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Educação Unisinos

E-ISSN: 2177-6210
revistaeduc@unisinos.br
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Brasil

de Castro Pitano, Sandro; Beatriz Roqué, Bianca


O uso de maquetes no processo de ensino- aprendizagem segundo licenciandos em
Geografia
Educação Unisinos, vol. 19, núm. 2, mayo-agosto, 2015, pp. 273-282
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
São Leopoldo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=449644340012

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Educação Unisinos
19(2):273-282, maio/agosto 2015
© 2015 by Unisinos - doi: 10.4013/edu.2015.192.11

O uso de maquetes no processo de ensino-


aprendizagem segundo licenciandos em Geografia

The use of models in the teaching-learning


process by undergraduates in Geography

Sandro de Castro Pitano


scpitano@gmail.com

Bianca Beatriz Roqué


bia_peia@yahoo.com.br

Resumo: A investigação analisou a concepção dos graduandos do curso de Licenciatura em


Geografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), integrantes do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), acerca da utilização de maquetes como recurso no
processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa empírica consistiu em três etapas: a primeira
buscou evidenciar a concepção prévia do grupo; a segunda implantou a oficina de maquetes; e
a terceira utilizou a maquete em sala de aula. A metodologia está embasada nos conceitos de
Rodas de Formação em Rede (Warschauer) e Comunidade Aprendente (Brandão). Os registros
escritos pelos sujeitos de pesquisa foram analisados através da Análise Textual Discursiva
(Moraes e Galiazzi). Os resultados evidenciaram uma série de potencialidades, limites e
possibilidades segundo a concepção dos sujeitos de pesquisa, os quais foram cotejados com o
referencial teórico de autores como Filetti, Nacke e Martins, Oliveira e Wankler, Quintela, Silva
e Muniz, Simielli et al. e Torres. Considerou-se que a principal potencialidade da maquete é
contribuir com o processo de ensino-aprendizagem, diferenciando-se de outros recursos por
proporcionar a visualização de forma tridimensional. Como limitações, destacam-se os tempos
da escola e dos professores para a confecção do recurso didático. As possibilidades consistem
na sua elaboração a partir do relevo, permitindo que os professores a utilizem para abordar
outros conteúdos, como clima, vegetação, uso e ocupação do solo, hidrografia, transporte e
logística e agricultura.

Palavras-chave: maquete, Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, ensino


de Geografia, recurso didático.

Abstract: The research analysed the design of the graduate students of the BSc in Geography of
the Federal University of Rio Grande (FURG), members of the Institutional Scholarship Program
for Initiation to Teaching (PIBID) on the use of scale models as a resource in the teaching-
learning process. The empirical research was evaluated in three stages during development:
the first one sought to highlight the preconception group; the second workshop implemented
the models; and the third used the scale model in the classroom. The methodology is grounded
in the concepts of Network Education Circles (Warschauer) and Learner Community (Brandão).
The records written by the research subjects were analysed through Discourse Textual Analysis
(Galiazzi and Moraes). The results showed a number of potentialities, limits and possibilities
depending on the design of the study subjects, which were compared to the theoretical
background of authors like Filetti, Nacke and Martins, Oliveira and Wankler, Quintela, Silva and
Muniz, Simielli et al., and Torres. It was considered that the main potential of the scale model is
to contribute to the process of teaching and learning, differentiating itself from other resources

Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Attribution License (CC-BY 3.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e
distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Sandro de Castro Pitano, Bianca Beatriz Roqué

by providing the visualization of three-dimensional shape. As limitations, we highlight the school


time and teacher time spent making the teaching resource. The chances are to build models
from the relief, allowing teachers to use it to address other contents, like climate, vegetation,
occupation and use of land, hydrography, transportation and logistics and agriculture.

Keywords: scale model, Institutional Scholarship Program for Initiation to Teaching, teaching
Geography, teaching resource.

Introdução percepção dos sujeitos da pesquisa Metodologia da pesquisa


e identificar as potencialidades, os
São diversos os recursos didáti- limites e as possibilidades sob seus Buscando aproximar-se previa-
cos disponíveis para a mediação do pontos de vista. mente do grupo, os pesquisadores
processo de ensino-aprendizagem da A investigação contemplou três participaram de suas reuniões desde
Geografia, cada um com suas espe- momentos distintos, embora integra- o mês de março de 2012, caracteri-
cificidades de uso e elaboração. Po- dos no processo de coleta de dados. zando uma fase exploratória e tam-
dem ser mais ou menos adequados, O primeiro analisou as concepções bém de adaptação mútua. A coleta
dependendo do conteúdo a ser mi- prévias dos sujeitos, possibilitando de dados iniciou efetivamente no dia
nistrado, da afinidade do professor a elaboração de um diagnóstico, 14 de junho de 2012. As atividades
com os alunos, do tempo disponível para que, ao final, fosse possível desenvolvidas pelo grupo vinham
e do objetivo da aula, entre outros. observar se as concepções mudam ocorrendo desde julho de 2011.
Para que o professor defina o recurso ou se mantêm. O segundo analisa o O grupo do PIBID Geografia da
a ser utilizado, primeiro deve ter o processo da oficina de maquetes, im- FURG, participante da pesquisa, é
domínio sobre a ferramenta, ou seja, plantada como parte da metodologia integrado por doze graduandos do
planejar a aula para saber explorar da pesquisa, e que foi ao encontro curso de Licenciatura em Geografia
toda a potencialidade que oferece das necessidades formativas do gru- e duas professoras de Geografia,
a partir do conhecimento de suas po. O terceiro envolveu a aplicação uma atuando no ensino fundamental,
possibilidades de uso, conhecendo, desse recurso em sala de aula, cujo e outra, no ensino médio. A coorde-
também, suas limitações. acompanhamento se deu através de nação está sob a responsabilidade
Um dos recursos utilizados nas registros, observações e relatos dos da mesma professora que ministra a
aulas de Geografia é a maquete, re- participantes. Todas as etapas foram disciplina de Estágio em Geografia I
presentação de um objeto de forma submetidas à avaliação coletiva do e III no curso de licenciatura.
tridimensional em escala reduzida, respectivo processo, acompanhadas A metodologia da pesquisa adotou
real ou ampliada, com a finalidade por discussão dos resultados junto a dinâmica de trabalho desenvolvida
artística, de estudo, de planejamen- aos participantes. pelo grupo investigado, denominada
to ou comercial, que possibilita ao Com os resultados da pesquisa, Roda de Formação em Rede, termo
observador apropriar-se do objeto espera-se contribuir para o apri- definido por Warschauer (2001). A
através de sua manipulação e visu- moramento teórico e prático da autora explica que
alização. utilização de maquetes no ensino da
O objetivo geral da pesquisa Geografia, pois a proposta pode ser [...] as rodas são o momento de
consistiu em analisar a concep- transformada e aplicada em outras encontro e trocas entre pares, que
ção dos graduandos do curso de realidades. A pesquisa também pode podem ser entre o professor, e um
grupo de alunos, ou entre o coorde-
licenciatura em Geografia da Uni- subsidiar estudos de reavaliação
nador pedagógico, por exemplo, e um
versidade Federal do Rio Grande curricular de cursos de Licenciatura grupo de professores [...] o papel do
(FURG), participantes do PIBID, em Geografia, repensando práticas professor ou de um coordenador do
acerca da utilização de maquetes pedagógicas tradicionais. Com o grupo é fundamental, pois esse papel
como recurso didático no pro- uso de maquetes pedagogicamente propõe “leituras” do vivido num nível
cesso de ensino-aprendizagem de adequadas aos diferentes sujeitos de maior afastamento e maturidade,
Geografia, seu uso e implicações e contextos, os alunos poderão principalmente para lidar com os
274 em sala de aula. Para isso, foi compreender com maior facilidade antagonismos e conflitos e saber en-
frentá-los com o grupo (Warschauer,
implantada uma oficina de ma- alguns conceitos em relação a outros
2001, p. 160-161).
quetes, a fim de conhecer/captar a recursos didáticos.

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O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia

Ao longo do ano, nas reuniões solicitado que respondessem indivi- consistem na produção de um texto
semanais, o grupo pratica discus- dualmente às seguintes perguntas: com comentários e citações refe-
sões sobre metodologias de ensino Por que utilizar maquetes para o rente à sua análise e interpretação.
e recursos didáticos voltados para a ensino da Geografia? Quais são as Utilizando palavras-chave e ideias
experiência profissional em sala de vantagens e desvantagens desse re- centrais expostas pelos participantes,
aula, amparados pela leitura de um curso didático? Quais conteúdos da os metatextos procuraram sintetizar
artigo científico. Cada participante disciplina podem utilizar a maquete a ideia do grupo.
ministra aulas nas escolas junto às como recurso didático? Quais as in- Os textos apresentados a seguir re-
professoras coordenadoras e depois tencionalidades pedagógicas do uso sultaram da análise do que foi produ-
relata para o grupo as experiências de maquete como recurso didático? zido pelos sujeitos de pesquisa, além
vivenciadas e elaboram um registro Na etapa de pesquisa após a ofi- das discussões na roda de formação
reflexivo, avaliando a aula minis- cina de maquetes, foi solicitado um e observações realizadas durante as
trada com o recurso didático. Além texto livre, no qual registrassem tudo três etapas: concepção prévia, oficina
disso, os integrantes participam de o que considerassem relevante sobre de maquetes e utilização de maque-
oficinas, eventos e outras atividades. a oficina, com um roteiro para ajudar tes em sala de aula. A interpretação
Essa forma de trabalho do grupo a escrever o texto: o que mudou na contou com referenciais teóricos
já era adotada antes da realização sua concepção sobre a construção de outros autores que investigam a
desta pesquisa sobre a utilização de e o uso pedagógico de maquetes utilização de maquetes como recurso
maquetes e continua ocorrendo com após participar da oficina, pontos didático, tais como Castrogiovan-
a aplicação de outros recursos didáti- positivos, negativos, dificuldades, ni (2000), Filetti (2003), Nacke e
cos. A experiência partilhada na roda facilidades, críticas, elogios, etc. Martins (2007), Oliveira e Wankler
de formação faz com que os outros Nessa fase da pesquisa, os partici- (2008), Quintela (2003), Simielli et
componentes vivenciem a mesma pantes ainda não haviam levado a al. (1991) e Torres (2011).
situação através da interação. Nesse maquete para a sala de aula pelo
sentido, a ancoragem metodológica PIBID, embora todos já estivessem A potencialidade da
também se apoia na concepção de realizando seus estágios, uns no en- maquete no processo de
Brandão (2003) sobre comunidades sino fundamental e outros no ensino ensino-aprendizagem
aprendentes, acreditando que a médio. Alguns levaram as maquetes
para as aulas de estágio e começaram
[...] investigação partilhada transfor- a formar a concepção sobre a sua Concepção prévia do grupo
ma uma turma passiva de alunos em utilização em aula.
uma comunidade ativa de criação Após a utilização das maquetes Todo recurso didático pode en-
de aprendizados. Ela funda a comu- em sala de aula, os participantes da riquecer a explicação de uma aula
nidade aprendente, não tanto pelos pesquisa planejaram as aulas que – é fundamental para o processo
conteúdos disciplinares que articula, de mediação do professor de Geo-
seriam ministradas, aplicaram o
mas pelos processos interativos por
recurso didático em sala de aula e grafia, pois desperta o interesse do
meio dos quais o “ensino de” se funde
na “aprendizagem através de” e gera, depois redigiram um registro refle- aluno, facilitando a concentração,
passo a passo, experiências de vivên- xivo na plataforma Moodle. o entendimento e compreensão, a
cias dialógicas de saber (Brandão, As respostas foram analisadas materializar e significar o conteúdo
2003, p. 167). com base na metodologia da Análise estudado. Silva e Muniz (2008,
Textual Discursiva proposta por Mo- p. 67) enfatizam que “incentivar o
Portanto, a coleta de dados na raes e Galiazzi (2007, p. 117-128), aluno a produzir maquetes permite
roda de formação torna-se mais possibilitando a emersão de catego- uma participação maior deste no
completa. Um dos participantes, ao rias de análise. Por sua vez, a análise processo de aprendizagem, além de
relatar sua experiência, permite que foi apresentada na roda de formação dar oportunidade ao educador para
os outros concordem, discordem, para confirmação da interpretação perceber o contexto sociocultural em
complementem, façam sugestões, das respostas. Também foram apre- que os estudantes estão inseridos”.
gerando um debate que não existiria sentados aos participantes, de forma Abre uma nova possibilidade de
caso as opiniões fossem captadas resumida, os objetivos da pesquisa interagir com o que está sendo dis-
individualmente. e os procedimentos metodológicos. cutido, criar/aprendendo conceitos 275
Para identificar as concepções A partir das categorias de análi- e é uma maneira de intensificar o
prévias dos sujeitos de pesquisa, foi se, foram gerados metatextos, que processo de ensino-aprendizagem.

volume 19, número 2, maio • agosto 2015


Sandro de Castro Pitano, Bianca Beatriz Roqué

Simielli et al. (1991, p. 6) exem- As maquetes despertam os alu-


A meu ver, a atividade foi muito pro-
plifica como a maquete facilita a nos a investigar o espaço vivido,
dutiva. Consegui de fato aprender a
abstração de conteúdos relacionados interpretá-lo e contextualizar a
fazer uma maquete, desde o material
à Cartografia, afirmando que: Geografia do lugar, promovendo utilizado, passando pelas temáticas,
o interesse da participação nas até a forma de interpretar o mapa base
Esta noção de altitude nem sempre é mudanças da sociedade. Propicia para a construção e a abordagem da
apreendida nos mapas onde o relevo a valorização local e a solução de visão tridimensional que traz a altura
é apresentado pela hipsometria e/ com parâmetro, fazendo relação com
problemas, desde o espaço físico
ou curvas de nível, em decorrência a visão bidimensional à qual o mapa
do fato de que nas séries iniciais do
ao social, ligando o ensino da dis-
ciplina ao cotidiano do aluno, pois nos remete.
1º grau os alunos ainda apresentam-
-se com um nível de abstração em possibilita mostrar a organização
desenvolvimento, incipientes para e a ocupação do espaço, além da Ao construir a maquete, foi
compreender a representação de interação com o meio representado constatado que a visualização do
elementos tridimensionais em su- na maquete. Nesse sentido, Castro- relevo é muito mais efetiva do que se
perfícies planas (mapas). A maquete giovanni (2000, p. 74) concorda que observado no mapa, justamente por
aparece então como o processo de sua tridimensionalidade. Portanto,
“cabe ao professor criar situações
restituição do ‘concreto’ (relevo) essa categoria já mencionada na con-
a partir de uma ‘abstração’ (curva de intervenções que estimulem a
criança a ‘viver’o mundo repre- cepção prévia pode ser comprovada.
de nível), centrando-se aí sua real
sentado pela maquete. Ela deve Trabalho em equipe, diálogo
utilidade, complementada com os
diversos usos a partir deste modelo ser uma transposição do cotidiano, com colegas do grupo, interação e
concreto trabalhado pelos alunos. dos desejos, das fantasias, do ima- integração favoreceram a realização
ginário particular ou coletivo”. É do trabalho coletivo. O processo de
Esse recurso didático é diferente, uma ferramenta que auxilia tanto construção de maquetes, dividido
pois permite visualizar o que, em na pesquisa como em sala de aula, em várias etapas, possibilitou um
outras ferramentas, não é possível: pois pode tornar material o objeto melhor relacionamento dos parti-
a terceira dimensão. Ao facilitar de estudo, já que muitas vezes não cipantes para a montagem do tra-
a visão de uma determinada área, é possível realizar trabalhos de cam- balho como um todo, pois cada um
trabalha o conceito de escalas de po e estudo do meio para desvendar realizou uma determinada tarefa ao
análise. O aluno enxerga o proces- fenômenos devido às condições de mesmo tempo em que discutiam e
so, por exemplo, na hidrografia, os deslocamento. problematizavam suas dúvidas com
cursos d´água no terreno. Percebe A maquete é práxis, é aplicação colegas. Essa constatação também
melhor o espaço geográfico ou os de uma teoria em uma ferramen- foi apontada por Quintela (2003)
resultados de alguma ação física, ta material, podendo dinamizar quando realizou a construção de uma
sendo possível dimensionar melhor a discussão da turma em sala de maquete do Brasil com seus alunos:
todo o processo e ressignificá-lo. aula, tornando os conteúdos mais
Também pode ser usado com defi- dinâmicos e interativos. Nacke e Somente através da integração com
cientes visuais, desde que adaptado, os outros grupos é que se obterá o
Martins (2007) também acreditam
para que possa ser compreendida por produto final: a maquete do relevo
que a maquete favorece o processo brasileiro como um todo. Esta “cons-
meio do tato. Filetti concorda que a de ensino-aprendizagem por levar trução simbólica” do Brasil será tanto
visualização ajuda na compreensão à práxis, ou seja, por aliar teoria e mais perfeita quanto maior tiver sido
ao afirmar que: prática. a integração, a troca de informações,
a discussão entre os cinco grupos
Os modelos reduzidos trazem às Após a oficina de (Quintela, 2003, p. 4).
crianças a materialização de espaços
reais que propiciam conceitos muitas
maquetes
Ao reutilizar papelão e jornal,
vezes por elas não compreendidos,
uma vez que, crianças do primeiro O grupo aprendeu a construir pode-se demonstrar aos alunos como
ciclo do ensino fundamental ainda maquetes. Este será um diferencial aproveitar materiais que seriam des-
apresentam nível de abstração em com relação aos outros graduandos cartados, criando recursos didáticos
desenvolvimento, necessitando de em Geografia Licenciatura da FURG com baixo custo. Também foi citado
276 visualização para compreendê-los que não tiveram essa oportunidade o desenvolvimento de habilidades
(Filetti, 2003, p. 2). durante o curso, como relata o par- ao construir a maquete, ao recortar,
ticipante 4: colar, pintar, etc. Oliveira e Wanck-

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O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia

ler (2008, p. 57) concordam que, “à dar conhecimentos já produzidos, adequada à Geografia Humana.
primeira vista, tais práticas parecem discutir, propor interpretações...”. Outros exemplos citados foram
muito simples e até repetitivas, Os alunos abstraíram as diferen- hidrografia, vulcanismo, vegeta-
porém, tornam o conteúdo teórico ças de relevo e a influência da altitu- ção, paisagem, Geografia Agrária,
interessante e produtivo, e cada uma de no clima. O participante 14 afirma Climatologia, Geologia e placas
delas procura estimular na criança que “o conteúdo abordado exigia tectônicas, entre outros. Francischett
habilidades específicas”. uma compreensão mais detalhada da (2004) afirma que a maquete pode
A diversificação da aula foi região que estava sendo analisada, ir além dos conteúdos de Geografia
apontada pela participante 12, que e a maquete foi a ferramenta ideal física e humana, podendo ser utiliza-
comenta: “vejo que há, sim, ne- para proporcionar tal entendimen- da, inclusive, por outras disciplinas:
cessidade de diversificar as aulas e to”. A participante 1 afirmou que
significar o conteúdo, e a maquete os alunos conseguiram “assimilar as A construção da maquete geográfica
proporciona isso”. Esse pensamento diferenças entre planaltos, planícies pertence à prática pela qual o inves-
é compartilhado por Silva e Muniz tigador pode planejar e atuar sobre
e depressões”. A participante 2 ob-
a realidade. Esta prática pode ser
(2008, p. 64) ao salientar que o pro- servou que os alunos “mostraram-se compartilhada por diferentes campos
fessor deve “complementar ao livro bastante envolvidos com o material, do saber e não ser exclusivamente
didático, ou até mesmo substituí-lo, tanto com a maquete, ao explorarem da Cartografia e Geografia, o que
contribuindo para aprendizagem do seu conteúdo pelo visual e pelo tátil, lhe confere caráter interdisciplinar
ensino da Geografia, com o fim de percebendo melhor as diferenças de (Francischett, 2004, p. 10-11).
despertar no aluno uma percepção relevo, como no mapa, sendo que
crítica da realidade”. foram surgindo questões desde fu- Portanto, os diferentes conteúdos
racões a coordenadas geográficas”. podem apresentar limitações com o
Após a utilização das uso das maquetes, ao mesmo tempo
maquetes em sala de aula Possibilidades da em que podem ser considerados
utilização de maquetes como possibilidades.
A maquete despertou o interesse
dos alunos por provocar a curiosi- Após a oficina de
dade. Eles queriam vê-la, tocá-la Concepção prévia maquetes
e descobrir de que materiais era
composta. Freire (2000, p. 48) A maioria dos participantes da A primeira possibilidade é ex-
aponta que “não haveria criativi- pesquisa acredita que as maquetes plorar vários conteúdos na mesma
dade sem a curiosidade que nos são mais adequadas para conteúdos maquete, em uma mesma expli-
move e que nos põe pacientemente relacionados à Geografia Física. cação, a fim de demonstrar como
impacientes diante do mundo que Parte do grupo entende que os ele- um conteúdo está relacionado com
não fizemos, acrescentando a ele mentos físicos e humanos podem e outros, ou reutilizar a maquete ao
algo que fazemos”. devem ser trabalhados em conjunto, levá-la para a sala de aula mais de
Os alunos ficaram mais partici- e a utilização de maquetes é uma uma vez, quando forem tratados
pativos e ativos, fazendo questio- forma de interligar os conteúdos na assuntos diferentes. Também pode
namentos, facilitando a mediação compreensão da relação sociedade- ser utilizada por outras disciplinas,
do professor no processo de ensino- -natureza. Isso irá depender da cria- além da Geografia.
-aprendizagem ao enriquecer sua tividade do professor, do objetivo de Quanto mais o professor utiliza
explicação e tornar a aula mais pro- sua aula e de sua intencionalidade a maquete com seus alunos, mais
dutiva, resultando em aprendizagem pedagógica no planejamento das ele adquire prática com o recurso
significativa. Almeida (2001, p. 1) atividades, ou seja, o que se busca didático, multiplicando as possibili-
acredita que as maquetes favorecem na discussão. Vários assuntos podem dades de trabalhar com ele pela sua
o desenvolvimento de uma aprendi- ser trabalhados em uma simples experiência prática, como aponta a
zagem significativa, pois “os alunos maquete. participante 7: “Com relação à uti-
precisam se defrontar com proble- Entretanto, outra parte do gru- lização do recurso didático em sala
mas, questões significativas a ‘re- po acredita que a maquete é mais de aula, vejo como outros, também
solver’, o que os leva a movimentar aplicável a conteúdos da Geografia há a necessidade de ser experimen- 277
o corpo, sair da sala de aula, pensar, Física, relacionados ao relevo, e à tado para que cada vez seja melhor
observar, colher informações, estu- Geografia Urbana, não sendo muito aproveitado”.

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Sandro de Castro Pitano, Bianca Beatriz Roqué

A questão de utilizar a maquete segunda e terceira ordem. neamente, projetando fotografias de


durante a carreira docente pode ser A participante 2 também abordou paisagens, discutindo as formas de
um limite ou uma possibilidade, de- o ciclo da água. Ela levou água quen- relevo e mostrando sua localização e
pendendo dos recursos e das circuns- te, um vidro, e realizou a experiência. forma na maquete. Também podem
tâncias. Por exemplo, a participante Enquanto a água evaporava e con- ser usadas imagens de satélite ou
7 afirma que se a escola dispõe de densava no vidro, pediu para que os junto com o atlas geográfico, como
poucos recursos didáticos, a constru- alunos explicassem o que ocorria no fez a participante 8, possibilitando
ção de maquetes é uma possibilida- processo do ciclo da água ora repre- comparações.
de. Também existe a possibilidade sentado. Depois pediu para os alunos Um dos pontos destacados é a
de incluir no currículo do curso de observarem o relevo e construir uma possibilidade de manusear a ma-
graduação o ensino de confecção de legenda com diferentes altitudes. O quete e passá-la para que os alunos
maquetes. Ao contrário de alguns município de Rio Grande não possui possam observar mais de perto,
participantes que consideraram a morros e montanhas. Como muitos individualmente. A melhor forma
confecção de maquetes difícil, a alunos não têm a oportunidade de de exposição da maquete é plana, ou
participante 8 cita que foi mais fácil viajar, é possível que, erroneamente, seja, horizontal. Tambem é possível
do que ela imaginava, e sugere a sua possam imaginar todos os lugares chamar os alunos a se posicionarem
inclusão no currículo: planos, assim como alunos que vivem ao redor da maquete para observar
em cidades cercadas por montanhas e manusear, pois, sentados, não con-
Deveria fazer parte da formação podem imaginar todas as demais da seguem a visualização necessária do
de Geografia o entendimento para mesma forma. recurso. Entretanto, quando a turma
construção de maquetes e gráficos. Podem ser usadas duas maquetes tem um elevado número de alunos,
O que mudou na minha concepção é
ao mesmo tempo em sala de aula, não é possível que todos observem
que eu entendia a maquete como algo
muito difícil de fazer com qualidade, como, por exemplo, a do Rio Grande ao mesmo tempo, podendo ser divi-
algo fora da realidade do professor, do Sul e do Brasil, para se trabalhar dida em duas, para que vá primeiro
mas percebi que não é. com duas escalas de análise diferentes. uma parte, depois a outra, o que gera
O conceito de escala grande e pequena um outro problema, pois a turma
Mostrar fotografias de outras é relativo, dependendo do que é com- que não está recebendo explicações
maquetes antes de iniciar as oficinas parado. Por exemplo, se comparada a deve aguardar, desenvolvendo outra
é importante para motivar o aluno maquete do Brasil com a maquete do atividade.
a confeccionar a sua própria. Outra Rio Grande do Sul, a do Brasil é con- Noutro exemplo, as maquetes
possibilidade (cotejada com eventuais siderada escala pequena, pois possui foram utilizadas para abordar o con-
limitações) é de que os participantes menos detalhes. Quando comparada à teúdo de Economia. O Rio Grande
levem a maquete pronta, evitando a maquete das Américas, a do Brasil é do Sul e o Brasil sofreram um
sua construção com os alunos no espa- considerada escala grande. processo de desconcentração das
ço e no tempo programado para a aula. Outra sugestão foi trabalhar a indústrias, que antigamente eram
distribuição da população a partir situadas na faixa litorânea para fa-
Após a utilização das do relevo. Na Ásia, há uma região cilitar o escoamento de mercadorias
maquetes em sala com uma altitude muito elevada, a pelo oceano, o que ocasionou uma
de aula Cordilheira do Himalaia, a região concentração populacional (fator de
da Rússia é muito fria, pela proxi- atração). Como não havia espaço
As maquetes podem tornar-se midade com o polo norte. Portanto, suficiente, houve a supervaloriza-
temáticas conforme o interesse de gera concentrações de população ção dessas áreas. Então, as pessoas
cada aula, colando adesivos, fitas em determinados pontos, devido passaram a residir em outras locali-
coloridas e outras informações que à relação entre relevo e latitude, o dades. O fator da logística influen-
representem fenômenos distribuídos que dificulta a ocupação. Os alunos cia a localização das indústrias, pois
no espaço. Essas colagens pode- localizaram a cadeia do Himalaia e minimiza o custo com transportes
riam depois ser retiradas e coladas o Monte Evereste. Os ventos perió- e facilita o relacionamento com
novamente, tornando um elemento dicos do continente asiático também clientes. Portanto, a distribuição
opcional na maquete. A participante estão associados ao relevo e podem industrial também está relacionada
278 7 colou barbantes azuis de três es- ser explorados. com o relevo.
pessuras para representar uma bacia É possível utilizar a maquete e a Outra questão que poderia ser
hidrográfica e seus rios de primeira, apresentação em Datashow simulta- explorada é o turismo, pois faz

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O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia

parte da economia. A região norte Limitações da maquete carga horária das aulas de Geografia,
do estado do Rio Grande do Sul no processo de ensino- prejudicando o conteúdo programá-
possui canyons que atraem turistas. aprendizagem tico a ser cumprido no decorrer do
Assim, o relevo também está asso- ano letivo. Há uma expressão muito
ciado ao turismo. Essa atividade utilizada por professores nesse caso:
econômica é um fator que pode Concepção prévia “vencer o conteúdo”. Esse fator é o
trazer riqueza e desenvolvimento que mais dificulta a implementação
econômico/social. Seis participantes citam os tem- de recursos didáticos para uma turma
A maquete é construída a partir pos da escola como fator mais de educandos, como construir uma
do relevo. Entretanto, o professor relevante relativo aos limites do maquete em sala de aula, pois o tem-
tem a possibilidade de utilizá-la para uso de maquetes em sala de aula. po “perdido”, gasto na construção de
abordar outros conteúdos, como, Salientam que a maquete é um maquetes, poderia ser utilizado para
por exemplo, clima, vegetação, uso trabalho complexo, minucioso, que “ministrar conteúdos”.
exige tempo para ser confeccionado A falta de habilidades manuais foi
e ocupação do solo, hidrografia,
e aplicado em sala de aula. No início citada como uma desvantagem. Há
estratégias de guerra, transporte
do ano, há sempre novidades na pessoas que têm maior dificuldade
e logística, agricultura e turismo.
escola, como professores, colegas, com trabalhos manuais, tanto pro-
Cada conteúdo tem um recurso
horários, disciplinas, etc. Na adap- fessores quanto alunos. Nesse caso,
didático mais indicado. A maquete
tação a essas novidades, os colegas a maquete poderia ser também uma
pode não ser o recurso mais indi-
são apresentados para que haja um vantagem, a de trabalhar e aprimorar
cado para determinados conteúdos.
entrosamento da turma, e assim, o seus pontos fracos. Afinal, é para
O participante 9 considera que o
tempo que deveria ser utilizado para isso que existe o processo de ensino-
conteúdo que foi trabalhado com
ministrar conteúdos é reduzido. A -aprendizagem. O objetivo de se
sua turma, socialismo e capitalismo,
disciplina de Geografia tem uma construir maquetes não é gerar um
não encontra na maquete um recurso
carga horária mais baixa que outras resultado “feio” ou “bonito” e, sim,
pertinente.
disciplinas, como Língua Portuguesa o aprendizado efetivo.
Não existe uma fórmula especí-
e Matemática, geralmente com aulas A falta de adequação ao conteú-
fica para elaborar um planejamento em apenas um dia da semana. do é outro item citado, o que pode
de aula utilizando maquetes, apenas No decorrer do ano letivo, pode ocorrer assim como em todos os
princípios básicos, elementares. ocorrer a coincidência de a maioria recursos didáticos, cabendo ao pro-
Cada professor deve planejar de dos feriados colidirem com os dias fessor avaliar e analisar o recurso
acordo com o conhecimento de sua das aulas de Geografia, como, por mais adequado para cada conteúdo.
turma. Silva e Muniz (2008, p. 67) exemplo, no ano de 2012, em que Para saber explorá-lo corretamente,
enfatizam que não tem “receitas a maioria dos feriados ocorreu nas o professor deve testar o recurso
para o ensino de tal disciplina, mas sextas-feiras. Na cidade do Rio antes de leva-lo para a sala de aula.
construir propostas que trabalhem Grande, quando ocorrem chuvas A produção de lixo, citada por
a criatividade dos educadores nas fortes, os alunos não comparecem às três participantes, também se pôde
diferentes formas de abordar os aulas, e, assim, o conteúdo progra- observar em algumas escolas, cons-
conteúdos geográficos”. A partilha mado para aquele dia é adiado para tituindo outra limitação. O professor
em roda proporciona exatamente a próxima semana. Além disso, as solicita a construção de maquetes
isto: que os participantes exerçam escolas sempre inserem em sua pro- por alunos e, após construí-las, não
sua criatividade para planejar suas gramação anual eventos comemora- apresentam mais utilidade: elas
aulas, aplicar o planejamento e de- tivos em datas como o dia do índio, acabam tornando-se lixo. Na pro-
pois realizar uma reflexão teórica. do meio ambiente, festa junina, dia posta de construção de maquete pelo
Assim, mesmo que eventualmente o da criança, dia dos professores, sem professor, a maquete é levada pronta
plano não tenha “dado certo”, trata- esquecer as competições de jogos, para a sala de aula e pode ser guarda-
-se de uma contribuição para outros feira de ciências, etc. As aulas tam- da e reutilizada, mediante adaptação,
participantes. Além disto, uma aula bém são canceladas, algumas vezes, por professores de outras disciplinas
planejada pode não ter “dado certo” por reunião dos professores ou e por alunos de outros anos, sendo
com uma turma, mas pode “dar cer- mesmo por falta de algum professor. um material permanente. 279
to” com outra, por tratar-se de uma Todos esses fatores resultam em O elevado número de alunos em
questão subjetiva e contextual. uma diminuição significativa da sala de aula exige um planejamento

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específico para contornar o pro- tempo para confeccionar uma ma- isso, a oportunidade de conhecer
blema. Quando o número é muito quete. Foi considerado que desen- variados tipos de recursos didá-
grande, é necessário dividir a sala em volver uma maquete em sala de aula ticos durante a formação docente
dois grupos para que todos possam ocuparia o tempo de desenvolver permite ao futuro professor uma
visualizar a maquete. Caso o profes- o conteúdo. visão mais ampla das possibilidades
sor deseje construir a maquete em O tamanho e a idade média da de ferramentas para utilizá-las em
sala de aula, terá que analisar o perfil turma podem ser um fator limitante. sala de aula.
da turma antes de propor o trabalho. A participante 7 considerou que o O espaço físico da escola para
Muitos professores também ima- recurso seria mais bem aproveitado guardar os materiais e o transporte
ginam que a falta de recursos mate- para “uma turma menor, de 5º ou 6º do material também foi um fator
riais seja um empecilho para a cons- ano, idade em que a capacidade de considerado pela participante 12
trução de maquetes. Escolas públicas abstração é mais difícil, a maquete como limitante. As maquetes pro-
disponibilizam poucos recursos, seria mais atrativa para os educan- duzidas são grandes, e, em alguns
e muitas vezes os alunos também dos”. Esse fator também depende horários, o transporte público sofre
não têm condições financeiras de de o professor conhecer seus alunos com uma grande lotação.
comprar materiais. Cabe salientar para saber os fatores que geram Antes da realização da oficina
que as maquetes construídas na interesse e motivação em sala de de maquetes, alguns alunos ima-
oficina de maquetes tiveram custos aula. Por outro lado, a participante 1 ginavam que os custos referentes
inferiores aos que os participantes considerou uma limitação construir aos materiais seriam superiores. Na
imaginavam, o que será apresentado maquetes junto ao ensino fundamen- oficina de maquetes, provou-se que
posteriormente. tal, ao afirmar: o material teve baixo custo. O custo
Outras desvantagens, não citadas pode ser limitante para desenvolver
pelos participantes, depois foram Após ter participado das construções
das maquetes, viu-se o quanto seria trabalhos desse tipo em escolas pú-
identificadas em grupo, onde todos
trabalhoso para os alunos do Ensino blicas. O mapa do Rio Grande do Sul
concordaram que poderiam ser
Fundamental. Neste caso, seriam custou 35 reais, mas é um material
limitações. Construir a maquete necessárias várias aulas, pois é uma permanente, que pode ser encontra-
junto aos alunos produz sujeira em atividade complexa e que requer do nas próprias escolas ou em biblio-
sala de aula, com massa corrida, muito tempo para a construção. Po- tecas. Os outros mapas tiveram um
papel picado, cola, papelão e tinta, rém, é um trabalho rico e que pode
custo de 4 reais cada um, plotados
que pode manchar o mobiliário e as ser explorado nas aulas de Geografia.
em uma copiadora, coloridos. A cola
roupas dos alunos. Esse é um ponto
Alguns consideraram que a ma- branca custou por volta de 8 reais o
inevitável, e deve ser separado um
quete limita-se a explicar aspectos litro, suficiente para as três maque-
tempo ao final da aula para limpar
físicos, não sendo um recurso indi- tes. A massa corrida custou por volta
tudo e organizar os materiais. Tam-
cado a aspectos humanos. de 10 reais a lata, suficiente para as
bém tem o material cortante utiliza-
O participante 4 citou a dificul- duas maquetes. Entretanto, temos a
do na produção da maquete, como
tesouras e estiletes. Para o corte do dade de planejar as aulas com a opção de acabamento com jornal e
papelão, é necessário uma tesoura maquete por não ter o conhecimento cola, material alternativo com baixo
grande, não uma tesoura escolar. didático de como utilizar esse ma- custo. O papel carbono custa em
No caso de maquetes de isopor, a terial. Durante as conversas em for- torno de 50 centavos a folha. Foram
máquina para cortar isopor possui mação em roda, outros participantes necessárias 9 folhas coladas para a
um fio com alta temperatura. relataram essa mesma dificuldade. maior maquete, a do Rio Grande do
Entretanto, ao final do trabalho, Sul, que também podem ser reapro-
Após a oficina todos conseguiram desenvolver veitada para outras maquetes. Para
de maquetes atividades com as maquetes em pintar, foi utilizada tinta guache,
sala de aula. gasto por volta de 10 reais entre
Um aspecto já citado na concep- O pré-conceito com relação à as três maquetes. Materiais como
ção prévia foi o tempo de confecção maquete foi apontado pelo parti- caixas de papelão e jornal foram re-
da maquete. O grupo acredita que, cipante 10. Esse fator pode estar aproveitados, portanto, sem custos,
280 durante a carreira docente, com presente na concepção de outros enquanto outros são considerados
uma grande quantidade de tarefas professores, que julgam o recurso de uso permanente, como tesoura,
a serem desenvolvidas, não terão didático antes de utilizá-lo. Por régua, lápis e pincel.

Educação Unisinos
O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia

Após a utilização das a aula de forma que o recurso auxilie mútua entre o grupo e os pesqui-
maquetes em sala no processo de mediação. A parti- sadores. A participante 11 afirmou
de aula cipante 12 colocou que, com todos que, “antes da oficina, não fazia
os outros recursos, ela conseguiu ideia das várias etapas necessárias
A participante 12 relatou que não trabalhar com facilidade, mas que, para a construção de uma maquete”.
“explorou” a maquete o suficiente, com a maquete, sentiu dificuldade Pode-se afirmar que a metodologia
pois o mapa “supriu melhor” as ne- para planejar uma aula. A professora utilizada na investigação – vincu-
cessidades para aquela aula, sendo supervisora da escola Estadual Lilia lando a roda de formação em rede,
que a maquete foi levada como um Neves sugeriu planejar a aula com considerada como uma comunida-
complemento, e não como “atração o mapa do lado, pois, a partir do de aprendente –, a análise textual
principal”. A participante considera conhecimento do mapa, é possível discursiva, mostrou-se profícua e
que, para utilizar o recurso, o pro- projetar a aula com maquetes. suficiente em relação aos objetivos
fessor deve “realizar leituras para almejados.
saber como utilizar este recurso”. Consideraçoes finais Quanto às potencialidades da
A maquete foi utilizada em mais de maquete, o primeiro fator que se
uma aula por essa participante. Após Após concluir a pesquisa, ob- destaca é a capacidade de gerar
expor essa dificuldade, os outros servou-se que algumas concepções curiosidade. O fato de ser construída
participantes da roda discutiram e permaneceram desde as primeiras manualmente torna cada maquete
compartilharam sugestões. A se- análises junto ao grupo, como, por um elemento único, um trabalho
gunda vez que a participante usou o exemplo, em relação ao tempo ne- artístico que atrai a atenção do alu-
recurso, considerou que a maquete cessário para a construção da maque- no. Isso desperta o interesse e gera
contribuiu para sua aula, sempre te. Os participantes acreditavam que uma maior motivação por participar
utilizando-a com o auxílio do mapa esse seria um limite para o desen- da aula, e este envolvimento com o
para complementar as informações. volvimento do trabalho, concepção material intensifica o processo de
Alguns participantes disseram ratificada com a aplicação prática ensino-aprendizagem. O segundo
não saber como “encaixar” a ma- no processo da investigação. Outras fator é a forma de visualização tri-
quete em seu planejamento de aula. concepções transformaram-se ao dimensional, que torna mais clara
A coordenadora do grupo lembrou longo do processo, como, por exem- a abstração do aluno em alguns
que “a maquete é um recurso para plo, os participantes acreditavam que conteúdos, sendo este o diferencial
facilitar o processo de ensino-apren- a confecção de maquetes poderia da maquete em relação aos outros
dizagem, não para dificultar, por- tornar-se, basicamente, uma produ- recursos didáticos.
tanto, deveria ser usada como uma ção de “lixo”, deixar de ter utilidade. Relativo às possibilidades, ob-
aliada ao processo”. O participante Entretanto, ao término, perceberam servamos que é possível utilizar re-
14 destacou que a maior dificuldade que poderiam reutilizar a mesma cursos adicionais junto às maquetes
dos participantes é que eles não têm maquete várias vezes, já prontas, para complementar o processo de
o domínio da ferramenta. Apesar para abordar diversos assuntos. ensino-aprendizagem. Observou-
de ter feito parte da construção da Também se percebeu que, du- -se, também, que é possível utilizar
maquete, considera que não possui rante as concepções prévias, os a maquete para qualquer conteúdo.
conhecimento suficiente para traba- participantes apontaram poucas Entretanto, parte do grupo acredita
lhar em sala de aula. limitações quanto ao uso de maque- que é um recurso mais indicado para
O participante 6 considerou que, tes como recurso didático. Somente conteúdos da Geografia Física.
em determinados conteúdos, como após a conclusão das atividades é A limitação do uso da maquete
a parte política, por exemplo, a que perceberam a incidência de um como recurso didático mais citada
maquete não é o recurso didático maior número de limitações quanto pelo grupo se refere ao tempo. Tanto
mais indicado, pois o mapa pode às dificuldades relacionadas à sua o tempo do professor para construir
suprir a necessidade do professor. construção e às novas percepções maquetes e levar pronta para a sala
A coordenadora do grupo lembrou sobre a aplicação desse recurso em de aula, quanto o tempo de constru-
que todos os recursos didáticos só sala de aula. ção junto aos alunos.
serão trabalhados a partir da leitura Os resultados da oficina supera- Um professor consciente das
de mundo, e o professor deve ter ram a necessidade de coletar dados dimensões da sua tarefa não pode 281
domínio do recurso antes de levá-lo para a atual pesquisa, pois contribu- levar um recurso didático para a
para a sala de aula, ou seja, planejar íram também para a aprendizagem sala de aula sem antes testar. Seja

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um jogo, um filme, um livro ou uma reflexões sobre o processo de ensino- Unioeste, 28 p. Disponível em: http://
maquete. Cada recurso pode ser mais -aprendizagem e que outras possam www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/
arquivos/File/producoes_pde/artigo_so-
ou menos indicado, conforme carac- vir a ser realizadas nesta temática.
nia_mary_manfroi_nacke.pdf. Acesso
terísticas peculiares da turma. A ex-
em: 05/06/2014.
periência e a formação do professor Referências OLIVEIRA, A.K.P. de; WANKLER, F.L.
contribuem para avaliar qual recurso 2008. Alfabetização cartográfica na
didático é mais adequado para cada ALMEIDA, R.D. de. 2001. Do desenho ao escola: uma leitura feita através dos ma-
mapa: iniciação cartográfica na escola.
ocasião, e assim, formular seus pas. Universidade Federal de Roraima.
São Paulo, Contexto, 115 p. Revista Acta Geográfica, II(4):55-65.
próprios conceitos. Nesse sentido,
BRANDÃO, C.R. 2003. A pergunta a várias Disponível em: ufrr.br/revista/index.php/
a oficina de maquetes proporcionou mãos: a experiência da partilha através actageo/article/view/192/374. Acesso em:
experiência aos participantes. Ou da pesquisa na educação. São Paulo, 05/06/2014.
seja, o professor, mesmo sabendo na Cortez, 318 p. QUINTELA, M.A. 2003. O Brasil em relevo:
teoria como construir uma maquete, CASTROGIOVANNI, A.C. 2000. Apreensão da construção de maquetes de relevo,
deve passar pelo processo prático e e compreensão do espaço geográfico. como trabalho escolar, a sua utilização
sentir as dificuldades e facilidades In: A.C. CASTROGIOVANNI; H.C. como recurso didático por alunos deficien-
CALLAI; N.A. KAERCHER. Ensino
para formular uma concepção a tes visuais. In: XXI Congresso Brasileiro
de Geografia: práticas e textualizações de Cartografia, Belo Horizonte, 2003.
partir de sua experiência vivenciada,
no cotidiano. Porto Alegre, Mediação, Disponível em: http://www.cartografia.
e não imaginária, do processo de p. 81-93. org.br/xxi_cbc/280-E25.pdf. Acesso em:
construção. Portanto, agora, os par- FILETTI, C.R.G. d’A. 2003. Modelo peda- 30/05/2011.
ticipantes têm uma noção mais clara gógico de apoio ao ensino de cartografia: SIMIELLI, M.E.; GIRARDI, G.; BROM-
sobre a utilização de maquetes no elaboração e funcionabilidade. Revista BERG, P.; MORONE, R.; RAIMUNDO,
processo de ensino-aprendizagem, GeoNotas, 7(1). Disponível em: http:// S.L. 1991. Do plano ao tridimensional: a
propiciando também ao leitor uma www.dge.uem.br//geonotas/vol7-1/clau- maquete como recurso didático. Boletim
dia.shtml. Acesso em: 21/09/2009. Paulista de Geografia, 70:5-21.
nova concepção sobre esse recurso
FRANCISCHETT, M.N. 2014. A cartografia TORRES, E.C. 2011. Geomorfologia e ma-
didático.
no ensino-aprendizagem da geogra- quetes. Revista Geográfica de América
Esta pesquisa mostrou a impor- fia. Biblioteca On-line de Ciências da Central, 12(47E):1-10. Disponível em:
tância da discussão sobre recursos Comunicação. Disponível em: http:// http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/
didáticos com alunos em processo bocc.ubi.pt/pag/francischett-mafalda- geografica/article/view/3145. Acesso em:
de formação. O PIBID proporcio- -representacoes-cartograficas.pdf. Acesso 05/06/2014.
na discussões teóricas e trabalhos em: 05/06/2014. WARSCHAUER, C. 2001. Rodas em rede:
práticos, fomentando a práxis no FREIRE, P. 2000. Pedagogia da Indignação. oportunidades formativas na escola e fora
São Paulo, Editora Unesp, 134 p. dela. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 378 p.
processo de ensino-aprendizagem e
MORAES, R.; GALIAZZI, M. do C. 2007.
revelando que é possível aprimorar
Análise textual discursiva. Ijuí, Unijuí,
a Educação através de pesquisas 223 p.
científicas aliadas às vivências em NACKE, S.M.M.; MARTINS, G. 2007.
sala de aula. Portanto, espera-se que A maquete cartográfica como recurso Submetido: 09/06/2014
esta pesquisa tenha contribuído com pedagógico no ensino Médio. Cascavel, Aceito: 02/03/2015

Sandro de Castro Pitano


Universidade Federal de Pelotas
Rua Gomes Carneiro, 1, Centro
96010-610, Pelotas, RS, Brasil

Bianca Beatriz Roqué


282 Universidade Federal do Rio Grande
Av. Itália, km 8, Campus Carreiros
96203-900, Rio Grande, RS, Brasil

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