Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Geografia Curso de Graduação em Geologia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 67

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

ALEXANDER BARBOSA MACIEL FERREIRA

MODELAGEM HIDROGEOLÓGICA DE FLUXO DA ÁGUA


SUBTERRÂNEA NA MINA TABOCA (PRIMAVERA, PA): UMA
ABORDAGEM CONCEITUAL E NUMÉRICA

Monte Carmelo
2023

ii
ALEXANDER BARBOSA MACIEL FERREIRA

MODELAGEM HIDROGEOLÓGICA DE FLUXO DA ÁGUA


SUBTERRÂNEA NA MINA TABOCA (PRIMAVERA, PA): UMA
ABORDAGEM CONCEITUAL E NUMÉRICA

Trabalho apresentado ao curso de graduação


em Geologia da Universidade Federal de
Uberlândia como parte da disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso II e
requisito para obtenção do título de bacharel
em Geologia.

Orientador: William de Souza Santos

Monte Carmelo
2023

iii
MODELAGEM HIDROGEOLÓGICA DE FLUXO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NA
MINA TABOCA (PRIMAVERA, PA): UMA ABORDAGEM CONCEITUAL E
NUMÉRICA

Trabalho apresentado ao curso de graduação


em Geologia da Universidade Federal de
Uberlândia como parte da disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso II e
requisito para obtenção do título de bacharel
em Geologia.

Orientador: Prof. Dr. William de Souza


Santos

Monte Carmelo, 29 de maio de 2023.

Banca Examinadora:

__________________________________________

Prof. Dr. William de Souza Santos – Orientador

Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

__________________________________________

Prof.ª Dra. Liliane Ibrahim

Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

__________________________________________

Prof. Dr. Felix Nannini

iv
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que foram


fundamentais na minha jornada acadêmica e na conclusão do meu TCC. Neste momento
especial, quero dedicar minha gratidão a Deus, pois sem Sua orientação e bênçãos, eu não
teria chegado tão longe.

À minha amada mãe, Eleusa Ferreira, e ao meu querido pai, Ruy Barbosa, sou
imensamente grato pelo apoio incondicional, encorajamento constante e amor inabalável
ao longo desses anos. Suas palavras de incentivo e sacrifícios não passaram
despercebidos, e sou eternamente grato por tudo que fizeram por mim.

Aos meus estimados professores de graduação, que me guiaram e compartilharam seus


conhecimentos, sou profundamente grato. Suas aulas inspiradoras, dedicação e mentoria
foram essenciais para o meu crescimento acadêmico e pessoal. Agradeço por me
desafiarem a alcançar meu melhor e por acreditarem em meu potencial.

À minha amada namorada, Francielly, agradeço por todo o apoio emocional, paciência e
compreensão durante os momentos de estresse e dedicação intensa ao meu TCC. Sua
presença constante ao meu lado me deu forças para persistir e me lembrar da importância
de equilibrar minha vida pessoal e acadêmica.

Minha gratidão também se estende à minha família, que sempre me incentivou e me


apoiou em todas as etapas da minha jornada educacional. Seu amor e encorajamento
foram pilares fundamentais para o meu sucesso.

Gostaria de expressar minha gratidão ao Cristian Bittencourt por me proporcionar a


oportunidade na carreira de hidrogeologia. Sua confiança em mim e sua disposição em
compartilhar seus conhecimentos têm sido inestimáveis para o meu crescimento
profissional.

v
Não posso deixar de agradecer ao povo brasileiro por custear a universidade pública e
possibilitar que jovens como eu tenham acesso à educação de qualidade. Sou
imensamente grato por essa oportunidade e espero um dia retribuir à sociedade tudo o
que recebi.

Por último, mas não menos importante, agradeço aos meus amigos do curso de geologia.
Nossa jornada junto foi repleta de desafios, mas também de momentos inesquecíveis.
Agradeço por compartilharmos conhecimentos, experiências e risadas ao longo desses
anos. Vocês foram uma parte fundamental da minha vida acadêmica.

A todos vocês, expresso minha profunda gratidão. Sem o apoio, encorajamento e amor
de cada um, eu não teria sido capaz de chegar até aqui. Sei que minhas palavras não são
suficientes para expressar toda a minha gratidão, mas espero que saibam o quanto são
importantes para mim. Obrigado do fundo do meu coração.

vi
RESUMO

Esta monografia apresenta um estudo sobre o fluxo de água subterrânea na Mina Taboca
(Primavera, PA) por meio do desenvolvimento de modelos conceitual e numérico. Para
isso, foram coletados dados em campo fazendo uso de piezômetros, poços de água
subterrânea e estações de bombeamento (hidrômetros). Esses instrumentos forneceram
informações relevantes para análise do regime hidrogeológico da área de estudo, como o
nível de água. Dessa forma, esses dados foram processados utilizando o software
FEFLOW, que é capaz de simular o fluxo de água subterrânea, em meios porosos e
fraturados. Os resultados obtidos através do processamento desses dados foram utilizados
no desenvolvimento de um modelo hidrogeológico conceitual, juntamente com um
modelo numérico de fluxo em regime estacionário e transitório. Para avaliar a eficácia
dos modelos, foi realizada uma análise estatística da calibração entre os níveis de água
simulados e medidos. Dos conjuntos de dados obtidos definiu-se que o cenário 2 é até
27% mais eficiente no rebaixamento do lençol freático na frente de lavra curto prazo. Por
fim, o estudo permitiu estimar o fluxo de água da mina para sequenciamento da mesma
nos próximos 10 anos, considerando a comparação dos valores observados com os
simulados, o que contribui para a compreensão mais aprofundada do comportamento do
fluxo das águas subterrâneas na área de estudo e no dimensionamento do deságue da
mina.

Palavras-chave: Hidrogeologia, Modelagem Numérica, Mina Taboca, Fluxo de Água


Subterrânea.

vii
ABSTRACT

This monograph presents a study on groundwater flow in the Taboca Mine (Primavera,
PA) through the development of conceptual and numerical models. For this purpose, field
data were collected using piezometers, groundwater wells, and pumping stations
(hydrometers). These instruments provided relevant information for the analysis of the
hydrogeological regime of the study area, such as the water level. Thus, this data was
processed using the FEFLOW software, which is capable of simulating groundwater flow
in porous and fractured media. The results obtained from processing this data were used
in the development of a conceptual hydrogeological model, along with a numerical model
of steady-state and transient flow. To assess the effectiveness of the models, a statistical
analysis of the calibration between the simulated and measured water levels was
performed. From the obtained data sets, it was determined that scenario 2 is up to 27%
more efficient in lowering the water table in the short-term mining front. Finally, the study
allowed for estimating the mine's water flow for the next 10 years, considering the
comparison of observed and simulated values, which contributes to a deeper
understanding of groundwater flow behavior in the study area and the design of mine
dewatering.

Keywords: Hydrogeology, Numerical modeling, Taboca Mine, Groundwater flow.

viii
LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 2.1 - Representação esquemática do ciclo hidrológico da água em superfície e


subsuperfície, mostrando a relação entre a cobertura vegetal, os elementos climáticos e a
circulação da água na natureza. ........................................................................................ 4
Figura 2.2 - Representação esquemática do ciclo hidrológico, indicando suas principais
etapas: E = evaporação; ET = evapotranspiração; I = infiltração; R = escoamento
superficial (deflúvio). ....................................................................................................... 5
Figura 2.3 - Modelo simplificado de um sistema hidrológico representando uma
superfície plana, inclinada, totalmente limitada e impermeável, com uma única saída. .. 8
Figura 3.1 – Mapa de localização da Mina Taboca (Primavera – PA). O painel superior
destaca localização geográfica da região que compreende tanto a zona urbana quanto a
área da mina (quadrante vermelho) dentro do município. O painel inferior apresenta com
mais detalhes a área destacada, na qual a unidade da mina está demarcada em azul...
Erro! Indicador não definido.
Figura 3.2 - Localização geográfica e delimitação da Cava 1 da Mina Taboca, utilizada
como domínio para os modelos hidrogeológicos desenvolvidos no estudo. A área
delimitada na cor laranja representa a região da Cava 1 e a região demarcada em verde
corresponde ao domínio do modelo................................................................................ 14
Figura 3.3 - Variação anual da precipitação das estações pluviométricas 47004
(Primavera, barras azuis) e 47006 (São João de Pirabas, barras verdes) para o período de
2006 a 2018. ................................................................................................................... 15
Figura 3.4 - Média mensal da precipitação (mm) nas estações pluviométricas 47004
(Primavera) e 47006 (São João de Pirabas) para o período de 2006 a 2018. ................. 16
Figura 3.5 - Perfil geológico do poço PT-1/91-SJP na área urbana de São João de Pirabas,
exibindo a estratigrafia da região de estudo. .................................................................. 18
Figura 3.6 - Perfil geológico da Cava 1. ........................................................................ 19
Figura 3.7 - Condutos cársticos decimétricos identificados na região da Cava 1. ........ 19
Figura 3.8 - Modelo hidrogeológico conceitual desenvolvido para a área de estudo. .. 22

ix
Figura 3.9 - Modelo geológico regional em 3D, com representação dos litotipos em
diferentes cores. Em vermelho, a camada de Sedimentos Barreiras. Em verde, os
Carbonatos Pirabas. Em roxo, o Embasamento Cristalino. ............................................ 24
Figura 3.10 - Perfil geológico W-E localizado na área da Cava 1, mostrando a
distribuição dos litotipos. Vermelho: Sedimentos Barreiras. Verde: Carbonatos Pirabas.
Roxo: Embasamento cristalino. ...................................................................................... 24
Figura 3.11 - Modelo Digital de Terreno (MDT) regional obtido a partir do Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM). ....................................................................................... 25
Figura 3.12 - Malha de elementos finitos horizontal definida para o modelo de simulação
numérica de fluxo FeFlow. ............................................................................................. 27
Figura 3.13 - Camada 1 - Nós atribuídos com condições de contorno 'hydraulic-head bc'
e 'seepage face' (sem restrição de fluxo aplicada). ......................................................... 28
Figura 3.14 - Gráfico comparativo entre os níveis de água observados e simulados em
condições de estado estacionário (pré-mina). ................................................................. 31
Figura 3.15 - Gráfico comparativo das condições de nível de água observadas e
simuladas para o estado estacionário na mina atual. ...................................................... 33
Figura 3.16 - Gráfico comparativo das condições de nível de água observadas e
simuladas para o estado transiente na mina atual. .......................................................... 35
Figura 4.1 – Projeção das vazões médias para o Cenário 1 considerando um período de
dez anos (2023 a 2033). .................................................................................................. 38
Figura 4.2 – Localização dos poços sugeridos no Cenário 2 de simulação do sistema de
drenagem da Cava 1 da Mina Taboca. Os pontos amarelos representam os poços
propostos para o Cenário 2, incluindo os dois preexistentes. ......................................... 40
Figura 4.3 - Projeção das vazões médias para o Cenário 2 (cava) em um período de dez
anos (de 2023 a 2033)..................................................................................................... 41
Figura 4.4 - Projeção das vazões médias para o Cenário 2 (poços perimetrais) de 2023 a
2033. ............................................................................................................................... 41
Figura 4.5 – Projeção das vazões médias para o Cenário 2 (drenos horizontais) de 2023
a 2033. ............................................................................................................................ 42
Figura 4.6 - Comparação entre as vazões simuladas para os Cenários 1 (cava) e 2 (cava,
poços perimetrais e drenos horizontais) durante o período de 2023 a 2033. .................. 43

x
Figura 4.7 –Projeção do cone de rebaixamento do nível de água para o Cenário 1. Painel
‘A’: cone de rebaixamento atual no início do ano 1. Painéis ‘B’ e ‘C’: rebaixamento
simulado para os anos 5 e 10, respectivamente. ............................................................. 45
Figura 4.8 – Projeção do cone de rebaixamento do aquífero para o Cenário 2. Painel ‘A’:
cone de rebaixamento atual no início do ano 1. Painéis ‘B’ e ‘C’: rebaixamento simulado
para os anos 5 e 10, respectivamente. ............................................................................. 46
Figura 4.9 – Pontos para instalação dos piezômetros sugeridos. .................................. 49

xi
LISTA DE TABELAS

Pág.

Tabela 4.1 –Estimativa de volume médio mensal de bombeamento no Cenário 1, somado


à estimativa de água de chuva, considerando uma área de contribuição de 733.000m². 47
Tabela 4.2 –Estimativa de volume de bombeamento médio mensal no Cenário 2, somado
à estimativa de água de chuva, considerando uma área de contribuição de 733.000m 2. 48

xii
SUMÁRIO

Pág.

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ................................................................... 1


2 OBJETIVOS.............................................................................................................2

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 3


3.1 Hidrogeologia: conceitos fundamentais .................................................................... 3
3.2 Águas subterrâneas.................................................................................................... 4
3.3 Aquíferos ................................................................................................................... 6
3.4 Modelagem hidrogeológica de aquíferos .................................................................. 7
3.4.1 Equação do balanço hídrico ............................................................................... 7
3.4.2 Condutividade hidráulica ................................................................................... 9
3.4.3 Carga hidráulica ................................................................................................. 9
3.4.4 Vazão (Q) ......................................................................................................... 10
3.4.5 Transmissividade hidráulica ............................................................................ 10
3.4.6 Coeficiente de armazenamento ........................................................................ 10
3.5 Elaboração de modelos............................................................................................ 11
3.5.1 Etapas de modelagem: preparação, calibração e aplicação.............................. 11

4 METODOLOGIA ................................................................................................. 12
4.1 Área de estudo ......................................................................................................... 12
4.1.1 Clima ................................................................................................................ 15
4.1.2 Geologia: regional e local ................................................................................ 16
4.2 Modelo Hidrogeológico Conceitual: desenvolvimento e análise ............................ 20
4.3 Modelo Numérico: desenvolvimento e calibração .................................................. 23
4.3.1 Parâmetros do modelo...................................................................................... 26
4.3.1.1 Domínio........................................................................................................ 26
4.3.1.2 Malhas e camadas......................................................................................... 26
4.3.1.3 Condições de contorno ................................................................................. 27
4.3.1.4 Unidades Hidrogeológicas ........................................................................... 29
4.3.2 Calibração ........................................................................................................ 29
4.3.2.1 Pré-mina ....................................................................................................... 29

xiii
4.3.2.2 Mina atual..................................................................................................... 32
4.3.2.3 Modelo transitório ........................................................................................ 34

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 36


5.1 Descrição dos cenários de previsão para o sistema de drenagem ........................... 36
5.1.1 Cenário 1: Sistema de deságue exclusivo por meio de uma estação de
bombeamento (Sump) instalada no fundo da Cava 1 ..................................................... 37
5.1.2 Cenário 2 proposto: Sistema de deságue com estação de bombeamento, drenos
horizontais e bateria de poços perimetrais ...................................................................... 39
5.2 Estimativa das vazões totais: comparação entre os cenários de simulação............. 40
5.3 Análise do cone de rebaixamento para o sistema de deságue da cava .................... 43
5.4 Análise do impacto da outorga de bombeamento no sistema de drenagem ............ 47

6 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 52

xiv
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

A hidrogeologia é a área da geologia que busca compreender o comportamento e as


interações entre a água e o solo, tendo como objetivo a avaliação da qualidade e
disponibilidade de água em determinada região (FETTER, 2001). Nesse contexto, a
modelagem hidrogeológica é uma ferramenta essencial para a análise de cenários
complexos de forma simplificada e controlada, contribuindo para a compreensão dos
processos envolvidos (CAVALCANTI, 2002; CARVALHO, 2013; GONÇALVES e
VELÁSQUEZ, 2016). Em resumo, a hidrogeologia é uma ciência interdisciplinar que se
dedica ao estudo da água subterrânea, abrangendo diversas etapas, como recarga,
descarga e fluxo. A compreensão desses processos é fundamental para a gestão dos
recursos hídricos e para a preservação da qualidade da água em uma determinada região.
Portanto, ressalta-se que a modelagem hidrogeológica surge como uma importante
ferramenta para a simulação e análise de cenários complexos, permitindo a compreensão
dos processos hidrogeológicos de forma mais precisa e eficiente.

A modelagem hidrogeológica pode ser realizada de diferentes maneiras,


principalmente por meio do desenvolvimento de modelos conceituais e numéricos. O
modelo conceitual é uma representação simplificada da natureza, que considera as
condições e as relações hidrogeológicas de um sistema aquífero sem levar em conta a
dimensão temporal (LOUSADA e CAMPOS, 2005). Esse tipo de modelo é importante
para a compreensão da estrutura geológica da área de estudo, para a definição das
fronteiras do sistema aquífero e para a identificação dos parâmetros hidrogeológicos que
influenciam o fluxo da água subterrânea. Por outro lado, o modelo numérico é uma
representação matemática do sistema aquífero, que permite a simulação do fluxo da água
subterrânea em diferentes condições e escalas temporais (CHANG, 2017). Modelos
numéricos têm como característica mais importante a possibilidade de previsão do
comportamento do aquífero em diferentes cenários, juntamente com a avaliação dos
efeitos da exploração e a gestão sustentável dos recursos hídricos.

Este trabalho apresenta um estudo sobre o fluxo de água subterrânea da Mina Taboca,
localizada no município de Primavera, estado do Pará. A área de estudo foi escolhida
levando em consideração sua importância econômica e ambiental, visto que a mina é

1
responsável por uma significativa extração de minério de calcário, além de possuir uma
relevância hidrogeológica por ser uma área cárstica.

Para a realização deste estudo, foram coletados dados in situ por meio de instrumentos,
tais como piezômetros e estações de bombeamento (hidrômetros), que forneceram
informações relevantes para análise do regime hidrogeológico da área de estudo, como o
nível de água. Esses dados foram processados utilizando o software FEFLOW, que é
capaz de simular o fluxo de água subterrânea em meios porosos e fraturados. Com base
nesses resultados, foi desenvolvido um modelo hidrogeológico conceitual da área de
estudo, juntamente com um modelo numérico de fluxo em regime estacionário e
transitório. A calibração entre os níveis de água simulados e medidos foi realizada e uma
análise estatística foi empregada para avaliar a eficácia dos modelos desenvolvidos. Os
resultados obtidos permitiram estimar o fluxo de água subterrânea na mina, considerando
a comparação dos valores observados com os simulados. Adicionalmente, essas
informações contribuíram para uma compreensão mais aprofundada do comportamento
do fluxo das águas subterrâneas na área de estudo.

2 OBJETIVOS

Geral:

• Caracterizar o fluxo de água subterrânea da Mina Taboca por meio do desenvolvimento


de modelos conceituais e numéricos para auxiliar na gestão da exploração dos recursos
minerais.

Específicos:
• Elaborar uma descrição técnica da área de estudo, considerando dados de clima, aspectos
geológicos e características hidrológicas;
• Obter dados piezométricos do aquífero para posterior utilização no desenvolvimento dos
modelos;
• Desenvolver um modelo hidrogeológico conceitual considerando as informações obtidas
da área de estudo;
• Realizar uma análise estatística dos parâmetros obtidos para a posterior calibração do
modelo;

2
• Desenvolver um modelo numérico transiente para simulação de cenário ideal para
dimensionamento da cava da mina Taboca.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Hidrogeologia: conceitos fundamentais

A hidrogeologia é uma subárea da geologia que tem como foco o estudo de águas
subterrâneas. Para isso, consideram-se diversos aspectos, tais como sua distribuição,
dinâmica e caracterização físico-química (FEITOSA et al., 2008). Nesse contexto, a
hidrogeologia envolve conhecimentos em geologia, hidrologia, química, física e
matemática, considerando que reservatórios subterrâneos são uma importante fonte de
água potável e sua gestão é crucial para a segurança hídrica em diversas regiões do globo.

Um dos principais conceitos no âmbito da hidrogeologia envolve a definição de aquífero,


que corresponde a uma formação geológica capaz de armazenar e transmitir água
subterrânea. Nesse sentido, podem existir diversos tipos de aquíferos, incluindo aquíferos
livres, confinados e semiconfinados. Essas categorias se diferenciam pela sua relação com
as camadas geológicas ao seu redor (BEAR e VERRUIJT, 1987; FETTER, 2000;
MANOEL FILHO, 2000). Outro conceito importante é o do fluxo de água subterrânea,
que diz respeito ao processo de movimentação da água, o qual ocorre em direção ao ponto
de menor pressão hidráulica do aquífero. Assim, a pressão hidráulica é influenciada pela
topografia, a densidade da água subterrânea e a permeabilidade do meio geológico.
Portanto, o estudo do fluxo de água subterrânea é fundamental para a avaliação da recarga
dos aquíferos e para a gestão dos recursos hídricos (FREEZE e CHERRY, 1979).

Dessa forma, a gestão de recursos hídricos é um tópico de grande importância na


hidrogeologia, uma vez que estes podem ser contaminados por diversas fontes, incluindo
atividades antrópicas como a agricultura e a mineração. A avaliação da qualidade da água
subterrânea é fundamental para garantir a segurança hídrica e proteger a saúde pública,
conforme destacado por Domenico e Schwartz (1998). Portanto, é importante
implementar medidas preventivas e de monitoramento para minimizar a contaminação da
água subterrânea e manter sua qualidade em níveis adequados para o consumo humano e
outras atividades.

3
3.2 Águas subterrâneas

As águas subterrâneas são um importante componente do ciclo hidrológico terrestre.


Neste contexto, os aquíferos subterrâneos têm como principal fonte de recarga o processo
de infiltração da água oriunda da superfície do solo para as camadas mais internas deste.
Esse processo é influenciado por diversos fatores, dentre eles a cobertura vegetal e as
condições climáticas, tais como a umidade relativa do ar e a temperatura. Adicionalmente,
o escoamento superficial e subterrâneo também afeta a circulação da água da atmosfera e
oceanos para os continentes e vice-versa.

A Figura 2.1 apresenta uma representação esquemática do sistema que governa o ciclo
hidrológico. Dessa forma Feitosa et al. (2008) ressaltam que entender a dinâmica da água
subterrânea é crucial para gerenciar os recursos hídricos e garantir a segurança hídrica à
população.

Figura 2.1 - Representação esquemática do ciclo hidrológico da água em superfície e


subsuperfície, mostrando a relação entre a cobertura vegetal, os elementos
climáticos e a circulação da água na natureza.

Fonte: Feitosa et al. (2008).

De acordo com Feitosa et al. (2008), quase toda a água subterrânea presente na Terra tem
sua origem no ciclo hidrológico, em que a água circula do oceano para a atmosfera e dos
continentes de volta para o oceano, de forma superficial e subterrânea.

4
Na Figura 2.2 apresenta-se uma representação esquemática das principais etapas do ciclo
hidrológico, onde identificam-se os processos de evaporação (E), evapotranspiração (ET),
infiltração (I) e escoamento superficial (R).

Figura 2.2 - Representação esquemática do ciclo hidrológico, indicando suas principais etapas:
E = evaporação; ET = evapotranspiração; I = infiltração; R = escoamento
superficial (deflúvio).

Fonte: Feitosa et al. (2008).

O ciclo hidrológico é governado principalmente pela ação da gravidade no solo e no


subsolo, tendo também como fator de influência o tipo e a densidade da cobertura vegetal.
Outro aspecto que influencia o ciclo hidrológico são os elementos climáticos, os quais
podem afetar diretamente a atmosfera e os corpos d’água (rios, lagos, mares e oceanos).
Nesse contexto, a temperatura do ar, ventos, umidade relativa do ar (função do déficit de
pressão de vapor) e insolação (função da radiação solar) são alguns dos elementos
responsáveis pelos processos de circulação da água dos oceanos para a atmosfera em uma
dada latitude terrestre.

Ao adentrar na porção subterrânea do solo, a água presente nas formações geológicas é


dividida em duas zonas horizontais distintas: a zona saturada e a zona não saturada,
também conhecida como zona de aeração. Essas zonas são determinadas em função da
proporção de espaço poroso ocupado pela água. Assim, a zona saturada é aquela em que
todos os espaços porosos estão preenchidos com água e está situada abaixo do nível
freático, que é definido como o ponto geométrico em que a água se encontra sob pressão

5
atmosférica. Já a zona não saturada é caracterizada por poros parcialmente preenchidos
por gases, como o vapor d'água, e se estende da superfície freática até a superfície do
terreno (FEITOSA et al., 2008).

A zona não saturada pode ainda ser subdividida em três outras zonas distintas: a zona
capilar, que se estende da superfície freática até o limite de ascensão capilar da água e é
caracterizada pela variação da espessura em função do tamanho dos poros e da
homogeneidade do terreno; a zona intermediária, que se estende do limite da ascensão
capilar até o limite do alcance das raízes das plantas; e a zona de água do solo, também
conhecida como zona de evapotranspiração, que se encontra entre os extremos radiculares
e o limite do terreno e é utilizada pelas plantas para as funções de nutrição e transpiração
(FEITOSA et al., 2008).

3.3 Aquíferos

O aquífero é uma formação geológica que possui a capacidade de armazenar e transmitir


água em condições naturais (FETTER, 2000). Nesse contexto, aquíferos são um
importante tipo de reservatório de água subterrânea e possuem grande relevância para
diversos setores, tais como o abastecimento público, a agricultura e a indústria. Além dos
aquíferos, existem outros tipos de reservatórios que podem ser encontrados no subsolo,
tais como as águas confinadas em rochas porosas não permeáveis, como argila ou
folhelho, conhecidas como águas artesianas ou confinadas, dentre outros. A água
encontrada nesses reservatórios é pressurizada devido à falta de permeabilidade das
camadas rochosas que as cercam e podem emergir naturalmente na superfície através de
poços artesianos ou serem bombeadas para o uso. Também podem ser encontradas águas
subterrâneas em fraturas de rochas, conhecidas como águas de fratura, que são
encontradas em zonas de cisalhamento ou falhas geológicas. Essas águas são
frequentemente de baixa qualidade e podem exigir tratamento antes de serem utilizadas.

A classificação dos aquíferos pode ser feita com base em sua capacidade de transmissão
de água através das camadas limítrofes e na pressão que atingem (MANOEL FILHO,
2000). O aquífero livre, como o próprio nome sugere, apresenta a superfície de saturação
em contato direto com a atmosfera (FETTER, 2000). Já o aquífero confinado encontra-se

6
enclausurado entre camadas impermeáveis, tanto na parte superior quanto inferior. Nesse
caso, a pressão exercida no aquífero pode produzir uma exsudação da água que ultrapasse
a superfície rochosa, caracterizando-o como artesiano (BEAR e VERRUIJT, 1987).

O aquífero semiconfinado é aquele que se encontra entre camadas semipermeáveis, ou


seja, que não são totalmente resistentes ao fluxo de água. Quando isso ocorre, os aquíferos
podem ganhar ou perder água pela drenagem (FEITOSA et al., 2008; BEAR e
VERRUIJT, 1987).

Outra classificação de aquífero é o suspenso, que está localizado entre a superfície


terrestre e a zona freática. Nesse caso, pode ocorrer que uma camada impermeável ou
semipermeável permita a elevação do aquífero acima do nível da água subterrânea,
caracterizando-o como suspenso (FETTER, 2000; BEAR e VERRUIJT, 1987).

Essas classificações são importantes para entender a dinâmica do fluxo das águas
subterrâneas e para a gestão adequada dos recursos hídricos na subsuperfície. Portanto,
compreender as características dos aquíferos é fundamental para o desenvolvimento de
projetos de exploração e conservação desses recursos, garantindo a disponibilidade de
água de qualidade para as gerações presentes e futuras.

3.4 Modelagem hidrogeológica de aquíferos

3.4.1 Equação do balanço hídrico

A equação do balanço hídrico tem como base o princípio da conservação da massa ou


princípio da continuidade, que afirma que a diferença entre as entradas e as saídas é igual
à variação do armazenamento dentro do sistema. Para exemplificar esse balanço, pode-se
considerar um sistema hidrológico simplificado, conforme ilustrado na Figura 2.3. Esse
sistema consiste em uma superfície retangular plana, inclinada, totalmente impermeável
e fechada lateralmente, com uma única saída. Neste, identifica-se a zona de entrada P
(precipitação) e a zona de saída R (deflúvio)

7
Figura 2.3 - Modelo simplificado de um sistema hidrológico representando uma superfície plana,
inclinada, totalmente limitada e impermeável, com uma única saída.

Fonte: Feitosa et al. (2008).

Considera-se nesse sistema a superfície como um plano perfeito sem que existam
depressões nas quais a água possa ficar acumulada. Se for então aplicada uma chuva P ao
sistema considerado, ocorrerá um escoamento superficial direto R (deflúvio), que poderá
ser facilmente medido no ponto de saída. O balanço hídrico para este sistema pode ser
representado pela Equação (2.1):

𝑑𝑆
𝑃 − 𝑅= , (2.1)
𝑑𝑡

onde P representa a entrada (precipitação) por unidade tempo, R é a saída (deflúvio) por
unidade de tempo e dS/dt corresponde à variação no armazenamento dentro do sistema
por unidade de tempo.

A saída de fluxo só irá ocorrer quando uma quantidade mínima de água se acumular na
superfície. Nesse contexto, à medida que a chuva continuar, a quantidade de água retida
na superfície, conhecida como detenção superficial, irá aumentar. Quando a chuva parar,
a água retida na superfície irá escoar pela saída do sistema. Em condições ideais, toda a
água precipitada deve escoar pelo sistema, com exceção de uma pequena quantidade que
pode ficar retida por forças elétricas na superfície. Se a evaporação for desprezível, o

8
escoamento superficial deve ser suficiente para escoar toda a água. (FEITOSA et al.,
2008).

3.4.2 Condutividade hidráulica

A condutividade hidráulica (K) é um coeficiente que indica a facilidade com que a água
pode fluir através de um meio poroso. Esta variável pode ser expressa pela relação entre
os parâmetros de porosidade, tamanho, forma e distribuição dos grãos do meio poroso,
conforme apresenta-se na Equação (2.2) (FETTER, 2000):

𝜌𝑔
𝐾 = 𝑘𝑖 , (2.2)
𝜇

onde 𝒌𝒊 = 𝑪𝒅 é a permeabilidade intrínseca do meio poroso [m²], considerando que C


descreve o efeito dos espaços porosos e d é o diâmetro do grão. O termo 𝝆 representa a
massa específica do fluido [kg/m³], 𝒈 é a aceleração da gravidade [m/s²] e 𝝁 é a
viscosidade dinâmica do fluido [kg/(m,s)].

3.4.3 Carga hidráulica

A energia potencial da água em um ponto é expressa pela pressão exercida e sua altura
em relação a um datum, o que indica a sua carga hidráulica (FETTER, 2000). Essa relação
pode ser matematicamente expressa pela Equação (2.3):

𝑃 𝑃
ℎ=𝑧+ 𝜌𝑔
→ℎ=𝑧+𝛾, (2.3)

onde z é a cota altimétrica do ponto, P [Pa] é a pressão exercida, 𝜌 [kg/m³] é a massa


específica do fluido, g [m/s²] é a aceleração da gravidade e o termo 𝑷/𝝆𝒈 corresponde
ao peso específico.

9
3.4.4 Vazão (Q)

A lei de Darcy correlaciona a vazão de escoamento, Q [L³/T], com os seguintes


parâmetros: a área da seção filtrante, A, a diferença de carga hidráulica, h1-h2, e a
distância percorrida pelo fluido, L (FETTER, 2000). Essa relação é matematicamente
representada pela Equação (2.4):

(ℎ1−ℎ2)
𝑄 = −𝐾. 𝐴 , (2.4)
𝐿

onde K é a condutividade hidráulica [L/T].

Ressalta-se que o sinal negativo na equação indica que o fluxo do fluido ocorre no sentido
de maior carga hidráulica para menor carga hidráulica.

3.4.5 Transmissividade hidráulica

A transmissividade hidráulica representa a quantidade de água que um meio poroso pode


transmitir, sendo expressa como 𝑻 = 𝒃𝒌. Nesta relação, 𝑲 é a condutividade hidráulica
e 𝒃 é a espessura do aquífero.

3.4.6 Coeficiente de armazenamento

O coeficiente de armazenamento é definido como o volume de água que um aquífero


pode liberar ou armazenar devido à variação da sua carga hidráulica por unidade de área
superficial (FETTER, 2000). Matematicamente, o coeficiente de armazenamento pode
ser expresso como 𝑺 = 𝒃𝑺𝒔 , onde 𝒃 é a espessura do aquífero e 𝑺𝒔 é o armazenamento
específico, correspondendo à capacidade que uma rocha reservatório tem em reter ou
ceder água.

10
3.5 Elaboração de modelos

Os modelos são ferramentas que permitem uma representação simplificada de sistemas


complexos da natureza, tendo como foco a compreensão das respostas dos sistemas às
variações que ocorrem em seus parâmetros (EPA, 2009). No contexto da hidrogeologia,
o modelo de fluxo de águas subterrâneas pode ser empregado de duas formas: conceitual
e numérico.

O modelo conceitual é estático e representa as condições e relações hidrogeológicas de


um sistema aquífero sem levar em consideração a dimensão temporal. A construção de
um modelo numérico é baseada na identificação das informações necessárias para
descrever um cenário hidrogeológico que melhor reproduza o comportamento do sistema
hídrico em questão, incluindo a identificação das fronteiras do modelo, condições de
contorno, parâmetros hidrogeológicos, entrada e saídas (FETTER, 2001).

Por outro lado, o modelo numérico leva em consideração as relações hidrogeológicas no


tempo e no espaço. Para esse tipo de modelo, é utilizado o modelo matemático para fluxo
subterrâneo, que é fundamentado na resolução de equações mais complexas que
envolvem a variabilidade de parâmetros, caracterizando-os como modelos numéricos
computacionais (EATON e BATEMAN, 2020).

A construção de modelos numéricos computacionais requer a aplicação de uma série de


procedimentos, que são as etapas de modelagem. Esses procedimentos são denominados
de Protocolos de Aplicação de Modelos Matemáticos (PAMM's) (ANDERSON e
WOESSNER, 1992). Os PAMM’s compreendem nove etapas, que aqui são subdivididas
em três fases: preparação, calibração e aplicação (ZHENG e WANG, 1999).

3.5.1 Etapas de modelagem: preparação, calibração e aplicação

A construção de um modelo numérico é uma ferramenta importante na hidrogeologia,


pois permite uma melhor compreensão do comportamento de sistemas hídricos a nível
subterrâneo (FETTER, 2001). Para isso, é necessário seguir um conjunto de
procedimentos conhecidos como Protocolos de Aplicação de Modelos Matemáticos

11
(PAMM's) (ANDERSON e WOESSNER, 1992). Esses protocolos consistem em nove
etapas que podem ser agrupadas em três fases: preparação, calibração e aplicação.

Na fase de preparação, o modelo conceitual da área de estudo é estabelecido com base


em dados adquiridos da literatura, do campo ou de bancos de dados abertos. Essas
informações são usadas para a identificação das fronteiras do modelo, condições de
contorno, parâmetros hidrogeológicos, entrada e saídas (FETTER, 2001).

Já na fase de calibração, o modelo é simulado em ambiente computacional diversas vezes


até que os valores calculados dos parâmetros hidrogeológicos sejam equivalentes ou
próximos aos valores observados em campo. Isso envolve a determinação e ajuste dos
parâmetros hidrogeológicos do modelo, como a condutividade hidráulica e a recarga
(ZHENG e WANG, 1999).

Com o modelo calibrado, é possível realizar a análise dos resultados obtidos na simulação.
Isso possibilita uma melhor compreensão do modelo hidrogeológico considerado e a
tomada de decisões com base nas informações obtidas.

4 METODOLOGIA

4.1 Área de estudo

A área de estudo corresponde à Mina Taboca (Cava 1), localizada no município de


Primavera, Estado do Pará e atualmente sob concessão da Votorantim Cimentos S.A. Na
Figura 3.1 apresenta-se um mapa de localização da área da Mina Taboca. O painel
superior mostra a localização do município de Primavera, onde o quadrante em vermelho
demarca a região que compreende a zona urbana juntamente com a área da unidade da
mina. O painel inferior ilustra em maiores detalhes essa região. Neste, o quadrante em
azul demarca a região da unidade da mina.

12
Figura 3.1- – Mapa de localização da Mina Taboca (Primavera – PA). O painel superior destaca
localização geográfica da região que compreende tanto a zona urbana quanto a
área da mina (quadrante vermelho) dentro do município. O painel inferior
apresenta com mais detalhes a área destacada, na qual a unidade da mina está
demarcada em azul.

13
Conforme mencionado, este trabalho concentrou-se na avaliação da região
correspondente à Cava 1 da Mina Taboca. Assim, todas as análises consideraram a
localização da cava para a determinação dos limites dos modelos hidrogeológicos
desenvolvidos. A Figura 3.2 apresenta a localização geográfica e a delimitação da Cava
1, juntamente com a demarcação do domínio dos modelos desenvolvidos. Ressalta-se que
o modelo de águas subterrâneas foi definido para uma área de 20x20 km (27 ha). As
bordas do modelo foram estabelecidas ao sul pelo rio dos Cacos, a leste pelo rio Catipuru,
ao noroeste pelo rio que divide os municípios de Primavera e São João de Pirabas, e ao
nordeste por drenagens menores, muitas delas manguezais. Nessas áreas, cargas
hidráulicas constantes foram assumidas.

Figura 3.2 - Localização geográfica e delimitação da Cava 1 da Mina Taboca, utilizada como
domínio para os modelos hidrogeológicos desenvolvidos no estudo. A área
delimitada na cor laranja representa a região da Cava 1 e a região demarcada em
verde corresponde ao domínio do modelo.

Fonte: O autor.

14
4.1.1 Clima

Com base nos registros da base de dados HidroWeb da Agência Nacional de Águas
(ANA, 2005), foram selecionadas duas estações pluviométricas próximas à área de
estudo, a saber: 47004 (Primavera) e 47006 (São João de Pirabas). Essas estações foram
selecionadas considerando a proximidade da área de estudo e a distância entre elas (9
km). Nesse contexto, a seleção das duas estações pluviométricas próximas à área de
estudo teve como intuito obter uma maior precisão na coleta de dados e análise da
precipitação na região. Assim, na Figura 3.3 apresentam-se os dados de precipitação
obtidos das duas estações para o período de 2006 a 2018, onde as barras azuis e verdes
representam, respectivamente, as estações 47004 e 47006. Mediante esses dados,
observa-se que a precipitação anual da região nesse período variou entre 1600 mm e 3600
mm.

Figura 3.3 - Variação anual da precipitação das estações pluviométricas 47004 (Primavera, barras
azuis) e 47006 (São João de Pirabas, barras verdes) para o período de 2006 a
2018.

Fonte: O autor.

Os dados de precipitação coletados pelas estações pluviométricas 47004 (Primavera) e


47006 (São João de Pirabas) foram utilizados para calcular a média mensal da
precipitação na região durante o período de 2006 a 2018, conforme apresenta-se na Figura
3.4. Nota-se que os meses de março e abril registraram as maiores médias de precipitação

15
(~500 mm), seguidos pelos meses de fevereiro e maio (~380 mm), janeiro (255 mm),
junho (221 mm) e julho (189 mm). Nos demais meses, a precipitação média ficou abaixo
de 60 mm.

Figura 3.4 - Média mensal da precipitação (mm) nas estações pluviométricas 47004 (Primavera)
e 47006 (São João de Pirabas) para o período de 2006 a 2018.

Fonte: O autor.

4.1.2 Geologia: regional e local

Na área de estudo, os sedimentos Terciários do Grupo Barreiras predominam em


superfície, estando esses associados aos Quaternários descritos na literatura como
Unidade Pós-Barreiras e depósitos de mangue subjacentes às anteriores. Dessa forma, os
sedimentos recentes correspondem a depósitos fluviais com grande acúmulo de seixos,
areias de granulação fina a média, e argila escura (coloração cinza a marrom) devido à
sua riqueza em matéria orgânica, o que pode estar associado à influência de maré
(AB'SÁBER, 2003).

A Unidade Pós-Barreiras é caracterizada por sedimentos amarelados a avermelhados,


areno-argilosos a argilo-arenosos, compostos principalmente por grãos de quartzo e
frações de silte e argila, com leitos finos de seixos de arenitos ferruginosos. Observam-
se, ainda, estruturas de acamamento plano-paralelo, que localmente delineiam suaves
ondulações, apresentando formações de lentes. Sua idade foi datada no Quaternário

16
Pleistocênico, e atribui-se sua formação principalmente a processos eólicos (TATUMI et
al., 2008).

O Grupo Barreiras é constituído por depósitos sedimentares de origem


predominantemente continental, embora sedimentos de origem marinha, incluídos neste
grupo, tenham sido encontrados no litoral Paraense. Os sedimentos desta formação
apresentam características siliciclásticas, sendo constituídos por argilitos, siltitos, arenitos
e conglomerados.

A Formação Pirabas, sotoposta ao Grupo Barreiras, é do Mioceno Inferior, constituída


por calcários puros e fossilíferos, associados a margas e brechas conglomerativas basais,
sobrepostas a gnaisses do embasamento cristalino. As fácies carbonáticas da Formação
Pirabas exibem proporções variáveis de grãos siliciclásticos e consistem em
biocalcirruditos, calcilutitos e margas (ROSSETTI, 2006). A presença de cavidades
cársticas foi registrada em poços artesianos perfurados na área urbana de São João de
Pirabas (LOPES, 1996), bem como na região de Salinas, Castanhal e Marapanim
(IMBIRIBA JUNIOR, 2019).

No município de Castanhal-PA ocorre uma camada de calcarenito friável creme


amarelado com vestígios fósseis disseminados com profundidade de 105 metros,
sotoposto a uma camada de argila cinza escura, piritosa, cujo quimismo de caráter ácido
da água promove a dissolução dos componentes químicos da rocha carbonática, gerando
feições típicas de armazenamento e circulação cárstico-fissurais. Os sedimentos tercio-
quaternários Barreiras-Pirabas na região estão assentados sobre um embasamento
cristalino pré-cambriano, que na região é relatado como rochas gnáissicas (IMBIRIBA
JUNIOR, 2019).

A Figura 3.5 apresenta um perfil geológico do poço PT-1/91-SJP, localizado na área


urbana de São João de Pirabas, e que mostra a estratigrafia da região em estudo (LOPES,
1996).

17
Figura 3.5 - Perfil geológico do poço PT-1/91-SJP na área urbana de São João de Pirabas,
exibindo a estratigrafia da região de estudo.

Fonte: Lopes (1995).

Na região das cavas, a Formação Barreiras é constituída por arenitos finos a siltitos-
argilosos, com profundidades que variam aproximadamente de 1 a 20 metros devido à
erosão do terreno. A Formação Pirabas, por sua vez, apresenta calcários calcíticos a
silicosos, com aspecto maciço e fossilíferos de granulação fina a grossa. Ambas as
formações possuem porosidade primária visivelmente observada, com ocorrência de
lentes de margas no interior da formação. Na área em estudo, a espessura média da
Formação Pirabas é de 30 metros, sendo que a base da formação é marcada por uma
predominância de calcários silicosos e marcas com espessura média de 5-10 metros. O
embasamento cristalino, composto por rochas gnáissicas, está localizado abaixo desta
formação (LCT-EPUSP, 2015).

As Figuras 3.6 e 3.7 apresentam informações relevantes sobre a área da cava,


especificamente, o perfil geológico da Cava 1 e os condutos na região da cava. Por meio
das imagens, é possível identificar feições cársticas localizadas na porção superior da
Formação Pirabas, seguindo a tendência regional. Essas feições possuem dimensões que

18
variam de decimétricas a métricas e estão localizadas a alguns metros abaixo do nível
estático original, no lado oeste da cava. Além das cavidades encontradas na abertura da
cava, foram identificadas dolinas, que são feições de subsidência do terreno, associadas
aos processos cársticos (SILVA, 2020).

Figura 3.6 - Perfil geológico da Cava 1.

Fonte: O autor.

Figura 3.7 - Condutos cársticos decimétricos identificados na região da Cava 1.

Fonte: O autor.

Este conjunto de informações contribui para a compreensão das características geológicas


da área em estudo e é de grande relevância para o avanço do conhecimento sobre a região.
A Formação Pirabas, em particular, apresenta grande potencial para estudos geológicos
mais aprofundados e para o desenvolvimento de pesquisas em áreas como petróleo e gás,
por exemplo.

19
4.2 Modelo Hidrogeológico Conceitual: desenvolvimento e análise

A elaboração do modelo conceitual é uma etapa crucial para a posterior modelagem


numérica do aquífero. Desta forma, o modelo conceitual consiste em uma representação
simplificada da área a ser estudada, incluindo informações sobre as características físicas,
tais como topografia, clima, hidrografia, solos, geologia e hidrogeologia, além do
domínio do modelo e das condições de contorno. Assim, a preparação do modelo
conceitual envolve a criação do conceito hidrogeológico de um sistema de água
subterrânea, estimativa das zonas de recarga e descarga e a elaboração do balanço hídrico
para estimar a recarga de água subterrânea. A construção do modelo também tem como
objetivo organizar os dados associados para uma análise mais eficiente (ANDERSON e
WOESSNER, 1992). É importante salientar que este modelo deve ser continuamente
atualizado à medida que novas informações forem adquiridas (BREDEHOEFT, 2005),
especialmente se as informações geológicas e hidrogeológicas regionais e específicas da
área estudada forem escassas.

Para que um modelo hidrogeológico conceitual de um sistema aquífero


carbonático/cárstico seja completo e preciso, é necessário que alguns componentes sejam
considerados (KLIMCHOUK, 2018). Entre esses componentes, destacam-se:

• Geometria do sistema aquífero, que inclui a composição, extensão, espessura e


identificação de possíveis aquitardos intercalados;
• Condições de contorno controladas por níveis de água, fluxos e limites sem fluxo;
• Tipos de aquíferos/regimes de fluxo, tais como confinado, semi-confinado, não
confinado (freático) ou suspensos;
• Entradas e saídas de água (caracterização para estimativa de recarga e descarga
do aquífero);
• Direções gerais do fluxo de águas subterrâneas;
• Parâmetros hidráulicos derivados das propriedades do aquífero, como porosidade
e permeabilidade;
• Descrições de porosidade secundária, como fraturas e falhas, para melhorar o
movimento simulado das águas subterrâneas (KLIMCHOUK, 2018).

20
Com base nas características litológicas das formações na região, estas foram
classificadas de acordo com sua capacidade de armazenar e transmitir água (aquífero-
aquitardo-aquifugo). Dentro desse contexto, é importante destacar que os aquíferos são
formações geológicas que permitem a circulação de água através de poros, fraturas ou
características de dissolução. Esses processos naturais permitem que a água seja
armazenada no subsolo e possa ser utilizada de maneira sustentável. Aquitardos são
unidades com baixa capacidade de transmissão de água subterrânea e constituem, na
maioria das vezes, barreiras parciais ao fluxo (FETTER, 2001). Aquicludes são rochas
que não transmitem água, possuindo características de meios impermeáveis. Nesta
categoria, foram identificadas as unidades descritas a seguir (TODD e MAYS, 2004).

Os sedimentos recentes e arenosos e siltosos do Grupo Barreiras foram identificados


como aquíferos livres de porosidade primária. Por serem formações de espessura restrita,
são considerados aquíferos de baixo potencial de armazenamento. A recarga ocorre de
maneira homogênea em toda a área de estudo, e as zonas de descarga são as nascentes e
igarapés.

Foram observadas características de aquitardos/aquicludes nos sedimentos argilosos e


margas presentes tanto no Barreiras quanto no Pirabas. Em meio a blocos estruturais, a
quantidade de água é reduzida significativamente devido às características impermeáveis
dessas unidades. O aquitardo Barreiras, localizado na base da formação Barreiras, gera
um confinamento no aquífero Pirabas. Adicionalmente, as margas não foram
consideradas como sistemas independentes, uma vez que se comportam como lentes na
área e apresentam descontinuidade.

Os carbonatos da Formação Pirabas são catalogados como aquíferos confinados de tripla


porosidade (poros, fraturas e vazios). A camada confinante possivelmente representa o
extrato de sedimentos argilosos presente na base do grupo Barreiras e das próprias lentes
de margas internas do aquífero Pirabas.

A Figura 3.8 apresenta um bloco diagrama ilustrando o modelo conceitual desenvolvido


neste trabalho, com os três sistemas de fluxo propostos.

21
Figura 3.8 - Modelo hidrogeológico conceitual desenvolvido para a área de estudo.

Fonte: O autor.

O primeiro sistema, chamado de Sistema de Fluxo Raso Sedimentos Recentes, é


localizado nos fundos de vales e representa o Aquífero Livre relacionado aos Sedimentos
Recentes provenientes da erosão do Grupo Barreiras. As linhas de fluxo deste sistema
vão do início das encostas em direção aos rios, sendo representadas pelas linhas amarelas
na Figura 3.8.

O segundo sistema, denominado de Sistema de Fluxo Raso Aquífero Barreiras, também


é local e está relacionado às zonas mais elevadas, ilustrado pelas linhas de cor vermelha
na Figura 3.8. Este sistema corresponde ao Aquífero Livre Barreiras, com direção de
fluxo das partes mais elevadas dos morros para sua meia encosta, onde estão presentes
diversas nascentes. Sua base está limitada pelo Aquitardo Barreiras, que controla seu
fluxo, na maior parte acentuado em sua zona de contato. Como ambos os sistemas são
livres, eles compartilham a mesma superfície freática, que tem direção preferencial de
oeste para leste na área.

O terceiro sistema é o Sistema de Fluxo Profundo Pirabas, que corresponde ao Aquífero


Semi-confinado a confinado Pirabas. Este sistema exerce pressão variada sobre o
Aquitardo Barreiras. No entanto, devido à falta de dados de nível piezométrico atuais,

22
não é possível definir o gradiente hidráulico e a direção de fluxo nos sistemas aquíferos
no momento.

É importante ressaltar que na porção sudoeste da área de estudo, que é topograficamente


mais elevada, a superfície potenciométrica também é mais elevada, distribuindo as linhas
de fluxo em várias direções.

4.3 Modelo Numérico: desenvolvimento e calibração

Com base em suas características geológicas e hidrogeológicas, os litotipos presentes na


área de estudo foram agrupados em três unidades hidroestratigráficas semelhantes,
conforme se detalha a seguir:

• Sedimentos Barreiras: Aquitardo


• Carbonatos Pirabas: Aquífero
• Embasamento cristalino: Aquífero

Os contatos Barreiras/Pirabas/Embasamento foram fornecidos pela Votorantim Cimentos


e importados do modelo geológico atualizado. Nas partes externas, foi realizada uma
extrapolação das camadas usando-se a tendência da superfície de contato e algumas
sondagens para poços artesianos na região.

O Feflow é um software de modelagem numérica de fluxo de águas subterrâneas


amplamente utilizado na pesquisa em hidrogeologia (DHI-WASY, 2021). Neste trabalho,
o software foi empregado no desenvolvimento do modelo numérico de fluxo para
investigar o comportamento hidrodinâmico da área de estudo. Dessa forma, a abordagem
de elementos finitos utilizada pelo Feflow permitiu a discretização do domínio de
modelagem em pequenas partes, permitindo a resolução numérica das equações de fluxo
e transporte de massa.

As Figuras 3.9 e 3.10 ilustram o modelo geológico regional e o perfil geológico W-E
localizado na área da Cava 1, respectivamente. A Figura 3.9 apresenta o modelo
geológico regional em 3D no software Feflow, no qual os litotipos foram representados
em diferentes cores. Em vermelho, a camada de Sedimentos Barreiras. Em verde, os
Carbonatos Pirabas. Em roxo, o Embasamento Cristalino. Já a Figura 3.10 mostra o perfil

23
geológico W-E na área da Cava 1, destacando a distribuição dos litotipos. A camada de
Sedimentos Barreiras é representada em vermelho, os Carbonatos Pirabas em verde e o
Embasamento Cristalino em roxo.

Figura 3.9 - Modelo geológico regional em 3D, com representação dos litotipos em diferentes
cores. Em vermelho, a camada de Sedimentos Barreiras. Em verde, os Carbonatos
Pirabas. Em roxo, o Embasamento Cristalino.

Fonte: O autor.

Figura 3.10 - Perfil geológico W-E localizado na área da Cava 1, mostrando a distribuição dos
litotipos. Vermelho: Sedimentos Barreiras. Verde: Carbonatos Pirabas. Roxo:
Embasamento cristalino.

Fonte: O autor.

Ressalta-se que o modelo geológico representa uma versão simplificada de uma área
naturalmente complexa. As principais divisões deste modelo são baseadas nas unidades

24
regionais descritas em CPRM (2014). As unidades são formações geológicas compostas
principalmente por filitos, margas, cascalhos, solos e dolomitos (cársticos e rocha sã).

Para a configuração regional da superfície do solo, foram utilizados dados SRTM (Shuttle
Radar Topography Mission) com resolução de 30 metros, incluindo as áreas
SRTMS01W047, SRTMS02W047, SRTMS01W048 e SRTMS02W048. A Figura 3.10
apresenta o modelo digital de terreno (MDT) regional gerado para a área de estudo.

Figura 3.11 - Modelo Digital de Terreno (MDT) regional obtido a partir do Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM).

Fonte: O autor.

25
4.3.1 Parâmetros do modelo

4.3.1.1 Domínio

O domínio do modelo de águas subterrâneas é definido pelas condições de contorno que


generalizam as entradas e saídas de água do sistema. A área do modelo é de 20x20 km,
com uma superfície de 27 ha. As bordas do modelo foram definidas pelas seguintes
características geográficas: ao sul pelo rio dos Cacos, a leste pelo rio Catipuru, noroeste
por um rio que divide os municípios de Primavera e São João de Pirabas e a nordeste por
drenagens menores, incluindo manguezais. Nessas áreas, serão consideradas cargas
hidráulicas constantes.

4.3.1.2 Malhas e camadas

O ajuste de malhas e camadas foi feito por meio das seguintes etapas:

• Geração da malha triangular de elementos finitos para toda a área do modelo;


• Discretização horizontal do domínio do modelo em uma malha de elementos
finitos de elementos triangulares e verticalmente pela definição de camadas;
• Criação de uma única malha de modelo para todos os estágios do modelo: desde
o modelo de estado estacionário das condições atuais até os modelos transitórios
de calibração e preditivo;
• Inclusão do resultado da calibração pré-mineração como condição inicial para os
modelos transitórios;
• Utilização de uma grade de modelo contendo 1.702.7001.825 elementos e
892.398 nós.

A Figura 5 apresenta a malha de elementos finitos horizontais definidos para o modelo


no software FeFlow. Um nível de refinamento mais elevado da malha foi definido para a
zona da mina, enquanto uma resolução de malha mais fina foi estabelecida em torno dos
principais recursos, como setores de poços e cursos de água. Nas áreas externas à mina,
o nível de refinamento foi reduzido para aumentar a eficiência das simulações do modelo.

26
Figura 3.12 - Malha de elementos finitos horizontal definida para o modelo de simulação
numérica de fluxo FeFlow.

Fonte: O autor.

4.3.1.3 Condições de contorno

As condições de contorno são um componente essencial na conceituação de um sistema


de águas subterrâneas, representando as entradas e saídas de água do sistema. A seleção
dos limites do domínio de modelagem e a prescrição das condições dos limites são
fundamentais para desenvolver um modelo que se ajuste à área de estudo.

Após a definição da malha, as condições de contorno foram atribuídas à estrutura do


modelo para representar as condições hidráulicas nos limites e dentro do seu domínio
para condições prescritas, como zonas de descarga de águas subterrâneas, poços e
drenagem da mina. As condições de contorno no limite externo do domínio do modelo
foram constantes ao longo dos modelos permanentes e transitórios. No entanto, as
condições de contorno internas, especialmente aquelas relacionadas aos poços, cursos

27
d`água e galerias subterrâneas, variaram para as diferentes simulações com base nas
condições prescritas.

As fronteiras externas do modelo foram definidas por corpos de água locais. Para estes
locais, foram atribuídas condições de contorno do tipo hydraulic-head bc, onde a carga é
constante e conhecida. Para locais definidos como descarga de águas subterrâneas, como
fundos de vale, nascentes e lagoas, foram atribuídas condições de contorno do tipo
seepage face, que permite a descarga de água do modelo quando o nível de água calculado
no nó for maior que a sua cota topográfica.

A Figura 3.13 ilustra os locais dos nós determinados como hydraulic-head bc na parte
externa e seepage face na parte interna do modelo.

Figura 3.13 - Camada 1 - Nós atribuídos com condições de contorno 'hydraulic-head bc' e
'seepage face' (sem restrição de fluxo aplicada).

Fonte: O autor.

28
4.3.1.4 Unidades Hidrogeológicas

Após a construção da malha de elementos finitos e a atribuição das condições de contorno


e recarga, o próximo passo na construção do modelo foi a definição e a atribuição das
unidades hidrogeológicas à grade do modelo. No software FeFlow, as unidades
hidrogeológicas são utilizadas para controlar a atribuição das propriedades hidráulicas,
tais como permeabilidade, anisotropia e valores de armazenamento. Cada unidade de
hidrogeologia representa uma unidade distinta com valores únicos, e em conjunto com as
condições de contorno, controlam o comportamento do sistema de águas subterrâneas,
como a direção do fluxo, gradientes e níveis de resposta à tensão transitória.

A definição das diferentes unidades de hidrogeologia baseou-se na representação


conceitual da mina, da hidrogeologia e nas variações potenciais nas propriedades
hidráulicas no domínio do modelo. Na construção do modelo hidrogeológico conceitual,
presume-se que os principais fatores de controle são a geologia heterogênea e a
deformação secundária dessas unidades, bem como a intensidade e profundidade da
carstificação.

4.3.2 Calibração

4.3.2.1 Pré-mina

O processo de calibração foi realizado com base em parâmetros observados em campo e


alinhado com o modelo hidrogeológico conceitual revisado e aprovado pela Votorantim
Cimentos (HYDROKARST, 2021). Os resultados obtidos consistem em estatísticas de
calibração para os níveis de água simulados versus medidos e estimativas de fluxo de
base do córrego Taboca, com base nos valores observados versus simulados.

A calibração foi conduzida até que uma diferença razoável fosse alcançada entre os níveis
de água medidos nos piezômetros selecionados e os níveis de água simulados. Nesse
contexto, ressalta-se que considerou-se uma boa calibração como um valor de erro
quadrático médio (RMS) inferior a 10%.

Durante o processo de calibração, o parâmetro de condutividade hidráulica foi ajustado,


mantendo as relações gerais estabelecidas no desenvolvimento do modelo conceitual. A

29
análise foi conduzida com base em 14 piezômetros distribuídos conforme a Figura 3.14.
Na melhor calibração, obteve-se um valor de RMS de 1%, considerado excelente.

30
Figura 3.14 - Gráfico comparativo entre os níveis de água observados e simulados em condições de estado estacionário (pré-mina).

Fonte: O autor.

31
4.3.2.2 Mina atual

Realizou-se a revisão da calibração do modelo em estado estacionário da mina atual,


utilizando-se de informações de nível e vazões monitorados nesta etapa de campo,
levando em consideração as interferências da mina nas condições atuais. A calibração foi
balizada priorizando-se parâmetros observados em campo e alinhada com o modelo
hidrogeológico conceitual revisado e aprovado pela empresa Votorantim
(HYDROKARST, 2021).

Os resultados apresentados consistem em estatísticas de calibração para os níveis de água


simulados versus medidos e estimativas de fluxo de base bombeado da mina no período
seco com base nos valores observados versus simulados. Durante a calibração, o
parâmetro da condutividade hidráulica foi ajustado, mantendo-se as relações gerais
estabelecidas no desenvolvimento do modelo conceitual. Para análise, foram
considerados 14 piezômetros distribuídos de acordo com a Figura 3.15. Na melhor
calibração, obteve-se um valor de RMS de 4,1%, considerado excelente.

32
Figura 3.15 - Gráfico comparativo das condições de nível de água observadas e simuladas para o estado estacionário na mina atual.

Fonte: O autor.

33
4.3.2.3 Modelo transitório

Realizou-se a revisão da calibração do modelo em estado transitório, com base em


informações dos níveis obtidas através do ensaio de aquífero ao longo de 60 dias. Durante
esse período, foram realizados ensaios de aquíferos em dois poços de bombeamento e
piezômetros nas proximidades. A calibração priorizou a balização de parâmetros
observados em campo e foi alinhada com o modelo hidrogeológico conceitual revisado e
aprovado pela empresa Votorantim (HYDROKARST, 2021).

Os resultados obtidos incluem estatísticas de calibração para os níveis de água simulados


versus medidos, bem como estimativas de fluxo de base bombeado da mina no período
seco com base nos valores observados versus simulados. Na calibração, o parâmetro da
condutividade hidráulica foi ajustado, mantendo as relações gerais estabelecidas no
desenvolvimento do modelo conceitual. Foram considerados 9 piezômetros distribuídos
de acordo com a Figura 3.16. Na melhor calibração, obteve-se um valor de RMS de 5,5%,
considerado confiável. Com relação às vazões bombeadas pela mina, o fluxo de base
obtido através da análise do hidrograma foi de aproximadamente 86m 3/h (2.071m3/d).
Assim, a vazão e o fluxo de base para a mina atual foram de 86m 3/h.

34
Figura 3.16 - Gráfico comparativo das condições de nível de água observadas e simuladas para o estado transiente na mina atual.

Fonte: O autor.

35
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo tem como objetivo apresentar os resultados da comparação entre o sistema
atual de deságue da Cava 1 da Mina Taboca (Cenário 1) e um sistema proposto com o
intuito de implementar melhorias na estrutura de deságue da mina (Cenário 2). Para tanto,
utilizou-se o sistema atual como parâmetro de comparação para o Cenário 2, que foi
elaborado por meio de simulações realizadas com o modelo desenvolvido. Ao considerar
o Cenário 1 como base de comparação, foi possível analisar e avaliar as diferenças em
relação ao sistema proposto, identificando as vantagens e desvantagens de cada cenário.
Dessa forma, apresentam-se os resultados das simulações realizadas para ambos os
cenários, destacando as principais diferenças encontradas em relação ao comportamento
de vazão, cone de rebaixamento, fluxo e controle de outorga. Adicionalmente, as
simulações futuras foram realizadas considerando um período de 10 anos (2023 - 2033).
Os resultados detalhados dessas análises estão apresentados nas seções a seguir,
permitindo uma melhor compreensão sobre qual sistema seria mais adequado para
atender às necessidades da mina, considerando a evolução temporal da estrutura
geológica diante das atividades realizadas.

5.1 Descrição dos cenários de previsão para o sistema de drenagem

Esta seção apresenta detalhes sobre os Cenários 1 e 2 utilizados na comparação para


determinar o sistema de deságue mais viável para a Cava 1. Inicialmente, foram realizadas
doze simulações preditivas para determinar qual seria o cenário proposto (Cenário 2).
Com base nas análises realizadas, foi selecionado o cenário mais viável, que será
apresentado em detalhes nesta seção. É importante destacar que esta análise se concentra
exclusivamente no cenário selecionado, sem abordar os cenários descartados.

Os cenários estudados são descritos a seguir:

• Cenário 1: descreve as condições atuais de deságue da Cava 1. Essas condições


foram usadas como ponto de partida no modelo para simular o comportamento da
estrutura de deságue nos próximos 10 anos. Assim, o sistema representado pelo
Cenário 1 consiste exclusivamente de uma estação de bombeamento (Sump)
localizada no fundo da Cava 1. É importante ressaltar que o sistema de

36
escoamento via Sump é muito utilizado no processo de drenagem de atividades
de mineração, e por isso foi incorporado ao sistema proposto neste trabalho
(EDRAKI et al., 2005; CAHYADI et al., 2020; CARNEIRO et al., 2021).
• Cenário 2: corresponde ao sistema proposto para implementação na Cava 1 da
Mina Taboca. Este sistema utiliza uma combinação de tecnologias, tais como
estação de bombeamento (Sump), 18 drenos horizontais de 100 metros e uma
bateria de 16 poços perimetrais instalados ao redor da cava. Esta solução permite
um fluxo de deságue mais eficiente e abrange uma área maior do que o sistema
atual (Cenário 1), garantindo assim um melhor controle e gestão da operação de
deságue.

5.1.1 Cenário 1: Sistema de deságue exclusivo por meio de uma estação de


bombeamento (Sump) instalada no fundo da Cava 1

O Cenário 1 descreve o atual sistema de drenagem utilizado na Cava 1. Neste sistema, há


somente uma estação de bombeamento e um reservatório, conhecido como Sump,
instalado no fundo da cava. Dessa forma, a água acumulada nas frentes de lavra é drenada
por meio da força da gravidade e direcionada para o reservatório do Sump. Além disso, a
água coletada das frentes de lavra se mescla à água da chuva que entra na cava, resultando
em um volume total que é direcionado para a superfície por meio de estações de
bombeamento.

Uma das principais vantagens desse sistema é a possibilidade de tratamento e reutilização


das águas residuárias, pois ele evita que a água acumulada interfira no processo de
extração mineral. Dessa forma, ao ser bombeada para a superfície, a água pode ser tratada
e armazenada, contribuindo significativamente para a redução do impacto ambiental e
para a utilização racional dos recursos hídricos disponíveis (OLIVEIRA e CRUZ, 2001).
O processo permite também que a água seja tratada antes de ser reutilizada em outras
atividades, tais como irrigação, lavagem de equipamentos e áreas de trabalho, entre
outras. Isso gera um impacto positivo na economia de água e na preservação do meio
ambiente, além de ocasionar em melhorias no balanço hídrico da unidade da Mina Taboca
(FARIA et al., 2016; CASTRO et al., 2018).

37
Na Figura 4.1, apresenta-se a variação temporal das vazões médias resultantes da projeção
do Cenário 1, realizado por meio do modelo numérico desenvolvido especificamente para
este estudo. O modelo utilizou as informações referentes às características do sistema
atual de drenagem da Cava 1, as quais foram incluídas como condições iniciais para a
simulação. O eixo vertical do gráfico representa a vazão, Q, em m 3/h. O eixo horizontal
representa o intervalo temporal da projeção, abrangendo um período de 10 anos (2023 a
2033).

Figura 4.1 – Projeção das vazões médias para o Cenário 1 considerando um período de dez anos
(2023 a 2033).

Fonte: O autor.

Com base nos resultados obtidos, é possível observar que as vazões totais de
bombeamento de águas subterrâneas apresentam um aumento significativo ao longo do
tempo. Ao final do primeiro ano, a vazão total é estimada em 84 m 3/h, enquanto que ao
final do décimo ano essa vazão aumenta para 143 m 3/h. Esses resultados representam um
aumento de 70,24% na vazão total. Com o aumento das vazões, é possível que ocorra
uma sobrecarga no sistema atual, prejudicando o processo de extração mineral e
impactando negativamente o meio ambiente. Portanto, a utilização de tecnologias de
tratamento e reutilização da água pode ser uma alternativa viável para minimizar o
consumo de água e a geração de efluentes na mineração, promovendo a sustentabilidade
do setor.

38
5.1.2 Cenário 2 proposto: Sistema de deságue com estação de bombeamento,
drenos horizontais e bateria de poços perimetrais

Na presente seção, apresentam-se os resultados do sistema de drenagem proposto para as


águas subterrâneas na Cava 1 da Mina Taboca, com o objetivo de melhorar a performance
do sistema existente por meio da introdução de novos elementos estruturais. Para isso,
foram incorporadas diversas técnicas, incluindo uma estação de bombeamento, drenos
horizontais e uma bateria de poços perimetrais.

Assim como no sistema atual, o método proposto utiliza a técnica de drenagem por
gravidade, visando minimizar a interferência do fluxo de água na operação da mina. Dessa
forma, a água coletada nas frentes de lavra é conduzida para o Sump, juntamente com a
água dos drenos horizontais, a fim de controlar o volume total de água no sistema. A
mistura das águas subterrâneas interceptadas com a água da chuva que entra na cava é
bombeada para a superfície, permitindo um melhor controle do volume total de água.

Para garantir a efetividade do desague no interior da cava a médio e longo prazo, propõe-
se também, por meio de análises dos parâmetros do modelo, a instalação de uma bateria
de 16 poços no perímetro NW-N-NE-E da Cava 1, sendo 14 novos e 2 existentes. A
bateria de poços perimetrais é um elemento fundamental na garantia da efetividade do
deságue no interior da cava a médio e longo prazo, contribuindo para a manutenção dos
níveis de água adequados e prevenindo possíveis danos causados pelo acúmulo excessivo
de água (CONNELLY e GIBSON, 1985; TZAMPOGLOU e LOUPASAKIS, 2018).

A Figura 4.2 ilustra a disposição dos poços na região da Cava 1, onde os pontos amarelos
correspondem às localizações geográficas dos poços sugeridos para o Cenário 2. Nesse
contexto, a disposição dos poços sugeridos foi planejada para garantir uma melhor
eficiência no processo de drenagem das águas subterrâneas na área da Mina Taboca.
Adicionalmente, a escolha da localização dos poços sugeridos foi baseada em diversos
fatores, tais como a topografia da região, a posição das frentes de lavra e a direção do
fluxo de água subterrânea. Além disso, foram levados em consideração aspectos
relacionados à segurança e à preservação ambiental, com o intuito de minimizar o impacto
da atividade de mineração na região.

39
Figura 4.2 – Localização dos poços sugeridos no Cenário 2 de simulação do sistema de drenagem
da Cava 1 da Mina Taboca. Os pontos amarelos representam os poços propostos
para o Cenário 2, incluindo os dois preexistentes.

Fonte: O autor.

5.2 Estimativa das vazões totais: comparação entre os cenários de simulação

A Figura 4.3 apresenta as vazões médias projetadas para o Cenário 2, considerando o


período de 2023 a 2033 e utilizando o modelo numérico desenvolvido, que considera o
sistema de bombeamento da Cava 1 como condição inicial. Os resultados mostram que o
sistema proposto é mais estável do que o sistema atual de deságue da Mina Taboca, como
pode ser visto na Figura 4.1, que apresenta uma variação de aproximadamente 100 m 3/h
ao longo de um ano. Já no cenário proposto, a variação de fluxo do início do primeiro ao
fim do décimo ano é menor, sendo aproximadamente 20 m 3/h.

40
Figura 4.3 - Projeção das vazões médias para o Cenário 2 (cava) em um período de dez anos (de
2023 a 2033).

Fonte: O autor.

A Figura 4.4 ilustra a projeção das vazões médias considerando o Cenário 2, que envolve
a instalação de poços perimetrais, no período de 2023 a 2033. De acordo com os
resultados apresentados, nota-se um aumento significativo nas vazões no início do
primeiro ano, alcançando um pico de cerca de 220 m3/h, e que gradualmente decresce ao
longo do tempo, até se aproximar de 100 m3/h ao final do décimo ano.

Figura 4.4 - Projeção das vazões médias para o Cenário 2 (poços perimetrais) de 2023 a 2033.

Fonte: O autor.

41
Na Figura 4.5, apresenta-se a projeção das vazões médias no Cenário 2, que inclui a
implementação de drenos horizontais, para o período de 2023 a 2033. De acordo com os
resultados, é observado um aumento significativo na vazão no primeiro ano, atingindo o
limite de 75 m3/h. No entanto, a vazão diminui gradualmente com o passar do tempo,
ficando abaixo de 25 m3/h ao final do décimo ano.

Figura 4.5 – Projeção das vazões médias para o Cenário 2 (drenos horizontais) de 2023 a 2033.

Fonte: O autor.

A Figura 4.6 apresenta a comparação das vazões totais de bombeamento de águas


subterrâneas nos Cenários 1 e 2 ao longo do tempo. Conforme os resultados obtidos
através de simulações preditivas com base em dados coletados no local e modelos
matemáticos apropriados para cada componente do sistema de deságue proposto, é
possível verificar que as vazões totais de bombeamento de águas subterrâneas no final do
primeiro ano no Cenário 2 serão de 337 m3/h, e no final do décimo ano serão de 167 m3/h.
Para os drenos horizontais, a vazão total média esperada no final do primeiro ano é de
77m3/h (2m3/h por dreno), enquanto para os poços perimetrais, a vazão total média
esperada é de 215m3/h (13m3/h por poço) no final do primeiro ano e de 85m 3/h (5m3/h
por poço) no final do décimo ano. Essas informações são de extrema importância para o
planejamento e operação eficiente do sistema de deságue, garantindo a sustentabilidade
ambiental e econômica da mina.

42
Figura 4.6 - Comparação entre as vazões simuladas para os Cenários 1 (cava) e 2 (cava, poços
perimetrais e drenos horizontais) durante o período de 2023 a 2033.

Fonte: O autor.

A variação na vazão de água ao longo do tempo no Cenário 2 pode estar relacionada a


diversos fatores, tais como a estrutura hidrogeológica da área em estudo, a capacidade de
armazenamento de água no solo, o clima e as condições meteorológicas ao longo do
período de análise, bem como o próprio funcionamento das estruturas de deságue em si
(BEVEN e GERMANN, 1982). A vazão pode ter aumentado no primeiro ano devido à
diminuição da pressão hidrostática no solo e ao aumento da infiltração de água causados
pela instalação dos drenos horizontais (MALIVA et al., 2006). No entanto, ao longo do
tempo, as condições hidrológicas podem ter mudado, levando a uma diminuição na vazão
devido à redução da água disponível na rocha e a possíveis mudanças na estrutura
geológica.

5.3 Análise do cone de rebaixamento para o sistema de deságue da cava

As Figuras 4 e 5 apresentam a evolução temporal das isolinhas de carga hidráulica (m)


do cone de rebaixamento do aquífero da Mina Taboca, considerando os dois cenários de
simulação: o Cenário 1, atual, e o Cenário 2 proposto. Nesse contexto, foram realizadas
simulações por meio de modelagem hidrogeológica, utilizando dados geológicos e

43
hidrológicos da área de estudo. Essas simulações consideraram a operação da mina nos
próximos 10 anos e as possíveis interferências no fluxo de água subterrânea.

Diante dos resultados apresentados, ressalta-se que o rebaixamento de aquífero ocorre


quando a captação de água subterrânea supera a sua recarga, provocando a diminuição do
nível da água no aquífero (BARLOW e LEAKE, 2012; BEAR, 1972). As figuras mostram
o cone de rebaixamento final para cada cenário, indicando o nível máximo de
rebaixamento em cada um deles. Observa-se que o rebaixamento máximo é previsto para
o Cenário 2, que considera uma maior captação de água subterrânea do que o Cenário 1.
Assim, o Cenário 2 se destaca como o melhor para a redução do lençol freático nas frentes
de lavra da Mina Taboca. Este cenário considera 16 poços perimetrais e drenos
horizontais no final da Cava 1, o que resulta no maior nível de rebaixamento do aquífero.

As simulações também permitem estimar a vazão de água subterrânea captada pela mina,
indicando o potencial de interferência da operação da mina no fluxo de água subterrânea
da região. Essa informação é importante para o gerenciamento de risco e a adoção de
medidas preventivas, visando minimizar os impactos ambientais e garantir a
sustentabilidade da operação da mina (TUCCI, 2001).

44
Figura 4.7 –Projeção do cone de rebaixamento do nível de água para o Cenário 1. Painel ‘A’:
cone de rebaixamento atual no início do ano 1. Painéis ‘B’ e ‘C’: rebaixamento
simulado para os anos 5 e 10, respectivamente.

Fonte: O autor.

45
Figura 4.8 – Projeção do cone de rebaixamento do aquífero para o Cenário 2. Painel ‘A’: cone
de rebaixamento atual no início do ano 1. Painéis ‘B’ e ‘C’: rebaixamento
simulado para os anos 5 e 10, respectivamente.

Fonte: O autor.

46
5.4 Análise do impacto da outorga de bombeamento no sistema de drenagem

A Mina Taboca é uma importante fonte de exploração mineral na região, contando


atualmente com uma outorga para rebaixamento de água subterrânea com volume
máximo anual de 8.777.520,00 m3/ano.

Para garantir que os volumes de bombeamento não ultrapassem os limites da outorga,


foram realizadas estimativas das vazões totais esperadas, considerando os volumes
previstos de águas de chuvas e desague de águas subterrâneas nos Cenários 1 e 2.

As Tabelas 4.1 e 4.2 apresentam informações detalhadas sobre os volumes médios de


bombeamento esperados nos Cenários 1 e 2, respectivamente. Conforme os resultados
obtidos, em ambos os cenários os volumes previstos de águas de chuvas e desague de
águas subterrâneas não ultrapassam 40% do volume anual outorgado.

Tabela 4.1 –Estimativa de volume médio mensal de bombeamento no Cenário 1, somado à


estimativa de água de chuva, considerando uma área de contribuição de
733.000m².

Precipitação
Mês Vazão (m3/h) Soma (m3/h)
(m3/h)
Outubro 13 143 156
Novembro 24 143 167
Dezembro 59 143 202
Janeiro 256 143 399
Fevereiro 382 143 525
Março 504 143 647
Abril 503 143 646
Maio 372 143 515
Junho 222 143 365
Julho 190 143 333
Agosto 53 143 196
Setembro 19 143 162
Média
216 143 359
anual (m3/h)
Total
1,89 x 106 1,25 x 106 3,14 x 106
anual (m3)

Fonte: O autor.

47
Tabela 4.2 –Estimativa de volume de bombeamento médio mensal no Cenário 2, somado à
estimativa de água de chuva, considerando uma área de contribuição de
733.000m2.

Precipitação
Mês Vazão (m3/h) Soma (m3/h)
(m3/h)
Outubro 13 174 187
Novembro 24 174 198
Dezembro 59 174 233
Janeiro 256 174 430
Fevereiro 382 174 556
Março 504 174 678
Abril 503 174 677
Maio 372 174 546
Junho 222 174 396
Julho 190 174 364
Agosto 53 174 227
Setembro 19 174 193
Média
216 174 390
anual (m3/h)
Total
1,89 x 106 1,52 x 106 3,42 x 106
anual (m3)

Fonte: O autor.

É importante destacar que a eficiência do sistema de rebaixamento de água subterrânea


deve ser monitorada continuamente para garantir a sustentabilidade do aquífero e evitar
ultrapassar os limites da outorga. Assim, recomenda-se a instalação de dois novos
piezômetros para complementar a malha piezométrica e monitorar o rebaixamento do
aquífero na porção norte da Cava 1, onde atualmente não há instrumentos de
monitoramento.

A Figura 4.9 mostra os pontos sugeridos para instalação dos piezômetros. Nesse sentido,
é fundamental observar que a instalação dos novos piezômetros deve seguir as melhores
práticas de instalação e usar equipamentos adequados para garantir a precisão e
confiabilidade dos dados (CHAPUIS, 1989). Ressalta-se que os dados de nível de água
coletados pelos piezômetros devem ser registrados quinzenalmente e analisados para
avaliar se as metas de rebaixamento estão sendo atingidas. Além disso, é necessário que
os locais de instalação dos piezômetros sejam escolhidos com base em anomalias

48
geofísicas previamente identificadas, visando obter informações adicionais sobre o
comportamento hidrogeológico da região.

Figura 4.9 – Pontos para instalação dos piezômetros sugeridos.

Fonte: O autor.

49
6 CONCLUSÕES

Este trabalho teve como principal objetivo apresentar os resultados de um estudo sobre a
modelagem hidrogeológica do fluxo de água subterrânea da Mina Taboca, localizada no
município de Primavera, estado do Pará. Para isso, foi desenvolvido um modelo
numérico, que permitiu a avaliação do comportamento das águas subterrâneas na mina.
Esse modelo é fundamentado em uma abordagem conceitual e numérica, que permitiu a
análise das características e propriedades dos aquíferos. Assim, com base nas informações
obtidas, foi possível propor um sistema de drenagem que visa minimizar os impactos
ambientais decorrentes da exploração mineral, bem como garantir a sustentabilidade do
empreendimento a longo prazo. Para tanto, foram realizados estudos detalhados sobre o
fluxo de água na área da mina, a fim de identificar as principais fontes de água subterrânea
e seu comportamento ao longo do tempo.

As conclusões deste estudo são apresentadas a seguir:

• Observou-se que as vazões totais de bombeamento de águas subterrâneas no


sistema atual da mina (Cenário 1) apresentaram um aumento significativo ao
longo do tempo. Ao final do primeiro ano, a vazão total foi estimada em 84 m 3/h,
enquanto que ao final do décimo ano, essa vazão aumentou para 143 m 3/h. Esses
resultados indicam um aumento de 70,24% na vazão, o que reforça a necessidade
de se buscar medidas para garantir a sustentabilidade a longo prazo do sistema de
drenagem da Mina Taboca.
• Com o aumento das vazões no Cenário 1, há risco de sobrecarga no sistema atual,
prejudicando a extração mineral e o meio ambiente. Técnicas de tratamento e
reutilização de água podem minimizar o consumo de água e efluentes na
mineração, promovendo a sustentabilidade da mina. Portanto, recomenda-se
avaliar a viabilidade dessas operações de mineração e considerar a implantação
do sistema proposto (Cenário 2).
• O sistema de deságue proposto apresentou maior estabilidade em comparação
com o sistema atual da Mina Taboca, conforme evidenciado pelos resultados. A
Figura 4.1 demonstra que o sistema atual apresenta variações de
aproximadamente 100 m3/h ao longo de um ano, enquanto que no cenário
proposto a variação é menor, em torno de 20 m3/h do início do primeiro ao fim do

50
décimo ano, representando uma diminuição de 80% na variação do fluxo de
deságue.
• A vazão total média esperada para os drenos horizontais no final do primeiro ano
é de 77m3/h (2m3/h por dreno), enquanto para os poços perimetrais é de 215m 3/h
(13m3/h por poço). Já no final do décimo ano, a vazão total média esperada para
os poços perimetrais é de 85m3/h (5m3/h por poço) e a vazão total de
bombeamento de águas subterrâneas no Cenário 2 é de 167 m3/h. Esses resultados
são essenciais para o planejamento e operação eficiente do sistema de deságue,
visando garantir a sustentabilidade ambiental e econômica da unidade.
• Vários fatores podem influenciar a variação na vazão de água no Cenário 2,
incluindo a estrutura hidrogeológica, o clima, as condições meteorológicas e o
funcionamento das estruturas de deságue. Estudos anteriores sugerem que a
instalação dos drenos horizontais pode ter aumentado a vazão no primeiro ano,
mas ao longo do tempo as condições hidrológicas podem mudar, levando a uma
redução da vazão devido à diminuição da disponibilidade de água no solo e
possíveis mudanças na estrutura geológica.
• O Cenário 2 foi o que apresentou o maior nível de rebaixamento do aquífero,
sendo até 27% mais eficiente no rebaixamento do lençol freático na frente de
lavra. Nesse contexto, ressalta-se que esse cenário mostrou ser o melhor para
redução do lençol freático nas frentes de lavra de curto a longo prazo na Mina
Taboca. Esses resultados ressaltam a importância do gerenciamento adequado dos
recursos hídricos subterrâneos, evitando a exploração excessiva e garantindo a
sustentabilidade desses importantes reservatórios de água.
• As estimativas de vazões totais esperadas nos Cenários 1 e 2 mostraram que os
volumes de bombeamento na Mina Taboca estão dentro dos limites da outorga,
evitando impactos negativos no aquífero. Dessa forma, o monitoramento contínuo
da eficiência do cone de rebaixamento do aquífero é essencial para garantir a
sustentabilidade da exploração mineral e evitar ultrapassar os limites da outorga.
Adicionalmente, a instalação de novos piezômetros na porção norte da cava pode
contribuir significativamente para o monitoramento do rebaixamento do aquífero
e a sustentabilidade da operação da unidade.

51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AB'SÁBER, A. (2003). Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.


São Paulo: Ateliê Editorial. ISBN 978-85-7480-355-1.

ANA (2005). HidroWeb: Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.


Disponível em: https://www.snirh.gov.br/hidroweb/apresentacao. Acesso em: 17 abr.
2023.

ANDERSON, M.P. & WOESSNER, W.W. (1992). Applied Groundwater Modeling—


Simulation of Flow and Advective Transport. Academic Press, Inc.

BARLOW, P. M., & LEAKE, S. A. (2012). Streamflow Depletion by Wells-


Understanding and Managing the Effects of Groundwater Pumping on Streamflow. US
Geological Survey, Reston, VA. Open-File Report 2012-1162.

BEAR, J. (1972). Dynamics of Fluids in Porous Media. Elsevier. Amsterdam, The


Netherlands. ISBN: 978-0444103235.

BEAR, J., & VERRUIJT, A. (1987). Modeling groundwater flow and pollution. Springer
Science & Business Media.

BEVEN, K. J., & GERMANN, P. (1982). Macropores and water flow in soils. Water
Resources Research, 18(5), 1311-1325. doi: 10.1029/WR018i005p01311.

BREDEHOEFT, J. (2005). The conceptualization model problem—surprise.


Hydrogeology Journal, 13(1), 37-46. https://doi.org/10.1007/s10040-004-0430-5

CAHYADI, T. A., SARAGIH, I. R., AJI, D. P. W., SUYONO, S., WINDA, W., and
RACHMAT, M. (2020). Optimization of Sump drying with alternatives concept at coal
open mine PT Bukit Asam South Sumatra. 2ND INTERNATIONAL CONFERENCE
ON EARTH SCIENCE, MINERAL, AND ENERGY. doi:10.1063/5.0007077.

CARNEIRO, B. M., FAJARDO, K. C. B., FONSECA, M. M., FREITAS, P. M. C.


(2021). Pluvial Drainage System: a case study on the determination of flows for the
dimensioning of devices in an iron production implantation work. Research, Society and
Development, v.10, n.16, p.e295101623790. doi:10.33448/rsd-v10i16.23790.

52
CASTRO, M. F., MACHADO, N. R. S., FERREIRA, R. A., LIMA, H., & MIRANDA,
J. F. (2018). Uso sustentável da água diante da recessão hídrica na Samarco Mineração
S.A. In Anais do 19º Simpósio de Mineração (ABM Week). São Paulo, SP, Brasil.

CHAPUIS, R. P., & SABOURIN, L. (1989). Effects of installation of piezometers and


wells on groundwater characteristics and measurements. Canadian Geotechnical Journal,
26(4), 604–613. doi:10.1139/t89-073

CONNELLY, R. J., & GIBSON, J. (1985). Dewatering of the open pits at Letlhakane and
Orapa diamond mines, Botswana. International Journal of Mine Water, 4(3), 25–41.
doi:10.1007/bf02551567.

DHI-WASY. (2021). FEFLOW - Finite Element subsurface FLOW system. Retrieved


September 20, 2021, from https://www.mikepoweredbydhi.com/products/feflow.

DOMENICO, P. A., & SCHWARTZ, F. W. (1998). Physical and chemical hydrogeology.


John Wiley & Sons.

EATON, B. C., & BATEMAN, K. J. (2020). Environmental hydrology. CRC Press.

EDRAKI, M., GOLDING, S. D., BAUBLYS, K. A., and LAWRENCE, M. G. (2005).


Hydrochemistry, mineralogy and sulfur isotope geochemistry of acid mine drainage at
the Mt. Morgan mine environment, Queensland, Australia. Applied Geochemistry, 20(4),
789–805. doi:10.1016/j.apgeochem.2004.11.004.

EPA. (2009). Guidance on selecting a remedial alternative. United States Environmental


Protection Agency. https://www.epa.gov/remedytech/guidance-selecting-remedial-
alternative

FARIA, D. G., CARVALHO, M. M. O., ANDRADE, L. H., TAVARES, D. M. P., &


FERREIRA, R. P. M. (2016). Minimização do consumo de água e de geração de efluentes
na mineração de ouro. Anais do XXI Congresso Brasileiro de Engenharia Química.
Fortaleza, Ceará, Brasil.

FEITOSA, F. A. N., COSTA, M. S. S., & Barbosa, S. M. (2008). Análise da variação do


ciclo hidrológico na região semiárida do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de
Geografia Física, 1(2), 109-125.

53
FETTER, C. W. (2001). Applied hydrogeology (Fourth ed.). Prentice Hall.

HYDROKARST, 2021. UNIDADE PRIMAVERA – REVISÃO DO MODELO


CONCEITUAL. s.l.:s.n.

IMBIRIBA JUNIOR, M. (2019). Estudo hidrogeológico do aquífero Pirabas na cidade de


Salinópolis, NE do Pará. 2019. 165 f. Dissertação (Mestrado em recursos hídricos) -
Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém.

LCT-EPUSP. (2015). Caracterização de rochas carbonáticas. In: Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil.

LOPES, E. S. (1996). Investigação por eletroresistividade de ambientes cársticos no


município de São João de Pirabas - PA. 1996. 88 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade
Federal do Pará, Centro de Geociências, Belém, Curso de Pós-Graduação em Geofísica.

MALIVA, R. G., GUO, W., & MISSIMER, T. M. (2006). Aquifer storage and recovery:
recent hydrogeological advances and system performance. Water Environ Res, 78(13),
2428-2435. doi: 10.2175/106143006x123102.

OLIVEIRA, A. P. & LUZ, A. B. (2001). Recursos hídricos e tratamento de águas na


mineração. Série Tecnologia Ambiental, 24. Rio de Janeiro: CETEM/MCT. ISBN 85-
7227-139-2. ISSN 0103-7374

54

Você também pode gostar