As Cronicas de Fernando Fernandez
As Cronicas de Fernando Fernandez
As Cronicas de Fernando Fernandez
Fernando Fernandez
BOOK REVIEW
Fernando Fernandez. Os Mastodontes de Barriga Cheia e Outras Histórias - Crônicas de
Biologia e Conservação da Natureza. 1. ed. Rio de Janeiro: Technical Books. 2016. 279 páginas.
ISBN: 978-85-61368-53-1.
1 Doutorado em Desenvolvimento Sustentável (Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília), Brasil. ORCID:
0000-0002-8881-6439. renataros@hotmail.com
2 Fernandez, Fernando, O Poema Imperfeito Crônicas de Biologia, Conservação da Natureza e Seus Heróis (UFPR, 2011)
O título do livro faz referência ao primeiro texto da obra, que conta o caso dos
mastodontes de barriga cheia, cujos restos dos chamados mastodontes norte-
americanos datados de 9.900 anos foram escavados em solos congelados da região
dos Grandes Lagos, pelo paleontólogo Dan Fisher, considerando o maior especialista
do mundo em presas de elefantes fósseis. A pesquisa demostrou, por meio de análise
das presas das elefantas, que os mastodontes estavam se reproduzindo normalmente,
diferente do que aconteceria se elas estivessem sofrendo com graves mudanças
climáticas. Dessa forma, a sua extinção nada teve a ver com alteração das condições
ambientais durante o Quaternário, como sugerem alguns, e sim com a aparição dos
seres humanos na vida desses animais, que o caçaram até a extinção.
Sob uma óptica mais prática, o livro traz textos mais otimistas, como
“Preenchendo com vida a floresta vazia” (p. 112) e “Os ursos de Răcădău e a esperança”
(p. 203) os quais o autor dá esperança de reversão da problemática ambiental. No
primeiro, Fernandez discorre sobre métodos propostos para a recuperação da
biodiversidade perdida. Como o “Pleistocene rewilding”4 de Josh Donlan, que sugere a
introdução de uma fauna de grandes vertebrados aparentados das espécies extintas
na América do Norte até o final do Pleistoceno. Outro método, sugerido pelo próprio
autor e o seu colega Luiz Gustavo Oliveira-Santos, seria a “refaunação” de florestas
vazias, para repor extinções locais e recentes. Nesse método a restauração seria de
faunas inteiras, por meio da reintrodução de conjuntos de espécies nativas em
ecossistemas dos quais elas foram localmente extintas. A sugestão de Fernandez é
introduzir a técnica de “refaunação” na agenda para a conservação do século XXI.
2012. 205–213
6 David Quammen, A Canção do Dodô (Companhia das Letras, 2008).
morros e florestas separados da área urbana apenas por uma rua, na qual é depositado
o lixo em grandes caçambas. Atraídos pelos restos de comida, todas as noites alguns
ursos descem das florestas para revirar o lixo em busca de comida. Esse hábito se
tornou um espetáculo para a população local que passou a fazer questão de deixar as
lixeiras abertas, mesmo após esforços do governo de mantê-las fechadas. O autor
conta que todas as noites uma pequena multidão se reúne para ver esse espetáculo,
sentindo muito orgulho de ter esses ursos tão perto. Nesse momento, as
preocupações cotidianas não importam mais, pois a pequena janela que a aparição dos
ursos abre para a natureza é simplesmente importante demais para os habitantes do
condomínio.
Esse texto traz uma reflexão profunda e revela uma esperança maior do que a
que é gerada por ações baseadas em razões utilitárias. Fernandez mostra que a
natureza ainda está fortemente presente na essência do comportamento humano. Ela
continua sendo um lugar de conforto. Tê-la por perto ainda nos agrada e nos faz
sentir orgulhosos. Esses motivos podem levar à uma forte esperança de que ainda há
chance de não acabarmos com a natureza.
A leitura deste livro de Fernandez nos leva a mudar de pensamento no que diz
respeito à relação da humanidade com o meio ambiente, pois mostra as nossas falhas
nessa relação, causadas pela dinâmica do mundo moderno. Mostra também o sentido
pelo qual podemos seguir para tornar essa relação mais saudável. Fernandez sustenta
que a empatia em relação à natureza, juntamente com a percepção da importância
intrínseca dela, está presente na essência humana. Esse seria o grande e verdadeiro
caminho da conservação. Muito mais do que esgotamento de recursos, as crises
REFERENCIAS
C. Josh Donlan, Joel Berger, Carl E. Bock, Jane H. Bock, David A. Burney, James A.
Estes, Dave Foreman, Paul S. Martin, Gary W. Roemer, Felisa A. Smith, Michael E.
Soulé, e Harry W. Greene. Pleistocene Rewilding: An Optimistic Agenda for Twenty‐
First Century Conservation. The American Naturalist 2006. 168:5, 660-681
W.J. Ripple, R.L. Beschta. Trophic cascades in Yellowstone: The first 15 years after wolf
reintroduction. Biological Conservation 2012. 205–2
Recibido: 01/07/2019
Aprobado: 18/02/2020