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Revista Contexto & Saúde

Editora Unijuí
Programa de Pós-Graduação em Atenção Integral à Saúde
ISSN 2176-7114 – v. 22, n. 46, 2022
http://dx.doi.org/10.21527/2176-7114.2022.46.13323
COMO CITAR:
Faustino AM, Neves, R. Atividade física e envelhecimento ativo: Diálogos Brasil – Portugal.
Revista Contexto & Saúde, 22(46). e13323

Atividade Física e Envelhecimento Ativo:


Diálogos Brasil – Portugal

Andréa Mathes Faustino1, Rui Neves2

RESUMO
Introdução: A atividade física (AF) regular entre idosos é altamente recomendada para promover o envelhecimento ativo. A manu-
tenção de um estilo de vida fisicamente ativo na meia-idade e idade avançada está associada a melhores condições de saúde na
velhice e maior longevidade, mesmo quando a prática de AF tiver seu início em idades mais avançadas. Objetivos: Avaliar a associa-
ção entre o nível e tempo recomendado de AF com as variáveis sociodemográficas e de saúde de idosos do Brasil e Portugal. Meto-
dologia: Estudo descritivo e exploratório, com abordagem quantitativa. A amostra foi constituída por 300 idosos que frequentavam
os serviços de saúde nas cidades de Aveiro (Portugal) e Brasília (Brasil), entre os meses de outubro de 2019 e fevereiro de 2020.
Foi aplicado o International Physical Activity Questionnaire (Ipaq) que avaliou o nível de AF, além de questões sociodemográficas
e sobre a prática de AF. Para a análise estatística foi utilizado o teste t Student, valor de confiança de p<0,05. Resultados: A média
de idade foi de 71-86 anos. Diferenças foram observadas tanto nas variáveis sociodemográficas quanto naquelas que avaliaram a
AF. Os resultados foram estatisticamente significativos em razão da idade (p<0,001), ocupação (p=0,003), participação em grupos
(p<0,001), nível de AF (p<0,001) e tempo de AF (p<0,001). No Brasil (4,7%), em relação a Portugal (46,7%), os idosos não realiza-
vam nenhum tipo de AF na semana em que foram avaliados, e, assim, foram classificados como “sedentários”. Além disso, 88% e
91,3% dos idosos brasileiros e portugueses, respectivamente, possuíam alguma doença crônica. Conclusões: O estudo identificou
diferenças significativas entre os grupos de Aveiro e Brasília, relacionadas a algumas variáveis sociodemográficas e entre o “nível de
AF” e “tempo de AF”, posto que em Portugal o nível de sedentarismo foi superior ao do Brasil. Paralelamente foi também observa-
do um elevado número de idosos com doenças crônicas.
Palavras-chave: atividade física; idoso; envelhecimento saudável; envelhecimento ativo.

PHYSICAL ACTIVITY AND ACTIVE AGING: DIALOGUES BRAZIL – PORTUGAL


ABSTRACT
Introduction: Regular physical activity (PA) among the elderly is highly recommended to promote aging. The maintenance of a phy-
sically active lifestyle through middle age and old age is associated with better health conditions in old age and greater longevity.
Even when PA practice begins at older ages. Objectives: To evaluate the association between the level and recommended time of
PA with the sociodemographic and health variables of the elderly in Brazil and Portugal. Methodology: Descriptive and exploratory
study, with a quantitative approach. The sample was found by 300 elderly people attending health services, in the cities of Aveiro
(Portugal) and Brasília (Brazil), between the months of October 2019 and February 2020. The International Physical Activity Ques-
tionnaire (IPAQ) was applied who assessed the level of PA, in addition to sociodemographic issues and PA practice. For statistical
analysis, Student’s t test was used, with a confidence value of p <0.05. Results: The average age was 71-86 years. Differences were
observed both in sociodemographic variables and in those that assessed PA. The results were statistically based on age (p <0.001),
occupation (p = 0.003), participation in groups (p <0.001), PA level (p <0.001) and PA time (p <0.001). In Brazil (4.7%) in relation to
Portugal (46.7%), they did not perform any type of PA in the week they were taken and were thus classified as “sedentary”. In addi-
tion, 88% and 91.3%, of the Brazilian and Portuguese elderly, respectively, had some chronic disease. Conclusions: The study iden-
tified significant differences between the groups in Aveiro and Brasília, related to some sociodemographic variables and between
the “level of PA” and “time of PA”, and in Portugal the level of sedentarism for the superior to Brazil. In parallel, a high number of
elderly people with chronic diseases was also observed.
Keywords: physical activity; aged; healthy aging.

SUBMETIDO EM: 17/11/2021


ACEITO EM: 23/3/2022

1
Autora correspondente: Universidade de Brasília (UnB). Departamento de Enfermagem. Faculdade de Ciên-
cias da Saúde, Campus Darcy Ribeiro – Asa Norte. Brasília/DF, Brasil. CEP: 70910-900. http://lattes.cnpq.
br/6583997878577232. http://orcid.org/0000-0002-5474-7252. andreamathes@unb.br
2
Universidade de Aveiro (UA). Departamento de Educação e Psicologia. Centro de Investigação em Didática e
Tecnologia na Formação de Formadores. Aveiro, Portugal.

PÁGINAS
1-10
ATIVIDADE FÍSICA E ENVELHECIMENTO ATIVO: DIÁLOGOS BRASIL – PORTUGAL
FAUSTINO, Andréa Mathes; NEVES, Rui

INTRODUÇÃO
O conceito de Envelhecimento Ativo adotado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) no final dos anos 1990 aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos
específicos da população. Neste modelo é preconizado que as oportunidades
de saúde, participação, segurança e aprendizagem ao longo da vida devam ser
potencializadas por ações de políticas públicas, a fim de que seja garantida uma
vida ativa em todo o processo de envelhecimento. Pela condição que envelhecer é
uma experiência única, heterogênea e multidimensional, os determinantes sociais
e de saúde acompanharão o indivíduo durante sua vida, e, assim, influenciarão
diretamente as condições de envelhecimento, que poderá ser ativo ou não.1-2
A atividade física (AF) é conceituada como qualquer atividade voluntária
que envolve movimentos produzidos pelo sistema muscular e esquelético e
que resulte em gasto calórico acima do nível de repouso. Pode ser realizada em
diferentes esferas do cotidiano, como atividades laborais, tarefas domésticas,
deslocamento e recreação, e, além disto, o desempenho competente nessas
atividades é um forte indicador de maior capacidade funcional e cognitiva.
A AF regular entre idosos é altamente recomendada para promover um estilo
de vida ativo. Os idosos devem participar de, pelo menos, duas horas e meia,
150 minutos, de atividades de intensidade moderada (ou seja, atividades
aeróbicas de baixo impacto) ou uma hora e quinze minutos de exercícios físicos
de intensidade vigorosa, 75 minutos (ou seja, caminhadas, basquete, ginástica
aeróbica de alta intensidade) ao longo da semana. A atividade aeróbica deve ser
realizada em sessões de, pelo menos, 10 minutos.3-5
Estudos mostram que a inatividade física aumenta consideravelmente o
risco de muitas condições de agravos à saúde, sendo um dos fatores de risco
para mortalidade em todo o mundo, representando cerca de 1% a 4% dos custos
globais com saúde, o que poderia ser prevenido por meio da adoção de hábitos
de vida mais saudável, como realizar alguma AF regular, tornando-se, assim,
um dos principais fatores comportamentais de proteção para doenças crônicas
não transmissíveis. É provável que a inatividade física aumenta o risco de várias
doenças crônicas, incluindo acidente vascular cerebral, pressão alta, ansiedade,
doença cardíaca coronária, diabetes, obesidade e outros distúrbios relacionados
ao estresse.3,6-7
Em geral, quanto mais frequentemente uma pessoa é fisicamente ativa,
melhor sua capacidade física. Isso ocorre devido às adaptações dos sistemas
fisiológicos, principalmente no sistema neuromuscular para coordenar os
movimentos, no sistema cardiopulmonar para distribuir com mais eficiência
o oxigênio e os nutrientes pelo corpo, e nos processos metabólicos, particu-
larmente aqueles que regulam o metabolismo da glicose e dos ácidos graxos,
que aumentam coletivamente os níveis aeróbicos e a capacidade física. Outros
benefícios que estão associados à prática regular de AF entre idosos são o
bem-estar psicológico e físico, o qual pode ser melhorado com exercícios físicos
em diferentes níveis de intensidade.3,8
A prática de AF está intimamente relacionada com hábitos de vida. A
manutenção de um estilo de vida fisicamente ativo na meia-idade e idade

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avançada está associada a uma melhor saúde na velhice e longevidade. Mesmo


se a prática de exercícios regulares for iniciada na velhice, sabe-se que este novo
comportamento leva a melhorias significativas na saúde, até para aqueles que
eram relativamente sedentários.8
Nesta perspectiva, o presente estudo teve por objetivo avaliar a associação
entre o nível e tempo recomendado de AF com as variáveis sociodemográficas e
de saúde entre idosos do Brasil e Portugal.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal de base populacional, de caráter
descritivo observacional, com a população idosa frequentadora de Serviços de
Saúde nas cidades de Brasília, Brasil e Aveiro, Portugal.
Os locais de coleta foram um ambulatório de especialidades de um
hospital universitário na cidade de Brasília e em um centro de saúde na cidade
de Aveiro, ou seja, em serviços de baixa complexidade em saúde. A população
de estudo foi de idosos usuários destes serviços de saúde que obedecessem aos
seguintes critérios de inclusão: ter 60 anos ou mais, ser residente nas cidades
onde foram realizadas as coletas de dados e não possuir alterações cognitivas
que impedissem de responder às perguntas da pesquisa, a qual foi avaliada por
meio do miniexame do estado mental.9
O período da coleta de dados se deu entre os meses de outubro de 2019
e janeiro de 2020 no Brasil, e nos meses de janeiro e fevereiro de 2020 em
Portugal.
O instrumento de coleta de dados foi composto por perguntas validadas na
pesquisa de Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (Sabe) e do Estudo Longitudinal
de Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil), bem como por perguntas elaboradas
pelos pesquisadores.10-11
O nível de AF, objeto desta análise, foi avaliado pelo questionário
International Physical Activity Questionnaire (Ipaq) em sua versão reduzida,
traduzida e validada para o Brasil.12
Segundo o Estudo Elsi (2018), foram convertidas estas informações em
tempo total de prática de AF na semana informada, considerando o tempo
despendido em atividades vigorosas em dobro, e definimos como praticante
regular de AF os indivíduos que realizaram 150 minutos ou mais por semana,
conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde.5,11
Para a classificação do nível de AF foi utilizada a seguinte nomenclatura:
i) idoso que não realizou nenhuma AF por, pelo menos, 10 minutos contínuos
durante a semana, foi classificado como “sedentário”; ii) idoso que realizou
AF, porém de forma insuficiente para ser classificado como ativo porque não
cumpria as recomendações quanto à frequência ou duração dessa atividade, foi
categorizado em “irregularmente ativo”; iii) idoso que realizava, pelo menos, 3
dias de atividade vigorosa, por, no mínimo, 20 minutos, ou 5 dias ou mais de
atividade moderada ou caminhada por, no mínimo, 30 minutos, ou pelo menos
5 dias e 150 minutos semanais de qualquer tipo de AF, foi agrupado na categoria

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“ativo”; e iv) idoso que realiza atividades vigorosas por, pelo menos, 5 dias na
semana, sendo 30 minutos por sessão, ou, no mínimo, 3 dias na semana de
atividade vigorosa, no mínimo 20 minutos por sessão, mais atividades moderadas
ou caminhada, por, no mínimo, 5 dias na semana e 30 minutos por sessão, foi
identificado como “muito ativo”.13
Os dados foram transcritos e categorizados em um codebook, construído
utilizando o programa Excel da suíte Microsoft. Para tratamento e análise dos
dados foi empregado o software Statistical Package for the Social Sciences®
(SPSS), versão 23.0. A análise dos dados foi descritiva e, para calcular a diferença
das médias entre os grupos do Brasil e Portugal, foi utilizado o teste t Student
para amostras independentes, e o valor de confiança aceito foi p<0,05.
O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) das duas instituições envolvidas, tanto no Brasil pelo Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade
de Brasília (UnB), sob parecer consubstanciado número 3.442.462/2019 e
conforme Cadastro de Apresentação e Apreciação Ética (CAAE) de número
13121019.1.0000.0030, quanto em Portugal, pela Unidade de Formação e
Investigação do Agrupamento de Centros de Saúde (Aces) do Baixo Vouga
(parecer Nº 2/ 2019), com aprovação em ambas. Todos os idosos aceitaram
participar voluntariamente da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.

RESULTADOS
A amostra final incluída de cada país foi de 150 idosos em ambas as
cidades, totalizando 300 participantes na presente pesquisa. Os dados sociode-
mográficos, de acordo com a Tabela 1, apresentam que a média de idade dos
300 participantes foi de 71,86 ±6,7 anos. Quando analisada separadamente por
país, a média de idade foi de 67,86 (±5,39) anos no Brasil e 75,86 (±5,55) anos
em Portugal. Isto demonstra que os idosos da cidade de Aveiro eram mais velhos
que os da cidade de Brasília em cerca de 8 anos (p<0,001), diferença estatistica-
mente significativa. Em relação ao sexo, houve predominância das mulheres que
procuraram os atendimentos de saúde nas cidades analisadas, 60% no Brasil e
58% em Portugal (p=0,48).

Tabela 1 – Caracterização de idosos segundo dados sociodemográficos de saúde


e nível de atividade física (N=300). Brasília, Brasil e Aveiro, Portugal, 2019, 2020.
Variáveis Brasil Portugal p-value*
Total Total
n (%) n (%)
Sexo
Feminino 90(60,0) 87(58,0) 0,48
Masculino 60(40,0) 63 (42,0)
Idade
60 a 69 107(71,0) 16(10,6) <0,001*
70 a 79 40(27,0) 106(70,7)
80 a 89 3(2,0) 27(18,0)

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90 a 99 0(0,0) 1(0,7)
Cor
Branca 43(29,0) 144(96,0) 0,14
Parda 78(52,0) 6(4,0)
Preta 29(19,0) 0(0,0)
Estado civil
Casado 92(61,0) 104(69,3) 0,88
Divorciado 3(2,0) 6(4,0)
Mora com parceiro 1(1,0) 1(0,7)
Solteiro 41(27,0) 7(4,7)
Viúvo 13(9,0) 32(21,3)
Anos de escolaridade
1 até 4 anos de estudos 29(19,4) 112(74,7) 0,07
5 até 8 anos de estudos 78(52,0) 15(10,0)
9 ou mais anos de estudos 29(19,3) 22(14,6)
Sem instrução 14(9,3) 1(0,7)
Mora com alguém
Não 20(13,0) 36(24,0) 0,34
Sim 130(87,0) 114(76,0)
Possui filhos
Não 20(13,0) 28(18,7) 0,43
1 a 3 filhos 86 (57,0) 119 (79,4)
4 a 6 filhos 38 (25,0) 3 (1,9)
Mais de 6 filhos 6 (4,0) 0 (0,0)
Ocupação
Aposentado(a) 99(66,0) 143(95,3) 0,003*
Trabalha 35(23,3) 4(2,7)
Pensão ou benefício do governo 10(6,7) 0(0,0)
Outra 6(4,0) 3(2,0)
Participação Grupos
Não 134(89,0) 136(90,7) <0,001*
Sim 16(11,0) 14(9,3)
Uso de bebida alcoólica
Não 129(86,0) 123(82,0) 0,32
Sim 21(14,0) 27(18,0)
Doença crônica
Não 18(12,0) 13(8,7) 0,24
Sim 132(88,0) 137(91,3)
Nível de Atividade Física
Sedentário 7(4,7) 70(46,7) <0,001*
Irregularmente ativo 128(85,3) 67(44,7)
Ativo 14(9,3) 10(6,6)
Muito ativo 1(0,7) 3(2,0)
Total 150 150
* p<0,05 - Teste T Student
Fonte: Banco de Dados da pesquisa, 2019, 2020.

Quanto a outras variáveis, na de “ocupação” o maior número de idosos


era aposentado, tanto no Brasil (66%) quanto em Portugal (95,3%), e na análise
comparativa houve diferença significativa para esta variável (p=0,003). Em

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relação a esta variável, apesar de a maioria ter se autointitulado “aposentado”,


há uma diferença na subdivisão das categorias entre os dois países: em Portugal
quase uma totalidade de aposentados; no Brasil temos outras subcategorias que
se destacam. Uma delas são os idosos que trabalham (23,3%) e aqueles que não
conseguiram se aposentar, e assim recebem o benefício do governo brasileiro
(6,7%), no caso o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é um recurso
especialmente destinado para idosos e pessoas com deficiência em situação de
vulnerabilidade social (Tabela 1).
Além disso, a diferença também ficou evidenciada em outra variável,
que foi a de “participar em grupos”, tanto no Brasil (89%) quanto em Portugal
(90,7%), quando relataram não participar de grupos comunitários (p<0,001),
apresentada na Tabela 1.
No que diz respeito às questões de saúde, a minoria, tanto em Portugal
(14%) quanto no Brasil (18%), informou consumir bebida alcoólica e possuir
alguma doença crônica. A maior parte dos idosos afirmou que apresentavam
alguma patologia, sendo as principais diabetes mellitus e hipertensão arterial
(Tabela 1).
Ao comparar os percentuais que tratavam das variáveis “nível de atividade
física” e “tempo de atividade física” entre os idosos, houve diferença estatisti-
camente significativa entre os dois grupos para as duas variáveis analisadas
(p<0,001). Ressalta-se que os idosos no Brasil (4,7%), em relação a Portugal
(46,7%), não realizavam nenhum tipo de AF na semana em que foram avaliados
e, assim, foram classificados como “sedentários” (Tabelas 1 e 2).

Tabela 2 – Tempo de atividade física segundo grupo de idosos brasileiros


e portugueses (N=300). Brasília, Brasil e Aveiro, Portugal, 2019, 2020.
Tempo de AF* País Total p-value
Brasil Portugal
n (%)
n (%) n (%)
Recomendado 17(11,3) 6(4,0) 23(7,6) <0,001*
(150 minutos ou mais/semana)
Não recomendado 126 (84,0) 74(49,3) 200 (66,7)
(abaixo de 150 minutos/semana)
Não realiza nenhuma AF* 7 (4,7) 70(46,7) 77 (25,7)
(zero minutos/semana)
*AF= Atividade Física
* p<0,05 - Teste T Student
Fonte: Banco de Dados da pesquisa, 2019, 2020.

DISCUSSÃO
Os principais resultados desta pesquisa demonstraram que houve
diferenças significativas entre os grupos de Aveiro e Brasília, relacionadas
a algumas variáveis sociodemográficas e entre o “nível de AF” e “tempo de
AF”, posto que em Portugal o nível de sedentarismo foi superior ao do Brasil.
Paralelamente foi observado, também, um elevado número de idosos com
doenças crônicas.

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A idade cronológica é um preditor conveniente e frequentemente muito


bom do estado de saúde, carga da doença e capacidade física, mas há uma
variabilidade interindividual que deve ser considerada, com alguns idosos tendo
uma saúde muito boa e outros apresentando início acelerado de fraqueza,
incapacidade e fragilidade.8
Foi observado, no presente estudo, maior concentração de idosos mais
velhos na cidade de Aveiro, com 70 até 89 anos, ao contrário da cidade de
Brasília, em que houve maior concentração da faixa etária dos 60 até os 79 anos,
fator que pode ter impactado nas condições de saúde e hábitos de AF quando
comparado os dois grupos populacionais.
O maior número de mulheres idosas, 60% em Brasília e 58% em Aveiro, que
participaram da pesquisa, pode ter influenciado em relação ao nível de AF nas
duas populações em geral, pois sabe-se que, na maioria das vezes, as mulheres
acabam assumindo muitas outras atividades do cotidiano doméstico e familiar.
O cuidar da casa, de netos e/ou cônjuge doente, levam mulheres idosas a terem
menos tempo para se envolver em AF, seja em grupo ou individual, e assim
tornam-se sedentárias pela falta de tempo e cansaço físico. Isto relaciona-se aos
papéis históricos desempenhados por mulheres, independentemente da idade,
de esposa, mãe e cuidadora.14-15
Algumas barreiras podem impedir que idosos tenham a prática regular de
AF em suas rotinas. Por exemplo cita-se a falta de companhia ou de amigos, que
é considerada um importante empecilho para a realização de AF entre adultos
mais velhos.16
A não participação em grupos, ou seja, o não envolvimento com outras
pessoas, pode ter favorecido para que alguns dos idosos entrevistados tenham
relatado hábitos sedentários em relação à prática de AF, o que foi observado
nos dois grupos: 89,0% em Brasília e 90,7% em Aveiro. Outros obstáculos, como
a falta de conhecimento sobre a AF (benefícios, formas de praticá-la), falta de
motivação e problemas de saúde, também são condições comuns que impedem
idosos de assumir hábitos menos sedentários.17
O envolvimento em AF regular ao longo do curso de vida oferece uma
variedade de benefícios para a saúde, incluindo melhoria da cognição e redução
de doenças crônicas.16 A incidência de doenças crônicas mais que duplica nos
dez anos que se seguem à aposentadoria. 8,18
Foi observado que mais de 88% dos idosos entrevistados em ambas
cidades possuíam alguma doença crônica e, em sua maioria, eram patologias
que poderiam ser controladas com hábitos de vida mais saudáveis e a inclusão
de AF, como nos casos da hipertensão arterial e do diabetes mellitus. Além disso,
a maioria dos idosos, tanto no Brasil quanto em Portugal, se autodeclararam
“aposentados”: 66% e 95%, respectivamente.
A atividade física pode influenciar positivamente no funcionamento motor,
cognitivo e metabólico, sendo um fator de risco modificável para muitas doenças
não transmissíveis e deve ser altamente aconselhada aos pacientes pelos
profissionais de saúde.19 É recomendado que médicos e outros profissionais da
saúde que atuam na atenção primária façam o aconselhamento comportamental

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para promover a AF e uma dieta saudável para a prevenção de doenças cardio-


vasculares e, assim, evitar agravos futuros oriundos de complicações pelo mau
controle da hipertensão arterial e do diabetes mellitus.17
Os atendimentos de baixa complexidade em saúde, como foi o caso dos
locais da pesquisa, tanto na cidade de Aveiro quanto em Brasília, são espaços
ideais para a abordagem da inclusão da AF como rotina nas atividades de
idosos, pois, ainda neste tipo de atendimento, o usuário/paciente precisa buscar
alternativas e orientações para o controle da doença e o foco é a prevenção de
complicações relacionadas à doença crônica.
O envelhecimento da população, a urbanização e a automatização das
atividades diárias, têm contribuído para um estilo de vida predominantemente
sedentário, com baixos níveis de atividade física (AF) e altos níveis de
comportamento sedentário.20 Entre os idosos incluídos no presente estudo,
observou-se um elevado número de idosos sedentários na cidade de Aveiro.
Cerca de 46% não realizou nenhum tipo de AF na semana em que foram
avaliados, e, em contrapartida, na cidade de Brasília apenas 4% se apresentaram
nesta condição.
A redução do tempo sedentário, independente da atividade física, tem
efeitos cardiovasculares e metabólicos conhecidos, e benefícios funcionais em
adultos mais velhos. Assim, qualquer quantidade de exercício físico é melhor
do que ser sedentário, mesmo que o estado de saúde do indivíduo impeça o
cumprimento das metas preconizadas.17 No total em relação aos dois grupos
de idosos, cerca de 66% praticavam alguma AF mesmo estando abaixo do nível
recomendado de 150 minutos semanais. Somente 7% dos idosos estavam entre
aqueles com nível de AF recomendado.
O presente estudo tem como contributos uma análise de populações de
idosos de países diferentes, mas que evidenciam a necessidade no investimento
em relação à organização de políticas públicas e equipamentos sociais que
possam suprir esta necessidade da incorporação do hábito da prática da AF
como um importante aliado no controle de doenças crônicas e um potencial
articulador de redes de apoio entre estes idosos residentes tanto no Brasil quanto
em Portugal. Apesar da distância geográfica e histórica, ambas as populações de
idosos investigadas mostram que faltam incentivos e ações públicas concretas
que possam valorizar tratamentos de saúde não medicamentosos, como a
prática da AF, a qual pode ser de fácil acesso e de relativo baixo custo se envolver
os profissionais de saúde e educadores físicos como aliados nos serviços de baixa
complexidade em saúde.
Quanto às limitações deste estudo, não foi investigada a causa do baixo
nível da AF regular, o que poderia dar um direcionamento de quais elementos
poderiam ser investidos para que esta população possa incorporar hábitos de
vida mais saudáveis e, assim, alcançar um envelhecimento mais ativo. Além
disso, os resultados do presente estudo não podem ser generalizados para as
populações dos países analisados, pois não retratam a realidade como um
todo de Portugal e do Brasil, sendo necessário outros estudos de abrangência
nacional.

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CONCLUSÕES
O estudo identificou diferenças significativas entre os grupos relacionadas
a algumas variáveis sociodemográficas, nas quais os idosos portugueses
apresentaram média de idade superior aos idosos brasileiros, e entre os idosos
portugueses havia o maior número de aposentados, quase em sua totalidade,
enquanto no Brasil ainda tinha idosos que trabalhavam ou que não conseguiram
se aposentar. Ademais, a maioria possuía alguma doença crônica e não consumia
bebida alcoólica.
Constatou-se, também, diferenças entre os grupos estatisticamente
significativas para as variáveis “nível de atividade física” e “tempo de atividade
física”, posto que em Portugal o nível de sedentarismo foi superior ao do Brasil.

REFERÊNCIAS
1
Beleza CMF, Soares SM. A concepção de envelhecimento com base na teoria de
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