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A Mensagem de Fernando Pessoa, segundo Pizarro

2021, Pessoa Plural―A Journal of Fernando Pessoa Studies

DUARTE, Luiz Fagundes, "A Mensagem de Fernando Pessoa, segundo Pizarro" (2021). Pessoa Plural―A Journal of Fernando Pessoa Studies, No. 20, Fall, pp. 472-479. Brown Digital Repository. Brown University Library. https://doi.org/10.26300/zv4q-r483 Is Part of: Pessoa Plural―A Journal of Fernando Pessoa Studies, Issue 20 A Mensagem de Fernando Pessoa, segundo Pizarro [Fernando Pessoa’s Mensagem, according to Pizarro] https://doi.org/10.26300/zv4q-r483 PESSOA, Fernando (2020) Mensagem. Edição de Jerónimo Pizarro. Lisboa: Tinta-da-China. 416 pp. [ISBN: 978-989-671-582-3]

A Mensagem de Fernando Pessoa, segundo Pizarro [Fernando Pessoa’s Mensagem, according to Pizarro] Luiz Fagundes Duarte * PESSOA, Fernando (2020) Mensagem. Edição de Jerónimo Pizarro. Lisboa: Tinta-da-China. 416 pp. [ISBN: 978-989-671-582-3] A Mensagem é um caso singular na história filológica portuguesa: sendo o único livro de poesia de Fernando Pessoa em português e publicado em vida, dele existem, para além da primeira edição (1934), que foi acompanhada pelo autor, um exemplar de trabalho desta edição com pequenas correcções autógrafas, guardado na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, com a cota [CFP, 8-435]; o original de tipografia, dactiloscrito com intervenções manuscritas, autógrafas e alheias, que nos fornece importantes informações acerca da história da obra, incluindo o documento da mudança do título inicial Portugal para o definitivo Mensagem, e duas versões alternativas de dois poemas, com as respectivas decisões finais, disponíveis no espólio do poeta à guarda da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) com a cota [E3, 146]; publicações dispersas em jornais e revistas de alguns dos poemas que viriam a integrar, com variantes mais ou menos significativas, o livro; e ainda diversos materiais genéticos relacionados, directa ou indirectamente, com alguns dos poemas, que se encontram no espólio de Pessoa e também na colecção Fernando de Távora, hoje na Fundação Instituto Marques da Silva, e ainda no espólio de Alberto de Serpa da Biblioteca Pública Municipal do Porto. A nova edição de Jerónimo Pizarro, embora não se autodefina como tal, é na prática uma edição crítico-genética – e nessa medida conserva, e bem!, a ortografia original –, que vem ombrear e dialogar com outras, ainda que estruturalmente diferentes, que a antecederam: a de José Augusto Seabra [e Maria Aliete Galhoz] – Mensagem. Poemas Esotéricos (Madrid: Archivos, CSIC, 1993) –, e a minha – Mensagem e Poemas Publicados em Vida (Lisboa: INCM, Edição Crítica de Fernando Pessoa, 2018); e vem enriquecer o já muito vasto campo bibliográfico do mais importante, conhecido, estudado, interpretado, citado, referido e homenageado livro de poesia de Fernando Pessoa. * Universidade Nova de Lisboa. Fagundes Duarte A Mensagem de Pessoa Esta nova edição é constituída por uma Apresentação, na qual Jerónimo Pizarro traça uma breve mas exaustiva e contextualizada história material e ideológica da Mensagem (pp. 11-34); pelo texto da edição de 1934, com as emendas deixadas por Pessoa no seu exemplar de trabalho, mas introduzindo algumas correcções que julgou necessárias (pp. 35-120); por um conjunto de Outros Poemas (pp. 123-144) e de Outros Textos, onde reúne pequenos textos e paratextos de Pessoa, bem como referências epistolares de terceiros, na sua maior parte pouco ou nada conhecidos, relacionados mais ou menos directamente com o conteúdo e a história material do livro (pp. 153-230); por Notas [filológicas] em que são identificados sumariamente os testemunhos utilizados bem como as respectivas características, marcas genéticas e lições variantes, e ainda algumas divergências de leitura e de entendimento face aos editores anteriores (pp. 233-286); por quatro ensaios – com o estatuto de Leituras do Texto – de reconhecidos autores (António Cirurgião, Onésimo T. Almeida, Hélder Macedo e José Barreto) que, no entendimento do editor, vêm ajudar o leitor “a estudar e a contextualizar o corpus” da Mensagem (pp. 287-395); por uma transcrição indirecta da Acta da reunião do Júri do Prémio Antero de Quental de 1934 que atribui por maioria o prémio de poesia, na segunda categoria (menos de cem páginas), à Mensagem (pp. 396-403); e, finalmente, por um índice onomástico (pp. 405-408) a que se seguem uma bibliografia geral (pp. 409-413) e as notas biográficas do autor e do editor (p. 415). A obra é valorizada com a reprodução digitalizada, espalhada ao longo do volume, de diversos documentos, todos devidamente identificados (manuscritos e dactiloscritos autógrafos, e impressos), tidos como pertinentes. Do ponto de vista da crítica textual moderna, a Mensagem dispensaria qualquer edição crítica, na medida em que conhecemos, com exactidão, qual a vontade do seu autor no que diz respeito à lição definitiva do texto; por isso, nem esta nem nenhuma das edições de referência anteriores trazem – ou poderiam trazêlo – o que quer que seja de novo no que tem a ver com a lição textual. Porém, é possível conceber um modelo de edição crítico-genética na qual, em vez de se procurar e encontrar aquele que seria o texto definitivo (que o temos), se tenta perceber, com recurso aos materiais disponíveis, como é que o autor a ele chegou; é isso que encontramos na edição de 2018, com algumas falhas já detectadas e que será necessário ultrapassar, e é isso que encontramos também nesta. Com efeito, Jerónimo Pizarro opta por algumas soluções e critérios que, apesar da sua bondade intrínseca, poderão ser discutidos em sede de doutrina de crítica textual: uma edição que, como é o caso, não se limite à mera transcrição de testemunhos anteriores, assumindo por isso um carácter crítico (porque toma decisões em lugares em que o pode – ou julga poder – fazer, ou acrescenta informação que valoriza o texto editado), sem descurar a história dos textos e dos respectivos percursos, é coisa passível de discussão à luz das doutrinas e metodologias da crítica textual que o tempo, os materiais, a experiência e as circunstâncias foram gerando. É o que Pessoa Plural: 20 (O./Fall 2021) 473 Fagundes Duarte A Mensagem de Pessoa acontece na secção de Notas, que em boa verdade constitui um bom aparato críticogenético (designação a que Jerónimo Pizarro resiste, embora já esteja consagrada pela tradição da crítica textual moderna portuguesa, incluindo a pessoana). Apesar da sua consistência interna e da sua qualidade de detentora do texto definitivo, a Mensagem publicada e acabada por Pessoa é o resultado do longo processo de maturação de um dos seus muitos projectos poéticos, “Portugal” ou “Portugal e Outros Poemas” (que Jerónimo Pizarro descreve com rigor na Apresentação), um projecto que, tendo sido esboçado na juventude do poeta, acabaria por, sob várias designações, formas e conteúdos, acompanhá-lo quase até à morte. Este projecto reúne, sob o mesmo título, poemas que foram escritos entre 1913 e 1934, tendo vários deles sido publicados anteriormente, dispersos ou em conjuntos, em jornais e revistas, enquanto outros terão sido compostos já em 1934, ao que se crê expressamente para este livro, mas dos quais não se conhecem quaisquer materiais autógrafos. E é aqui que entra a dimensão crítica-genética desta edição e que Jerónimo Pizarro leva quase ao extremo, reunindo e levando em consideração, tanto nas Notas [filológicas] como nas secções Outros Poemas e Outros Textos, algumas informações que são pertinentes não para a consolidação do texto definitivo do livro, mas para a história genética do projecto e dos poemas a que, directa ou indirectamente, se referem. No entanto, será oportuno discutir-se, em concreto, três opções assumidas pelo editor e que me parecem destoar do rigor com que esta obra foi pensada e concretizada. A primeira destas opções fere um princípio geralmente aceite na crítica textual moderna quando se ocupa da edição de textos dos quais existe, e se encontra disponível, a derradeira lição saída das mãos do autor, apesar de existirem versões anteriores variantes, também autógrafas. Nestas situações, o normal é aceitar como única lição autorizada aquela que contém a última vontade do autor, sendo as anteriores, tenham elas a qualidade que tiverem, remetidas para aparato (genético neste caso). No caso da Mensagem, tal vontade encontra-se bem documentada no já referido exemplar de trabalho da edição de 1934, o qual contém várias correcções manuscritas, algumas delas de pormenor, que lhe conferem uma autoridade acrescida: depois de ter passado pelos crivos da composição a partir do original dactilografado e da revisão de provas (processo natural e incontornável em tipografia), e de uma revisão pós-publicação com alterações autógrafas, é este o derradeiro testemunho conhecido do livro em que Pessoa comprovadamente interveio, pelo que, em situação de dúvida resultante de variação entre testemunhos, será sempre ele, e não outro, que deve prevalecer. Pelo que se entende que, entre uma certeza comprovada do autor, e as dúvidas que ela possa despertar no editor crítico, a única opção possível e cientificamente defensável não pode ser outra que não a de respeitar a vontade expressa do autor – mesmo que ela não seja tão boa quanto o editor gostaria que fosse. Pessoa Plural: 20 (O./Fall 2021) 474 Fagundes Duarte A Mensagem de Pessoa Porém, nesta edição, e no que diz respeito aos poemas “Horizonte” (p. 82) e “Noite” (pp. 115-116), o editor resolve contornar pontualmente a última vontade expressa do autor e recuperar lições anteriores, utilizando, no caso do poema “Horizonte”, argumentos emergentes de dúvidas suas expressas em frases como “Pessoa terá desistido”, “Pessoa terá renunciado”, ou “[Pessoa] tê-las-á esquecido? Admite-se o esquecimento” (Cf. pp. 251-252); ou considerando como “muito discutível”, no caso do poema “Noite”, a vontade expressa do autor no que diz respeito à separação do último verso do poema relativamente ao verso anterior (espaço interestrófico, que transforma este verso numa espécie de “coda” do poema), separação essa que, estando presente tanto no exemplar dactiloscrito para tipografia como na edição de 1934, e que o autor manteve sem qualquer alteração no seu exemplar de mão corrigido, o editor resolve anular com base num manuscrito anterior que, tecnicamente, é desprovido de autoridade. Ora, se é a este tipo de alterações que o editor se refere quando afirma que esta edição “sugere ligeiras alterações no cânone textual da obra” (p. 33), então mergulhamos num equívoco que, a ser tomado a sério e a ser reproduzido, poderia levar a que qualquer editor crítico se pudesse arrogar o direito de substituir lições definitivas do autor por outras que ocorreram em fases anteriores do processo genético do texto. Além disso, nos casos em ponderação, nenhuma das lições corrigidas pelo editor a partir de testemunhos que não o final (genéticos, portanto) constitui qualquer erro (seja ele gramatical, estilístico ou outro), nem as correcções trazem qualquer mais-valia ao texto – pelo que se tornam filologicamente inúteis. Quanto à segunda opção editorial que me parece discutível: é preciso ter-se em consideração que catorze dos poemas da Mensagem já tinham sido publicados anteriormente, não como pré-publicações deste livro, mas como peças de conjuntos com identidade própria: dois dos três poemas que constituem a secção “O Timbre” da Primeira Parte da Mensagem, onze dos doze poemas do conjunto “Mar Português”, que viria a constituir a Segunda Parte do livro, e o poema “D. Fernando, Infante de Portugal” que fora, anteriormente, “Gladio”, tanto em três autógrafos (um manuscrito e dois dactiloscritos) como enquanto parte integrante do conjunto “Gladio e Além-Deus”, destinado a ser publicado no Orpheu (n.º [3], de 1917, que, apesar de não ter passado da fase de provas tipográficas, do ponto de vista da crítica textual é um impresso). Do primeiro destes grupos, publicado na revista O Mundo Português, (n.º 7-8, Jul.-Ago. 1934) sob o título “Tríptico”, passariam para a Mensagem dois poemas – “I. O Infante D. Henrique” (“A Cabeça do Grypho. O Infante D. Henrique”) e “II. D. João o Segundo” (“Uma Asa do Grypho. D. João o Segundo”) –, enquanto o terceiro – “III. Afonso de Albuquerque” – seria substituído por um outro com o mesmo título (“A Outra Asa do Grypho. Affonso de Albuquerque”); do segundo grupo, “Mar Portuguez”, publicado na revista Contemporanea (n.º 4, Out. 1922), e posteriormente no jornal Revolução (n.º 383, 16 Jun. 1933), tendo ainda o último poema – “XII. Prece” Pessoa Plural: 20 (O./Fall 2021) 475 Fagundes Duarte A Mensagem de Pessoa – sido publicado isoladamente, com a indicação “Do poema ‘Mar Portuguez’”, no jornal O Notícias Ilustrado (s. II, n.º 32, 20 Jan. 1929), apenas um poema não transitou para a Mensagem – “VI. Ironia” –, onde foi substituído por um outro com outro título, mas com o mesmo tema e ideologia (“VI. Os Colombos”), tendo três dos que transitaram recebido alterações de título (“O Morcego” passou a ser “O Mostrengo”, “Os Descobridores do Occidente” foi reduzido para “Occidente”, e “Dança dos Titans” transformou-se em “Fernão de Magalhães”); e, no que diz respeito ao poema “Gladio”, reavaliado e renomeado como “III. As Quinas. Segunda. D. Fernando, Infante de Portugal”, temos um interessantíssimo caso de desmembramento de um conjunto e de reavaliação do conteúdo (mas não do texto em si) de uma das suas peças, com a consequente mudança de título, e a sua posterior incorporação num outro conjunto ao qual, à partida, não se destinava. Ora, rigorosamente, os materiais genéticos dos poemas que foram reciclados por reavaliação e desmembramento de um conjunto anterior para serem incorporados num outro, ou substituídos por outros, na passagem para a Mensagem dos conjuntos que integravam inicialmente, não deveriam ser entendidos como tendo uma relação directa com a Mensagem mas, antes, indirecta: eles referem-se a poemas que foram pensados e compostos para integrarem outros conjuntos poemáticos, que a seu tempo encerraram os respectivos processos genéticos, e só muito mais tarde esses conjuntos, e não os poemas isoladamente, viriam a transitar, parcialmente mas em bloco, para a Mensagem. Ao considerarmos estes conjuntos de poemas publicados anteriormente com personalidade própria, e a sua posterior incorporação na Mensagem (com alterações circunstanciais, como a mudança de títulos, e estruturais, como o desmembramento, a substituição de textos e a incorporação de novos), temos de ter consciência de que estamos perante dois processos genéticos que devem ser tratados separadamente. O primeiro, considera os materiais genéticos disponíveis dos poemas de cada um dos conjuntos: os do poema “Gladio”, com testemunhos datados de 1913, 1915 e 1917 (pp. 126-128), incorporado num conjunto destinado a ser publicado em 1917; os dos poemas “o Infante”, datado de 1921 (pp. 129-130), e “Ironia em Intenção a Cristobal Colon”, de 1922 (p. 133), relacionados respectivamente com os poemas “I. O Infante” e “VI. Ironia”, publicados no conjunto “Mar Portuguez” em 1922; e a versão genética de “Affonso de Albuquerque” (p. 136), datada de 1934, relacionável com o poema com o mesmo título (“III. Affonso de Albuquerque”) que integra o conjunto “Triptico” publicado em 1934. Todas estes poemas são reunidos na secção “Outros Poemas” da presente edição, porém sem a devida arrumação quanto ao processo genético a que se referem, o mesmo acontecendo com os manuscritos do poema “Sou o seu maior grito”, de c. 1913 (p. 125) e dos dois “Ó Curva do Horizonte”, de 1921 e 1922 (pp. 131 e 134); falta também explicar em que circunstâncias os poemas “Chamada”, que o editor considera como datável de 1928-1935 (pp. 137-141), e “ (O capitão, o Contramestre, o Mar)”, datado de 9 de Junho de 1935 (pp. 142-144), Pessoa Plural: 20 (O./Fall 2021) 476 Fagundes Duarte A Mensagem de Pessoa poderiam ter vindo a integrar a Mensagem (de que, pelo menos no caso do segundo, seria factualmente “póstumo” em relação ao livro com que se supõe estar relacionado). O segundo processo genético terá consistido na integração – com as alterações já referidas – daqueles conjuntos na Mensagem, mas dele não temos documentos: apenas podemos verificar quais os poemas que migraram, e as respectivas variações textuais, quais os que não migraram, e quais os que foram compostos expressamente para integrarem o plano final da Mensagem (ou seja, as presenças, as ausências e as novidades). Digamos que estas poderão ser questões de miunça – e sê-lo-iam, se estivéssemos a falar de uma edição comum para um público indiferenciado –, mas que têm a sua relevância quando se trata de uma edição rigorosa como esta. Por isso, pergunto-me se não será de rever a secção Outros Poemas, nela distinguindo os textos que fazem parte dos processos genéticos dos conjuntos publicados separadamente e sem relação directa, do ponto de vista da crítica textual, com a Mensagem (ou seja, aqueles que têm datas anteriores à primeira publicação), daqueles que, pelas datas posteriores ou por outras razões objectivas, não se destinariam àqueles conjuntos, mas já à Mensagem. A terceira opção editorial que, em meu entender, será discutível numa edição deste tipo, é a inclusão da secção Leituras do Texto: sem pretender de algum modo pôr em causa o interesse e a qualidade dos ensaios aqui reunidos, e mais ainda a reconhecida autoridade dos seus autores, o facto é que temos aqui opiniões e leituras pessoais de distintos académicos – que ficariam muito bem em qualquer livro de ensaios mas que, inseridos um pouco à força numa edição crítica, forçosamente condicionarão o entendimento dos poemas, e do livro no seu todo, pelos leitores, tornando a edição incontornavelmente refém deles; e exclui a possibilidade, no mesmo contexto (este livro), de outras leituras eventualmente diferentes – mas igualmente válidas. Pelo que se pode perguntar: e se fossem outros os autores e outros os textos, que os há e também muito bons? E porquê as perspectivas e temas adoptados por cada um deles, e não outros? Enfim: será uma opção a reconsiderar numa futura reedição da obra. Ainda a pensar numa hipotética reedição, valerá a pena corrigir duas gralhas: “e para” por “E para” (poema 22, “Padrão”, p. 83, v. 4) e “Christiandade” por “Christandade” (poema 33, “O Quinto Imperio”, p. 102, v. 21). Pelo enorme trabalho de pesquisa que esta edição revela, que só quem alguma vez trabalhou a sério com os materiais do espólio de Pessoa poderá avaliar devidamente; pela maneira inteligente e profícua com que Jerónimo Pizarro manuseia os materiais do espólio pessoano que lhe permitem traçar o percurso do poeta entre o projecto “Portugal” e a Mensagem; e pela revelação de poemas e outros textos que ajudam a perceber a génese da Mensagem (mesmo com as dúvidas aqui levantadas) – esta edição revela-se uma peça muito importante e inovadora no campo bibliográfico da Mensagem, pelo que doravante não poderá ser ignorada. Pessoa Plural: 20 (O./Fall 2021) 477 Fagundes Duarte A Mensagem de Pessoa Finalmente, é de saudar a inclusão de um pequeno In Memoriam de Maria Aliete Galhoz (p. 34), que infelizmente não tem sido reconhecida, como é de seu direito, como uma das pessoas mais inteligentes, argutas e sábias que até aqui se ocupou da obra de Fernando Pessoa, e de quem toda a comunidade científica desta área ficou muito devedora. Com o seu trabalho pioneiro, metódico, empenhado, infatigável e muito consistente, Maria Aliete Galhoz foi uma das primeiras pessoas em Portugal a entender o que é o trabalho filológico aplicado a textos modernos: um trabalho sempre em progresso, que é capaz de se questionar e de se corrigir, e no qual o editor tem de assumir a sua condição de procurador e não de autor. Ilha Terceira – Lisboa, Novembro de 2021 Pessoa Plural: 20 (O./Fall 2021) 478 Fagundes Duarte A Mensagem de Pessoa LUIZ FAGUNDES DUARTE (Angra do Heroísmo, 1954) é professor aposentado da Universidade Nova de Lisboa. Como filólogo, dedicou-se ao estudo e edição crítica de obras de Eça de Queiroz (A Capital!, 1990, 1992), Antero de Quental (Poesia Completa, 3 vols., 2016, 2017, 2018), Fernando Pessoa (Poemas de Ricardo Reis, 1994, 2015, 2020; Mensagem e Poemas Publicados em Vida, 2018, 2020) e Vitorino Nemésio (Poesia, 4 vols., 2003, 2006, 2007, 2009), entre outros. Para além das edições críticas, publicou mais de cem artigos científicos, e os livros A Fábrica dos Textos. Ensaios de Crítica Textual acerca de Eça de Queiroz (1993), Do Caos Redivivo. Ensaios de Crítica Textual sobre Fernando Pessoa (2018) e Os Palácios da Memória. Ensaios de Crítica Textual (2019). Dirige actualmente uma nova edição da Obra Completa de Vitorino Nemésio (Imprensa Nacional, Lisboa). LUIZ FAGUNDES DUARTE (Angra do Heroísmo, 1954) is a retired professor at Universidade Nova de Lisboa. As a philologist, he dedicated himself to the study and critical edition of works by Eça de Queiroz (A Capital!, 1990, 1992), Antero de Quental (Poesia Completa, 3 vols., 2016, 2017, 2018), Fernando Pessoa (Poemas de Ricardo Reis, 1994, 2015, 2020; Mensagem e Poemas Publicados em Vida, 2018, 2020) and Vitorino Nemésio (Poesia Completa, 4 vols., 2003, 2006, 2007, 2009), among others. In addition to critical editions, he has published more than a hundred scientific articles, and the books A Fábrica dos Textos. Ensaios de Crítica Textual acerca de Eça de Queiroz (1993), Do Caos Redivivo. Ensaios de Crítica Textual sobre Fernando Pessoa (2018) and Os Palácios da Memória. Ensaios de Crítica Textual (2019). He is currently directing a new edition of the Complete Works of Vitorino Nemésio (Imprensa Nacional, Lisbon). Pessoa Plural: 20 (O./Fall 2021) 479