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Kevin Tiago de Castro Ramos

TERAPIA FOCADA NA COMPAIXÃO NA


PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE SOCIAL EM
ADOLESCENTES:
MECANISMOS DE MUDANÇA

Dissertação no âmbito do Mestrado em Intervenções Cognitivo-


Comportamentais em Psicologia Clínica e da Saúde orientada pela
Professora Doutora Maria do Céu Salvador e co-orientada pela
Professora Doutora Paula Vagos, apresentada na Faculdade de
Psicologia e Ciência da Educação da Universidade de Coimbra.

Julho de 2022
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 2

Declaração de integridade.

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo

que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou

falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua

elaboração.

Enquadramento institucional.

A presente dissertação foi realizada no âmbito do projeto estratégico do Centro de

Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC)

(UIDB/00730/2020).
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 3

Resumo

A Terapia Focada na Compaixão (TFC) contribuiu para o bem-estar psicológico em várias

populações, mas é escassa a evidência sobre a sua eficácia no tratamento da Perturbação da

Ansiedade Social (PAS) em adolescentes. Os mecanismos subjacentes aos eventuais ganhos

terapêuticos também não são claros. Este trabalho apresenta dados preliminares sobre a

eficácia e mecanismos de mudança da TFC aplicada online a 21 adolescentes (57.1%

raparigas) com PAS, com idades entre os 15 e 18 anos. A intervenção CTF@TeenSAD

consiste em 10 sessões e 90 minutos (uma por semana). Apesar de o programa não ter

produzido uma diminuição significativa ao nível da Ansiedade Social, houve uma diminuição

do Evitamento Social. Os dados sugerem que os ganhos terapêuticos observados poderão ser

explicados por mecanismos específicos da TFC (aumento da autocompaixão e diminuição da

vergonha externa e autocriticismo). A promoção de atitudes e competências compassivas

parece constituir uma abordagem promissora no contexto da PAS em adolescentes.

Palavras-chave: terapia focada na compaixão, perturbação de ansiedade social,

adolescência, eficácia, mecanismos de mudança

Abstract

Compassion Focused Therapy (CFT) has contributed to the psychological well-being of

various populations, but limited evidence exists on its therapeutic gains for Social Anxiety

Disorder (SAD) in adolescence. Furthermore, the mechanisms of change behind its

therapeutic effects clear. This study presents preliminary data regarding the efficacy and

mechanisms of change of an online CFT program that was applied to 21 adolescents

diagnosed with SAD (57.1% girls) between the ages of 15 and 18. The intervention

CFT@TeenSAD consists of 10 long weekly sessions (approximately 90 minutes each).

Although the program couldn’t produce a significant decrease in social anxiety, there was a

significant decrease in the levels of social avoidance. The data suggests that the observed
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therapeutic effects could be attributed CFT-specific mechanisms (the increase in self-

compassion and the decrease in external shame and self-criticism). The promotion of

compassionate skills and self-attitudes might be a promising approach to treat SAD in

adolescents.

Keywords: compassion focused therapy, social anxiety disorder, adolescence,

efficacy, mechanisms of change


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 5

Perturbação de Ansiedade Social na Adolescência

A Perturbação de Ansiedade Social (PAS) é caracterizada pela ansiedade intensa em

situações sociais nas quais o indivíduo possa ser escrutinado, humilhado, ridicularizado,

julgado ou, no geral, ser avaliado negativamente pelos outros (American Psychiatric

Association [APA], 2014). A PAS tende a desenvolver-se na adolescência (Rosellini et al.,

2013), e a prevalência nesta faixa etária, em Portugal, é de aproximadamente 9.1%

(Merikangas et al., 2010). A maior prevalência do diagnóstico de PAS nesta faixa etária

poderá dever-se a razões relacionadas com o desenvolvimento cognitivo, socioemocional e

físico, bem como a exposição a uma ampla gama de contextos sociais novos (Ranta et al.,

2015).

A nível cognitivo, é na adolescência que se desenvolvem processos associados à

etiologia e manutenção da perturbação como a autoconsciência, autorreflexão, tomada de

perspetiva e metacognição (Lerner & Steinberg, 2009). A nível socioemocional, a

adolescência é uma fase pautada pelo aumento da importância atribuída à aprovação por

pares e grupos, pelas “pressões sociais”, pelas expectativas sobre o funcionamento autónomo,

e pelos “medos sociais”. É também na adolescência que surgem as primeiras relações

amorosas e sexuais (Ranta et al., 2015), e as alterações a nível físico têm igualmente fortes

implicações, já que o próprio nível estético começa a ser mais valorizado por esta altura

(Lerner et al., 1991).

Estas mudanças interagem entre si, podendo vulnerabilizar os adolescentes a

desenvolver PAS. Esta fase é marcada pelo envolvimento em contextos sociais nunca antes

experienciados, muitas vezes percecionados como avaliativos (e.g. ambientes educacionais,

vocacionais e recreacionais), bem como por um aumento da importância atribuída à

aprovação e aceitação pelos pares e (Steinberg, 2019). O desenvolvimento de competências

cognitivas que permitem a tomada de consciência de características indesejadas (e.g.


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 6

mudanças físicas típicas da adolescência) ou défices no desempenho, potenciam o recurso a

estratégias que pretendem diminuir a probabilidade de se ser avaliado negativamente e

rejeitado. Dentre elas estão estratégias encobertas (e.g. autofócus [Clark & Wells, 1995] e

autocriticismo [Cox et al., 2002]), e estratégias manifestas (e.g. comportamentos de

segurança e evitamento [Clark & Wells, 1995]). Estas estratégias, no entanto, podem servir

como fatores de manutenção ou exacerbação dos medos sociais.

Há evidência robusta de que, na adolescência, comportamentos de evitamento (e.g.

isolamento social e evitamento de atividades escolares e extracurriculares que envolvam

interações sociais e contextos avaliativos) estão associados ao início e manutenção da PAS

(Teo et al., 2013). Estes comportamentos contribuem para que os adolescentes não passem

pelos desafios desenvolvimentais desta fase do ciclo de vida (Hofmann & DiBartolo, 2000) -

como o desenvolvimento de uma rede de suporte social, e treino de competências de

assertividade e autonomia - levando a potenciais défices numa ampla gama de competências

sociais e do funcionamento académico e ocupacional (Alden & Taylor, 2004; Bruch et al.,

2003). Por exemplo, a ansiedade social está associada a um menor número de amigos,

amizades menos íntimas, níveis inferiores de aceitação pelos pares e interações mais

negativas com colegas (Erath et al., 2007; García-López et al., 2011; Greco & Morris, 2005;

La Greca & Harrison, 2005; La Greca & Lopez, 1998; Ranta et al. 2009, 2012). Quando não

é tratada, a PAS tende a permanecer na idade adulta, e está associada ao desenvolvimento de

perturbações comórbidas, como a perturbação do uso substâncias e a perturbação depressiva

major (Koyuncu et al., 2019).

Dado o curso e impacto da PAS na adolescência, importa aprofundar o conhecimento

sobre a PAS na adolescência, nomeadamente no que se refere aos fatores que a mantêm e

que, portanto, podem ser vias de modificar o seu curso. No âmbito do modelo focado na

compaixão, previamente aplicado à intervenção na PAS em adultos (Boersma et al., 2015),


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estes fatores seriam o autocriticismo, a falta de autocompaixão e a vergonha (Stevenson et al.,

2019).

O autocriticismo pode ser definido como a expressão de desprezo ou ódio dirigido por

um indivíduo a si próprio (Gilbert et al., 2004) numa atitude de desvalorização, hostilidade e

punição (Smart et al., 2016). O autocriticismo é uma estratégia de autocorreção frequente em

contextos em que os sujeitos se sintam ou sejam explicitamente rejeitados ou julgados

(Werner et al., 2012), de forma a tentar prevenir futuros erros (Gilbert, 1997). Este partilha

substratos neuronais envolvidos no “processamento e resolução de erros” e consequente

recurso a processos de inibição (Longe et al., 2010) e está associada à ativação do “sistema

de ameaça” (Gilbert & Proctor, 2006), que produz sintomas de ansiedade. Este sistema tem

como função principal a deteção de potenciais perigos e o incentivo ao acionamento de

estratégias de proteção contra tais perigos. O foco na deteção do perigo leva ao

processamento da informação numa perspetiva “melhor prevenir que remediar”, o que pode

levar a enviesamentos atencionais (e.g. atenção seletiva a pistas que confirmem a presença de

perigo) ou cognitivos (tirar conclusões precipitadas, sem abertura para interpretações

alternativas) (Gilbert, 2009).

Associada ao autocriticismo surge a vergonha: uma atitude cognitivo-emocional

negativa inferiorizante e de desvalorização do “eu” (Muris, 2015), que tem como função a

sinalização de aspetos a esconder ou a eliminar (Gilbert, 1997). A vergonha externa é um

subtipo de vergonha referente à perceção de que o sujeito é avaliado negativamente ou

desvalorizado pelos outros, ao contrário da vergonha interna, que se refere à vergonha

advinda das perceções e atitudes do sujeito sobre ele próprio (Gilbert, 2010).

Por outro lado, a autocompaixão é referida como o “antídoto” do autocriticismo

(Neff, 2003a). A compaixão tem como componentes fundamentais a consciência plena do

sofrimento de alguém acompanhada pela motivação em o aliviar (Gilbert, 2010). A


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autocompaixão é a adoção dessa postura para com nós mesmos, numa atitude de aceitação e

de calor em relação a características indesejadas do “eu”, sofrimento, inadequações ou

fracassos (Neff, 2003a). A autocompaixão partilha substratos neuronais envolvidos na

expressão de compaixão e empatia aos outros (Longe et al., 2010), e está associada à ativação

do sistema de afiliação ou contentamento (ou sistema de soothing) (Gilbert, 2009). Este

sistema tem como função principal regular os sistemas de ameaça e de drive, proporcionando

sentimentos de calma, tranquilidade e bem-estar em momentos em que o organismo não tem

de estar atento a perigos e quando tem recursos suficientes (Gilbert, 2009).

Estes três construtos – autocriticismo, vergonha e autocompaixão - são considerados

processos transdiagnósticos que influenciam a etiologia, manutenção e intervenção em várias

perturbações mentais (Cuppage et al., 2017; Schanche, 2013), estando o autocriticismo

(Werner et al., 2019) e a vergonha (Goffnett et al., 2020) associados à psicopatologia e

problemas comportamentais e a autocompaixão associada à saúde mental (MacBeth &

Gumley, 2012). Existem, também, vários estudos sobre a associação entre estes construtos e a

PAS (e os seus processos específicos), bem como sobre o eventual papel desses construtos na

etiologia da perturbação e a eficácia de determinadas intervenções focadas na compaixão.

O autocriticismo tem uma associação positiva robusta com a ansiedade social em

adultos (Cox et al., 2004; Lazarus & Shahar, 2018; Shahar et al., 2014) e foi identificado

como um fator de risco para o desenvolvimento da perturbação (Cuppage et al., 2017;

Schanche, 2013). Por exemplo, Cox et al. (2000) verificaram que sujeitos com PAS têm um

autocriticismo, em média, três vezes superior em relação aos sujeitos com Perturbação de

Pânico. Há evidência de que a vergonha também tem um papel importante na etiologia e

manutenção da ansiedade social (Fergus et al., 2010; Hedman et al., 2013; Schuster et al.,

2021; Swee et al., 2021), para além de estar associada a fatores como o processamento pós-

situacional (ou autópsia) e crenças de inadequação social (Crozier, 2001). A hipótese de que
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a vergonha é um fator importante da PAS também é reforçada por estudos que revelaram um

alívio nos sintomas após a realização de intervenções focadas na diminuição da vergonha, em

adultos (Boersma et al., 2015; Cândea & Szentágotai-Tătar, 2018). Por sua vez, a

autocompaixão está negativamente associada à ansiedade social em adultos (Hayes et al.,

2016; Werner et al., 2012) e adolescentes (Gill, 2018), e foi considerada um fator protetor

contra a PAS (Cuppage et al., 2017; Schanche, 2013). A autocompaixão está, igualmente,

negativamente associada a processos estabelecidos na literatura como centrais na manutenção

da perturbação, como o processamento pós-situacional (ou “autópsia”) (Blackie & Kocovski,

2018) e a ansiedade antecipatória (Harwood & Kocovski, 2017), na população adulta.

Assim sendo, estes processos poderão ser úteis na modificação do curso da PAS,

tendo por base a Terapia Focada na Compaixão (TFC; Gilbert, 2009) que foi especialmente

desenvolvida para intervir nestes construtos. A TFC tem como foco principal a diminuição do

autocriticismo e da vergonha e o aumento da compaixão – nomeadamente, da autocompaixão

- de forma a regular a sobreativação do sistema de ameaça e a ativar o sistema de afiliação e

segurança. A compaixão dirigida a si próprio é uma competência treinável que pode aliviar

alguns dos sintomas da PAS (Arch et al., 2014; Bates et al., 2020; Boersma et al., 2015;

Siegel & Kocovski, 2020; Stevenson et al., 2019) bem como contrariar processos de

manutenção desses sintomas, como a “autópsia” da situação (Blackie & Kocovski, 2018), a

ansiedade antecipatória (Harwood & Kocovski, 2017) e a vergonha (Cȃndea & Szentágotai-

Tătar, 2018). A redução do autocriticismo também parece levar à redução da ansiedade

social, após uma intervenção cognitivo-comportamental (Cox et al., 2002).

Uma metanálise de Kirby et al. (2017) e uma revisão sistemática de Leaviss e Uttley

(2014) demonstraram que a TFC é uma modalidade potencialmente eficaz na intervenção em

várias perturbações mentais, (e.g. Perturbação Depressiva Major e Perturbações Alimentares)

em adultos, nomeadamente através do aumento dos níveis de autocompaixão (Kirby et al.,


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 10

2017) e diminuição dos níveis de ansiedade e autocriticismo (Leaviss & Uttley, 2014),

embora mais estudos sejam necessários para concretizar os mecanismos de mudança

subjacentes a estas intervenções.

Existe, em específico, evidência da eficácia da TFC no contexto da PAS, tendo esta

sido demonstrada por Gharraee et al. (2018) através de um Ensaio Controlado com

Aleatorização (ECA) que a TFC é eficaz na redução de sintomas de PAS, níveis de vergonha

e autocriticismo e no aumento da qualidade de vida de adultos com PAS. Apesar de

Stevenson et al. (2019) terem verificado uma diminuição dos sintomas de ansiedade social

em adultos após uma intervenção de duas semanas baseada na compaixão (embora não fosse

explicitamente TFC), esta diminuição não pareceu ter sido mediada pelas mudanças

registadas na autocompaixão e autocriticismo. Estes resultados sugerem que as intervenções

baseadas na compaixão – no contexto da ansiedade social – poderão operar através de efeitos

inespecíficos do tratamento, ao invés de elementos específicos da prática da autocompaixão.

Assim, embora evidência prévia sustente a relevância dos construtos e intervenção

baseada na compaixão para alterar o curso da PAS, mais estudos são necessários para

podermos estabelecer a TFC como um tratamento eficaz, particularmente na PAS em

adolescentes. Tanto quanto é do nosso conhecimento, não existe nenhum estudo sobre a

eficácia da TFC em adolescentes diagnosticados com PAS, não obstante a evidência de uma

associação negativa forte entre a autocompaixão e a ansiedade social numa amostra de

adolescentes (Gill et al., 2018). Por outro lado, mesmo em amostra de adultos, não é claro

quais os processos subjacentes à eficácia das intervenções focadas na compaixão,

nomeadamente, se a mudança no autocriticismo, autocompaixão e vergonha são os fatores

responsáveis pelas mudanças nos sintomas de ansiedade social.

Com este estudo, procurámos testar (1) a eficácia da TFC enquanto estratégia de

intervenção para a PAS na população adolescente e (2) de que forma os eventuais ganhos
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terapêuticos na ansiedade social e evitamento social seriam atribuíveis a mudanças a nível

dos processos desse modelo teórico. Dada a evidência prévia da eficácia da TFC em adultos

numa ampla gama de perturbações (Leaviss & Uttley, 2014) e, em particular, na PAS em

adultos (Boersma et al., 2015; Gharraee et al., 2018), é expectável que sejam encontradas

diferenças do pré- ao pós-intervenção também em adolescentes com PAS, com diminuição da

ansiedade social, do evitamento social, da autocritica e da vergonha, e aumento dos níveis de

autocompaixão. Acresce que, face à evidência disponível que mostra uma relação entre os

construtos de autocriticismo, autocompaixão e vergonha, por um lado, e a ansiedade social,

por outro (Hayes, et al., 2016; Lazarus & Shahar, 2018; Swee et al., 2021), hipotetizamos que

a mudança na autocritica, vergonha e autocompaixão explique a mudança nos sintomas do

pré- ao pós-intervenção.

Metodologia

Este trabalho realizou-se com base em dados recolhidos no âmbito do projeto

TeenSAD: Changing the Course of Social Anxiety in Adolescence (ClinicalTrials.gov

Identificador: NCT04979676). O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética da Faculdade

de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), e consistiu

num Ensaio Clínico Aleatorizado, usando como grupo de controlo os sujeitos em “lista de

espera”.

Foram contactadas várias escolas de todo o país, a fim de obter as autorizações das

suas respetivas direções para fazer a recolha da amostra. As 12 escolas interessadas no

projeto enviaram fichas de consentimento informado aos encarregados de educação e alunos

dos 10º e 11º anos, com uma caracterização detalhada do estudo em questão, nomeadamente

sobre a possibilidade de desistência em qualquer momento da investigação e a

confidencialidade dos dados. Os alunos interessados que obtiveram a autorização dos pais

(982 adolescentes entre os 15 e 18 anos de idade) preencheram o primeiro inquérito online: a


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 12

versão portuguesa da Escala de Ansiedade Social para Adolescentes (Cunha et al., 2004).

Aqueles que pontuaram mais de um desvio-padrão acima da média referente aos dados

normativos da população portuguesa para a “pontuação total” do instrumento (255 alunos)

foram convidados a prosseguir para a próxima fase de avaliação. Dos 195 contactados após a

primeira fase, 5 rejeitaram prosseguir e 190 responderam à versão portuguesa do Mini

International Neuropsychiatric Interview for Children and Adolescents – Mini-KID (Sheehan

et al., 2010; Versão portuguesa autorizada de Rijo et al., 2016), conduzida por psicólogos

clínicos experientes. Os resultados desta entrevista serviram de critérios de inclusão e

exclusão na participação da fase de intervenção (i.e., seleção dos participantes do estudo).

Para cumprir os critérios de inclusão, os sujeitos teriam de ter idades compreendidas entre os

15 e os 18 anos no momento da entrevista e um diagnóstico primário de PAS (DSM-5; APA,

2014). Necessidades educativas especiais, a presença de sintomas psicóticos e risco de

suicídio constituíam critério de exclusão. Dos 79 adolescentes que cumpriram os critérios de

inclusão, 22 foram convidados a participar no grupo experimental referente à intervenção

CFT. Tendo-se verificado um dropout, a amostra final incluiu 21 adolescentes .

Após obtido o consentimento informado dos pais e a autorização dos adolescentes,

estes foram alocados à condição de intervenção pela investigadora responsável. Neste

trabalho, apenas a intervenção CFT@TeenSAD será abordada.

O manual de intervenção CFT@TeenSAD (Salvador et al., 2020) foi criado no âmbito

do projeto de investigação TeenSAD: Changing the Course of Social Anxiety in Adolescence

(ClinicalTrials.gov Identificador: NCT04979676). A intervenção consiste em 10 sessões

individuais, cada uma com 75 minutos de duração, conduzidas online, com base numa

intervenção focada na compaixão (TFC). Foram também conduzidas duas sessões de reforço

(booster sessions), um e dois meses depois do fim da intervenção, cujos dados não foram

incluídos neste trabalho. O protocolo tem como objetivo fundamental ensinar o adolescente a
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 13

desenvolver uma mente compassiva , utilizando a autocompaixão e o sistema de

tranquilização ao qual está associada para regulação emocional, no sentido de ultrapassar as

dificuldades relacionadas com a ansiedade social. O CFT@TeenSAD é um programa

estruturado que inclui quatro módulos: (a) A mente de acordo com a TFC, (b) Promoção do

eu-compassivo e de competências para uma mente compassiva, (c) Prática de comportamento

compassivo, e (d) Últimas notas e continuar numa viagem compassiva. Cada um inclui

conteúdo psicoeducativo relativo à temática abordada e exercícios práticos. O papel do

terapeuta é o de desenvolver uma relação terapêutica calorosa e segura, através da qual os

adolescentes são ajudados a desenvolver motivação para praticar a compaixão dirigida ao

próprio e investir no bem-estar.

As variáveis em estudo foram avaliadas em dois momentos: momento T1 (pré-

intervenção) e T2 (pós-intervenção). Estas variáveis foram: (1) a ansiedade e evitamento do

adolescente em situações sociais, (2) a autocompaixão, (3) a vergonha externa e (4) o

autocriticismo, recorrendo às respetivas escalas de autorresposta.

Amostra

A amostra era ficou constituída por 21 adolescentes com idades compreendidas entre

os 15 e 18 anos, cujas características sociodemográficas se encontram detalhadas no quadro

1. A maioria dos participantes eram do sexo feminino (57.1%), do 11º ano de escolaridade

(52.4%), de famílias de nível socioeconómico (NSE) médio (47.6%) e que nunca foram alvo

de intervenção psicológica (47.6%). Rapazes e raparigas apresentavam idades médias,

distribuições por anos escolares e NSE semelhantes ([t(19) = -1.52, p = .17], [ꭓ2(2) = 3.51, p =

.17] e [ꭓ2(2) = 1.72, p = .42] respetivamente). Apesar de os rapazes e raparigas terem recebido,

em média, números de diagnósticos semelhantes [t(19) = 1.31, p = .21], os rapazes tenderam a

ter mais intervenções psicológicas prévias [ꭓ2(2) = 8.76, p = .03], particularmente por

sintomas de ansiedade, incluindo ansiedade social (n = 3).


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 14

Quadro 1

Características sociodemográficas da amostra: Idade, Escolaridade e NSE

Amostra total Raparigas Rapazes

Tamanho da amostra (n) 21 12 9

Idade (anos) M (DP) 16.10 (0.94) 15.83 (0.84) 16.44 (1.01)

Ano Escolar

10º ano (%) 42.9 58.3 22.2

11º ano (%) 52.4 41.7 66.7

12º ano (%) 4.8 0 11.1

Nível socioeconómico

Baixo (%) 42.9 41.7 44.4

Médio (%) 47.6 41.7 55.6

Alto (%) 9.5 16.7 0

Nº de Diagnósticos M (DP) 1.48 (1.12) 1.75 (1.42) 1.11 (80.33)

Intervenção Psicológica Prévia

Não (%) 47.6 75.00 11.11

Sim, por sintomas de ansiedade (%) 33.3 16.7 55.55

Sim, por sintomas depressivos (%) 4.8 0 11.11

Sim, por sintomas não-especificados (%) 14.3 8.3 22.23

Todos os participantes apresentaram o diagnóstico primário de PAS, estabelecido

usando o Mini-KID (Sheehan et al., 2010; Versão autorizada de Rijo et al., 2016). Treze dos

adolescentes (61.9%) não apresentaram qualquer outra perturbação comórbida, dois foram

diagnosticados com Perturbação de Pânico (9.6%), um com Fobia Específica (4.8%) e um

apresentava cinco diagnósticos além da PAS (4.8%; Perturbação de Stresse Pós-Traumático,


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 15

Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Perturbação de Pânico, Agorafobia e Perturbação

Depressiva Major).

Instrumentos

Avaliação da elegibilidade

Mini-KID (Sheehan et al., 2010; Versão autorizada de Rijo et al., 2016)

O Mini-KID é uma entrevista estruturada que pretende avaliar um amplo leque de

diagnósticos do eixo I em crianças e adolescentes, incluídas no DSM-5 (APA, 2014). O

processo de avaliação consiste em responder a questões de sim/não relativas à presença de

critérios de diagnóstico específicos para cada diagnóstico clínico. Este instrumento ajuda o

clínico a estabelecer o diagnóstico primário do sujeito, a avaliar o grau de interferência da

perturbação e o momento em que as dificuldades iniciaram. O acordo inter-avaliador, na

versão original, foi excelente em todas as perturbações, exceto na distimia (Sheehan et al.,

2010). A versão portuguesa foi criada através de uma tradução e retroversão cuidadosas e foi

previamente utilizada enquanto método de diagnóstico (Rijo et al., 2016).

Instrumentos de autorresposta

Escala de Ansiedade e Evitamento em Situações Sociais para Adolescentes

(EAESSA)

A Escala de Ansiedade e Evitamento em Situações Sociais para Adolescentes

(EAESSA - Cunha, Pinto-Gouveia & Salvador, 2008) é constituída por 34 itens que

representam situações sociais, avaliadas consoante o grau de ansiedade (subescala de

Desconforto/ansiedade) e de evitamento (subescala de Evitamento) que provocam. As

respostas variam entre 1 ("nada ansioso" e "nunca evito") a 5 ("muitíssimo ansioso" e "evito

quase sempre"). Esta escala revelou boas características psicométricas, com um α de

Cronbach de .91 e .87 e uma fidelidade teste-reteste de .74 e .71 (para as subescalas

“Desconforto/ansiedade” e “Evitamento”, respetivamente) (Cunha et al., 2008).


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 16

Neste estudo, a subescala “Ansiedade” da EAESSA obteve índices de consistência

interna de α = .972 (momento T1) e α = .886 (momento T2), e a subescala “Evitamento” teve

índices de α = .946 (momento T1) e α = .937 (momento T2), pelo que rondaram entre valores

“muito bons” e “excelentes”.

Escala de Autocompaixão para Adolescentes (SCS-A)

A Escala de Autocompaixão para Adolescentes (SCS-A; Cunha, Xavier, & Vitória,

2013) avalia três dimensões da Autocompaixão: (1) a tendência do adolescente para ser

amável e compreensivo consigo próprio; (2) a visão da sua experiência como parte da

experiência humana; e (3) a consciência e aceitação dos pensamentos e sentimentos

dolorosos de forma “distanciada”. É constituída por 26 itens avaliados de 1 (“Quase Nunca”)

a 5 (“Quase Sempre”), divididas pelas subescalas: Autocrítica, Calor/Compreensão,

Condição Humana, Isolamento, Mindfulness e Sobreidentificação. Esta escala apresenta uma

consistência interna razoável a boa (variando entre α = .69 e α = .85), uma estabilidade

temporal e validade convergente adequadas. Para medir autocompaixão, os itens das

subescalas Autocrítica, Isolamento e Sobreidentificação foram invertidos; pontuações mais

elevadas indicam níveis mais elevados de autocompaixão.

Neste estudo, as dimensões da SCS-A obtiveram índices de consistência interna que

variaram entre α = .714 (bom) e α = .926 (excelente) - no momento T1 - e valores entre α =

.834 (muito bom) e α = .900 (excelente) - no momento T2. Excetua-se a dimensão

“Mindfulness” que obteve um valor de α = .503 e α = .676 nos momentos T1 e T2,

respetivamente; sendo considerados inaceitáveis (Pestana & Gageiro, 2008). Este fator não

foi considerado nas análises subsequentes.

Escala de Vergonha Externa para Adolescentes (OASB-A)

A Escala de Vergonha Externa para Adolescentes – Versão Curta (Cunha, Xavier,

Cherpe, & Pinto-Gouveia, 2014) mede o grau em que o adolescente perceciona avaliações
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 17

negativas relativas a si próprio por parte das pessoas que o rodeiam. Tem 8 itens pontuáveis

entre 0 (“Nunca”) e 4 (“Sempre”); pontuações mais elevadas indicam níveis mais elevados de

vergonha externa. A escala apresenta uma consistência interna excelente (α = .930), uma

estabilidade temporal teste-reteste adequada (r = .73) e uma boa validade convergente e

fatorial (Cunha et al., 2014).

Neste estudo, esta escala obteve índices de consistência interna excelentes: α = .929 e

α = .952 nos momentos T1 e T2, respetivamente.

Escala das Formas do Autocriticismo e Autotranquilização para Adolescentes

(FSCRS-A)

A Escala das Formas do Autocriticismo e Autotranquilização para Adolescentes

(FSCRS-A; Silva, 2011) avalia o autocriticismo e a autotranquilização perante o fracasso e o

erro através de 22 itens que são respondidos entre as pontuações 0 (“Não sou assim”) e 4

(“Sou extremamente assim”), divididos pelas dimensões (1) Eu Inadequado, (2) Eu

Tranquilizador e (3) Eu Detestado. A escala possui. Esta escala tem consistências internas

que variam entre razoável e muito boa (entre α = .75 e α = .90), uma boa estabilidade

temporal teste-reteste e validades divergente e convergente adequadas (Silva, 2010).

Neste estudo, as dimensões da FSCRS-A obtiveram índices de consistência interna

que variaram entre α = .699 (aceitável) e α = .959 (excelente) - no momento T1 - e valores

entre α = .686 (aceitável) e α = .873 (muito bom) - no momento T2.

Análise de dados

As análises preliminares para a caracterização da amostra e estudo das variáveis

foram conduzidas através do Statistical Package for the Social Sciences (IBMS SPSS, versão

22.0). Foram realizados testes-t e qui-quadrado para comparar características clínicas e

sociodemográficas que poderiam ter implicações nos resultados obtidos.


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 18

As variáveis em estudo foram avaliadas antes (momento T0) e após a intervenção

(T1). Para cada uma delas (Ansiedade Social, Autocompaixão, Autocriticismo e Vergonha

Externa), calculámos Univariate Latent Change Score (LCS), de forma a sumarizar os dados

longitudinais e medir as mudanças entre os dois momentos (adotando, assim, uma medida

intra-sujeito). Os modelos foram estimados pelo método de Maximum Likelihood (ML),

usando o programa Mplus, versão 7 (Muthén e Muthén, 1998-2017). A mudança entre os

valores medidos entre T0 e T1 foi tratada como uma variável latente, o que permite estimar a

“média da mudança” (µΔ). Valores positivos (significativos) de µΔ sugerem que, em média, a

pontuação dos sujeitos aumentou de T1 a T2; pelo contrário, valores negativos

(significativos) sugerem que, em média, a pontuações dos sujeitos diminuiu entre T1 e T2.

Para calcular a associação entre as mudanças observadas em cada construto-alvo da

TFC (autocompaixão, autocriticismo e vergonha externa) e as mudanças observadas na

ansiedade social, calculámos Two-Wave LCS models (2W-LCS), também com o programa

Mplus, versão 7. Coeficientes de regressão positivos (significativos) indicam que as

mudanças no construto-alvo em causa estão positivamente correlacionadas com as mudanças

observadas na Ansiedade Social; valores de regressão negativos (significativos) indicam uma

correlação negativa entre as mudanças no construto e as mudanças nos sintomas de

ansiedade.

As análises foram efetuadas tanto ao nível das escalas completas de cada variável-

independente como com as suas subescalas.

Resultados

Mudanças nos processos medidos entre T1 e T2

Foram realizadas Univariate LCS Models para cada construto medido (ansiedade

social, vergonha externa, autocriticismo e autocompaixão) para avaliar eventuais mudanças


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 19

entre os dois momentos. Apresentam-se no quadro 2 os valores médios da mudança em cada

construto e a variância associada a essas mudanças.

Quadro 2

Estatísticas descritivas e estimativas dos Latent Change Score (LCS) Univariados

2
Construto µT1 (DP) µT2 (DP) µΔ σ Δ

Ansiedade Social 95.000 (29.42) 90.952 (35.19) -4.048 402.711*

Evitamento Social 80.333 (25.83) 69.381 (21.95) -10.952** 266.337**

Autocriticismo 29.524 (11.97) 23.429 (14.97) -6.095** 93.320**


(FSCRSA: F1+F2)

Self inadequado 22.762 (8.22) 18.190 (9.69) -4.571** 44.721**

Self detestado 6.762 (4.16) 5.238 (5.65) -1.524* 12.631**

Self tranquilizador 14.143 (6.50) 16.667 (7.42) 2.524** 17.964**

Vergonha Externa 17.286 (6.82) 13.857 (7.97) -3.429** 24.150***

Autocompaixão 67.524 (13.88) 77.429 (17.67) 9.905 *** 124.469***

Calor/Compreensão 13.476 (3.06) 14.571 (3.76) 1.095* 5.324***

Condição Humana 11.095 (2.76) 12.333 (3.67) 1.238* 7.801***

Autocrítica 11.714 (3.96) 14.857 (4.23) 3.143*** 15.836***

Isolamento 9.619 (4.04) 11.524 (3.82) 1.905*** 5.134**

Sobre-identificação 10.048 (3.06) 11.667 (3.44) 1.619** 7.188**

Nota. ∗p < .05, ∗∗p < .01, ∗∗∗p < .001.

Ansiedade Social

Os LCS Estimates mostraram que os níveis de ansiedade social não mudaram

significativamente entre os momentos T1 e T2. O valor da variância associada à mudança

(que representa o grau em que os indivíduos diferem nas suas mudanças) também foi

estatisticamente significativo, revelando uma mudança heterogénea entre os sujeitos (isto é,


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 20

existe uma diferença significativa entre os participantes no que concerne a trajetória

adquirida após a intervenção; o efeito da TFC sobre os níveis de ansiedade não é homogéneo

em todos os participantes).

Evitamento Social

Os níveis de evitamento social diminuíram significativamente entre os momentos T1 e

T2. O valor da variância associada à mudança também foi estatisticamente significativo,

revelando uma mudança heterogénea entre os sujeitos.

Vergonha Externa

Quanto à vergonha externa, os valores diminuíram significativamente entre os

momentos T1 e T2. A variância associada à mudança também revelou heterogeneidade

significativa entre as mudanças dos participantes.

Autocompaixão

As pontuações referentes à autocompaixão (escala completa) aumentaram de forma

estatisticamente significativa entre os momentos T1 e T2. Este aumento verificou-se nas

subescalas Calor/Compreensão e Condição Humana. Também houve uma diminuição

estatisticamente significativa em todas as subescalas negativas (Autocrítica, Isolamento e

Sobre-identificação). A variância significativa associada à mudança sugere uma mudança

heterogénea entre os sujeitos.

Autocriticismo

As pontuações totais da medida do autocriticismo (a soma entre os fatores “Eu

inadequado” e “Eu detestado”) diminuíram significativamente. Ao nível das subescalas da

FSCRSA-A, houve um aumento nas pontuações da escala “Eu tranquilizador” e uma

diminuição nas subescalas “Eu inadequado” e “Eu detestado” (todas elas mudanças

significativas). Também foi observada heterogeneidade entre as mudanças dos sujeitos.

Associação entre mudanças nos processos da TFC e Ansiedade Social


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 21

Foram estimados Two-Wave LCS Models para avaliar eventuais associações entre as

mudanças observadas nos construtos específicos do modelo da TFC e as mudanças

observadas na ansiedade social.

O quadro 3 apresenta – na primeira coluna - os Parameter Estimates destes modelos,

que representam os change-to-change effects entre os construtos da TFC e a Ansiedade

social. Na segunda coluna, estão registadas as associações entre as pontuações em cada

construto da TFC e a Ansiedade social, ambos no momento T1 (pré-intervenção). Na terceira

coluna, estão apresentados os Parameter Estimates relativos à relação entre as pontuações no

momento T1 e a mudança observada nos níveis de ansiedade. A quarta coluna apresenta os

valores de R2, representando o grau em que os modelos explicam a mudança na Ansiedade

Social.

Quadro 3

Efeitos Change-to-change dos construtos TFC sobre a AS; Associação construto-ansiedade

em T1; Relação entre pontuações iniciais nos construtos e mudança na AS; R2 do modelo

Construtos da TFC β– β – Valores β– R2


ΔConstrutos construto T1 Valores
TFC x ΔAS x AS T1 pré x ΔAS

Autocriticismo (FSCRSA: 0.646 247.286** 66.171 .097


F1+F2)

Eu inadequado 1.087* 162.098** 38.982 .131

Eu detestado 0.925 85.190** 16.810 .027

Eu tranquilizador -2.496** -88.665* -54.900 .278

Vergonha Externa 1.354* 107.524* 46.012 .110

Autocompaixão -0.995** -0.565*** -0.272 .306*

Calor/Compreensão -5.750*** -47.188* -9.773 .437**


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 22

Condição Humana -2.422 -12.479 -10.419 .114

Autocrítica -1.599* -58.618** -15.038 .101

Isolamento -2.700* -72.047** -28.391 .093

Sobre-identificação -1.427 -34.190 -9.962 .036

Nota. ∗p < 0.05, ∗∗p < 0.01, ∗∗∗p < 0.001.

Vergonha Externa e Ansiedade Social

Os Parameter Estimates do modelo mostraram uma associação positiva entre as

mudanças nos níveis de vergonha externa e as mudanças nos níveis de ansiedade social, pelo

que uma maior diminuição na vergonha externa esteve associada a uma maior diminuição na

ansiedade social.

Os níveis de vergonha externa e no momento T1 estavam positivamente associados ao

nível de ansiedade social em T1.

Autocriticismo e Ansiedade Social

Não houve uma associação significativa entre as mudanças nas pontuações totais da

medida do autocriticismo (a soma entre os fatores “Eu inadequado” e “Eu detestado”) e as

mudanças nos níveis de ansiedade social.

Apesar disso, verificou-se uma associação positiva e significativa entre as mudanças

na subescala Eu inadequado e a Ansiedade social, sugerindo que, quanto maior foi a

diminuição neste construto, maior foi a diminuição na ansiedade social.

O fator “Autocrítica” medido na SCS-A também teve uma relação significativa com a

ansiedade social. Pontuações mais baixas nesta subescala corresponderam a níveis mais altos

de autocriticismo, pelo que: quanto maior foi o aumento das pontuações nesta dimensão,

maior foi a diminuição na ansiedade social.

Tanto a pontuação total da medida de autocriticismo como as pontuações nas

subescalas “Eu inadequado” e “Eu detestado” (no momento T1) apresentaram uma correlação
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 23

positiva e significativa com a ansiedade social no momento T1. Também se verificou uma

associação negativa e significativa entre as pontuações na subescala “Eu tranquilizador” e a

ansiedade social. Isto é, (1) pontuações mais elevadas nas dimensões “Eu inadequado” e “Eu

detestado” e (2) pontuações mais baixas na dimensão “Eu tranquilizador” tenderam a estar

associadas a níveis mais elevados de ansiedade social.

Autocompaixão e Ansiedade Social

Verificou-se uma associação negativa e significativa entre as mudanças nas

pontuações totais na SCS-A e a ansiedade social (e, mais especificamente, na dimensão

“Calor/compreensão”), isto é, quanto maior foi o aumento na autocompaixão, maior foi a

diminuição na ansiedade social. Tanto o modelo referente às mudanças na escala

“Autocompaixão” (pontuação total) (R2 = .306) como o modelo referente às mudanças à

subescala “Calor/compreensão” (R2 = .437) explicaram de forma estatisticamente

significativa as mudanças observadas na ansiedade social.

Foi observada uma associação negativa entre as pontuações da SCS-A em T1 (escala

total e dimensões “Calor/compreensão”, “Autocrítica” e “Isolamento”) e os níveis de

ansiedade social em T1.

Verificou-se, ainda, uma associação negativa e significativa entre as mudanças na

dimensão “Eu tranquilizador” (da FSCRSA-A) e a ansiedade social – um maior aumento

nesta faceta tende a associar-se a uma maior diminuição na ansiedade social. Há uma relação

negativa e significativa entre as pontuações nesta subescala e a ansiedade social, no momento

T1.

Associação entre mudanças nos construtos da TFC e Evitamento Social

À semelhança do tratamento de dados realizado para a Ansiedade Social, também

foram avaliadas eventuais associações entre as mudanças observadas, desta vez, com o

Evitamento Social. Os resultados foram sistematizados no Quadro 4.


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 24

Quadro 4

Efeitos Change-to-change dos construtos TFC sobre o ES; Associação construto-evitamento

em T1; Relação entre pontuações iniciais nos construtos e mudança na ES; R2 do modelo

Construtos da TFC β– β – Valores β– R2


ΔConstrutos construto T1 Valores
TFC x ΔES x ES T1 pré x ΔES

Autocriticismo (FSCRSA: 0.741 172.636*** 9.046 .193


F1+F2)

Eu inadequado 1.088* 117.079*** 7.679 .199

Eu detestado 1.627 55.556** 4.975 .126

Eu tranquilizador -2.231*** -46.145 -36.822 .336*

Vergonha Externa 0.705 66.476 31.024 .045

Autocompaixão -0.840 ** -154.365** -19.598 .330

Calor/Compreensão -3.990*** -28.445* -10.391 .318*

Condição Humana -2.230 -1.699 -15.879 .146

Autocrítica -1.633* -46.953** 2.566 .159

Isolamento -2.838*** -54.583** -11.300 .155

Sobre-identificação -2.124 -32.726* 6.115 .122

Nota. ∗p < 0.05, ∗∗p < 0.01, ∗∗∗p < 0.001.

Vergonha Externa e Evitamento Social

O Parameter Estimate do modelo não revelou uma associação significativa entre as

mudanças nos níveis de vergonha externa e as mudanças nos níveis de evitamento social.

Também não houve uma associação significativa entre estes dois construtos no momento T1.

Autocriticismo e Evitamento Social


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 25

Ao nível das pontuações referentes aos dois fatores de autocriticismo da FSCRSA-A,

não houve uma associação significativa entre as mudanças nas pontuações e as mudanças no

evitamento social.

Contudo, verificou-se uma associação positiva e significativa entre as mudanças na

subescala Eu inadequado e a Evitamento social, sugerindo que, quanto maior foi a

diminuição neste construto, maior foi a diminuição no evitamento.

O fator “Autocrítica” medido na SCS-A também teve uma relação significativa com o

evitamento social. Pontuações mais baixas nesta subescala corresponderam a níveis mais

elevados de autocriticismo, pelo que: quanto maior foi o aumento das pontuações nesta

dimensão (isto é, quanto mais diminuiu o autocriticismo), mais diminuiu o evitamento social.

Tanto a pontuação total da medida de autocriticismo como as pontuações nas

subescalas “Eu inadequado” e “Eu detestado” (no momento T1) apresentaram uma correlação

positiva e significativa com o evitamento social no momento T1. Isto é, (1) pontuações mais

elevadas nas dimensões “Eu inadequado” e “Eu detestado” tenderam a estar associadas a

níveis mais elevados de evitamento social.

Autocompaixão e Evitamento Social

Verificou-se uma associação negativa e significativa entre as mudanças nas

pontuações totais na SCS-A e o evitamento social (e, mais especificamente, nas dimensões

“Calor/compreensão”), isto é, quanto maior foi o aumento na autocompaixão, maior foi a

diminuição na ansiedade social. Também se registou uma associação negativa e significativa

entre as mudanças na subescala “Isolamento” e o evitamento social. Nesta subescala, quanto

maior é a pontuação, menor é o isolamento; logo, quanto maior foi o aumento na pontuação

(isto é, quanto mais diminuiu o isolamento), mais diminuiu o evitamento social.


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 26

Os modelos referentes às mudanças nas subescalas “Eu tranquilizador” (R2 = .336)

“Calor/compreensão” (R2 = .318) explicaram de forma estatisticamente significativa as

mudanças observadas no evitamento social.

Foi observada uma associação negativa e significativa entre a pontuação total da

autocompaixão em T1 (e todas as subescalas, exceto “Condição humana”) os níveis de

evitamento social em T1.

Não houve associação entre as mudanças na dimensão “Eu tranquilizador” (da

FSCRSA-A) e as mudanças no Evitamento social. Também não observámos qualquer

associação entre as pontuações no “Eu tranquilizador” e “Evitamento social” no momento

T1.

Discussão

Neste estudo, avaliámos as mudanças observadas nos níveis de ansiedade social,

evitamento social, autocriticismo, vergonha externa e autocompaixão, entre os momentos T1

(pré-intervenção CFT@TeenSAD) e T2 (pós-intervenção) em adolescentes com PAS.

Depois, examinámos eventuais associações entre as mudanças no autocriticismo, vergonha

externa e autocompaixão e as mudanças na ansiedade social e no evitamento social. Os

resultados obtidos contribuem para o suporte empírico do efeito da TFC sobre os construtos

específicos do modelo e também fornecem informação preliminar sobre a sua eficácia no

contexto da PAS e os mecanismos subjacentes aos ganhos terapêuticos (especificamente, na

população adolescente).

De acordo com o esperado com base na literatura (Gharraee et al., 2018; Kirby et al.,

2017; Leaviss & Uttley, 2014), os resultados sugeriram que a intervenção CFT@TeenSAD

produziu um aumento da autocompaixão e uma diminuição nos níveis de autocriticismo e

vergonha externa nos adolescentes. Esta observação apoia a ideia de que o programa

CFT@TeenSAD – à semelhança de outras intervenções baseadas na TFC (e na população


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 27

adulta) - é um recurso potencialmente útil na promoção de uma postura mais amável,

calorosa e compreensiva perante eventuais perceções de inadequação e fracasso e

experiências internas perturbadoras, em contextos sociais ou avaliativos (ao contrário de uma

atitude crítica e inferiorizante).

Contudo, contrariamente ao que se hipotetizou com base na investigação (Gharraee et

al., 2018), a intervenção não produziu mudanças na sintomatologia ansiosa. Isto poderá

sugerir que o programa CFT@TeenSAD não produz mudanças na ansiedade social. Ainda

assim, algumas razões alternativas poderão ajudar a explicar estes resultados.

A grande heterogeneidade entre as mudanças registadas em todas medidas sugere que

a intervenção CFT@TeenSAD produz resultados significativamente diferentes, de acordo

com as diferenças interindividuais associadas a (1) características dos participantes e/ou (2)

fatores contextuais do processo terapêutico de cada sujeito. Assim, uma intervenção que

poderá ser muito benéfica para alguns sujeitos pode ter efeitos mais modestos noutros. Estas

diferenças interindividuais poderão, em parte, ser explicadas pelo efeito de construtos como

os “medos, bloqueios e resistências à compaixão” (Boersma et al., 2015), fatores estes que

podem ter um impacto na forma como a intervenção é encarada, recebida e praticada. A

estandardização das intervenções exigida em prol do rigor científico dos estudos de eficácia

também poderá comprometer a validade externa dos dados, uma vez que, num contexto de

intervenção típico (onde há flexibilidade para alargar, enfatizar e trabalhar determinados

tópicos em diferentes momentos), a intervenção CFT seria, idealmente, ajustada ao ritmo e

características específicas do doente.

Por outro lado, algumas variáveis do contexto poderão ter interferido no processo

interventivo. Por exemplo, alguns sujeitos passaram pelo processo terapêutico durante os

confinamentos da pandemia COVID-19, o que pode ter negligenciado a componente prática,

ativa e comportamental da intervenção e dificultando assim a aplicação das aprendizagens no


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 28

dia-a-dia. Os confinamentos poderão ter funcionado, assim, como “evitamentos forçados”

dos contextos sociais, restringindo a exposição aos mesmos e, assim, impossibilitando

eventuais impactos positivos na diminuição dos níveis de ansiedade social, ainda que

algumas dimensões dos construtos específicos da TFC tenham mudado.

Outros fatores que poderão estar em jogo são a possível “dose insuficiente” da

intervenção (poderão ser necessárias mais sessões para observar mudanças ao nível da

ansiedade). O segundo momento de avaliação também pode ter sido um momento demasiado

precoce para a deteção de mudanças. Num estudo de eficácia de Galhardo (2013) – de um

programa também baseado na compaixão, para mulheres com infertilidade – tanto a

autocompaixão como a ansiedade continuaram a revelar ganhos terapêuticos significativos

entre o momento “pós-intervenção” e o follow-up a seis meses; no caso da autocompaixão,

não tinham sido registadas mudanças significativas entre o momento “pré-intervenção” e

“pós-intervenção”. Isto é, o efeito da intervenção poderá apenas verificar-se de forma mais

pronunciada a longo-prazo, depois de os participantes terem a oportunidade de aplicar as

competências adquiridas ao longo de alguns meses.

De acordo com aquilo que se esperava, foi observada uma diminuição nos níveis de

Evitamento Social. Isto sugere que o programa CFT@TeenSAD produz mudanças nos

evitamentos associados à PAS. Estes resultados reforçam a pertinência desta intervenção,

uma vez que se sabe que uma grande parte das complicações associadas à PAS provêm

desses evitamentos (Hofmann & DiBartolo, 2000), para além de constituírem um fator de

manutenção da mesma (Teo et al., 2013).

Os resultados referentes à relação entre os processos específicos do modelo da TFC e

a ansiedade (no momento T1) foram congruentes com o esperado: globalmente, existe (1)

uma relação negativa entre os fatores protetores e a ansiedade social (exceto o fator

“Condição humana”) e (2) uma relação positiva entre os fatores de risco e a ansiedade social
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 29

(exceto o fator “Sobre-identificação”). Observaram-se resultados semelhantes na relação

entre os processos específicos da TFC e o evitamento (no momento T1): (1) uma associação

negativa entre os fatores protetores e evitamento social (exceto os fatores “Eu-tranquilizador”

e “Condição humana”) e (2) uma associação positiva entre os fatores de risco e a ansiedade

social (exceto a “Vergonha externa”). Estas observações reforçaram a pertinência de estudar

as possíveis relações causais entre estas variáveis e eventuais mecanismos de mudança

envolvidos nos ganhos terapêuticos. O cariz longitudinal deste estudo permitiu explorar

essas hipóteses.

Os resultados corroboram a hipótese de que o aumento da Autocompaixão e da

Autotranquilização tiveram um impacto direto nas mudanças observadas na Ansiedade

Social. Quanto ao Autocriticismo, a componente mais relevante (no que concerne a

diminuição da ansiedade social) parece ter sido a componente “Eu inadequado”. Isto faz

sentido, tendo em conta que os “sentimentos de inadequação” são uma das características

principais da PAS. A intervenção sobre a vergonha externa também parece ter um impacto

direto nos níveis de Ansiedade Social, tal como era esperado com base na literatura (Cȃndea

& Szentágotai-Tătar, 2018). Em conjunto, estes resultados apoiam a ideia de que, quando há

ganhos terapêuticos ao nível da Ansiedade Social, esses ganhos poderão ser atribuíveis a

mudanças específicas desta modalidade de intervenção, e não a efeitos inespecíficos, ao

contrário do que foi observado no estudo de (Stevenson et al., 2019). Dentre todos os

construtos avaliados, aqueles que parecem ser mais importantes na mudança da ansiedade

social são a autocompaixão (principalmente, a componente “Calor/compreensão”), que se

destacou pelo valor relativamente elevado (e significativo) do R2 do modelo de mudança.

A razão pela qual as facetas “Calor/compreensão” e “Eu tranquilizador” apresentam

primazia sobre as restantes facetas (no que concerne a explicação da diminuição na

ansiedade) não é clara. Podemos, ainda assim, levantar a hipótese de que o ingrediente mais
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 30

importante – no contexto da adoção de uma postura mais autocompassiva – não está na

eliminação dos processos negativos (como o autocriticismo e a vergonha). Estas experiências

negativas são muitas vezes experienciadas sob a forma de pensamentos automáticos, dos

quais os sujeitos não têm controlo. O “princípio ativo” mais importante da adoção de um

funcionamento autocompassivo poderá ser o ato de tomar uma postura de

“Calor/compreensão” e de “Autotranquilização” perante a experiência desses eventos

internos (estando esta postura, esta sim, sob o controlo do sujeito).

No que concerne os ganhos terapêuticos ao nível da diminuição do Evitamento Social,

apresentam-se como possíveis fatores de mudança, novamente, a Autocompaixão (e faceta

“Calor/compreensão”), a faceta “Autotranquilização”, a faceta “Autocrítica” e o “Eu

inadequado”. A faceta “Isolamento” revelou ser importante; isto pode sugerir que o sujeito

considerar que as próprias dificuldades não são estranhas (ou que não é diferentes dos outros

por ter essas dificuldades) tem um impacto na diminuição do evitamento social. Ao contrário

do que foi observado nos resultados da Ansiedade Social, as mudanças na Vergonha Externa

não estão associadas às mudanças no Evitamento Social, o que sugere que a intervenção

sobre a Vergonha Externa não tem implicações diretas na diminuição do Evitamento Social.

Globalmente, estes resultados também reforçam a hipótese de que os ganhos

terapêuticos são atribuíveis a aspetos específicos da modalidade da TFC. De forma

semelhante ao que foi observado na dimensão “Ansiedade Social”, houve um impacto

especial das dimensões “Calor/compreensão” e “Eu tranquilizador” na diminuição do

Evitamento Social. Parece ser mais importante adotar uma postura autocompassiva perante a

experiência de fenómenos internos desagradáveis do que propriamente a diminuição direta

desses eventos, no contexto da diminuição da tendência para o evitamento de situações

sociais.
TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 31

Este raciocínio também poderá ser extrapolado para a interpretação da diminuição

não-significativa da ansiedade e concomitante diminuição significativa do Evitamento Social:

perante a experiência automática de ansiedade, uma postura de calor e compreensão e de

autotranquilização poderá promover um funcionamento adaptativo que está dentro do

controlo dos sujeitos: o não-evitamento da situação provocadora de mal-estar. O mal-estar

experienciado nos contextos evitados poderá, a longo-prazo, diminuir gradualmente, à

medida que o sujeito contraria a tendência para o evitamento com o recurso a uma mente

compassiva. Será importante, em estudos futuros, ter em atenção os efeitos a longo-prazo

deste tipo de intervenção para testar esta hipótese.

Este estudo reforça a possibilidade de haver relações causais entre e as variáveis

específicas do modelo da TFC e a etiologia e manutenção da PAS, para além de apresentar

possíveis mecanismos de mudança subjacentes à intervenção. São necessários mais estudos

que ajudem a clarificar a eficácia da TFC na PAS (em adolescentes) e os mecanismos

subjacentes aos ganhos terapêuticos. Uma maior compreensão dos construtos envolvidos no

alívio dos sintomas da PAS permitirá aumentar a eficácia das intervenções, uma vez que

ajuda a delinear os aspetos que poderão ser alvo de aprimoramento no desenvolvimento das

mesmas e também ajudam no processo de generalização dessas intervenções para outros

contextos e populações nomeadamente, a população adolescente (que significa um risco

acrescido à PAS).

Este estudo apresenta várias limitações. Para além de a amostra ser relativamente

pequena (21 sujeitos), a ausência de um grupo de controlo não permite tirar conclusões

robustas sobre a eficácia da intervenção. A interferência da pandemia COVID-19, como

referido anteriormente, também é um fator a ter em conta na interpretação dos dados, uma

vez que pode ter tido interferido na prática das aprendizagens. Recomendamos, para estudos

futuros, o recurso a amostras maiores e um estudo mais aprofundado da relação entre as


TFC na PAS em Adolescentes: Mecanismos de Mudança 32

características individuais de cada sujeito e a eficácia da intervenção (e.g., os medos da

compaixão ou empenho nas práticas individuais), e o recurso a avaliações “follow up” (por

exemplo) seis meses após a intervenção.

Ainda que preliminar, este trabalho é inovador na medida em que está incluído no

primeiro projeto de investigação dedicado ao estudo da eficácia da TFC em adolescentes com

PAS, para além de ser o primeiro estudo a mostrar os possíveis mecanismos de mudança por

detrás dos ganhos terapêuticos.


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