DISSERTAÇÃO_CriseIconoclastaImpério
DISSERTAÇÃO_CriseIconoclastaImpério
DISSERTAÇÃO_CriseIconoclastaImpério
MARIANA
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
MARIANA
Instituto de Ciências Humanas e Sociais/ UFOP
2016
À minha mãe Maria Aparecida e ao meu irmão Caio.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo dom da vida e por poder estar
completando mais uma fase de minha vida profissional. Agradeço à Universidade
Federal de Ouro Preto por mais uma vez fazer parte da minha formação nessa
incansável busca pelo aprimoramento enquanto docente e historiadora. Agradeço
também ao querido e maravilhoso Instituto de Ciências Humanas e Sociais por
esses maravilhosos anos que aqui passei. Serei eternamente grata por ter feito
parte desse lugar encantador e pelos amigos que aqui fiz. Jamais me esquecerei
das rodas de conversas no famoso “redondo” e da paz encontrada nas horas de
descanso no “Machu Picchu”.
Ao meu orientador, o professor Fábio Duarte Joly, imprescindível para a
realização deste trabalho, faço um agradecimento especial por ter aceitado partir
comigo nessa “empreitada”, mesmo sem termos trabalhados juntos anteriormente.
Os meus sinceros agradecimentos pela confiança depositada em mim nesses dois
últimos anos de convívio, pelas horas de orientação, pelas tantas dúvidas tiradas,
por todo conhecimento transmitido, pela paz e serenidade que sempre me passou
nas horas de desespero, pelo companheirismo, amizade, apoio e estímulo nesse
árduo ofício de historiador.
Ao professor Fábio Faversani pela presença constante na realização deste
trabalho, pela minuciosa leitura e avaliação em minha banca de qualificação em
2015, que muito me auxiliou e contribuiu para os resultados finais deste trabalho,
pela amizade, auxílio e por fazer parte, agora, dessa banca avaliadora de defesa.
Ao professor e amigo Celso Taveira por ter me iniciado nos estudos
bizantinos, por ter me orientado no bacharelado concluído em 2014 e por ter me
ajudado a desenvolver o projeto para a seleção de mestrado neste programa.
Agradeço também pelo carinho, apoio, amizade e atenção demonstrada aos meus
estudos desde o primeiro contato que tive com a história bizantina em 2011. Um
enorme obrigado por ser membro dessa banca avaliadora e por ter sido membro
da banca avaliadora de minha qualificação em 2015.
Ao professor Renato Viana Boy por ter aceitado fazer parte dessa banca
avaliadora de defesa e pela sua contribuição bibliográfica, afinal, o meu primeiro
contato com a temática da iconoclastia bizantina e o nascimento do amor e
admiração pela mesma, surgiu a partir da leitura de sua monografia de
bacharelado e sua dissertação de mestrado.
A todos os docentes que fazem parte dessa maravilhosa instituição pela
sua dedicação e pela forma que conduzem o trabalho de vocês. Sem vocês não
poderia ter chegado até aqui. Em especial, agradeço aos professores Álvaro
Antunes e Marco Antônio Silveira, pessoas que sempre me auxiliaram e foram
essenciais na minha formação. Agradeço também ao saudoso José Arnaldo
Coêlho de Aguiar Lima, exemplo de amor pela docência, exemplo de amor pela
vida.
Ao LEIR-UFOP (Laboratório de Estudos sobre o Império Romano) pela
acolhida e oportunidade de crescimento intelectual. Obrigada a todos os seus
coordenadores e membros, em especial aos professores Fábio Duarte Joly, Fábio
Faversani e Alexandre Agnolon, por me permitirem fazer parte desse grupo, no
qual pude aprender e crescer como historiadora. Agradeço também no âmbito do
LEIR, aos amigos e companheiros de trabalho que ali fiz.
Agradeço também aos membros do grupo de Medieval pelos inúmeros
debates construtivos durante nossas reuniões. Que apesar da dispersão do grupo, o
mesmo não se acabe e que as excepcionais pesquisas tenham continuidade.
Gostaria também de agradecer à dedicação dos funcionários do ICHS,
indispensáveis para a nossa formação, principalmente à secretária Janaína Tette,
do Programa de Pós-Graduação em História, por todo auxílio no decorrer desses
dois anos.
Os meus sinceros agradecimentos à minha mãe, Maria Aparecida, pelos
esforços e auxílios incondicionais para que eu conseguisse chegar até aqui. Sem o
seu amor, carinho, compreensão, apoio, jamais conseguiria esse feito. Obrigada
por ter sido em todos os momentos de minha vida minha mãe, meu pai, minha
amiga e companheira. Agradeço também ao meu irmão Caio, principalmente
pelas horas de distração no decorrer do caminho solitário e tortuoso da escrita.
À toda a minha família, aos meus queridos primos e amigos, mas em
especial a Leonardo Corrêa pelo carinho, amizade, força, conhecimento e auxílio
nos momentos difíceis durante a jornada da escrita; à minha querida prima Stella
Cardoso, que não conheço pessoalmente, mas é como se conhecesse, pelo apoio,
amizade, sugestões e momentos ímpares de lazer pelo Whatsapp. À minha querida
prima Camila Rosado, meu Xuxu, pela amizade, carinho e por ser a minha
corretora favorita de abstracts e traduções, inclusive deste trabalho. Às minhas
queridas primas Carla Corrêa, Gisele Grijó e Milena Fernandes que mesmo de
longe me deram apoio e torceram por mim. À minha avó Ana Corrêa Coelho. Ao
meu querido primo Luciano Corrêa pelos momentos ímpares que passamos juntos
e pelo apoio de sempre. Aos meus tios e tias, mas em especial à tia Péia pela
preocupação com meu trabalho, apoio e auxílio nos momentos difíceis. Agradeço
também àqueles familiares que já não estão mais entre nós, mas foram
fundamentais para a moldagem da pessoa que sou, do caráter que tenho hoje. A
lembrança de cada momento alegre ou triste carrego comigo. Em especial
agradeço à dona da mais gostosa gargalhada do mundo e ao meu avô José Coelho.
Saudade eterna!!
Aos amigos historiadores especiais que aqui na melhor das federais fiz:
Stephanie Martins, Rodrigo Cordeiro, Luzia Izidoro, Deisiane Pereira, Ana Paula
Scarpa, João Victor Lanna, obrigada pelo apoio incondicional nesses últimos anos
de jornada histórica. Obrigada pela amizade, paciência, carinho e força nos
momentos difíceis.
A Rita pelo apoio incansável nos momentos difíceis nessa reta final da
dissertação. Obrigada por tudo. Ao Diogo e ao Diego pela força, amizade,
momentos de distração e pelos incontáveis momentos de abstração e debates
intelectuais (ou não - risos)!!!
À República do Arco da Velha que há três anos tem sido a minha segunda
casa. Como não agradecer a vocês, meninos, que estiveram comigo no momento
mais feliz de minha vida acadêmica, quando vi o resultado da seleção de
Mestrado. Um grande obrigado pelos momentos ímpares de lazer e rock’s
inesquecíveis.
Um agradecimento especial ao Douglas Thadeu, que presenciou o
nascimento desta pesquisa, pela paciência, dedicação, carinho, compreensão e
apoio nos momentos difíceis. Só você sabe o quanto foi difícil chegar até aqui,
apesar das circunstâncias. Espero te ter sempre por perto. Essa conquista é nossa!!
E que venham outras!!!
À CAPES por ter financiado esse projeto e por ter me dado essa
oportunidade única de auxílio para os meus estudos. Graças à instituição pude me
dedicar inteiramente ao meu trabalho e conseguir os melhores resultados
possíveis.
“(...) pois pintura, mesmo se silenciosa sabe como falar a partir do muro.
(MAGUIRE, 1994, p. 9)
The iconoclastic controversy in the Byzantine Empire was a battle around the
religious images that occurred between the eighth and ninth centuries, culminating
in the prohibition of the same by the then emperor Leo III. This battle was divided
into two periods, the first 726-787 with the first restoration of the image worship
and the second 815-843 with the definitive restoration of images worship, in what
became known as the "Triumph of Orthodoxy". Our emphasis in this work will be
given to the first period, represented by the monk John Damascene who wrote
three treatises in defense of images. These works will be analyzed here in
conjunction with other sources of the period. Thus, our objective is to situate these
works in a debate of the image and the nature of power in Byzantium, trying to
understand the imperial representation from the point of view of Damascene and
how he used the same arguments in defense of the images as well as in the
defense of imperial power. Therefore, it is necessary to understand the complex
relationship between the two types of regime attributed to Byzantium by
investigators: the monarchy by divine right and the Roman republican heritage.
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1. A CRISE ICONOCLASTA: ANTECEDENTES E ECLOSÃO
.......................................................................................................................... 20
1.1. Primeiros concílios: definições cristãs e heresias ..................................... 22
1.2. O ícone na história do cristianismo e na história bizantina ....................... 28
1.3. O caráter autocrático do poder imperial ................................................... 30
1.4. O monacato bizantino .............................................................................. 38
1.5. A expansão islâmica e a crise do século VII ............................................ 42
1.6. A ascensão do imperador Leão III e a eclosão da iconoclastia .................. 46
CAPÍTULO 2. SÃO JOÃO DAMASCENO E OS TRÊS TRATADOS EM
DEFESA DAS IMAGENS NO PRIMEIRO PERÍODO ICONOCLASTA ... 65
2.1. São João Damasceno: breve biografia ...................................................... 65
2.2. Principais obras e tradição ....................................................................... 69
2.3. Os três tratados em defesa das imagens divinas ....................................... 70
2.3.1. O Primeiro Tratado ........................................................................... 71
2.3.2. O Segundo Tratado ........................................................................... 82
2.3.3. O Terceiro Tratado ........................................................................... 91
2.4. Considerações sobre Damasceno e os três tratados em defesa das imagens
...................................................................................................................... 96
CAPÍTULO 3. A DEFESA DAS IMAGENS DE SÃO JOÃO DAMASCENO:
CRÍTICA E FUNDAMENTAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DO PODER
IMPERIAL EM BIZÂNCIO ......................................................................... 102
3.1. Além da questão teocrática: a república bizantina .................................. 103
3.2. Imagens religiosas versus retratos imperiais em Damasceno: um debate
sobre o sagrado e a autoridade política. ........................................................ 111
3.3. Damasceno e sua perspectiva sobre a representação imperial: a visão de
quem está longe do centro do poder bizantino. ............................................. 127
CONCLUSÃO ................................................................................................ 131
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 134
9
INTRODUÇÃO
1
KAZHDAN, 1991, p. 975
2
É preciso ressaltar que a imperatriz Irene governou por duas vezes, sendo a primeira à época do
concílio de Nicéia II, de 780 a 797, como imperatriz regente e a segunda, como citado acima,
como imperatriz, de 797 a 802.
3
Conhecido também como o “Domingo da Ortodoxia”, o dia 11 de março de 843 ficou marcado
como o dia da condenação oficial do Iconoclasmo, no qual em uma procissão solene, o documento
intitulado “Sinodykon da Ortodoxia” foi depositado no altar da Igreja de Santa Sofia, em
Constantinopla. Neste documento há uma lista de anátemas contra os hereges, particularmente, os
líderes da Iconoclastia, além de outros fundadores de heresias. Todos os anos no dia 11 de março é
comemorado o “Triunfo da Ortodoxia” na Igreja grega. KAZHDAN, 1991, pp. 2122-2123.
4
Cf. BAJJANI, 2009.
10
pelo monge e santo João Damasceno, no intuito de abordar suas obras a partir da
defesa de uma concepção do poder imperial, perspectiva que diferencia nosso
trabalho frente às outras pesquisas sobre essas obras, pois a maioria trata as
mesmas do ponto de vista da defesa das imagens e da teologia cristã.
Abordaremos aqui então o movimento iconoclasta no sentido de situar o leitor no
contexto de produção dessas obras.
Ressaltamos também a relevância do estudo deste tema uma vez que
estamos lidando com um assunto de grande valor não só para a sociedade romana
ocidental e oriental, mas também para toda comunidade cristã, visto que o
movimento iconoclasta constituiu-se na proibição do culto e na destruição dos
ícones, considerados como o maior meio de transmissão e ensinamento do dever
cristão. No entanto, Renato Viana Boy5 nos relata acerca da existência de algumas
províncias orientais de Bizâncio que apresentavam tremenda repulsa em relação
aos ícones, como por exemplo, o caso de Isáuria, região da qual provinha o
imperador Leão III (717-741), o qual fundou a dinastia Isaúrica, e como foi dito
anteriormente, deu início à iconoclastia. Boy salienta ainda o fato de que o retorno
do iconoclasmo foi também conduzido por outro imperador asiático, Leão V (813-
820), o Armênio, da dinastia Amórica. Dessa forma, é possível perceber que
dentro do próprio Império existiam correntes contrárias ao uso das imagens.
Isso pode ser também observado na existência de movimentos divergentes
iniciados dentro da própria Igreja bizantina, em relação às questões dogmáticas
que foram discutidas de forma recorrente entre os séculos IV e V, acerca da dupla
natureza de Cristo e das três pessoas da Santíssima Trindade, que serão analisadas
para a compreensão dos principais argumentos construídos no século VIII para a
defesa das imagens por João Damasceno.
Como estamos tratando de um tema complexo, no qual não há grupos bem
definidos no que se refere à divisão daqueles que são contrários ou defendem as
imagens, utilizaremos os termos já definidos pela historiografia bizantina, tais
como iconófilos (εικονοφίλoi) para designar aqueles que são “adoradores das
imagens” e iconoclastas (εικονοκλάσται) para designar aqueles que são
“adversários das imagens”.6 Isso porque, ao longo de nosso trabalho, apontaremos
enquanto iconoclastas os imperadores que deram início e apoiaram o movimento,
5
BOY, 2007. p. 24.
6
Cf. KAZHDAN, 1991, p. 977.
11
tais como Leão III e seu filho Constantino V na primeira fase, e Leão V na
segunda e, iconófilos, aqueles que defenderam as imagens, como o monge João
Damasceno e a imperatriz Irene na primeira fase e, o monge Teodoro Estudita e a
imperatriz Teodora na segunda, uma vez que, de acordo com os documentos que
temos acesso para o estudo do período, o iconoclasmo foi disputado apenas entre
as principais esferas de poder em Bizâncio, ou seja, entre as esferas política e
religiosa.
Sendo assim, no que se refere às fontes existentes para o estudo do período
iconoclasta (726-843), as informações são um tanto quanto obscuras, devido à
falta de informação do que teria levado de fato à eclosão da iconcolastia,
proveniente da destruição proposital de importantes documentos, tanto por parte
dos iconoclastas quanto por parte dos iconófilos, mas principalmente da parte
iconófila, já que após a derrota do iconoclasmo, foi estabelecido que os
documentos iconoclastas fossem destruídos o que fez com que a história do
período fosse produzida apenas do ponto de vista da parte vitoriosa. Além disso,
temos também o problema relacionado às fontes imagéticas do período que foram
os principais alvos da política iconoclasta, fazendo com que tenhamos acesso
somente às imagens antecedentes que sobreviveram e àquelas posteriores ao
período.
Sobre a documentação a qual podemos ter acesso, Ostrogorsky7 ressalta a
possibilidade de se conhecer as decisões do concílio iconoclasta de 754, em
Hieria, através das atas do concílio iconófilo de 787, em Nicéia, e as decisões do
concílio de 815, que marcou o retorno da iconoclastia após o primeiro
restabelecimento do culto das imagens, através da obra do patriarca Nicéforo
(806-815), já que não restou nenhum escrito iconoclasta em sua forma original,
apenas fragmentos que podem ser encontrados nessas fontes, utilizados para a
condenação da iconoclastia.
Outra dificuldade que diz respeito às fontes do período é o fato de que as
mesmas são em sua maioria eclesiásticas, o que segundo Auzépy 8 é um problema,
pois é preciso que o historiador esteja atento ao caráter tendencioso desses
documentos que são frutos do ponto de vista clerical ou monástico, ou seja, foram
7
OSTROGORSKY, 1984, pp. 157-216.
8
AUZÉPY, In: SHEPARD, 2008, pp. 251-291.
12
9
CAMERON, In: BOWMAN; WOOLF (Org), 1998, p. 247.
10
Ibidem, p. 256.
13
11
CAMERON, In: BOWMAN; WOOLF (Org), 1998, p. 244.
12
A questão referente à data de início do Iconoclasmo é bem divergente entre os estudiosos do
período uma vez que alguns autores como Steven Runciman (1978) e Renato Viana Boy (2007)
atribuem como o ponto de partida do iconoclasmo a ordem de retirada da imagem de Cristo da
porta de bronze do Palácio Imperial, a Chalkê, em 726, pelo então imperador Leão III, enquanto
outros como Fernanda Espinosa (1972) e Paul Lemerle (1991) apontam a data inicial como 730, na
qual o mesmo imperador convocou um sínodo condenando oficialmente a iconoclastia. Neste
trabalho usaremos como a data oficial 726, por acreditarmos que a crise iconoclasta teve início
antes mesmo da convocação do sínodo, devido às atitudes já hostis do imperador em relação às
imagens.
13
O documento referente à retirada do Cristo da Chalké faz parte da Crônica de Teófanes e pode
ser encontrado in: MANGO, 1993, pp. 151-152.
14
BRYER; HALDON, 2001.
14
15
GRUMEL, 1989.
16
Cf. RUNCIMAN, 1978.
15
17
Este documento, considerado suspeito, pode ser encontrado em uma versão em francês em
GRUMEL, 1989, p. 65-66, N. 416.
16
18
Documento referente à condenação das imagens em Bizâncio. ESPINOSA, 1972, p. 63.
19
Fragmentos dos tratados de Teodoro Estudita podem ser encontrados em MANGO, 1993, pp.
173-175.
20
Essa carta pode ser encontrada em uma versão em inglês em MANGO, 1993, pp. 16-18.
21
A discussão em torno dos Libri Carolini pode ser encontrada em BAJJANI, 2009.
17
22
DAMASCENO, In: LOUTH, 2003.
23
Para as obras de Damasceno usaremos, para a tradução, a versão traduzida para o inglês
encontrada em: DAMASCENO, In: LOUTH, 2003 e a versão grega das mesmas em Patrologiae
Graecae, Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. Disponível em http://patristica.net/graeca/.
24
GRUMEL, 1989.
25
MANGO, 1993.
26
Ibidem.
18
27
Epitome of the Definition of the Iconoclastic Conciliabulum, Held in Constantinople, A. D. 754.
In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
28
Decree of Secound Concil of Nicea, 787. The decree of the Holy, Great, Ecumenical Synod, the
Second of Nicea. In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
29
LOUTH, 2002.
30
CARDOSO, 2013.
31
ANTHONY, 2015.
32
BOY, 2007; BOY, 2008.
33
KAZHDAN, 1991.
34
DAGRON, 2007.
35
TAVEIRA, 2002.
36
KALDELLIS, 2015.
19
CAPÍTULO 1
37
Cf. MANGO, 1993, pp. 151-152.
38
GRUMEL, 1989.
39
Ibidem, p. 6.
40
Ibidem, p. 12.
41
Ibidem.
21
42
Cf. LEMERLE, 1991, p. 76.
22
Para isso, faremos uma breve contextualização, neste capítulo, acerca dos
primeiros concílios e de suas definições, passando pela importância do ícone na
história do cristianismo e na história bizantina e pela questão autocrática do poder
imperial, além de explanar um pouco acerca da história do monacato bizantino.
Trataremos ainda da expansão islâmica e da crise bizantina no século VII, para
melhor compreensão de como ocorreu a ascensão do imperador Leão III, sua
ideologia imperial e o contexto da eclosão da iconoclastia.
43
Há ainda entre os historiadores, dúvidas acerca da veracidade ou não da suposta visão do
imperador Constantino, na qual o mesmo teria visto Cristo em sonho e este teria ordenado que as
tropas de Constantino inscrevessem sem seus escudos o monograma cristão XP (RUNCIMAN,
1978). “Historiadores racionalistas contestam essa versão como sendo uma invenção do próprio
Constantino ou, mais provavelmente, de Eusébio, o qual consideram um bajulador digno de pouca
confiança. Cristãos piedosos veem nisso um milagre. Outros acreditam que Constantino tenha
presenciado um fenômeno natural raro, mas não excepcional, exagerando-o em sua imaginação”.
Cf. RUNCIMAN, 1978, p. 13.
44
Ibidem.
45
Ibidem.
46
Cf. CUNNINGHAM, In: JAMES, 2010, pp. 149-159
47
O termo “heresia” era utilizado pelos bizantinos para designar aqueles que eram adversários da
Igreja Ortodoxa de Constantinopla ou para designar também tendências religiosas que foram
condenadas pelo patriarcado por debaterem acerca da definição da Trindade e da dupla natureza de
Cristo. Cf. KAZHDAN, 1991, pp. 918-920.
23
defesa das imagens feita pelo monge João Damasceno na primeira fase da
iconoclastia também.
Acreditava-se, assim, a partir das Escrituras que a relação de Deus com a
humanidade teve início com a criação do universo e de tudo o que há nele como
descrito em seu primeiro capítulo, o Gênesis. Portanto, Deus é o criador – não
criatura – independente de sua criação que, assim, depende d’Ele para ser criada e
existir. Comentaristas cristãos alegavam, a partir do segundo século, que Deus,
enquanto Trindade, foi revelado tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos.48
Assim, para estar mais perto de Cristo, os fiéis se utilizavam de formas
espirituais ou físicas através, por exemplo, do sacramento do batismo,
considerado um ritual formal para a iniciação na Igreja. Havia ainda a eucaristia,
símbolo de participação em Cristo e os ícones, santos e relíquias utilizados para o
ensinamento do dever cristão, principalmente entre a população comum bizantina,
a qual era composta por uma maioria analfabeta que se instruía religiosamente
através do visual e/ou da oralidade.49
No que concerne à questão trinitária, o ponto principal era a compreensão
correta da relação existente entre Jesus Filho e Deus Pai, já que associar outro ser
a Deus no cristianismo era considerada apostasia, ao contrário do que acontecia no
mundo pagão, no qual Jesus poderia ser acrescentado ao panteão dos deuses sem
prejuízos para os seus princípios. Dessa forma, a necessidade de definir de forma
correta a relação entre Deus e Cristo se encontra em dois temas muito complexos
denominados cristologia – essa preocupação com a relação entre Pai e Filho – e
heresia – termo usado pelos cristãos para designar aqueles que professam de
forma incorreta a fé cristã.50
Porém, é preciso ressaltar que, anteriormente à evolução da definição do
dogma trinitário, se impunha o modelo cristológico que adotou o conceito de
Logos para definir a relação de Cristo com o Pai, no qual o primeiro era
subordinado ao segundo. Esse modelo era problemático, pois comprometia o
dogma da unidade de Deus. A partir de então teria surgido o dogma da Trindade
que consistia na distinção das três hipóstases divinas do Pai, Filho e Espírito
Santo. No entanto, essa definição também era problemática, já que se falava em
48
Cf. CUNNINGHAM, In: JAMES, 2010, pp. 149-159.
49
Ibidem.
50
Cf. LOUTH, In: JAMES, 2010, pp. 187-198.
24
51
Cf. ALBERIGO, 1995.
52
Cf. LOUTH, In: JAMES, 2010, pp. 187-198.
53
É preciso ressaltar que a conversão do imperador Constantino não tem evidência histórica. “Vê-
se portanto como é necessário ser prudente quando se fala da conversão de Constantino. Deve-se
evitar dois excessos contrários. Não se pode esquecer que Constantino só chegou à fé cristã
lentamente e, segundo tudo indica, mais por força de uma série de circunstâncias, senão de
considerações políticas, que por uma iluminação interior; que durante muito tempo o cristianismo
pôde lhe parecer superior às outras religiões da época, mas de modo algum essencialmente
diferente; que, aliás, ele continuou sendo pontifex maximus durante todo o seu reinado, e que,
embora tenha tentado eliminar os vícios e as superstições mais grosseiras do paganismo, não
procurou depreciá-lo. Inversamente, não se pode negar que Constantino sempre se preocupou com
o problema cristão; que desde o começo ele demonstrou uma grande tolerância, e logo uma grande
benevolência, para com os cristãos; e que enfim é bem provável que ele tenha se convertido, visto
que foi batizado. É verdade que ele protelou até a véspera de sua morte para receber o batismo;
mas talvez isso não seja um sinal de indiferença, pois esse procedimento era muito frequente
naquela ocasião: acreditava-se que desse modo apagavam-se mais completamente as faltas da vida.
Mais singular parece o fato de Constantino ter sido batizado pelas mãos de um bispo ariano.” In:
LEMERLE, 1991. pp. 12-13.
54
Cf. ALBERIGO, 1995, p. 16.
25
55
Cf. ALBERIGO, 1995, p. 24.
56
Cf. LOUTH. In: JAMES, 2010, pp. 187-198.
57
Cf. BOY, 2004.
58
Cf. ALBERIGO, op. cit.
26
59
BOY, 2004, p. 100.
60
Cf. BRUBAKER, In: JAMES, 2010, pp. 323-337.
61
Cf. MANGO, 1998. pp. 105-124.
62
DAMASCENO, In: LOUTH, 2003.
63
Epitome of the Definition of the Iconoclastic Conciliabulum, Held in Constantinople, A. D. 754.
In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
27
Cristo era absurda, uma vez que, ao fazê-lo, separavam naturezas humana e
divina, enfatizando a natureza humana, caindo, assim, na heresia nestoriana.
Sendo assim, no que se refere diretamente ao estatuto da imagem em Bizâncio
é importante destacar a existência de uma carta escrita pelo bispo Eusébio de
Cesaréia (265-339) para a irmã de Constantino, Constância, na qual ele a critica
por lhe pedir o envio de um retrato de Cristo, afirmando que não é possível a
produção de uma imagem de Cristo porque não é possível representar aquilo que é
ininteligível.
Você também me escreveu a respeito de uma suposta imagem
de Cristo, imagem que deseja que eu lhe envie. Agora, que tipo
de coisa é esta que vocês chamam de imagem de Cristo? Eu não
sei o que a impulsionou para pedir que uma imagem de Nosso
Salvador fosse delineada. [...] Como se pode pintar uma
imagem de algo tão maravilhoso e de inatingível forma – se o
termo "forma" é de todo aplicável à essência divina e espiritual
- a menos que, como os pagãos descrentes, uma coisa é
representar as coisas que não têm qualquer semelhança possível
a qualquer coisa ...? Pois eles também fazem tais ídolos quando
desejam moldar à semelhança o que eles consideram ser um
deus, ou, como eles poderiam dizer, um dos heróis ou qualquer
outra coisa do rei, ainda assim são incapazes até mesmo de se
aproximar de uma semelhança, e assim delineiam e representam
algumas formas humanas estranhas. Certamente, que você vai
concordar que tais práticas não são lícitas para nós. 64
Esse documento nos mostra que desde o século IV já havia problemas quanto
à legitimidade da imagem de Cristo e seu culto, neste caso por um próprio
membro da Igreja que considerava a prática de pintar retratos como pagã. Além
disso, foi possível observar também que já no século VII um concílio foi
convocado para decidir questões referentes à padronização dos ícones. Desse
modo, é preciso que estejamos atentos para esses eventos ocorridos nos primeiros
séculos, pois os mesmos podem de alguma forma nos ajudar a entender o que
poderia ter levado à eclosão da iconoclastia pelo imperador Leão III no século
VIII e, principalmente, entender como as imagens se tornaram objetos de
adoração ao ponto de se tentar aboli-las do cotidiano bizantino.
64
MANGO, 1993, pp. 16, 17
28
65
Cf. KAZHDAN, 1991, pp. 977-981.
66
Cf. VASSILAKI, In: CORMACK; HALDON; JEFFREYS, 2008, pp. 758-769.
67
Cf. CORRIGAN, In: CORMACK; HALDON; JEFFREYS, 2008, pp. 67-76.
68
Cf. BRUBAKER, In: JAMES, 2010, pp. 323-337.
29
Assim como Brubaker69, Alain Besançon70 também defende que a arte cristã
propriamente dita somente começou a ser produzida a partir da suposta conversão
de Constantino no quarto século, quando o cristianismo deixou de ser uma
religião perseguida e passou a ser a religião tolerada no Império Bizantino,
quando os artesões teriam então passado a trabalhar para a exaltação da nova fé.
Dessa forma, Corrigan71 faz o seguinte questionamento: por que as imagens
cristãs apareceram de forma tardia? Segundo a autora, isto teria ocorrido devido à
postura anti-imagem da Igreja primitiva. Porém, a autora cita André Grabar e a
afirmação do mesmo de que as primeiras imagens produzidas pelos cristãos
poderiam ter surgido em resposta à arte figurativa que era desenvolvida por
religiões concorrentes, tais como o judaísmo e o monoteísmo. Contudo, Corrigan
destaca que estudos mais recentes indicam que a Igreja primitiva não era de fato
anti-imagem e que os cristãos podem ter produzido algo antes do terceiro século
como já fora mencionado acima.
O desenvolvimento da arte cristã se deu entre os séculos IV e VI, nos quais
eram desenvolvidas imagens abstratas ou simbólicas que faziam reverência aos
dogmas da Igreja, além de ícones do Cristo, da Virgem e dos Santos. Assim, é a
partir dos séculos VI e VII que se tem notícia de uma difusão em massa dos
ícones e de seu culto, que se destacavam cada vez mais tanto na esfera privada
quanto na esfera pública. 72
Foi apenas no sétimo século que a Igreja deu a aprovação oficial às imagens
através do Concílio Quinisexto de 692, no qual ordenou-se que Cristo fosse
representado na sua forma humana e não mais simbolicamente como um cordeiro,
o que nos mostra que aos poucos as imagens foram conquistando o seu espaço e
importância em Bizâncio, onde os próprios imperadores as utilizavam em sua
devoções pessoais e como parte dessas imagens. Era muito comum encontrar
representações do imperador junto a Cristo, à Virgem ou a algum santo. 73
Além disso, essa crescente produção e veneração dos ícones encontrava
respaldo na crença do homem comum bizantino que, assim como os seus
ancestrais que cultuavam fervorosamente estátuas de deuses e deusas, faziam o
69
BRUBAKER, In: JAMES, 2010, pp. 323-337.
70
BESANÇON, 1997.
71
Cf. CORRIGAN, In: CORMACK; HALDON; JEFFREYS, 2008, pp. 67-76.
72
Ibidem.
73
Cf. RUNCIMAN, 1977.
30
mesmo com os ícones de Cristo, da Virgem e dos santos, por acreditarem que os
mesmos tinham poderes milagrosos, principalmente no que tange à proteção do
império e também à proteção individual, já que viam no culto das imagens a sua
salvação espiritual.
Todo esse valor dado às relíquias devia-se à função protetora
que elas exerciam, ajudando com seus milagres não apenas aos
bizantinos individualmente, mas garantindo a própria
sobrevivência do Império. Foi uma imagem santa da Virgem,
defensora de Constantinopla, que em procissão pelas muralhas
da cidade impediu que os persas e os ávaros a invadissem em
626, os árabes em 677 e 717.74
Porém, é entre o oitavo e nono séculos que temos uma discussão em torno da
legitimidade dos ícones que levaria à escassez dos mesmos com a entrada em
vigor da iconoclastia. O impacto da iconoclastia na arte bizantina foi profundo,
pois não restou quase nenhuma obra imagética do período ou anterior a ele.
74
JUNIOR; FILHO, 1985, pp. 23.
75
A única exceção era o imperador Juliano (363-465) que era pagão.
76
Cf. SHERRARD, 1970, p. 92-112.
77
Ibidem, p. 93
31
78
DIEHL, 1961, p. 82
79
Utilizamos o termo titulatura conforme as ideias de Celso Taveira, 2002.
80
Cf. TAVEIRA, 2002.
81
Cf. McCORMICK, 1998, pp. 219-239.
82
Cf. PREVITE-ORTON, 1967, p. 349.
83
Cf. DAGRON, 2007.
84
Ibidem, p. 105.
32
85
Cf. DAGRON, 2007.
86
Cf. McCORMICK, In: CAVALLO, 1998, pp. 219-239.
87
Ibidem, p. 219.
88
Ibidem, p. 220.
89
Cf. DAGRON, 2007.
90
Ibidem.
91
Cf. McCORMICK, In: CAVALLO, 1998, pp. 219-239.
33
92
McCORMICK, In: CAVALLO, 1998, p. 232.
93
Cf. McCORMICK, In: CAVALLO, 1998, pp. 219-239.
94
DAGRON, 2007.
95
McCORMICK, In: CAVALLO, 1998, op. cit., pp. 219-239.
96
Ibidem.
97
Ibidem, p. 238.
34
98
McCORMICK, In: CAVALLO, 1998, pp. 219-239.
99
Ibidem, p. 221.
100
Essa expressão pode ser encontrada In: JUNIOR; FILHO, 1985.
101
DIEHL, 1961, p. 91
102
Cf. KANTOROWICZ, 2000, pp. 40-169.
103
Ibidem, p. 68.
35
no que se refere à palavra cesaropapismo, tal como fez Gilbert Dagron. Este na
introdução de seu livro questiona se seria o imperador, à sua maneira, um
sacerdote, já que os próprios imperadores bizantinos se autointitulavam
imperadores e sacerdotes, tal como ocorreu com Leão III no século VIII. Sendo
assim, Taveira afirma que “é, pois, partindo da noção de teocracia que se pode
compreender o problema do cesaropapismo. Uma sociedade que Deus dirige e
tudo decide, fazendo conhecer a todos sua vontade, é uma sociedade regida pelo
governo teocrático”.104
Como já observamos, o cerne da questão está no fato de que Constantino
fez da Igreja assunto de Estado, criando uma ideia de Império cristão
acompanhada de uma teologia política, na qual a missão divina dada ao imperador
era uma espécie de sacerdócio, sendo muito problemática a articulação entre a
instituição eclesiástica em si e o sacerdócio real do soberano. A partir de então,
Constantino “santificou” todos os imperadores que vieram depois como “novos
Constantinos” e aqueles que construíram dinastias (Heráclio, Leão III, Leão V,
Teófilo, Basílio I) deram em sua homenagem o seu nome aos filhos primogênitos
em razão de sua virtude que era considerada legítima. A palavra cesaropapismo
teria, no século XIX, sido apontada para a definição dos herdeiros ortodoxos de
Bizâncio com o intervencionismo “constantiniano” como a causa principal para o
cisma entre o Oriente e o Ocidente cristãos, levando à impossibilidade de
distinguir os poderes espiritual e temporal. 105
Com isso, várias foram as discussões, segundo o Dagron, em torno da
figura de Constantino e de seu poder, como ocorreu no contexto da Reforma e da
Contra-Reforma em que Lutero distinguiu os poderes espiritual e temporal, além
de fazer crítica ao soberano que se atribuiu o direito de sentar no trono de Deus. O
autor cita também Burckhardt que rechaçou toda forma de cristianismo de Estado
e fez uma análise do que ele chamava de bizantinismo, que somente mais tarde
passou a ser o conhecido termo cesaropapismo e, também, Erok Peterson que de
crítica ao “cristianismo político” passou a fazer crítica de uma “teologia política”.
Para o autor, muitos pesquisadores do tema atribuíram a Eusébio de
Cesaréia a idealização do bizantinismo, isto é, o cesaropapismo, que opôs uma
mentalidade ocidental a uma oriental, já que
104
TAVEIRA, 2002, p. 292
105
Cf. DAGRON, 2007.
36
106
DAGRON, 2007, p. 345-346.
107
Ibidem, p. 348
37
108
McCORMICK, In: CAVALLO, 1998, p. 239.
38
mais à frente, esse não foi o único modelo político existente em Bizâncio, tão
pouco o único defendido pelos pesquisadores. Constataremos a existência não só
de outro modelo político já existente e herdado por Bizâncio, isto é, a república
romana, como também a existência de outras competências do poder imperial
bizantino.
109
Cf. McGuckin, In: CORMACK; HALDON; JEFFREYS, 2008, pp. 611-620.
110
Cf. TALBOT, In: HALDON, 2009, pp. 257-278.
111
Cf. MANGO, 1998, pp. 105-124.
39
112
TALBOT, In: HALDON, Op. Cit., pp. 257-278.
113
Cf. TALBOT, In: HALDON, 2009, pp. 257-278.
114
Ibidem. 57-278.
40
115
Cf. TALBOT, In: HALDON, 2009, pp. 257-278.
116
Cf. McGuckin, In: CORMACK; HALDON; JEFFREYS, 2008.
117
TALBOT, In: HALDON, pp. 257-278.
118
Cf. RUNCIMAN, 1978.
119
Ibidem, p. 93
120
Cf. ALBERIGO, 1995.
41
121
Cf. ALBERIGO, 1995, p. 104-105.
122
Cf. MANGO, 1998, pp. 105-124.
123
Cf. RUNCIMAN, 1978.
42
124
Cf. GREGORY, pp. 202-216.
43
125
Cf. MAIER, 1989.
126
Ibidem.
127
GREGORY, 2005, pp. 202-216.
128
Ibidem.
129
Ibidem.
44
partir de então que se iniciou em Bizâncio diversas reformas que foram essenciais
para o começo de uma história propriamente Bizantina, ou seja, o Império ganhou
suas características próprias, desligando-se das antigas tradições romanas. 130
O ponto de partida dessas reformas foi a implantação do novo regime de
administração do Império a partir de themata131, subdivisões militares das
províncias, que seriam administradas por um comandante chamado strategos,
combinando, assim, os poderes militar e civil, subordinado ao poder imperial. 132
Os themata teriam surgido com as medidas reformistas para a tentativa de
uma homogeneização política-administrativa e política-defensiva do então
imperador Justiniano (527-565), que queria unificar os poderes civil e militar nas
zonas consideradas críticas do Império. No entanto, foi somente no século VII
após a perda das províncias orientais, que foi feita a implementação do sistema de
themata na Ásia Menor. Foram essas reformas que impulsionaram a constituição
de um exército bizantino composto pelo campesinato livre, no qual os indivíduos
que pertenciam a um determinado thema, recebiam, a troco de servir o exército,
terras que poderiam ser herdadas por seus descendentes. Essa organização de
exército, diferentemente da composta por mercenários, tinha como vantagem um
maior esforço para a defesa do território, pois os interesses desses soldados/
campesinos encontrava-se dentro do mesmo.133
No âmbito religioso também houve transformações. A perda das
províncias orientais levou também à perda de opositores monofisistas, fazendo
com que a Ortodoxia oriental passasse a ser agrupada em torno do patriarca de
Constaninopla, o que garantiria maior influência sobre a população e o imperador.
Haveria, assim, uma maior homogeneidade do Império greco-asiático, o triunfo da
língua grega e a fusão da noção de Ortodoxia e nacionalidade.134 Essa nova
identidade pode ser observada no título do imperador que deixa de ser chamado
pela forma latina Augustus e passa a ser chamado pelo termo grego basileus.
Esses fatores demonstram que apesar do Império ter perdido a sua posição de
grande potência, acabou por adquirir sua nova identidade que foi crucial para a
130
Cf. MAIER, 1989.
131
Cf. LEMERLE, 1991.
132
Cf. KAZHDAN, 1991, p. 2034.
133
Cf. MAIER, 1986.
134
LEMERLE, op. cit., 1991.
45
135
Cf. MAIER, 1989.
136
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
137
Ibidem.
46
138
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
139
HALDON, In: CORMACK; HALDON; JEFFREYS, 2008, pp. 249-263.
140
Cf. MAIER, 1989.
141
Idem, p. 84
47
142
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
143
Cf. AUZÉPY, In: SHEPARD, 2008, pp. 251-291.
144
GREGORY, op. cit., pp. 202-216.
145
AUZÉPY, In: SHEPARD, op. cit., 2008, pp. 251-291.
48
146
A data referente à publicação do ecloga por Leão III ainda é motivo de dúvida entre os
pesquisadores do tema. Alguns pesquisadores como Georg Ostrogorsky (1984); Franz Maier
(1986) e Paul Lemerle (1991) defendem a data de 726, enquanto que Timothy Gregory (2005) e
Alexander P. Kazhdan (1991) afirmam que 726 seria uma data possível, porém, 741 a data mais
provável.
147
KAZHDAN, 1991.
148
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
149
Cf. OSTROGORSKY, 1984. pp. 157-216.
150
Ibidem.
49
151
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
152
BOY, 2007.
153
OSTROGORSKY, 1984, pp. 157-216.
50
154
DIEHL, 1961, pp. 82-101.
155
RUNCIMAN, 1978, pp. 93-110.
156
JUNIOR; e FILHO, 1985, pp. 12-31.
157
LEMERLE, 1991.
158
MAIER, 1986.
51
159
BESANÇON, 1997.
160
“Não tenha outros deuses diante de mim. Não faça para você ídolos, nenhuma representação
daquilo que existe no céu e na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra”. BÍBLIA
SAGRADA, 1990. ÊXODO 20:3, 4.
161
AUZÉPY, In: SHEPARD, 2008, pp. 251-291.
52
sucesso sobre as invasões árabes teria vindo justamente quando se proibiu o culto
das imagens, era como uma recompensa de Deus. Auzépy afirma que isso pode
ser visto também quando se restabeleceu o culto das imagens pela primeira vez
em 787, o que acabou por coincidir com diversas derrotas militares bizantinas, e
que o retorno da iconoclastia em 815 foi seguido de vitórias contra os búlgaros.
Para a autora, o movimento iconoclasta pode ser considerado como um
componente religioso para auxiliar na sobrevivência do Império Bizantino.
Em contraposição, Robin Cormack 162 defende a questão da idolatria como
fator para o início do iconoclasmo, mas chama a atenção para a questão da
ascensão do islamismo e das invasões árabes que não devem ser descartadas. Para
o autor, a eclosão da iconoclastia seria uma resposta às circunstâncias relativas à
situação política do Império no século VIII.
Timothy Gregory163 é outro autor que também não acredita na influência
islâmica e judaica como um dos motivos para a guerra contra as imagens e
tampouco acredita na visão da iconoclastia enquanto um movimento
antimonástico. O autor considera plausível a ideia de que o iconoclasmo era uma
tendência autocrática do imperador, considerado, como já dissemos antes, o
representante de Deus na terra, sendo assim, uma luta entre o imperador e o ícone,
por sentir que Deus estava punindo o Império, devido à idolatria que era uma
grave heresia. Assim, a falha de Bizâncio contra as invasões árabes foi uma
resposta de Deus aos idólatras. Porém, Gregory afirma que a explicação mais
convincente seria o fato do iconoclasmo ter iniciado no século VIII devido à
crença pessoal do imperador Leão III que sentia que tinha uma responsabilidade
pessoal para com Deus e para com os seus súditos em relação ao ensino da prática
religiosa correta, na qual o caráter autocrático de seu poder o fez impor suas
próprias visões em relação às práticas religiosas sobre todo o Império sem levar
em consideração o que desejava o público mais amplo que defendeu
energeticamente as imagens no decorrer do processo.
Renato Viana Boy164 defende também a questão monástica como razão
para a eclosão da iconolastia, pois salienta o alto teor de violência que era usado
pelos iconoclastas contra os iconófilos. No entanto, compartilha também da ideia
162
CORMACK; In: CORMACK; HALDON; JEFFREYS, 2008, pp. 750-757.
163
GREGORY, 2005, pp. 202-216.
164
BOY, 2007.
53
165
ANGOLD, 2002, pp. 68-86.
166
Idem, p. 86.
167
HALDON, 2010.
54
iconoclastia e que esse acontecimento teria sido levantado pela imperatriz Irene e
pelo patriarca Tarásio, pois é fato que poucos foram os monges como Teodoro
Estudita que se colocavam publicamente contra a nova política do Império e ainda
supõe que os historiadores estejam dando muita ou mais atenção e importância a
esses monges do que eles realmente poderiam ter. Afirma também que muitos
monastérios eram a favor da iconoclastia, assim como foram recompensados pelos
imperadores por isso. Para Haldon, o iconoclasmo é mais um fenômeno de cunho
imperial e de legitimidade deste poder, do que um fenômeno ligado à teologia e à
questão de dogma, que dava muito pouca importância à opinião popular.
Observamos, assim, que a grande maioria dos autores acima atribui como
causas para o início da iconoclastia questões relativas à religião e/ou política e que
essas causas variam de acordo com a abordagem de cada autor. Os autores mais
clássicos se dividem entre causas religiosas que dizem respeito à idolatria e causas
políticas referentes ao crescimento dos monastérios e sobrevivência do Império
frente às invasões árabes. Já os autores mais recentes procuram outras abordagens
para tentar compreender o fenômeno. Entretanto, é possível perceber que também
se dividem entre razões políticas e religiosas.
De nossa parte pensamos, assim como os pesquisadores Maier, Auzépy e
Cormack, que a política iconoclasta teve início devido à necessidade de defesa do
Império frente à expansão árabe, mas também como uma forma de legitimação do
poder imperial, como também defendeu Haldon, já que o mesmo também passava
por uma crise, como foi possível constatar no decorrer do século VII. Entendemos
que essa crise só se cessa com a chegada da dinastia isaúrica. Por isso a
necessidade de maior compreensão dos tratados de João Damasceno que se
inserem nesse período e a defesa que o monge faz não só das imagens, mas
168
HALDON, 2010, p. 11.
55
169
LOUTH, 2002.
170
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
171
Cf. OSTROGORSKY, 1984, pp. 157-216.
172
Epitome of the Definition of the Iconoclastic Conciliabulum, Held in Constantinople, A. D. 754.
In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
56
173
“The name Christ signifies God and man. Consequently it is an image of God and man, and
consequently he has in his foolish mind, in his representation of the created flesh, depicted the
Godhead which cannot be represented, and thus mingled what should not be mingled. Thus he is
guilty of a double blasphemy--the one in making an image of the Godhead, and the other by
mingling the Godhead and manhood. Those fall into the same blasphemy who venerate. [...]They
fall into the abyss of impiety, since they separate the flesh from the Godhead, ascribe to it a
subsistence of its own, a personality of its own, which they depict, and thus introduce a fourth
person into the Trinity.” In: Epitome of the Definition of the Iconoclastic Conciliabulum, Held in
Constantinople, A. D. 754. In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
57
devem ser seguidas a partir de então e uma lista de anátemas, na qual se destaca os
nomes do patriarca Germano – deposto por Leão III – e do monge João
Damasceno sob o seu nome árabe, Mansur.
Como consequência desse concílio, apesar da ordem para não fabricar
imagens, há também pouca evidência real para qualquer ação por parte de
Constantino V para a destruição das mesmas, já que, como citado, também proibia
qualquer ato de vandalismo contra os ícones. Estaria, assim, por trás dessas
histórias de destruição das imagens, uma campanha de depreciação do então
imperador. Dessa forma, a única evidência que se tem acerca das ações
iconoclastas, seria a substituição de uma imagem da Virgem e do menino Jesus,
por uma cruz, localizada em uma igreja monástica, como podemos ver abaixo 174:
174
Cf. BRUBAKER, 2010. pp. 323-337.
58
175
Cf. BRUBAKER, In: JAMES, 2010, pp. 323-337.
176
Cf. OSTROGORSKY, 1984, pp. 157-216.
177
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
178
OSTROGORSKY, op. cit., pp. 157-216.
179
GREGORY, op. cit., pp. 202-216.
180
OSTROGORSKY, op. cit., pp. 157-216.
60
tempo depois enganou o exército, mandando-o para uma suposta expedição contra
os árabes na Ásia Menor e, em 787, conseguiu junto ao patriarca Tarásio a
realização do concílio em Nicéia, local cheio de simbolismo para toda a
cristandade. Neste concílio, foram reunidos 365 bispos e 132 monges. 181
No decreto182 é possível encontrar o uso de das Sagradas Escrituras e das
tradições patrísticas, além do argumento da tradição e da verdade como
fundamentação para o restabelecimento do culto das imagens, argumentação esta
também utilizada pelos iconoclastas, o que nos mostra como um mesmo
argumento podia ser utilizado por grupos antagônicos de acordo com os seus
interesses. Há também ordem de anátema a Ário e a todos os precursores de
correntes heréticas consideradas contrárias à tradição eclesiástica, além da
afirmação de que todos aqueles que rejeitassem as tradições da Igreja seriam
excomungados sendo parte desta última ou não.
181
AUZÉPY, In: SHEPARD, 2008, pp. 251-291.
182
Decree of Secound Concil of Nicea, 787. The decree of the Holy, Great, Ecumenical Synod, the
Second of Nicea. In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
183
“We anathematize the introduced novelty of the revilers of Christians. We salute the venerable
images. We place under anathema those who do not do this. Anathema to them who presume to
apply to the venerable images the things said in Holy Scripture about. idols. Anathema to those
who do not salute the holy and venerable images. Anathema to those who call the sacred images
idols. Anathema to those who say that Christians resort to the sacred images as to gods. Anathema
to those who say that any other delivered us from idols except Christ our God. Anathema to those
who dare to say that at any time the Catholic Church received idols.” In: Decree of Secound Concil
of Nicea, 787. The decree of the Holy, Great, Ecumenical Synod, the Second of Nicea. In:
Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
61
184
Cf. LOUTH, 2003.
185
BACARREZA, 2010.
186
Cf. OSTROGORSKY, 1984, pp. 157-216.
187
Ibidem.
188
Cf. GREGORY, 2005, pp. 202-216.
62
189
OSTROGORSKY, op. cit., pp. 157-216.
190
GREGORY, 2005, op. cit., pp. 202-216.
191
OSTROGORSKY, op. cit., pp. 157-216.
192
GREGORY, op. cit., 2005.
63
CAPÍTULO 2
193
KAZHDAN, 1991, pp. 1063-1064.
194
LOUTH, 2002.
195
Epitome of the Definition of the Iconoclastic Conciliabulum, Held in Constantinople, A. D. 754.
In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
66
196
ANTHONY, 2015, pp. 607-627.
197
Ibidem.
67
198
ANTHONY, 2015, pp. 607–627.
199
Ibidem.
200
Ibidem.
68
traz o nome de Mansour ao invés de Manzeros como foi afirmado por Teófanes.
Com isso, essa problemática traz duas descobertas importantes, sendo a primeira
que Teófanes afirmou que o sínodo teria anematizado Damasceno sob o seu nome
ancestral, Mansur, ou seja, indica ser Mansur um nome de família ou que
Damasceno o teria herdado de seu avô. Assim, seria correta a afirmativa de
Teófanes de que o nome ancestral de Damasceno teria sido facilmente corruptível
em Manzeros, já que o termo Manzer seria um termo aramaico que significa
“bastardo”, sendo muito usado como forma de reprovação. Já a segunda
descoberta seria a de que se se aceita o nome Mansour tanto como ancestral de
Damasceno quanto como nome de seu pai, há uma explicação para a forma como
a qual o sínodo de 754 se utilizou do nome Mansur para se referir a Damasceno e
para denegri-lo.201
Assim, o que se tem de certo sobre João Damasceno são fontes que datam
do século VIII que o associam à profissão de seus antepassados e fontes
hagiográficas que afirmam com frequência que Mansur era na verdade pai de
Damasceno e outras mais antigas que afirmam que Mansur era somente o seu
nome ancestral. O seu nome pré-monástico como é tanto explorado, seria Cyrene
bar Mansur, que pode ser encontrado no Ethicon do polímata Jacobite Gregory
Barhebraeus (1226-1286).202
Conclui-se, dessa forma, que o nome pré-monástico de João Damasceno
era provavelmente Cyrene, filho de Mansur, o Jovem, e ele certamente não teria
sido registrado sob o nome de Mansur como se imaginava ao analisar as atas do
concílio iconoclasta de 754, que o anematizou. 203
Sobre Damasceno e seus escritos é preciso ressaltar ainda, segundo Louth,
que ele não foi um gênio isolado, mas sim parte de um grupo de colaboradores e
suas obras foram escritas para um público imediato sendo rapidamente
distribuídas. O autor afirma também que enquanto membro de uma comunidade
monástica na Palestina, Damasceno teria escrito principalmente para os seus
companheiros.
201
ANTHONY, 2015, pp. 607–627.
202
Ibidem.
203
Ibidem.
69
204
BACARREZA, 2010.
205
Decree of Secound Concil of Nicea, 787. The decree of the Holy, Great, Ecumenical Synod, the
Second of Nicea. In: Medieval Sourcebook, website www.fordham.edu.
206
CARDOSO, 2013.
207
Ibidem. p. 76.
208
LOUTH, 2002.
70
Percebe-se, assim, que Damasceno teria produzido seus tratados de acordo com as
ações do imperador contra as imagens e contra a quem as defendia.
Sobre a tradução dos tratados, Louth afirma que os dois mais utilizados
pelos pesquisadores do período, ou seja, os traduzidos na língua inglesa por Mary
H. e Tomas Baker (1898) e David Anderson (1980) estão incompletos e omitem
grande parte do terceiro tratado, já que não se encontram nessas traduções de fato
os três tratados, mas sim três versões da mesma defesa dos ícones contra a
iconoclastia. Por isso, utilizamos neste trabalho a versão inglesa do próprio
Andrew Louth (2003) que consideramos mais completa e compatível em relação
ao original grego.
De forma geral, encontramos nesses tratados a forma pela qual Damasceno
procura explicar as razões pelas quais as imagens devem ser veneradas pelos
cristãos, utilizando-se dos conceitos de Encarnação, Adoração, Tradição,
Verdade, Idolatria, Arquétipo/Protótipo209, Memória, Honra, Imitação e
Salvação. Posteriormente, faremos uma análise de cada tratado de forma separada,
com o intuito de esclarecer esses conceitos utilizados por Damasceno.
209
Inserimos aqui tanto o termo arquétipo quanto o termo protótipo, pois na versão inglesa dos
tratados traduzida por Andrew Louth, o autor utiliza o primeiro termo, enquanto que na versão
grega Damasceno utiliza o segundo termo, por isso a utilização da palavra protótipo em grego
entre parênteses, já que este é o termo original utilizado pelo monge.
72
reconhecer que o poder terreno do rei vem de cima, mas que existem alguns reis
que negligenciam isso, ou seja, negligenciam o poder de Deus.
Posteriormente, Damasceno diz o intuito do seu texto, afirmando que roga
a Deus pela primeira vez, já que este conhecia a sua humilde intenção, para que o
povo de Deus receba seu discurso, cujo propósito é a luta pela verdade:
Em seguida, afirma que acredita em Deus, único que ele adora e oferece a
sua veneração (προσκύνεσις), mas que também adora a Trindade. Alega que não
venera a criação no lugar do Criador. Além disso, descreve Deus como invisível e
como Ele tornou-se visível pelos seus filhos. É aqui que Damasceno defende o seu
argumento através do conceito de Encarnação (ενσάρκωση). Ele afirma que as
211
DAMASCENO, João. Eklipar%w toéinun, per%wton mèen pantokr\atora Kéurton, %§ gumnèa
péanta kaèi tetrachlisméena. prèov |um%av èo léogov. eidéota t%hv tapein%hv mou gnéwmhv \en toéut§
tèo \akraifnèev, kaèi skopo%u tèo e\ilikrinèev, do%unai moi léogon \en \anaéixei stéomatéov mou, kaèi
to%u no%u téav |hnéiav oikeéiain cerséin \anadéexasqai, kaèi to%uton prèov |eautèon \epispéasksqai,
prèov \enéwpiéon te kaèi e\uqeian pridon téhn \réumhn poioéumenon, méh \egkléinonta préov tèa
doko%unta dexièa, \h \aristerèa gnwrizéomena. meq dn !apanta tèon to%u Qeo%u ladn, t\o !eqnov tèo
%agion, tèo basileion \ieréateuma, a\un t%ir kal%§ poiméen t%hv logik%hv Cristo%u poéimnhv, t/%§
Cristo%u \ierarcéian \en |eant%y \upogréafonti, déexksqaéi mou tèon léogon, met e\umeneéiav. méh t%§
èelacéist§ t%hv \axéiav proséecontav, %h léogwn \epiznto%untav strféav. \ep\eèi toéutwn oéu
pantel%wv \idriv éo péenhv \egéw. \allèa t%hv t%wn nohméatwn frontéisai dunéamewv. Oéu gèar \en
léog§ \h basileéia t%wn o\urav%wn, \all’ \en dunéamei. Oéu géar nik\hsai skopèov, \allèa t%h
\alhqeéiç polemouméenh ce=ira \oréexai, t%hv proairéesewv \oregoéushv ceira \ounéamewv. \
Arwgèon toéinun t\hn \anupéostaton \epikeklhméenov \al\hqeia, \ente%uqen to%u léogou t\av \arc\av
poi\\hsomai. (I, 3) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui
Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus.
p.1233.
74
imagens (εικόνeς) não retratam a divindade de Deus, e sim, o Deus que se tornou
visível através da carne. É nesta passagem que Damasceno também afirma que
não está criando e adora uma quarta pessoa na Trindade, como mais tarde os
iconoclastas afirmarão que ele o faz:
212
DAMASCENO, João. Pisteéuw eèiv \ena Qeèon, méian t%wn péantwn \arcèhn, \anarcon,
!aktiston, \anéwleqron kaèi \aqéanatou, aiéwnion kai \aidton, \akatéalhpton, \aséwmaton,
\aéoraton, \aperéigrapton, \aschméatiston. méian éuperoéusion o\uséian, \upéerqeon qeéothta, \en
prisèin éupostéasesi, Patrèi, kaèi G\i%§, kaèi \agéi§ Pneéumati, kaèi to\ut§ méo. n§ latreéuw, kaèi
toéut§ méon§ proséagw tèhv latreéiav proskéunhsin. \ Enèi Qei%§ proskun%w, m\i%ç qeéothti. allèa
kaèi Tri\éaoi latreéuw \upostéasewn, Qei%§ Patrèi, kaèi Qe%§ Gi%§ sesarkwméen§, kaèi Qe%§ \agéi§
Pneéumati, \enèi Qe%§. Oèu protkun%w t%h ktéisei paréa tèon ktéisanta, èa lléa proskun%w tèon
ktéisthn, ktisqéenta tèo kai\ \emèe, kaèi ktéisin \atapetnéwtwv kaèi \akaqairéetwv katelhqéota,
\ina téhn \emèhn doxéash féusin, kaèi qeéiav koinwnéon \apergéashtai féusewv. Sumproskun%§ t%§
basilei kaèi Qe%§, téhn \alourgéida to%u séwmatov, oéuc \wv \iméation, o\ud\\|e \wv téetarton
préosiwpon $apage. \alla\ \wv éoméoqeon crhmatéisasan, kaèi genoméenhn %oper tèo cr%isan
éametadléhtwv. Oéu gèar qeéoehv éh féusiv géegone t%hv sarcèov, \all\ !wsper éo Léogov sèarx
\atréeptwv géegone, mepéinav !oper !hn, o!utw kaèi h séar%v Léogov géegone, oéuk \apoléesasa to%uq
!oper esti, tautizoméenh %oe m%allon prèov tèon Léogon kaq\ \upéottasin. Dièoqkrr%wn, e\ikon\izw
Qeèon tèon \aéoraton, oéuk \wv \aéoraton, \all\ \wv \oratèon déi \hm%av genéomenon, meqéexei sarkéov
te kaì a\imatov. Oéu téhn \aéoraton eikonéizw qeéothtç, \all\ eikonéizw qeo\%u t\hn \oraqeisan
séarka. Ei géar yucèhn eikonéisai \améhcanon, péos§ m%allon Qeèon, tèon kaèi t%h yuc%h déonta
tèo !a=ulou; (I, 4) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui
75
Acrescenta que essas ordens para a não fabricação de imagens teriam sido
transmitidas aos judeus, devido à propensão dos mesmos para a idolatria
(ειδωλολατρία). Explica que é impossível retratar em imagens o que não tem
forma e é invisível. No entanto, afirma que é possível retratar Cristo e sua
passagem na terra por causa de sua forma humana, sendo possível retratar aquilo
que se tornou carne e não o que é divino. Finaliza essa passagem diferenciando a
veneração de culto da veneração oferecida em honra daqueles que fizeram o bem,
algo digno em vida.
Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p.
1236.
213
DAMASCENO, João. | Or%çv, éwv e%iv \estin éo skopèov !wste mèh latre%nsai t%h ktéisei parèa
tèon ktéisanta, mhdèe prosagage%in tèhm t%hv latreéiav proskéuhsin, \all\ \h méony t%§
dhmiourg%§; Dièo pantac%h sunéaptei t%h proskunéhsei tèhn latreéian. Péalen géar fhsin. Oéuk
!esontaéi soi qeoèi !eteroi, pléhn emo%u. Oéu poiéhseiv \eaut%§ gluptèon, o\u%oèe t%an omoéiwma, oéudèe
proskunéhseiv a\uo!iv, o\u%o oéu mèh latreéushv aéutoiv, !oti èegéw eimi: Kéuriov éo Qeèov \um%wn. kaèi
péalen. Toèuv bwmoèuv aéut%wn kaqele\ite, kaèi tèav stéhlav a\ut%wn suntréiyete, kaèi tèa !aloh
aéut%wn \ekkéoyetv, kaèi téa gluptéa t%wn qe%wn aéut%wn katakaéusete puréi. Oéu gèar méh
proskunéhshtv Qe%§ \etéer§. Kaèi met\ qeo|uv cwneutoèuv o\u poiéhseiv seaut%§. (I, 6) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines
Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1238.
76
Após essas pontuações, explica que o seu discurso é sobre imagem (εικόν)
e veneração (προσκύνεσις) e que, por isso, é necessário elucidar o seu significado,
descrevendo a imagem como uma semelhança que descreve o arquétipo/protótipo
(πρωτότυπον), mas que por outro lado não é o arquétipo/protótipo de todas as
formas:
214
DAMASCENO, João. \ Ioudaéioiv mèhn, diéa tèo prèov eéidwlolatreéian e\udlisqon ta%uta
nenomoqéethto. [...] P%wv eéikonisqéhsetai tèo \aéoraton; P%wv eikasqéhsetai tèo \aneéikaston;
P%wv graféhseta: tèu $aposon, kaèi èaméegeqev, kaèi \aéoriston; P%wv poiwqéhsetai tèo éaneideon;
P%wv crwmatourghqéhsetai tèo \aséwmaton; Téi o%un tèo mustik%wv mhnéomenon; D%hlon éwv, !otan
!i\ohv diéa dèe genéomenon !anq\wmaton, téote dréaseiv t%hv \anqrwpéinhv morf%hv tèo \ektéupwma.
!otan drotèov sarkèi éo aéoratov géenhtai, téote eikonéiseiv tèo to%u draqéentov dmoéiwma. [...] \
Eteron géar \estin èh latreéiav proskéunhsiv, kaèi !eteron |h \ek tim%hv prosagoméenh toiv katéa
\axéiwma \uperéecousin. (I, 8) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus
Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1237-1240.
215
DAMASCENO, João. \ All\ \epei!oèh perèi e\ikéonov éo léogov, kaèi proskugèhsewv, féere tèon
perèi toéutwn léogon dieukpinéhswmen. Eikéwn mèen o!un èestin dmoéiwma carakthréizon tèo
prwtéotupon, metéa to%u kaèi tinadiaforéan !ecein prèov autéo. O\u gèar kat\a patéa péanta |h
eikèwn \omoto%utai prèov tèo \arcéetupon. Eikèwn toéinun z%wsa, fusikéh kaèi \aparéallaktov to%u
\aopéatou Qeo%u, \o Gièov, %olon \en \eaut%§ féepwn tèon Patéera, katéa !ecwn tèhn prèov a\utèon
tautéothta, méoh§ dèe diaféerwn t%§ aitiat%§. Aition mèen géar fusikèon, \éo Patéhr aitiatèon dèe,
éo Giéov. Oéu géar Patéhr \ex Gio%u, \allèa Gièov \ek to%u Patpèov. Ex a\uto%u géar, ei kaèi mèh met\
a\utèon !ecei t\o e\inai !oper estin éo gennéhsar. (I, 9) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio
Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus
XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1240.
77
que foi de bom. Dessa forma, faz distinção entre dois tipos de imagens para os
nossos diversos sentidos, isto é, a escrita em livros por meio de palavras e as
produzidas para o sentido da visão:
Mais uma vez, é dito que deve ser imagem o que é passado,
tanto a memória de um certo milagre, ou honra, ou vergonha,
ou virtude, ou vício, para o benefício daqueles que as
contemplam mais tarde, de modo que possam fugir do que é
perverso e serem zelosos com o que é bom. Este tipo de
imagem é duplo: por meio de palavras escritas nos livros, como
Deus gravou a Lei e ordenou as vidas dos homens amados de
Deus a serem gravadas; e através de coisas vistas pelo sentido
da visão, como quando ele ordenou o vaso e a vara para serem
colocados na arca como um memorial. Então, agora nós
registramos as imagens e as virtudes do passado. Portanto,
destruam cada imagem e estabeleçam leis contra quem ordenou
que estas coisas deveriam ser feitas, ou recebam cada qual na
razão e forma conveniente de cada um. (I, 13)216
216
DAMASCENO, João. Péalin, e\ikèwn léegetai t\wn gegonéotwn, !h katéa tinov qaéumatov
mnéhmhn, !h tim%hv, %h a\icéunhv, %h \aret%hv, %h kakéiav, prèov tèhn !usteron t\wn qewméenwn
éwféeletan, éwv !an tèa mèem kakèa feéugwmen, tèav dèe \a \aretéav zhéwswmen. Dipl\h dèe a=uth. diéa
te léogou ta\iv béibloiv \eggrafoméenou, |wv éo Qeèov tèon néomov taiv plaxin \enekéolaye, kaèi
toèuv t%wn qeofil%wn \andp%wn béiouv \anagréaptouv gen\esqai pros\etaxe, kai dia qewr\iav
a\isqht%hv, wv thn st\amnon kai t\hn \r\abdon \en t%n kibwt%w teq%hnai pros\etaxen eiv
mnhm\osunon. O%utw kai n%un téav eikéonav t%wn gegonéoton, kaéi téav \aretéav diagréafomen. \ H
toinun péasan eikéona %anele, kaèi \antinomoqetei t\w taéutav prostzaxanti gevn\esqai. \ H
\ekéasthn déegou, katèa tèon \ekéasth pr\eponta léogon kai tréopon. (I, 13) In: DAMASCENI, S.
Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae
Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. pp. 1241-1244.
217
DAMASCENO, João. \ H proskéunhsiv \upoptéwsewv kaèi tim%hv \esti séumbolon. kaèi
taéuthv diaféorouv !egnwmen préopouv. préwthn, t\hn katèa latreéian, !hn proséagomen méon§
t%§ féusev proskunht%§ Qe%§. \ Epeita, tèhn dièa tèon féusei proskunhtèon Qeèon prosagoméenhn
toiv aéuto%u féiloiv kaéi qeréapostn, \wv t%§ \aggéely \ Ihso%uv \o to%u Nau%h, kai Daniéhl
prosekéunhsan. \h toiv qeo%u téopoiv, \w fhsin éo Dabid. [...] \ H toéinun p\asan proskéunhsin
\anele, \h péasav déegou, metèa to%u \ofeéilontov léogou kaèi tréopou. (I, 14) In: DAMASCENI, S.
78
Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae
Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1241.
218
DAMASCENO, João. Oéu proskun\w t\h %ulh, proskun%w dèe tèon t%hv dhmiourgèon, tèon %ulhn
di \emée genéomenon, kaèi \en %ulh katoik%hsai katadexéamenon, kaèi di %ulhv tèhn swthréian mou
\ergaséamenon, kaèi séebwn oéu paéusomai tèhn, di \hv éh swthréia mou eirgastai. [...] Tèhn dée ge
loipéhn %ulhn s\ebw, kaèi di aido%uv \agw, di \hv |h swthréia mou géegonen, éwv qeéiav \enerleeiav
kaèi céaritov \emplewn. \ H séuc %ulh tèo to%u stauro%u xéulon, tèo triséolbion kaèi
trismakéariston; \ H oéuc %ulh tèo \orov tèo septèon kaèi \alion; \ O to%u Kranéiou t\omov; \ H oéuc
\ulh |h feréesbiov péetra kaèi zwhféorov, éo téofov éo \agiov, \h phgèh \anastéasewv; \ H oéuc %ulh
tèo méelan, kaèi \h t%wn Eéuaggeléiwn panagéia béiblov; \ H oéuc %ulh |h zwhféorov tréapeza, \h tèon
%arton \hm\in t%hn; zw%hv corhgo%usa; \ H oéuc %ule, éo crudéov te kaèi éo argurov, éex \wn stauroèi
kaèi péinakev kataskenéazontai, kaèi potéhria; \ H oéuc %ulh prèo toéutwn \apéantwn tèo to%u
Kuréiou \hm%wn s\wma kaèi a\ima; \ H péantwn toéu\twn anele tèo séeba; kaèi tèhn proskéunhsin, \h
paracéwrei t%h \ekklhsiastik%h parakdéosei kaèi t\hn t%wn eikéonwn proskséunhsin, Qeo%u kaèi
féilwn Qeo%u \onéomati \agiazoméenwn, kaèi di\a to%uto qeéiou Pneéumatov \episkiazoméenwn
79
céariti. Mh kéakize tèhn %ulhn oéu gèar \atimov. O\udèen gèar \atomon, èo paréa Qeo%u gegéenhtai.
T%wn Mavicaíwn to%uto tèo fréonhma. (I, 16) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica
Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S.
Joannes Damascenus. p. 1245.
219
DAMASCENO, João. Kaèi aisqht%wv mèen tèon aéuto%u carakt%hra protéiqemen \apantac%h,
kaèi tèhn préwthn \agiazéomeqa préwth gèar aisqéhsewn, %orasiv !wsper kaèi toiv léogoiv, tèhn
\akoééhn \upéomnhma gèar èestin \h eik\wn kai %oper toiv gréammasi memnhméenoiv éh béiblov, to%uto
kaèi toiv \agramméatoiv éh e\ikéwn kaèi %oper kaèi %oper t%h \ako%h éo léogov to%uto t\h \oréasei \h
eikéwn noht%wv dèe aéut%h \enoéumeqa. [...] Eikéonev géar !hsan préov \upéomnhsin keéimenoi, oéuc éwv
qeoéi, \all\ éwv qeéiav \energeéiav \up\omnhsin !agousai. (I, 17) In: DAMASCENI, S. Joannis.
Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae
Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1248.
220
DAMASCENO, João. \ H gèar t%hn eikéonov timèh prèov tèo prwtéotupon diabaéine, fhséin éo
qeiov Baséileiov. (I, 21) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus
Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1252.
80
Igreja, enquanto que outros foram recebidos pela tradição oral. Afirma ainda que
ambas as tradições têm a mesma importância para a Igreja:
221
DAMASCENO, João. Oéu méonon gréammasi téhn \ekklhsiastikèhn qeo moqeséian
paréedwkan, \alléa kaèi \agréafoiv tiséi paradéoseav. Fhsi go%ur éo qeéiov Baséileiov \en
eéikost%§ \ebdéom§ t%wn prèov \ Amfiléocion perèi \agéiou pneéumatov triéakonta cefalaéiwn !epi
léexewv o%utwv. T\wn \en t%h \ Ekklhséiç pefulagméenwn dogméatwn kaèi khrugméatwn, tèa mèen \ek
t\hv \eggréafou didaskaléiav ekomen. [...] \ Apéostolov Pa%ulov fhséin. ! Ara o%un, \adelfoéi,
stéhkete kaèi krate%ite tèav paradóseiv !av \edidéacqhte, e!ite dia léogou, e!ite d\i \epistol%hv
\hm%wn. Poll%wn toigaro%un kai toso\utwn \agr\afov t\h \ekklhsia paradedom\hnwn, kai
m\ecri to%u n%un pefulagm\hvwn, t\i per\i t\av eik\onav smikrologeéiv; (I, 23) In: DAMASCENI,
S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In:
Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1256.
222
DAMASCENO, João. ! Av méentoi créhseiv paréageiv, oéu t%wn par\ \hméin eikéonwn
bdeléussontai t\hn proskéunhsin, \allèa t%wn taéutav qeopoioéuntwn \ Elléhnwn. Oéu dei
tuéinun dièa tèhn \ Elléhnwn cr%hpon, kaèi tèhn \hmepéeran e\useb%wv genoméenhn, \anaireéin. \
Eforkéizousin \epasidoéi te kaèi géohtev, eforkéizei kaèi toèuv kathcouméenouv éh \ Ekklhséia
\all\ \ekeinoi mèen \epikalo%untai daéimonav, a!ukh dèe, Qeèon daiméonwn daéimosi tèav eikéonav
\anatiqéeasin \ Ellhnev, kaèi qeoèuv taéutav prosagoréeousin, \hme!iv d\e \aleqei Qe%§
sarkwqéenti, kaèi Qeo%u doéuloiv kaèi féiloiv, daiméonwn \apelaéunousi stéifh. (I, 24) In:
81
Aqui, mais uma vez, assim como fez com os judeus, Damasceno denigre o
outro, no caso os gregos, para justificar a passagem contrária às imagens das
Escrituras. Como os iconoclastas também se apoiaram e utilizaram os textos
Sagrados e patrísticos para justificar a abolição das imagens, Damasceno alerta
para o cuidado que se deve ter ao estudar certas obras que poderiam ter sido
forjadas contra as imagens, citando Santo Epifânio como exemplo:
de matéria, pois essas foram feitas pelas mãos humanas, devendo apenas abolir
imagens de demônios, mais uma vez referindo-se às práticas gregas e judias:
224
DAMASCENO, João. Déecou tuéinun t%wn Grafik%wn kaèi pneumatik%wn créhsewn tèon
\esmèon, %oti e\i kai léegei \h Gragéh. Tèa eidwla t%wn \eqn%wn \argéurion kaèi cruséion, erga ceir%wn
\all\ oéun oéu tèo mèh proskuneéin ayéucoiv \h !ergoiv ceir%wn kwléuei, \alléa taiv daiméonwn
eikéosin. (I, 26) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui
Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p.
1257.
225
LOUTH, 2002.
83
Logo depois, salienta que só a verdade pode evitar que se seja levado ao
erro e ensina que há somente um Deus, uma natureza em três pessoas - Pai, Filho
e Espírito Santo. Afirma ainda que o mal não é um ser, mas sim um acidente
contrário à lei de Deus, tendo existência apenas no pensamento, desaparecendo
logo que este último se cessa. Ressalta que uma das partes da Trindade, isto é,
Cristo, possui duas naturezas e apenas uma pessoa:
226
DAMASCENO, João. Déote suggnéwmhn aito%unti despéotaiv mou, kaèi déexasqe
plhroforéiav léogon, par\ \emo%u to%u \acreéiou kaèi \elacéistou doéulou t%hv Qeo%u \ Ekklhséiav.
Oéu gèar déoxhv !eneken, \h fanhtiasm\ou prèov tèo léegein %wrmhsa. Qeéov méartuv \allèa zéhl§
\alhqeéiav. A|utèon gèar méonon \elpéida swthréiav kéekthmai, kaèi séun aéut%§ \upant%hsai t%§
Despéoth Crist%§, \elpéizw kaèi e%ucomai, to%uton aéut%§ prosféerwn, t%wn \atéopwv moi
peplhmmelhméenwn gegéesqai \exéilkoma. [...] \ Alléa déote moi o\uv \akroéasewv, kaèi téav
trapéezav t%wn kardt%wn \anapetéasantev, déexasqée mou tèon léogon, kaèi eèilikrin%wv
diakréinate t%wn legoméenwn téhn déunamin. Deéuteron dèe to%uton tèon léogon perèi eikéonwn
sunéetaxa. Tinèev gèar t%wn téeknwnt%hv \ Ekklhséiav \up\eqentéo moi to%uto poi%hsai, diéa tèo mèh
péanu eéudi\agnwston toiv pallaiv tèon pr%wton einaiv \allèa kaéi \en toéut§ séuggnwtée moi,
éupako\hn \ekplhréwsanti. (II, 1) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui
Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p.
1284.
227
DAMASCENO, João. \ H dèe \aléhqeia, méeshn \odéon badéizousa, péanta ta%uta \aparneitai
tèa !atopa, kaèi didéaskei, \!ena Qeèon \omologeéin, méian féusin \en trisèin \upostéasesi, Patrèi
kaèi Gi%§ kaèi \agi%§ Pneéumati téhn dèe kakéian, oéuk o\uséian, \alléa sumbebhkéov jhsin, !ennoiéan
tina, kaèi léogon, kaèi pr%axin parèa tèon néomon to%u Qeo%u, \en t%§ \ennoeisqai, kaèi préattesqai
kaèi léegesqai, kaì préattesqai: téhn =uparxin !ecousan, kaèi !ama t%§ pkéusasqai
\afanizoméenhn. \ Eti dèe kaèi tèon !ena t%hv \agéiav Triéadov tèon Cristèon, déuo féuseiv khréuttei,
84
kaèi méian \upéostasin. (II, 3) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras
Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1285.
228
DAMASCENO, João. \ All\ éo t%hv \alhqeéiav \ecqrèov, kaèi t%hv swthréiav t%wn \anqréwpwn
poléemiov daéimwn, kaèi fqart%wn \anqréwpwn, kaèi petein%wn; kaèi knwdéalwn, kaèi \erpet%wn
eikéoiav poiein, kaèi taéutaiv éwv qeo\iv proskunein, oéu méonon tèa !eqnh, \alla kaèi toéuv uioèuv \
Israéhl polléakiv; planéhsav; n%un eirhneéuousan téhn to%u Cristo%u \ Ekklnséian
suntaréaxei, diéa ceiléewn \adéikwn, kaèi gléwsshv doléiav qeéioiv téhn kakéian parartéuwn, kaèi
taéuthv tèo !aschmon kaèi skoteinèon eidov \epikaléuptein, kaèi téav kardéiav t%wn \asthréiktwn
saleéuein \ek t%hv \alhqo%uv kaèi patropiradéotou aunhqeéiav. [...] Kaèi t\iv !ecwn gn%wsin qeéian
kaèi séunesin pneumatikéhn, oéuk !epiginéwskei, %oti \upobo\aéh to%u diabéolou \estéin; Oéu qéelei
gèar tèhn \httan kaèi tèhn aiscéunhn aéuto%u dhmosieéuesqai, o\udèe téhn to%u Qeo%u, kaèi t%wn
\aléiwn déoxan \anéagrapton géinesqai. (II, 4) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus
Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1285-1288.
85
229
DAMASCENO, João. Ei mèen gèar to%u \aoréatou Qeo%u eikéona !epoio%umen, !ontwv
\hmartéanomen. \ Adéunaton gèar tèo \aséwmaton, kaèi \aéoraton, kaèi \aperèigrapton, kaèi
\aschméatiston eikonisq%hnai. Kaèi péalin eéi \epoto%umen eikéonav \anqréwpwn, kaèi taéutav
qeo\uv \hgoéumeqa, kaèi éwv qeoéiv !elatreéuomen, !ontwv \hsebo%umen. \ All\ o\udèen toéutwn
poio%umen. Qeo%u gèar sarkwqéentov, kaèi \ofqéentov \epèi g\hv sarkèi, kaèi \anqréwtoiv
sunastraféentov. d\i %afaton \agaqéothta kaéi féusin, kaèi péacov, kaèi oc%hma, kaèi cr%wma
sarkéov, \analabéontov, toéutou téhn eikéona poto%untev, oéu afalléomeqa. Poqo%umen gèar
a\uto%u idein tèon capakt\hra éwv géar fhsin éo qeiov. \ Apéostolov. \ Em \eséoptr§ kaèi
ainéigmati n%un bléepomen. Kaèi \h eikéwn dèe, !esoptréon \esti kaèi a\inigma, \arméozon t%h to%u
séwmatov \hm\wn pacéuthti. Polléa gèar kéamnwn éo no%uv, oéu déunatai \ekb\hnai tèa swmatikéa.
(II, 5) In DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In:
Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1288.
230
DAMASCENO, João. \ W \apèo so%u, fqsnerèe diéabolv, fqoneiv \hmin idein tèo to%u Despéotou
\hm%wn éomoiwma, kaèi di aéuto%u \agiasq%hnai, kaèi idein aéuto%u téa swtéhria péaqh, kaéi
qauméasai aéuto%u téhn sugkatéabasin, kaèi qewrein aéuto%u tèa qaéumata, kaèi doxéazein
a\uto%u tèhn t%hv qeéothtov déunamin. Fqoneiv toiv \agéioiv t%hv paréa Qeo%u de\ooméenhv a\utoiv
tim%hv. Oéu qéeleiv \or%an \hm%av téhn a\ut%wn déoxan \anéagrpton, kaèi zhlwtèav géinesqai t%hv
aéut%wn \andreéiav kaèi péistewv. Oéu peiqéomeqa soi, daimon fqunerèe kaèi miséanqrwpe. \
Akoéusate laoèi, fulaèi, gl%wssai, !an\drev, guna%ikev, kaèi paidev presbéutai, neanéiskoi te
kaèi néhpia, tèo !eqnov t%wn Cristian%wn tèo !agion e!i tiv e!uaggelizetai éum%av par\ !o paréelaben
éh kaqolik\h \ Ekklhséia parèa t%wn \agéiwn \apostéolwn, Patéerwn, kaèi sunéodwn, kaèi méecri
86
to%u n%un dteféulaxe, méh \akoéusnte aéuto%u, mhdèe d\exhsqe téhn sumbouléhn to%u !ofewv, éwv
\edéexato E%na, kaéi \etréughse qéanaton. K%an =aggéelov, k%an basileéuv e\uaggeléizetai \um%av par\
=o pareléabete, kleéisate tèav \akéav éokn%w gèar téewv eèipein, éwv !efh éo qeiov \ Apéostolov, \
An\aqema !estw, \ekdecéomenov téhn diéorqwsin. (II, 6) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II.
Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1288.
231
DAMASCENO, João. \ Allèa léegousin, o\i mèh \eren%wntev tèon no%un t%hv Graf%hv, %oti eéipen éo
Qeèov Mw%uséeuv to%u nomoqéetou. Oéu poiéhseiv p%an \omoéiwra, das èen n%§ oéuran%§, kaèi dsa éen
t%h g%h. [...] oéuk \emèov éo léogov \estéi tèo Pne%uma tèo =agion dièa Paéulou to%u \agéiou \apostéolou
\apeféhnato. Polumer%w; kaèi polutréopov; péalai éo Qeèov laléhsav toiv patréasin èen toiv
proféhtaiv. ! Ork =oti polumer%wv kaèi polutréopwv \eléalhsen éo Qeéov. ! Wsper gèar
\epistéhmwn iatrèov oéu tèo a\utèo eidov p%asi didwsin, oéud\e péantote, \all\ \ekéast§ katèa téhn
=exin paréecei tèo féarmakon, diakréinwn, kaèi céwren, kaèi néoson, kaèi kairèon, kaèi \hlikéian
kaèi t%§ mènn nhpéi§, =eteron, t%§ dèe teleéi§ katèa téhn \hlikéian, =eteron !allo t%§ asqenet, kaèi
!allo t%§ |ujgiaéinonti, kaèi \ekéast§ t%wn \asqenoéuntwn, oéu tèo a\utèo, \allèa prèov téhn =exin kaèi
téhn néoson kaèi !allo t%§ qéerei, kaèi ceim%wni %eteron. metopéwry te kaèi èen \ekéasty téopy katèa
87
tèhn to%u téopou \epithdeiéothta o=utw kaèi éo =aristov t%wn yuc%wn \iatrèov, toiv =eti nhpéioiv, kaèi
\a\r\rwsto%usi tèhn prèov eidwlalatreéian néoton, kaèi téa eioula qeoéuv \hgouméenoiv, kaèi éwv
qeoiv aéutoiv proskuno%usin, kaèi aqeto%usin tèhn to%u Qeo%u proskéunhsin, kaèi tèhn aéuto%u
d\oxan t%h ktéisei proséagousin, \aphgéoreuse to%uto poie\in. (II, 7) In: DAMASCENI, S.
Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus
XCIV. S. Joannes Damascenus. pp. 1288-1289.
88
232
DAMASCENO, João. Ei%oev p%wv \aneféanh éa skopèov t%hv Graf%hv to\iv sunet%wsi; De%i gèar
ginéwskein, \agaphtoéi, =oti èen pantèi préagmati éh \aléhqeia zhte%itai, kaèi tèo ye%udov, kaèi éo
skopèov to%u poio%untov, ei kaléov \estin, !h kakéov. \ Em mèen gèar t%§ E\uaggeléi§, kaèi Qeèov, kaèi
!aggelov, kaèi !anqrwpov, kaèi o\uranèov, kaèi g%h, kaèi =udwr, kaèi p%ur, kaèi \aéhr, kaèi =hliov, kaèi
seléhnh kaèi =astra, kaèi f%wv, kaèi skéotov, kaèi Satan%av, kaèi daéimonev, kaèi dfeiv, kaèi
skorpéioi, kaèi qéanatov, kaèi =çdhv, kaèi \aretaèi, kaèi kakéiai, kaèi péanta kaléa te kaèi kakéa
eéisin \eggegramméena. \ All\ =omwv, \epeid\h péanta tèa perèi aéut%wn legéomena \aleq\h eisi, kaèi éo
skopèov prèov déoxan Qeo%u èesti, kaèi t%wn éup\ aéuto%u doxazoméenwn \agéiwn, kaèi prèov swthréian
\hm%wn, kaèi kaqaéiresin, kaèi aiscéunhn to%u diabéolou kaèi t%wn daiméonwn aéuto%u,
proskuno%umen, kaèi periptusséomeqa, kaèi katafilo%umen, kaèi dfqalmo%iv, kaèi ceéilesi, kaèi
kar%oiv \aspazéomeqa %omoéiwv kaèi p%asan tèhn Palaiéan kaèi Kainèhn Diaqéhkhn, toéuv te
léogouv t%wn \agéiwn kaèi \ekkritwn Patéerwn. Tèhn d\e aiscrèan, kaèi musarèan, kaèi \akéaqarton
graféhn téhn kataréatwn Manicaéiwn te kaèi \ Ell\hnwn, kai t%wn loip%wn airéesewn, éwv
yend%h kaèi méataia periéecousan, kaèi prèovd\oxan to%u diaboléou kaèi t%wn daiméonwn aéuto%u,
kaèi caréan aéu%wn \efeureqeéisan, \apoptéuomen kaèi \apodalléomeqa, kaéioige kaèi =onama Qeo%u
periéecousan. O%utw kaèi èen t%§ préagmati t%wn eikéonwn, créh \ereun%çn téhn te \aléhqian, kaèi
tèon skopèon t%wn poioéuntwn. Kaèi ei mèen \alhqéhv kaèi \orqèov, kaèi pr\ov déoxan Qeo%u kaèi t%wn
\agéiwn aéuto%u, kaèi prèov z%hlon aret%hv, kaèi \apofugèhn kakéiav, kaèi swthréian yuc%wn
géinotai, \apodéecesqai, éwv eikéonav, kaèi miméhmata, kaèi \omoiéwmata, kaèi béiblouv t%wn
\agramméatwn, kaèi proskune%in, kaèi katafilein, kaèi \orqalmo%iv, kaèi ceéilesi, kaèi kardéiç
\aspéazesqai, éwv sesarkwméenou Qeo%u \omoéiwma, !h t%hv toéutou mhtrèov, $h t%wn \agéiwn t%wn
koinwn%wn t%wn paqhméatwn kaèi t%hn déoxhv to%u Cristo%u, kaèi nikht%wn, kaèi kaqairet%wn to%u
diabéolou kaèi t%wn daiméonwn kaèi t%hv pléanhv aéut%wn. Ei dèe Qeéothtov t%hv \a=ulou, kaèi
aswméatou, kaèi \aoréatou, kaèi \aschmatéistou, kaèi \acrwmatéistou, eikéona tiv tolméhsei
poi%hsai, éwv poi%hsai, \wv yeud%h \apoballéomeqa. (II, 10) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio
II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1293.
233
DAMASCENO, João. Oéu basiléewn \estèi nomoqetein t\h \ Ekklhséia. Téi fhsin éo qeiov \
Apéostolov; Kaèi o=uv mèhn %eqeto e Qeèov èen t%h \ Ekklhséia pr%wton, \apostoléouv deéuteron,
proféhtav tréiton, poiméenav kaèi didaskéalouv, prèov tèon katartismèon t%hv \ Ekklhséiav.
Oéuk e%ipe, basile%iv. Kaèi péalin. Peéiqesqe to=iv \hgouméenoiv \um%wn, kaèi \upeéikete. (II, 12) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae
Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1296.
89
Em seguida, assim como no primeiro tratado, ele defende que a Igreja não
proferiu Leis somente em forma de escritos, ressaltando a importância da tradição
não escrita, citando lugares santos que só se conhece através da tradição oral
como exemplos:
Logo após, faz mais um ataque aos judeus, afirmando que se ele venera a
cruz, a lança e a esponja que os judeus utilizaram para matar o Senhor, por que
então ele não deveria venerar as imagens de Cristo? Explica ainda que, ao venerar
as imagens da cruz feita a partir de qualquer madeira, ele não estará venerando a
matéria em si, mas sim aquele que foi crucificado na mesma:
234
DAMASCENO, João. Oéu méonjn dèe gréammasi tèon \ekklhsiatikèon qesmèon paréedwkan oèi
a\utéoptai kaèi \ukhréetai to%u Léogou, \allèa kaèi \agréafoiv tisèi paradéosesi. [...] Péoqen tèo
tréiton bapéizein, toutéesti, dièa tri%wn kata%oéuewn; Péoqen tèo proskune=in stauréon; oéuk èek
t%hv \agréafou paradéosew; Dièo kaèi éo qeiov \apéostolov. Pa%uléov fhsin. ! Ara o\un \adelfoéi,
stéhkete kaèi krate%ite tèav paradéoseiv, =av \e\didéacqhte, e%ite dièa léogou, e%ite di \episeol%hv
\hm%wn. Poll%wn toigaro%un \agréafwv t%h \ Ekklhséia parademéenwn, kaèi méecri to%u n%un
pefulagméenwn, téi perèi tèav eikéona; smikrologe%ite; (II, 16) In: DAMASCENI, S. Joannis.
Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S.
Joannes Damascenus. p. 72-1301.
235
DAMASCENO, João. “Ei dèe léegeiv tèon makéarion \ Epiféonion tran%wv tèav paraéhmin
\apagore%usai eikéonav, gn%wqi éwv \epéiplastov éo léogov, =allou tinèov t%§ to%u qeéiou
‘Epifanpeéiou crhsaméhnou \onéomati, o%ia polléa sumbaéinei géinesqai. (II, 18) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae
Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. pp. 1304-1305.
90
Logo após, Damasceno ressalta que as imagens e sua veneração não são
práticas novas, sendo uma antiga tradição da Igreja:
Veja que a Lei e tudo feito de acordo com ela, assim como a
nossa adoração, são coisas sagradas feitas à mão que nos levam
por meio da matéria ao Deus imaterial, e que a Lei e tudo feito
em conformidade com ela foi uma espécie de sombra da
imagem advinda, isto é, da nossa veneração, e que a nossa
adoração é uma imagem das coisas boas que surgem, as
próprias realidades, que é a Jerusalém elevada, imaterial e não
feita à mão, como o mesmo apóstolo divino diz, "Porque não
temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos aquela
que é de Deus". Tudo de acordo com a lei, e tudo em
236
DAMASCENO, João. Ei staurèon, kaèi léogchn, kaèi kéalamon, kaèi spéoggon, di %§n oi
qeoktéonoi. \ Iouda%ioi tèon K\uriéon mou \enéubrisan kaèi \apéekteinan, éwv a%itia swthp\iav
proskun%w kaèi séebw, tèav \epèi déoxh kaèi mnéhmh t%wn to%u Cristo%u paqhméatwn \agaq%§ skop%§
\upèo t%wn pist%wn kataskeuazoméena; eikéonav oéu proskunéhsw; Ei stauro%u eikéona \ex
oéiaso%un =ulhv kataskeuasqe=ison proskun%§, to%u staurwqéentov, kaèi tèon staurèon
swtéhrion deéixantov tèhv eikéona oéu proskunéhsw; O \apanqrwpéiav. ! Oti dée t%h =ul%h
proskun%w, d%hlon kataluqéentov gèar to%u \ektupéwmatov to%u sikuro%u, ei téucoi \ek x\ulou
kateskeuasméenou, purèi tèo xéulon paradéi%owmi, \omoéiwv kaèi t%wn eikéonwn. (II, 19) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae
Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1305.
237
DAMASCENO, João. K\ ! Otéi dèe néeon tèo t%wn eikéonwn \efeéurhma, kaèi éh toéutwn
proskéunhsiv, \all\ t%hv \ Ekklhséiav paréadosiv, déecou t%wn Gprafik%wn kaèi Patri%wn
cpéhsewn tèon \esméon. (II, 20) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras
Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1305.
91
Alega também que aquele que destrói uma imagem feita em memória de
Cristo, Sua Mãe ou dos santos é um inimigo de Cristo, Sua Mãe e dos santos e,
238
DAMASCENO, João. ! Ora =oti kaèi éo néomov kaèi péanta tèa kat\ a\utèon, p%aséa te éh kaq\
\hm%av latreéia, ceiropoéintéa eéisin =agia, d\i =ulh; proséagonta \hm%av t%§ =a%ul§ Qe%§. Kaèi éo mèen
néomov, kaèi péanta tèa katèa tèon néomon, skiagraféia tiv %hn t%hv melloéushv eikéonov, toutéesti
t%hv kaq\ \hm%av latreéiav. \h dèe kaq\ \hm%av latreéia, eikèwn t%wn melléontwn \agaq%wn \agaq%wn
a\utéa dèe tèa préagmata, \h %anw \ Ierousaléhm, =a%ulov kaèi \aceiropoéintov, kaqéuiv fhsin éo
a\ut\ov qe%iov \ Apéostolov. \ Oéu gèar \ecomen %wde méenousan péolin, \alléa téhn méellousan
\epiznto%umen, =htiv \estin \h =\anw \ Ierousaléhm, \hv tecnéithv kaèi dhmiourgov éo Qeèov. Péanta
g\ar t\a te kat\a t\on n\omon, kai t\a kat\a t\hn \hmet\eran latre\ian, \ekeinhv c\arin \eg\enonto
aéut%§ \h déoxa eiv toéuv ai%wnav a \ Améhn. (II, 23) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II.
Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1309.
239
DAMASCENO, João. K=an =aggelov, kan basileéuv e\uggeléizhtai \um%av par\ =o pareléadete,
kleéisata tèav \akoéav \okn%w gèar t\ewv eéipe=in, \éwv Jfh éo qe=iov \ Apéostolov, \ Anéaqema =estw,
\ekdecéomenov téhn diéorqwsin. (III, 3) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui
Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus.
p.1321.
92
240
DAMASCENO, João. Ginwskéeto o%un p%av =anqrwpov, éwv éo téhn eikéona tèhn prèov déoxan
kaèi \upéomnhsin to%u Cristo%u kaèi t%hv toéutou Mhtrèov t%hv \agéiav Qeotéokou, =h tinov t%wn
\agéiwn, =eti dèe prèov a\iscéunhn to%u diabéolou kaèi t%hv =htthv a\uto%u kaèi t%wn daiméonwn aéuto%u,
\ek qeéiou péoqou kaèi zéhlou genoméenhn, kataléuein \epiceir%wn, kaèi méh proskun%wn ka\èi tim%wn
kaèi \aspazéomenov péoqy to%u eikonizoméenou, ´wv eikéona, kaèi oéuc éwv Qeèon, \ecqrèov iéesti
Cristo%u, kaèi t%hv |agéiav Qeotéokou, kaèi t%wn \agéiwn, \ekdikhtéhv dèe to%u diabéolou kaèi t%wn
daiméonwn aéuto%u, =ergy \epideiknéumenov téhn léuphn, =oti éo Qeèov kaèi o\i =agioi aéuto%u tim%wntai
kaèi doxéazontai, éo dèe dièabolov kataiscéunetai. (III, 10) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio
III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S.
Joannes Damascenus. pp. 1332-1333.
93
241
DAMASCENO, João. | O Kéuriov makaréizwn toéuv maqhtéav, e=ipe. | Polloèi basile=iv kaèi
prof%htai \epeqéumhsan ide%in =a bléepete, kaèi o=uk e%idon, kaèi \ako%usai =a \akoéuete, kaèi oéuk
=hkousan. \ Gm%wn dèe makéario\i eisin o|i \ofqalmoèi, =oti bléepousi, kaèi \wta, =oti \akoéuousin. \
E\idon o%un o\i \apéostolov swmatik%wv t|on Cristèon, ka\èi tèa péaqh, kaèi tèa qaéumata aéuto%u,
kaèi =hkousan t=wn léogwn aéuto%u. \epiqumo%umen kaèi \hme=iv ide=in, kaèi \ako%usai, kaèi
makarisq%hnai. Eidon \eke=inoi préoswton prèov préoswpon, \epeidéh par%hn swmatik%wv. %hme=iv
dèe, \epeid\hswmatik%wv oéu péarestin, =wsper dièa béiblwn \akoéuomen t%wn léogwn aéuto%u, kaèi
\agiazéomeqa téhn \akoéhn, kaèi \oi a\ut%hv téhn yucéhn, kaèi makarizéomeqa, kaèi proskuno%umen,
tim%wntev tèav béiblouv, dèe éwn \akoéuomen t%wn léogwn aéuto%u. o%utwv kaèi diéa graf%hv e\ikéonwn
qewro%umen tèo \ektéupwma to%u swmatiko%u carakt%hrov aéuto%u, kaèi t%wn qauméatwn kaèi t%wn
paqhméatwn aéuto%u, kaèi \agizéomeqa, kaèi plhroforoéumeqa, kaèi caéiromen, ka\èi
makarizéomeqa, kaèi séebomen, kaèi tim%wmen, kaèi proskuno%umen tèon carakt%hra aéuto%u tèon
swmatikéon. Qewro%untev dèe tèon swmatikéon carakt%hra aéut\o%u, \enno%umen éwv dunatéon kaèi
téhn déoxan t%hv qeéothtov aéuto%u. (III, 12) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus
Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. pp. 1333-1336.
242
DAMASCENO, João. %wton, ti =esti e\ikéwn. E\ikéwn mèen o\un \estin |omoéiwma, ka\èi
paréadeigma, kaèi \ekt\upwméa tinov,\en |eaut%§ deiknéuon tèo e\ikonizéomeoi. Péantwv dèe oéu katèa
péanta éh e\ikéwn t%§ prwpotéup§, toutéesti t%§ e\ikonizoméen§. =allo géar \estin éh e\ikèwn, kaèi
=allo tèo e\ikonizéomenon, kaèi péantwv \or%atai \en aéuto\iv diaforéa, \epeèi oéuk =allo to%uto, kaèi
=allo \eke=ino. O%iéon ti léegw. | H e\ikèwn to%u \anqréwpou, e\i kaèi tèon carakt%hra \ektupu=i to%u
s\wéatov, \all\a tèav yucikéav dunéameiv oéuk \ecei o=ute gèar z\h, o=ute logéizetai, o=ute
fqéeggetai, o=ute aisqéanetai, o=ute méelov kineèi kaèi èo uéiov, e\ikèwn =wn to%u patrèov, =ecei ti
parhllagréeton prèov a\utèon. Tiéov géar \esti, kaèi oéu patéhr. (III, 16) In: DAMASCENI, S.
Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus
XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1337.
94
243
DAMASCENO, João. Deéutepon, téinov céarin \estéin |h e\ikéwn. [..] kaéi fanéerwsin, kaèi
dhmoséieusin t%wn kekrumméenwn, \epenoéhqh éh eikéwn péantwv dèe prèov \wféeleian kaèi
e\uergeséian kaèi swthréian, =opwv sthliteuoméenwn kaèi qriamdeuoméenwn t%wn pragméatwn,
diagn%wmen tèa kekrumméena, kaèi kalèa poqéhswmen kaèi zhléwswmen, tèa dèe \enantéia, toutéesti
tèa kakèa, \apostraf%§men kaèi miséhswmen. (III, 17) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III.
Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1337.
244
DAMASCENO, João. | Apl%§ dèe léogw eipe=in, dunéameqa poie=in e\ikéonav péantwn t%wn
schméatwn, éwn eéibomen dèe ta%uta, kaqéwv \wréaqh ei gèar kaèi \apèo t%wn léogwn, =esq =ote
katanoo%umen scéhmata, \all\ \ex éwn e=idomen, kaèi \epi téhn toéutwn \ercéomeqa katanéohsin.
O%utw kaèi \ef \ekéasthi a|isqéhsewv, \ex éwn \wsfréanqhmen, =h \egeuséameqa \hyéameqa, dièa léogwn
\epi téhn toéutwn \ercpéomeqa katanéohsin. (III, 24) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III.
Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1344.
95
245
DAMASCENO, João. Tiv pr%wtov \epoéinsen eikéona. Aéutov éo Qeèov pr%wtov \eg\ennhse tèon
monogen%h G\iéon kaèi Léogon aéuto%u, eikéona aéuto%u z%wsan, fusikéhn, !aparéallakton
carakt%hra t%hv aéuto%u \aidièothtov. \epoéihsi te tèon !anqrwpon kaèi eikéona aéuto%u kaèi kaq\
dmoéiwsin. (III, 26) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines
Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1345.
246
DAMASCENO, João. Perèi proskunéhse§v t\èi \esti proskéuhsiv; Proskéunhsiv toéinun
\esti shme=ion upotéasewv, toutéestin, \upotéasewv kaèi tapeinéwsewv. trèopoi dèe
proskunéhsewv eéisi pleéistoi. (III, 27) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus
Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1348.
96
De uma forma geral, os três tratados escritos por São João Damasceno no
decorrer da crise iconoclasta apresentam uma defesa das imagens através do apelo
à verdade e tradição. Para tanto, se utiliza de outros conceitos como encarnação,
veneração, memória, honra e protótipo para demonstrar a validade da fabricação e
culto da imagem. Suas obras são, assim, um discurso sobre imagem e veneração, e
sobre a definição de ambos esses termos. Para Andrew Louth248, mais do que uma
simples defesa das imagens e de sua veneração, as obras de Damasceno foram
uma defesa do lugar ocupado pelos ícones na teologia cristã.
De acordo com Isabel Maria L. C. A. Cardoso249, os escritos de João
Damasceno, integrados em um grande número de obras, têm a preocupação de
discutir polêmicas teológicas dentro dos ensinamentos e escritos dos Santos
Padres da Igreja, por isso a inclusão do Florilégio no fim de cada tratado, isto é,
as citações patríticas utilizadas para comprovar os seus argumentos. A autora
afirma que o objetivo do monge seria o de internalizar em seus leitores e nele
247
DAMASCENO, João. Mèh katadexéwmeqa néean péistin maqeéin, éwv kategnwsméenhv t%hv t%wn
\agéiwn Patéerwn paradéosewv. Fhsi gèar qeéiov \ Apéostolov. | E\i tiv \um%av e\uaggeléizetai
par\ =o pareléabete, \anéaqema =estw. \ Proskuno%umen o%un taiv e\ikéosin, oéu t%h !ulh
prosféerontev téhn proskéunhsin, \allèa di aéut%wn to=iv \en aéuto=iv eikonizoméenoiv. | H gèar
t%hv eikéonov timéh \epi tèo prwtéotupon diabaéinei, kaqéwv fhsin éo qeiov Baséileiov. (III, 41) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In:
Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1357.
248
LOUTH, 2002.
249
CARDOSO, 2013.
97
250
CARDOSO, 2013, p. 69
251
Ibidem.
252
BOY, 2008.
98
253
BOY, 2008, p. 167.
254
BOY, 2008, p. 165.
255
Ibidem, pp. 166-167.
99
O autor afirma, com isso, que não despreza a relevância das tradições não escritas
referentes à produção e culto dos ícones, mas sim, busca “valorizar essa obra
como o primeiro esforço de um cristão na busca de uma teoria em torno de um
dos mais importantes objetos da cultura material do Cristianismo Ortodoxo
bizantino”.257
Neste sentido, sobre os aspectos gerais dos três tratados, o primeiro nos
apresenta um debate acerca da imagem através dos conceitos de verdade e
salvação, tradição escrita e não escrita, idolatria em meio a um discurso anti-
judaico, veneração, honra, memória e protótipo. No Florilégio que surge no final
do tratado podemos observar o uso de vários nomes importantes da Igreja, além
das passagens citadas das Escrituras que observamos em todo o texto. O nome que
aparece por mais vezes nesse primeiro tratado, tanto de forma direta quanto de
forma indireta, pois João Damasceno opta por citar o nome em um parágrafo e no
outro apenas usar a expressão “o mesmo”, é o de São Basílio, citado treze vezes
(linhas 34; 35; 36; 37; 38; 39; 40; 42; 44; 46; 47; 51; 60); seguido por São
Gregório de Nissa, quatro vezes (linhas 48; 49; 50; 52) e São Dionísio Areopagita,
também quatro vezes (linhas 28; 29; 30; 32); por duas vezes São João Crisóstomo
(linhas 53; 61), Leôncio de Neapólis (linhas 54; 56) e Severiano de Gabala (linhas
57; 58) e uma única vez Epifânio (linha 57), Sofrônio de Jerusalém (linha 64),
Vida de Santa Eupraxia (linha 62) e Vida de Santa Maria do Egito (linha 63).258
Já o segundo tratado, apesar de abordar os mesmos conceitos utilizados no
primeiro, se difere deste por apresentar ataques diretos aos imperadores Leão III e
Constantino V, precursores do iconoclasmo, além de novamente expressar um
discurso anti-judaico, com a inserção ainda de discursos anti-pagão e anti-
maniqueísta. O florilégio é composto, de acordo com Andrew Louth259, pelo
florilégio do primeiro tratado, linhas 28 a 68, com novas passagens inseridas entre
256
Ibidem, p. 168.
257
BOY, 2008, p. 168.
258
É preciso esclarecer que na tese de Isabel Maria Cardoso podemos encontrar um quadro
composto por esses nomes com as respectivas linhas em que os mesmos podem ser encontrados
nos três tratados de São João Damasceno. No entanto, optamos por não utilizá-lo, por
encontrarmos diferenças significativas quanto aos nomes citados (ao fazer a comparação faltavam
ou sobravam autores) e à quantidade de vezes que os mesmos se manifestam. Concluímos que isso
pode ter ocorrido devido ao uso de versões e traduções diferentes das obras. Para visualização,
análise e comparação, ir em: CARDOSO, 2013, pp. 106-107.
259
LOUTH, 2003. p. 78.
100
260
Os números que se encontram marcados com (*) fazem parte das citações acrescentadas ao
Florilégio do primeiro tratado para formar o Florilégio do segundo tratado. Optamos por seguir
esses números para melhor compreensão e porque assim o autor Andrew Louth o faz na edição dos
tratados que aqui utilizamos e que ele traduziu.
261
Os números que se encontram marcados com (*) são para indicar que se trata de um menção
indireta a Eusébio de Cesaréia, por meio de sua obra Vida de São Constantino.
101
de Bostra (linhas 72; 73), Anastácio de Monte Sinai (linhas 91; 133) e Anastácio
de Antioquia (linhas 127; 128); por uma vez Ambrósio de Milão (linha 116),
Gregório de Nissa (linha 50), Isidoro diácono (linha 124), Arcádio de Chipre
(linha 92), São Metódio (linha 138), Sócrates (linha 71), São Simeão (linha 126),
Cirilo de Jerusalém (linha 117), Jerônimo de Jerusalém (linha 125), São Teodoro
de Pentápolis (linha 113), João Malalas de Antioquia (linha 68) e Clemente de
Alexandria (linha 112).
É possível perceber através desse balanço como os textos e nomes
patrísticos são importantes na composição dos três tratados em defesa das
imagens de São João Damasceno e como ele os usou de forma sistemática em sua
argumentação. O uso desses escritos mostra sua ligação com a tradição da Igreja,
a importância que ela tem em sua vida e como é necessário que ela seja defendida
até mesmo de um imperador. Assim, será no terceiro e último capítulo deste
trabalho que abordaremos de forma mais profunda a relação de Damasceno com a
imagem imperial e os imperadores Leão III e Constantino V que deram início à
política iconoclasta.
102
CAPÍTULO 3
A DEFESA DAS IMAGENS DE SÃO JOÃO DAMASCENO:
CRÍTICA E FUNDAMENTAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DO
PODER IMPERIAL EM BIZÂNCIO
262
Abordagens do ponto de vista religioso dessas obras podem ser encontradas em autores como
Bacarreza (2010), Boy (2008), Cardoso (2013) e Louth (2002).
263
KALDELLIS, 2015.
264
AHRWEILER, 1975, pp. 25-36.
103
III e a eclosão da iconoclastia, que nos demonstra também uma certa percepção de
ideais republicanos existentes em Bizâncio.
Dessa forma, nosso intuito neste capítulo é, em primeiro lugar, tratar da
questão republicana bizantina, para depois mostrar essa frente do poder que
acreditamos ser defendida por João Damasceno em seus tratados para, enfim,
tentar compreender a percepção de Damasceno enquanto uma percepção de quem
está fora do Império.
265
DAGRON, 2007.
266
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 1-14.
267
Ibidem.
268
Ibidem.
104
269
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 1-14.
270
Ibidem, pp. 13-31.
271
Ibidem.
105
272
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 37-33.
273
Ibidem.
274
Ibidem.
106
agir além do estabelecido nas leis, pois quando, por exemplo, a população queria
depor um imperador, ela o fazia, visto que a república era do povo.275
Neste sentido, a lei tinha como finalidade promover os valores da
comunidade e proteger o bem comum dos interesses privados, sendo essa
definição o que diferenciava os romanos dos bárbaros. O oposto da politeia
segundo esse conceito de bem comum era a escravidão, já que a mesma levava à
perda da liberdade que era garantida através da lei. 276
No que concerne à relação do imperador com a lei, como já foi destacado,
a grande questão que se faz é se o mesmo está sujeito ou acima da lei. Para ser
considerado bom imperador era preciso estar submisso às leis, enquanto que para
ser considerado mau imperador bastava agir por fora da lei. No entanto, há de se
destacar que mesmo se submetendo às leis como a maioria dos imperadores
fizeram, era certo que o imperador estava acima das mesmas, pois o imperador era
a autoridade legislativa. Para escapar dessa contradição seria preciso, assim,
aceitar a prevalência da ideia de politeia, pois no contexto da mesma, o princípio
regente não era a lei em si, mas sim o bem comum da república. Nessa
perspectiva a função do imperador também seria o bem comum e as leis seriam o
seu instrumento para proteger a república dos interesses privados. Dessa forma,
leis específicas não eram fixas, eram apenas mecanismos temporários para a
proteção dos bens comuns, sendo o mesmo válido para as leis eclesiásticas. 277
Como o princípio era o bem comum e não apenas a lei escrita, esta última
poderia ser considerada uma má lei, enquanto um ato imperial considerado ilegal
viesse a se tornar legal e elogiado pela justiça que ele representasse. 278 O contrário
também poderia se repetir, como pudemos observar na era da crise iconoclasta, na
qual a nova lei do imperador foi considerada uma lei que regia contra os
princípios eclesiásticos. Assim, tanto a lei quanto o imperador podiam ser
entendidos como agentes da república que deveriam trabalhar juntos em prol do
bem dos romanos.279
É preciso destacar ainda o que concerne à questão da soberania do povo
bizantino e como a mesma se exercia na teoria e na prática. Na teoria o povo era
275
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 62-88.
276
Ibidem.
277
Ibidem.
278
Ibidem.
279
Ibidem.
107
soberano em Bizâncio, o que era entendido pelas pessoas e por quase todos os
imperadores, menos por aqueles que queriam manter-se no poder a qualquer
custo. Assim, os imperadores eram considerados legítimos apenas quando foram
aclamados pela população, o que fazia de Bizâncio uma república, já que se
baseava no apoio popular para a legitimação de seu líder. 280
Desse modo, o termo “soberania” para Kaldellis designa a forma pela qual
uma sociedade politicamente unificada fundamenta a legitimidade das suas
instituições políticas. No entanto, no caso bizantino é muito utilizado pelos
estudiosos o termo “soberania” para se referir à figura do imperador, o que é
muito complexo, pois esse modelo não contempla o que fundamenta a
legitimidade do regime, mas apenas aquele que detém o poder, neste caso, o
imperador. Certamente era de se esperar que os indivíduos servissem o imperador,
devido à posição do mesmo na sociedade, porém, ao mesmo tempo era esperado
do imperador que ele também servisse ao povo. Constata-se, desse modo, que a
relação entre imperador e súditos era uma relação complementar e assimétrica,
visto que as duas partes eram de alguma forma desiguais. Assim, é preciso não
confundir soberania com o governo, isto é, o exercício do poder político que o
povo transmite ao imperador.281
Kaldellis faz ainda comparação entre o modelo de república e soberania
defendido tanto por Rousseau quanto por Hobbes. O primeiro teria defendido que
república seria qualquer Estado que fosse governado por leis, ou seja, todo
governo legítimo seria republicano. Defendeu ainda que para o governo ser
legítimo, o governo não deveria ser confundido com o soberano e, dessa forma, a
própria monarquia poderia ser uma república. Já o segundo, diferentemente do
primeiro, não teria pensado a soberania separada do governo, o que supõe que o
povo não poderia questionar. Bizâncio seria, assim, uma república, pois poucos
foram os imperadores que não foram questionados e acusados de injustiça. A
principal diferença entre um tirano e um basileus legítimo seria o fato de que o
tirano não recebe o poder através das pessoas, mas toma-o pela força.282
Neste sentido, como já foi observado, para ser imperador em Bizâncio era
necessário ser eleito e elevado em uma cerimônia pública, pois somente assim
280
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 87-117.
281
Ibidem.
282
Ibidem.
108
seria legítimo. No entanto, é preciso destacar que raramente o povo era ativo no
processo de eleição dos imperadores, sendo necessário somente no processo de
legitimação e/ou deposição por impopularidade. A sucessão também não era
considerada uma questão legal, mas sim uma questão política. 283
Já na prática não havia nenhuma lei que definia a finalidade e o âmbito do
exercício monárquico dentro da república e nem constituições escritas que
definissem a finalidade do poder do imperador, nem que estabelecessem limites
ao mesmo ou que regulamentavam a sucessão. O legítimo poder do povo era
extralegal e fora do funcionamento das instituições estatais. 284
Assim sendo, o imperador respondia às intervenções populares através da
submissão à vontade popular, até mesmo com pedidos de perdão para ganhar
tempo ou manter a sua legitimidade. Poucos teriam sido os que não se
submeteram à vontade do povo. Isso prova que Bizâncio se constituía em uma
monarquia republicana, já que essas ações não teriam ocorrido se o trono fosse
entendido através do modelo de monarquia pelo direito divino. Desse modo, a
história política bizantina foi a história de como os imperadores mantinham a sua
popularidade para manter-se legitimamente no poder.285
Nessa perspectiva, basear a política bizantina apenas do ponto de vista da
ideia de monarquia pelo direito divino teria dois sérios problemas, sendo o
primeiro o estabelecimento da relação entre imperador e súdito pautado apenas a
partir da ideia religiosa e o segundo, a separação de Roma e o período bizantino
feita pela maioria dos estudiosos, como se Bizâncio não fizesse parte da herança
romana.286
Assim, é preciso destacar de onde surgiu essa ideia de monarquia pelo
direito divino perpetuada pelos pesquisadores da temática política bizantina, que
praticamente exclui a politeia governada pelo imperador em prol de uma relação
deste último como Deus. Esses princípios teriam surgido a partir da análise dos
escritos de Eusébio de Cesaréia, primeiro escritor cristão a tentar dar sentido ao
que poderia significar um imperador cristão. Eusébio teria trabalhado a ideia
imperial para fazer elogios ao imperador Constantino e, após sua obra, foi
considerado enquanto o autor da “constituição bizantina”. Dessa forma, quase
283
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 87-117.
284
Ibidem, pp. 118-165.
285
Ibidem.
286
Ibidem, pp. 165-198.
109
287
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 165-198.
288
Ibidem.
289
Ibidem.
110
que não temos documentos que atestam suas crenças e seu apoio ou não aos ideais
iconoclastas.
Kaldellis observa ainda que mesmo autores cristãos não compactuavam com
os ideiais defendidos por Eusébio de Cesaréia. Na primeira fase do iconoclasmo
no século VIII, São João Damasceno (como demonstramos nesse trabalho) e
Teodoro Estudita na segunda fase no século IX defendiam que não era dever do
imperador agir sobre os assuntos da Igreja, apenas sobre os assuntos do Estado,
tais como a cobrança de impostos.290
Neste sentido, a melhor forma para conseguir que esse ideal cristão na política
bizantina deixe de ser a vigente é a recuperação da identidade romana de Bizâncio
relacionada à ideia de res publica.291
Outra autora que também defende a existência de eventos que fundamentam a
ideia da presença de princípios republicanos no Império Bizantino é Hélène
Ahrweiler que defende a ideia de “nacionalismo” a partir dos eventos que ocorrem
no Império a partir da ascensão da dinastia isaúrica e a eclosão da política
iconoclasta. Dessa maneira, a obra jurídica Ecloga instituída pelo imperador Leão
III seria um esforço para simplificar a legislação bizantina considerada erudita e
muito ultrapassada em alguns aspectos, e esteve em vigor por mais de um século
até a dinastia macedônica. A Ecloga teria, assim, surgido com base na vontade de
um espírito de justiça social, segundo a sua introdução atribuída ao próprio
imperador Leão III, com o intuito de servir os mais fracos econômica e
socialmente.292
Na mesma introdução estaria descrita a ideologia defendida pelo imperador
que dizia respeito à justiça que, para o mesmo, estaria em conformidade com a
vontade divina. Nesta perspectiva, o fundo da política iconoclasta baseava-se na
criação de uma solidariedade nacional contrária à ameaça externa oriunda da
expansão árabe.293
Essa solidariedade e justiça para com os mais necessitados teria sido a forma
encontrada para conquistar a população originária da Ásia Menor, essencial para a
defesa territorial, devido à sua localização. A militarização do Império, da sua
sociedade e das instituições fazia parte da nova política e ideologia imperial
290
Cf. KALDELLIS, 2015, pp. 165-198.
291
Ibidem.
292
Cf. AHRWEILER, 1975, pp. 25-36.
293
Ibidem.
111
instituídas pela dinastia isaúrica, para a mobilizar suas forças com o intuito de
garantir a sobrevivência do Império. Para tanto, estabeleceu-se o sistema de
“temas” que dividia as Províncias em distritos militares comandados por um
oficial representante do imperador, que permitia um controle maior do território.
A partir de então, foi transformada também a forma de alistamento do exército,
que deixou de ser formado por mercenários para ser composto por cidadãos
bizantinos de todas as classes sociais que atraídos pelo ganho foram defender o
seu território. 294
Observa-se, desse modo, o nascimento do nacionalismo bizantino, a partir de
um movimento de solidariedade e justiça que uniu indivíduos de diferentes etnias
e condições sociais, com o único propósito de defender o seu Império ameaçado
pela expansão árabe.295
Sendo assim, é possível observar como Kaldellis tem uma percepção mais
direta quanto à herança republicana romana presente em Bizâncio na forma de
uma monarquia republicana e a mesma ideia de forma mais discreta em Ahrweiler
que, apesar de não defender esse ideal republicano de forma clara, consegue
perceber nos bizantinos os ideais de justiça social, um dos princípios da república,
e a ideia de nacionalismo, presente na caracterização do Estado moderno.
294
Cf. AHRWEILER, 1975, pp. 25-36.
295
Ibidem.
112
pois a pessoa histórica precisava estar visível mesmo após sua morte. O monarca
deveria ser representado como um doador generoso, além da representação de sua
relação para com Deus, com o propósito de ser um antídoto moral contra a
corrupção do poder político.300 Essas imagens eram utilizadas ainda em algumas
situações nas quais era preciso substituir a verdadeira presença do imperador.
Assim, em qualquer ausência do monarca, seus retratos deveriam receber respeito
e honra como se o mesmo estivesse presente no lugar da própria imagem301, pois a
honra prestada à imagem do imperador é passada para o protótipo, assim como
ocorria com as imagens de Cristo, da Virgem e dos santos.302
Dessa forma, o conceito de autoridade absoluta do imperador bizantino
podia ser percebido através de diferentes representações, que eram decoradas e
idealizadas conforme um protótipo de monarca ideal. As imagens imperiais eram
estampadas não só em forma de retratos, mas também em atos jurídicos, tumbas,
selos e moedas. Nestes dois últimos tipos, a representação do imperador era
concebida enquanto garantia de autenticidade e possuía validade jurídica.303
É preciso destacar que o imperador era sempre representado com objetos
próprios para a sua função, tais como a coroa, louros e seus trajes cerimoniais.
Esses objetos eram símbolos que serviam para demonstrar a verdadeira existência
e substância dos monarcas. A coroa era oferecida por Deus, e apesar de ser um
elemento pagão, simbolizava o poder de governar e legislar. Mesmo os
imperadores iconoclastas considerados como hereges foram representados as
usando.304 No caso dos trajes cerimoniais, estes eram tão importantes para a
representação do imperador, como veremos, que Damasceno também os cita
como forma de honrar o monarca em sua ausência 305.
Os principais temas ordenados pelos imperadores nas Igrejas bizantinas
eram temas que se referiam à teologia política. Era possível encontrar imagens
relativas à origem divina do poder imperial e à legitimidade desse poder através
do dever do imperador com a fé ortodoxa, além de imagens que simbolizavam a
missão do monarca de conduzir o destino de seus súditos sem desviá-los e apoiar
300
NEGRAU, 2011, pp. 73-74.
301
Ibidem, pp. 63-64.
302
LOUTH, 2003.
303
NEGRAU, 2011, pp. 63-64.
304
NEGRAU, 2011, pp. 65-66.
305
LOUTH, 2003.
114
306
NEGRAU, 2011, pp. 73.
307
Ibidem. p. 68.
308
DAMASCENO, João. Deièon gèar basiléewv léogov prèov \upagwgéhn t%wn \uphkéown. \oléigoi
gèar %osoi t%wn \avéekaqen, basilik%wn katwligéwrhsan qespisréatwn,% osoi tèon \epèi g%hv.
basiléea, basileuéomenon o!idaten !anwqen, kaèi éwv krato%usin oi néomoi t%wn basiléewn. (I,
1)In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines
Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1233.
115
poder não pode ser dividido e nem a honra pode ser compartilhada. Afirma ainda
que a honra oferecida à imagem chega ao protótipo, utilizando esse mesmo
argumento tanto para a defesa dos retratos imperiais quanto para a defesa das
imagens divinas, o que nos mostra que Damasceno não só faz crítica aos
imperadores, mas também legitima e defende o seu poder comparando-o a todo
momento ao Rei dos reis:
309
DAMASCENO, João. $ Oti basileèuv léegetai kaèi |h to%u basiléewv e\ikèwn, kaèi oéu déuo
basile=iv. O=ute gèar tèo kréatov scéizetai, o=ute |h déoxa diameréizetai. | Wv gèar |h krato%usa
|hm%wn |arcèh kaèi \exouséia méia, o=utw ka\èi |h par\ |hm%wn doxologéia, méia kaèi oéu pollaèi, diéoti |h
t%hv eikéonov timèh |epèi tèo prwtéotupon diabaéinei. $ O o%un \estin \enta%uqa mimhtik%wv |h eikèwn,
to%uto \eke=i fusik%wv éo Giéov kaèi =wsper |epèi t%wn tecnht%wn, katèa tèhn morfèhn |h \omoéiwsiv,
o=utw kaéi |epèi t%hv qeéiav kaèi \asonqéetou féusewv èen t%h koinwnéiç qeéothtéov |estin \h $enwsiv. (I,
35) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines
Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1261-1264.
116
Logo após, cita São Gregório de Nissa, que afirma também que uma
imagem representa o arquétipo e, como tal, deve ser honrada em nome daquele
que é representado. Que isso deve ser feito não somente em relação à imagem do
imperador, mas também em relação às imagens divinas.
Sobre a possibilidade de representar a natureza humana, Damasceno
comenta essa passagem explicando que a beleza divina não poder ser representada
em cores, mas o Filho de Deus sim, pois o mesmo viveu na terra semelhante a um
ser humano e que, por isso, pode ser delineado. Sendo assim, se uma imagem de
um imperador é denominada imperador e a honra prestada a ela passa para o
protótipo, ou seja, o imperador, Damasceno se pergunta como a imagem de Cristo
não deve ser respeitada e honrada enquanto a imagem do Filho de Deus que se fez
carne:
Veja, uma vez que "a beleza divina não é feita resplandecente
em uma determinada figura externa através de determinadas
cores bonitas", e, portanto, não é representada, enquanto que a
forma humana é transferida para pedras por meio de cores. Se,
então, o Filho de Deus veio a ser em forma humana, tomando a
forma de um servo, e chegando a ser em semelhança aos
homens, e sendo encontrado em figuras como um ser humano,
como ele não pode ser representado? E se é costume "chamar a
imagem de um imperador de imperador" e "a honra oferecida à
imagem passa para o arquétipo", como diz o Basílio divino,
como é que a imagem não é respeitada e venerada, não como
Deus, mas como a imagem de Deus que se fez carne? (I, 51)311
310
DAMASCENO, João. “:Ta%uta gèar péanta =ulh. éo staurèov, éo t%hv stauréwsewv spéoggov,
kaèi kéalamov, kaèi \h tèhn zwhféoron pleurèan néuxasa léogch. | H toéutwn \apéantwn !anele tèo
séebav, %oper \adéunaton, %h mèh \apanaéinou mhdèe tèhn t%wn eikéonwn timéhn. Céariv déidotai qeéia
ta%iv =ulaiv dièa t%hv t%wn eikonizoméenwn proshgoréiav. $ Wsper litèon \h kogcéulh kaq\
|eautèhn, kaèi \|h méetaxa, kaèi tèo èex \amfo%in |exufasméenon \iméation !an dèe basileéuv to%uto
peréiqhtai, èek t%hv prosoéushv t%§ \hmfiesméen§ tim%hv, t%§ \amfiéasmati metadéidotai o$utwv
kaèi a\i =ulai, aéutai mèen kaq\ |ekutéav \aproskéunhtoi, =na dèe céaritov e$ih pléhrhv éo
e\ikonizéomenov, méetocoi céaritov géinontai ka\t\ \anologéian t%hv péistewv. (I, 36) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines
Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1264.
311
DAMASCENO, João. $ Ora, éwv tèo mèen qe=ion kéallov, oéu scéhmatéi tine diéa tinov e\ucroéiav
\enagla%izetai, kaèi dièa to%uto oéuk e\ikonéizetai \h dèe \anqrwpéinh morfèh dièa crwméatwn $epèi
toèuv péinakav metaféeretai. E\i toéinun éo Gièov to%u Qeo%u èen \anqréwpou morf%h géegone,
morféhn doéulou labèwn, kaèi èen |omoiéwpown genéomenov, kaèi scéhmati e=ureqeèiv éwv $anqrwpov,
p%wv oéuk eikonisqéhsetai; kaèi e\i katèa sunéhqeian léegetai, |h to%u basiléewv eikèwn,
117
basileéuv, kaèi |h t%hv eikéonov timéh |epèi tèo prwtéotupon diabaéinei, %wv fhsin éo qeiov
Baséileiov, p%wv \h eikèwn oéu timhqéhsetai kaèi proskunhqéhsetai; oéuk éwv Qeéov, \all\ éwv
Qeo%u sesarkwméenou eikèwn. (I, 51) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior.
Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1269.
312
DAMASCENO, João. Poll%wn toéinun \anéekaqéen \ieréewn te kaèi basiléewn Cristiano=iv
dedwrhméenwn, soféiç te kaèi qeosebeéiç kaèi léog§ kaèi béi§ diapreyéantwn, kaèi sunéodwn
pleéistwn gegenhméenwn |agéiwn kaèi qeopneéustwn Patéerwn, téi méhdeiv ta%uta dr%çn
118
\epeceéirhsen; oéuk \anexéomeqa néean péistin didéaskesqai. [...] Oéuk \anexéomeqa basilek%§
\upokéiptein qespéismati tèhn \ek Patéerwn peirwméen§ \anatréepein sunéhqeian. Oéu gèar
eéuseb%wn basiléewn \anatréepein |ekklhsiastikoèuv qesmoéuv. [...] Sunéodwn ta%uta, oéu
basiléewn, é§ éo Kéuriov $efhsen. $ Opou sunacq%wsi déuo %h ter%iv $epèi t%§ éonéomatéi mou, |eke=i
e\imi \en mées§ aéut%wn. Oéu basile%usi to%u desmeéuein kaèi léuein tèhn |exouséian déebwken éo
Cristèov, \all\ \apostéoloiv, kaèi to$iv toéutwn diadéocoiv, kaèi poiméesi, kaèi didaskéaloiv. K!an
!aggelov, fhsèi Pa%ulov \o \apéostolov; e\uaggeléishtai \um%av par\ !o pareléabete kaèi tèo \ex%hv
siwphséomeqa, feidoi, tèhn epistrofèhn \ek=oecéomenoi. ! Na dèe \i=owmen tèhn diastrofèhn
\anepéistrofon, %oper m\h d%§ éo Kéuriov, téote \epéaxomen kaèi tèo leipéomenon \allèa \aphéucqw
to%uto. (I, 66) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio Apologetica Prior. Adversus Eos’Qui Sacras
Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. pp. 1280-
1281.
313
DAMASCENO, João. K%an =aggéelov, k%an basileéuv e\uaggeléizetai \um%av par\ $o
pareléabete, kleéisate tèav \akbéav \okn%w gèar téewv eèipein, éwv !efh éo qeiov\ Apéostolov, \
Anéaqema !estw, \ekdecéomenov tèhn diéorqwsin. (II, 6) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II.
Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1288.
119
314
DAMASCENO, João. Oéu basiléewn \estèi nomoqetein t\h \ Ekklhséia. Téi fhsin éo qeiov \
Apéostolov; Kaèi oéuv mèen %eqeto e Qeèov èen t%h \ Ekklhséia pr%wton, \apostoléouv deéuteron,
proféhtav tréiton, poiméenav kaèi didaskéalouv, prèov tèon katartismèon t%hv \ Ekklhséiav.
Oéuk e%ipe, basile%iv. Kaèi péalin. Peéiqesqe toiv \hgouméenoiv \um%wn, kaèi \upepeikete. Aéutoi gèar
\agrupno%usin \upèer t%wn yuc%wn |um%wn, éwv léogon \apodéwsontev. Kaèi a\uqiv\ . Mnhmoneéuete
t%wn %hgouméenwn \um%wn, o\itinev \eléalhsan \om%en tèon léogon, éwn \anaqewro%untev tèhn
\anastrofèhn, zhlo%ute tèhn péistin. O=uk |eléalesan |hméin tèon léogon oi basileiv, \allèa
\apéostolov kaèi prof%htai, poiméenev te kaèi didéaskaloi. [...] \ Gpeéikomèen soi, éw basile%u, \en
toiv katèa tèon béion préagmasi, féoroiv, téelesi dosilhyéiaiv, èen oiv soi tèa kaq\ |hm%av
|egkeceéipistai |en dèe t%h |ekklhsiastik%h katastéasei, !ecomen toéuv poiméenav, toéuv
laléhsantav \hmin tèon léogon, kaèi tupéwsantav tèhn \ekklhsiastikéhn qesmoqeséian. Oéu
metaéiromen dria a\i\wnia, !a !eqnto oi patéerevéhm%wn, \allèa katéecomen tèav paradéoseiv,
kaqéwv pareléadomen. Ei gèar \arxéomeqa téhn oikodoméhn t%hv \ Ekklhséiav k%an |en mikr%§
kaqairein, katèa smikrèon tèo kataluqéhsetai. (II, 12) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II.
Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. pp. 1296- 1297.
120
também não deve ser destituído do seu. Os santos, enquanto exército do Senhor e
seus herdeiros, devem também ser honrados. Aqui, Damasceno faz uma crítica
clara à ordem iconoclasta de proibição às imagens dos santos e faz também alusão
ao dever do imperador de proteger o seu território através do seu exército e às
batalhas que o Império estava passando contra os árabes durante a crise
iconoclasta. Novamente, ao mesmo tempo em que critica o poder imperial, ele o
defende.
Mais adiante, Damasceno cita de forma direta, pela primeira vez, o
imperador Leão III, que deu início à crise iconoclasta. Critica-o duramente,
questionando se será escrito um novo Evangelho, segundo Leão, devido às ordens
do mesmo contra as imagens. O monge afirma ainda que não aceita que o
imperador atue tiranicamente contra as leis eclesiásticas, por Leão não possuir
autoridade para tal. Para Damasceno, a Igreja não deve ser regida por cânones
imperiais, mas sim por tradições patrísticas, sendo estas escritas e não escritas:
315
DAMASCENO, João. Manica%ioi sunéegrayan tèo katèa Qwm%an E\uaggéelion grèayate kaèi
\umeiv tèo katèa Aéeonta E\uaggéelion. Oéu déecomai basiléea turannik%wv téhn éiepwséunhn
\arpéazonta. Oéu \elabon \exouséian desme!in kaèi léuein. [...] Oéu peéiqomai basiliko=i kanéosi
diatéattesqai tèhn \ Ekklhséian, \allèa patrika=iv paradéosesi, èeggréafoiv te kaèi \agréafoiv. $
Wsper gèar èen =oly t%§ kéosm§ èeggréafwv èekhréucqh tèo Eéuaggéelion, o=utwv èen $ol§ t%§ kéosmy
\agréafwv paredéoqh tèo eiikonéizein Cristèon tèon sesarkwm\enon Qeèon, kai toéuv \agéiouv,
%wsper kaèi proskune=in tèon staurèon, kaèi katéa \anatoléav \est%wtav proseéucesqai. (II, 16)
In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In:
Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. pp. 1302-1304.
121
utilizados para se referir ao imperador, o que demonstra, mais uma vez, que o
monge não é contrário à figura imperial, mas sim aos imperadores considerados
por ele como “tiranos”:
316
DAMASCENO, João. Ei d\e léegeiv téon makéarion \ Epiféonion tran%wv t\av para\hmin
\apagore%usai eikéonav, gn%wqi \wv \epiplastov \o léogov, =allou tinèov t%§ to%u qeéiou
‘Epifanéiou crhsam\hnou \on\omati, o%ia polléa sumba\inei géinesqai. Oéu gèar to=iv
sumpatréasin éo Patéhr méacetai. | Enèov gèar |agéiou Pneéumatov péantev gegéonasi kaèi méartuv
|h toéutou èekklhséia, eikéosi kallwpizoméen %ewv o%u tinev kat\ aèut%hv \antepanéesthsan, kaéi
tèhn Cristo%u dietéaraxan poéimnhn, potéisai tèon laèon Qeo%u éepiceiréhsantev \anatropéhn
qoleréan. (II, 18) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines
Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. pp. 1304-1305.
317
DAMASCENO, João. $ Em%ouma basilikèon |eèan éubrishv, oéu tèon |endeduméenon dbrizeiv;
oéuk o\idav =oti, |eèan eikéona basiléewv $ubréishv, eiv prwtéotupon t%hv \axéiav féereiv téhn =ubrin;
oéuk o\idav %oti, èe\an tiv eikéona tèhn \apèo xéulou kaèi \andriantov calko%u kataséurh, oéuk éwv
eiv !ayucon =ulhn tolméhsav kréinetai, \all\ éwv katèa basiléewv kecrhméenov t%h =ubrei;
Eikéona dèe %olwv basiléewv féerousa, téhn |eaut%hv =ubrin eiv basiléea \anéagei. (II, 61) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae
Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1313.
122
ausência do mesmo, pois aquele que desrespeita sua imagem sofrerá punição
como se tivesse desrespeitado ao próprio imperador. Novamente compara a
imagem do imperador aos ícones:
318
DAMASCENO, João. $ Wsper géar èapéontov méen basiléewv, \h eikèwn aèuto%u ànt\ aèuto%u
proskuneitai, paréontov dèe loipèon aéuto%u, perittèon katalipéonta téon prwtéotupon,
proskunein tèhn eikéona o\u mèhn, èepeéi mèh proskune!itai dièa tèo pare%inai tèon di\ =on
proskune%itai, \atiméazesqai oéuk $edei. \ Kaèi met\ \oliga. $ Wsper gèar |o paroin%wn eikéoni
basiléwv, timwréian éuféistatai, éwv a\utéocrhma basiléea \atiméasav, kaéitoi t%hv eikéonov
o\udèen =eteron o$ushv, %h xéulon kaèi créwmata khr%§ memigméena kaì kekraméena, téon aèutèon
préopon |o tèon téupon to%udée tinov \atiméazwn, eiv aéutèo èeke%ino o\u téupov \estin, \anafèerrei téhn
=ubrin. (II, 66) In: LOUTH DAMASCENI, S. Joannis. Oratio II. Adversus Eos’Qui Sacras
Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1316.
123
319
DAMASCENO, João. Crèh \apodidéonai p%asi tèav \ofeilèav, katèa téon $agion Pa%ulon tèon
\apéostolon, t%§ tèhn timéhn, kaèi basile=i mèen, éwv |uperéeconti, toiv dée $arcoisin,éwv di aéut%wn
\apostelloméenoiv |ekéast§, katèa tèo metron to%u \axéwmatov. (III, 10) In: DAMASCENI, S.
Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus
XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1333.
320
DAMASCENO, João. Epeidèh e\ide tèon $anqrwpon kat\ eikéona kaèi \omoéiwsin Qeo%u, mèh
dunéamenov eèiv Qeèon trap%hnai, eiv tèhn eikéona to%u \eauto%u ponhréian \ekéenwsen. $ Wsper e!i
tiv $anqropov \orgzéomenov, tèhn eikéona liqéazov, $epeidèh tèon basiléea o\u déunatai, tèo xéulon
téuptwn tèo tèhn méimhsin $econ. [...] $ Wsper géar éo basilikèhn eikéona kaqubréisav, éwv eìv
a\utéon \examartéhsav tèon basiléea kréinetai o$utw dhlonéoti $upéodikéov \esti t%h \amartéiç, éo
tèon kat\ eikéona gegenhméenon kaqubrizwn. (III, 56-57) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio
III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S.
Joannes Damascenus. p. 1365.
124
321
DAMASCENO, João. \ Epinikéiouv mèen \andpéiantav o|i basile=iv toiv strathgoiv
vikéhsasin \anatiqéeasi vikhféorouv dée tinav stéhlav \epegeéirousin $arcontev |hniéocouv kaèi
\aqlhtaiv, kaèi t%§ |epigréammati, éwv stéemmati kéhruka t%hv néikhv tèhn =ulhn \ergéazontai.$
Alléa péalin \en bibloiv kaèi gréammasi toéuv |epaéinouv nikhtaiv gréafousi, tèhn aéut%wn \en t%§
\epaéin§ dimin, éiscurotéeran t%wn \epainouméenwn deixai qéelontev. Kaèi logogréafov, kaèi
zwgréafov, kaèi leqogléuppai kaèi d%hmoi, kaèi !arcontev, kaèi péoleiv, kaèi c%wrsi, toéuv nikhtéav
qauméazouein. O\udeèiv dèe feéugontov kaèi mèh poleméhsantov, eikéonav !egrayen. (III, 60) In:
DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In:
Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1368.
125
Damasceno cita ainda Anastácio, o qual afirma que assim como a imagem
do imperador é honrada enquanto o mesmo está ausente, também não pode ser
desonrada em sua presença:
322
DAMASCENO, João. | T%hv dèe o\uséiav to%u Patrèov Goion !wn g!ennhmeéotiv eikéotwv kaèi téa
to%u Patréov léegei $einai. prepéontwv kaì \akoloéuqwv, t%§ léegein. \ Egèw dèe Patéhr !en \esmen,
\epéhgagen. $ Ina gn%wte, !oti éh èen t%§ Patri kaèi \o Patéhr éen \emoi. [...] To%uto dèe kaèi \apèo to%u
paradeéigmatov t%hv eikéonav to%u basiléewv, prosecéesteréon tiv katano%hsai déunetai. \ Eu
géar t%h eikéoni basiléewv, tèo eidov kaèi éh morféh \esti kaèi \en t%§ basilei, tèo \en t%h eikéoni eidov
\estin. (III, 114) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui Sacras Imagines
Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p. 1404.
323
DAMASCENO, João. $ Wsper gèar, \apéontov mèen basiléewv, |h eikéwn ékto%u proskuneitai,
paréontov dèe, loipèon periton katalipéonta tèon prwtéotupon proskunein t%h eikéon o\u méhn,
\epei o\u proskuneitai diéa tèo pareinai tèon, d\e =on proskuneitai, \atiméazesqai a\utèhn de=i
to%uto ti nomizw sumb%hnai perèi téhn to%u néomou skièan, %h tèo gréamma (skièan gèar a\utèon
kale=i |o \ Apéostaiv). (III, 127) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus Eos’Qui
Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes Damascenus. p.
1412.
324
DAMASCENO, João. | Ei tiv \antipoie=itai Qeodéwrou to%u \asebo%uv ç Moyouste\iav to%u
eipéontov, $allon e\inai tèon Qeèon Aéegon, kaèi $allon tèon Cristèon, \upèo paq%wn yucik%wn kaèi
t%wn t%hv sarkèov \epiqumi%wn |enocloéumenon, kaèi t%wn ceiréonwn katèa mikrèon cwrizéomenon,
kaéi o=utwv \ek prokop%hv $ergwn beltiwqéenta, kaèi \ik paliteéiav \améwmou r katastéanta, éwv
yiléon !anqrwpon baposq%hnai, eiv $onoma to%u Patréov, kaèi Gio%u, kaèi \ag|iou Pneéumatov,
kaèi dièa to%u baptéismatov téhn céarin kaèi \ag|iou Pneéumatov labéonta, kaèi u|ioqeséiav
\axiwq%hnov kaèi katèa \iséothta basilik%hv eikéonov, eiv préoswpon to%u Qeo%u Aéogou
126
Vemos aqui uma separação clara entre imperador e Deus, mostrando que,
apesar de ser escolhido por Ele, o imperador não deve ser tratado como Deus, mas
deve ser respeitado devido ao cargo que ocupa.
Dessa forma, podemos concluir que as obras de Damasceno foram escritas
com a finalidade de fazer crítica ao imperador, neste caso, ao imperador Leão III
que além de dar início à iconoclastia, em sua única obra jurídica, a Ecloga, se auto
intitulou “rei e sacerdote”, o que para o monge era visto como um ato de tirania,
pois um rei não poderia, segundo as constituições bizantinas, ser também um
sacerdote325. “Essa apropriação sugere que se eliminou a distinção entre a
autoridade imperial e o sacerdócio, apesar de caracterizar o seu papel em termos
bastante convencionais” 326. Nas palavras de Dagron:
proskuneisqai, \anéaqema $estw. (III, 129) In: DAMASCENI, S. Joannis. Oratio III. Adversus
Eos’Qui Sacras Imagines Abjiciunt. In: Patrologiae Graecae Tomus XCIV. S. Joannes
Damascenus. p. 1412.
325
Cf. DAGRON, 2007.
326
Cf. CARDOSO, 2013, p. 92.
327
Cf. DAGRON, op. cit., 2007, p. 219.
328
Cf. CARDOSO, op. cit., 2013, p. 97.
329
Cf. DAGRON, op. cit., 2007, p. 24.
127
Neste sentido, podemos constatar que mais que uma simples defesa das
imagens ou simples crítica ao poder imperial, os tratados de Damasceno podem
ser considerados um debate acerca da autoridade política em Bizâncio, nos quais
faz um tipo de manual com o intuito de lembrar ao imperador as suas funções e ao
mesmo tempo defender a legitimidade do poder imperial, pois o imperador
dependia de sua popularidade, como assinalou Kaldellis, frente aos súditos para se
manter no poder.
dos domínios bizantinos por ter sido conquistado pelos árabes no século VII.
Sendo assim, ao estudarmos as suas obras, estamos lidando com a percepção de
quem estava observando o que ocorria dentro de Bizâncio a partir de uma
perspectiva de quem estava distante e recebia informações sobre o que ocorria,
mas não vivia os acontecimentos.
Diante disso, deve-se ter cuidado ao examinar as obras de Damasceno
dentro da crise iconoclasta e tratá-las como a concepção de todos os membros
monásticos bizantinos, pois a defesa das imagens se limita às suas obras no século
VIII e às obras do também monge Teodoro Estudita no século IX. Desse modo,
não podemos afirmar que essa era a visão e a opinião de todos os monastérios,
pois como bem assinalou Michael Angold 332, muitos mosteiros encontravam-se
favoráveis à nova política contrária às imagens instituída pelo imperador Leão III.
Outro problema em relação à sua percepção estava no fato de que dentro
da própria Igreja existiam contradições referentes às constituições eclesiásticas,
principalmente no que se referia à legitimidade ou não da produção e culto das
imagens. Como já assinalamos no primeiro capítulo, um dos principais Padres da
Igreja, Eusébio de Cesaréia, mostrou-se contrário às imagens em uma carta escrita
a Constância, irmã do imperador Constantino que lhe pediu que lhe enviasse um
retrato de Cristo. Nota-se, assim, que apesar de nunca se opor às imagens havia
membros da Igreja que não as aceitavam, sendo importante lembrar também que a
posição oficial da Igreja sobre os ícones só aconteceu no século VII, três séculos
após o que foi defendido por Eusébio.
Além disso, encontramos incongruências também no que concerne ao
dever atribuído ao imperador de legislar não só sobre os interesses do Estado, mas
também sobre as questões eclesiásticas, o que foi defendido, sobretudo por
Eusébio de Cesaréia, entretanto, considerado tanto por Damasceno quanto por
Estudita como inadequado.
É preciso destacar novamente o problema das fontes do período
iconoclasta e o fato das mesmas reportarem o ponto de vista eclesiástico, já que as
fontes iconoclastas foram destruídas após o fim definitivo do período. Outro
problema diz respeito à escassez de textos que se refiram à opinião da população
bizantina e suas crenças, o que dificulta o entendimento do período, já que relatos
332
ANGOLD, 2002. pp. 68-86.
129
333
BRYER; HALDON, 2001.
334
Autores como Ostrogorsky (1984), Diehl (1961), Lemerle (1991), Hilário Franco Júnior e Ruy
de Oliveira Filho (1985) e Boy (2007) defendem a iconoclastia enquanto um movimento
antimonástico.
335
HALDON, 2010, p. 11.
336
BRUBAKER. In: JAMES, 210, p. 332.
337
KALDELLIS, 2015.
130
338
NEGRAU, 2011, pp. 65-66.
131
CONCLUSÃO
das imagens sagradas, para depois demonstrar como esses mesmos argumentos
foram utilizados para legitimar o poder imperial. Em seguida, fizemos algumas
considerações acerca dessas obras, em conjunto com uma bibliografia que
abarcava o estudo das mesmas.
Nosso terceiro e último passo foi, justamente, situar as obras de
Damasceno em um debate sobre autoridade política, na tentativa de demonstrar a
perspectiva do mesmo sobre a representação imperial. Procuramos,
primeiramente, fazer uma discussão acerca da herança republicana romana de
Bizâncio, para em seguida demonstrar um paralelo entre as imagens sagradas e os
retratos imperiais para, por último, refletir sobre o papel de Damasceno enquanto
um cristão em território islâmico, demonstrando a partir de seus escritos sua
percepção das decisões que estavam sendo tomadas em relação à sua crença
dentro do Império Bizantino.
Em meio ao que propomos foi possível observar que não havia consenso
entre os membros da Igreja sobre questões religiosas como a legitimidade ou não
da imagem, que vinha desde o século IV e sobre a autoridade ou não do imperador
frente aos assuntos eclesiásticos, pois enquanto Eusébio de Cesaréia defendia
atuações do imperador dentro da Igreja, como a convocação de sínodos,
Damasceno se colocava contrário a essas atuações com a afirmação de que ao
imperador só cabia os assuntos do Estado.
Percebemos também como o próprio Damasceno fazia uma clara divisão
entre Igreja e Estado, e a diferença que ele fazia das funções do imperador em
ambas as esferas, o que nos faz presumir que suas obras seriam também um
debate sobre a popularidade e a impopularidade do imperador e sua função
enquanto líder supremo e defensor do Império.
Destacamos que este foi mais um trabalho que estudou o iconoclasmo sob
a perspectiva imperial, clerical, monacal e não a partir das manifestações
populares, devido à escassez de fontes sobre as mesmas. No entanto,
reconhecendo o Império enquanto um herdeiro da república romana, como assim
defendeu Kaldellis, é possível não afirmar, mas tirar algumas conclusões, como o
fato de que a popularidade ou impopularidade e possível deposição dos
imperadores iconoclastas não ocorreu, já que eles eram considerados tiranos por
Damasceno, o que nos leva a crer que a população não era contrária aos mesmos e
sua política.
133
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fontes
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Bibliografia geral
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