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E-ISSN: 2177-6210
revistaeduc@unisinos.br
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Brasil
Abstract: The research analysed the design of the graduate students of the BSc in Geography of
the Federal University of Rio Grande (FURG), members of the Institutional Scholarship Program
for Initiation to Teaching (PIBID) on the use of scale models as a resource in the teaching-
learning process. The empirical research was evaluated in three stages during development:
the first one sought to highlight the preconception group; the second workshop implemented
the models; and the third used the scale model in the classroom. The methodology is grounded
in the concepts of Network Education Circles (Warschauer) and Learner Community (Brandão).
The records written by the research subjects were analysed through Discourse Textual Analysis
(Galiazzi and Moraes). The results showed a number of potentialities, limits and possibilities
depending on the design of the study subjects, which were compared to the theoretical
background of authors like Filetti, Nacke and Martins, Oliveira and Wankler, Quintela, Silva and
Muniz, Simielli et al., and Torres. It was considered that the main potential of the scale model is
to contribute to the process of teaching and learning, differentiating itself from other resources
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Attribution License (CC-BY 3.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e
distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Sandro de Castro Pitano, Bianca Beatriz Roqué
Keywords: scale model, Institutional Scholarship Program for Initiation to Teaching, teaching
Geography, teaching resource.
Educação Unisinos
O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia
Ao longo do ano, nas reuniões solicitado que respondessem indivi- consistem na produção de um texto
semanais, o grupo pratica discus- dualmente às seguintes perguntas: com comentários e citações refe-
sões sobre metodologias de ensino Por que utilizar maquetes para o rente à sua análise e interpretação.
e recursos didáticos voltados para a ensino da Geografia? Quais são as Utilizando palavras-chave e ideias
experiência profissional em sala de vantagens e desvantagens desse re- centrais expostas pelos participantes,
aula, amparados pela leitura de um curso didático? Quais conteúdos da os metatextos procuraram sintetizar
artigo científico. Cada participante disciplina podem utilizar a maquete a ideia do grupo.
ministra aulas nas escolas junto às como recurso didático? Quais as in- Os textos apresentados a seguir re-
professoras coordenadoras e depois tencionalidades pedagógicas do uso sultaram da análise do que foi produ-
relata para o grupo as experiências de maquete como recurso didático? zido pelos sujeitos de pesquisa, além
vivenciadas e elaboram um registro Na etapa de pesquisa após a ofi- das discussões na roda de formação
reflexivo, avaliando a aula minis- cina de maquetes, foi solicitado um e observações realizadas durante as
trada com o recurso didático. Além texto livre, no qual registrassem tudo três etapas: concepção prévia, oficina
disso, os integrantes participam de o que considerassem relevante sobre de maquetes e utilização de maque-
oficinas, eventos e outras atividades. a oficina, com um roteiro para ajudar tes em sala de aula. A interpretação
Essa forma de trabalho do grupo a escrever o texto: o que mudou na contou com referenciais teóricos
já era adotada antes da realização sua concepção sobre a construção de outros autores que investigam a
desta pesquisa sobre a utilização de e o uso pedagógico de maquetes utilização de maquetes como recurso
maquetes e continua ocorrendo com após participar da oficina, pontos didático, tais como Castrogiovan-
a aplicação de outros recursos didáti- positivos, negativos, dificuldades, ni (2000), Filetti (2003), Nacke e
cos. A experiência partilhada na roda facilidades, críticas, elogios, etc. Martins (2007), Oliveira e Wankler
de formação faz com que os outros Nessa fase da pesquisa, os partici- (2008), Quintela (2003), Simielli et
componentes vivenciem a mesma pantes ainda não haviam levado a al. (1991) e Torres (2011).
situação através da interação. Nesse maquete para a sala de aula pelo
sentido, a ancoragem metodológica PIBID, embora todos já estivessem A potencialidade da
também se apoia na concepção de realizando seus estágios, uns no en- maquete no processo de
Brandão (2003) sobre comunidades sino fundamental e outros no ensino ensino-aprendizagem
aprendentes, acreditando que a médio. Alguns levaram as maquetes
para as aulas de estágio e começaram
[...] investigação partilhada transfor- a formar a concepção sobre a sua Concepção prévia do grupo
ma uma turma passiva de alunos em utilização em aula.
uma comunidade ativa de criação Após a utilização das maquetes Todo recurso didático pode en-
de aprendizados. Ela funda a comu- em sala de aula, os participantes da riquecer a explicação de uma aula
nidade aprendente, não tanto pelos pesquisa planejaram as aulas que – é fundamental para o processo
conteúdos disciplinares que articula, de mediação do professor de Geo-
seriam ministradas, aplicaram o
mas pelos processos interativos por
recurso didático em sala de aula e grafia, pois desperta o interesse do
meio dos quais o “ensino de” se funde
na “aprendizagem através de” e gera, depois redigiram um registro refle- aluno, facilitando a concentração,
passo a passo, experiências de vivên- xivo na plataforma Moodle. o entendimento e compreensão, a
cias dialógicas de saber (Brandão, As respostas foram analisadas materializar e significar o conteúdo
2003, p. 167). com base na metodologia da Análise estudado. Silva e Muniz (2008,
Textual Discursiva proposta por Mo- p. 67) enfatizam que “incentivar o
Portanto, a coleta de dados na raes e Galiazzi (2007, p. 117-128), aluno a produzir maquetes permite
roda de formação torna-se mais possibilitando a emersão de catego- uma participação maior deste no
completa. Um dos participantes, ao rias de análise. Por sua vez, a análise processo de aprendizagem, além de
relatar sua experiência, permite que foi apresentada na roda de formação dar oportunidade ao educador para
os outros concordem, discordem, para confirmação da interpretação perceber o contexto sociocultural em
complementem, façam sugestões, das respostas. Também foram apre- que os estudantes estão inseridos”.
gerando um debate que não existiria sentados aos participantes, de forma Abre uma nova possibilidade de
caso as opiniões fossem captadas resumida, os objetivos da pesquisa interagir com o que está sendo dis-
individualmente. e os procedimentos metodológicos. cutido, criar/aprendendo conceitos 275
Para identificar as concepções A partir das categorias de análi- e é uma maneira de intensificar o
prévias dos sujeitos de pesquisa, foi se, foram gerados metatextos, que processo de ensino-aprendizagem.
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O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia
ler (2008, p. 57) concordam que, “à dar conhecimentos já produzidos, adequada à Geografia Humana.
primeira vista, tais práticas parecem discutir, propor interpretações...”. Outros exemplos citados foram
muito simples e até repetitivas, Os alunos abstraíram as diferen- hidrografia, vulcanismo, vegeta-
porém, tornam o conteúdo teórico ças de relevo e a influência da altitu- ção, paisagem, Geografia Agrária,
interessante e produtivo, e cada uma de no clima. O participante 14 afirma Climatologia, Geologia e placas
delas procura estimular na criança que “o conteúdo abordado exigia tectônicas, entre outros. Francischett
habilidades específicas”. uma compreensão mais detalhada da (2004) afirma que a maquete pode
A diversificação da aula foi região que estava sendo analisada, ir além dos conteúdos de Geografia
apontada pela participante 12, que e a maquete foi a ferramenta ideal física e humana, podendo ser utiliza-
comenta: “vejo que há, sim, ne- para proporcionar tal entendimen- da, inclusive, por outras disciplinas:
cessidade de diversificar as aulas e to”. A participante 1 afirmou que
significar o conteúdo, e a maquete os alunos conseguiram “assimilar as A construção da maquete geográfica
proporciona isso”. Esse pensamento diferenças entre planaltos, planícies pertence à prática pela qual o inves-
é compartilhado por Silva e Muniz tigador pode planejar e atuar sobre
e depressões”. A participante 2 ob-
a realidade. Esta prática pode ser
(2008, p. 64) ao salientar que o pro- servou que os alunos “mostraram-se compartilhada por diferentes campos
fessor deve “complementar ao livro bastante envolvidos com o material, do saber e não ser exclusivamente
didático, ou até mesmo substituí-lo, tanto com a maquete, ao explorarem da Cartografia e Geografia, o que
contribuindo para aprendizagem do seu conteúdo pelo visual e pelo tátil, lhe confere caráter interdisciplinar
ensino da Geografia, com o fim de percebendo melhor as diferenças de (Francischett, 2004, p. 10-11).
despertar no aluno uma percepção relevo, como no mapa, sendo que
crítica da realidade”. foram surgindo questões desde fu- Portanto, os diferentes conteúdos
racões a coordenadas geográficas”. podem apresentar limitações com o
Após a utilização das uso das maquetes, ao mesmo tempo
maquetes em sala de aula Possibilidades da em que podem ser considerados
utilização de maquetes como possibilidades.
A maquete despertou o interesse
dos alunos por provocar a curiosi- Após a oficina de
dade. Eles queriam vê-la, tocá-la Concepção prévia maquetes
e descobrir de que materiais era
composta. Freire (2000, p. 48) A maioria dos participantes da A primeira possibilidade é ex-
aponta que “não haveria criativi- pesquisa acredita que as maquetes plorar vários conteúdos na mesma
dade sem a curiosidade que nos são mais adequadas para conteúdos maquete, em uma mesma expli-
move e que nos põe pacientemente relacionados à Geografia Física. cação, a fim de demonstrar como
impacientes diante do mundo que Parte do grupo entende que os ele- um conteúdo está relacionado com
não fizemos, acrescentando a ele mentos físicos e humanos podem e outros, ou reutilizar a maquete ao
algo que fazemos”. devem ser trabalhados em conjunto, levá-la para a sala de aula mais de
Os alunos ficaram mais partici- e a utilização de maquetes é uma uma vez, quando forem tratados
pativos e ativos, fazendo questio- forma de interligar os conteúdos na assuntos diferentes. Também pode
namentos, facilitando a mediação compreensão da relação sociedade- ser utilizada por outras disciplinas,
do professor no processo de ensino- -natureza. Isso irá depender da cria- além da Geografia.
-aprendizagem ao enriquecer sua tividade do professor, do objetivo de Quanto mais o professor utiliza
explicação e tornar a aula mais pro- sua aula e de sua intencionalidade a maquete com seus alunos, mais
dutiva, resultando em aprendizagem pedagógica no planejamento das ele adquire prática com o recurso
significativa. Almeida (2001, p. 1) atividades, ou seja, o que se busca didático, multiplicando as possibili-
acredita que as maquetes favorecem na discussão. Vários assuntos podem dades de trabalhar com ele pela sua
o desenvolvimento de uma aprendi- ser trabalhados em uma simples experiência prática, como aponta a
zagem significativa, pois “os alunos maquete. participante 7: “Com relação à uti-
precisam se defrontar com proble- Entretanto, outra parte do gru- lização do recurso didático em sala
mas, questões significativas a ‘re- po acredita que a maquete é mais de aula, vejo como outros, também
solver’, o que os leva a movimentar aplicável a conteúdos da Geografia há a necessidade de ser experimen- 277
o corpo, sair da sala de aula, pensar, Física, relacionados ao relevo, e à tado para que cada vez seja melhor
observar, colher informações, estu- Geografia Urbana, não sendo muito aproveitado”.
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O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia
parte da economia. A região norte Limitações da maquete carga horária das aulas de Geografia,
do estado do Rio Grande do Sul no processo de ensino- prejudicando o conteúdo programá-
possui canyons que atraem turistas. aprendizagem tico a ser cumprido no decorrer do
Assim, o relevo também está asso- ano letivo. Há uma expressão muito
ciado ao turismo. Essa atividade utilizada por professores nesse caso:
econômica é um fator que pode Concepção prévia “vencer o conteúdo”. Esse fator é o
trazer riqueza e desenvolvimento que mais dificulta a implementação
econômico/social. Seis participantes citam os tem- de recursos didáticos para uma turma
A maquete é construída a partir pos da escola como fator mais de educandos, como construir uma
do relevo. Entretanto, o professor relevante relativo aos limites do maquete em sala de aula, pois o tem-
tem a possibilidade de utilizá-la para uso de maquetes em sala de aula. po “perdido”, gasto na construção de
abordar outros conteúdos, como, Salientam que a maquete é um maquetes, poderia ser utilizado para
por exemplo, clima, vegetação, uso trabalho complexo, minucioso, que “ministrar conteúdos”.
exige tempo para ser confeccionado A falta de habilidades manuais foi
e ocupação do solo, hidrografia,
e aplicado em sala de aula. No início citada como uma desvantagem. Há
estratégias de guerra, transporte
do ano, há sempre novidades na pessoas que têm maior dificuldade
e logística, agricultura e turismo.
escola, como professores, colegas, com trabalhos manuais, tanto pro-
Cada conteúdo tem um recurso
horários, disciplinas, etc. Na adap- fessores quanto alunos. Nesse caso,
didático mais indicado. A maquete
tação a essas novidades, os colegas a maquete poderia ser também uma
pode não ser o recurso mais indi-
são apresentados para que haja um vantagem, a de trabalhar e aprimorar
cado para determinados conteúdos.
entrosamento da turma, e assim, o seus pontos fracos. Afinal, é para
O participante 9 considera que o
tempo que deveria ser utilizado para isso que existe o processo de ensino-
conteúdo que foi trabalhado com
ministrar conteúdos é reduzido. A -aprendizagem. O objetivo de se
sua turma, socialismo e capitalismo,
disciplina de Geografia tem uma construir maquetes não é gerar um
não encontra na maquete um recurso
carga horária mais baixa que outras resultado “feio” ou “bonito” e, sim,
pertinente.
disciplinas, como Língua Portuguesa o aprendizado efetivo.
Não existe uma fórmula especí-
e Matemática, geralmente com aulas A falta de adequação ao conteú-
fica para elaborar um planejamento em apenas um dia da semana. do é outro item citado, o que pode
de aula utilizando maquetes, apenas No decorrer do ano letivo, pode ocorrer assim como em todos os
princípios básicos, elementares. ocorrer a coincidência de a maioria recursos didáticos, cabendo ao pro-
Cada professor deve planejar de dos feriados colidirem com os dias fessor avaliar e analisar o recurso
acordo com o conhecimento de sua das aulas de Geografia, como, por mais adequado para cada conteúdo.
turma. Silva e Muniz (2008, p. 67) exemplo, no ano de 2012, em que Para saber explorá-lo corretamente,
enfatizam que não tem “receitas a maioria dos feriados ocorreu nas o professor deve testar o recurso
para o ensino de tal disciplina, mas sextas-feiras. Na cidade do Rio antes de leva-lo para a sala de aula.
construir propostas que trabalhem Grande, quando ocorrem chuvas A produção de lixo, citada por
a criatividade dos educadores nas fortes, os alunos não comparecem às três participantes, também se pôde
diferentes formas de abordar os aulas, e, assim, o conteúdo progra- observar em algumas escolas, cons-
conteúdos geográficos”. A partilha mado para aquele dia é adiado para tituindo outra limitação. O professor
em roda proporciona exatamente a próxima semana. Além disso, as solicita a construção de maquetes
isto: que os participantes exerçam escolas sempre inserem em sua pro- por alunos e, após construí-las, não
sua criatividade para planejar suas gramação anual eventos comemora- apresentam mais utilidade: elas
aulas, aplicar o planejamento e de- tivos em datas como o dia do índio, acabam tornando-se lixo. Na pro-
pois realizar uma reflexão teórica. do meio ambiente, festa junina, dia posta de construção de maquete pelo
Assim, mesmo que eventualmente o da criança, dia dos professores, sem professor, a maquete é levada pronta
plano não tenha “dado certo”, trata- esquecer as competições de jogos, para a sala de aula e pode ser guarda-
-se de uma contribuição para outros feira de ciências, etc. As aulas tam- da e reutilizada, mediante adaptação,
participantes. Além disto, uma aula bém são canceladas, algumas vezes, por professores de outras disciplinas
planejada pode não ter “dado certo” por reunião dos professores ou e por alunos de outros anos, sendo
com uma turma, mas pode “dar cer- mesmo por falta de algum professor. um material permanente. 279
to” com outra, por tratar-se de uma Todos esses fatores resultam em O elevado número de alunos em
questão subjetiva e contextual. uma diminuição significativa da sala de aula exige um planejamento
específico para contornar o pro- tempo para confeccionar uma ma- isso, a oportunidade de conhecer
blema. Quando o número é muito quete. Foi considerado que desen- variados tipos de recursos didá-
grande, é necessário dividir a sala em volver uma maquete em sala de aula ticos durante a formação docente
dois grupos para que todos possam ocuparia o tempo de desenvolver permite ao futuro professor uma
visualizar a maquete. Caso o profes- o conteúdo. visão mais ampla das possibilidades
sor deseje construir a maquete em O tamanho e a idade média da de ferramentas para utilizá-las em
sala de aula, terá que analisar o perfil turma podem ser um fator limitante. sala de aula.
da turma antes de propor o trabalho. A participante 7 considerou que o O espaço físico da escola para
Muitos professores também ima- recurso seria mais bem aproveitado guardar os materiais e o transporte
ginam que a falta de recursos mate- para “uma turma menor, de 5º ou 6º do material também foi um fator
riais seja um empecilho para a cons- ano, idade em que a capacidade de considerado pela participante 12
trução de maquetes. Escolas públicas abstração é mais difícil, a maquete como limitante. As maquetes pro-
disponibilizam poucos recursos, seria mais atrativa para os educan- duzidas são grandes, e, em alguns
e muitas vezes os alunos também dos”. Esse fator também depende horários, o transporte público sofre
não têm condições financeiras de de o professor conhecer seus alunos com uma grande lotação.
comprar materiais. Cabe salientar para saber os fatores que geram Antes da realização da oficina
que as maquetes construídas na interesse e motivação em sala de de maquetes, alguns alunos ima-
oficina de maquetes tiveram custos aula. Por outro lado, a participante 1 ginavam que os custos referentes
inferiores aos que os participantes considerou uma limitação construir aos materiais seriam superiores. Na
imaginavam, o que será apresentado maquetes junto ao ensino fundamen- oficina de maquetes, provou-se que
posteriormente. tal, ao afirmar: o material teve baixo custo. O custo
Outras desvantagens, não citadas pode ser limitante para desenvolver
pelos participantes, depois foram Após ter participado das construções
das maquetes, viu-se o quanto seria trabalhos desse tipo em escolas pú-
identificadas em grupo, onde todos
trabalhoso para os alunos do Ensino blicas. O mapa do Rio Grande do Sul
concordaram que poderiam ser
Fundamental. Neste caso, seriam custou 35 reais, mas é um material
limitações. Construir a maquete necessárias várias aulas, pois é uma permanente, que pode ser encontra-
junto aos alunos produz sujeira em atividade complexa e que requer do nas próprias escolas ou em biblio-
sala de aula, com massa corrida, muito tempo para a construção. Po- tecas. Os outros mapas tiveram um
papel picado, cola, papelão e tinta, rém, é um trabalho rico e que pode
custo de 4 reais cada um, plotados
que pode manchar o mobiliário e as ser explorado nas aulas de Geografia.
em uma copiadora, coloridos. A cola
roupas dos alunos. Esse é um ponto
Alguns consideraram que a ma- branca custou por volta de 8 reais o
inevitável, e deve ser separado um
quete limita-se a explicar aspectos litro, suficiente para as três maque-
tempo ao final da aula para limpar
físicos, não sendo um recurso indi- tes. A massa corrida custou por volta
tudo e organizar os materiais. Tam-
cado a aspectos humanos. de 10 reais a lata, suficiente para as
bém tem o material cortante utiliza-
O participante 4 citou a dificul- duas maquetes. Entretanto, temos a
do na produção da maquete, como
tesouras e estiletes. Para o corte do dade de planejar as aulas com a opção de acabamento com jornal e
papelão, é necessário uma tesoura maquete por não ter o conhecimento cola, material alternativo com baixo
grande, não uma tesoura escolar. didático de como utilizar esse ma- custo. O papel carbono custa em
No caso de maquetes de isopor, a terial. Durante as conversas em for- torno de 50 centavos a folha. Foram
máquina para cortar isopor possui mação em roda, outros participantes necessárias 9 folhas coladas para a
um fio com alta temperatura. relataram essa mesma dificuldade. maior maquete, a do Rio Grande do
Entretanto, ao final do trabalho, Sul, que também podem ser reapro-
Após a oficina todos conseguiram desenvolver veitada para outras maquetes. Para
de maquetes atividades com as maquetes em pintar, foi utilizada tinta guache,
sala de aula. gasto por volta de 10 reais entre
Um aspecto já citado na concep- O pré-conceito com relação à as três maquetes. Materiais como
ção prévia foi o tempo de confecção maquete foi apontado pelo parti- caixas de papelão e jornal foram re-
da maquete. O grupo acredita que, cipante 10. Esse fator pode estar aproveitados, portanto, sem custos,
280 durante a carreira docente, com presente na concepção de outros enquanto outros são considerados
uma grande quantidade de tarefas professores, que julgam o recurso de uso permanente, como tesoura,
a serem desenvolvidas, não terão didático antes de utilizá-lo. Por régua, lápis e pincel.
Educação Unisinos
O uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem segundo licenciandos em Geografia
Após a utilização das a aula de forma que o recurso auxilie mútua entre o grupo e os pesqui-
maquetes em sala no processo de mediação. A parti- sadores. A participante 11 afirmou
de aula cipante 12 colocou que, com todos que, “antes da oficina, não fazia
os outros recursos, ela conseguiu ideia das várias etapas necessárias
A participante 12 relatou que não trabalhar com facilidade, mas que, para a construção de uma maquete”.
“explorou” a maquete o suficiente, com a maquete, sentiu dificuldade Pode-se afirmar que a metodologia
pois o mapa “supriu melhor” as ne- para planejar uma aula. A professora utilizada na investigação – vincu-
cessidades para aquela aula, sendo supervisora da escola Estadual Lilia lando a roda de formação em rede,
que a maquete foi levada como um Neves sugeriu planejar a aula com considerada como uma comunida-
complemento, e não como “atração o mapa do lado, pois, a partir do de aprendente –, a análise textual
principal”. A participante considera conhecimento do mapa, é possível discursiva, mostrou-se profícua e
que, para utilizar o recurso, o pro- projetar a aula com maquetes. suficiente em relação aos objetivos
fessor deve “realizar leituras para almejados.
saber como utilizar este recurso”. Consideraçoes finais Quanto às potencialidades da
A maquete foi utilizada em mais de maquete, o primeiro fator que se
uma aula por essa participante. Após Após concluir a pesquisa, ob- destaca é a capacidade de gerar
expor essa dificuldade, os outros servou-se que algumas concepções curiosidade. O fato de ser construída
participantes da roda discutiram e permaneceram desde as primeiras manualmente torna cada maquete
compartilharam sugestões. A se- análises junto ao grupo, como, por um elemento único, um trabalho
gunda vez que a participante usou o exemplo, em relação ao tempo ne- artístico que atrai a atenção do alu-
recurso, considerou que a maquete cessário para a construção da maque- no. Isso desperta o interesse e gera
contribuiu para sua aula, sempre te. Os participantes acreditavam que uma maior motivação por participar
utilizando-a com o auxílio do mapa esse seria um limite para o desen- da aula, e este envolvimento com o
para complementar as informações. volvimento do trabalho, concepção material intensifica o processo de
Alguns participantes disseram ratificada com a aplicação prática ensino-aprendizagem. O segundo
não saber como “encaixar” a ma- no processo da investigação. Outras fator é a forma de visualização tri-
quete em seu planejamento de aula. concepções transformaram-se ao dimensional, que torna mais clara
A coordenadora do grupo lembrou longo do processo, como, por exem- a abstração do aluno em alguns
que “a maquete é um recurso para plo, os participantes acreditavam que conteúdos, sendo este o diferencial
facilitar o processo de ensino-apren- a confecção de maquetes poderia da maquete em relação aos outros
dizagem, não para dificultar, por- tornar-se, basicamente, uma produ- recursos didáticos.
tanto, deveria ser usada como uma ção de “lixo”, deixar de ter utilidade. Relativo às possibilidades, ob-
aliada ao processo”. O participante Entretanto, ao término, perceberam servamos que é possível utilizar re-
14 destacou que a maior dificuldade que poderiam reutilizar a mesma cursos adicionais junto às maquetes
dos participantes é que eles não têm maquete várias vezes, já prontas, para complementar o processo de
o domínio da ferramenta. Apesar para abordar diversos assuntos. ensino-aprendizagem. Observou-
de ter feito parte da construção da Também se percebeu que, du- -se, também, que é possível utilizar
maquete, considera que não possui rante as concepções prévias, os a maquete para qualquer conteúdo.
conhecimento suficiente para traba- participantes apontaram poucas Entretanto, parte do grupo acredita
lhar em sala de aula. limitações quanto ao uso de maque- que é um recurso mais indicado para
O participante 6 considerou que, tes como recurso didático. Somente conteúdos da Geografia Física.
em determinados conteúdos, como após a conclusão das atividades é A limitação do uso da maquete
a parte política, por exemplo, a que perceberam a incidência de um como recurso didático mais citada
maquete não é o recurso didático maior número de limitações quanto pelo grupo se refere ao tempo. Tanto
mais indicado, pois o mapa pode às dificuldades relacionadas à sua o tempo do professor para construir
suprir a necessidade do professor. construção e às novas percepções maquetes e levar pronta para a sala
A coordenadora do grupo lembrou sobre a aplicação desse recurso em de aula, quanto o tempo de constru-
que todos os recursos didáticos só sala de aula. ção junto aos alunos.
serão trabalhados a partir da leitura Os resultados da oficina supera- Um professor consciente das
de mundo, e o professor deve ter ram a necessidade de coletar dados dimensões da sua tarefa não pode 281
domínio do recurso antes de levá-lo para a atual pesquisa, pois contribu- levar um recurso didático para a
para a sala de aula, ou seja, planejar íram também para a aprendizagem sala de aula sem antes testar. Seja
um jogo, um filme, um livro ou uma reflexões sobre o processo de ensino- Unioeste, 28 p. Disponível em: http://
maquete. Cada recurso pode ser mais -aprendizagem e que outras possam www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/
arquivos/File/producoes_pde/artigo_so-
ou menos indicado, conforme carac- vir a ser realizadas nesta temática.
nia_mary_manfroi_nacke.pdf. Acesso
terísticas peculiares da turma. A ex-
em: 05/06/2014.
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contribuem para avaliar qual recurso 2008. Alfabetização cartográfica na
didático é mais adequado para cada ALMEIDA, R.D. de. 2001. Do desenho ao escola: uma leitura feita através dos ma-
mapa: iniciação cartográfica na escola.
ocasião, e assim, formular seus pas. Universidade Federal de Roraima.
São Paulo, Contexto, 115 p. Revista Acta Geográfica, II(4):55-65.
próprios conceitos. Nesse sentido,
BRANDÃO, C.R. 2003. A pergunta a várias Disponível em: ufrr.br/revista/index.php/
a oficina de maquetes proporcionou mãos: a experiência da partilha através actageo/article/view/192/374. Acesso em:
experiência aos participantes. Ou da pesquisa na educação. São Paulo, 05/06/2014.
seja, o professor, mesmo sabendo na Cortez, 318 p. QUINTELA, M.A. 2003. O Brasil em relevo:
teoria como construir uma maquete, CASTROGIOVANNI, A.C. 2000. Apreensão da construção de maquetes de relevo,
deve passar pelo processo prático e e compreensão do espaço geográfico. como trabalho escolar, a sua utilização
sentir as dificuldades e facilidades In: A.C. CASTROGIOVANNI; H.C. como recurso didático por alunos deficien-
CALLAI; N.A. KAERCHER. Ensino
para formular uma concepção a tes visuais. In: XXI Congresso Brasileiro
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partir de sua experiência vivenciada,
no cotidiano. Porto Alegre, Mediação, Disponível em: http://www.cartografia.
e não imaginária, do processo de p. 81-93. org.br/xxi_cbc/280-E25.pdf. Acesso em:
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ticipantes têm uma noção mais clara gógico de apoio ao ensino de cartografia: SIMIELLI, M.E.; GIRARDI, G.; BROM-
sobre a utilização de maquetes no elaboração e funcionabilidade. Revista BERG, P.; MORONE, R.; RAIMUNDO,
processo de ensino-aprendizagem, GeoNotas, 7(1). Disponível em: http:// S.L. 1991. Do plano ao tridimensional: a
propiciando também ao leitor uma www.dge.uem.br//geonotas/vol7-1/clau- maquete como recurso didático. Boletim
dia.shtml. Acesso em: 21/09/2009. Paulista de Geografia, 70:5-21.
nova concepção sobre esse recurso
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tância da discussão sobre recursos Comunicação. Disponível em: http:// http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/
didáticos com alunos em processo bocc.ubi.pt/pag/francischett-mafalda- geografica/article/view/3145. Acesso em:
de formação. O PIBID proporcio- -representacoes-cartograficas.pdf. Acesso 05/06/2014.
na discussões teóricas e trabalhos em: 05/06/2014. WARSCHAUER, C. 2001. Rodas em rede:
práticos, fomentando a práxis no FREIRE, P. 2000. Pedagogia da Indignação. oportunidades formativas na escola e fora
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a Educação através de pesquisas 223 p.
científicas aliadas às vivências em NACKE, S.M.M.; MARTINS, G. 2007.
sala de aula. Portanto, espera-se que A maquete cartográfica como recurso Submetido: 09/06/2014
esta pesquisa tenha contribuído com pedagógico no ensino Médio. Cascavel, Aceito: 02/03/2015
Educação Unisinos