Revista Forma Contextualismo

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XX

ALDO ROSSI
trao milans

LVARO SIZA
esprito ecletista

CONTEXTUALISMO
superando o esquematismo abstrato da linguagem moderna

ANO I - N 001 - 2011 - R$28,00

09

ndex
04
Contextualismo

07

18
XX

XX

14

Aldo Rossi

22

09
Teatro Carlo Felice

14
Teatro do Mundo

18
Hotel II Palazo

22
Cemitrio San Cataldo

29

27
lvaro Siza

34

29
Pavilho Portugal

34
Piscina Lea da Palmeira

38

38
Centro Galego de Arte Contempornea

42

42

Fundao Iber Camargo

colaboradores

editorial
Prezados leitores,
neste exemplar voc ter uma experincia
surpreendente com diversas obras marcantes de
um perodo onde o forte a se seguir era a idia
de que todo o entorno importantssimo para a
composio do seu projeto.

XX

Anne Rodrigues Silva


Teatro do Mundo
Fundao Iber Camargo

Com a apresentao dos arquitetos cones e suas


obras magistrais datadas deste perodo, onde o
contextualismo largamente empregado, poder
se ter um embasamento fundamentado e
consistente para se manter um dilogo sobre o
desenvolvimento da arquitetura neste perodo, e
ainda, adquirir mais uma bagagem para o seu
repertrio de solues arquitetnicas com
mnimo impacto na paisagem local.
Tenham todos uma boa leitura.
Thiago Bruno

Nathlia Cavalcante

Redator -Chefe

Hotel II Palazo
Piscina Lea da Palmeira

Tatiana Veloso Britto


Teatro Carlo Felice
Centro Galego de Arte Contempornea

Thiago Fonseca Bruno


Cemitrio San Cataldo
Pavilho Portugal

CONTEXTUA
L
I
S
M
O
Foi uma tendncia
arquitetnica que surgiu nos
anos 80 a partir da necessidade
de inserir novas construes na
cidade histrica e, portanto, criar
edifcios que no agredissem os
padres antigos. Esta postura
consiste na continuidade das
idias assinadas por Ernesto
Natham Rogers, defendendo o
realismo e a adaptabilidade
tradio do lugar e preexistncias
ambientais.
Alguns recursos so
Arquiteto Aldo Rossi
utilizados para adequar a
arquitetura ao seu contexto,
como o prolongamento de linhas identificadas nos prdios anexos,
repetio da modulao de janelas e outras caractersticas dos edifcios
antigos, manuteno da altura, entre outros.
O contextualismo associado ao ps-modernismo. Sua postura
de adaptao ao meio tambm uma crtica ao modernismo, cujos
projetos eram pensados como elementos independentes e isolados.
A tendncia tem no arquiteto Aldo Rossi um dos seus principais
tericos, que atravs do aperfeioamento dessas idias estendeu por
todo o mundo a postura de continuidade crtica com a tradio
disciplinar. Esta postura se manifesta no somente na obra de alguns

Rigor e simplicidade na composio

arquitetos, mas, sobretudo em experincias urbanas,


que transformaram um banco de provas o tecido
histrico de grandes cidades, modernizando-as. As
cidades de Berlim e Barcelona se destacam pelo
processo de transformao de certas reas. As
intervenes foram de diversos tipos e se concentram
na reconstruo perimetral dos blocos residenciais e
na recriao das tipologias das cidades.

Repetio

Monumental

Geometria
Croqui de lvaro Siza

Resgate Histrico

Construo

Forma
Implantao do cemitrio So Cataldo por Aldo Rossi

Crtica ao
Modernismo
Arquiteto lvaro Siza

Contextualistas: que buscam na tradio e na cultura do lugar os valores que orientam sua
produo. So eles que comeam a entender o esprito do lugar (genius loci) como ponto de partida
para a criao projetual. Foram influenciados pelas teorias de Ernesto Nathan Rogers, Aldo Rossi,
Norbeg-Schulz, e tem relao com o conceito de regionalismo crtico de Kenneth Frampton.

ALDO ROSSI

www.cemex.com

O italiano Aldo Rossi foi um


arquiteto e terico licenciado em
arquitetura em 1959 pela Escola
Politcnica de Milo. Nasceu em maio de
1931 e veio a falecer em 1997 com 66
a n o s . To r n o u - s e r e fe r n c i a n a
arquitetura por usar formas puras tais
como cubos, esferas, cones, etc.
Rossi mostrou em suas ltimas
obras uma grande capacidade de
evoluo. Sem trair suas formulaes
iniciais, as suas obras desta ltima fase
tambm so contribuies muito
atraentes. Ao longo dos anos setenta,
Rossi projetou suas trs obras mais
poticas e de maior capacidade de
sntese: o cemitrio de Mdena, que foi
concludo em 1984 e se baseia na
recriao de uma cidade anloga para os
mortos; o Teatrino Cientfico (1978),
onde espao arquitetnico e
representao se fundem por completo;
e o Teatro do Mundo, em Veneza (1979).
Ao longo dos anos oitenta ele
intensificou muito o seu trabalho de
projetos em cidades e pases
importantes, com propostas: em Berlim,
Buenos Aires, em Miami e no Japo.
O que diferencia a ltima fase das
suas primeiras propostas um esprito
mais ecletista e sensivelmente integrado
tradio tipolgica e formal de cada contexto. Alm disso, abandonou a radicalidade de suas
primeiras manifestaes neo-racionalistas, em que as citaes eram utilizadas atravs de uma lente de
esttica estritamente moderna. A diferena entre as obras de Rossi dos anos oitenta em relao e suas
primeiras manifestaes neo-racionalistas similar diferena entre o Rossi terico de A arquitetura
da cidade (1996) em relao ao Rossi da Autobiografia cientifica (1981). Ele introduziu uma grande
quantidade de recursos figurativos, epidrmicos e historicistas em suas ltimas obras.

07

Teatro Carlo Felice

Principais Obras

Aldo Rossi - 1825-28 / 1983-90, Gnova, Itlia

Aldo Rossi

Cemitrio San Cataldo,


1984, Mdena

Teatro Carlo Felice, 1983-1990,


Gnova

Museu da Histria Alem, 1987, Berlim


Monumento a Sandro
Pertini, 1990, Milo

Prefeitura, 1982, Borgoricco

08

Hotel II Palazo, 1987-1990, Fukuoka

Teatro do Mundo, 1979, Veneza

O teatro nomeado para Carlo Felice di


Savoia, vice-rei da Sardenha a principal casa de
pera de Gnova, Itlia, usada para espetculos
de pera, bal, msica orquestral, e recitais.
Em 31 de janeiro de 1825, o arquiteto
Carlo Barabino apresentou o seu projeto para a
casa de pera que estava a ser construda no
local da igreja de San Domenico. Os monges
dominicanos foram deslocados e a primeira
pedra do novo edifcio foi lanada em 19 de
Maro de 1826.

Inaugurado com Bianca Bellini e


Fernando em 7 de abril de 1828, embora a
estrutura e a decorao no haviam sido
terminados, acomodava um pblico de cerca de
2500 pessoas em cinco camadas, e sua acstica
foi considerada entre as melhores da poca.
A colunata drica em sua fachada
conferiu um visual clssico monumental ao
edifcio, concebido como um pano de fundo
para a Piazza San Domenico, hoje Piazza De
Ferrari.

09

A colunata drica em sua fachada conferiu um visual clssico monumental ao


edifcio, concebido como um pano de fundo para a Piazza San Domenico, hoje Piazza
De Ferrari.

Esttua a Giuseppe Garibaldi em frente ao Teatro, na Piazza De Ferrari.


10

Entre 1859 e 1934


passou por vrias
restauraes, mas em 09 de
fevereiro de 1941, durante a
Segunda Guerra Mundial,
teve o seu telhado atingido
por uma Shell disparada por
um navio de guerra britnico,
deixando um grande buraco
a cu aberto e destruindo o
teto do auditrio que tinha
sido o nico exemplo de
extravagncia rococ do
sculo XIX, um grande crculo
de anjos, querubins e outros
seres alados pintados em
alto relevo.
Em 05 de agosto de
1943 foi atingido por
bombas incendirias que
destruram todos os
bastidores cenrios e
acessrios de madeira, mas
no atingiram o auditrio
principal. Infelizmente,
prejuzos adicionais foram
causados por saqueadores
que tiraram a parte de trs do
teatro e todos os seus metais.
Novamente, em setembro de
1944, um ataque areo
causou a destruio de parte
da frente do teatro,
deixando-o praticamente s
com as paredes exteriores. O
que tinha sido a mais rica e
bela casa de peras, tornouse um esqueleto de paredes
nuas e prticos sem teto.

Os planos de
reconstruo comearam
imediatamente aps o
fechamento da guerra. O
primeiro projeto, de Paolo
Antonio Chessa (1951), foi
rejeitado; o segundo, de Carlo
Scarpa, foi aprovado em
1977, mas em 1978 Scarpa
morreu sem ver sua obra
concluda.
Outro concurso foi
chamado para a reconstruo
do teatro, quando o grupo
liderado por M. Valle venceu
com o projeto arquitetnico
feito por Aldo Rossi, Ignazio
Gardella, Fabio Reinhart e
Sibilla Angelo.

Fachada lateral do Teatro Carlo Felice.

No novo projeto criou-se uma da torre com cerca de 63 metros de altura.

O novo projeto, em
que partes da fachada
original foram recriadas, mas
com o interior totalmente
moderno, reprisou as
orientaes de Scarpa: reter
a pea neoclssica de
Barabino e projetar um novo
volume, uma da torre com
cerca de 63 metros de altura.
O teatro reabriu
oficialmente em junho de
1991, com um salo principal
com capacidade para 2000
lugares, um pequeno
auditrio com capacidade
para at 200 lugares e o hall
da entrada principal, com
uma rea de 660 metros
quadrados, decorado com
afrescos e tapearias, alm
de possuir uma espcie de
11

PROJETO

Esboos dos estudos


do grupo liderado por
M. Valle (Aldo Rossi,
Ignazio Gardella,
Fabio Reinhart e
Sibilla Angelo) para a
reconstruo do
teatro.

Planta baixa

Corte

Principal
Salo do
Teatro Carlo
Felice com
capacidade
para 2000
pessoas.

pirmide ou cone que lhe


trs a luz pelo teto.
Quanto construo
do novo teatro, utilizou-se
de materiais durveis, como
pedras, gesso e ferro na
fachada, e mrmore e
madeira no seu interior,
sugerindo uma imagem de
segurana e sobrevivncia a
eternidade do edifcio.

No hall, uma espcie de pirmide


ou cone lhe trs a luz pelo teto.
Fachada frontal
12

ALDO ROSSI

TEATRO DO MUNDO
1979, Veneza, Itlia

Conceito e arquitetura
Perspectiva

Aldo Rossi comeou a ter suas idias divulgadas a


partir da dcada de 60. Ele via a cidade como morta por causa
do projeto moderno - Estilo Internacional, a seu entender,
abstrata pois, a sua homogeneidade fez como que
perdessem suas referncias de identidade.
Para o arquiteto, preciso resgatar as imagens da
cidade presentes no imaginrio coletivo. Sua obra est ligada
a recuperao de elementos histricos.
Segundo Denise Xavier de Mendona para Rossi "a
raiz da concepo arquitetnica est na correta articulao
dos elementos da memria, do locus e do desenho".

Foi construdo sobre uma balsa em Fusina e transportado para Veneza.


Utilizou-se estrutura metlica soldada base do barco e tubos metlicos
com revestimentos de madeira.

Perspectiva

Croquis

Aldo Rossi assume a diretoria do departamento


de arquitetura de trienal de Milo e em 1980 projeta o
Teatro do Mundo, o ponto de flexo de sua carreira,
onde as pesquisas de resgate de uma gramtica formal
histrica da arquitetura voltam se para uma possvel
ontologia do espao teatral.
Construdo sobre uma balsa em Fusina e
transportado para Veneza, este recuperou o carter
nmade e espetacular dos teatros, ao mesmo tempo
em que busca referenciais formais no contexto urbano.
uma tentativa de resgate de paradigmas quase
arquetpicos da arquitetura.

Aldo Rossi utiliza as formas geomtricas puras, elementares,


tpicas do seu repertrio, como o quadrado, retngulos nas
escadas laterais e o octgono na cpula superior.

15

Trata-se de uma edificao


efmera feita para abrigar um
pequeno teatro itinerante e
flutuante, instalado sobre uma
plataforma martima, destinada a
atender parte das atividades
artsticas da Bienal de Veneza, de
1979.
Foi construdo em
estrutura metlica soldada base
do barco e por tubos metlicos
com revestimentos de madeira.
Aldo Rossi utiliza as formas
geomtricas puras, elementares,
tpicas do seu repertrio, como o
quadrado, retngulos nas escadas
laterais e o octgono na cpula
superior. Com essas figuras simples
o arquiteto consegue exprimir uma
inteno de mobilidade, uma
grande carga simblica, um jogo
volumtrico que mimetiza as
formas da cidade, num perfeito
simbiose e integrao, com
despojamento e simplicidade. As
janelas se abrem para a paisagem
de Veneza como se ela quisesse se
incorporar cena.

Rossi utiliza em suas obras vrias caractersticas geomtricas importantes: a absoluta


simetria dos elementos da composio, a forma fechada e polgonos retangulares.

O repertrio utilizado
por Aldo Rossi nas suas
composies volumtricas
constitudo por slidos
geomtricos, minimalistas,
arranjados em ordem rigorosa e
pintados com as cores
primrias. Pode notar tambm
nesta e nas outras obras do
arquiteto, outras caractersticas
geomtricas importantes que
ele utiliza: a absoluta simetria
dos elementos da composio,
a forma fechada e polgonos
retangulares.
A sua crescente
reputao internacional
garantiu-lhe encomendas e
convites para trabalhar um
pouco por todo o mundo. As
formas simples dos projetos de
juventude tornaram-se mais
rebuscadas e ornamentadas
embora Rossi continuasse
ligado a alguns elementos
formais arquetpicos como o
prtico, o cubo, o cone, a
galeria, as colunas cujo valor
simblico e plstico, pela
referncia a difusas memrias,
ultrapassou as utilizaes
funcionais mais pragmticas e
banais.

Teatro ao pr do sol de Veneza

Pintura retratando a utilizao das cores nas obras de Aldo Rossi

UM LUGAR ONDE A ARQUITETURA TERMINA E O


MUNDO DA IMAGINAO COMEA.
Aldo Rossi
16

17

HOTEL II PALAZO Fukuoka, Japo


1987-1989

No Hotel Il Palazzo 1987-1989, em


Fukuoka, no Japo, faz a releitura dos
palcios renascentistas. Prope uma
edificao simtrica, ritmada, coroada com
uma saliente cornija, como o palcio Farnese,
relendo-o com brilhantes colunas de ao
polido. V-se que Rossi transforma
parcialmente a referncia de modo a ser
explcita a relao entre ambos, precedente e
produto.
O ato de projetar um novo objeto
arquitetnico baseando-se em outros um
procedimento consciente, no qual o ato
criativo acontece baseado no existente. a
criao em cima de outra criao, onde o
novo gerado a partir do conhecido. Diz-se
que o famoso Hotel Il Palazzo, em Fukuoka,
foi uma pequena desiluso para os seus
promotores.
18

PROJETO

Aldo Rossi

Deslocando-se ao Japo, Aldo Rossi


contaria como se tinha sentido seduzido por
aquela cultura, o seu sentido de eloqncia e
perenidade; uma sociedade demasiado bela
para ser perturbada com devaneios de
um gaijin*. Rossi sentiu-se projetar um
edifcio japons, ou melhor, uma pea de
arquitetura do Japo segundo o olhar de um
ocidental.E assim foi que aquele que seria um
dos mais icnicos projetos do famoso
arquiteto italiano foi por momentos um golpe
na expectativa dos seus clientes que
esperavam uma obra com a marca de autor:
uma obra Aldo Rossi.

*Gaijin: como os japoneses chamam forasteiros/


estrangeiros de uma forma depreciativa.

Hotel Il Palazzo - edificao simtrica, ritmada, coroada com uma saliente cornija.

HOTEL II PALAZO Fukuoka, Japo


1987-1989

Detalhamento

Interior do Hotel Il Palazzo

Detalhe da porta de entrada do hotel.

20

21

Cemitrio San Cataldo - Mdena, Itlia


Aldo Rossi; 1978

Um mausolu
repaginado

Esteticamente, algumas pessoas podem achar isso mais ou menos atraente, mas importante que
aqui, o arquiteto milans consegue encontrar uma maneira de fazer arquitetura transcendente,
onde o visitante confrontado com a ideia da morte inevitvel.

o cone, prismas e o cubo, Rossi


contrape-se ao modernismo ao
manter a linguagem arquitetnica
do entorno e aplica, antecipadamente, a sua interpretao futura
de genius loci, onde cada lugar
regido por um deus segundo os
gregos. Rossi tambm mantm em
seu projeto a tipologia original com
um grande ptio central, cercado
por colunatas onde eram alocados
os nichos fnebres, alm de criar um
segundo ptio, tambm cercado por
extensas galerias sobre prticos,
com dois ou trs pisos e que
continham nichos para urnas
cinerrias. Os ossrios ficaram
dispostos axialmente no centro do
ptio principal, alinhados de forma
linear e repetidos paralelamente em
formato triangular.

No desenho de implantao,
que parece um quadro artstico,
vemos tambm expressas essas
preocupaes formais de maneira
bastante clara.
Aldo Rossi resolve suas
composies sempre baseadas em
figuras geomtricas planas e
espaciais com figuras geomtricas
simples e regulares, como
quadrados, crculo, octgonos,
tornando uma marca registrada dos
seus trabalhos, como podemos
observar no Teatro do Mundo (vide
pg. X), City Hall de Sandicci e
outros.

Vista Externa: Galerias

Aldo Rossi, junto com Gianni


Braghieri em 1971, desenvolve uma
de suas obras mais representativas
referente ao contextualismo: o
Cemitrio de San Cataldo, em
Mdena cidade italiana da regio
da Emlia-Romanha. Este cemitrio
veio substituir outro existente ao
lado, projetado pelo arquiteto
Csar Costa em meados do sculo
Vista Externa: Sacrrio dos Mortos
XIX.
Formado pela disposio
linear de elementos geomtricos
bsicos, como cubos,
paraleleppedos e cones, tem como
destaque vertical um eixo central,
composto de trs volumes bastante
distintos: um cubo abaixo, um
tringulo formado por estreitos
paraleleppedos de tamanhos
variados, se afunilando para o
vrtice superior e um cone que
Vista Interna: Sacrrio dos Mortos
fecha o tringulo.

Na base do tringulo, o
grande cubo sem janelas e sem
cobertura, monocromtico na cor
terra, que compe a geometria e a
volumetria do edifcio smbolo do
cemitrio o Sacrrio dos Mortos de
guerra e dos restos provenientes do
cemitrio velho. As aberturas nas
quatro fachadas so iguais,
quadradas e profundas e se aplicam
s clulas dos Sacrrios. Apresentase geometricamente como um
volume puro, simtrico, equilibrado,
centralizado e perfeitamente
modulado.
Nesta edificao percebe-se
uma analogia com os ossos da
coluna vertebral e suas costelas; o
cone no topo do tringulo, como
uma grande chamin, circunda a
fossa comum.
Com todo este jogo de
volumes geomtricos bsicos, como

Colunatas

Colunatas

Ossrios

Cortes transversais e longitudinais

Vista Interna: Sacrrio dos Mortos

LVARO SIZA
"A arquitetura cada
vez mais um problema
do uso e referncia aos
modelos... Minha
arquitetura no tem
uma linguagem prestabelecida e no
estabelece uma
linguagem. uma
resposta a um
problema concreto,
u m a s i t u a o e m
transformao em que
eu participo.
lvaro Siza.

lvaro Joaquim de Melo Siza Vieira (Matosinhos, 25 de junho de 1933), diplomado pela
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto em 1955, o mais conceituado e premiado
arquiteto contemporneo portugus.
Suas obras se situam na via em que a inspirao nos elementos especficos do lugar se converte
em ponto de partida do projeto. Para iniciar cada projeto, Siza precisa travar um intenso dilogo com o
lugar e com os usurios. A partir da, utilizando uma arquitetura ao mesmo tempo racionalista e
organicista, com uma grande capacidade de adaptao, desenvolve cada projeto.
A arquitetura de Siza se baseia sempre em uma emotiva e realista reinterpretao das formas e
detalhes da arquitetura tradicional, e no respeito evoluo da arquitetura moderna, realizando
formas simples, modestas e introvertidas que mantenham as qualidades do lugar. Semelhante aos
modernos, sua obra destila uma influncia verncula amplivel arquitetura oriental.
A essncia da obra de Siza se baseia em sua capacidade emprica pessoal e irrepetvel de
combinar em cada proposta a arquitetura racionalista e a hipersensibilidade em relao ao entorno.

27

Nem tudo que bom dura pouco.

Principais Obras
lvaro Siza

Exemplo?

Restaurante Boa Nova, 1958-64,


Lea da Palmeira
Fundao Iber Camargo,
1995, Porto Alegre

Este no veio pra ficar. Mas ficou.

Piscina, 1961-1966, Lea da


Palmeira

Centro Galego de Arte


Contempornea, 1988-94, Santiago
de Compostela
Residncia
Dr. Avelino
Duarte, 1980-84,
Ovar

Banco Borges, 1969-1986, Vila do


Conde

Pavilho da Expo 98,


Portugal

Pavilho da Expo98
28

Pavilho da Expo98
lvaro Siza; 1998 - Portugal

O Pavilho de Portugal na
Exposio Mundial de 1998 Expo'98, situado no Parque das
Naes em Lisboa, foi o edifcio
responsvel por abrigar a
representao nacional portuguesa
naquele evento com uma exposio
relativa aos Descobrimentos
Portugueses, onde se podia, por
exemplo, observar achados
arqueolgicos de uma nau da
Carreira da ndia que naufragou na
Barra do Tejo em 1606. Acabou-se
optando por conserv-lo aps o
encerramento do evento.
30

Este pavilho foi projetado


pelo conceituado arquiteto lvaro
Siza Vieira e todo o edifcio
marcado pela gigantesca pala sobre a
Praa Cerimonial que foi criada de
modo a no cortar a vista sobre o Rio
Tejo. Esta pala concebida de concreto
pr-esforado, se baseia na ideia de
uma folha de papel pousada em dois
tijolos, abrindo o espao cidade para
atender os diversos eventos que um
espao desta escala acolhe.
Aps o perodo decorrente
Expo'98, tornou-se uma incgnita o
uso futuro.

As propostas foram vrias,


desde o reaproveitamento do espao
para uma Sede do Conselho de
Ministros at criao de um museu
de arquitetura. No entanto, ainda se
mantm o regime provisrio de
exposies. Em maro de 2010 foi
classificado como Monumento de
Interesse Pblico (MIP) pelo
IGESPAR. Os espaos interiores
foram desenhados pelo arquiteto
Eduardo Souto Moura e nos dias de
hoje podem ser alugados para a
realizao de eventos e de
exposies.

O Pavilho de Portugal
contrasta com os edifcios mais
prximos por possuir uma volumetria
discreta, marcada pela
horizontalidade. A edificao
dotada de dois blocos de construo
unidos pela cobertura em concreto.

O bloco A uma cobertura


suspensa de dois prticos implantados
perpendicularmente ao cais,
constituda por uma lmina de
concreto de 20 cm de espessura, fixada
nos dois prticos, com altura mnima
de 10 metros. Essa cobertura define
uma rea destinada a atos pblicos e
representaes e suas dimenses so
de 65 x 50 metros. O bloco B um
edifcio de dois pisos ao redor de um
ptio, concebido em concreto, cuja
estrutura inferior constituda por
pilares e no pavimento superior
formado por paredes portantes.
31

32

Obra do Arquiteto lvaro Siza Vieira,


enquadra-se harmoniosamente na paisagem
"materializada" na solidez da rocha, contra a qual
batem as ondas do mar. Piscina de gua salgada,
construda entre 1961 e 1966. A construo
desenvolve-se de forma linear, paralela avenida e ao
mar, mas a sua implantao recolhe-se de forma a no
obstruir a viso, quer terrestre, quer martima,
situando-se, assim, o nvel da cobertura ao nvel da
avenida.
Com uma estruturao que se insere na muro
da praia, o sistema de acessos um percurso
disciplinado pela presena dos muros de "beto
bruto", ao longo do qual algumas transgresses da
ortogonalidade e linearidade dominantes induzem o
olhar para pontos focais da paisagem. seqncia
contnua do muro da praia, o sistema de acessos um
percurso disciplinado pela presena dos muros de
"beto bruto", ao longo do qual algumas
transgresses da ortogonalidade e linearidade
dominantes induzem o olhar para pontos focais da
paisagem.

LVARO SIZA, 1966, Portugal


Informaes:
Aberta ao pblico de 15 de Junho a 15 de Setembro,
de Segunda a Domingo, das 9h s 19h.
34

Semana:
Adultos 4,00
Crianas (at aos 12 anos) 1,60
Fim-de-semana:
Adultos 5,50
Crianas (at aos 12 anos) 2,20

Devido necessidade de limitar os custos de


construo e de preservao da paisagem, o projeto
teve que fazer uma intruso mnima no terreno
existente. Uma vez que um levantamento
topogrfico no estava disponvel na poca, o
arquiteto passou dias marcando a localizao das
formaes rochosas existentes, para chegar a um
projeto que exigiria o mnimo sopro.
A piscina para adultos, est vinculado por
baixo das paredes de concreto que se estendem at o
mar e so complementados por trs lados pelas
formaes rochosas naturais. A continuidade dessas
paredes com a topografia existente e do nvel da gua
da piscina que parece ser contguo com o mar, criam a
iluso de uma transio harmoniosa entre o homem
e a natureza. A piscina para crianas, para o interior,
delimitada por uma parede curvilnea de um lado e
protegido do resto do site por rochas enormes e uma
ponte de concreto em sua entrada. Em um gesto
brincalho, esta ponte apenas baixa o suficiente
para desencorajar os adultos a passarem sob ela.

P
I
S
C
I
N
A

ALVARO SIZA, 1966

Muitos dos materiais do complexo de natao j haviam


sido utilizado por Siza na Boa Nova e em outros projetos, mas
aqui elas atingem um nvel incomum de homogeneidade: o
Muitosligeiramente
dos materiais do
complexo
concreto bruto, de um tom
mais
frio de
donatao
que asj
utilizado por Siza na Boa Nova e em outros
formaes rochosas,haviam
liso sido
e lavvel
painis de concreto para o
projetos, mas aqui elas atingem um nvel incomum de
pavimento.
homogeneidade: o concreto bruto, de um tom ligeiramente
frio do que
formaes
rochosas,
liso e lavvelverdes,
painis de
Carpintaria emmais
madeira
deasRiga
cobre
os telhados
concreto para o pavimento.
que visto a partir da avenida
atingem
umadecor
s
Carpintaria
em madeira
Rigasemelhante
cobre os telhados
verdes, que visto a partir da avenida atingem uma cor
piscinas.
semelhante s piscinas.

No creio
, no um esperanto
, no um
da
No que
creio
a universalidade
que a universalidade
seja sinnimo
seja sinnimo
de neutralidade
de neutralidade
expresso
esperanto da
arquitetnica,
expresso arquitetnica,
mais a capacidade
mais ade
capacidade
se criar desde
de se as
criar
razes,
desdecomo
as razes,
uma
rvore
como uma
que se
rvore
abre;que
a expresso
se abre; aarquitetnica
expresso arquitetnica
tem tambmtem
essastambm
fortes razes...
essas fortes
Meu
sentido
razes... de
Meu
universalidade
sentido de universalidade
tem mais a vertem
commais
a vocao
a ver com
das cidades,
a vocao
quedas
vm
cidades,
de sculos
que
de
vminterveno,
de sculos dedeinterveno,
mestiagem,
de mestiagem,
de sobreposio
de sobreposio
e de mistura
e dedas
mistura
mais das
opostas
mais
influncias,
opostas influncias,
mas quemas
se que
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limitado...
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A planta do conjunto revela o


entrelaamento de geometrias artificiais e
naturais, e indica o modo em que os espaos se
comprimem e logo se expandem.
Siza recorda que projetou os muros e as piscinas com a ajuda de postes
colocados
nos contornos.
que enem
Siza recorda
que projetou osOmuros
as os desenhos e nem as fotografias podem
piscinas com a a
ajuda
de postes
nos
transmitir
imediata
e colocados
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fsica da arquitetura. Os muros e as lajes
contornos. O que nem os desenhos e nem as
flutuantes
so aspas de luz que impulsionam gradualmente o corpo humano desde a
fotografias podem transmitir a imediata e ttil
terra
aofsica
mar.
incluso
da arquitetura. Os muros e as lajes
flutuantes
so aspas deatua
luz que
impulsionam
A arquitetura
como
um universo intermedirio; como uma costura entre
gradualmente o corpo humano desde a terra ao
mente
e natureza. Sem aberturas convencionais, paisagem, arquitetura e meio
mar.
ambiente
trocamatua
continuamente
de lugar, sugerindo que as relaes do homem
A arquitetura
como um universo
intermedirio;
como
costura incluem
entre mente
e
com
o espao
e auma
natureza
aspectos
sensveis e inteligveis.
natureza. Sem aberturas convencionais, paisagem,
arquitetura e meio ambiente trocam
continuamente de lugar, sugerindo que as relaes
do homem com o espao e a natureza incluem
aspectos sensveis e inteligveis.
A planta do conjunto revela o
entrelaamento de geometrias artificiais e
naturais, e indica o modo em que os espaos se
comprimem e logo se expandem.

CGAC

PROJETO

Centro Galego de Arte


Contempornea
lvaro Siza - 1988-94, Santiago de Compostela, Espanha

Planta do andar trreo

Planta do andar superior

Corte 01

lvaro Siza faz de sua


arquitetura um jogo de
sensaes e elevao do esprito;
cada linha e cada curva so
desenhadas com certeza e
segurana. A sua arquitetura
uma extenso dos princpios e
sensibilidade esttica
modernista. Para Siza, o uso de
conceitos para integrar o projeto
ao terreno, tem a ver
diretamente com as qualidades
dos materiais e dos volumes do
contexto construdos.
38

Encomendado pela Junta


da Galcia, o Centro de Arte
Galega Contempornea foi
implantado em forma triangular
prximo ao Convento de Santo
Domingo de Bonaval, fundado
no sculo XVII, em estilo barroco.
O prdio compacto do museu
formado por dois volumes
lineares: um paralelo ao ValleIncln e o outro paralelo ao
cemitrio Bonaval.
O edifcio de Siza foi
construdo enfatizando uma

caracterstica horizontal,
reforando a estrutura urbana,
prdios de dois e trs
pavimentos, formando uma
estrutura urbana homognea,
com cores que resultam da
combinao de paredes de
pedra e telhados com telhas.
A interpenetrao dos
dois volumes define um trio
triangular com p-direito alto,
que d acesso ao auditrio e a
dois nveis de galerias. A
circulao tangencial pela

seqncia de galerias recapitula


e amplia os padres de
movimento tpicos de Santiago
de Compostela e culmina em um
terrao de cobertura, utilizado
como rea de exposies de
esculturas, com vista para os
jardins, para o convento e para a
cidade.
Na fachada principal
quase imperceptvel reconhecer
a quantidade de nveis existentes
no interior, pois Siza projeta suas
fachadas com poucas aberturas

para trabalhar com grandes


paredes de granito polido.
Minimizando as
diferenas topogrficas, Siza
projetou uma rampa para o
acesso principal, resolvendo a
inclinao da rua e criando uma
forma importante e significativa
na arquitetura do edifcio.

Corte 02

Corte 03

Corte 04

39

PROJETO
No primeiro andar, o trio triangular
no interior do projeto, com p-direito
duplo, parece ser o ponto de partida para a
composio planta. Outros servios de
apoio geral, bem como sala de
conferncias, caf e salo de exposies
temporrias tambm esto localizados no
mesmo nvel.
No andar superior, alm do trio,
tambm h salas para exposies
temporrias, salas de reunies, leitura,
seminrios e a parte administrativa.
O museu revestido em granito, em
concordncia com os edifcios cvicos e
monumentais da cidade. Contudo, o
emprego do granito assume uma
expresso relacionada com uma estrutura
de concreto armado caracterizada por
grandes vos abertos.
A opo de utilizar um material
simples, como exteriores em granito, que
encontrado em todos os lugares em
Santiago de Compostela, satisfatria,
ainda que com o tempo, devido
porosidade do material, este perde sua cor
original e tornar pouco a pouco
semelhante a cor dos edifcios barrocos,
integrando ainda mais o todo. O granito
cortado para formar blocos, associando aos
edifcios antigos, que tambm so
compostos por peas e blocos. Em relao
aos materiais utilizados na construo,
importante observar-los no interior: o
granito, empregado nas paredes, colunas e
telhados do edifcio; o mrmore branco ao
longo do cho e revestindo as peas do
mobilirio fixo; e a madeira, dando um
contraste com o branco predominante dos
pisos, paredes e telhados.
40

A construo do Centro
Galego de Arte Contempornea,
certamente significou um
compromisso com o contexto
imediato e, em geral, o rastreamento
de toda a cidade, onde o uso de uma
reinterpretao dos volumes por
meio de analogias simblicas foi a
maneira mais adequada de integrar
um prdio contemporneo histria
e tradio dos edifcios, praas e
jardins que compem o contexto
urbano da cidade.
trio triangular com p-direito duplo.

Acesso ao pavimento superior em mrmore branco.

Elevao 01

Elevao 02

Terrao utilizado como local para exposies

O granito cortado para


formar blocos, associando aos
edifcios antigos, que tambm
so compostos por peas e
blocos.

Sala para exposies temporrias.

Contraste do piso em madeira com as paredes e tetos brancos.

41

Arte e Arquitetura Potica

Fundao Iber
Camargo

lvaro Siza
1995
Porto Alegre
Brasil

A imponente e vanguardista Fundao


Camargo, em Porto Alegre. De autoria do arquiteto
portugus lvaro Siza, primeiro projeto assinado pelo
arquiteto no Brasil, com traos marcantes e precisos,
um a aula de arquitetura moderna.
A obra vista como uma continuao do
modernismo, e ao mesmo tempo, representante do
chamado regionalismo crtico, que recupera materiais e
caractersticas da produo artesanal. O projeto foi
homenageado pela Bienal de Arquitetura de Veneza
como Leo de Ouro em 2002.
Eu diria que o
museu se
assemelha ao
Guggenheim de
Nova York, a
diferena entre
ambos que no
Iber Camargo as
rampas so
independentes dos
pisos onde se do
as exposies
(lvaro Siza em AU
n.113, agosto, 2003,
pg. 63).
42

Em seu interior, a luz que expe a


fora das cores da obra pictrica e ficcional
do artista Iber Camargo, um dos mais
importantes artistas do Brasil do sculo XX,
com suas telas de grande impacto visual
que, segundo os crticos, podem ser
definidas como expressionismo abstrato. O
museu se confirma como fonte de cultura e
projeta a capital gacha no circuito mundial
da arte contempornea.

lvaro Siza inspirou-se no museu


Guggenheim de Nova York, de Frank Lloyd
Wright, um dos mestres da arquitetura
orgnica: Eu diria que o museu se
assemelha ao Guggenheim de Nova York, a
diferena entre ambos que no Iber
Camargo as rampas so independentes dos
pisos onde se do as exposies (lvaro
Siza em AU n.113, agosto, 2003, pg. 63). E
tambm no stio no qual foi construdo, que
uma escarpa.
O grande volume vertical com forma
orgnica relacionado s curvas da
escarpa. O volume principal e resultante da
sobreposio de quatro pisos de formas
irregulares foi criado braos ondulantes em
suspenso por onde as pessoas transitam
internamente de um piso para outro.
43

O edifcio foi construdo com lajes e


paredes em concreto armado exteriormente
aparente e nos acabamentos utilizou-se
mrmore, madeira e o estuque (massa
branca).
Siza expressa seu modo de ver os
princpios de uma construo atravs de linhas
geomtricas e aberturas nada convencionais.
Sua arquitetura viva, valoriza a
natureza e sabe traduzi-la para o bom convvio
humano, assemelha suas obras a uma
escultura e faz do indivduo um espectador de
paisagens belssimas.

A primeira coisa
que se deve treinar
a percepo visual,
ou seja, reconhecer
o ambiente. Um
arquiteto deve se
impregnar da
atmosfera de uma
cidade ou de um stio
para o qual projeta.
(lvaro Siza em AU n.113, agosto, 2003, pag. 63).

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XX

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