Tese_Kevin_Ramos
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Julho de 2022
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 2
Declaração de integridade.
Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo
que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou
elaboração.
Enquadramento institucional.
(UIDB/00730/2020).
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 3
Resumo
terapêuticos também não são claros. Este trabalho apresenta dados preliminares sobre a
consiste em 10 sessões e 90 minutos (uma por semana). Apesar de o programa não ter
produzido uma diminuição significativa ao nível da Ansiedade Social, houve uma diminuição
do Evitamento Social. Os dados sugerem que os ganhos terapêuticos observados poderão ser
Abstract
various populations, but limited evidence exists on its therapeutic gains for Social Anxiety
therapeutic effects clear. This study presents preliminary data regarding the efficacy and
diagnosed with SAD (57.1% girls) between the ages of 15 and 18. The intervention
Although the program couldn’t produce a significant decrease in social anxiety, there was a
significant decrease in the levels of social avoidance. The data suggests that the observed
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 4
compassion and the decrease in external shame and self-criticism). The promotion of
adolescents.
situações sociais nas quais o indivíduo possa ser escrutinado, humilhado, ridicularizado,
julgado ou, no geral, ser avaliado negativamente pelos outros (American Psychiatric
(Merikangas et al., 2010). A maior prevalência do diagnóstico de PAS nesta faixa etária
físico, bem como a exposição a uma ampla gama de contextos sociais novos (Ranta et al.,
2015).
adolescência é uma fase pautada pelo aumento da importância atribuída à aprovação por
pares e grupos, pelas “pressões sociais”, pelas expectativas sobre o funcionamento autónomo,
amorosas e sexuais (Ranta et al., 2015), e as alterações a nível físico têm igualmente fortes
implicações, já que o próprio nível estético começa a ser mais valorizado por esta altura
desenvolver PAS. Esta fase é marcada pelo envolvimento em contextos sociais nunca antes
rejeitado. Dentre elas estão estratégias encobertas (e.g. autofócus [Clark & Wells, 1995] e
segurança e evitamento [Clark & Wells, 1995]). Estas estratégias, no entanto, podem servir
(Teo et al., 2013). Estes comportamentos contribuem para que os adolescentes não passem
pelos desafios desenvolvimentais desta fase do ciclo de vida (Hofmann & DiBartolo, 2000) -
sociais e do funcionamento académico e ocupacional (Alden & Taylor, 2004; Bruch et al.,
2003). Por exemplo, a ansiedade social está associada a um menor número de amigos,
amizades menos íntimas, níveis inferiores de aceitação pelos pares e interações mais
negativas com colegas (Erath et al., 2007; García-López et al., 2011; Greco & Morris, 2005;
La Greca & Harrison, 2005; La Greca & Lopez, 1998; Ranta et al. 2009, 2012). Quando não
sobre a PAS na adolescência, nomeadamente no que se refere aos fatores que a mantêm e
que, portanto, podem ser vias de modificar o seu curso. No âmbito do modelo focado na
2019).
O autocriticismo pode ser definido como a expressão de desprezo ou ódio dirigido por
(Werner et al., 2012), de forma a tentar prevenir futuros erros (Gilbert, 1997). Este partilha
recurso a processos de inibição (Longe et al., 2010) e está associada à ativação do “sistema
de ameaça” (Gilbert & Proctor, 2006), que produz sintomas de ansiedade. Este sistema tem
processamento da informação numa perspetiva “melhor prevenir que remediar”, o que pode
levar a enviesamentos atencionais (e.g. atenção seletiva a pistas que confirmem a presença de
negativa inferiorizante e de desvalorização do “eu” (Muris, 2015), que tem como função a
advinda das perceções e atitudes do sujeito sobre ele próprio (Gilbert, 2010).
autocompaixão é a adoção dessa postura para com nós mesmos, numa atitude de aceitação e
expressão de compaixão e empatia aos outros (Longe et al., 2010), e está associada à ativação
sistema tem como função principal regular os sistemas de ameaça e de drive, proporcionando
Gumley, 2012). Existem, também, vários estudos sobre a associação entre estes construtos e a
PAS (e os seus processos específicos), bem como sobre o eventual papel desses construtos na
adultos (Cox et al., 2004; Lazarus & Shahar, 2018; Shahar et al., 2014) e foi identificado
Schanche, 2013). Por exemplo, Cox et al. (2000) verificaram que sujeitos com PAS têm um
autocriticismo, em média, três vezes superior em relação aos sujeitos com Perturbação de
manutenção da ansiedade social (Fergus et al., 2010; Hedman et al., 2013; Schuster et al.,
2021; Swee et al., 2021), para além de estar associada a fatores como o processamento pós-
situacional (ou autópsia) e crenças de inadequação social (Crozier, 2001). A hipótese de que
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 9
a vergonha é um fator importante da PAS também é reforçada por estudos que revelaram um
adultos (Boersma et al., 2015; Cândea & Szentágotai-Tătar, 2018). Por sua vez, a
2016; Werner et al., 2012) e adolescentes (Gill, 2018), e foi considerada um fator protetor
contra a PAS (Cuppage et al., 2017; Schanche, 2013). A autocompaixão está, igualmente,
Assim sendo, estes processos poderão ser úteis na modificação do curso da PAS,
tendo por base a Terapia Focada na Compaixão (TFC; Gilbert, 2009) que foi especialmente
desenvolvida para intervir nestes construtos. A TFC tem como foco principal a diminuição do
segurança. A compaixão dirigida a si próprio é uma competência treinável que pode aliviar
alguns dos sintomas da PAS (Arch et al., 2014; Bates et al., 2020; Boersma et al., 2015;
Siegel & Kocovski, 2020; Stevenson et al., 2019) bem como contrariar processos de
manutenção desses sintomas, como a “autópsia” da situação (Blackie & Kocovski, 2018), a
ansiedade antecipatória (Harwood & Kocovski, 2017) e a vergonha (Cȃndea & Szentágotai-
Uma metanálise de Kirby et al. (2017) e uma revisão sistemática de Leaviss e Uttley
2017) e diminuição dos níveis de ansiedade e autocriticismo (Leaviss & Uttley, 2014),
sido demonstrada por Gharraee et al. (2018) através de um Ensaio Controlado com
Aleatorização (ECA) que a TFC é eficaz na redução de sintomas de PAS, níveis de vergonha
Stevenson et al. (2019) terem verificado uma diminuição dos sintomas de ansiedade social
em adultos após uma intervenção de duas semanas baseada na compaixão (embora não fosse
explicitamente TFC), esta diminuição não pareceu ter sido mediada pelas mudanças
baseada na compaixão para alterar o curso da PAS, mais estudos são necessários para
adolescentes. Tanto quanto é do nosso conhecimento, não existe nenhum estudo sobre a
eficácia da TFC em adolescentes diagnosticados com PAS, não obstante a evidência de uma
adolescentes (Gill et al., 2018). Por outro lado, mesmo em amostra de adultos, não é claro
Com este estudo, procurámos testar (1) a eficácia da TFC enquanto estratégia de
intervenção para a PAS na população adolescente e (2) de que forma os eventuais ganhos
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 11
dos processos desse modelo teórico. Dada a evidência prévia da eficácia da TFC em adultos
numa ampla gama de perturbações (Leaviss & Uttley, 2014) e, em particular, na PAS em
adultos (Boersma et al., 2015; Gharraee et al., 2018), é expectável que sejam encontradas
autocompaixão. Acresce que, face à evidência disponível que mostra uma relação entre os
por outro (Hayes, et al., 2016; Lazarus & Shahar, 2018; Swee et al., 2021), hipotetizamos que
pré- ao pós-intervenção.
Metodologia
num Ensaio Clínico Aleatorizado, usando como grupo de controlo os sujeitos em “lista de
espera”.
Foram contactadas várias escolas de todo o país, a fim de obter as autorizações das
dos 10º e 11º anos, com uma caracterização detalhada do estudo em questão, nomeadamente
confidencialidade dos dados. Os alunos interessados que obtiveram a autorização dos pais
versão portuguesa da Escala de Ansiedade Social para Adolescentes (Cunha et al., 2004).
Aqueles que pontuaram mais de um desvio-padrão acima da média referente aos dados
foram convidados a prosseguir para a próxima fase de avaliação. Dos 195 contactados após a
et al., 2010; Versão portuguesa autorizada de Rijo et al., 2016), conduzida por psicólogos
Para cumprir os critérios de inclusão, os sujeitos teriam de ter idades compreendidas entre os
individuais, cada uma com 75 minutos de duração, conduzidas online, com base numa
intervenção focada na compaixão (TFC). Foram também conduzidas duas sessões de reforço
(booster sessions), um e dois meses depois do fim da intervenção, cujos dados não foram
incluídos neste trabalho. O protocolo tem como objetivo fundamental ensinar o adolescente a
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 13
estruturado que inclui quatro módulos: (a) A mente de acordo com a TFC, (b) Promoção do
compassivo, e (d) Últimas notas e continuar numa viagem compassiva. Cada um inclui
Amostra
A amostra era ficou constituída por 21 adolescentes com idades compreendidas entre
1. A maioria dos participantes eram do sexo feminino (57.1%), do 11º ano de escolaridade
(52.4%), de famílias de nível socioeconómico (NSE) médio (47.6%) e que nunca foram alvo
distribuições por anos escolares e NSE semelhantes ([t(19) = -1.52, p = .17], [ꭓ2(2) = 3.51, p =
.17] e [ꭓ2(2) = 1.72, p = .42] respetivamente). Apesar de os rapazes e raparigas terem recebido,
ter mais intervenções psicológicas prévias [ꭓ2(2) = 8.76, p = .03], particularmente por
Quadro 1
Ano Escolar
Nível socioeconómico
usando o Mini-KID (Sheehan et al., 2010; Versão autorizada de Rijo et al., 2016). Treze dos
adolescentes (61.9%) não apresentaram qualquer outra perturbação comórbida, dois foram
Depressiva Major).
Instrumentos
Avaliação da elegibilidade
critérios de diagnóstico específicos para cada diagnóstico clínico. Este instrumento ajuda o
versão original, foi excelente em todas as perturbações, exceto na distimia (Sheehan et al.,
2010). A versão portuguesa foi criada através de uma tradução e retroversão cuidadosas e foi
Instrumentos de autorresposta
(EAESSA)
(EAESSA - Cunha, Pinto-Gouveia & Salvador, 2008) é constituída por 34 itens que
respostas variam entre 1 ("nada ansioso" e "nunca evito") a 5 ("muitíssimo ansioso" e "evito
Cronbach de .91 e .87 e uma fidelidade teste-reteste de .74 e .71 (para as subescalas
interna de α = .972 (momento T1) e α = .886 (momento T2), e a subescala “Evitamento” teve
índices de α = .946 (momento T1) e α = .937 (momento T2), pelo que rondaram entre valores
2013) avalia três dimensões da Autocompaixão: (1) a tendência do adolescente para ser
amável e compreensivo consigo próprio; (2) a visão da sua experiência como parte da
consistência interna razoável a boa (variando entre α = .69 e α = .85), uma estabilidade
respetivamente; sendo considerados inaceitáveis (Pestana & Gageiro, 2008). Este fator não
Cherpe, & Pinto-Gouveia, 2014) mede o grau em que o adolescente perceciona avaliações
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 17
negativas relativas a si próprio por parte das pessoas que o rodeiam. Tem 8 itens pontuáveis
entre 0 (“Nunca”) e 4 (“Sempre”); pontuações mais elevadas indicam níveis mais elevados de
vergonha externa. A escala apresenta uma consistência interna excelente (α = .930), uma
Neste estudo, esta escala obteve índices de consistência interna excelentes: α = .929 e
(FSCRS-A)
erro através de 22 itens que são respondidos entre as pontuações 0 (“Não sou assim”) e 4
Tranquilizador e (3) Eu Detestado. A escala possui. Esta escala tem consistências internas
que variam entre razoável e muito boa (entre α = .75 e α = .90), uma boa estabilidade
Análise de dados
foram conduzidas através do Statistical Package for the Social Sciences (IBMS SPSS, versão
(T1). Para cada uma delas (Ansiedade Social, Autocompaixão, Autocriticismo e Vergonha
Externa), calculámos Univariate Latent Change Score (LCS), de forma a sumarizar os dados
longitudinais e medir as mudanças entre os dois momentos (adotando, assim, uma medida
valores medidos entre T0 e T1 foi tratada como uma variável latente, o que permite estimar a
(significativos) sugerem que, em média, a pontuações dos sujeitos diminuiu entre T1 e T2.
ansiedade social, calculámos Two-Wave LCS models (2W-LCS), também com o programa
ansiedade.
As análises foram efetuadas tanto ao nível das escalas completas de cada variável-
Resultados
Foram realizadas Univariate LCS Models para cada construto medido (ansiedade
Quadro 2
2
Construto µT1 (DP) µT2 (DP) µΔ σ Δ
Ansiedade Social
(que representa o grau em que os indivíduos diferem nas suas mudanças) também foi
adquirida após a intervenção; o efeito da TFC sobre os níveis de ansiedade não é homogéneo
em todos os participantes).
Evitamento Social
Vergonha Externa
Autocompaixão
Autocriticismo
diminuição nas subescalas “Eu inadequado” e “Eu detestado” (todas elas mudanças
Foram estimados Two-Wave LCS Models para avaliar eventuais associações entre as
Social.
Quadro 3
em T1; Relação entre pontuações iniciais nos construtos e mudança na AS; R2 do modelo
mudanças nos níveis de vergonha externa e as mudanças nos níveis de ansiedade social, pelo
que uma maior diminuição na vergonha externa esteve associada a uma maior diminuição na
ansiedade social.
Não houve uma associação significativa entre as mudanças nas pontuações totais da
O fator “Autocrítica” medido na SCS-A também teve uma relação significativa com a
ansiedade social. Pontuações mais baixas nesta subescala corresponderam a níveis mais altos
de autocriticismo, pelo que: quanto maior foi o aumento das pontuações nesta dimensão,
subescalas “Eu inadequado” e “Eu detestado” (no momento T1) apresentaram uma correlação
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 23
positiva e significativa com a ansiedade social no momento T1. Também se verificou uma
ansiedade social. Isto é, (1) pontuações mais elevadas nas dimensões “Eu inadequado” e “Eu
detestado” e (2) pontuações mais baixas na dimensão “Eu tranquilizador” tenderam a estar
nesta faceta tende a associar-se a uma maior diminuição na ansiedade social. Há uma relação
T1.
foram avaliadas eventuais associações entre as mudanças observadas, desta vez, com o
Quadro 4
em T1; Relação entre pontuações iniciais nos construtos e mudança na ES; R2 do modelo
mudanças nos níveis de vergonha externa e as mudanças nos níveis de evitamento social.
Também não houve uma associação significativa entre estes dois construtos no momento T1.
não houve uma associação significativa entre as mudanças nas pontuações e as mudanças no
evitamento social.
O fator “Autocrítica” medido na SCS-A também teve uma relação significativa com o
evitamento social. Pontuações mais baixas nesta subescala corresponderam a níveis mais
elevados de autocriticismo, pelo que: quanto maior foi o aumento das pontuações nesta
dimensão (isto é, quanto mais diminuiu o autocriticismo), mais diminuiu o evitamento social.
subescalas “Eu inadequado” e “Eu detestado” (no momento T1) apresentaram uma correlação
positiva e significativa com o evitamento social no momento T1. Isto é, (1) pontuações mais
elevadas nas dimensões “Eu inadequado” e “Eu detestado” tenderam a estar associadas a
pontuações totais na SCS-A e o evitamento social (e, mais especificamente, nas dimensões
maior é a pontuação, menor é o isolamento; logo, quanto maior foi o aumento na pontuação
T1.
Discussão
resultados obtidos contribuem para o suporte empírico do efeito da TFC sobre os construtos
população adolescente).
De acordo com o esperado com base na literatura (Gharraee et al., 2018; Kirby et al.,
2017; Leaviss & Uttley, 2014), os resultados sugeriram que a intervenção CFT@TeenSAD
vergonha externa nos adolescentes. Esta observação apoia a ideia de que o programa
al., 2018), a intervenção não produziu mudanças na sintomatologia ansiosa. Isto poderá
sugerir que o programa CFT@TeenSAD não produz mudanças na ansiedade social. Ainda
com as diferenças interindividuais associadas a (1) características dos participantes e/ou (2)
fatores contextuais do processo terapêutico de cada sujeito. Assim, uma intervenção que
poderá ser muito benéfica para alguns sujeitos pode ter efeitos mais modestos noutros. Estas
diferenças interindividuais poderão, em parte, ser explicadas pelo efeito de construtos como
os “medos, bloqueios e resistências à compaixão” (Boersma et al., 2015), fatores estes que
estandardização das intervenções exigida em prol do rigor científico dos estudos de eficácia
também poderá comprometer a validade externa dos dados, uma vez que, num contexto de
Por outro lado, algumas variáveis do contexto poderão ter interferido no processo
interventivo. Por exemplo, alguns sujeitos passaram pelo processo terapêutico durante os
eventuais impactos positivos na diminuição dos níveis de ansiedade social, ainda que
Outros fatores que poderão estar em jogo são a possível “dose insuficiente” da
intervenção (poderão ser necessárias mais sessões para observar mudanças ao nível da
ansiedade). O segundo momento de avaliação também pode ter sido um momento demasiado
De acordo com aquilo que se esperava, foi observada uma diminuição nos níveis de
Evitamento Social. Isto sugere que o programa CFT@TeenSAD produz mudanças nos
uma vez que se sabe que uma grande parte das complicações associadas à PAS provêm
desses evitamentos (Hofmann & DiBartolo, 2000), para além de constituírem um fator de
a ansiedade (no momento T1) foram congruentes com o esperado: globalmente, existe (1)
uma relação negativa entre os fatores protetores e a ansiedade social (exceto o fator
“Condição humana”) e (2) uma relação positiva entre os fatores de risco e a ansiedade social
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 29
entre os processos específicos da TFC e o evitamento (no momento T1): (1) uma associação
e “Condição humana”) e (2) uma associação positiva entre os fatores de risco e a ansiedade
envolvidos nos ganhos terapêuticos. O cariz longitudinal deste estudo permitiu explorar
essas hipóteses.
diminuição da ansiedade social) parece ter sido a componente “Eu inadequado”. Isto faz
sentido, tendo em conta que os “sentimentos de inadequação” são uma das características
principais da PAS. A intervenção sobre a vergonha externa também parece ter um impacto
direto nos níveis de Ansiedade Social, tal como era esperado com base na literatura (Cȃndea
& Szentágotai-Tătar, 2018). Em conjunto, estes resultados apoiam a ideia de que, quando há
ganhos terapêuticos ao nível da Ansiedade Social, esses ganhos poderão ser atribuíveis a
contrário do que foi observado no estudo de (Stevenson et al., 2019). Dentre todos os
construtos avaliados, aqueles que parecem ser mais importantes na mudança da ansiedade
ansiedade) não é clara. Podemos, ainda assim, levantar a hipótese de que o ingrediente mais
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 30
negativas são muitas vezes experienciadas sob a forma de pensamentos automáticos, dos
quais os sujeitos não têm controlo. O “princípio ativo” mais importante da adoção de um
inadequado”. A faceta “Isolamento” revelou ser importante; isto pode sugerir que o sujeito
considerar que as próprias dificuldades não são estranhas (ou que não é diferentes dos outros
por ter essas dificuldades) tem um impacto na diminuição do evitamento social. Ao contrário
do que foi observado nos resultados da Ansiedade Social, as mudanças na Vergonha Externa
não estão associadas às mudanças no Evitamento Social, o que sugere que a intervenção
sobre a Vergonha Externa não tem implicações diretas na diminuição do Evitamento Social.
Evitamento Social. Parece ser mais importante adotar uma postura autocompassiva perante a
sociais.
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 31
medida que o sujeito contraria a tendência para o evitamento com o recurso a uma mente
subjacentes aos ganhos terapêuticos. Uma maior compreensão dos construtos envolvidos no
alívio dos sintomas da PAS permitirá aumentar a eficácia das intervenções, uma vez que
ajuda a delinear os aspetos que poderão ser alvo de aprimoramento no desenvolvimento das
acrescido à PAS).
Este estudo apresenta várias limitações. Para além de a amostra ser relativamente
pequena (21 sujeitos), a ausência de um grupo de controlo não permite tirar conclusões
referido anteriormente, também é um fator a ter em conta na interpretação dos dados, uma
vez que pode ter tido interferido na prática das aprendizagens. Recomendamos, para estudos
compaixão ou empenho nas práticas individuais), e o recurso a avaliações “follow up” (por
Ainda que preliminar, este trabalho é inovador na medida em que está incluído no
PAS, para além de ser o primeiro estudo a mostrar os possíveis mecanismos de mudança por
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