Feminização Do Magistério
Feminização Do Magistério
Feminização Do Magistério
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.i
A leitura desses textos é feita de forma sistemática. Elaboramos uma grade de leitura
com o objetivo de que todos os integrantes do grupo tenham um mesmo parâmetro ao ler e
analisar os textos. A preocupação é entender como os pesquisadores direcionam a
investigação, os campos disciplinares que evocam, os conceitos que utilizam, o tipo e
adequação das fontes que analisam, os autores/as que citam e por fim as argumentações
explicitadas no que se refere à feminização do magistério. É importante frisar que a ordem
de leitura dos trabalhos foi aleatória. Até o momento foram lidos sete textos. São eles:
1. ALMEIDA, Jane Soares de. Mulher e educação: a paixão pelo possível. Universidade
de São Paulo - Educação. Doutorado. Orientador: Antônio Joaquim Severino. 1v. 401p.
1996.
7. YANNOULAS, Silvia Cristina. Acerca de como las Mujeres Llegaron a ser Maestras.
(América Latina, 1870-1930). Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos / Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Brasília, v. 73, n.175, p.497-521
set/dez. 1992.
A partir dessas análises iniciais, temos visto que algumas pesquisas tomam como base,
para suas afirmações, referências de trabalhos de outras pesquisas já realizadas e pouco
problematizam dados resultantes da análise das fontes historiográficas.vii Cinco desses
trabalhos recorrem ás fontes na tentativa de entender as representações sobre o que é ser
professora e professor no final do século XIX e início do XX.
Nesse movimento há uma certa contradição e uma tensão acerca da relação entre
público/privado. As mulheres são chamadas para a vida pública, porém estas têm como
papel fundamental exercer uma função extremamente vinculada à vida privada, uma vez
que estas exercem o magistério atribuindo a ele características femininas, bem como uma
extensão do amor, cuidado e zelo materno. Este fato o torna a continuação do papel que as
mesmas exerciam na esfera privada. Essas contradições merecem mais aprofundamento no
sentido de entender como se deu essa tensão entre público e privado no processo de
feminização do magistério mineiro e da profissão docente durante o século XIX.
A pesquisa de DURÃES (2002) utiliza relatórios de presidentes de província de Minas
Gerais, leis, portarias, resoluções, relatórios do poder executivo, parlamentares e inspetores
da Instrução pública, correspondências da inspetoria da instrução pública de professores e
professoras, relatos de alunos e alunas, além da Revista Pedagógica e textos de
memorialistas mineiros. A autora dialoga com as fontes, procurando comprovar suas
hipóteses empiricamente. Também esta autora utiliza-se de dados estatísticos, além de
trazer uma refinada discussão sobre a questão da qualificação das professoras no final do
dezenove. Porém, no momento de aprofundar a discussão sobre as razões da feminização, a
autora refere-se às mesmas razões evocadas pelos outros trabalhos.
Ao reforçar a idéia de que a feminização acontece em sala de aula mas não na área
burocrática / administrativa do ensino, a autora cita Apple e ponta as práticas e
representações que presidiram na construção da identidade da professora como mãe, da
escola como lar e do exercício docente como missão.
Por fim, acreditamos que é preciso avaliar a ausência da pesquisa empírica para a
discussão da questão. Em que medida os estudos brasileiros estão ajudando o
aprofundamento do entendimento do tema? Como continuidade do trabalho,
vislumbramos a necessidade de pesquisas que, dentre outros aspectos: a) Busquem
demonstrar através do cruzamento de fontes as afirmações feitas a partir de certas matrizes
conceituais; b) Busquem dialogar, nos plano nacional e internacional, com produções
recentes sobre as relações de gênero na educação; c) Incorporem decisivamente o sujeito
masculino e a questão da masculinidade no âmbito dos estudos das relações de gênero na
história da educação e, mais especificamente, do magistério; d) Busquem realizar estudos
comparativos entre as diversas Províncias e/ou Estados brasileiros.
Bibliografia de referência:
APPLE, Michael W. Trabalho Docente e textos: Economia política das relações de classe
e de gênero em Educação. Ed. Artes Médicas, 1995
FARIA FILHO, Luciano; VIDAL, Diana Gonçalves. O Ofício do Historiador, In: Revista
Brasileira de História, v.23 n.45. 2003.
ROSA, Walquíria Miranda, Instrução pública e profissão docente em Minas Gerais (1825-
1852). In: Série Estudos. Periódico do Mestrado em Educação da UCDB, Campo Grande
n. 14 p.138-152, jul./dez. 2002.
i
Esta pesquisa é parte do Projeto Integrado de Pesquisa: Escolarização, Culturas e Práticas Escolares:
Investigações Sobre o Processo de Escolarização e a Instituição do Campo Pedagógico em Minas Gerais
(1750\1950), coordenado pelo professor Luciano Mendes de Faria Filho e financiado pelo CNPq e
FAPEMIG.
ii
Graduanda em Pedagogia, Bolsista de iniciação científica - CNPq sob orientação do professor Luciano
Mendes de Faria Filho.
iii
Mestre em Educação, Professora da Universidade do Estado de Minas Gerais. Coordenadora do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em História da Educação da UEMG, pesquisadora do GEPHE.
iv
Luciano M. Faria Filho, Eliane M. T. Lopes, Walquíria M. Rosa, Cecília V. Nascimento, Elenice F. de
Paula, Carolina M. de Sá, Geralda Fortina dos Santos e Mônica Yumi Jinzenji.
v
Esse recorte de 1990 até os dias de hoje, se justifica por objetivar uma análise de publicações mais recentes.
vi
Destas, após análise preliminar, já descartamos 01 por não se inscrever na área de história da educação
como pensávamos inicialmente.
vii
É importante destacar que este é um trabalho incipiente e esta uma análise preliminar. Ainda não temos
respostas mas, apontamentos.
viii
Chegou-nos recentemente o livro que esta autora publicou na Argentina a partir de sua tese para que
possamos analisar o trabalho completo e não apenas um artigo.