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Musuicoatr

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DOI 10.18065/RAG.2020v26n1.

GESTALT-MUSICOTERAPIA NO BRASIL: EXPLORANDO


O CAMPO
Gestalt Music Therapy in Brazil: exploring fields

Musicoterapia Gestáltica en Brasil: explorando el campo

Lázaro C. S. Nascimento

Resumo: A Musicoterapia é uma área autônoma e híbrida surgida a partir da relação entre saberes e práticas dos campos
das artes e da saúde. Por esse hibridismo, alicerçou parte de seus conhecimentos em outras disciplinas e em outros fazeres
como as psicoterapias, entre elas a Gestalt-terapia. O objetivo deste trabalho foi investigar as relações entre Musicoterapia e
Gestalt-terapia no caminho para se pensar uma Gestalt-Musicoterapia. Esta pesquisa se constitui como exploratória, sendo
realizada a partir de levantamento bibliográfico sistemático e assistemático, bem como com proposições teóricas e políti-
cas. A literatura mostra que apesar de existirem trabalhos nessa direção, a proposta de uma Gestalt-Musicoterapia ainda é
pouco explorada, especialmente no Brasil, e que ainda há pouca abertura para profissionais Musicoterapeutas buscarem
formação específica em Gestalt-terapia.
Palavras-chave: Musicoterapia; Gestalt-musicoterapia; Gestalt-terapia.

Abstract: Music Therapy is an autonomous and hybrid area arising from the relation between the knowledge and the
practices of arts and health fields. Because of this hybridism, it bases some of its knowledge on other disciplines and other
practices such as psychotherapies and, amongst them, Gestalt therapy. The research aims to investigate relations between
Music therapy and Gestalt Therapy in order to reflect about a Gestalt Music Therapy. It is an exploratory research, devel-
oped as a systematic and unsystematic bibliographical survey, as well as with theoretical and political propositions. The
literature shows that although there are works in this direction, the proposal of a Gestalt Music Therapy is still little ex-
plored, especially in Brazil, and it seems that there is still little opening for professionals Music therapists to seek specific
training in Gestalt therapy.
Keywords: Music Therapy; Gestalt Music Therapy; Gestalt Therapy.

Resumen: La Musicoterapia es un área autónoma e híbrida surgida a partir de la relación entre saberes y prácticas de los
campos de artes y de la salud. Por ese hibridismo, fundó parte de sus conocimientos en otras disciplinas y en otros hacer
como las psicoterapias, entre ellas la Terapia Gestáltica. El objetivo de este trabajo fue investigar las relaciones entre Mu-
sicoterapia y Terapia Gestáltica a fin de pensar una Musicoterapia Gestáltica. Esta investigación se constituye como ex-
ploratoria, siendo realizada a partir de levantamiento bibliográfico sistemático y asistemático, así como con proposiciones
teóricas y políticas. La literatura muestra que a pesar de que existen trabajos en esa dirección, la propuesta de una Mu-
sicoterapia Gestáltica aún es poco explorada, especialmente en Brasil, y que todavía hay poca apertura para profesionales
Musicoterapeutas buscaren formación específica en Terapia Gestáltica.
Palavras-clave: Musicoterapia; Musicoterapia Gestáltica; Terapia Gestáltica.

Circunscrevendo brevemente a Musicoterapia Também compreendendo a complexidade da


Musicoterapia, Bruscia (2016) relembra que a Asso-
A Musicoterapia é uma área que surge da inter- ciação Nacional de Musicoterapia nos Estados Uni-
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face de diversos saberes, como a medicina, a música, dos foi fundada em 1950, enfatizando a importân-
a enfermagem, a psicologia, a psicoterapia, entre ou- cia de que qualquer definição da área se mantenha
tros. Caroll (2011) reconta a história humana a partir aberta para compreendê-la tanto quanto profissão,
do uso terapêutico da música até o estabelecimento quanto como disciplina. A definição utilizada pela
da Musicoterapia como profissão, por volta da dé- World Federation of Music Therapy (WFMT) (2011)
cada de 1940, nos Estados Unidos. Para a autora, os destaca que:
fatores como a rápida urbanização e o aumento de
hospitais psiquiátricos após a II Guerra Mundial fo- A musicoterapia é o uso profissional de músi-
ram determinantes para que a música passasse a ser ca e seus elementos como uma intervenção em
utilizada de maneira formal nos processos de pro- ambientes médicos e diários com indivíduos,
moção de saúde com soldados traumatizados. com os grupos, com as famílias o com as comu-

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nidades [sic] que procuram otimizar sua quali- ainda dois macromovimentos que refletem a organi-
dade de vida e melhorar seu físico, seu social, zação política de profissionais musicoterapeutas: a
seu comunicativo, seu emocional, o intelectual fundação, em 1993, do Comitê Latinoamericano de
e a saúde espiritual e bem-estar. A investigação, Musicoterapia, com presidência da brasileira Cecilia
a prática, a educação e a instrução clínica na Fernández Conde (Comitê Latinoamericano de Mu-
musicoterapia são baseadas em padrões profis- sicoterapia, 2015) e a fundação da União Brasileira
sionais conforme contextos culturais, sociais e das Associações de Musicoterapia (UBAM), em 1995
político (World Federation of Music Therapy, (Santos, 2016).
2011, sem paginação, tradução livre). Destacamos que a associação a essas entidades
– mesmo que não compulsória, devido à ausência
Há que se considerar que a primeira definição de regulamentação da profissão Musicoterapeuta no
da Federação Mundial de Musicoterapia, datada de Brasil – se apresenta como um compromisso ético-
1996, enfatizava o fazer musicoterapêutico como -político de suas/seus profissionais, a fim de fortale-
práxis da/o profissional Musicoterapeuta. A retirada cer e difundir a profissão regionalmente. Em alguns
do termo “Musicoterapeuta” parece ter criado ten- estados brasileiros, empresas e contratantes já exi-
sões e repercussões internas na área, o que justifica- gem o número/código de associada/o desses profis-
ria o fato da definição anterior continuar frequente, sionais, reconhecendo socialmente a importância de
especialmente no Brasil, mesmo após 2011 e sua um cuidado com a profissão e evitando a sua prática
ampla divulgação. por profissionais sem devida qualificação.
A formação em Musicoterapia no país é rela- Em estudo anterior, foi realizada uma discus-
tivamente recentemente. Segundo Chagas e Pedro são acerca de como se organizam as formações em
(2008), sua chegada no Brasil ocorre apenas em Musicoterapia no Brasil, enfatizando a exigência de
1973. Em 2015, completaram-se 40 anos desde que um curso de nível superior, seja de graduação ou
a primeira turma de musicoterapeutas se formou no pós-graduação lato sensu (especialização), para o
Conservatório Brasileiro de Música (CBM), no Rio exercício da profissão (Nascimento, 2016).
de Janeiro (RJ), onde o primeiro curso da área foi
ofertado em terras tupiniquins. Nas palavras de Car-
valho (1975), o curso pretendia: A práxis da(o) Musicoterapeuta

Concorrer para a formação profissional devida- A(o) Musicoterapeuta atua com diferentes re-
mente habilitada em Musicoterapia, reunindo ferenciais teóricos e as práticas musicoterapêuticas
os fundamentos técnico-musicais e técnico- podem ser compreendidas a partir das experiências
-científicos, necessários ao exercício pleno da musicais vividas por suas/seus participantes. Brus-
função em escolas especializadas, serviços de cia (2016, p.56) propõe quatro experiências musi-
ação preventiva, clínicas e hospitais como Au- cais:
xiliar Terapêutico, integrado nos propósitos
específicos interdisciplinares das diferentes Os Musicoterapeutas têm uma vasta gama de
equipes médicas e médico-psicopedagógicas métodos para ajudar seus clientes a alcançarem
(p. 05). as metas adotadas. As principais categorias são
improvisação, re-criação, composição e audi-
Passadas estas quatro décadas, a profissão de ção, e existem infinitas variações sobre como
Musicoterapeuta no Brasil avançou e se fortaleceu essas experiências podem ser usadas para su-
politicamente. Três marcos recentes e importantes prir as necessidades do cliente.
nessa direção foram 1) a inclusão da Musicoterapia
no Cadastro Brasileiro de Ocupações (CBO), sob o Apesar de serem apenas quatro experiências,
código 2263-05 (Musicoterapeuta); 2) a inserção da seus desdobramentos e as diversas teorias que orien-
Musicoterapia na política pública do Sistema Único tam a prática da(o) Musicoterapeuta imprimem certa
de Assistência Social (SUAS), em 2011; e 3) a inser- complexidade na tentativa de delimitar sua práxis.
ção da Musicoterapia no Sistema Único de Saúde Considerando que este artigo está submetido a uma
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(SUS) e a sua oferta como parte da política de Práti- revista não direcionada para Musicoterapeutas, fa-
cas Integrativas Complementares (Brasil, 2017). remos breves considerações acerca de sua atuação.
Outro avanço importante para área foi a cria- Utilizando-se do histórico sonoro-musical, de
ção da Revista Brasileira de Musicoterapia (RBM), diversos conjuntos de sons, de canções pré-estabe-
que teve sua primeira publicação oficial em 1996, lecidas, de composições a partir da experiência do
tornando-se um veículo de difusão científica de cliente/paciente/participante ou ainda dos fenôme-
saberes e práticas. De acordo com o WebQualis do nos acústicos diversos que nos compõem como seres
Quadriênio 2013-20161, a RBM recebeu avaliação humanos, profissionais Musicoterapeutas traçarão
Qualis B3 na área Interdisciplinar. Como último seus objetivos e suas intervenções direcionadas a
destaque nesse breve retorno histórico, situamos uma leitura salutogênica deste indivíduo. Portanto,

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as sessões de Musicoterapia são vivenciadas e estru- que permite o surgimento de uma linguagem
turadas de formas diversas a depender do contexto, alternativa: corporal e sonoro-musical (p.17).
individual ou em grupo, para que sejam trabalhados
conteúdos emocionais, ou referentes a questões de A práxis da(o) Musicoterapeuta, portanto, de-
saúde física como a reabilitação, ou ainda de expres- penderá de pelo menos cinco fatores centrais: 1) o
são e comunicação pensando-se a saúde integral dos público atendido; 2) a modalidade de atendimento
sujeitos atendidos. (individual ou em grupo); 3) o local da intervenção
Com isso, há que se destacar que as áreas de (clínica privada, instituições ou na saúde pública);
atuação da(o) Musicoterapeuta também são diver- 4) a orientação teórico-clínica que sustenta o fazer
sas. Existem práticas na área de Musicoterapia Clíni- musicoterapêutico; e 5) os objetivos musicoterapêu-
ca, Musicoterapia Hospitalar, Musicoterapia Escolar ticos traçados.
e Educacional, Musicoterapia Organizacional, Mu-
sicoterapia Social e Comunitária, Musicoterapia na
Saúde Mental entre outras. É comum que o trabalho Gestalt-terapia como saber multidisciplinar
seja desenvolvido com suporte de algum instrumen-
to musical harmônico, como o violão ou o piano, Ao indagar Gestalt-terapeutas sobre “o que
além de um vasto repertório de canções. é Gestalt-terapia?”, é comum que as respostas se
As sessões podem ser previamente estrutura- iniciem com “a Gestalt-terapia é uma abordagem
das ou construídas a partir dos conteúdos trazidos psicológica que...” e, em seguida, sejam completa-
pelo paciente. É possível que haja interações tanto das enfocando-se algum dos muitos aspectos teóri-
verbais, quanto musicais, enfatizando-se uma ou ou- co-conceituais da área, como o aqui-agora, as suas
tra a depender dos objetivos terapêuticos traçados bases existencialistas e fenomenológicas, o huma-
pela(o) Musicoterapeuta. Isto se dá pela existência nismo, a noção organísmica de Kurt Goldstein, a
de diversos modelos de Musicoterapia que orienta- orientação compreensiva, os experimentos gestalt-
rão a estrutura da sessão. -terapêuticos etc.
Entre os modelos/abordagens de Musicoterapia A noção de “abordagem psicológica” engloba
é possível mencionar a Musicoterapia Musicocen- grandes teorias do conhecimento, que buscam com-
trada (André Brandalise), a Musicoterapia Criativa preender a subjetividade e funcionamento humano
(Nordoff-Robins), a Musicoterapia Musico-verbal a partir de construções teórico-filosóficas distintas.
(Luiz Antônio Milleco), a Vocal Psychotherapy (Dia- Figueiredo (2008) apresenta uma tentativa de siste-
ne Austin), o Guided Imagery and Music (Helen Bon- matizar as diversas matrizes do pensamento psico-
ny) [GIM, Imagens Guiadas e Música] e a Musico- lógico contemporâneo, dividindo-o em dois grandes
terapia Vibroacústica. Além de modelos orientados grupos (matrizes cientificistas e matrizes românticas
por concepções psicoterapêuticas como a Musico- e pós-românticas) e subgrupos, descrevendo como
terapia Analítica (Mary Priestley) e a Musicoterapia a Psicologia se organizou como saber a partir disso.
Comportamental (Clifford Madsen). Moreira (2009) ancora-se no referido autor para cir-
Em sessões estruturadas, por exemplo, é possí- cunscrever a Gestalt-terapia, e afirma:
vel que o trabalho inicie com uma canção de chegan-
ça (hello song), em que o paciente acaba sendo tem- A Gestalt-terapia de Perls, em certos momen-
poralizado acerca do início do trabalho, após isto se tos – na compreensão da vida como um fluxo
siga com o desenvolvimento da sessão a partir de positivo, ou no pragmatismo de Perls ao afirmar
improvisação livre nos instrumentos e voz, e ao final que sua proposta parte dele mesmo – se insere
haja uma canção de despedida (goodbye song). No na matriz vitalista e naturista; em outros – em
desenvolvimento seria possível ainda a composição especial no que se refere ao conceito de cam-
de canções, a utilização de paródias ou a execução po organismo-ambiente, ou quando critica o
de músicas previamente levantadas em uma anam- dualismo nas psicologias – parece se inserir na
nese a partir da ficha musicoterapêutica. matriz compreensiva, própria do pensamento
O setting musicoterapêutico (Santos, 2012) fenomenológico-existencial, que rompe com o
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pode ser composto por instrumentos harmônicos, pensamento dualista (p. 10).
melódicos e de percussão que estejam à disposição
do paciente, bem como apenas instrumentos especí- Desde o seu surgimento nos Estados Unidos,
ficos para determinado objetivo. Segundo a autora, em 1951, e a chegada ao Brasil, em 1973, houve di-
versas ampliações do fazer gestalt-terapêutico para
No setting, paciente e musicoterapeuta criam outras áreas de atuação da Psicologia além da clínica
(e recriam) situações da vida, visando alcan- tradicional (Frazão, 2013). No Brasil, é possível citar:
çar mudanças a partir da própria queixa do Organizacional e do Trabalho (Alvim, 2000; Alvim
paciente [...] os instrumentos, o som, a música & Ribeiro, 2005), Escolar/Educacional (Lilienthal,
são formas de expressão que podem promover 1997; Costa, 2002), Hospitalar (Freitas, 2009), Jurí-
ataques, defesas, isolamento, integração etc., o dica (Pereira, 2013), Esportiva (Santo, 2013, 2017),

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dentre outras; havendo, inclusive, um movimento entre outras. Partindo dessas compreensões, o ob-
de parte da comunidade gestáltica brasileira para jetivo deste trabalho é investigar as relações entre
que se pense uma “Abordagem Gestáltica”, ao invés Musicoterapia e Gestalt-terapia no caminho para se
de “Gestalt-terapia”, termo que estaria mais próximo pensar uma Gestalt-Musicoterapia.
de uma prática psicoterapêutica. Este fato fica evi-
dente até mesmo no título do maior evento brasileiro
da área, que acontece com periodicidade bianual: o Caminhos metodológicos
Encontro Nacional de Gestalt-terapia & Congresso
Brasileiro da Abordagem Gestáltica. Apesar de co- Esta pesquisa é classificada como exploratória,
nhecer essa discussão, utilizamos neste artigo os sendo composta por reflexões a partir dos estudos
termos Gestalt-terapia e Abordagem Gestáltica como doutorais do autor, ainda em andamento. Segundo
sinônimos. Gil (2008, p. 27), “as pesquisas exploratórias têm
Certamente que a Psicologia é uma das áreas como principal finalidade desenvolver, esclarecer e
que representa de forma expressiva, quantitativa- modificar conceitos e ideias, tendo em vista a for-
mente, as produções e as práticas alicerçadas na mulação de problemas mais precisos ou hipóteses
Gestalt-terapia no Brasil e, talvez, no mundo. Contu- pesquisáveis para estudos posteriores”.
do, ao aproximar lentes e vislumbrar o contexto glo- O autor antes citado afirma, ainda, que esse
bal alcançado pela abordagem, não é difícil perceber tipo de estudo objetiva “proporcionar visão geral, de
que existem profissionais de outras áreas que atuam tipo aproximativo, acerca de determinado fato. [...] É
e/ou atuaram com seu referencial, como médicas/os realizado especialmente quando o tema escolhido é
e psiquiatras (como Adriana “Nana” Schnake e Cláu- pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular
dio Naranjo, e, vale ressaltar, um de seus maiores hipóteses precisas e operacionalizáveis” (Gil, 2008,
expoentes, Fritz Perls, médico), musicoterapeutas p.27). Para composição dos materiais utilizados, foi
(Isabelle Frohne-Hagemann e Simon Jakob Drees, realizada uma revisão bibliográfica sistemática em
na Alemanha, além de Marisa Manchado Torres, na duas etapas, bem como a busca de materiais de for-
Espanha), arteterapeutas (Janie Rhyne), educadores/ ma não-sistemática. A primeira etapa da revisão sis-
gestaltpedagogas/os ou, ainda, no contexto estadu- temática foi direcionada às bases de dados SciELO
nidense, conselheiro pastoral (Ward A. Knights Jr.). Brasil, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Banco de
Contudo, se compreendemos que a Gestalt-te- Teses e Dissertações da Capes e Periódicos da Capes;
rapia é uma prática psicoterapêutica, não haveria e a segunda, para os periódicos específicos da área
uma restrição a outras/os profissionais no Brasil? de Musicoterapia: a Revista Brasileira de Musicote-
Na página virtual do Conselho Federal de Psicologia rapia (ISSN 2316-994X) e a Revista InCantare (ISSN
(sem data), é informado que: 2317-417X).
Os descritores utilizados na primeira etapa
O Conselho Federal de Psicologia regulamenta a da revisão bibliográfica sistemática foram “gestalt
atuação do psicólogo na psicoterapia, conforme music therapy” (inglês), “musicoterapia gestáltica”
Resolução CFP-010/2000. Entretanto, de acordo (espanhol), “gestalt-musicoterapia” (português) e
com a legislação brasileira, a psicoterapia não “Gestalt-Musiktherapie” (alemão). Considerando a
é atividade privativa de psicólogos, podendo ser escassez de materiais, não foi estabelecido nenhum
praticada por outros profissionais, desde que período de tempo para o levantamento, e foram in-
não utilizem o título de psicólogo (sem pagina- cluídos na amostra todos os trabalhos encontrados.
ção, grifo nosso). Para a segunda etapa, em periódicos da área, o termo
utilizado foi apenas “gestalt-terapia”.
Parte da discussão acerca do fazer psicotera- Para a revisão não-sistemática, foram utilizados
pêutico por Gestalt-terapeutas e a formação em Ges- materiais bibliográficos com os quais o autor da pes-
talt-terapia no Brasil foi apresentada recentemente quisa teve contato no seu percurso com a Gestalt-
no estudo de Nascimento e Ribeiro (2017). Infeliz- -terapia e com a Musicoterapia. Por fim, são feitas
mente, ainda é comum ouvir profissionais da Psico- algumas considerações e reflexões teóricas a fim de
logia afirmarem irrefletidamente que a psicoterapia buscar orientações na direção de uma Gestalt-Musi-
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se constitui como atividade privativa da profissão de coterapia.


psicóloga/o. A obra organizada por Holanda (2012),
intitulada O campo das psicoterapias: reflexões atu-
ais, traz reflexões importantes nessa direção.
Esse contexto cultural global nos aponta, por-
tanto, que é preciso compreendermos a Gestalt-te-
rapia como um corpo teórico-prático que orienta,
também, outras áreas do conhecimento além da
Psicologia, como a Musicoterapia, a Arteterapia, a
Pedagogia, a Psiquiatria, o Aconselhamento Pastoral

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Exploração 1: revisão bibliográfica sistemática

A revisão bibliográfica sistemática apresentou abaixo com o descritor utilizado, o idioma, a quan-
sete (7) resultados. Os dados são exibidos na tabela tidade de trabalhos encontrados e a base de dados:

Tabela 1
Trabalhos encontrados a partir da revisão sistemática.

Utilizando a língua inglesa, espanho- Exploração 2: investigação bibliográfica assiste-


la, portuguesa e alemã, foram recuperados mática
sete (7) resultados, quatro (4) em inglês, um (1) em
espanhol, zero (0) em português e dois (2) em ale- Como esta pesquisa se propõe a ser explorató-
mão. Contudo, os trabalhos encontrados para as ria, é necessário esquadrinhar o campo para além
línguas espanhola e alemã também constam na pes- de uma revisão bibliográfica sistemática, de forma
quisa para o descritor em língua inglesa. Assim, to- menos rígida. Por meio dessa investigação assiste-
talizam-se apenas quatro (4) trabalhos encontrados mática, outros estudos emergiram. No primeiro, um
nas bases investigadas, sendo todos eles via Perió- artigo da Musicoterapeuta estadunidense Bárbara
dicos Capes. Nas outras bases de dados, não houve Wheeler (1981), em que surge o termo gestalt music
nenhum resultado. therapist, traduzindo livremente como “Gestalt-Mu-
Os trabalhos encontrados são: 1) Gestalt music sicoterapeuta”, a autora discute a relação da Musi-
therapy: The process of dreaming in sound, de Marisa coterapia com correntes psicoterapêuticas, e situa a
Manchado Torres e Francesco Peñarubbia (2006); 2) Gestalt-terapia entre elas. Afirma que:
Gestalt music therapy, de Fritz Hegi (2001); 3) Group
music therapy with psychosomatic patients in a Ges- Tal como acontece com outras abordagens te-
talt therapy context, de K. Meyer (1999); 4) Schools of rapêuticas, o Gestalt-musicoterapeuta verá o
music therapy, de Hans-Helmut Decker-Voigt (2001). comportamento perturbado dentro do contex-
Os quatro resultados aparecem na categoria “Ou- to dessa teoria. O objetivo da terapia será au-
tros”, não se configurando como artigos, nem rese- mentar a awareness sobre a experiência atual;
nhas, mas, apenas conteúdos breves. Além disso, os a música facilitará essa awareness e ajudará a
documentos estão indexados à base RILM Abstracts integrar as polaridades ou outros problemas
of Music Literature2, sendo disponibilizados apenas que interferem com a capacidade do cliente de
resumos e referências, sem acesso ao texto completo. se experienciar (Wheeler, 1981, p.13, tradução
Usando motores de busca a fim de obter mais livre).
informações sobre os documentos identificados,
foi possível verificar que os itens 2 e 4 se tratam do Seguindo nos escritos da autora, ela prossegue:
mesmo trabalho. O item 4 é o livro de Decker-Voigt “Não há referências à gestalt e à musicoterapia na li-
(2001), intitulado Schulen der Musiktherapie (Scho- teratura, mas como os processos são semelhantes, os
ols of music therapy), que possui como um de seus Musicoterapeutas podem tirar proveito das experi-
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capítulos o trabalho Gestalt-Musiktherapie (Gestalt ências de outras terapias artístico-criativas” (Whee-


music therapy), de Fritz Hegi (2001). ler, 1981, p. 13, tradução livre). Conforme a auto-
A busca nos periódicos Revista Brasileira de ra, parece ser 1981 o ano em que se inauguraria o
Musicoterapia e Revista InCantare foi realizada termo “Gestalt-musicoterapeuta”. Vale ressaltar que,
utilizando apenas o descritor “gestalt-terapia”. Foi no texto de Wheeler, são mencionados Fritz Perls e
encontrado somente o artigo A história da musico- Joseph Zinker, importantes e conhecidos Gestalt-te-
terapia na psiquiatria e na saúde mental: dos usos rapeutas dentro dos círculos de Gestalt-terapia.
terapêuticos da música à musicoterapia de Puchivai- Outra Musicoterapeuta importante na tentati-
lo e Holanda (2014), na Revista Brasileira de Musi- va de costurar a história da Gestalt-Musicoterapia
coterapia, o qual, todavia, não versa especificamente é a alemã Isabelle Frohne. Em uma conferência mi-
sobre a Gestalt-terapia, apenas a menciona. nistrada por ela, transcrita na obra Música e saúde,
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de Even Ruud, traduzida para o português, a autora rém, não menos relevantes, também emergiram: 1)
afirma que “a gestalt-terapia e a musicoterapia se ba- a citação a Perls, Hefferline e Goodman (1951) em
seiam na consciência do que está acontecendo aqui Caminhos da Musicoterapia (Ruud, 1990, p.65), e 2)
e agora, ambas são voltadas para a experimentação a citação ao trabalho de Joseph Zinker na obra Defi-
dos sentimentos” (Frohne, 1991, p. 37, grifo nosso). nindo Musicoterapia (Bruscia, 2016). Este fato apon-
Frohne-Hagemann, em seu sítio virtual3, apre- ta que esses Gestalt-terapeutas não só foram lidos,
senta uma lista de suas produções bibliográficas, como compuseram a construção teórica das obras
dentre elas um trabalho (Frohne-Hagemann, 1987) mencionadas anteriormente.
publicado no Gestalt Bulletin, uma revista da extinta
Deutsche Gesellschaft für Gestalttherapie und Kre-
ativitätsförderung (DGGK). Segundo Ladisich-Raine Música, Gestalt-terapia e Musicoterapia: alguns
(2013), ao contar a história da Gestalt-terapia na Ale- alinhavos teóricos e políticos
manha, o DGGK foi um dos grupos que lutou pelo
reconhecimento da Gestalt-terapia no sistema de A Música, apesar de não ser central nos escritos
saúde alemão, nos anos 1980, período em que houve da Gestalt-terapia, costuma aparecer timidamente
uma mudança na lei, que só admitia as abordagens em obras importantes da área, não sendo incomum
psicanalíticas, de psicologia profunda e comporta- encontrar referências ao poder da música em escri-
mental. tos de Gestalt-terapeutas. Na terceira parte da obra
Outro achado é o livro Musicoterapia gestálti- de Perls (1942/2002), em que são propostos exercí-
ca: proceso sonírico da Musicoterapeuta espanhola cios para ampliação de awareness, o autor escreve:
Marisa Manchado Torres (2006), escrito como tese “Recomendo ouvir música. Em parte alguma você
exigida pela European Association of Gestalt The- pode conferir tão efetivamente o seu poder de con-
rapy (EAGT) para ingressar como titular na associa- centração. Na concentração total, não há lugar para
ção. Nesse trabalho, a autora propõe o conceito de ambos, ouvir música e pensar ou sonhar” (p.302).
“sonírico” como algo que relaciona os sonhos (oníri- Em seus escritos autobiográficos, Perls (1969/1979)
co) com sons (sonidos). Manchado Torres afirma que também afirmava: “Eu não sei cantar muito afinado.
sonírico significa “esse estado de sonho, de outro Ouvi música e sons aí, e não senti necessidade de
estado de consciência que releva o inconsciente, o preencher os sons com palavras. Sei que há música
não-lógico, não-compreensível pela razão (...) jogo no vazio fértil” (p. 173, grifos nosso).
de palavras entre o sonho-sonhar e o som-sonoro” Na entrevista realizada por Daniel Rosenblatt,
(2006, p.14). Laura Perls (1994) também destacou a importância
Situando brasileiros, é possível mencionar o que a música teve em seu desenvolvimento como
Prof. Dr. Paulo de Tarso de Castro Peixoto, Musico- Gestalt-terapeuta:
terapeuta que, segundo dados da Plataforma Lattes,
apresentou um seminário intitulado Da relação en- D.R.: Você estava falando sobre a música como
tre a Musicoterapia e a Gestalt-Terapia (1997), na ex- um aprendizado cedo [em sua vida]. Como
tinta Associação de Gestalt Terapia do Rio de Janei- você acha que isso influenciou seu trabalho
ro. Em 2012, escreve sua obra gestalt-terapêutica A como Gestalt-terapeuta?
Estética do Contato, em coautoria com a Profª. Drª. L.P.: Bom, está ligado, realmente, com o traba-
Teresinha Silveira de Mello. Atualmente, é docente lho corporal que eu fazia desde o princípio. Pri-
da Pós-Graduação em Psicologia Clínica pela Abor- meiro quando eu tinha uns oito anos de idade.
dagem Gestáltica, do Instituto de Pós-Graduação E mais tarde com diferentes escolas de ritmo
Grupo Lusófona, no Rio de Janeiro. e dança moderna com as quais tenho estado
Ainda em solo brasileiro, é possível citar o ar- em contato durante toda minha vida. Ainda
tigo Considerações sobre a linguagem na prática clí- sigo fazendo alguns exercícios que me mantém
nica musicoterapêutica numa abordagem gestáltica, em forma, estou praticando-os em muitos dos
no qual Sampaio (2007) relaciona conceitos da se- meus grupos de formação, penso que são um
miótica, da linguagem e da Gestalt-terapia. O autor dos suportes essenciais (L. Perls, 1994, p. 20,
conceitua ainda sobre princípios importantes para a tradução livre).
E s t u d o s Te ó r i c o s o u H i s t ó r i c o s

formação da/o terapeuta, mencionando Perls, Naran-


jo, Ribeiro, Ciornai, entre outras/os Gestalt-terapeu- Discutindo o fundo estético da Gestalt-terapia,
tas importantes. No que diz respeito a sua formação, Alvim (2007) comenta como a Euritmia de Émile
o Prof. Dr. Renato Tocantins Sampaio é um Musi- Jacques-Dalcroze influenciou a vida de Laura e sua
coterapeuta brasileiro que, de acordo com dados da atuação como Gestalt-terapeuta. A autora afirma que
Plataforma Lattes, iniciou sua formação em Gestalt- o sistema “Dalcroze Eurhythmics de Treinamento
-terapia no Instituto de Gestalt-terapia de São Paulo, Musical, buscava transformar o sentido rítmico em
no ano de 2005, interrompendo-a em 2008. experiência corporal, o que significava experimen-
Na busca assistemática por Gestalt-Musicote- tar a música pelo movimento corporal. Essa foi uma
rapia, outros dois achados menos expressivos, po- grande influência para a Gestalt-Terapia” (p. 17). No

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Gestalt-Musicoterapia no Brasil: Explorando o Campo

mesmo trabalho, a autora afirma ainda que ritmo e tiva, mas cantada a duas vozes produz grande
musicalidade faziam parte não só da vida de Laura, efeito) (Zinker, 1977/2007, p.46, 57)4.
como de Fritz. Nesses trechos, Zinker parece compreender
Além destas referências, é possível mencionar claramente o que é conhecido por musicistas e
as de Polster e Polster (1973/2001), que fazem uso de musicoterapeutas: a música possui propriedades e
conceitos específicos da teoria musical para exem- efeitos terapêuticos. Ao cantar em conjunto com as
plificar conceitos gestalt-terapêuticos. Um exemplo pessoas que atendia, favorecia a ampliação de awa-
aparece quando tentam elucidar a noção de situação reness, trabalhava as relações com o corpo e forta-
inacabada: lecia os vínculos terapêuticos. Talvez os conceitos
específicos da teoria musical passem despercebidos
Situações Inacabadas - Existe uma história aos olhos (e aos ouvidos) de Gestalt-terapeutas sem
apócrifa, às vezes atribuída a Bach, Handel ou conhecimento formal da música e de seus elemen-
Haydn, em que o maestro idoso se prepara para tos, porém, apontam como é possível pensar entrela-
dormir e ouve um amigo tocando o clavicór- çamentos de tais saberes.
dio no andar de baixo. O amigo toca de modo Apesar destas referências, podemos nos debru-
muito belo, e a música cresce, mas termina çar um pouco mais sobre as relações entre música
abruptamente, numa nota dominante! Bem, na- e Gestalt-terapia, e especificamente sobre Gestalt-te-
quela época as notas dominantes eram sempre rapia e Musicoterapia. Retomando Bruscia (2016) e
resolvidas passando-se para a tônica e para a as quatro experiências musicais, uma Gestalt-Musi-
nota final. O maestro, agitado, vira de um lado coterapia poderá pensar improvisação, re-criação,
para o outro na cama sem conseguir dormir, composição e audição com foco na promoção de
até que desce as escadas e toca sua resolução awareness, na ampliação do contato da/o partici-
no clavicórdio. Todas as experiências ficam em pante consigo e com o meio, no desenvolvimento de
compasso de espera até que a pessoa as finalize autossuporte, na integração de polaridades, no esta-
(Polster & Polster, 1973/2001, p.52). belecimento e manutenção de relações horizontali-
zadas etc. Além disso, a(o) Gestalt-Musicoterapeuta
No excerto, as noções de dominância e resolu- também poderá compreender de forma organísmica
ção musical citadas pelo casal Polster fazem parte da os ajustamentos criativos de sua/seu participante
teoria musical e são utilizadas para exemplificar um nas diversas formas sonoro-musicais apresentadas
conceito fundamental em Gestalt-terapia. Vale lem- no setting musicoterapêutico.
brar que, apesar disso, há outros exemplos na obra Uma leitura gestalt-terapêutica pode auxiliar
sobre as situações inacabadas, não sendo necessária a(o) Musicoterapeuta a olhar o campo em que a(o)
a teoria musical para exemplificá-las. Outras partes participante se encontra a partir de outras perspecti-
da obra Gestalt-terapia integrada trazem trechos se- vas. Por exemplo, entendendo a complexidade a par-
melhantes como as conceituações acerca da função tir das noções de valência positiva e negativa (Teoria
de contato (p.155). Nesse capítulo, Polster e Polster de Campo) na escolha ou recusa de instrumentos
(1973/2001) usam conceitos de apoio da voz, respira- musicais por seus participantes, na elasticidade ou
ção, suporte, ressonância, fisiologia da voz cantada, fixidez da formação figura-fundo (Psicologia da Ges-
timbre (voz metálica) e afins, conceitos extremamen- talt) que emerge na proposição do repertório musi-
te utilizados na prática e ensino do canto e de técni- cal, da totalidade organísmica (Teoria Organísmica)
ca vocal. O fato é que ambos estes autores pareciam na forma como cada indivíduo canta ou se expressa
ter bastante proximidade com conceitos da música. musicalmente pela voz, ou ainda identificando as
Outro Gestalt-terapeuta que traz a música de formas neuróticas e psicóticas (Mecanismos de evi-
forma bastante presente em seus escritos é Joseph tação do contato) como o contato é interrompido e
Zinker. No seu trabalho, é possível encontrar relatos como isto se evidencia na experiência musical de
clínicos em que cantava juntamente com suas/seus forma singular.
clientes e as/os incentivava a fazer o mesmo. Exem- Além disso, a(o) Musicoterapeuta alicerçada(o)
plos aparecem nos seguintes trechos: em bases que sustentam a Gestalt-terapia poderia
utilizar-se de um olhar compreensivo e descritivo
E s t u d o s Te ó r i c o s o u H i s t ó r i c o s

Após uma solicitação que eu não sabia se ela (Fenomenologia) para pensar as experiências sono-
atenderia, Katherine se prontificou a cantar ro-musicais vividas neste setting musicoterapêutico,
para mim e, durante algumas sessões, nosso bem como para refletir sobre sua atuação no campo
trabalho se concentrou em desenvolver sua da saúde mental a partir de concepções psicopato-
consciência corporal enquanto cantava. [...] lógicas diferentes da tradição psiquiátrica clássica.
(Começo a cantar em homenagem as nossas de- Contudo, para que isto seja possível, é necessá-
pressões) [...] (Michael começa a cantar junto rio formação na área. Por isso, apresentamos como
comigo) [...] (Para minha grande surpresa Mi- dado preliminar da pesquisa doutoral do autor um
chael começa a cantar também fazendo o con- levantamento acerca dos Institutos que ofereceram
traponto) [...] (A letra não é especialmente cria- formações/especialização/aperfeiçoamentos em Ges-

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Lázaro Castro Silva Nascimento

talt-terapia no Brasil, no período de 2012 a 2018. nhecimento do tema? Mesmo que nas bases curri-
Estas informações se mostram relevantes para a dis- culares das graduações em Musicoterapia no Brasil
cussão traçada. existam disciplinas de técnicas e abordagens psico-
Dos 47 institutos que fizeram parte do levanta- terapêuticas, ainda parece incomum que se discuta
mento, distribuídos nas cinco (5) regiões brasileiras, sobre Gestalt-terapia ou psicoterapias humanistas
apenas quatro (4) oferecem, explicitamente em seus e compreensivas. Mais pesquisas nessa direção se
meios de comunicação, formação para profissionais mostram necessárias.
que não sejam psicólogas/os e/ou psiquiatras, estan- As relações entre Musicoterapia e Gestalt-tera-
do estes três cursos concentrados na região sudes- pia são diversas tanto na constituição teórica quanto
te, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de no fazer. É reconhecido o potencial criativo da abor-
Janeiro. Os cursos são: 1) “O Universo Gestáltico”, dagem gestáltica, bem como é evidente a diversida-
curso livre ofertado pelo Instituto de Gestalt-terapia de na práxis musicoterapêutica. Combinar ambas de
de São Paulo (IGSP) em 14 meses em São Paulo; 2) forma consistente e organizada pode impactar posi-
“Especialização em Gestalt”, pós-graduação lato sen- tivamente as pessoas que atendemos servindo como
su ofertada pela Escola Gestalt Viva Cláudio Naranjo caminhos de ampliação de fronteiras e ressensibili-
em 24 meses, no Rio de Janeiro; 3) “Formação em zação à vida.
Gestalt-terapia” do Instituto Gestalt de Vanguarda A Gestalt-Musicoterapia, apesar de potente, pa-
Claudio Naranjo com 36 meses, em Minas Gerais e rece ainda marginalizada tanto no espaço musicote-
São Paulo; 4) “Formação em Gestalt-terapia” do Ins- rapêutico, quanto nos espaços gestalt-terapêuticos.
tituto de Gestalt de Curitiba com 12 meses. Ampliar os campos de alcance da abordagem ges-
Isso significa que, mesmo que um/a Musico- táltica cria correntes que podem fortalecer todas as
terapeuta graduada/o deseje realizar formação em áreas envolvidas. Como nos ensina Robine (2005),
Gestalt-terapia/Abordagem Gestáltica, no Brasil en- ao questionar se “A gestalt-terapia terá a ousadia de
contrará um campo ainda fechado. Muito provavel- desenvolver seu paradigma pós-moderno?”, no fun-
mente isto se dá por irreflexão de parte das(os) coor- do, o convite da pós-modernidade é sobretudo um
denadoras(es) de institutos/centros formadores com convite ao desconstruir. Urge o convite para que a
pensamentos ortodoxos de que a o trabalho terapêu- Gestalt-terapia brasileira se amplie, a fim de poten-
tico é fazer exclusivo de profissionais da psicologia e cializar-se e difundir-se como merece, por toda sua
psiquiatria, como mencionado anteriormente. riqueza e seu potencial transformador.
Um ponto importante a se destacar é o fato da
Associação Brasileira de Gestalt-terapia & Aborda-
gem Gestáltica (ABG) reconhecer em seu estatu- Referências
to oficial a possibilidade de profissionais de áreas
afins à Psicologia se associarem como membros. Isto
aponta que há um reconhecimento, ainda tímido, de Alvim, M. B. (2000). Contato e cultura organiza-
cional: ensaio para um modelo psicológico de
que a formação em Gestalt-terapia irradiou para ou-
análise organizacional na perspectiva da abor-
tros campos de atuação. dagem gestáltica (Dissertação de Mestrado em
Psicologia). Instituto de Psicologia da Universi-
dade de Brasília, Brasília, DF.
Considerações Finais
Alvim, M. B., & Ribeiro, J. P. (2005). A cultura como
Os Institutos que oferecem formação em Gestal- o self da organização: uma abordagem gestálti-
t-terapia no Brasil ainda possuem, em sua maioria, ca. Psicologia, 5, 197-226.
a leitura de que os seus cursos só podem ser reali- Alvim, M. B. (2007). O fundo estético da Gestalt-
zados por psicólogas/os e, em alguns casos, também Terapia. Revista da Abordagem Gestáltica, 13(1),
por psiquiatras. Cabe um posicionamento político 13-24. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.
das/os coordenadoras/es acerca deste fenômeno: re- org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
conhecer a abertura da Gestalt-terapia para outros 68672007000100002&lng=pt&tlng=pt.
campos fora da Psicologia é torná-la mais potente
E s t u d o s Te ó r i c o s o u H i s t ó r i c o s

e rica, fertilizando práticas diversas e promovendo Brasil (2017). Portaria nº 849, de 27 de março
de 2017. Inclui a Arteterapia, Ayurveda,
conceitos tão caros para nós, Gestalt-terapeutas. Isto
Biodança, Dança Circular, Meditação,
parece combinar melhor com as noções de totalida- Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia,
de e integração que existem no bojo do pensamento Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala,
gestalt-terapêutico e de seu fazer. Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à
Apesar disso, vale também o questionamento Política Nacional de Práticas Integrativas e
acerca da pouca publicação de Musicoterapeutas Complementares. Brasília, DF. Disponível em:
buscando tal interface com a Gestalt-terapia. Dar- http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/
-se-ia isto por se tratar de um campo pouco aberto documentos/prt_849_27_3_2017.pdf.
a essas/es profissionais e/ou por desinteresse/desco-

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‘Notas de fim’

1 Disponível na Plataforma Sucupira (https://sucupira.capes.gov.br).

2 Répertoire International de Littérature Musicale (RILM) é uma base de dados referencial internacional, que reúne informações de trabalhos na
área de música desde os anos 1967.

3 Disponível em: http://frohne-hagemann.de/publikationen.

4 Vale ressaltar que, apesar do autor utilizar a música como recurso terapêutico, dentro de um processo terapêutico, isto não se torna uma prática
musicoterapêutica, uma vez que não é realizada por Musicoterapeuta qualificada(o), nem possui objetivos musicoterapêuticos bem delineados.

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