Beyond disciplinary boundaries: academic and political trajectories of Cornelis Johannes van Stralen Más allá de las fronteras disciplinarias: trayectorias académicas y políticas de Cornelis Johannes van Stralen Audelà des frontières...
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Más allá de las fronteras disciplinarias: trayectorias académicas y políticas de Cornelis Johannes van Stralen
Audelà des frontières disciplinaires: trajectoires académiques et politiques de Cornelis Johannes van Stralen
No IX Simpósio Brasileiro de Psicologia Política, realizado na cidade de Natal em 2016, Cornelis Johannes Van Stralen foi o homenageado, em reconhecimento de sua importância para a Psicologia Política brasileira. Para nós, entrevistadores, foi uma satisfação conduzirmos essa entrevista, pois Cornelis foi uma referência importante do Núcleo de Psicologia Política da Universidade Federal de Minas Gerais, espaço fundamental para nossa formação.
Nascido em 1942, na cidade de Heerhugowaard, na Holanda, Cornelis, por volta dos 10 anos, considerou ter vocação para ser padre e, após frequentar o seminário, tornou-se Padre Crúzio1. Cursou graduação em Teologia, entre 1966 e 1968, na Universidade Católica de Nijmegen, na Holanda, e, ao invés de seguir para o doutorado, decidiu migrar para um país do "terceiro mundo", no caso, o Brasil. Decisão construída em razão do questionamento presente em sua Congregação na Holanda, nos anos 1960, sobre o significado da Igreja no mundo e de, como aponta, ter nascido em um país pequeno, no qual as pessoas buscam olhar para fora.
A mudança para o Brasil ocorreu em 1968, ano da promulgação do Ato Institucional Número 5 (AI-5) pela ditadura civil-militar brasileira. Cursou graduação em Psicologia, entre 1969 e 1973, na Universidade Federal de Minas Gerais, instituição na qual se aposentou, mas permanece como docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia..
Cursou Mestrado em Ciência Política também na UFMG, obtendo o título em 1985 com a dissertação intitulada "O Sistema Regional do Norte de Minas: um programa social como processo político", sob orientação de José Malory Pompermaier. Seu Doutorado foi em Ciências Sociais, na Utrecht University, da Holanda, orientado por Geert Banck e defendido em 1996. Sua tese de doutorado, publicada em livro (Stralen, 1996), é intitulada "The Struggle over a National Health Care System; the 'movimento sanitário' and health policy-making in Brazil".
Teve papel de destaque em diversas associações científicas, dentre elas a ABPP, da qual foi tesoureiro (2001), vice-presidente sudeste (2002-2005), presidente (2005-2008) e secretário geral (2011-2014). É sócio-fundador da ABPP e também foi filiado à International Society of Political Psychology (ISPP). Ademais, é associado da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), da qual foi vice-presidente regional Minas Gerais (2001-2003) e presidente (2004-2005), coordenador do Núcleo de Belo Horizonte (2005-2009) e secretário da regional Minas Gerais (2009-2011). Foi bolsista produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Na área da saúde foi atuante na Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), tendo sido coordenador da Comissão de Política, Planejamento e Gestão em Saúde (2011-2013), e no Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), desde a sua criação em 1976, e do qual foi presidente na gestão 2016-2017. É pesquisador do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (NESCON) da Faculdade de Medicina.
Em sua trajetória sempre foi marcante sua relação com a Saúde Coletiva. Seus principais estudos são sobre participação social, com enfoque nos conselhos e conferências de saúde, mas também sobre saúde mental e o Sistema Único de Saúde, que foi um dos panos de fundo de sua trajetória política e acadêmica. Recentemente publicou sobre o welfare state (Stralen, 2017) e organizou um livro sobre movimentos sociais (Stralen & Klandermans, 2015), que também se configura como um tema importante em suas publicações.
Nesta entrevista, discutimos a trajetória de formação intelectual e política, a passagem por associações científicas e concepções sobre as áreas de conhecimento. É possível notar, desde sua análise sobre alguns momentos importantes para sua formação até suas concepções sobre a conformação dos campos científicos no Brasil, sua forte perspectiva interdisciplinar. Em um artigo publicado em 2005 ele defendia que a riqueza da psicologia social estava justamente em sua característica de ser uma disciplina de fronteiras (Stralen, 2005) e em Mensagens escritas na Revista Psicologia Política (Stralen, 2006; 2007), como presidente da ABPP, reivindicou o caráter interdisciplinar da psicologia política, questionando sua concentração, no Brasil, na psicologia.
P: Agradecemos pela disponibilidade para esta entrevista, pensada em razão da importância da sua trajetória para a psicologia política brasileira. A ideia surgiu devido a organização de um número temático da Revista Psicologia Política (RPP) com os textos do IX Simpósio Brasileiro de Psicologia Política, realizado em 2016, em Natal/RN, no qual você foi homenageado. Consideramos importante escutar quem ajudou a construir a associação (ABPP) e a revista (RPP). Podemos começar falando da sua inserção acadêmica na Holanda, até sua vinda pro Brasil?
E: Essa entrevista poderia durar muitas horas. É uma trajetória de muitos anos. Cheguei no Brasil em 68, como membro da Ordem Regular dos Cônegos da Santa Cruz, vulgo Padres Crúzios. Eu achava que eu tinha vocação para ser padre quando tinha 10, 11 anos. Vocações eram incentivadas nas escolas primárias católicas. Recebemos lá visitas de missionários e estes nos falavam com entusiasmo sobre suas aventuras nas missões.
Em 1954, fui para o seminário menor dos Padres Crúzios, que mais tarde se transformou numa escola pública. Fiz o ginásio alfa, o ginásio clássico. Foi uma formação rica. Era uma primeira experiência de trabalhar com textos, pois não apenas traduzimos textos clássicos, mas os interpretamos também: a Ilíada de Homero