1.2_História Clínica e psicopatologia

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História Clínica e

Psicopatologia
André Ferreira Silva
IFE de Psiquiatria na ULS Médio Tejo
Sumário
I. História clínica
II. Exame do estado mental
III. Psicopatologia
IV. Questões de aula
V. Bibliografia
I. História Clínica
• A história clínica inclui uma parte inicial denominada anamnese, e uma
segunda parte na qual se incluem o exame psicopatológico, o
diagnóstico, o prognóstico e o tratamento.
• O termo “anamnese” vem do grego ana (remontar, trazer de novo) e
mnesis (memória). É a evocação voluntária do passado feita pelo doente,
sob a orientação do profissional de saúde. Integra-se na parte da
semiologia que visa revelar, investigar e analisar os sintomas de uma
doença.
• O objetivo é organizar e sistematizar os dados do utente, de forma a
orientar os cuidados no sentido da melhor eficácia terapêutica.
I. História Clínica
Psicopatologia Psiquiatria

A psiquiatria é um ramo da
Estudo sistemático das
medicina que recorre à relação
vivências, cognições e
terapêutica e à empatia, para
comportamentos que são
poder avaliar as manifestações
produto de uma mente
subjetivas da mente e utiliza os
doente. Permite a
dados que a psicopatologia lhe
categorização das
fornece, para estabelecer um
manifestações psicopa-
diagnóstico e tenta tratar o
tológicas objetivas e
doente com as ferramentas
subjetivas.
terapêuticas de que dispõe.

Permite a comunicação interpares e a construção de uma investigação mais robusta em psiquiatria e psicologia.
I. História Clínica
1. Identificação do doente
• Nome
• Idade
• Data de nascimento
• Sexo
• Género
• Raça ou Etnia
• Naturalidade
• Residência
• Profissão
• Habilitações literárias
• Estado civil
• Fontes de informação (doente, familiares, processo clínico)
I. História Clínica
2. Motivo de Internamento ou de Consulta
Internamento
• Quando foi internado?
• Veio de livre vontade ou não? Internado voluntariamente/involuntariamente, ao abrigo da
lei de saúde mental?
• Através do serviço de urgência/consulta?
• Porquê do internamento ou consulta? Quais as queixas e/ou maior preocupação?
• Usar preferencialmente as palavras do doente
• Vem acompanhado?
Consulta
• Indicar origem e motivo da referenciação
I. História Clínica
3. História da Doença Atual
Descrição pormenorizada, e por ordem cronológica, da doença atual. Utilizamos sempre as expressões do doente.
• Início (Quando e em que contexto)?
• Sintomas (evolução temporal)
• Evolução (episódica? agravamento? remissão? estagnação?)
• Fatores precipitantes/de agravamento/de manutenção (consumo de substâncias, acontecimentos, fases do
ano)
• Natureza e duração da incapacidade funcional associada aos sintomas
• Negação de outros sintomas que poderiam estar presentes
• História psiquiátrica prévia:
• Acompanhamento psiquiátrico prévio
• Internamentos (quando, quantos e onde)
• Tratamentos efetuados, seus efeitos terapêuticos e efeitos secundários
I. História Clínica
4. História Pessoal
• Gravidez, parto e amamentação: doenças da mãe durante a gravidez; Consumo de
substâncias; Parto eutócico/distócico, de termo/ prematuro, complicações no parto;
amamentação/ alimentação com leite artificial
• Desenvolvimento psicomotor nos primeiros anos: idade em que falou, andou, controlo de
esfíncteres.
• Separação prolongada dos pais e reação a esta
• Problemas emocionais na infância
• Sintomas neuróticos da infância: Pesadelos, sonambulismo, gaguez, birras, medos,
enurese, maneirismos.
• Saúde durante a infância: Infeções, convulsões, traumatismos.
I. História Clínica
4. História Pessoal
• Adolescência e desenvolvimento afetivo-sexual: educação sexual (como foi adquirida),
primeiras relações íntimas, fantasias sexuais, orientação sexual, história ginecológica (se
aplicável)
• História marital: Relacionamentos afetivos anteriores; duração do conhecimento antes do
casamento, duração do casamento, relacionamento entre o casal, relacionamento sexual,
satisfação sexual, medidas anticoncecionais.
• Filhos: Idades e ocupações, temperamento, desenvolvimento emocional, saúde física e mental
• História escolar: Idade de início e fim de escolaridade, aproveitamento escolar, dificuldades de
aprendizagem, interesses extra-curriculares, relações de amizade e alcunhas.
• História ocupacional: idade do 1º emprego, ordem cronológica dos vários empregos e razões
de mudança, ocupação atual (duração, desempenho e satisfação no trabalho, situação
económica)
• Vida militar
• Atividades sociais/recreacionais e religião
I. História Clínica
5. Antecedentes pessoais:
• Antecedentes médico-cirúrgicos:
• Doenças, cirurgias, acidentes
• Tratamentos realizados
• Medicação habitual
• Alergias

• Consumo de substâncias psicoativas:


• Tabaco, álcool, canábis e outras drogas
• Quantificar os consumos, quando foi o primeiro e o último consumo
I. História Clínica
6. Personalidade prévia
Compreende o conjunto de atitudes e padrões habituais de comportamento do indivíduo:
• Temperamento: conjunto de traços psicológicos inatos e determinados por fatores genéticos
e neurobiológicos. São muito difíceis de mudar, expressos automaticamente e influenciam o
comportamento
• Hipertímico, ciclotímico, distímico, irritável e ansioso.
• Carácter: Atitude perante o trabalho e responsabilidade, facilidade de decisões, metódico,
flexível, impulsivo/cauteloso, perseverante
• Atividades intelectuais: Hobbies e interesses.
• Relações sociais: família/amigos, grupos, associações, clubes.
• Relações interpessoais, padrões morais, religiosos, energia e iniciativa
I. História Clínica
Aspetos da personalidade podem ser avaliados:
• Questionando diretamente o doente
• Perguntando a pessoas que o conhecem bem
• Pelo seu comportamento observado
I. História Clínica
7. Antecedentes familiares:
• Pai: Idade, saúde, ocupação, personalidade.
• Mãe: Idade, saúde, ocupação, personalidade.
• Irmãos: Idade, saúde, ocupação, personalidade.
• Doenças familiares: doenças mentais, suicídios, alcoolismo, epilepsia, demências.
• Ambiente familiar na infância
• Consanguinidade
II. e III. História clínica:
Exame do estado mental e Psicopatologia
• O exame do estado mental consiste na sistematização dos sinais e sintomas apurados na
história da doença atual que evidenciam de alterações do funcionamento mental.
• Os critérios oficiais de diagnóstico estão descritos em manuais como a CID-11 da Organização
Mundial de Saúde e o DSM-5-TR da American Psychiatric Association.
• O enfermeiro deve evitar que as crenças, valores, sensibilidade, estado emocional interferiram
nos fenómenos observados e consequentemente influenciem negativamente a relação
terapêutica, e os resultados que com ela procuramos atingir.
II. Exame do estado mental
ÁREAS ASPETOS A AVALIAR
ASPECTO GERAL Apresentação, vestuário, higiene, odor, biótipo, atitude e postura
CONTACTO Atitude, mimica facial, gesticulação, contacto visual, comunicação não verbal
CONSCIÊNCIA Nível de vigília, clareza de consciência, alterações qualitativas
ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO Campo, amplitude, direção
ORIENTAÇÃO Temporal, espacial, autopsíquica, alopsíquica
MEMÓRIA Imediata e de trabalho, explicita, implícita
MOTRICIDADE Expressão corporal, movimentos involuntários, marcha, movimentos induzidos
LINGUAGEM E DISCURSO Volume, débito, ritmo, prosódia, semântica, sintaxe
PENSAMENTO Curso, Forma, Posse e controlo, Conteúdo
ALTERAÇÕES DA PERCEÇÃO Distorções sensoriais, falsas perceções
ALTERAÇÕES DA VIVÊNCIA DO EU Existência e atividade, unidade, continuidade, identidade, limites
HUMOR Humor, afetos
VONTADE Vontade, impulsividade, agressividade
VIDA INSTINTIVA Sono, apetite, libido
INSIGHT E JUÍZO CRITICO Crítica para a doença e necessidade de tratamento. Juízo crítico
III. Psicopatologia
Consciência
Consciência pode ser definida como um estado de conhecimento do próprio (que inclui a síntese de
todos os fenómenos psíquicos elementares) e do meio que o rodeia.

Alterações da
consciência

Alterações Alterações
quantitativas qualitativas
Estado
Diminuição Oniróide
Diminuição da consciência,
aumento do limiar para estímulos, Estreitamento Estado
Obnubilação Sonolência Torpor Coma desorientação no tempo e espaço, crepuscular
Ligeiro grau de (Estupor) Doente apresenta- alucinações visuais, incapaz de Restrição a poucas
Acordada, mas sem distinguir entre imagens mentais e ideias e atitudes que
sonolência, se totalmente Restrição mórbida da
estimulação Redução generalizada percepções reais. Agitação dominam a mente.
dificuldades de inconsciente, sem consciência com
externa adormece. do nível de psicomotora, insónia e Ex: Ansiedade grave
concentração e resposta a ruptura na
consciência. interpretação do comportamento
atenção. estímulos. continuidade com
Desperta apenas com dos outros como ameaçador. amnésia. Ex: Epilepsia
estimulação forte. Agravamento à noite.
Ex: Delirium
III. Psicopatologia
Orientação

Orientação

Orientação no Orientação no Orientação Orientação


tempo espaço autopsíquica alopsíquica
Lugar na sua determinação Refere-se a si próprio. Data Refere-se ao que está fora
Data (ano, mês, dia do mês,
geográfica, locais habituais. de nascimento, local de de si. Quem são os outros.
dia da semana), período do
nascimento, nome, .
dia, estação do ano
profissão, estado civil,
biografia pessoal
III. Psicopatologia
Memória
• Permite fixar, conservar e rememorar informação, experiências e factos.
• Fases da memória
Primária,
Secundária, Duração
Sensorial ou Duração de recente, curto Duração de de
segundos a remota ou a minutos a
imediata segundos
prazo ou de minutos décadas
longo prazo
trabalho

• Modalidades cognitivas (na memória de longo prazo)


As memórias são obtidas
Explícita ou Centra-se em factos e acontecimentos Implícita ou de automaticamente e utilizadas de forma
e o próprio está consciente da inconsciente (conduzir, andar de
declarativa utilização da memória. procedimento bicicleta). Hábitos, capacidades
motoras, sensoriais ou linguísticas.
• Tipos (dentro da memória declarativa)
Memória factual. Não existe Episódica, Memória para eventos. Experiências
Semântica referência ao tempo e ao espaço. do próprio (o que comi hoje, datas de
Conhecimento geral, mais teórico. biográfica ou
nascimento…)
histórica
III. Psicopatologia
Perturbações dos movimentos
Alterações quantitativas
¡ Agitação psicomotora: Inquietação com aumento dos movimentos (hipercinésia), com
experiência de sensação de tensão interna, muitas vezes associada a hostilidade e
heteroagressividade.
¡ Lentificação psicomotora: Lentidão de toda a atividade motora associada a bradipsiquismo,
com diminuição dos movimentos que se tornam mais pobres, mais lentos, mais pesados
(hipocinésia).
III. Psicopatologia
Perturbações dos movimentos
Alterações qualitativas
¡ Perseveração: Depois de atingida a finalidade inicial, o movimento continua a repetir-se de
forma persistente e desnecessária (Persistência do mesmo ato).
¡ Maneirismos: A execução de gestos e movimentos dirigidos ou manutenção de posturas
adaptativas de uma forma reiterada e pouco usual. Movimentos adventícios que parasitam os
gestos e expressões comuns, acabando por distorcê-los.
¡ Estereotipias: Atos motores sem objetivo, repetitivos, executados de uma maneira uniforme
(movimento anormal, espontâneo e sem finalidade). Comportamento verbal ou motor
repetitivo e persistente.
¡ Tiques: Contrações breves, rápidas, repetidas e involuntárias de alguns grupos musculares.

¡ Tremor: é um movimento muscular involuntário, de certa forma rítmico, que envolve


movimentações oscilatórias de uma ou mais partes do corpo - causas: ansiedade, doenças
(dça Parkinson) ou efeitos adversos de fármacos.
III. Psicopatologia
Perturbações dos movimentos

gestos e movimentos dirigidos ou manutenção de posturas adaptativas de uma forma reiterada e pouco usual.
III. Psicopatologia
Perturbações dos movimentos

movimento anormal, espontâneo e sem finalidade


III. Psicopatologia
Perturbações dos movimentos

Contrações breves, rápidas, repetidas e involuntárias de alguns grupos musculares.


III. Psicopatologia
Perturbações dos movimentos
¡ Oposição e negativismo: O doente opõe-
se a qualquer movimento passivo com o
mesmo grau de força que estiver a ser
aplicado pelo entrevistador (aparentemente
sem motivo).
¡ Perseveração da postura ou catalepsia:
acentuado exagero do tónus postural e
corresponde à manutenção de uma
determinada postura imposta ou voluntária.
Na flexibilidade cérea observa-se uma
ligeira resistência que o doente oferece à
mobilização dos membros, quando se
detêm os movimentos passivos a postura
final é preservada.
III. Psicopatologia
Efeitos extrapiramidais
secundários aos uso dos
antipsicóticos

Pseudo Acatísia Distonia Discinésia


parkinsonismo aguda tardia
Agitação Espasmos Movimentos sem propósito,
Rigidez psicomotora, musculares repetitivos dos músculos faciais,
muscular, sensação intermitentes ou boca e língua, associados a
tremor e subjetiva de sustidos, levando a movimentos coreo-atetóticos dos
acinésia. inquietude (o posturas ou membros. Ao contrário dos
doente sente movimentos anteriores, que podem dar-se pouco
“incapacidade de anormais. tempo após a administração de
estar quieto”). antipsicóticos, a discinesia tardia
geralmente associa-se ao seu uso
crónico.
III. Psicopatologia

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III. Psicopatologia

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III. Psicopatologia

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III. Psicopatologia
Linguagem e discurso

O discurso é um processo mental de manifestação do pensamento e de natureza essencialmente


consciente, significativa e orientada para o contacto interpessoal.

O discurso costuma refletir o pensamento e pode ser tido como o elo final da cadeia de processos
psíquicos que se iniciam com a perceção e terminam com a palavra falada ou escrita.
III. Psicopatologia
Linguagem e discurso
• Prosódia: modulação da entoação vocal que influencia a pronuncia e também os significados literais e
emocionais das palavras e frase;
• Débito: Mutismo/Lento/Pressão do discurso/verborreia
• Tom/volume
• Semântica e Sintaxe
Semântica: trata significados que correspondem às palavras
Sintaxe: trata combinações admissíveis de palavras em frases, incluindo as regras que determinam a
ordem das palavras
• Para-respostas ou resposta ao lado: resposta totalmente inadequada embora se infira que o doente
compreendeu a pergunta
• Parafasia: substituição da palavra-alvo por uma palavra errónea dentro do mesmo campo semântico, ou seja,
uma construção equivocada com tentativa de aproximação da construção correta.
# Parafasia semântica – perturbação do processo semântico cognitivo, com provável falha no processo de
seleção linguística. Ex: caneta em vez de lápis ou auscultador em vez de estetoscópio.
# Parafasia fonológica (literal) – se o doente diz uma palavra que se aproxima da resposta certa mas
foneticamente errada. Ex: grapis em vez de lápis.
III. Psicopatologia
Linguagem e discurso

• Ecolalia: Repetição sucessiva de palavras.


• Palilalia: Repetição sucessiva da última palavra.
• Logoclonia: Repetição sucessiva da última sílaba da última palavra do que está a dizer.
• Neologismos: Palavras novas ou palavras vulgares com novo sentido. Palavras criadas ou palavras
já existentes empregues com sentido desfigurado.
• Estereotipias verbais: Repetir e empregar uma palavra não relacionada no meio das frases.
III. Psicopatologia
Perturbações do pensamento

1. Perturbações do curso

2. Perturbações da forma (raciocínio)

3. Perturbações do conteúdo

4. Perturbações do controlo e da posse


III. Psicopatologia
1. Perturbações do curso - ritmo
Fuga de ideias
Os pensamentos seguem-se uns aos outros rapidamente (taquipsiquia); não há uma direção geral do pensamento;
as conexões entre pensamentos sucessivos devem-se a fatores casuais, associações verbais, associações sonoras,
provérbios ou chavões.
O discurso é facilmente desviado por estímulos externos.
O objetivo do pensamento não é mantido por muito tempo.
O afeto influencia a velocidade do pensamento.

“Eles pensavam que eu estava na dispensa, em casa... Jogo de escondidas... Há uma caixa mágica. Coitada da Catarina, vocês
sabem, a Catarina, a Grande, fogo aberto, estou sempre pela chaminé acima. Eu quero gritar de alegria... Aleluia!”
III. Psicopatologia
1. Perturbações do curso - ritmo
Prolixidade

Versão marginal da fuga de ideias em que a velocidade com que surgem os pensamentos não é tão
rápida.
Apesar de não conseguirem manter os pensamentos acessórios fora da corrente principal, só perdem o
fio condutor por alguns momentos e finalmente atingem o objetivo.
Ao contrario da entediante elaboração de detalhes da circunstancialidade, estes doentes apresentam um
brilhante embelezamento dos seus pensamentos.
Ex: hipomania
III. Psicopatologia
1. Perturbações do curso - ritmo
Circunstancialidade

O pensamento progride lentamente e com muitos detalhes desnecessários e triviais (entediantes), mas
finalmente atinge o seu termo.
Há uma falha na diferenciação entre o fundo e a figura, distinguir o essencial do acessório.

Ex: indivíduos com traços de personalidade obsessiva.


III. Psicopatologia
1. Perturbações do curso - ritmo
Inibição ou lentificação do pensamento

O curso do pensamento é abrandado e o número de ideias e de imagens mentais que se apresentam


decresce. Isto é vivenciado pelo doente através da dificuldade em tomar decisões, falta de concentração e
perda de clareza de pensamento
Ex: depressão
III. Psicopatologia
1. Perturbações do curso - continuidade

Perseveração Repetição involuntária da palavra


ou frase terminal do seu discurso
Perseveração anterior ou da pergunta do
Verbal interlocutor, que já não tem
sentido no contexto atual da
Pensamento persiste para lá dos limites do que é relevante. entrevista,
anteriormente.
mas que tivera

Ex: sugestivo de patologia orgânica


Não consegue abandonar uma
Perseveração ideia prévia para passar para outra,
Ideativa mostrando uma incapacidade de se
adaptar a uma mudança de tópico
III. Psicopatologia
1. Perturbações do curso - continuidade
Bloqueio do pensamento

Há uma paragem súbita do curso do pensamento, deixando uma branca


Ex: esquizofrenia; doentes ansiosos ou exausto (pseudobloqueio)
III. Psicopatologia
2. Perturbações da forma
Forma Do Pensamento – lógica do raciocínio, o modo como o indivíduo orienta as ideias até chegar ao
objetivo geral do pensamento. Alterações são típicas da esquizofrenia.
Perturbação das associações entre pensamentos
devido à ausência de uma ideia determinante
Afrouxamento central, surgindo uma sequência de pensamentos Existe a justaposição e entrelaçamento de
associativo/assíndese que se ligam mediante nexos causais pouco
Fusão/Interpenetração de conteúdos heterogéneos e incompreensíveis do
óbvios. temas pensamento.

Atitude concreta ou défice de abstração.


Incapacidade do indivíduo fazer a distinção entre o
Pensamento concreto simbólico e o concreto, ausência de conceitos
abstratos, sendo incapaz de compreender a ironia, o Descarrilamento / O pensamento resvala para um pensamento
subentendido e o duplo sentido. Fragmentação do subsidiário sem relação com o primeiro,
havendo afastamento do pensamento
O pensamento major é substituído por um
pensamento principal.
Substituição pensamento subsidiário.

O doente não mantém os limites dos conceitos


Súbita interrupção de uma cadeia de pensamentos Sobreinclusão (incluindo atributos de outros conceitos).
Omissão e da intenção contida num determinado
pensamento ou parte dele.

Miscelânea de fragmentos de pensamentos Expressões pouco precisas, em que um termo


heterogéneos. Existe perda das associações e o Metonímia ou frase é usado em vez de outro mais exato.
Pensamento desagregado pensamento não faz sentido. Também designado
como desagregado, incoerente, desorganizado,
confuso, dissociado.
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III. Psicopatologia
3. Perturbações do conteúdo

• Ideias sobrevalorizadas

• Ideias delirantes

• Delírio primário

• Delírio secundário
III. Psicopatologia
3. Perturbações do conteúdo

• Ideia sobrevalorizada: pensamentos com alguma carga afetiva (ex: hipocondria; ciúmes).
Baseados numa crença razoável, possivelmente verdadeira, mas que domina todo o
pensamento consciente de uma forma que não é razoável. Surgem num contexto emocional
ou de alteração de humor e é prolongável no tempo podendo atingir intensidade delirante. É
compreensível na personalidade e no tempo em que surge (Hipocondria; Ciúmes mórbidos).
III. Psicopatologia
3. Perturbações do conteúdo

• Ideia delirante: crença falsa, em contraste com o contexto sociocultural, na qual o indivíduo
acredita com uma convicção absoluta, inabalável e que não cede à argumentação lógica.

• Delírios:
• Primários (quando se depreende de um estado patológico primário - perceção delirante e é incompreensível
psicologicamente)
• Secundários (quando deriva de acontecimentos vividos pelo sujeito ou de outros sintomas psíquicos e é
compreensível psicologicamente).
III. Psicopatologia
3. Perturbações do conteúdo – temas dos
delírios
• Persecutório – O doente acredita que o perseguem, que lhe querem fazer mal
• Autorreferência – Sentir-se alvo de observação e ter a certeza de que se está a ser observado. Atribuição
de um significado pessoal a observações ou comentários neutros.
• Místico
• Grandiosidade – O doente sente-se uma pessoa importante ou com capacidades importantes.
• Ruína – O doente tem a convicção de que perdeu tudo e todos.
• Niilístico – De negação, nega a existência do corpo. O doente tem a convicção de que partes do seu corpo
não estão funcionantes ou mesmo apodrecidas. No expoente máximo deste delírio o doente tem a convicção
de que está morto (Delírio de Cotard).
III. Psicopatologia
3. Perturbações do conteúdo – temas dos
delírios
• Hipocondríaco – O doente tem a convicção de que tem uma determinada doença, podendo mesmo
desenvolver alguma sintomatologia.
• Ciúme (infidelidade)– Acredita na infidelidade do parceiro.
• Sexual (Erotomania ou Síndrome de Clérambault) – Mais frequente em mulheres que se acham alvo
de paixão de estatuto socioeconómico elevado,
• Controlo/Influência(Passividade) – Os atos ou movimentos do doente são controlados ou
influenciados por uma força, pessoa ou entidade externa (antena, computador, ser extraterrestre,
demónio...).
• Culpa ou auto-acusação – O doente tem a convicção de que fez um erro e tem de ser castigado.
III. Psicopatologia
4. Perturbações da posse
• Obsessões

• Alienação do pensamento
• Influência
• Inserção
• Roubo
• Difusão
III. Psicopatologia
4. Perturbações da posse

Obsessões
Ideias, impulsos, medos, pensamentos ou imagens intrusivas, que surgem de forma repetitiva, que se impõem contra a vontade
da pessoa mas que provêm da sua própria mente, consumidoras de tempo, a pessoa reconhece-as como absurdas ou sem
sentido - egodistónicas (não fazem parte da sua maneira de ser) - os seus conteúdos e temáticas são frequentemente de uma
natureza repugnante para o doente, causando uma grande ansiedade e até sentimentos de culpa, habitualmente com
manutenção do insight.

Podem ser imagens mentais, ideias, medos ou impulsos mas NÃO ALUCINAÇÕES.
III. Psicopatologia
4. Perturbações da posse
Alienação do pensamento (típico na esquizofrenia):
O doente pensa que os seus pensamentos são controlados por uma entidade extrínseca ou que outros participam no seu
pensamento.

• Influência

• Inserção

• Roubo
• Difusão
III. Psicopatologia

Perturbações da percepção (o que é captado pelos órgãos sensoriais)

• Distorções sensoriais: há um objeto real que é percebido de forma distorcida


(alterações da intensidade e da qualidade, p.e. cor, dimensão, forma)

• Erros sensoriais: produz-se uma perceção nova, que pode ser ou não em resposta a um
estimulo externo
III. Psicopatologia
Erros sensoriais

• Ilusão: Interpretações erradas de estímulos surgidos de um objeto externo. Os estímulos de


um objeto percecionado são combinados com uma imagem mental de forma a produzir uma
perceção falsa.
• ex: de ilusão de conclusão: leitura errada de palavras num jornal

• Alucinação: perceção sem objeto. Não se desenvolvem a partir de transformações de


percepções reais (ilusões) e ocorrem em simultâneo com as percepões reais, e o doente
não as distingue das perceções reais.

• Pseudoalucinação
III. Psicopatologia
• Alucinações
espaço objetivo
detalhe e clareza
sem insight
são involuntárias

Espaço subjetivo
• Pseudo-alucinações
espaço subjetivo
claras e vividas
Com insight
carecem substancialidade
com ou sem insight
são involuntárias
III. Psicopatologia

• Alucinações – causas:

§ Emoções intensas
§ Doenças psiquiátricas
§ Perturbações dos órgãos dos sentidos
§ Privação sensorial
§ Perturbação do SNC
III. Psicopatologia

• Alucinações

§ Audição
§ Visão
§ Olfato
§ Gosto
§ Tato
III. Psicopatologia

• Audição

Estampidos, barulhos, gritos,


Elementares/Acusmas
murmúrios
Alucinações
Parcialmente organizadas Música
auditivas
Completamente
Auditivo-verbais
organizadas

ü imperativas ou de comando
ü Uma ou mais vozes que comentam ou falam entre
si
ü Eco ou sonorização do pensamento
III. Psicopatologia

• Visão

Elementares Fosfenos ou fotopsias

Alucinações Alucinações Cenas cinematográficas complexas. Epilepsia


Parcialmente organizadas cénicas lobo temporal.
visuais Padrões, figuras geométricas
Liluptianas Personagens minúsculas
++ Estados orgânicos
Completamente Pessoas, objetos, animais, cenas Gulliverianas Gigantes
organizadas
Zoópsias Animais

Autoscopia
III. Psicopatologia
Humor
• Estado emocional basal do sujeito, sendo o sinónimo de ânimo. Corresponde a uma
disposição emocional a longo termo, prevalecente, que dá a tonalidade à forma subjetiva de
percepção do mundo.

• Eutímico (é o estado “normal”, sem predomínio de nenhum tipo particular de emoção)


• Elação do humor / eufórico (Sentimento excessivo de bem-estar, de prazer, de alegria, de auto-
confiança ou de exaltação dos afetos vitais). Surge na fase maníaca da perturbação bipolar,
podendo também surgir em alguns estados orgânicos e também na intoxicação por cocaína.
• Disfórico (de difícil definição, acompanhado de uma tonalidade afetiva mal-humorada,
predominando uma sensação de mal estar. Estão presentes ansiedade, irritação e agressividade)
• Irritável (difícil de distinguir do disfórico. Predomina uma hiperreatividade desagradável,
hostilidade e eventualmente agressividade a estímulos externos)
• Depressivo / subdepressivo (caracteriza-se pelo pessimismo exagerado, falta de ânimo em
executar tarefas, choro fácil, dificuldade em lidar com perdas e fracasso)
III. Psicopatologia
• Afetos - Resposta emocional do doente no momento atual na interação com os outros.
Padrão de comportamentos observáveis que resultam de expressão de emoções.

Embotamento Labilidade
afetivo afetiva
Redução da expressão Mudanças rápidas e
emocional imotivadas no estado
(incapacidade para se emocional, geralmente
estar consciente das independentes de
emoções). estímulos externos.
Esquizofrenia. Perturbação bipolar e
síndromes psico-
orgânicas.
III. Psicopatologia
Sono
Insónia inicial (ansiedade) – se existe dificuldade em adormecer
Insónia Insónia intermédia – se existem despertares a meio da noite
com dificuldade em retomar o sono
Insónia terminal (depressão) – despertar ainda de madrugada
não consegundo retomar o sono

O doente dorme mais horas que o habitual e poderá inclusive


Alterações do sono Hipersónia manter-se com sono durante o dia.

Redução da Diferente da incapacidade de dormir (insónia), aqui devido à


necessidade de presença de uma excessiva energia vital, os pacientes deixam de
ter necessidade de dormir. Maníacos.
dormir
III. Psicopatologia
Insight

Insight ou
consciência para a Ausente, parcial ou presente
doença

Conhecimento Compreensão Atitude


da doença dos efeitos da perante a
doença doença
Saber o que é, como
se designa ou como Nas suas capacidades e Como reage à
se origina perspetivas futuras. mesma depois de a
conhecer e
compreender, vista,
por exemplo, na
forma como cumpre
a terapêutica ou o
seguimento.

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III. Psicopatologia
III. Psicopatologia
IV. Questões de aula:
Assinale a resposta correcta:

Relativamente ao humor
1. O humor eufórico caracteriza-se pelo sentimento estranho de que algo mudou no exterior.
2. O humor disfórico caracteriza-se pelo sentimento excessivo de bem-estar ou prazer.
3. O humor depressivo caracteriza-se pelo pessimismo exagerado e falta de ânimo.
4. Elacção do humor caracteriza-se pelo sentimento excessivo de bem-estar ou prazer.

a) As opções 1 e 2 são verdadeiras.


b) As opções 3 e 4 são falsas.
c) As opções 2 e 4 são verdadeiras.
d) As opções 3 e 4 são verdadeiras.
IV. Questões de aula:
No que se refere às alterações do curso do pensamento, assinale a afirmação incorrecta:
1. Na fuga de ideias há perda da finalidade do pensamento.
2. A fuga de ideias ocorre sempre na presença de pensamento acelerado.
3. No pensamento circunstanciado há a perda da finalidade do pensamento.
4. No bloqueio do pensamento há uma interrupção brusca da ideia, com perda da
continuidade do pensamento.
IV. Questões de aula:
As pseudoalucinações caracterizam-se por (assinale a resposta incorrecta):
1. Serem falsas alucinações, sendo um fenómeno que poderia ser, à primeira vista, confundido com
uma verdadeira alucinação.
2. Faltar-lhes a consistência sensorial.
3. Serem sentidas como vindas do interior ou do espaço subjectivo.
4. Nunca serem rapidamente reconhecidas como falsas (sem insight).
V. Bibliografia
1. Abreu, J.P. Introdução à psicopatologia compreensiva, 5ª ed. Lisboa; 2008.
2. Correia, D.T. Manual de Psicopatologia, 1ª ed. Lisboa; 2013
3. Fish, F. Psicopatologia Clínica, 3ª ed. Lisboa; 2007.
4. Sadock B.J. & Sadock V.A. Synopsis of Psychiatry, 10th ed. USA; 2007.
5. Sims, A. Symptoms in The Mind. 4th ed. UK; 2008.

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