No Antigamente, Na Vida
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Resumo
O presente artigo apresenta o desafio à governança que a corrupção tem sido na atualidade
angolana, objetivando contribuir ao combate desta, a fim de que a sociedade crie mecanis-
mos para erradica-la e preveni-la, a fim de promover os direitos humanos e o desenvolvi-
mento do país. Para isso, inicia-se pela conceituação do que é corrupção e suas formas,
logo partindo para análise do Princípio da Probidade Pública na Lei de Angola, bem como
apresenta a situação endémica da corrupção, seus efeitos e os mecanismos de fiscalização
e controle que podem ser utilizados.
Introdução
O combate a corrupção é hoje o grande desafio que se coloca para uma boa
governança, considerando-se os efeitos nocivos que essa provoca ao desenvol-
vimento humano deve merecer atenção de todas as forças vivas da sociedade,
mas com maior realce dos detentores do poder político ou cargos públicos.
Debruçar sobre a corrupção em Angola, não é uma tarefa fácil tudo, por que
há um debate tímido acerca do assunto, mas, que é imperioso um debate aberto
e fraco a volta desta questão pela proporção tão alarmante que já atingiu.
http://dx.doi.org/10.5335/rjd.v28i2.4850
Este artigo é proveniente da avaliação das disciplinas Governação Democrática e Autarquias Locais, mi-
1
nistradas pelo professor Doutor Giovani da Silva Corralo, docente convidado dos Programas de Mestrado
da Universidade Agostinho Neto - Angola. O artigo obteve a expressa autorização do seu autor para esta
publicação.
*
Mestrando da Universidade Agostinho Neto – Faculdade de Direito – Centro de Excelência – Centro
de Pesquisa em Políticas Públicas e Governança Local. Luanda, Angola.
2
CAMACHO, Alfredo. TAVARES, António. O nosso dicionário. Lisboa: Didáctica Editora, 2008, p. 179.
3
SIMÃO, Calil. Improbidade Administrativa - Teoria e Prática. Leme: J.H. Mizuno, 2011, p. 34.
4
LIVIANU, Roberto. Corrupção e Direito Penal: Um diagnóstico da corrupção no Brasil. Coimbra: Coimbra
Editora, 2007, p. 31.
5
LIVIANU, Roberto. Corrupção e Direito Penal: Um diagnóstico da corrupção no Brasil. 2007, p. 33.
6
LIVIANU, Roberto. Corrupção e Direito Penal: Um diagnóstico da corrupção no Brasil. 2007, p. 33.
7
SIMÃO, Calil. Improbidade Administrativa - Teoria e Práica. Leme: J.H. Mizuno, 2011, p. 35.
8
COMERFORD, Michael G. O Rosto Pacífico de Angola – Biografia de um Processo de Paz (1991 – 2002).
Windhoek: John Meinert Printing , 2005, p. 111.
9
CRUZ, Domingos da. Para Onde Vai Angola? – A Selvajaria Apocalíptica Onde Toda Perversidade é Real.
Luanda: Editora Mulemba, 2008, p. 133.
10
MAKA ANGOLA. Corrupção em Angola, branqueamento de capitais em Portugal. Disponível em: http://
makaangola.org/2013/05/29/corrupcao-em-angola-branqueamento-de-capitais-em-portugal/ Acesso em 29
maio de 2013.
11
MAKA ANGOLA. Corrupção em Angola, branqueamento de capitais em Portugal. Disponível em: http://
makaangola.org/2013/05/29/corrupcao-em-angola-branqueamento-de-capitais-em-portugal/. Acesso em: 29
maio 2013.
Vontade política
A corrupção, em Angola, tornou-se o primeiro mal que afeta o país, como tinha
sido constatado pelo próprio presidente da república, em 2009. Nessa perspecti-
va, esse foi o primeiro passo, admitir-se que a corrupção é um mal, que adoece
a sociedade angolana, depois de reconhecer-se que deveria criar-se mecanismos
de combate, mas, nem com esse reconhecimento o aparelho do Estado mostrou
vontade, com o andar da carruagem não se sabe ao certo que futuro se espera de
Angola. Na grande entrevista dada pelo presidente José Eduardo dos Santos, a
SIC, deu a entender que parece não existir uma possível solução para atenuar, ou
quiçá combater a corrupção, ao dizer que não sabia se era possível erradicar-se a
corrupção, porque Angola não era único país no Mundo onde ela existia.
A vontade política não é a vontade do povo, mas, sim, dos detentores do po-
der político, das pessoas eleitas, que estão a frente da gestão da “coisa” pública,
cabe-lhes definir políticas pelas quais possam conduzir os destinos dos países
que dirigem. Assim, nenhuma política se mostra exequível sem que haja uma
Instituições fortes
Nas secções do módulo de Fundamentos da Democracia, Dr. Giovani Cor-
ralo ressaltava que para o combate à corrupção era imprescindível a existência
de instituições fortes. E é isso que falta na sociedade angolana, há no país um
ordenamento jurídico bastante rico em conteúdo, mas a aplicação é desse bas-
tante precária.
As duas instituições que o país tem para controlar os atos do governo, As-
sembleia Nacional e o Tribunal de Contas, o fazem de forma dúbia, influencia-
das pelo poder executivo nas suas ações.Podemos afirmar que não funcionam
de forma autonoma, em termos de uma análise realística. Essas instituições
para tornarem-se fortes devem assumir as suas verdadeiras finalidades para
as quais a foram criadas.
Para o combate à corrupção será preciso criar uma legislação vocacionada
e um Tribunal Arbitral de controle à corrupção, verdadeiramente autónomo
na sua atuação. Tribunal esse que poderia julgar à corrupção, tanto em gran-
de, média ou pequeno nível e com sanções austeras para os infractores. Isso,
porque o nível a que o fenômeno da corrupção atingiu, é preciso um combate
enérgico.
A submissão partidária que existe nas instituições faz com, que elas não
atuem ou desempenhem, cabalmente a sua real vocação, como aconteceu com
a Assembleia Nacional, que havia sido proibida a desempenhar uma das mais
importantes competência de controle e fiscalização, previstas no artigo 162 da
Constituição angolana, em conformidade com o artigo 2º a Lei n. 5/03 de Março,
dos atos do governo e da administração. Tudo porque, o governo no poder tem
uma maioria esmagadora na Assembleia e essa obedece a disciplina partidária
e não o povo que os elegeu para representar seus interesses.
Fiscalização e controle
O combate à corrupção generalizada que se observa em Angola deve partir
como se diz nos graúdos, o combate da alta corrupção deve ser o ponto de par-
tida. Quando existir uma fiscalização e um controle seria dos indivíduos que
gerem os recursos públicos então estar-se-á a combater a verdadeira corrupção.
Aqui o Tribunal de Contas como órgão supremo de fiscalização da legali-
dade das finanças públicas e de julgamento das contas que a lei sujeita à sua
jurisdição (Lei n.c13/10, de 9 de Julho), deve atuar como instituição autonoma
e não o atual papel confuso que desempenha, mesmo perante várias improbi-
dades, o tribunal apresenta-se pávido.
Para uma fiscalização e um controle cabal é urgente criar-se uma classe de
fiscais, bem remunerada para poderem pautar o seu comportamento naquilo,
que é a conduta da atividade que exerce.
A Comissão Parlamentar de Inquérito prevista no capítulo III, secção III,
artigo 160, alínea c), da Constituição angolana, em conformidade com Lei n.
5/03 de Março, no seu artigo 2º diz que os inquéritos parlamentares têm por
objecto apreciar os actos do governo e da administração. É preciso que essas
instituições ponham em prática essas competências de forma a combater os
vícios que se verificam na cabimentação dos fundos públicos.
Deve-se responsabilizar os indivíduos que pratiquem a improbidade públi-
ca, com sanções em relação a função, cargo, actividade que exerce como agente
servidor público.
Isso levaria a uma crescente transparência na gestão pública, contrapondo
o actual quadro.
Transparência
Mais do que publicidade, as coisas públicas não devem estar escondidas.
A transparência vai assegurar a honestidade e o rigor na utilização dos bens
públicos, que a todos diz respeito, bem como um maior controle social, na me-
dida em que a própria sociedade deve estar integrada a monitorar e avaliar os
processos e serviços concebidos pelo Estado para atender às suas carências.
Traduzindo-se naquilo a que na língua inglesa pode significar good governance.
O cidadão tem um direito básico de conhecer, de ser informado sobre o que o
governo está fazendo e por que está fazendo. Em linhas gerais, pode-se dizer
que uma gestão transparente tem como principais características o acesso às
informações compreensíveis para todo o cidadão e a abertura para a sua parti-
cipação e controle na gestão dos recursos alocados para o investimento público.
A transparência é um dos princípios da governança pública e as iniciativas
que visem aperfeiçoar os mecanismos de transparência de informações acerca
da gestão são consideradas boas práticas de governança. De um modo geral, a
transparência deve caracterizar todas as actividades realizadas pelos gestores
públicos, de maneira que os cidadãos tenham acesso e compreensão daquilo que
os gestores governamentais têm realizado a partir do poder de representação
que lhes foi confiado. No contexto da transparência fiscal, isso significa a possi-
bilidade do acompanhamento claro, transparente, da execução orçamentária e
das finanças públicas. No entanto, ressalta-se que dar publicidade não significa
necessariamente ser transparente. É necessário que as informações disponibi-
lizadas sejam capazes de comunicar o real sentido que expressam, de modo a
não parecerem enganosas13.
13
CRUZ, Cláudia Ferreira da, et al. Um estudo empiríco sobre a transparência da gestão pública dos gran-
des muniícipios brasileiros. Disponível em: http://personalizado.msisites.com.br/ifc/img/tb24_texto_fo-
tos_1_1143_enapgatransparaiaamunicipios.pdf. Acesso em: 30 maio 2013.
Considerações finais
As várias teorizações sobre a questão da corrupção todas convergem pelo
fato de mostrarem os efeitos perniciosos que esta trás para as sociedades hu-
manas, propriamente com a degradação dos direitos humanos e a estagnação
da sociedade.
Nessa perspectiva, a eliminação ou o controle da corrupção deve ser a preo-
cupação constante de todos os cidadãos. As sociedades em que se verifica cor-
rupção em grande escala como, é o caso de Angola, põe em risco a segurança das
pessoas em usufruírem dos rendimentos e da riqueza do Estado, que a todos
pertence.
A corrupção é um fenômeno muito antigo, biblicamente começa no Jardim
de Éden, quando anjo Lúcifer usando o estatuto que ostentava corrompe a Eva,
por outro, pode-se dizer que esse se encontra em quase todos as sociedades, isso
é inquestionável, mas a realidade da corrupção que afeta a sociedade angolana
é bastante inquietante, por esse motivo torna-se imperioso pôr-se em prática os
mecanismos de combate a corrupção aqui salientados.
Finalmente, cabe recordar, Angola se quiser continuar a registar o cresci-
mento econômico espectacular que observa e pode tornar-se uma grande potên-
cia regional, e quiçá mundial, deve pôr fim a corrupção.
Referências
African corruption ‘on the wane’, 10 de julho de 2007, BBC News.
ANGOLA. Constituição (2010). Constituição da República de Angola: promulgada em 05 de
fevereiro de 2010. Angola, Constituição da República, 2010. Disponivel em: http://www.go-
verno.gov.ao/Arquivos/Constituicao_da_Republica_de_Angola.pdf Acesso em: 28 maio 2013
_________ Lei, n. 3, 29 de março de 2010. Da probidade pública. Disponível em: http://ges-
taotransparente.org/wp-content/uploads/2014/07/Lei-da-Probidade-Publica1.pdf Acesso em
28 maio 2013.
_________ Lei, n. 13, 9 de julho de 2010. Lei Orgânica e do Processo do Tribunal de Contas.
Disponível em: http://www.scm.gov.ao/modal.php Acesso em: 30 maio 2013.
CAMACHO, Alfredo. TAVARES, António. O nosso dicionário. Lisboa: Didáctica Editora,
2008.
COMERFORD, Michael G. O Rosto Pacífico de Angola – Biografia de um Processo de Paz
(1991 – 2002). Windhoek: John Meinert Printing , 2005.
CRUZ, Domingos da. Para Onde Vai Angola? – A Selvajaria Apocalíptica Onde Toda Perver-
sidade é Real. Luanda: Editora Mulemba, 2008.
CRUZ, Cláudia Ferreira da. FERREIRA, Aracéli Cristina de Sousa. SILVA, Lino Martins
da. MACEDO, Marcelo Álvaro da Silva. Um estudo empiríco sobre a transparência da ges-
tão pública dos grandes muniícipios brasileiros. Disponível em: http://personalizado.msisi-
tes.com.br/ifc/img/tb24_texto_fotos_1_1143_enapgatransparaiaamunicipios.pdf Acesso em:
30 maio 2013
LIVIANU, Roberto. Corrupção e Direito Penal. Um diagnóstico da corrupção no Brasil.
Coimbra: Coimbra Editora, 2007.
MAKA ANGOLA. Corrupção em Angola, Branqueamento de Capitais em Portugal. Dispo-
nível em: http://makaangola.org/2013/05/29/corrupcao-em-angola-branqueamento-de-capi-
tais-em-portugal/ Acesso em: 29 maio 2013
SIMÃO, Calil. Improbidade Administrativa - Teoria e Prática. Leme: J.H. Mizuno, 2011,
p. 34.