,
historicamente, essa fronteira foi construída por meio dos
conceitos técnicos e da junção destes com valores, tradições e
crenças de determinada época e em um lugar, variando o quadro
das doenças mentais.

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1 - Correntes teóricas da Psicopatologia


Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer as principais correntes teóricas
da Psicopatologia.

O campo da Psicopatologia
Em uma concepção clássica, Campbell (1986, apud Dalgalarrondo,
2000) define a Psicopatologia como um campo científico que trata a
natureza da doença mental incluindo suas causas, mudanças de
estrutura e funções, em conjunto com a forma pela qual a doença se
manifesta.

Dalgalarrondo (2000) apresenta uma definição mais complexa ao


defender que nem todo estudo psicopatológico segue a rigor os ditames
de uma ciência stricto sensu, ou seja, de uma ciência exata como a
Matemática e a Física.

Assim, o referido autor descreve a Psicopatologia


como um conjunto de conhecimentos referentes ao
fenômeno do adoecimento mental do ser humano.

É de destaque, para Dalgalarrondo (2000), que no campo


psicopatológico encontram-se fenômenos humanos especiais
associados ao que histórica e observacionalmente foi associado à
doença mental. Assim, ao estudarmos esse campo, estamos nos
deparando com vivências, estados mentais e padrões de
comportamento que apresentam, ao mesmo tempo, características

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disfuncionais e conexões complexas com a existência e o


funcionamento psíquico cotidiano.

Disfuncionais
Que ultrapassam exageros de comportamentos “ditos normais”.

Existência e o funcionamento psíquico cotidiano


Referente à forma de ser e existir no mundo.

Foucault (1975), ao realizar uma historiografia do conceito de loucura,


apresenta sua evolução, desde o Renascimento até a Modernidade,
como algo diagnosticável, mas que reflete os deslocamentos de poder e
os mecanismos de controle emergentes das produções discursivas de
cada época, seja no sentido do exílio dos loucos em manicômios, que
ocorreu até o estabelecimento de um Movimento de Reforma
Psiquiátrica, por exemplo, até sua estigmatização, no sentido de
associação de comportamentos socialmente indesejáveis à loucura.

Dessa maneira, Foucault (1975, p. 55) afirma que:

O internamento que o louco,


juntamente com muitos outros,
recebe na época clássica não põe
em questão as relações da loucura
com a doença, mas as relações da
sociedade consigo própria, com o
que ela reconhece ou não na
conduta dos indivíduos.

Foucault (1975, p. 55)

Ainda que possamos reconhecer a função de assistência que as


internações tiveram ao longo do tempo, não podemos negar a triste
realidade em que essas medidas foram empregadas em muitos casos,
nos quais os asilos e hospitais psiquiátricos eram locais onde ficavam
excluídos, de modo permanente, diversas pessoas apenas por motivos
morais e de controle.

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Uma visão internacionalmente importante acerca da Psicopatologia é


oferecida por Karl Jaspers (1987). Para o autor, a Psicopatologia é uma
ciência básica que serve de auxílio à técnica clínica, tanto na Psiquiatria
como na Psicologia. Como técnica, ele entende o conhecimento
aplicado a uma prática profissional e social concreta. Desse modo, esse
autor, pedra fundamental de Psicopatologia Fenomenológica, introduz a
ideia de um limite ao campo que deriva do fato de que, embora o objeto
de estudo seja o paciente em sua totalidade, nunca é possível reduzir
por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos.

Se na Psicopatologia o pensamento deve ser


sistemático e rigorosamente conceitual, na prática
profissional participa opiniões e intuições ao entender
o sujeito como complexo e multifacetado e
multideterminado.

Com isso, é possível entender a Psicopatologia como multidimensional,


pela diversidade de campos teóricos, indicativa da constante
construção dessa ciência, mas também da complexidade e
multidimensionalidade dos fenômenos patológicos.

Você está familiarizado com a definição de sujeito biopsicossocial? A


Organização Mundial da Saúde definiu saúde, em 1948, determinada
pela influência de fatores biológicos ou somáticos, psicológicos e os
fatores sociais.

Ora, se o sujeito é multifacetado e multideterminado, como o estudo de


seus fenômenos mentais não seria? Por esse motivo, querer uma única
explicação, uma só etiologia, uma única concepção teórica taxativa que
determine o fenômeno psicopatológico, não só é impossível como
também reducionista.

História da Psicopatologia
Ao olhar para a história da Psiquiatria, pode-se notar que, por muito
tempo, as “doenças” da mente eram vistas como algo que remetia à
alma, algo do campo imaterial. Entretanto, no século XIX, Kraepelin traz
a ideia de que existe um órgão por trás do sofrimento psíquico, e esse
órgão seria o cérebro. Além disso, ressaltava que era importante
classificar esses quadros de sofrimento, visto que cada um
demonstrava um padrão de sintomas e de evolução da doença.

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Posteriormente, em meados do século XX, surge o método psicanalítico


de Freud.

Bebendo da fonte de Charcot, Sigmund Freud se dedicou


bastante ao estudo da histeria, que Charcot denominava como
doença sine materiae (doença sem matéria).

Freud, então, começou a considerar que haveria uma causa


para as doenças da mente, e que essas deveriam ser causas
psicodinâmicas.

Ele trouxe, desse modo, a ideia, já muito difundida atualmente,


de que acontecimentos na vida de uma pessoa, principalmente
os que dizem respeito aos estágios iniciais do
desenvolvimento, poderiam alterar o psiquismo dela.

Com isso, surgiu a ideia da clínica em Psicologia, na qual trazer à tona


esses acontecimentos traumáticos passados poderia, de alguma forma,
reverter suas consequências indesejadas no presente.
Consequentemente, surgiu, também, a ideia de diagnóstico na clínica
psicológica, sendo que o diagnóstico, dentro da abordagem de Freud,
deveria ser feito pelo acesso ao inconsciente do sujeito, elaborado ao
longo da análise, lançando mão do uso da transferência e da escuta do
discurso do analisando.

psychology
A Teoria Comportamental, que até então era mais marcada pelo
aspecto experimental e pela utilização em laboratórios, migra também
para a clínica, percebendo que a compreensão do comportamento
adquirido segundo o paradigma behaviorista teria muito a acrescentar.

psychology
Logo passa a ser nomeada como Teoria Cognitiva Comportamental (e
teve como figura de destaque Aaron Beck), pois deixa de estudar apenas
o comportamento para investigar também os aspectos cognitivos.

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Nessa teoria, o pensamento é a base para o trabalho na clínica. Dessa
forma, o diagnóstico para a TCC é a conceituação cognitiva com o
reconhecimento dos pensamentos automáticos, das crenças nucleares
e intermediárias.

Por volta dos anos 1960, surge a Abordagem Centrada na Pessoa, de


Carl Rogers, seguida de outras terapias humanistas, com uma forte
rejeição ao modelo diagnóstico médico e psicométrico. Segundo essa
teoria, o adoecimento psíquico é entendido como um bloqueio na
tendência atualizante. Além disso, surge a ideia de que ninguém poderia
saber mais sobre o cliente do que ele mesmo. Desse modo, a
terapêutica deveria direcionar o paciente para redescobrir a ele mesmo,
e dessa forma ele evoluiria bem. Em outras palavras, aqui o diagnóstico
era considerado algo que rotulava as pessoas.

Ainda dentro do movimento humanista, surge a Gestalt-terapia, de Fritz


Perls, também com essa ideia de rejeição ao modelo diagnóstico
médico. Para a Gestalt-terapia, o adoecimento psíquico ocorreria
quando a capacidade de ajustamento criativo da pessoa fosse
interrompida. Dessa forma, o diagnóstico veio voltado para o
reconhecimento de padrões de evitação de contato. Logo, a ideia era
não diagnosticar pessoas, mas diagnosticar padrões em que essas
pessoas estão “presas”. Sendo assim, o processo de diagnóstico não é
fechado, e se dá simultaneamente ao processo terapêutico, pois uma
mesma pessoa pode apresentar determinado padrão de evitação de
contato, e na outra sessão ela já pode manifestar outros padrões, por
exemplo.

Na atualidade, todos esses enfoques teóricos são considerados e,


geralmente, não se exclui o diagnóstico sindrômico e nosológico, assim
como tampouco o diagnóstico psicodinâmico. Ao contrário, é possível
eles caminharem juntos. Veja o resumo das três!

Nosológico
A nosologia no campo da saúde equivale ao conceito de taxonomia.
Ela permite a categorização dos transtornos e doenças.

Abordagem sindrômica expand_more

Apresenta uma visão descritiva dos sintomas e tem uma clínica

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pautada na eliminação dos sintomas.

Abordagem nosológica expand_more

Busca compreender a doença pela observação e caracterização


nosográfica do quadro, visando à intervenção mais investigativa
e supostamente mais profunda.

Diagnóstico psicodinâmico expand_more

Preocupa-se em compreender a origem e a dinâmica do


transtorno.

Correntes de estudo da
Psicopatologia
O campo multidimensional da Psicopatologia tem influência e
contribuições de diversas correntes teóricas da Psicologia, Psiquiatria e
Filosofia. Veja os detalhes, a seguir!

Psicopatologia descritiva expand_more

Dedica-se, basicamente, ao estudo das alterações psíquicas e da


estrutura dos sintomas. Portanto, busca conhecer a experiência
geral e típica. Para Jaspers (1987), nesse campo, as formas
importam mais para os estudiosos. Já os conteúdos resultantes
de funções psíquicas disfuncionais têm caráter individual, sendo
esses conteúdos considerados acidentais.

Psicopatologia dinâmica expand_more

Tem como objeto de investigação científica o conteúdo da


vivência patológica e normal, nos movimentos internos dos

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afetos, desejos, temores do indivíduo, ou seja, em sua


experiência individual. Bleuler, no final do século XIX (apud
DALGALARRONDO, 2008), ao estudar tais fenômenos, destacou
que quando nos defrontamos com pessoas psiquicamente
enfermas (termo usado na época), podemos optar por nos
concentrar nos sinais e sintomas ou podemos optar pela escuta
qualificada do sujeito, para tentar compreender uma pessoa
humana em sua singularidade, suas aflições, seus temores, seus
desejos e suas expectativas pessoais.

Bleuler
Paul Eugen Bleuler (1857-1939), psiquiatra suíço conhecido
pelas suas contribuições para o entendimento da
esquizofrenia.

Psicopatologia médica expand_more

Domina a perspectiva médico-naturalista, na qual a noção de


homem é centrada no ser biológico e o adoecimento é visto
como desregulação do cérebro (DALGALARRONDO, 2008).

Psicopatologia existencial expand_more

O sujeito que adoece é entendido como uma existência singular,


como um ser lançado a um mundo que é apenas natural e
biológico na sua dimensão elementar, mas fundamentalmente
histórico e humano (DALGALARRONDO, 2008).

O campo psicopatológico também é atravessado e influenciado pela


visão cognitivo-comportamental e pela visão psicodinâmica, observe!

Perspectiva cognitiva

Traz um homem visto como conjunto de comportamentos, que


podem ser observados e condicionados por estímulos
específicos e gerais, e entende que o sintoma resulta de
comportamentos e representações disfuncionais.

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Postura psicodinâmica

Entende-se o homem como ser determinado e dominado por


pulsões, desejos, e conflitos inconscientes; e os sinais e sintomas
observados são considerados como forma de expressão de
conflitos inconscientes recalcados, desejos que não podem ser
realizados, temores aos quais o indivíduo não tem acesso.

Por último, mas não menos importante, na formação do campo que


estamos estudando coexiste a ideia dimensional do sintoma, que
entende as doenças como compostas por dimensões (espectros), que
incluem diferentes graus de comprometimento e de alteração de
funções psicológicas, noção presente no DSM-V com a dimensão
categorial, a qual compreende “entidades nosológicas completamente
individualizadas, com contornos e fronteiras bem-demarcados”
(DALGALARRONDO, 2008, p. 37).

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As principais correntes em
Psicopatologia
O especialista Diogo Bonioli reflete sobre as diferenças entre a
Psicopatologia descritiva, dinâmica, médica, existencial, e as influências
das abordagens teóricas na compreensão dos sintomas e dos
transtornos.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(Adaptado de: Prefeitura de Itambaracá - PR - 2020 - Prefeitura de


Itambaracá - PR – Psicologia) Com base na conceituação de

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Psicopatologia, sua história e seus fenômenos, assinale a


alternativa que define esse campo do conhecimento:

É o ramo da ciência que trata da natureza essencial


da doença mental, suas causas, as mudanças
A
estruturais e funcionais associadas a ela e suas
formas de manifestação.

Como conhecimento que visa ser científico, baseia-


B se apenas na observação de comportamentos e
normas sociais.

A Psicopatologia pode julgar moralmente o seu


objeto, além de buscar observar, identificar e
C
compreender os diversos elementos da doença
mental.

A Psicopatologia não é uma ciência interdependente


D de outros saberes; é um prolongamento da
neurologia ou da psicologia, apenas.

A Psicopatologia, como ciência, exige um


pensamento unicamente conceitual, que seja
E
sistemático e que possa ser comunicado de modo
inequívoco.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A Psicopatologia baseia-se em parâmetros científicos e dedica-se


ao estudo da doença mental, desde suas características etiológicas
até suas manifestações. Por conseguinte, baseia-se para além da
observação dos comportamentos de normas sociais, em critérios
de estudos experimentais. Por se tratar de uma abordagem
científica, julgamentos morais e éticos estão fora de questão.

Questão 2

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(Adaptado de MS CONCURSOS - 2021 - Prefeitura de São Francisco


do Guaporé - RO – Psicólogo) Qual conceito mais se aproxima da
Psicopatologia?

É um campo clínico e de investigação teórica da


A psique humana, independente da Psicologia, com
origem na Medicina.

É uma área do conhecimento que objetiva estudar


os estados psíquicos relacionados ao sofrimento
B
mental. É a área de estudos que está na base da
Psiquiatria e Psicologia.

É uma abordagem específica, ágil e orientada no


C
problema atual do paciente.

Dá ênfase às interações entre emoções,


D pensamentos, comportamentos e estados
fisiológicos.

Constitui o estudo unicamente clínico do


E
comportamento do paciente.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A Psicopatologia como campo de conhecimento é


multidimensionalmente determinada, cujo objeto de estudo
constitui os estados psíquicos relacionados ao sofrimento e
adoecimento mental. Para tanto, leva o histórico de vida do
paciente em consideração, não apenas o momento atual e
considera aspectos biopsicossociais envolvidos no histórico do
sujeito.

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2 - Concepções de diversidade
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de avaliar as diferentes concepções de
diversidade, normal e patológico.

Normatividade e anormalidade
segundo Canguilhem
Em algum momento, todos nós fizemos a pergunta do que seria normal
e o que seria patológico, ou pelo menos não normal. Cientistas,
psicólogos, médicos e filósofos se debatem em tono dessa questão há
muito tempo. Muitos pensam que as definições desses dois termos são
simples e cartesianas, como 2+2=4. No entanto, a natureza humana e
sua existência colocam à prova toda e qualquer possibilidade de
pensarmos o normal e o patológico como conceitos estanques e
dicotômicos.

Essa discussão encontra-se no centro da reflexão clínica e na base da


formação dos profissionais da Psicologia. Por esse motivo, faz-se
necessário o uso de ferramentas conceituais para pensar de forma
crítica esse problema. Apenas de posse de tais reflexões poderemos
sair da discussão na ordem no senso comum e entender os limites
éticos da intervenção biotecnológica sobre a vida, bem como as
mudanças sociais que nos levam a pensar e gerir uma linha tênue que
separa comportamentos funcionais e disfuncionais.

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Para podermos gerar uma base epistemológica sólida e clássica sobre


essa reflexão em relação à definição de normal e patológico, usaremos
o pensamento de Georges Canguilhem (1904-1995) importante filósofo
e médico francês, autor de importantes obras em diferentes áreas.

[...] o estado patológico em absoluto


não difere radicalmente do estado
fisiológico, em relação ao qual ele
só poderia constituir, sob um
aspecto qualquer, um simples
prolongamento mais ou menos
extenso dos limites de variações,
quer superiores quer inferiores [...]
sem jamais produzir fenômenos
realmente novos [...].

Georges Canguilhem (1904-1995)

Em outras palavras, para esse autor, o que é dito normal é aquilo que
acontece e é observado no âmbito da vida cotidiana e, precisamente, a
patologia nos permite entender melhor o que seria saúde.

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Canguilhem destaca que o que se observa e mensura em um


comportamento acontece em grande parte da população,
passando, por conseguinte, a ser considerado normal.

Com isso, podemos entender que o conceito de normalidade tem


a ver com o conceito de normatividade, ou seja, com as normas
de funcionamento vigentes e a distribuição estatisticamente
normal de comportamentos observáveis.

A partir desse tipo de conceituação, é necessário sempre ter em


mente que a definição de normal vem a partir de um valor, e não
de um fato (CANGUILHEM, 1982, p. 95-97).

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No que por muitos é entendida como o antônimo desse conceito está a


ideia de anormalidade. Ela é definida pelo mesmo autor não como um
dado objetivo ou um conceito, nem mesmo como medidas
estatisticamente aferidas, mas a partir da implicação que esse desvio
tem, ou seja, em função do julgamento ou o valor positivo ou negativo
que se atribui, relativo à sua funcionalidade no processo de preservação
e reprodução. Desse modo, Canguilhem (1982) comprova que uma
mesma variação objetiva pode ser sinal de normalidade ou de patologia,
dependendo do contexto em que se apresenta.

Continuidade entre os fenômenos da


saúde e patologia
Com as emblemáticas considerações de Canguilhem (1982), torna-se
possível entender que, para se descrever um estado ou um fato como
normal ou patológico em si mesmo, é obrigatório realizar uma análise
dos seus efeitos sobre o exercício normativo do organismo, ou seja,
encontrar a diferença de qualidade entre o estado de saúde ou doença.

Se pensamos em saúde como bem-estar biopsicossocial, logo, os


estados psicopatológicos serão derivados exatamente por um
desequilíbrio nesse bem-estar, revelado por um estado de luto, por uma
enfermidade biológica, pela apresentação de sinais e sintomas que
caracterizam comportamentos disfuncionais, ou mesmo por uma
reação a questões sociais.

Canguilhem apresenta o conceito de normatividade vital, que sugere


uma continuidade entre os fenômenos da saúde e da patologia.

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[...] o ser vivo e o meio, considerados


separadamente, não são normais; [...] é sua
relação que os torna normais um para o
outro. O meio é normal para uma
determinada forma viva na medida em que
lhe permite uma tal fecundidade e,
correlativamente, uma tal variedade de
formas que, na hipótese de ocorrerem
modificações do meio, a vida possa
encontrar numa dessas formas a solução
para o problema da adaptação que,
brutalmente, se vê forçada a resolver. Um ser
vivo é normal num determinado meio na
medida em que ele é a solução morfológica e
funcional encontrada pela vida para
responder a todas as exigências do meio.

(CANGUILHEM, 1982, p. 112-113)

Essa citação tão importante para o campo da saúde significa que, para
fins de definição da saúde ou da doença, indivíduo e meio não podem,
de maneira alguma, ser considerados de forma única e isolada. A
normalidade ou a patologia, ao contrário do que o senso comum aponta,
não são dois polos ou conceito opostos, mas duas faces de uma
mesma moeda, a moeda que na Psicologia entendemos como sujeito
ou ser humano.

Canguilhem contesta os autores que se opõem à compreensão da


patologia como uma variação de grau de um estado considerado sadio.

O autor defende a tese de que uma patologia, ao ser semanticamente


classificada, deve:

check_circle cancel
Não usar os prefixos a
close Usar os prefixos hipo ou
ou dis. hiper.

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Assim, considerando a relação entre o sujeito e seu meio e a visão de


doença como uma variação, para esse autor, uma patologia pode ser a
expressão da presença ou ausência de uma determinada característica,
que passa a ser vital para a adaptação a um determinado contexto. É
precisamente nas condições patológicas que a Medicina pode se
deparar com importantes descobertas sobre saúde.

A vida e a saúde como processo


criativo
A saúde não pode ser pensada como mera adaptação bem-sucedida do
organismo ao meio, porque a norma vital saudável implica não só a
produção de um equilíbrio adequado às exigências da relação entre os
dois polos, mas também a capacidade de recriar esse equilíbrio com
bases em normas diferentes sempre que isso se tornar necessário.
Vemos, assim, uma visão dinâmica, pois as definições de normal e
patológico não podem ser consideradas de forma estanque.

A vida em si implica um processo criativo que demanda resolver a


solução para o problema de adaptação, que envolve mais do que apenas
aspectos físicos relativos ao funcionamento de um órgão, tecido ou
estrutura.

É nesse contexto que Canguilhem nos oferece uma reflexão


incrivelmente importante:

O patológico não é a consequência da ausência de


qualquer norma. A doença é ainda uma norma de vida,
mas uma norma inferior, no sentido de que não tolera
nenhum desvio das condições em que é válida, por ser
incapaz de se transformar em outra norma.
(CANGUILHEM, 1985, p. 146)

Esse pensamento, que pode parecer complicado no começo, aponta


para aspectos muito importantes. Em primeiro lugar, nos permite refletir
em relação à necessidade de procurarmos construir as ciências do
cuidado em saúde livre de preconceitos. Vale lembrar que o que pode
ser saúde em um determinado momento ou contexto pode ser
entendido como doença em outras condições.

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Quando o autor aponta a ausência de qualquer norma, isso nos permite


refletir sobre a necessidade de, como psicólogos, consideremos a
Psicopatologia como possibilidade de entendermos a experiência de
sofrimento como centro do processo terapêutico e de nossa atuação.
Esse conceito dialoga com a perspectiva e a crítica fenomenológica
apresentadas anteriormente.

Precisamos entender que focar apenas a dimensão chamada patológica


e seus sinais pode sacrificar o sujeito que ali existe. Assim,
independentemente de comportamento disfuncional, não se pode
priorizar uma objetividade que não faz sentido, se não traz a promoção
de bem-estar para quem se encontra em sofrimento psíquico. E mais
ainda, não podemos apenas categorizar o sujeito sem compreender a
sua condição em relação à sua totalidade.

Também é importante retomarmos o conceito de normatividade vital


para o estudo da Psicopatologia. Mas o que isso quer dizer? O que seria
essa normatividade vital?

Esse autor, central em nossa discussão, conceitua como aquela norma


superior de sanidade, ou seja:

person psychology_alt
Um sujeito normal é Logo, ele é capaz de
aquele que está dentro criar padrões para si,
das determinações sempre que necessário.
sociais e constrói meios
arrow_forward Já um órgão/organismo
de superar os é considerado
obstáculos que se patológico por não
oponham a seu poder exibir essa
funcionamento. plasticidade.

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11/11/23, 04:42 Introdução ao estudo e diagnóstico de transtornos mentais

Assim, Canguilhem propõe um conceito de normatividade vital como


substituto da ideia de normalidade.

looks_one Canguilhem defende um conceito fundamentado na


adoção do vitalismo contra o mecanicismo como
premissa básica para explicitação da natureza dos
fenômenos biológicos.

looks_two O objetivo do autor é, exatamente, conciliar uma


visão materialista do mundo sem deslizar para um
fisicalismo reducionista, que não seria capaz de
contemplar a singularidade dos fenômenos vitais
frente aos demais fenômenos do universo.

looks_3 O pensamento desse autor nos permite ter uma


visão integrada do processo saúde doença como
processo, promovendo a valorização da diversidade
e o respeito à singularidade.

video_library
Implicações do pensamento de
Canguilhem
O especialista Diogo Bonioli reflete sobre o pensamento de Canguilhem
e os conceitos de normatividade vital na Psicopatologia e suas
implicações.

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11/11/23, 04:42 Introdução ao estudo e diagnóstico de transtornos mentais

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Canguilhem propõe que o estado patológico não é a ausência de


uma norma, pois não existe vida sem normas de vida, e o estado
patológico também é uma forma de se viver. Considerando essa
afirmativa e seus estudos acerca do âmbito da Psicopatologia,
assinale a afirmativa correta acerca do conceito de patologia e
anomalia para o autor.

A patologia constitui tudo aqui que foge do


A
comportamento socialmente aceitável.

B Não existe diferença entre normalidade e patologia.

Os estados patológicos podem ser definidos a partir


da implicação que esse desvio tem, o valor positivo
C
ou negativo que se impõe sobre o processo de
preservação e reprodução da vida.

Os estados de normalidade ou patologia não


D dependem de critérios psicopatológicos, mas, única
e exclusivamente, de normas sociais.

O estado patológico implica, invariavelmente, em


E
desvio social.

Parabéns! A alternativa C está correta.

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Assim como explicitado no texto: tomar o normal como normativo


implica, assim, definir o patológico não como desvio em relação a
um padrão objetivamente definido, mas como expressão de uma
potência normativa constrangida, uma resposta criativa, mas
"infeliz", não tão bem-sucedida quanto a norma saudável, as
injunções da vida no meio em que o ser vivo se encontra.

Questão 2

(Agente Técnico de Assistência à Saúde (SAP SP) /2018) O


conceito de normal e patológico é extremamente relativo. Não é
possível discutir a questão da normalidade e da patologia sem
retomar as contribuições de Canguilhem para a questão. Para esse
autor, o que é normalidade? Assinale a alternativa correta.

Normalidade é a ausência de sintomas, de sinais ou


A de doenças. Nesse sentido, normal é o indivíduo
não portador de um transtorno mental definido.

Completo bem-estar físico, mental e social, e não


B
simplesmente como ausência de doença.

A definição se fundamenta sobre o conceito de


C normal e seu oposto, o anormal constitui um
problema conceitual sem solução.

O que em uma sociedade é considerado normal,


adequado, aceito ou mesmo valorizado, em outra
sociedade ou em outro momento histórico pode ser
D
considerado anormal, desviante ou patológico,
assim, o normal e o patológico são variantes
históricas, apenas.

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É uma questão de grau e não apenas de natureza,


isto é, nos indivíduos normais e nos anormais
existem traços funcionais e disfuncionais de
E
personalidade e de conteúdo, que, se mais ou
menos ativadas, são responsáveis pelo desequilíbrio
e abertura de quadros patológicos.

Parabéns! A alternativa E está correta.

Canguilhem define os conceitos de normalidade e patologia, a partir


da contraposição ao objetivismo, colocando o indivíduo dentro da
sua determinação biopsicossocial, como central na definição de
normalidade. Dessa forma, nenhuma resposta determinista, que
exclui a complexidade pode estar correta.

3 - Conceituação de transtornos e doenças mentais


Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer a conceituação de transtornos e
doenças mentais, e os sistemas classificatórios existentes.

Semiologia psicopatológica
Na Psicopatologia, Psiquiatria e em outras áreas da saúde, são
empregados termos como sinais e sintomas para referência aos
aspectos observáveis do comportamento de sujeitos em uma sociedade

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que determinarão classificações como funcional ou disfuncional. Dessa


maneira, é importante ressaltar que a Psicopatologia parte de um
sintoma, seja para definir a esfera existencial, seja para classificar
comportamentos.

Nesse contexto, o campo da Psicopatologia tem como influência em


sua construção os seguintes conceitos:

Semiologia médica

É o estudo dos sintomas e sinais das doenças, permitindo


“identificar alterações físicas e mentais, ordenar os fenômenos
observados, formular diagnósticos, e empreender terapêuticas”
(DALGALARRONDO, 2008, p. 23).

Semiologia psicopatológica

É o estudo dos diversos sinais e sintomas relativos aos


transtornos mentais.

É de destaque a importância do campo da semiologia na


Psicopatologia, que pode ser definido como responsável por estudar a
vida dos signos no seio da vida social. Essa definição, embora antiga e
pertencente ao campo da linguística, é de extrema relevância para a
Psicopatologia, uma vez que ressalta o signo como “elemento nuclear”
da semiologia. Se entendermos que o signo é um sinal que contém em
si mesmo significado, podemos concluir que essa espécie de sinal pode
ser entendida como qualquer estímulo emitido pelos objetos ou sujeitos
que nos rodeiam. Com isso, entendemos que a semiologia na Medicina
e na Psicologia se encarrega de estudar especificamente os signos que
apontam à existência de sofrimento psíquico, associados a transtornos
e patologias.

Kaplan e Sadock (2007, p. 306) destacam que “os sinais são


observações e descobertas objetivas, como os afetos constritos ou
retardos psicomotores do paciente. Os sintomas são as experiências
descritas por este, expressadas muitas vezes como suas principais
queixas, como humor depressivo ou falta de energia”. Assim, enquanto o
sinal é o comportamento observável e classificável, o sintoma se liga à
experiência vivida e sentida pelo paciente.

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A partir dessa visão, é possível entender que a semiologia


psicopatológica determina grupos de sinais e sintomas representando
síndromes para, dessa forma, estabelecer categorias ou definições
identificáveis, que se apresentam mais ambíguas do que uma doença
ou um transtorno determinado (KAPLAN; SADOCK, 2007).

Na prática clínica, os sinais e os


sintomas não ocorrem de forma
aleatória; surgem em certas
associações, certos clusters mais
ou menos frequentes.

(DALGALARRONDO, 2008, p. 26)

Doença, transtorno e síndromes


Antes de prosseguir, é de fundamental importância explicar as
diferenças existentes entre os conceitos de doença, transtorno,
síndrome e distúrbio. Vamos lá!

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Doença expand_more

Para entendermos melhor uso da terminologia, precisamos


esclarecer a inadequação do uso do termo doença na nosologia
psicopatológica. No passado, você já deve ter escutado falar
sobre doenças mentais. No entanto, essa identificação foi
descartada por vários motivos. Por um lado, o termo doença se
refere ao prejuízo das funções de um órgão ou do organismo
como um todo, resultando na evidência de sintomas e sinais
característicos.

Existem vários critérios que determinam que uma condição seja


considerada doença:

Precisa ter uma causa conhecida.

Precisa se manifestar por meio de sinais e sintomas


específicos.

Precisa provocar alterações também características no


organismo.

Transtorno expand_more

No caso dos transtornos, entendemos que eles se apresentam


com uma alteração na saúde, nem sempre associada a uma
doença propriamente dita. As diversas categorias nosológicas
em Psicopatologia se comportam como transtornos porque não
cumprem os critérios supracitados de doença: não apresentam
uma etiologia determinada; e ainda contando com sinais e
sintomas identificáveis, eles são mais variados do que no caso
de uma doença, assim como a diversidade das consequências
que podem acarretar.

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Dessa maneira, o termo transtorno passa a ser o usado no caso


de alterações no psiquismo, inclusive porque a palavra doença,
nesse meio, acarretou historicamente um estigma social, que
buscamos eliminar em Psicopatologia.

Síndrome expand_more

A delimitação do conceito síndrome se liga ao fato de que não


são identificáveis etiologias específicas de uma natureza
essencial do processo psicopatológico (pode existir mais de
uma causa, em alguns casos). Uma síndrome representa um
conjunto de sinais e sintomas que, sem causa específica,
resultam em vários processos patológicos, com manifestações
clínicas de uma ou mais doenças e/ou transtornos.

Como exemplo, temos a síndrome de Burnout, a síndrome do


pânico, a síndrome de Down, entre outras. Nelas, não se fala de
uma etiologia determinada, mas é possível observar uma série
de moléstias e problemas de ordem psíquica e física no sujeito
que padece. Por exemplo, na síndrome de Burnout existem
alterações no sono, falta de concentração, alterações no sistema
imune e outras condições diversas.

Distúrbio expand_more

Diferentemente da síndrome, não necessariamente aponta para


um diagnóstico fechado, e apresenta anormalidades funcionais

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de um órgão ou de um sistema, como, por exemplo, os distúrbios


alimentares que envolvem diversas causas.

Para a construção das características semiológicas (conjuntos


de sinais e sintomas que caracterizam uma síndrome ou
transtorno) são considerados os seguintes fatores:

etiologia;

curso temporal;

desfechos típicos;

mecanismos psicológicos e psicopatológicos;

antecedentes genéticos e de desenvolvimento;

repostas aos tratamentos mais e menos previsíveis.

Ordenação dos fenômenos


psicopatológicos e sinais
patognomônicos
Nesse contexto, os fenômenos psicopatológicos são ordenados
conforme o quadro a seguir:

Fenômeno Descrição

Ocorrem em todas as pessoas (p.


Fenômenos ex., medo de animais perigosos,
semelhantes ansiedade frente a uma situação
social nova).

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Fenômeno Descrição

Aqueles que em parte são


Fenômenos semelhantes ao que o paciente
parcialmente vivencia (a tristeza é apenas
semelhantes parcialmente semelhante ao humor
deprimido).

Fenômenos
Fenômenos que são próprios para
qualitativamente
certas doenças e estados mentais.
novos

Tabela: Ordenação dos Fenômenos Psicopatológicos. Adaptado de Vanessa Nolasco Ferreira.

Observando o quadro, chegamos ao que autores clássicos como


Dalgalarrondo (2008) e Kaplan e Sadock (2007) apontam como o
problema da classificação. Classificar, nesse contexto, implica a
complexa atividade de utilizar a observação sistemática e cuidadosa
das manifestações psicopatológicas para classificar, interpretar e
ordenar os fenômenos observados.

O problema reside no fato de que há muitos traços semelhantes entre


fenômenos normais e patológicos, ao mesmo tempo em que há uma
variedade de definições que se aplicam a ambos. Apenas os fenômenos
qualitativamente novos nos permitem identificar melhor transtornos
específicos, como no caso de delírios, alucinações, entre outros.
Entretanto, na Psicopatologia não contamos com sinais chamados de
patognomônicos, quer dizer, sinais que são considerados como
diacríticos ou que nos permitem identificar uma doença de forma
característica.

Exemplo
No diagnóstico de doença de Chagas, temos o sinal de Romaña e que
se caracteriza por oftalmia unilateral. Isso quer dizer que, na presença
desse marcador ou indicador (sinal), a doença é diagnosticada sem
sombra de dúvidas.

Ainda sem esses sinais, na Psicopatologia, a classificação é importante


uma vez que é por meio dela que determinamos se um dado transtorno
mental é válido e se a categoria representa de forma eficiente e
uniforme as ocorrências do transtorno, para apoiar as inferências sobre
o tratamento. Além disso, é pelos sistemas classificatórios que
acessamos a história causal do transtorno e podemos julgar quão
informativa é a categoria classificatória.

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Como já explicamos, devemos nos lembrar de que na Psicopatologia


existe um debate entre as definições do que é considerado normal e o
que é considerado patológico, mas isso não descarta o fato de
pressupor que algumas alterações comportamentais ou cognitivas são
parte de um transtorno e não de outro. Nesse contexto, vale ressaltar:

Todo sistema de classificação precisa ser confiável e


descrever subgrupos específicos de sintomas que,
especialmente para clínicos experientes, sejam
evidentes e facilmente identificáveis.

Além disso, sistemas de classificação pouco confiáveis estão sujeitos a


vieses por parte dos clínicos, assim, é obrigatório que um sistema de
classificação passe por um processo de validade (BARLOW; DURAND,
2016, p. 84).

A validade dos sistemas


classificatórios
Em Psicopatologia, contamos com diferentes sistemas classificatórios
que nos permitem estudar e identificar os transtornos e as síndromes
observadas. Muitos desses sistemas são atualizados regularmente
buscando a sua adequação às mudanças sócio-históricas e culturais
associadas à saúde mental, assim como adequação a mudanças na
terminologia e informações mais apropriadas. Podemos citar:

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V),


elaborado pela American Psychiatric Association.

Classificação Internacional de Doenças 11 (CID-11), elaborada pela


Organização Mundial da Saúde (OMS).

Barlow e Durand (2016) entendem a validade desses sistemas como


valor de construto, nos quais sinais e sintomas escolhidos como critério
para a categoria estão consistentemente associados, e o que
identificam difere de outras categorias. Nesse contexto, há o valor
preditivo/de critério, que se liga à capacidade de prever o curso e o
desfecho em um paciente prototípico e o valor de conteúdo, atrelado a
critérios diagnósticos que devem refletir a maneira como a maioria dos
especialistas do campo veem a categoria.

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Nos estudos sobre validade, também se destacam sua conceituação


como um construto diagnóstico válido apenas se sua estrutura interna
corresponde a como os sintomas são estruturados na população, o que
mais uma vez remete à lógica dialógica dos conceitos de normalidade e
patologia (ZACHAR; JABLENSKY, 2015).

Ao retomar a perspectiva multidimensional da Psicopatologia, é possível


pensar criticamente e concluir que afirmar que uma doença mental é
causada por uma alteração no funcionamento do cérebro, ou por
condicionamento, ou por mecanismos de defesa inconscientes; é
aceitar um modelo linear e unidimensional, que tenta traçar as origens
do comportamento a uma única causa (BARLOW; DURAND, 2016).

Mesmo os modelos que afirmam se opor ao modelo biomédico têm


essa característica. Assim, modelos mais contemporâneos buscam
interpretar as alterações do comportamento como resultantes de
múltiplas influências – perspectiva sistêmica – isso “implica que
qualquer influência particular contribuindo para a Psicopatologia não
pode ser considerada fora do contexto [que], nesse caso, refere-se à
biologia e ao comportamento do indivíduo, bem como ao ambiente
cognitivo, emocional, social e cultural” (BARLOW; DURAND, 2016, p. 29).

A partir de todo o conteúdo apresentado até aqui é preciso ressaltar:

psychology psychology
Os circuitos específicos Fatores psicológicos e
envolvidos nos sociais influenciam
transtornos mentais são fortemente esses
sistemas complexos, circuitos; mais uma vez
identificados por vias de close é possível remeter à
neurotransmissores que questão da interrelação
inervam várias regiões. biopsicossocial se
provando como
estritamente importante

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para o estudo da
psicopatologia.

Dessa maneira, as “experiências psicológicas precoces afetam o


desenvolvimento do sistema nervoso e, portanto, determinam a
vulnerabilidade a transtornos psicológicos na vida adulta. Parece que a
própria estrutura do sistema nervoso está constantemente mudando
como resultado da aprendizagem e da experiência, mesmo em idosos, e
que algumas dessas mudanças tornam- se permanentes” (BARLOW;
DURAND, 2016, p. 52).

Estudos como o de Tseng (2007) apontam de um ponto de vista


conceitual que existem seis modos diferentes com os quais a cultura
pode contribuir para os transtornos mentais:

Efeitos patogênicos expand_more

Ligam-se a situações nas quais a cultura é um fator de efeito


direto na formação da doença. Isso se dá quando a síndrome
que ocorre tende a ser relacionada à vivência cultural.

Efeitos seletivos expand_more

Dizem respeito à tendência de algumas pessoas, diante de


acontecimentos vitais, de selecionar certos padrões de reação
determinados pela cultura que resultam na manifestação de
certos transtornos.

Efeitos plásticos expand_more

Estudam como a organização social contribui para a modelagem


das manifestações da patologia (p. ex., conteúdo de sintomas).

Efeitos elaboradores expand_more

São as reações exageradas em algumas culturas, por meio do


reforçamento cultural (p. ex., suicídio honroso em algumas

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culturas orientais).

Efeitos facilitadores expand_more

Incidências de transtornos por meio de costumes (p. ex.,


transtornos alimentares nas sociedades ocidentais pós-
industriais).

Efeitos reativos expand_more

Entendimento dos membros de uma cultura acerca de uma


síndrome e/ou transtorno.

A partir desses conceitos, encerramos o estudo sobre sofrimento


subjetivo, conceituação de transtorno mental e sistemas
classificatórios. Lembre-se de que sempre precisamos lançar mão de
uma visão sistêmica e multidimensional acerca desses temas, com
vistas a entendermos os sujeitos e seus acometimentos de saúde
mental dentro do âmbito biopsicossocial.

video_library
Validade dos sistemas
classificatórios em Psicopatologia
O especialista Diogo Bonioli reflete sobre importância da validade dos
sistemas classificatórios em Psicopatologia, apresentando o DSM 5 e o
CID 11.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

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Questão 1

Assinale a alternativa que contém a conceituação de semiologia


psicopatológica:

É o estudo dos sinais e sintomas dos transtornos


A
mentais.

É o estudo dos sintomas e sinais das doenças tanto


B
físicas como mentais.

São observações e descobertas objetivas sobre


C
transtornos mentais.

É um campo mais amplo, que estuda “a vida dos


D
signos no seio da vida social”.

E Estudo de sinais providos de significação.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A semiologia psicopatológica é definida por Dalgalarrondo (2008)


como o estudo dos sinais e sintomas que caracterizam os
transtornos mentais. Você deve observar a especificidade da
pergunta, diferenciando o referido conceito de semiologia médica e
linguística. Além disso, também deve refletir sobre a diferença
conceitual entre sinal semiológico e sintoma, que significa a
significação atribuída ao sinal pelo paciente.

Questão 2

O problema da classificação de síndromes e transtornos na


Psicopatologia está ligado a uma série de variáveis, mas
principalmente à validade. Assinale a alternativa que contém o
conceito correto de validade:

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Subgrupos específicos de sintomas que sejam


A evidentes e facilmente identificáveis por clínicos
experientes.

B Determinação se um transtorno mental é real.

C Normatividade da categoria classificatória.

Verificação se os sintomas se agrupam de maneira


D uniforme por todas as ocorrências do transtorno, e
se a categoria apoia inferências sobre o tratamento.

É um construto diagnóstico cuja estrutura interna


E corresponde a como os sintomas são estruturados
na população.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A validade se liga à correspondência do construto diagnóstico com


os sintomas estruturados pela população; já a confidencialidade se
liga a subgrupos específicos de sintomas identificáveis por
especialistas experientes. Determinação, normatividade e
verificação estão descritas e conceituadas por si só nas próprias
alternativas.

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4 - Técnicas no exame psíquico


Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de avaliar o comportamento humano, a partir do
emprego de técnicas no exame psíquico.

Exame psíquico e sua importância


O exame psíquico possui como objetivo a hipotetização de um
diagnóstico, a formulação de um prognóstico e a formulação de um
projeto terapêutico. Esse complexo processo tem início a partir de uma
entrevista, que além de permitir a observação de sinais e sintomas
psicopatológicos deve estabelecer rapport e vínculo entre psicólogo e
paciente.

O contexto no qual a entrevista acontece pode ser diverso: uma paciente


que procura um serviço de psicologia voluntariamente; ou para ele é
encaminhado; a ida a um hospital geral; uma visita domiciliar do Núcleo
de Apoio à Saúde da Família etc.

Rapport
Este termo deriva do francês rapporter, que significa trazer de volta.
Refere-se à oportunidade de criar uma sintonia e empatia com outra
pessoa. O rapport pode incluir elementos como, atenção mútua,
positividade e coordenação, muito utilizado nas relações pessoais e
profissionais.

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looks_one Para que o rapport e o vínculo terapêutico sejam


bem estabelecidos, é importante que a entrevista
aconteça em um ambiente seguro, agradável e no
qual a obrigação de sigilo possa ser mantida.

looks_two Recomenda-se que o psicólogo se apresente e


explicite de maneira clara para o paciente o motivo
da entrevista e do exame psíquico. Além disso,
esse processo só deve prosseguir após o paciente
entender o objetivo e dar explicitamente seu
consentimento.

looks_3 Caso necessário, familiares podem ser


entrevistados também. Isso acontece,
frequentemente, no caso de crianças e
adolescentes, pois só é possível prosseguir com
qualquer processo diagnóstico e terapêutico nessa
população, caso haja autorização de pelo ao menos
um dos responsáveis.

Fique atento a dois importantes requisitos para que um bom exame


psíquico ocorra: o treino e o estudo. É preciso se preparar antes de cada
atendimento, treinar a capacidade de observação da linguagem falada e
corporal do paciente.

Observe uma lista com regras básicas (CHENIAUX, 2015, p. 21):

No começo, deve-se deixar o paciente falar livremente, e só depois


perguntar de modo mais específico temas ou pontos duvidosos.

É preciso saber quando e como interromper o paciente: sem cortar


o fluxo da comunicação, mas sem deixar que a minuciosidade ou a
prolixidade (alterações da forma do pensamento) prejudiquem a
obtenção da história clínica. Sempre controlar e dirigir a entrevista.

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Não formular as perguntas de maneira monótona ou mecânica. O


diálogo deve ser tão informal quanto possível.

Evitar perguntas muito sugestivas, fechadas, que podem ser


respondidas com um simples sim ou não. É melhor perguntar:
Como você está se sentindo? Você está ansioso?

Não aceitar jargões fornecidos pelos pacientes, como nervoso,


deprimido, tenho pânico: pedir que ele explique o que quer dizer
com essas palavras.

Certificar-se de que o paciente compreende as perguntas: utilizar


linguagem acessível, sem termos médicos.

Pontos básicos do exame psíquico


Outro procedimento muito usado na dinâmica do exame psíquico é a
anamnese, um processo que significa algo como rememorar, relembrar.

list_alt
Geralmente, segue-se um roteiro preestabelecido, do qual o estudante
ou profissional deve se lembrar.

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No entanto, o uso desse roteiro não deve afetar a espontaneidade e a
naturalidade do processo de condução de uma entrevista clínica.

A seguir, serão destacados alguns itens de extrema importância para o


exame psíquico em Psicopatologia.

Os itens essenciais para um bom exame psíquico para identificação de


sinais e sintomas que caracterizam síndromes e transtornos são:

identificação;

queixa principal;

motivo do atendimento;

história da doença atual;

história patológica pregressa;

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história fisiológica;

história pessoal;

história social;

história familiar.

Além da anamnese, incluem-se na avaliação do paciente, um completo


exame psíquico e a conduta terapêutica.

Para fins didáticos, no quadro a seguir estão listados os itens e suas


definições:

Item Conceituação

Composta pelos dados pessoais,


auxilia no processo de formação de
vínculo, bem como na coleta sobre
Identificação histórico do paciente que pode trazer
informações preciosas para a
observação de sinais semiológicos e
sintomas.

É o foco na história da doença atual,


Queixa principal deve ser redigida nas palavras do
paciente.

Necessário quando não há


Motivo do consciência sobre a morbidade e as
atendimento informações são fornecidas por outra
pessoa.

Relato sobre a época do início dos


sintomas até o presente momento.
História da doença Fornecida pelo paciente ou
atual informantes, em caso de menores de
idade ou pacientes psicóticos em
episódios de surto.

Referente a estados mórbidos


anteriores que não se relacionam com
História patológica
a patologia atual. Deve incluir todos
pregressa
os acometimentos de saúde
retratados.

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Item Conceituação

São investigados gestação (da mãe),


nascimento, aleitamento,
desenvolvimento psicomotor (andar,
falar, controle esfincteriano), menarca,
História fisiológica
catamênios, atividade sexual,
gestações, partos, abortamentos,
menopausa, padrões de sono e de
alimentação.

Esse tópico pode ser fundido com a


história pregressa e elementos da
identificação. É importante pesquisar
História pessoal acerca de infância, adolescência;
sexualidade; vida laboral;
personalidade em momentos
anteriores ao da queixa atual.

Informações relativas à moradia:


condições sanitárias, pessoas com
quem convive, número de cômodos,
privacidade, características
sociodemográficas da região;
História social situação socioeconômica;
características socioculturais;
atividade ocupacional atual; situação
previdenciária; vínculo com o sistema
de saúde; atividades religiosas e
políticas; antecedentes criminais.

São os dados relacionados a doenças


psiquiátricas e não psiquiátricas; ter
sido a gravidez desejada ou não pelos
pais do paciente, separação dos pais,
quem criou o paciente; ordem de
nascimento entre os irmãos,
História familiar diferenças de idade; características de
personalidade dos familiares, o
relacionamento entre eles e deles
com o paciente; atitude da família
diante da doença do paciente;
relacionamento com o cônjuge e
filhos.

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Tabela: Itens essenciais na anamnese e exame psíquico.
Adaptado de Cheniaux (2015).

O exame do estado mental


Considerando os itens da anamnese, do processo de rapport e
estabelecimento de vínculo com o paciente, chega-se à etapa de
maturação da elaboração do exame psíquico, que constitui o exame do
estado mental. Emprega-se aqui o termo maturação, visto que esse
processo se inicia no começo do contato e na coleta de dados com o
paciente e/ou seus familiares.

Nesse processo, são descritas as alterações presenciadas ao longo da


sequência das entrevistas.

Devemos ressaltar a afirmação de Jaspers (1987, p. 31):

“A maioria das autodescrições psicopáticas deve ser


considerada de modo bastante crítico. Os doentes
relatam, para serem agradáveis, o que deles se espera,
ou por sensação quando notam o interesse”.

Dessa maneira, esse processo deve ser considerado como fluido e


altamente mutável. Daí a noção utilizada pela Psicologia não de
diagnóstico, mas de hipótese diagnóstica.

Objetivamente, descreve-se no exame psíquico apenas alterações


presenciais e detectáveis no momento da entrevista. No reporte ou na
redação de prontuário são descritas também as condições diante das
quais foi realizado o exame, como, por exemplo, número de sessões;
local; demanda etc.

O examinador deve estar atento à interseção entre as funções psíquicas


e suas alterações, avaliando-as de forma simultânea e observando a
presença de alterações qualitativas e quantitativas.

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O exame psíquico, a anamnese e o
exame mental
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O especialista Diogo Bonioli reflete sobre os pontos básicos e as


diferenças entre o exame psíquico, a anamnese e o exame mental.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Assinale a alterativa que conceitua corretamente exame psíquico:

A É a realização da anamnese do paciente.

É a realização da primeira entrevista diagnóstica


B
com o paciente.

É o exame do estado mental, no qual é necessário o


C estabelecimento de rapport e vínculo com o
paciente.

D É a escuta livre do paciente, sem objetivos prévios.

É a realização de um questionário estruturado com o


E
paciente.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O exame psíquico constitui um processo de avaliação do paciente


que envolve desde o primeiro contato e inclui o processo de
realização de anamnese e entrevistas iniciais. Esse processo não

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ocorre de maneira desestruturada e deve seguir parâmetros


específicos.

Questão 2

Os principais requisitos para que um bom exame psíquico ocorra


são o treino e o estudo. É preciso se preparar antes de cada
atendimento. Assinale a característica que descreve uma afirmativa
verdadeira acerca dos requisitos para um bom exame psíquico:

É preciso saber conduzir dinamicamente o diálogo


com o paciente, gerenciando o fluxo da
comunicação, sem deixar que a minuciosidade ou a
A prolixidade (alterações da forma do pensamento)
prejudiquem o contexto, a narrativa ou discurso
pertencente ao contexto clínico. Sempre administrar
e dirigir a entrevista.

O diálogo deve ser tão formal e estruturado o


B
quanto possível.

Optar por questões sugestivas, fechadas, que


C podem ser respondidas com um simples sim ou
não.

Solicitar que o paciente classifique com jargões


D
como deprimido, ansioso, com síndrome do pânico.

E Utilizar sempre uma linguagem técnica.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Para realização de um bom exame psíquico, a linguagem deve ser


acessível e compreensível ao paciente, além disso, devem ser
empregados termos cotidianos e se evitar tecnicismos. Também é
importante que a condução do exame seja o mais informal possível,
com vistas a deixar o paciente à vontade. Deve-se solicitar ao
paciente que descreva o que sente com suas palavras, pedindo a

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clarificação do uso de jargões técnicos absorvidos pelo senso


comum.

Considerações finais
Neste conteúdo, estudamos a história e as principais correntes da
Psicopatologia, entendendo suas origens, principais contribuições, bem
como seu caráter multidimensional e observacional. Também nos
aprofundamos na discussão entre normal e patológico, discutindo como
a sociedade influencia os conceitos de normalidade e disfuncionalidade.
Dessa maneira, procuramos nos distanciar da visão cartesiana do
conceito de saúde como total ausência de doença. Também foi possível
notar a interdependência do estudo da dimensão multidimensional da
Psicopatologia para compreensão de tais conceitos e discussão.

Ao nos aprofundarmos nos conceitos de sofrimento subjetivo,


conceituação de transtorno e doença mental e sistemas classificatórios,
entramos em uma esfera técnica relevante para as discussões em
Psicologia e Psicopatologia. Foram apresentados os conceitos de
semiologia psicopatológica, sintomas e síndromes, bem como
discutidos os dilemas dos sistemas de classificações de transtornos
mentais.

Por fim, fizemos uma importante transição entre teoria e prática, ao nos
dedicarmos ao estudo do exame psíquico, com características e
requisitos para sua realização. Entendemos a diferença entre entrevista,
anamnese e como essas técnicas compõem a totalidade de questões
relativas ao exame mental.

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Podcast
Neste podcast, o especialista Diogo Bonioli destaca a importância do
uso de terminologia e sistemas classificatórios adequados, assim como
a relevância do exame psíquico para o desempenho responsável e ético

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do psicólogo em saúde mental na identificação dos transtornos


mentais.

Explore +
Para entender melhor a evolução da Psicopatologia e a história da
loucura no Brasil, assista ao documentário Holocausto Brasileiro,
produzido pela jornalista Daniela Arbex, a partir de seus estudos para a
publicação de livro homônimo.

Assista ao Café Filosófico: A história da Psicopatologia no Brasil, com


Benilton Bezerra, para compreender melhor todos os conceitos
revisados ao longo do tema e suas implicações.

Referências
BARLOW, D. H; DURAND, V. M. Psicopatologia: Uma abordagem
integrada. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning Nacional, 2016.

BEZERRA JR., B. O normal e patológico: uma discussão atual. In: SOUZA


A. N.; PITANGUY, J. (org.). Saúde, corpo e Sociedade. Rio de Janeiro.
Editora UFRJ, 2006.

CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 1982.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos


mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

CHENIAUX, E. Manual de psicopatologia. 5. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2015.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir – Nascimento da prisão. São Paulo: Vozes,


1975.

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11/11/23, 04:42 Introdução ao estudo e diagnóstico de transtornos mentais

JASPERS, K. Psicopatologia geral. Rio de Janeiro: Atheneu, 1987.

KAPLAN, B. J.; SADOCK, V. A. Compêndio de psiquiatria – Ciência do


comportamento e psiquiatria clínica. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SABBARTON-LEARY, N.; BORTOLOTTI, L; BROOME, M. R. Natural kinds


and para-natural kinds in psychiatry. In: ZACHAR, P.; STOYANOV, D.;
ARAGONA, M.; JABLENSKY, A. Alternative perspectives on psychiatric
validation: DSM, ICD, RDoC, and Beyond. Oxford: Oxford University Press,
2015, p. 77-93.

TSENG, W.-S. Culture and psychopathology: A general view. In: BHUGRA,


D.; BHUI, K. Textbook of Cultural Psychiatry. Cambridge: Cambridge
University Press, 2007, p. 95-112.

ZACHAR, P.; JABLENSKY, A. Introduction: The concept of validation in


psychiatry and psychology. In: ZACHAR, P.; STOYANOV, D.; ARAGONA, M.;
JABLENSKY, A. Alternative perspectives on psychiatric validation: DSM,
ICD, RDoC, and Beyond. Oxford: Oxford University Press, 2015, p. 3-24.

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