Thiago Hoshino
Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD), Doutor em Direito do Estado
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Papers by Thiago Hoshino
Mas também de esperança e desespero. Neste ensaio, proponho
que, afinando-nos com a voz e a vocação dos candomblés,
revertamos alguns dos sentidos e afetos emaranhados em nossa
imaginação política e em nossos estilos historiográficos para
retesar a mitologia da nação como se retesa a corda de um arco ou
a de um berimbau. Em outras palavras, sugiro que é possível lançar
ou fazer vibrarem versões minoritárias da brasilidade compondo
liberdade, esperança e desespero ao modo dos caboclos, marujos e
boiadeiros, em uma espécie de apego à terra simultaneamente mais
popular e mais cosmopolita do que os patriotismos oficiais. Essa
(re)versão acaboclada da independência - como a que reverbera
nas festividades do Dois de Julho baiano – dá protagonismo
tanto a tradições afroatlânticas de lutas contracoloniais quanto
a relações afro-indígenas que acenam para uma nação-quilombo
ou nação-aldeia.
Este livro é fruto de enredos e não poderia ser diferente. A vida no santo é a rede dessas relações que amarram destino e circunstância, necessidade e contingência, caminho e vontade. Porosas como a pele, as fronteiras não são nem intransponíveis, nem completamente permeáveis. Quando Bará avança sobre Ciudad del Este ou Caboclo começa a rezar em portuñol, algo na cidade e na linguagem se reassenta. Okiriokô, aquele que está em muitas partes, informa os percursos transnacionais de seus filhos e filhas, dando conta tanto dos preceitos da lei do santé quanto da lei do direito. Fiar as teias do axé faz parte de sua vocação expansiva, (des)fazendo caminhos que afrontam os modos e distribuições do estado-nação e encruzando linhas de força, linhas de mapa e linhas de fuga.
afirmar se sempre de modo sincero) nossas preocupações e nossa produção. Talvez isso tenha acontecido porque o imaginássemos solucionado e superado, talvez porque o considerássemos fora de moda, talvez porque nossos consórcios disciplinares se estabeleceram, por afinidades eletivas, com áreas não dedicadas particularmente a problemas como os da justiça. Porém, quando reviramos os casos concretos, quando entrevistamos autoridades e funcionários, quando trabalhamos na ou com administração pública, quando peticionamos em juízo, quando lutamos ao lado de movimentos sociais e comunidades cuja a vida está sob ameaça, não é difícil constatar que a (in)justiça está por toda a parte e, por toda parte controvertida: às vezes, como premissa (declarada ou tácita), às vezes, como promessa, como
reinvindicação, como mote ou meta. Não será, então, uma de nossas tarefas – e me refiro às “tarefas”, às construções (opera) porque descobri-las ou inventá-las parece ser uma das funções de um balanço),
retomar a questão da justiça e, mais precisamente, da justiça urbana, cuja exploração pode se dar, entre outros caminhos, pela interrogação sobre o que, afinal, podemos extrair de uma diretriz como a justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização? Não tenho a resposta, obviamente, mas intuo que há mais coisas a se fazer com ela do que recuperar mais-valias, sua explicação mais corriqueira. Portanto, penso que seria interessante nos determos nisso que é lexicalmente anterior aos resultados práticos dos instrumentos urbanísticos, algo menos pretensioso do que uma teoria e mais operativo do que um imaginário: quem sabe um vocabulário da justiça urbana que, ao mesmo tempo, não ignore as gramáticas do cálculo e não se renda a elas. Isso nós teremos de fazer (refiro-me, agora, a um “nós” muito mais abrangente do que o universo acadêmico) premidas por um tempo de urgências e sem nome, desafiadas pela crise (da teoria) urbana e pelo assombro (do imaginário) do estado de bem-estar social quando nem “cidade” nem “justiça” estão dadas ou podem ser localizadas sem percalços.
Mas também de esperança e desespero. Neste ensaio, proponho
que, afinando-nos com a voz e a vocação dos candomblés,
revertamos alguns dos sentidos e afetos emaranhados em nossa
imaginação política e em nossos estilos historiográficos para
retesar a mitologia da nação como se retesa a corda de um arco ou
a de um berimbau. Em outras palavras, sugiro que é possível lançar
ou fazer vibrarem versões minoritárias da brasilidade compondo
liberdade, esperança e desespero ao modo dos caboclos, marujos e
boiadeiros, em uma espécie de apego à terra simultaneamente mais
popular e mais cosmopolita do que os patriotismos oficiais. Essa
(re)versão acaboclada da independência - como a que reverbera
nas festividades do Dois de Julho baiano – dá protagonismo
tanto a tradições afroatlânticas de lutas contracoloniais quanto
a relações afro-indígenas que acenam para uma nação-quilombo
ou nação-aldeia.
Este livro é fruto de enredos e não poderia ser diferente. A vida no santo é a rede dessas relações que amarram destino e circunstância, necessidade e contingência, caminho e vontade. Porosas como a pele, as fronteiras não são nem intransponíveis, nem completamente permeáveis. Quando Bará avança sobre Ciudad del Este ou Caboclo começa a rezar em portuñol, algo na cidade e na linguagem se reassenta. Okiriokô, aquele que está em muitas partes, informa os percursos transnacionais de seus filhos e filhas, dando conta tanto dos preceitos da lei do santé quanto da lei do direito. Fiar as teias do axé faz parte de sua vocação expansiva, (des)fazendo caminhos que afrontam os modos e distribuições do estado-nação e encruzando linhas de força, linhas de mapa e linhas de fuga.
afirmar se sempre de modo sincero) nossas preocupações e nossa produção. Talvez isso tenha acontecido porque o imaginássemos solucionado e superado, talvez porque o considerássemos fora de moda, talvez porque nossos consórcios disciplinares se estabeleceram, por afinidades eletivas, com áreas não dedicadas particularmente a problemas como os da justiça. Porém, quando reviramos os casos concretos, quando entrevistamos autoridades e funcionários, quando trabalhamos na ou com administração pública, quando peticionamos em juízo, quando lutamos ao lado de movimentos sociais e comunidades cuja a vida está sob ameaça, não é difícil constatar que a (in)justiça está por toda a parte e, por toda parte controvertida: às vezes, como premissa (declarada ou tácita), às vezes, como promessa, como
reinvindicação, como mote ou meta. Não será, então, uma de nossas tarefas – e me refiro às “tarefas”, às construções (opera) porque descobri-las ou inventá-las parece ser uma das funções de um balanço),
retomar a questão da justiça e, mais precisamente, da justiça urbana, cuja exploração pode se dar, entre outros caminhos, pela interrogação sobre o que, afinal, podemos extrair de uma diretriz como a justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização? Não tenho a resposta, obviamente, mas intuo que há mais coisas a se fazer com ela do que recuperar mais-valias, sua explicação mais corriqueira. Portanto, penso que seria interessante nos determos nisso que é lexicalmente anterior aos resultados práticos dos instrumentos urbanísticos, algo menos pretensioso do que uma teoria e mais operativo do que um imaginário: quem sabe um vocabulário da justiça urbana que, ao mesmo tempo, não ignore as gramáticas do cálculo e não se renda a elas. Isso nós teremos de fazer (refiro-me, agora, a um “nós” muito mais abrangente do que o universo acadêmico) premidas por um tempo de urgências e sem nome, desafiadas pela crise (da teoria) urbana e pelo assombro (do imaginário) do estado de bem-estar social quando nem “cidade” nem “justiça” estão dadas ou podem ser localizadas sem percalços.
O livro "Afronteiras: Transes e Trânsitos do Axé", de Mãe Marina, Mauricio Santos e Thiago Hoshino, aborda as trajetórias transnacionais de Orixás, Exus, Caboclos e outras entidades afro-brasileiras. A partir de uma etnografia multissituada, os autores exploram como esses santos desafiam a ordem territorial do Estado-nação e rasuram os mapas como parte da vocação caminhante da vida no axé. Trata-se de referência essencial a pesquisadores, atores políticos e afrorreligiosos interessados em compreender as dinâmicas contemporâneas das tradições de matriz africana e seu papel na formação na Tríplice-Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.
críticas, abordam a relação entre o( s) direito( s) e os povos de
terreiro, com vistas ao reconhecimento das comunidades
tradicionais de matriz africana em sua diversidade sociocultural.
O diálogo entre o universo das religiões afro-brasileiras e a
gramática das instituições estatais, marcado por históricos
silenciamentos, injustiças e malentendidos, precisa ser restabelecido em termos não de autoridade, mas de alteridade, num contexto pluralista. Para além de salvaguarda dos direitos à identidade, à igualdade na diferença, ao território, ao patrimônio cultural e ambiental, à liberdade e à vida, todos temas que atravessam as discussões deste livro, estão em jogo, hoje, acima de tudo, o sentido e o futuro de nossa democracia.
do mesmo impulso do primeiro: abrir caminhos para as lutas do
povo de santo e fechar corpos contra o racismo religioso.
Dedicada a três valorosas autoridades religiosas de matriz africana
– Beatriz Moreira Costa (Mãe Beata de Iemanjá), Stella de Azevedo
Santos (Mãe Stella de Oxóssi) e Valdina de Oliveira Pinto (Makota
Valdina) –, a obra apresenta 12 (doze) capítulos, em alusão aos 12 (doze)
quiabos do amalá de Xangô e a seus 12 (doze) ministros, guardiões
da justiça afro-brasileira. Ainda estampa, em sua capa, a Bandeira
Mulamba, fl âmula de um Brasil em releitura diaspórica, sob o signo
do vermelho e do preto de Exu, tradutor dessas demandas históricas,
e o búzio, que veicula o saber e a vontade dos orixás e ancestrais.
Que estas páginas possam traduzir, veicular e demandar, mas,
mais do que tudo, contribuir para fazer o que é preciso: justiça!