Tomismo - Justiça II
Tomismo - Justiça II
Tomismo - Justiça II
ABSTRACT: Our proposal is to think the Law by the reconstruction of the AristotelianThomistic anthropology and contextualize this reflection in the Virtue Ethics. Generally, our
objective is to propose an approach of Law linked to a reflection about the human beings
animality and vulnerability associated with the pedagogical character of law in Thomas
Aquinas. It reflects on the meaning of the law and, specially, on its pedagogical character in
Thomas Aquinas. The challenges of thinking the Law by a reconstruction of the AristotelianThomistic tradition and contextualizing this reflection in the Virtue Ethics are due to the failure
of Positivism, dominant in the Modernity, as paradigm of interpretation and application of this
same Law.
1. INTRODUO
Iniciamos este artigo falando sobre o De Jure, o qual possui significativa importncia,
pois ele concentra informaes fundamentais acerca da justia em Aristteles e
1
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2. SOBRE O DE JURE
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Mas seja qual for a matria em que se exera, um ato para ser virtuoso, h
de ser necessariamente, voluntrio, estvel e firme. Com efeito, o Filsofo
[Aristteles] diz: Para o ato de virtude se exige, primeiro que se faa com
conhecimento; segundo, com escolha e para um fim devido; terceiro, com
firmeza inabalvel. Ora, a primeira das condies est includa na segunda,
pois o que feito por ignorncia involuntrio, segundo Aristteles. Por
isso, na definio da justia, menciona-se primeiro a vontade, para mostrar
que o ato de justia deve ser voluntrio. Ajunta-se, porm, a constncia e a
perpetuidade, para indicar a firmeza do ato. Assim, pois, a referida definio
da justia completa, a no ser que se toma o ato pelo hbitus, que
especificado pelo ato, j que o hbitus se ordena ao ato. Para dar a essa
definio sua devida forma, bastaria dizer: A justia o hbitus, pelo qual,
com vontade constante e perptua, se d a cada um o seu direito. Essa
definio quase idntica que Aristteles enuncia: a justia o hbitus
que leva algum a agir segundo a escolha que faz do que justo
(AQUINO, 2005, II-II, 58, 1).
ATHENAS
o bem de cada virtude, quer ordene o homem para consigo mesmo, quer o ordene a
outras pessoas, comporta uma referncia ao bem comum. A justia se orienta ao
bem comum e, portanto, uma virtude geral. A lei ordena o homem ao bem comum,
logo essa justia geral tambm chamada de legal. O homem se submete lei que
orienta ao bem comum os atos de todas as virtudes (AQUINO, 2005, II-II, 58, 5).
A justia e a prudncia nos encaminham da tica para a poltica e, alm disso,
preparam para a compreenso da mais alta virtude tica, que ser tambm, noutra
forma, a mais alta virtude poltica: a amizade entre os iguais e semelhantes, a philia.
Aristteles tambm defende que a poltica orienta a tica, uma vez que o homem s
verdadeiramente autrquico em plena polis e a poltica orienta as cincias
produtivas e as artes, pois somente a cidade diz o que deve ser produzido para o
bem de cada um e de todos. Por conseguinte, a poltica uma cincia prtica cujo
fim o bem propriamente humano e esse fim o bem comum (CHAU, 2002, p.
460).
Nessa medida, os governantes devem ser virtuosos, pois os mesmos so espelhos
para os governados, que imitam os primeiros. Se entre os governantes impera o
vcio, certamente os governados sero corrompidos e o Estado estar fadado ao
fracasso. Aristteles defende a tese de que o homem um animal poltico (zon
poliktikon) por natureza, melhor dizendo, da natureza humana a busca pela vida
em sociedade. Portanto, a poltica no por conveno (nmos), mas sim por
natureza (phsei). Desta feita, dizer que a polis natural e que o homem um ser
naturalmente poltico, no quer significar que a cidade seja a primeira comunidade
humana na ordem temporal, ou que a natureza a produza espontaneamente. O que
se quer dizer que h na natureza humana uma tendncia a se viver em cidade e,
quando o homem realiza essa tendncia, na verdade ele tende para seu prprio bem
(CHAU, 2002, p. 463-464).
O homem um ser poltico, porque carente, depende de outros para florescer e,
junto aos seus semelhantes, em comunidade, satisfazem reciprocamente desejos e
necessidades e assim, se completam mutuamente. E, por meio da linguagem, o
animal humano no somente expressa prazer e dor como os outros animais, mas
tambm capaz de exprimir comunitariamente a percepo do bem e do mau, do
justo e do injusto, do til e do nocivo, dentre outros valores (CHAU, 2002, p. 464).
ATHENAS
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afirmam que o poder deve ser distribudo segundo a riqueza (ou o interesse
privado), seja como querem os defensores da democracia, que afirmam que
o poder deve ser distribudo segundo a liberdade de cada um, pois,
novamente, falam em nome do indivduo e no da cidade como comunidade
una e indivisa. O poder no sendo partilhvel e sim participvel, deve haver
uma justia que realize o participvel e a justia poltica propriamente dita.
Quando o governo pertence a um [monarquia], a alguns [oligarquia] ou a
todos [democracia], no est distribudo entre os cidados, pois, neste caso,
teramos cidados desiguais, alguns com mais e outros com menos poder.
O poder indivisvel e participvel e todos os cidados (isto , todos os
governantes um s, alguns, todos) possuem o mesmo poder (CHAU,
2002, p. 471).
ATHENAS
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cientista ou do tcnico: uma confuso na qual Kelsen, por seu lado, caiu
(VILLEY, 2003, p. 66).
Para Toms de Aquino o direito visa diviso de coisas exteriores (res exteriores) e
a arte jurdica pressupe e se exerce num grupo social em que se opera uma
diviso, pois no existe um direito de algum isolado numa ilha (VILLEY, 2003, p.
67). O to dikaion o justo meio-termo, ou seja, o direito. Ele no se encontra no
sujeito, mas est nas coisas, no real externo. O direito (to dikaion) , portanto, um
meio-termo, um meio-termo objetivo, que est nas coisas, in re. Nesse sentido, o
direito objeto, por exemplo: a parte que me cabe do imposto de renda e que no
deve ser nem excessiva nem insuficiente, mas justa (VILLEY, 2003, p. 71-72).
A justia comporta um meio-termo real, diferentemente das outras virtudes que
comportam um meio-termo que no se aprecia segundo a proporo de uma coisa a
outra, mas sim em relao ao prprio sujeito virtuoso. Portanto, nas demais virtudes,
o meio-termo depende apenas da razo em referncia a ns mesmos. Ao contrrio,
a matria da justia a ao exterior tendo, assim, uma proporo devida com outra
pessoa. O meio-termo da justia, nesse sentido, consiste numa certa igualdade de
proporo da realidade exterior com a pessoa exterior (AQUINO, 2005, II-II, 58, 10).
Portanto importante que no confundamos direito e moral. O direito no um
conjunto de regras de condutas. A anlise de Aristteles nos til porque ela nos
oferece um critrio de discernimento. Aquela arte que se preocupa com a virtude
subjetiva do sujeito ou que lhe prescreve condutas justas denominada moral.
Contudo, desta moral se destaca outra disciplina, cuja finalidade dizer o que
justo, trata-se da cincia do direito to dikaion (VILLEY, 2003, p. 72).
A funo do direito no vigiar a virtude do indivduo nem mesmo regular sua
conduta. No importa que o indivduo seja subjetivamente repleto de boas intenes
e honesto para com as finanas pblicas. O que importa para o jurista que o
indivduo cumpra com sua obrigao de pagar os impostos. O direito penal, por
exemplo, no tem a funo de proibir o homicdio, o aborto, o furto etc. A tarefa de
um jri ou do cdigo penal distribuir a cada um a pena que lhe cabe. Com
Aristteles o direito conquistou sua autonomia. O filsofo grego enumera-lhe os
diversos atributos: o direito relao, fenmeno social. O Dikaion destaca Villey,
no o direito subjetivo do indivduo, pensado em funo de um sujeito nico: No
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existe direito de Robinson em sua ilha. A justia o bem do outro, o que significa
que o direito no simplesmente um atributo exclusivo de um indivduo. O Dikaion
, portanto, uma proporo entre coisas divididas entre pessoas (VILLEY, 2003, p.
72-74).
Pode-se dizer tambm que o direito consiste numa igualdade, num igual
(ison). Esta palavra pode ser mal compreendida, porque a matemtica
moderna muito diferente da matemtica da Grcia. A matemtica grega
no tinha a aridez da nossa; era tambm uma busca, uma contemplao
desta beleza que reside na ordem csmica. O ison no simplesmente a
equivalncia de duas quantidades, mas a harmonia, o valor do justo,
parente prximo do valor do belo. O ison um justo meio-termo entre um
excesso e uma falta. De modo algum a igualdade simples ou aritmtica
do moderno igualitarismo (VILLEY, 2003, p. 73-74).
Sobre o substantivo Dikaion, Villey frisa que teve diversas acepes no grego. Por
vezes significou a ordem total do cosmos ou da cidade, aquilo que a justia geral
busca. No entanto, no livro V da tica a Nicmaco, Aristteles define Dikaion, no
interior da justia particular, como a boa proporo dos bens exteriores divididos
entre os habitantes da cidade (VILLEY, 2003, p. 74).
Mas outra doutrina impera nos dias de hoje com o discurso de que o direito seria
constitudo de proposies prescritivas, imperativas e deontolgicas, como se o
jurista exercesse a funo de um diretor das condutas daqueles que esto sujeitos
justia. Contudo, numa sentena judiciria, um artigo de lei tem por funo indicar a
parte de cada um: tal coisa est para X relativamente a Y nada mais que a
medida de justas relaes sociais (VILLEY, 2003, p. 75).
Na Suma Teolgica(2004, 2005a, 2005b), a arte jurdica de Aristteles
reintroduzida por Toms de Aquino. Sua exposio nada representa de novo com
relao tica de Aristteles. A matria da arte jurdica so coisas exteriores,
mensurveis, que podem ser divididas res exteriores. Enganam-se aqueles que
buscam a doutrina do direito de Toms de Aquino no Tratado das Leis (2005a, I-II,
95 ss.). no Tratado da Justia (2005b, II-II, 57 ss.), no DeJure que encontramos
um estudo sobre a palavra jus. A palavra jus no designa, portanto, um sistema de
leis. O jus objeto da justia, uma coisa, uma realidade justa, realidade esta
inerente ao corpo poltico que nele a justa relao dos bens e das coisas
repartidas entre os cidados (VILLEY, 2003, p. 119-121).
ATHENAS
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Ora, a vontade, com relao s coisas que so ordenadas, para que possua
a razo de lei, necessrio que seja regulada por alguma razo. E desse
modo se entende que a vontade do prncipe tenha vigor de lei; caso
contrrio, a vontade do prncipe seria mais iniquidade do que lei (AQUINO,
2005a, I-II, 90, 1).
ATHENAS
A causa final o bem comum e sobre a finalidade da lei Aquino explica que se o fim
ltimo do homem a felicidade, a bem-aventurana ou beatitude, por conseguinte a
finalidade da lei visar maximamente ordem que para a felicidade comum dos
seres humanos. Para tanto, o filsofo medieval cita Aristteles que no Livro V da
tica Nicomaqueia destaca: dizemos justas as disposies legais que fazem e
conservam a felicidade e as partes dessa na comunicao poltica e extrai do Livro I
de Poltica: a perfeita comunidade, com efeito, a cidade. Assim, Toms de
Aquino prossegue observando que a lei ordena-se ao bem comum e, portanto,
qualquer outro preceito sobre uma obra particular no possui razo de lei.
Jean-Marie Aubert (2005a) destaca o sentido eminentemente comunitrio da moral
tomista. A lei chamada a encarnar-se no agir moral de cada pessoa humana
dentro de uma comunidade (mundial ou simplesmente uma nao particular) na qual
o homem est inserido. Mesmo que o ser humano se revista de um carter nico e
singular, ele vive em comunidade, ou seja, o particular vive numa universalidade.
Nesse sentido, uma das primeiras funes da lei, como regra do agir, instaurar
esse universalismo comunitrio possibilitando a comunicao, as trocas e as
relaes de afetividade entre os seres humanos:
Ora, o meio de constituir toda comunidade humana o bem comum,
entendido como o conjunto de condies gerais que tornam possvel a vida
em comum, ao mesmo tempo em que facilita a cada membro a busca de
sua vocao prpria (bem privado), e criando entre todos uma real
solidariedade na realizao de um ideal comum. [...], o bem comum resulta
da contribuio de todos os membros ou comunidades inferiores como
consistindo essencialmente na submisso lei geral, em uma certa
renncia a bens particulares. A destinao comunitria (o bem comum) da
lei exige que ela seja conduzida pelo responsvel desse bem comum, o
detentor do poder. A esse propsito, o texto alude a uma doutrina
tipicamente tomista, objeto de controvrsias na poca atual devido a sua
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O realismo tomista ressalta que o agir tico concerne ao concreto, uma vez que o
universal existe somente enquanto individualizado no particular, no concreto. Nesse
sentido, o agir, para atingir o real e, consequentemente, transform-lo deve seguir
uma regulao adaptada a esse concreto. A doutrina tomista leva em conta a
historicidade do homem que, por intermdio da histria e das culturas diversificadas,
desenvolve e expande as virtualidades infinitas do ser humano (AUBERT, 2005a, p.
533).
na questo 92 que Aquino trata dos efeitos da lei. No primeiro artigo dessa
questo, um trao essencial da moral tomista posto em evidncia a respeito da lei.
Como pontua Aubert em nota bastante esclarecedora, a moral para Aquino tem o
objetivo de tornar o homem bom, ou seja, de faz-lo perceber o propsito para o
qual foi criado. Portanto, como todo ser considerado bom quando realiza aquilo em
funo do que foi feito, o ser humano considerado bom quando instaura em si a
ordem da razo. E, como o sentido da lei realizar tal racionalidade, o efeito da lei
tornar o homem bom (AUBERT, 2005a, p. 542).
[...] a lei no outra coisa que o ditame da razo no que preside, pelo qual
os sditos so governados. E a virtude de qualquer sdito submeter-se
bem quele pelo qual governado, como vemos que as potncias irascvel
e concupiscvel consistem em que sejam bem obedientes razo. E por
esse modo a virtude de qualquer sdito submeter-se bem ao prncipe,
como diz o Filsofo. Qualquer lei ordena-se, pois, a que seja obedecida
pelos sditos. Donde manifesto que isso seja prprio da lei, induzir os
sditos prpria virtude dos mesmos (AQUINO, 2005a, I-II, 92, 1).
Se o legislador tende ao bem comum, segue-se que pela lei os homens se tornaro
bons, pois a virtude aquela que torna bom quem a possui. Aquino aprimora o
pensamento, observando que impossvel se obter com perfeio o bem comum da
cidade, a no ser que os cidados sejam todos virtuosos, ao menos aqueles aos
quais cabe governar. Entretanto, o bem da comunidade atingido quando os
cidados tenham a virtude de saber obedecer s leis. Quanto s leis tirnicas,
Toms de Aquino frisa que estas so uma perversidade da lei, uma vez que fogem
ATHENAS
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[...] o homem deve dispor de um meio que lhe permita adaptar cada um de
seus atos a esse objetivo que lhes confere todo o sentido. [...] preciso
portanto que o ser humano disponha de uma regulao sobre a qual ele
possa basear a sua deciso de conscincia. Essa regulao objetiva
assegurada pelo conhecimento da lei, sendo proposta ao homem para
esclarec-lo e sustent-lo em sua progresso tica (AUBERT, 2005a, p.
519-520).
pedaggica da lei. Segundo Aquino, a lei imposta como uma regra ou medida dos
atos humanos e deve estar em conformidade com o costume local. Crimes como
furtos, homicdios, roubos e semelhantes so proibidos pela lei humana, pois caso
fossem permitidos, a vida em sociedade seria humanamente impossvel. A lei
humana imposta multido que em grande parte constituda por pessoas pouco
afeitas virtude, ou seja, uma poro significativa dos seres humanos no
virtuosa. De forma paulatina, a lei humana tenta induzir os homens virtude. A lei
no tenta impor diretamente que os homens se abstenham de todos os males, mas
ela tenta impedir que os homens viciosos se lancem a males piores (AQUINO,
2005a, I-II, 96, 2).
Ora, a lei humana imposta multido dos homens e nessa a maior parte
de homens no perfeitos na virtude. E assim pela lei humana no so
proibidos todos os vcios, dos quais se abstm os virtuosos, mas to-s os
mais graves, dos quais possvel maior parte dos homens se abster; e
principalmente aqueles que so em prejuzo dos outros, sem cuja proibio
a sociedade humana no pode conservar-se; assim so proibidos pela lei
humana os homicdios, os furtos e coisas semelhantes. [...] Deve-se dizer
que a lei humana tenciona induzir os homens virtude, no de sbito, mas
gradualmente. E assim no impe imediatamente multido dos imperfeitos
aquelas coisas que so j dos virtuosos, como, por exemplo, que se
abstenham de todos os males. De outro modo, os imperfeitos, no podendo
suportar tais preceitos, se lanariam a males piores [...] (AQUINO, 2005a, III, 96, 2).
A questo 96 uma notvel ilustrao da funo pedaggica da lei, que deve ser
adaptada realidade da comunidade, levando-se em conta as condies concretas
de sua aplicao. Nesse sentido, importante considerar o nvel moral da maioria,
uma vez que a evoluo moral da comunidade levar o legislador a proibir o que
antes era tolervel ou a permitir o que antes era intolervel (AUBERT, 2005a, p.
586). A lei humana, explica Aquino, no probe todos os atos viciosos, da mesma
forma que no preceitua todos os atos virtuosos, ou seja, ela no preceitua sobre
todos os atos de todas as virtudes, mas apenas sobre aqueles que so ordenveis
ao bem comum, ou imediatamente, como quando algumas coisas se fazem
diretamente em razo do bem comum; ou mediatamente, como quando so
ordenadas pelo legislador algumas coisas pertencentes boa disciplina, por meio da
qual os cidados so formados para que conservem o bem comum da justia e da
paz (AQUINO, 2005a, I-II, 96, 3).
ATHENAS
As leis impostas pelo homem podem ser justas ou injustas. Quando a lei contrria
ao bem humano, ela incorre na injustia. Portanto, so leis injustas aquelas que so
onerosas e no pertinentes utilidade comum. So tambm aquelas em que os
legisladores vo alm do poder que lhes foi atribudo ou quando distribuem de forma
desigual as obrigaes. Estas ltimas, conforme observa Aquino so mais violncias
do que leis, pois, conforme reflete Agostinho no parece ser lei a que no for
justa (AQUINO, 2005a, I-II, 96, 4).
Para o filsofo escolstico, a lei possui dois elementos bsicos: regra dos atos
humanos e tem fora coativa. Por conseguinte, o homem pode ser sujeito lei de
dois modos: a) como o regulado regra: todos aqueles que esto sujeitos a uma
autoridade sujeitam-se lei que a autoridade promulga; b) diz-se que algum se
sujeita lei como o coagido se sujeita quele que coage. Portanto, os seres
humanos virtuosos e justos nunca so coagidos pela lei, porque a vontade dos bons
consoante com a lei, da qual discorda a vontade dos maus. E, nesse sentido, os
bons no esto sob a lei, mas somente os maus. Com efeito, o que coagido e
violento contrrio vontade. A lei no foi feita para os justos, uma vez que estes
so lei para si mesmos. Sobre estes, a lei no possui fora coativa da mesma forma
como tem sobre os injustos (AQUINO, 2005a, I-II, 96, 5).
Quanto interpretao da lei, Toms de Aquino defende que a necessidade no se
sujeita lei. Visando esclarecer essa afirmao, ele fornece o exemplo da lei que
determina que os portes da cidade sitiada permaneam fechados para o bem de
toda a coletividade. Entretanto, tal lei pode ser descumprida no caso dos inimigos
perseguirem alguns cidados pelos quais a cidade defendida. Seria danoso
cidade a permanncia dos portes fechados e, neste caso, as portas deveriam ser
abertas contra as palavras da lei, para que se preservasse a utilidade comum que
na verdade a inteno do legislador. Dado que o legislador no pode intuir todos os
casos particulares, as leis so propostas de acordo com aquelas coisas que
acontecem costumeiramente. Por isso, se surge um caso em que a observncia da
lei danosa ao bem comum, ela no deve ser observada literalmente. Pois antes da
lei pela lei, est a inteno do legislador quanto utilidade comum (AQUINO, 2005a,
I-II, 96, 6).
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Deve-se dizer que aquele que age em caso de necessidade fora das
palavras da lei, no julga a mesma lei, mas julga o caso singular, no qual v
que as palavras da lei no devem ser observadas. Deve-se dizer que a
sabedoria de nenhum homem tal que possa pensar em todos os casos
particulares. E assim no pode suficientemente exprimir por sua palavras
aquelas coisas que convm ao fim intencionado. E se pudesse o legislador
considerar todos os casos, no seria necessrio que os exprimisse todos,
para evitar a confuso, mas deveria dirigir a lei segundo aquelas coisas que
acontecem o mais das vezes (AQUINO, 2005a, I-II, 96, 6).
4. CONCLUSO
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5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
AQUINO, Toms de. Tratado da Lei. Suma Teolgica, I-II, q. 90-108. So Paulo:
Loyola, v. 4, 2005a.
AQUINO, Toms de. Tratado da Justia. Suma Teolgica, II-II, q. 57-81. So Paulo:
Loyola, v. 6, 2005b.
AUBERT, Jean-Marie. In: AQUINO, Toms de. Tratado da Lei. Suma Teolgica, I-II,
q. 90-108. So Paulo: Loyola, v. 4, 2005a.
ATHENAS
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MACINTYRE, Alasdair. After Virtue: a Study on Moral Theory. 2a ed. Notre Dame:
University of Notre Dame Press, 2003.
PINTO, Gerson Neves. Lei Natural. In: BARRETTO, Vicente de Paulo (Coord).
Dicionrio de Filosofia do Direito. So Loureno: UNISINOS, 2009.
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