1._contestacaofania-01
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FANIA SOARES DA SILVA, já qualificado nos autos do processo em epígrafe movido em seu desfavor por BANCO PAN S/A., vem, por seu
representante legal oferecer CONTESTAÇÃO contra os argumentos expendidos na petição inicial pelo AUTOR, o que faz da forma que
segue:
I - PRELIMINAR
1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
A parte demandada é pessoa economicamente necessitada, a ponto de não ser possível custear as despesas processuais
sem que ocorra o prejuízo do seu sustento e de sua família. Isso porque sua renda mensal é decorrente de seu trabalho como motorista de
aplicativo, consoante comprovantes inclusos nesta contestação.
A renda familiar citada é suficiente apenas para o custeio das despesas mensais de sobrevivência da parte postulante,
isto é, água, energia, alimentação, saúde evestuário.
Com efeito a imposição do pagamento das despesas processuais à parte Demandada se transformará em verdadeira
negativa de acesso à justiça.
É imperioso destacar que a análise acerca do merecimento, ou não, da gratuidade de justiça pela parte requerida deve
observar o momento em que o pedido é postulado.
O judiciário em muitos casos tem indeferido a AJG sob a justificativa de que “na época em que assinou o contrato de
financiamento a parte postulante possuía condições de efetuar o pagamento das prestações, agora, para pagar as custas judiciais, não tem
mais”.
Ora, é exatamente essa a razão da existência do presente processo, a situação financeira do mundo mudou no último
ano por diversas razões, inclusive as consequências imprevisíveis trazidas pela COVID-19, o que motivou o inadimplemento e,
consequentemente, o ajuizamento de busca e apreensão do veículo em comento.
Essa alteração pode ser fruto da redução da renda ou do aumento das despesas. Fato é, que para ser assertiva, essa
análise deve utilizar como referência o momento em que o pedido foi feito e apurar se naquele momento a parte possui ou não condições
de arcar com as custas judiciais, e no caso concreto a parte ré não possui.
Assim, é imperiosa a concessão integral da gratuidade da justiça, em especial pela presunção estabelecida pelo art. 99,
§3º, do CPC.
II - DOS FATOS
Conforme se verifica nos autos do processo de Busca e Apreensão que motivou o presente recurso, as partes firmaram
documento intitulado "Cédula de Crédito Bancário (CCB) no qual consta como bem dado em garantia o veículo que é objeto deste processo.
O Banco AUTOR ajuizou a presente AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO alegando descumprimento do contrato por parte da
parte RÉ, justificando que se encontrava-se em mora perante a instituição financeira por força de alegado atraso no pagamento das
prestações do financiamento.
III - DO DIREITO
1. DA COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS SUPERIORES A 150 PONTOS PERCENTUAIS DA TAXA MÉDIA DE MERCADO DO BACEN
NA ÉPOCA DA CONTRATAÇÃO (PERÍODO DE NORMALIDADE CONTRATUAL)
Os contratos garantidos pela legislação de alienação fiduciária encontram sua regulamentação no Decreto Lei 911/1969,
entre outros dispositivos.
O Decreto Lei 911/1969 dispõe no seu artigo 3º que “o proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada
a mora, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente.”
O grifo é nosso.
Da leitura do dispositivo legal transcrito acima, em combinação com a disposição trazida pelo parágrafo 2º do artigo 2º
do mesmo diploma (DL 911/1969) verifica-se que há a existência de um único requisito para que o proprietário fiduciário ou credor requeira
contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente: A COMPROVAÇÃO DA MORA.
Neste mesmo sentido é a disposição da Súmula nº 72 do STJ, ao aduzir que “a comprovação da mora é imprescindível à
busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente”.
O Decreto Lei 911/1969 explicita em seu texto os aspectos gerais acerca da mora:
Parágrafo 2º do Artigo 2º: A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e poderá
ser comprovada por carta registrada com aviso de recebimento, não se exigindo que a assinatura
constante do referido aviso seja a do próprio destinatário.
O STJ, por ocasião do julgamento do RESP 1.061.530, definiu orientações balizadoras quanto a matéria. Entre as
orientações, definiu:
“ORIENTAÇÃO 2 CONFIGURAÇÃO DA MORA
a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual
(juros remuneratórios e capitalização) descarateriza a mora;”
Deste modo, sempre que houver flagrante abusividade nos encargos contratuais, deverá ser declarado a
descaracterização da mora.
No mesmo julgado (Resp 1.061.530) restou definido pelo STJ que o limitador da taxa de juros a ser aplicada em um
contrato bancário seria a Taxa Média de Mercado do BACEN.
Assim, para apurar se uma taxa de juros é abusiva ou não, deve-se comparar a taxa praticada no contrato com a taxa
média de juros do BACEN publicada no mesmo período em que o contrato foi assinado.
No caso concreto, a taxa média de juros do BACEN em maio de 2022 era de 27,15% a.a, enquanto que a taxa praticada
no contrato fora de 68,23% a.a.
Ao se cotejar as taxas de juros remuneratórios citadas, constata-se que a taxa efetiva praticada excede a taxa média em
41,08% ao ano, o que representa uma diferença absurda de 151.30% entre as taxas.
Induvidosamente, a relação jurídica havida entre as partes é de consumo, porque a parte parte demandada adquiriu,
como consumidora final (art. 2º, CDC), um produto da parte Demandante, que é uma fornecedora real (art. 3º, CDC).
Consequentemente, a análise do contrato em estudo deverá ser feita à luz da Lei 8.078/90 1, inclusive sob a premissa de
que as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor (art. 47, CDC).
A revisão ou modificação de cláusulas contratuais dos contratos de consumo é um direito do consumidor expressamente
consignado no art. 6º, V e no §4º do art. 51, ambos do CDC.
Mais do que isso, a Lei consumerista classifica como hipótese de nulidade de pleno direito a previsão de cláusulas
contratuais que estabelecem “obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade” (art., 51, IV, CDC).
Nessa senda, é possível concluir que o direito à revisão ou modificação pode ser exercido nas seguintes hipóteses: i)
existência de prestações desproporcionais; ii) onerosidade excessiva decorrente de fatos supervenientes; iii) violação das normas do CDC.
No caso presente, a demandante concedeu o empréstimo bancário à parte parte demandada, impondo-lhe uma
obrigação completamente injusta e desproporcional, de modo que é necessário o reequilíbrio contratual por meio da revisão das seguintes
cláusulas do contrato objeto da ação.
1 V. Enunciado 297 da súmula da jurisprudência do STJ: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.” No mesmo sentido, Adin nº 2.591 do STF.
3. REVISÃO DAS CLÁUSULAS QUE FIXAM JUROS REMUNERATÓRIOS
A revisão dos juros remuneratórios de contratos bancários já foi objeto de recurso especial repetitivo, onde o Superior
Tribunal de Justiça assentou que:
11529647 – [...] I - Julgamento das questões idênticas que caracterizam a multiplicidade. Orientação 1 - Juros
remuneratórios a) as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei
de Usura (Decreto nº 22.626/33), Súmula nº 596/STF; b) a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao
ano, por si só, não indica abusividade; c) são inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário
as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02; d) é admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em
situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o
consumidor em desvantagem exagerada - Art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante às
peculiaridades do julgamento em concreto. ... (STJ; REsp 1.061.530; Proc. 2008/0119992-4; RS; Segunda Seção;
Relª Min. Fátima Nancy Andrighi; Julg. 22/10/2008; DJE 10/03/2009) g/n2
No contrato em análise, os juros remuneratórios, para o período da ormalidade, estão previstos nas Características da
Operação, isto é, foi fixada a taxa mensal de 3,18% e anual de 45,54%.
Os juros cobrados no contrato são manifestamente abusivos, haja vista que não há risco bancário que justifique a
excessiva cobrança, até mesmo porque a média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil 3 está bem abaixo disso.
No segmento do contrato aqui debatido (Taxa média mensal de juros - Pessoas físicas - Aquisição de veículos), no mês
de maio, a taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil foi de: 27,15 ao ano, ou seja, menos de UMA VEZ E MEIA a taxa
praticada pelo Autor.
80
68,2
70 3
60
50 45,5
40,7 4
40 2
27,15
30
20
10
0
Média Mercado x1,5 Contrato Taxa efetiva
praticada
Portanto, o que se vê é a busca pelo enriquecimento sem causa da demandante, que se aproveita da fragilidade dos
consumidores para formar contratos com extrema desvantagem para estes.
A propósito, é oportuno dizer que o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do AgInt no REsp 1846548/RS, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/05/2020, DJe 12/05/2020 acabou por entender como abusiva a seguinte
situação contratual:
Trecho do voto vencedor: “Nesse ponto, importante trazer a lume que o acórdão estadual determinou a limitação,
2Enunciado 296 da súmula da jurisprudência do STJ: "Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado
estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado."
3Disponível em: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries. Acesso em XX/XX/XXXX.
pois entendeu "verificada a abusividade na exigência de taxas de juros remuneratórios de 17,46% ao mês e 608,48%
ao ano (fls. 81-2), em razão da taxa apurada pelo BACEN, para o mesmo período e modalidade contratual (Juros
rotativos) ser de 14,23% ao mês e 393,65% ao ano, necessária a limitação, salvo se a taxa contratada for mais
favorável ao consumidor" (fl. 182 e-STJ). Importante atentar que no caso a taxa apurada anualmente revela-se bem
superior a mensal, chegando quase ao dobro da taxa anual média apurado pelo Banco Central.”
Ora, se nesse caso citado do Tribunal da Cidadania a diferença entre a taxa contratual e a taxa média do Bacen era de
22,69%, aqui também está justificada a abusividade do ponto de vista concreto.
Essa abissal diferença é a grande prova da violação dos princípios bases da política nacional da relação de consumo por
parte da demandada, em especial a boa-fé objetiva e o equilíbrio na relação entre consumidores e fornecedores (art. 4º, III, CDC).
Dessa forma, deve ser presumido o exagero da cláusula contratual em debate, na forma do §1º do art. 51 do CDC.
Nesse sentido:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO REVISIONAL. JUROS REMUNERATÓRIOS. O STJ já consolidou o
entendimento de que as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios ao patamar de 12% ao ano ou à Taxa
Selic, sendo admitida a revisão deste encargo apenas em situações excepcionais, em que caracterizada a abusividade da taxa pactuada.
No caso em tela, os juros praticados no contrato não estão excessivamente acima da tabela do BACEN, não comportando limitação.
Segundo entendimento da Câmara, consideram-se abusivos os juros remuneratórios que excedam em mais de 5 pontos percentuais
(14ª CC) a taxa média mensal praticada no mercado conforme tabelas divulgadas pelo BACEN para o período e relativas a operações da
mesma natureza, ressalvado o posicionamento do relator, o qual entende que a abusividade se dá quando os juros ultrapassem 50% da
média de mercado. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. Segundo a Súmula n. 472 do STJ, é possível a cobrança da comissão de permanência,
cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato, desde que pactuada e não
cumulada com os juros remuneratórios, moratórios e a multa contratual. Ainda, consoante Súmula 30 do STJ, também não pode ser
cumulada com correção monetária. No caso em tela, como não há pactuação expressa da cobrança da comissão de permanência, inviável
é o conhecimento do pedido. Seguro. A contratação do seguro deve ser uma opção ofertada ao consumidor, enquanto a escolha da
seguradora deverá competir ao financiado, sob pena de venda casada. Precedente do STJ. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. Ausente
abusividade na cobrança dos encargos da normalidade, não há que ser descaracterizada a mora. Precedentes do colendo STJ. HONORÁRIOS
EXTRAJUDICIAIS. É abusiva a cláusula contratual que autorize a cobrança de honorários extrajudiciais. APELO PROVIDO PARCIALMENTE,
VENCIDO O DES. MARIO CRESPO BRUM, QUE PROVEU PARCIALMENTE EM MENOR EXTENSÃO.(Apelação Cível, Nº 70078260452, Décima
Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alexandre Kreutz, Julgado em: 29-08-2019).
4. AFASTAMENTO DA MORA:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE DE
PROCESSO REPETITIVO. JUROS REMUNERATÓRIOS. CONFIGURAÇÃO DA MORA. JUROS MORATÓRIOS. INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO EM
CADASTRO DE INADIMPLENTES. DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. DELIMITAÇÃO DO JULGAMENTO [...] I - JULGAMENTO DAS QUESTÕES IDÊNTICAS
QUE CARACTERIZAM A MULTIPLICIDADE. [...] ORIENTAÇÃO 2 - CONFIGURAÇÃO DA MORA a) O reconhecimento da abusividade nos
encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora; b) Não
descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de ação revisional, nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade incidir sobre os
encargos inerentes ao período de inadimplência contratual. [...] (REsp 1061530/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 22/10/2008, DJe 10/03/2009). Destacou-se.
O debate desta ação envolve justamente encargos do período da normalidade contratual, isto é, juros remuneratórios.
Mais do que isso. Está demonstrada a clara abusividade deste encargo contratual.
Logo, com a procedência desse pedido, deve ser acolhido o pedido para afastar a mora debendi das prestações pagas
de modo impontual antes do ajuizamento da ação.
ASSIM, por estar o contrato em manifesta contrariedade com a jurisprudência do STJ e do TJ/RS, requer a parte RÉ que
seja o contrato declarado abusivo e, em consequencia, que seja AFASTADA A MORA e JULGADO IMPROCEDENTE A AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO, bem como que seja fixada a multa de 50% sobre o valor financiado disposta no DL 911/69.
Observa-se pelos documentos juntados nos autos que a NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL se deu de maneira
completamente irregular.
Segundo as determinações lavradas no RESP PARADGIMA Nº 1.398.356/MG, “o tabelião, antes de intimar o devedor por
edital, deve esgotar os meios de localização, notadamente por meio do envio de intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele
que procedeu ao apontamento do protesto”, o que não ocorreu no caso concreto, como se pode observar nos autos
No que tange a demonstração da prévia constituição do devedor em mora, que é condição da ação de busca e apreensão
(Súmula 72 do STJ), o art. 2º, §2º, do Decreto-Lei nº 911/69 (alterado pela Lei nº 13.043/14), versa que a mora decorrerá do simples
vencimento do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com aviso de recebimento, sendo dispensada que a
assinatura do aviso seja do próprio devedor. In verbis:
“SÚMULA 72. A comprovação da mora e imprescindível a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.”
“§ 2º A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com aviso
de recebimento, não se exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja a do próprio destinatário. (Redação dada pela
Lei nº 13.043, de 2014) ”.
Conforme depreende-se da notificação anexada à presente busca e apreensão, a notificação foi recebida por pessoa
completamente estranha ao feito e às relações da parte requerida. Importa mencionar que a pessoa que recebeu a correspondência, Sr.(a)
Jéssica Lorraine, é desconhecida no endereço para o qual foi enviada a notificação.
Gize-se que, no momento em que a lei nº 13.043/2014 foi formulada, que alterou o §2º do art. 2º do Decreto-Lei nº
911/69, a exigência da assinatura do recebimento do próprio destinatário foi dispensada em razão da crença genérica de que a
correspondência chegaria às mãos da parte notificada, atingindo a finalidade da correta constituição do devedor em mora.
No caso em tela, a instituição financeira não logrou êxito em comprovar que a notificação atingiu seu objetivo, uma vez
que, não tendo o recebedor qualquer relação com o destinatário da correpondência, exsurge contexto propício a fraudes. Se qualquer
pessoa pode assinar e validar a notificação, até mesmo o próprio preposto do banco, resta inviável o direito ao contraditório do devedor,
já que inoportuniza sua defesa.
Desta feita, à vista dos documentos juntados, porquanto não oportunizado à parte devedora ter conhecimento do
conteúdo da notificação e, consequentemente, a oportunidade de efetuar a PURGA DA MORA para escapar dos efeitos da jurisdição, não
se verifica a regular comprovação da prévia constituição do devedor em mora conforme dispõe o art. 2º, § 2º do Decreto-Lei nº 911/69 e
Súmula 72 do STJ.
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. NOTIFICAÇÃO NÃO ENTREGUE NO ENDEREÇO
DO DEVEDOR. MOTIVO DE AUSÊNCIA. NECESSIDADE DE EFETIVA ENTREGA DA NOTIFICAÇÃO NO ENDEREÇO CADASTRADO DO
DEVEDOR. MORA NÃO CONFIGURADA. SÚMULA 83/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL PREJUDICADO. REVISÃO DAS
CONCLUSÕES ESTADUAIS. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS.
SÚMULA 7/STJ. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO A FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA 283/STF. RECURSO
ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp. 1927810 - RS, Relator : Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 13 de maio
de 2021, DJe 18/05/2021.) (Grifamos)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM PEDIDO LIMINAR DE BUSCA E APREENSÃO.
CONTRATO DE COMPRA E VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO. APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ARTIGO 525 DO CÓDIGO CIVIL
E ART. 15 DA LEI N. 9.491/97. AUSÊNCIA DE CONSTITUIÇÃO EM MORA. PROTESTO POR EDITAL. INEXISTÊNCIA DE PROVA DE
QUE FORAM ESGOTADAS AS POSSIBILIDADES DE LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR. NEGATIVA DE PROVIMENTO A AGRAVO DE
INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento Nº 70077113082, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Angela Terezinha de Oliveira Brito, Julgado em 09/08/2018) (Grifamos)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E APREENSÃO. MORA NÃO CONFIGURADA. Ausente
demonstração da efetiva entrega da notificação extrajudicial no endereço informado pelo mutuário quando da celebração do
negócio jurídico, e não tendo havido o protesto do título, não há falar na constituição do consumidor em mora, impondo-se a
revogação da medida liminar de busca e apreensão deferida à instituição financeira. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.
(Agravo de Instrumento Nº 70078401759, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mário Crespo Brum,
Julgado em 30/08/2018) (Grifamos)
RECURSO DE APELAÇÃO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PRELIMINAR CONTRARRECURSAL DE NÃO
CONHECIMENTO DO RECURSO. REJEITADA. Suficientemente fundamentado o recurso, não há falar em afronta ao princípio da
dialeticidade. Preliminar rejeitada. COMPROVAÇÃO DA MORA. IRREGULARIDADE. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL REMETIDA
AO ENDEREÇO DA PARTE, MAS NÃO RECEBIDA. NECESSÁRIO ESGOTAR AS DILIGÊNCIAS PARA ENCONTRAR E INTIMAR A
PARTE FINANCIADA. DESCUMPRIDO ARTIGO 2º, §2 º, DECRETO-LEI 911/69. A notificação extrajudicial pode ser enviada ao
endereço fornecido pelo contratante, sendo prescindível a assinatura do signatário do contrato para a confirmação do seu
recebimento. No entanto, imperiosa a comprovação da entrega da notificação ou, caso o demandado não seja encontrado, a
apresentação do edital. (Apelação Nº 5001847-61.2019.8.21.5001, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 26/11/2020) (Grifamos)
ACAO DE BUSCA E APREENSÃO. PROVA DE MORA. INEXISTENCIA DE PREVIA NOTIFICACAO EXTRAJUDICIAL PESSOAL DO
DEVEDOR FIDUCIANTE. NOTIFICACAO EDITALICIA DESACOMPANHADA DA PROVA DA SUA NECESSIDADE. NOS TERMOS DO
ART. 2, PAR. 3, DO DL N. 911/69, E DO ENUNCIADO DA SUMULA N. 72 DO STJ, A COMPROVACAO DA MORA DO DEVEDOR
FIDUCIANTE E PREVIA E DEVE ESGOTAR-SE NO PLANO EXTRAJUDICIAL, CARACTERIZANDO-SE COMO CONDICAO
IMPRESCINDIVEL PARA O AJUIZAMENTO DA ACAO DE BUSCA E APREENSÃO DO BEM ALIENADO FIDUCIARIAMENTE, PENA
DE VIOLAR O DIREITO-GARANTIA FUNDAMENTAL ASSECURATORIO DE QUE NINGUEM PODERA SER PRIVADO DE SEUS BENS
SEM O DEVIDO PROCESSO LEGAL (ART. 5, INCISOS LIV E LV, DA CF/88), AMBITO EM QUE O REQUISITO DA NOTIFICACAO
EXTRAJUDICIAL DA MORA NAO E VALIDAMENTE SUPRIVEL SEQUER PELA INCIDENCIA DO ART. 219, CAPUT, DO CPC.
INCLUSIVE PORQUE "CONSTITUIÇÃO EM MORA" E PROVA DA MORA” SAO TEMAS DISTINTOS E INCONFUNDIVEIS ENTRE SI.
PARA QUE A PREVIA PROVA EXTRAJUDICIAL DA MORA DO DEVEDOR FIDUCIANTE SEJA VALIDA, A REGRA GERAL E DE QUE SUA
NOTIFICACAO EXTRAJUDICIAL, POR SI PROPRIA OU PARA FINS DE PROTESTO, DEVE REALIZAR-SE PESSOALMENTE, SOMENTE
COMPROVADAS NO RESPECTIVO INSTRUMENTO. ASSIM, NAO REALIZADA A NOTIFICACAO PESSOAL DO DEVEDOR E
IMPROVADA A NECESSIDADE DA SUA NOTIFICACAO POR EDITAL OU NA PESSOA DE TERCEIRO LEGITIMADO A TANTO,
CARACTERIZA-SE DEFECCAO ABSOLUTA NA PROVA DA MORA DO DEVEDOR. OCORRENDO DEFECCCAO ABSOLUTA NA PREVIA
PROVA EXTRAJUDICIAL DA MORA DO DEVEDOR FIDUCIANTE, A ACAO DE BUSCA E APREENSÃO AJUIZADA RESSENTE-SE DE
PRESSUPOSTO PRE-PROCESSUAL DE VIABILIDADE (ART. 2, PARS. 2 E 3, C/C ART. 3, DO DL 911/69), DELA CARECENDOA A. EM
FACE DA AUSENCIA DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VALIDO E REGULAR DO PROCESSO (ART. 267,
INCISOS I E IV, C/C O ART. 295, INC. I, E PARAGRAFO UNICO, INCISOS I (2 HIP.) E III, AMBOS DO CPC). REJEICAO DA PETICAO
INICIAL. SENTENCA CONFIRMADA POR SEUS PROPRIOS E JURIDICOS FUNDAMENTOS. APELO MANIFESTAMENTE
IMPROCEDENTE, PARA O QUAL NEGA-SE PROVIMENTO, FORTE NO ART. 557, CAPUT (2 HIP.), DO CPC. (DECISAO
MONOCRATICA - 13 FLS -D) (Apelação Cível Nº 70003346616, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Aymoré Roque Pottes de Mello, Julgado em 12/11/2001).
A jurisprudência gaúcha também reconhece as disposições do RESP PARADIGMA Nº 1.398.356/MG como balizadoras
em casos análogos:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E APREENSÃO. NOTIFICAÇÃO POR EDITAL. INVALIDADE.
CREDOR QUE NÃO ESGOTOU OS MEIOS DE LOCALIZAÇÃO DA PARTE RÉ, DEVEDORA. INOBSERVÂNCIA AO RESP PARADIGMA
Nº 1.398.356/MG. Para a constituição em mora do devedor é necessária a notificação extrajudicial/protesto prévio ao
ajuizamento da lide, inclusive, para viabilizar ao devedor a purga da mora extrajudicialmente e escapar dos efeitos da
jurisdição. Mostra-se inválido o protesto de título realizado em inobservância ao sedimentado no RESP 1.398.356/MG. Mora
não configurada no caso concreto, pois não há qualquer indício de que o autor esgotou todos os meios de prova a fim de
localizar o devedor, para que então procedesse com a intimação editalícia. Ação julgada extinta, de ofício, diante da ausência
de pressupostos processuais, nos termos do artigo 485, IV, do CPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO PARA EXTINGUIR A
AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. (Agravo de Instrumento Nº 70078600640, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Roberto Sbravati, Julgado em 13/09/2018)
POR TODO O EXPOSTO, não resta demonstrada a regular constituição do devedor em mora, que é condição da ação de
busca e apreensão (ou condição de procedibilidade), torna-se imperiosa a mantença da extinção do feito, sem julgamento do mérito, com
base no art. 485, VI, do CPC.
a) A DEFERIR o beneficio da AJG, por estar atravessando a parte RÉ momento dificil do ponto de vista financeiro qe
lhe impede de arcar com as custas judiciais, sendo este processo a prova de tal circunstância.
b) JULGUE TOTALMENTE IMPROCEDENTE a ação proposta pelo autor diante dos motivos narrados, condenando o
Banco ao pagamento das custas, honorários de sucumbência, bem como à multa de 50% sobre o valor financiado, de
acordo com o que disõe o DL 911/69.
Nestes termos,
Pede e espera IMPROCEDÊNCIA;