A Modernidade Brasileira 3
A Modernidade Brasileira 3
A Modernidade Brasileira 3
Arquitetura Brasileira
Material Teórico
A Modernidade Brasileira
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
A Modernidade Brasileira
• Introdução;
• A Escola Paulista;
• A Escola Carioca.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender como a Modernidade se estabelece na Arquitetura brasileira e a sua
reverberação no mundo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Modernidade Brasileira
Introdução
Esta Unidade concentra uma análise na produção arquitetônica brasileira do
século XX, destacando aspectos da formulação do Movimento Moderno no Brasil.
A Escola Paulista
A formulação de uma nova Arquitetura brasileira no século XX está intimamente
conectada às manifestações artísticas que se intensificam nas décadas de 1910 e
1920 e que culminam na realização da Semana de Arte Moderna, no ano de 1922,
organizada por um núcleo de artistas formado por Oswald de Andrade, Mário de
Andrade, Guilherme de Almeida, Agenor Barbosa, Ribeiro Couto, Cândido Mota
Filho, João Fernando de Almeida Prado, Di Cavalcanti e Anita Malfatti.
Para se aprofundar mais sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, acesse o link a seguir.
Explor
Semana de Arte Moderna (1922: São Paulo/SP). In: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e
Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: https://goo.gl/uppg1A
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A Semana de 22 tem como palco o Teatro Municipal, localizado nas imediações
do Vale do Anhangabaú, região central de São Paulo, em que inúmeros artistas
realizaram Conferências com o objetivo de compartilhar novas tendências artísticas
que já vigoravam na Europa.
Ainda que a Semana de 22 não exerça “influência direta sobre a arquitetura, cria
um clima novo, revela um espírito de luta contra o marasmo intelectual, contra a
aceitação incondicional dos valores estabelecidos” (BRUAND, 1996, p. 63).
O arquiteto discorre sobre a noção do belo e como esse conceito está intrinsica-
mente vinculado à sua época, e que, portanto, a arquitetura do século XX deveria
ser reflexo da modernização pelas quais as grandes cidades estavam passando:
Observando as máquinas do nosso tempo, automóveis, vapores, loco-
motivas etc. nelas encontramos, a par da racionalidade da construção,
também uma beleza de formas e linhas. Verdade. É que o progresso é tão
rápido que tipos de tais máquinas, criadas ainda ontem, já nos parecem
imperfeitos e feios. Essas máquinas são construídas por engenheiros, os
quais, ao concebê-las, são guiados apenas pelo princípio de economia e
comodidade, nunca sonhando em imitar algum protótipo. Esta é a razão
por que as nossas máquinas modernas trazem o verdadeiro cunho de nos-
so tempo (WARCHAVCHIK apud XAVIER, 2003, p. 38)
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UNIDADE A Modernidade Brasileira
Para saber mais sobre o pensamento-chave de Le Corbusier para a Arquitetura moderna leia
Explor
De acordo com o arquiteto, em seu manifesto, “Uma casa é, no final das con-
tas, uma máquina cujo aperfeiçoamento técnico permite, por exemplo, uma dis-
tribuição racional de luz, calor, água fria e quente etc.” (WARCHAVCHIK apud
XAVIER, 2003, p. 35).
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industrial, e as telhas de barro são ocultadas por platibandas que insinuam o uso de
lajes planas.
Mesmo que a casa exprima elementos da estética modernista, por outro lado, há
situações não contempladas como, por exemplo, a falta de continuidade espacial.
Em seu interior, os ambientes ainda compartimentados, hall, salas de estar e de
jantar, lavabo, cozinha e área de serviço, varanda, conferem uma condição tradi-
cional da casa brasileira. Ainda assim, é importante ler esse exemplar como uma
espécie de gênese da casa modernista para os projetos que serão desenvolvidos
nos anos seguintes.
Ainda em São Paulo, Warchavchik projeta a residência Max Graf, à Rua Melo
Alves (1929), as casas na Rua Itápolis e na Rua Bahia, ambas em 1930, a residên-
cia Antônio da Silva Prado, à Rua Estados Unidos (1931), entre outras constru-
ções. No Rio de Janeiro, o arquiteto projeta a já demolida residência Nordschild
(1931), à Rua Toneleros em Copacabana.
É nesse ano que o arquiteto Lucio Costa convida Warchavchik para lecionar
Composições de Arquitetura no Curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas
Artes. Entre 1931 e 1933, Lucio Costa e Warchavchik abrem juntos um escritório
por onde passaram alguns estudantes como Oscar Niemeyer.
Em texto publicado no ano de 1952, Artigas reconhece que “As primeiras ten-
tativas da Arquitetura Moderna no Brasil são uma consequência do movimento
chamado Semana de Arte Moderna de 1922” (ARTIGAS apud XAVIER, 2003, p.
195) e identifica que é em função do Estado Novo, elaborado por Getúlio Vargas,
que a Arquitetura moderna brasileira tem o seu maior desenvolvimento, sobretudo
com a realização do concurso para a construção do Ministério da Educação e Saú-
de no Rio de Janeiro, entre outras obras.
Artigas é movido por esse anseio progressista e, após ter concluído os seus es-
tudos, em 1937, inicia a sua carreira arquitetônica aos vinte e dois anos de idade.
A primeira fase de sua obra revela uma influência vinda do arquiteto norte-ame-
ricano Frank Lloyd Wright e de sua arquitetura reconhecida como orgânica. Entre
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representava no mundo) podiam satisfazer-se por muito tempo com uma
arquitetura parcialmente voltada para o passado e capaz de constituir um
elemento de propaganda para um patrimônio intelectual agora rejeitado.
Portanto, a reviravolta ocorrida em sua obra em 1945 explica-se pelas
circunstâncias e por uma reflexão mais aprofundada à medida que a ma-
turidade se seguia aos primeiros entusiasmo da juventude. O abandono
da herança wrightiana e sua substituição pela de Le Corbusier, apesar de
tudo, não foi total em Artigas, que conservou, de suas primeiras experi-
ências, um culto por uma concepção do espaço derivada da do mestre
norte-americano (BRUAND, 1996, p. 273).
Após uma temporada nos Estados Unidos, fruto de uma bolsa de estudos, onde
pode visitar arquiteturas, Artigas regressa ao Brasil no ano de 1947 e, no ano se-
guinte, projeta a sua casa.
Essa residência está localizada no mesmo terreno da sua primeira casa, conheci-
da como Casinha, projetada pelo próprio arquiteto, no ano de 1942, no bairro de
Campo Belo, na capital paulista.
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A década de 1950, para Artigas, anunciada pelo estádio, é marcada para uma
série de casas, sendo que, na década seguinte, o arquiteto é encarregado de proje-
tar alguns edifícios públicos, como o Colégio de Itanhaém (1960-1961) e o Colégio
de Guarulhos (1961) em que ele explora a estética brutalista.
É justamente após a conclusão dos dois colégios que Artigas afirma sua nova
estética, ao projetar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo.
Uma das estratégias utilizadas por Artigas nesse projeto estabelece uma relação
paradoxal no edifício: ao mesmo tempo em que ele se fecha para o exterior em
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função da grande empena que circunda as quatro fachadas erguidas por pilares e
que sustenta a cobertura, o edifício se torna um local de extrema fluidez, convidati-
vo ao encontro e à troca de experiências internamente.
O espaço que intensifica essa dinâmica é o grande hall conhecido como salão
caramelo, o grande vazio do edifício que organiza o programa de necessidades,
uma espécie de pátio coberto.
A Escola Carioca
Diferentemente do que acontece na capital paulista, a modernidade na então
Capital Federal chega tardiamente.
A estética neoclássica se torna oficial nas primeiras décadas do século XX, ainda
que concorra com outros estilos considerados menos vigorosos, como o eclético ou
o art nouveau, e perdura até a década de 1930, quando alguns intelectuais iniciam
um processo de revisão crítica das Artes e da Arquitetura.
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Ainda que tenha tido formação no exterior, no bojo da formatação da estética mo-
dernista na Europa, é indiscutível a dedicação que o arquiteto tem em estudar o pa-
trimônio arquitetônico brasileiro, porém, de forma mais analítica, menos saudosista:
A preocupação com as soluções funcionais e os volumes claramente defi-
nidos, característicos de suas primeiras obras, era um retorno consciente
aos valores permanentes que havia descoberto na arquitetura luso-brasilei-
ra dos séculos XVII e XVIII, da qual, em contrapartida, rejeitava o que era
pura decoração. O que chocava instintivamente no movimento moderno
era seu caráter absolutista, intransigente e o aparente desprezo de seus
teóricos por tudo que dizia respeito ao passado (BRUAND, 1996, p. 72).
O apoio de Warchavchik é fundamental nos anos que seguem, bem como o en-
tusiasmo demonstrado por Costa com a vinda de Le Corbusier ao Brasil, já no ano
de 1925, quando ministra uma palestra na Escola Nacional de Belas Artes. Ainda
que tenha tido seus ideais progressistas combatidos por intelectuais mais conser-
vadores, Costa continua imbuído por elaborar uma arquitetura que seja capaz de
restabelecer uma conexão entre o passado e um futuro promissor.
ocorre em 1935, e que é invalidado pelo ministro Gustavo Capanema, que solicita que
Lucio Costa organize uma equipe de arquitetos para realizar o Projeto da nova Sede e que,
portanto, substituiria o Projeto vencedor do arquiteto Archimedes Memória, professor
catedrático de Arquitetura na Escola de Belas Artes, que teve como proposta um edifício
de estilo marajoara, isto é, inspirado na civilização pré-colombiana que se desenvolveu
na Ilha de Marajó. Le Corbusier é convidado especialmente por Capanema, com o intuito
de assessorar a equipe de jovens arquitetos nessa tarefa de enorme responsabilidade,
tendo em vista não somente a importância de um edifício público, mas também a possi-
bilidade de elaborarem uma edificação que representaria um marco decisivo na trajetória
da Arquitetura moderna brasileira.
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Carlos Leão, Jorge Moreira e Affonso Reidy são os três indicados por Costa a
compor a equipe, que não tardou a ser ampliada para seis membros.
A equipe tem dois fatores que garantem certa homogeneidade: além de terem
se formado pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, os seis integrantes com-
partilham das mesmas preocupações e possuem imensa admiração pela obra de Le
Corbusier e pelo seu pensamento acerca dos caminhos da Arquitetura.
É nesse momento que a equipe liderada por Lucio Costa assume a prancheta e,
em cima do esboço de Le Corbusier, começa a realizar algumas sugestões e ade-
quações necessárias para o projeto dentro de um contexto mais urbano.
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há uma grande pele de vidro, enquanto a face oposta, nordeste, muito castigada
pelo Sol, possui quebra-sóis em toda a sua extensão.
Figura 4 – Fachada do bloco principal e pormenor dos pilotis com painel de Cândido Portinari
marcando o acesso ao edifício, Ministério da Educação e Saúde (Edifício Palácio Gustavo Capanema).
Lucio Costa, Carlos Leão, Jorge Moreira, Affonso Reidy, Ernani Vasconcellos, Oscar Niemeyer
e colaboração de Le Corbusier; paisagismo de Roberto Burle Marx, Rio de Janeiro, 1936-1945
Fonte: Wikimedia Commons
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corrediça horizontal e o terraço jardim, além de toda a racionalidade e o funciona-
lismo empregados no projeto do Ministério; porém, é inegável a destreza com a
qual Lucio Costa adapta esses elementos universais e os adéqua a uma Arquitetura
exclusivamente brasileira.
Ainda que tenha recebido o primeiro prêmio e Oscar Niemeyer o segundo lugar,
Costa vê no projeto de seu conterrâneo grande potencialidade e qualidade superior
ao seu próprio projeto.
Figura 6 – Vista aérea da Lagoa da Pampulha. Oscar Niemeyer, Belo Horizonte, 1942-1944
Fonte: Wikimedia Commons
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Brasília, fruto do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, que
ocorre entre setembro de 1956 e março de 1957, pode ser considerada o coroamento
desse momento tão único na história da Arquitetura brasileira em nível mundial.
Esse concurso coloca lado a lado grandes nomes nacionais, como Lucio Costa,
Rino Levi, os irmãos Roberto e Artigas, entre outros, para o desenho urbano da
nova Capital, novo símbolo político do Governo de Kubitschek, símbolo de um país
em expansão econômica, territorial e também símbolo de uma arquitetura soberana.
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Pampulha) das funções de diretor que, além de compor o corpo de jurados, tam-
bém é responsabilizado pelo Presidente à época de projetar o conjunto de edifícios
mais representativos da futura capital. Entre 26 projetos avaliados, o júri é unânime
(exceto Paulo Antunes Ribeiro) ao selecionar o anteprojeto de Lucio Costa.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O concurso de Brasília
BRAGA, M. O concurso de Brasília. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
Modernidade e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura
COLQUHUOUN, A. Modernidade e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura.
São Paulo: Cosac Naify, 2004.
Vídeos
A vida é um sopro
https://goo.gl/ccUvWH
Vilanova Artigas: o arquiteto e a luz
https://youtu.be/ceNS7HKWSo0
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Referências
BRUAND, Y. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1996.
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