Adaptando o romance Are
You There God? It’s Me Margaret, de Judy Blume, o filme Crescendo Juntas é uma típica história
de amadurecimento e descobertas que envolvem a chegada da adolescência. Apesar
de ser um tipo de história similar a várias outras que já vimos, o filme
conquista pela sua sensibilidade e doçura.
A trama se passa em 1970 e é protagonizada por Margaret
(Abby Ryder Fortson), uma garota prestes a fazer 12 anos que começa a
contemplar as mudanças trazidas pela adolescência. Ela também lida com uma
mudança literal, já que sua família se muda de Nova Iorque para os subúrbios de
Nova Jersey, começando em uma nova escola e precisando fazer novas amizades.
A narrativa traz tópicos presentes em muitas tramas sobre
juventude, como a primeira menstruação, o primeiro sutiã ou o despertar do
interesse por garotos. São temas passíveis de discussão franca e aberta hoje,
mas não tanto na época em que a história se passa e na qual o livro foi
escrito. É um período onde não há internet, informação não estava disponível
tão fácil e mesmo locais de aprendizado, como a escola, lidavam com esses temas
de maneira relativamente tabu.
O texto, porém, evita que tudo isso soe excessivamente
didático ao enquadrar tudo sob a perspectiva de Margaret e transitar com
bastante sensibilidade entre esses temas, fugindo de simplismos que diluiriam
suas ideias. A trama também é esperta ao não eleger vilãs para a história,
entendendo a imaturidade de suas personagens e como muito das ações dessas garotas
são movidas por senso de insegurança e necessidade de pertencimento. Assim,
mesmo quando Nancy (Elle Graham), uma garota que posava de avançada e já
desenvolvida, é revelada como mentirosa, a narrativa trata isso mais como uma
evidência da fragilidade da menina e seu desejo desesperado de adequação do que
como uma falha moral de seu caráter, entendendo que jovens eventualmente fazem
besteira, agem com imaturidade e se magoam.
Muito da sensibilidade do filme vem também do elenco. A
jovem Abby Ryder Fortson traz uma doçura e ingenuidade encantadora a Margaret e
estabelece uma química afetuosa com o resto da família, o pai, Herb (Benny
Safdie), a mãe, Barbara (Rachel McAdams), e especialmente a avó paterna, Sylvia
(Kathy Bates), que funciona como um porto seguro para a garota. As relações
entre esses personagens estabelecem um lar cheio de calor humano que contribui
para o olhar afetuoso que o filme constrói sobre juventude.
Inclusive a fotografia preza por tons de sépia, com matizes
de laranja e marrons, que parecem evocar uma certa nostalgia pelo passado e
pela infância. Esse componente visual de nostalgia ajuda a justificar o retrato
mais inclusivo que faz da vida suburbana nos EUA da década de 70, aqui mostrado
como um espaço mais inclusivo e menos preconceituoso do que realmente era. Esse
retrato soa menos como uma tentativa de reescrever ou romantizar a história e
mais com o fato de tudo ser filtrado pela subjetividade de Margaret, que
observa tudo com sua ingenuidade infantil e, talvez por isso, não atente para
certas coisas.
Isso não significa, no entanto, que o filme faça um retrato
completamente idílico da sociedade estadunidense na década de 70. Como o cerne
do conflito de Margaret está em sua relação com deus por ter uma mãe cristã e
um pai judeu, a narrativa explora como intolerância ou imposição religiosa pode
afastar as pessoas ao nos informar que Barbara foi expulsa de casa pelos pais
conservadores cristãos ao se relacionar com o judeu Herb. A descoberta desses
fatos por Margaret representa a mudança na visão que temos de nossos pais
conforme crescemos. Se na infância os vemos como super-heróis infalíveis,
conforme chegamos na adolescência vamos percebendo a humanidade e como eles são
pessoas com falhas e problemas como quaisquer outras.
O debate sobre a relação de Margaret com deus e que caminho
ela deveria seguir em sua vida espiritual é inteligentemente deixado em aberto
para a interpretação do espectador, evitando assim respostas fáceis sobre algo
tão complexo e reconhecendo que esse é um elemento íntimo de cada sujeito a ser
resolvido dentro da subjetividade de cada um. Assim, ainda que se estruture
como uma típica história de amadurecimento, Crescendo
Juntas envolve pela doçura de sua protagonista e pela sensibilidade com a
qual transita sobre seus temas de juventude.
Nota: 8/10
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