Omissoes Na Interpretacao Simultanea de
Omissoes Na Interpretacao Simultanea de
Omissoes Na Interpretacao Simultanea de
FLORIANÓPOLIS
2014
Diego Mauricio Barbosa
FLORIANÓPOLIS
2014
Diego Mauricio Barbosa
_________________________________
Profa. Dra. Andréia Guerini
Coordenadora do Programa
Banca examinadora:
_________________________
Prof.ª Dr.ª Ronice Müller de _________________________
Quadros, Orientadora
Universidade Federal de Santa Prof.ª Dr.ª Rachel Sutton-Spence,
Catarina Universidade Federal de Santa
Catarina
_________________________
_________________________
Prof.ª Dr.ª Silvana Aguiar dos
Profº. Drº. Markus J. Weininger,
Santos,
Universidade Federal de Santa
Universidade Federal de Santa
Catarina
Catarina
AGRADECIMENTOS
EI – Estudos da Interpretação
ETILS – Estudos da Tradução e Interpretação da Língua de Sinais
ILS – Intérprete de Língua de Sinais
ILO – Intérprete de Língua Oral
IS – Interpretação Simultânea
ISLS – Interpretação Simultânea de Língua de Sinais
Libras – Língua Brasileira de Sinais
LA – Língua Alvo
LF – Língua Fonte
LP – Língua Portuguesa
LS – Língua de Sinais
TF – Texto Fonte
TILSP – Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais/Língua
Portuguesa
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................. 17
1.1 JUSTIFICATIVA............................................................... 19
1.2 OBJETIVOS....................................................................... 23
2 RECONHECENDO O TERRITÓRIO........................... 25
2.1 QUALIDADE NA IS.......................................................... 25
2.2 DEMANDAS E CONTROLE NA INTERPRETAÇÃO
SIMULTÂNEA DE LÍNGUA DE SINAIS (ISLS) DE
DEAN E POLLARD (2001)............................................... 30
2.3 MODELO DOS ESFORÇOS DE DANIEL GILE............ 40
2.4 DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIA NA IS............................ 43
2.4.1 Tipos de Estratégias Linguísticas na IS.......................... 44
3 ESTUDOS DA OMISSÃO NA IS.................................... 47
3.1 VISÃO TRADICIONAL................................................... 47
3.2 VISÃO CONTEMPORÂNEA........................................... 49
3.3 CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA 55
INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA DA LÍNGUA DE
SINAIS – ISLS PARA OS ESTUDOS DA OMISSÃO.....
4 METODOLOGIA............................................................. 63
4.1 TIPO DE PESQUISA E ABORDAGEM DE PESQUISA. 63
4.2 O RECORTE E O CONTEXTO DA PESQUISA.............. 63
4.2.1 Interpretação de conferência........................................... 64
4.3 A SELEÇÃO DO CORPUS DA PESQUISA.................... 68
4.4 OS SUJEITOS.................................................................... 68
4.5 O SOFTWARE ESCOLHIDO PARA A PRÉ-ANÁLISE.. 69
4.6 PRÉ-ANALISE DO CORPUS............................................ 71
4.7 ENTREVISTAS RETROSPECTIVAS............................. 72
4.8 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DOS DADOS.................. 75
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................... 77
5.1 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DE 79
COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA (L1 E L2 DO ILS) E
COMPETÊNCIA REFERENCIAL....................................
5.2 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DE 82
COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA (MODALIDADE DA
LÍNGUA)............................................................................
5.3 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DE 85
COMPETÊNCIA TRADUTÓRIA.....................................
5.4 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DE
TRADUÇÃO CULTURAL E EXPANSÃO DA
INTERPRETAÇÃO............................................................ 87
5.5 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DA
CONCENTRAÇÃO (PRODUÇÃO DA
INTERPRETAÇÃO E INTERAÇÃO COM O ILS DE
APOIO)............................................................................... 89
5.6 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DO
JULGAMENTO SOBRE O DISCURSO........................... 91
5.7 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DO
DISCURSO DO PALESTRANTE (SOTAQUE E
INCOMPREENSÃO DA FALA)....................................... 92
5.8 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DA
DENSIDADE LEXICAL.................................................... 93
5.9 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DA
RECEPÇÃO AUDITIVA FALHA E NERVOSISMO
(PELO CONTEXTO E PELO PÚBLICO
ENVOLVIDO).................................................................... 97
5.10 OMISSÕES POR CAUSA DA DEMANDA DO LAG 100
TIME (EXCESSIVO E CONTROLE)...............................
6 CONCLUSÕES................................................................. 105
REFERÊNCIAS............................................................................. 109
16
17
1 INTRODUÇÃO
1
Este tópico será tratado na subseção 2.2, mas, para o momento, o conceito de
demanda (demand no original), neste caso, traz o sentido de fatores que
influenciam as decisões dos intérpretes.
2
Para maiores informações consultar Weininger (2009).
3
Para maiores informações ver Pöchhacker (1995).
18
intérprete, pois o público alvo espera receber tudo que está sendo dito na
LF ipsis litteris em sua língua através da interpretação.
Por esta visão tradicional, ao menor sinal de interferência do
intérprete no discurso, o público alvo tende a avaliar a interpretação de
forma negativa, desacreditando o trabalho do profissional, não levando
em consideração as demandas que influenciam as decisões dele durante
o ato interpretativo.
No decorrer do processo interpretativo, o intérprete faz escolhas
para alcançar seu objetivo, que é efetivar a comunicação entre sujeitos
que querem se comunicar, mas que possuem línguas diferentes. No
entanto, este profissional sofre inúmeras pressões, sendo o tempo uma
das principais, e está sujeito a cometer equívocos nas decisões tomadas,
o que ocasiona omissões no conteúdo do discurso da LF, podendo
produzir um discurso com algumas lacunas para o público alvo.
Contudo, os equívocos recorrentes no processo interpretativo não
devem servir de base para o julgamento da qualidade de uma IS, que
deve ser medida pelos envolvidos no evento interpretativo pelo alcance
do objetivo comunicativo. Esta perspectiva é corroborada por Pym
(2008, p. 6)4:
4
Tradução nossa, salvo indicação.
19
1.1 JUSTIFICATIVA
5
No capítulo 2, na subseção 2.2, serão discutidas as demandas apresentadas por
Dean & Pollard (2001).
21
1.2 OBJETIVOS
2 RECONHECENDO O TERRITÓRIO
2.1 QUALIDADE NA IS
6
Para maiores informações ver Pöchhacker (2010).
26
Pöchhacker (2001) diz que estes critérios são voltados ao produto final,
orientados por uma perspectiva de tradução literal.
Ao observarmos estes critérios, podemos inferir, mais uma vez, o
desconhecimento por parte dos usuários sobre as demandas que
permeiam as escolhas do intérprete, impossibilitando uma reprodução da
LF para a LA que faça sentido para o público alvo.
Além destes critérios observados, Pöchhacker (2001) acrescenta
que na literatura da área (GILE, 1991, p. 198) existe a hipótese de o
intérprete “representar plenamente” o produtor do Texto Fonte (TF) em
seus interesses e intenções.
Outro critério levantado pelo autor vai além de olhar para a
produção na LA ou a reprodução exata dos “interesses e intenções” do
autor do TF, mas observar a eficiência na interação comunicativa. Sendo
assim, Pöchhacker (2001) diz que, de uma forma geral, a qualidade na
interpretação é “medida” pelo êxito do evento comunicativo.
A partir destes critérios apresentados, o pesquisador declara que
eles se relacionam diretamente com concepções sobre a função do
intérprete, que vai desde o processamento do texto à ação na interação
comunicativa. Para ilustrar estes critérios, Pöchhacker (2001) apresenta
a figura reproduzida abaixo:
29
7
Do original Demand-Control Theory.
31
não são estáticas em seus contextos, por isso, não é apropriado rotular
contextos com níveis estáticos de demanda. Eles exemplificam esta
última questão dando duas situações: a primeira é uma interpretação
legal e a segunda é uma interpretação na formatura de uma criança na
pré-escola que tem os pais surdos.
À primeira vista, quando imaginamos este contexto inicial,
inferimos que é a situação com a maior possibilidade de surgir
diferentes tipos de demanda, porém, neste exemplo, todos os envolvidos
na interpretação compartilham conhecimentos sobre as especificidades
da língua e cultura surda. O sujeito surdo em questão é politizado o
suficiente para enfrentar essa situação de maneira natural e o intérprete
tem formação na área jurídica, ou seja, todos os fatores favorecem para
que o ILS tenha total controle sobre a situação.
Na segunda situação, existem várias câmeras filmadoras
apontadas para o intérprete; o coral formado pelos alunos canta de forma
incompreensível e neste momento os pais pedem para o intérprete
continuar sinalizando para poderem filmar; no momento em que o filho
do casal surdo tenta fazer o discurso de formatura ele se emociona e
começa a chorar e os pais aflitos pedem para o intérprete segurar o outro
filho de três meses para irem acalmar o filho que está chorando, ou seja,
demandas que são maiores que o controle do intérprete sobre a situação.
Dean e Pollard (2001) concluem que tanto os resultados positivos
quanto os negativos de um determinado trabalho não são determinados
apenas pela exigência do trabalho em si, mas pela combinação da
exigência e do poder de decisão que o sujeito tem para resolver. Os
autores ainda revelam que, na maior parte das profissões, o poder de
decisão (controle) do profissional é na mesma proporção ou maior que
as demandas existentes e este controle é regido, também, pelo código de
ética profissional.
Todavia, os autores destacam que a profissão do intérprete é a
única em que, durante todo o processo formativo do profissional e após
concluí-lo, ele é orientado a não exercer qualquer tipo de decisão além
da categoria de demandas linguísticas (tabela 1), que têm relação direta
com o trabalho de interpretação. Prova disso é o código de ética do
Registro de Intérpretes para Surdos8 (RID, 1994), sendo um dos mais
importantes dos Estados Unidos da América e um dos mais citados em
publicações da área a nível mundial. Na época, analisado pelos autores,
havia uma menção clara de que o intérprete não poderia exprimir
8
No original, Registry of Interpreters for the Deaf.
37
9
Disponível em: <http://www.acatils.com.br/wp-
content/uploads/2013/10/CÓDIGO-DE-ÉTICA-FEBRAPILS.pdf>.
10
Guia-intérprete.
39
IS = A + M + P + C
11
Para maiores informações ver Gile (1995).
12
Ou no original tightrope.
42
R+M+P+C
R + M + P + AGE + IIS + C
13
No prelo.
14
Do original Self-Management in Space.
43
15
Do original Online Interaction with Deaf persons.
44
16
A discussão iniciada pela autora servirá como base para nossa discussão no
próximo capítulo.
46
47
3 ESTUDOS DA OMISSÃO NA IS
17
Para maiores detalhes ver Barik (1973).
49
18
Para maiores informações ver Luciano (2005).
54
19
Para maiores detalhes ver Cokely (1986).
56
4 METODOLOGIA
20
Fonte: <http://www.congressotils.com.br/evento.html>.
64
21
Para maiores detalhes ver Santos (2013).
65
22
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>.
23
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm>.
67
4.4 OS SUJEITOS
Vale destacar que para este tipo de análise, em que cada milésimo
de segundo faz a diferença, esse software foi a melhor escolha, pois nos
71
24
Para maiores informações ver Braun, Clarke (2006).
76
77
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Competência Linguística
1 – L1 e L2 do ILS
a – O ILS teve dúvidas com o significado de algumas palavras da
Língua Portuguesa (LP) e optou por omiti-las;
b – O ILS teve dúvidas de como interpretar a informação que
estava recebendo da LF, no caso a LP, para a Libras.
Competência Referencial
a – O ILS não conhece alguns termos técnicos apresentados pelo
palestrante, dificultando a interpretação e resultando em
omissões conscientes.
Modalidade da Língua
a – O ILS escuta a sentença, mas, por estar produzindo o
discurso para a LA (construindo o discurso no espaço de
sinalização), não dá tempo de processar a informação que está
chegando e acaba perdendo esta nova informação;
83
25
De acordo com Quadros (2004, p. 9): Modalidades das línguas – oral-
auditiva, visual-espacial, gráfica-visual. As línguas apresentam diferentes
modalidades. Uma língua falada é oral-auditiva, ou seja, utiliza a audição e a
articulação através do aparelho vocal para compreender e produzir os sons que
formam as palavras dessas línguas. Uma língua sinalizada é visual-espacial,
quer dizer, utiliza a visão e o espaço para compreender e produzir os sinais que
formam as palavras nessas línguas. Tanto uma língua falada como uma língua
sinalizada podem ter representações numa modalidade gráfica-visual, ou seja,
podem ter uma representação escrita.
84
26
No prelo.
27
Do original Self-Management in Space.
28
Do original Online Interaction with Deaf persons.
85
Competência Tradutória
a – O ILS foca a sua concentração na produção do discurso na
LA e isso faz com que a recepção do discurso da LF seja
omitido.
Tradução Cultural
88
Expansão da Interpretação
a – O ILS opta por expandir o discurso na LA para deixar a
mensagem mais clara na LA, aumentando o lag time em relação
à LF e por consequência algumas omissões ocorreram.
Concentração
1 – Produção da Interpretação
a – O ILS prende a sua concentração na produção da
interpretação e não recebe o discurso da LF.
2 – Interação com o ILS de Apoio29
a – O ILS não consegue decifrar uma sentença linguística e
busca essa informação com o ILS de apoio ou busca um sinal
específico da Libras com o ILS de apoio, o que faz sua
concentração ser desviada para este novo esforço, fazendo com
que ele “desligasse” a recepção da LF e omitisse as informações
que chegaram neste momento.
29
De acordo com o Registro de Intérpretes para Surdos (RID): Equipe de
interpretação é a utilização de dois ou mais intérpretes que funcionam como
membros iguais de uma equipe, girando responsabilidades em intervalos pré-
estabelecidos, e dando apoio e feedback para o outro.
<http://www.rid.org/userfiles/File/pdfs/Standard_Practice_Papers/Team_Interpr
eting_SPP.pdf>.
91
Discurso do Palestrante
1 – Sotaque
a – O ILS teve dificuldade com a fala do palestrante, que tinha
um forte sotaque de uma determinada região do Brasil que era
desconhecida do ILS, que não o conhecia e nem conseguiu ter
contato pessoalmente com ele.
2 – Incompreensão da Fala
a – O ILS escuta uma determinada palavra mas não consegue
decifrar o seu significado, optando por omitir.
Densidade Lexical
a – O ILS se depara com a fala do palestrante apoiada na leitura
de uma citação direta e opta por tentar interpretar a essência do
texto, selecionando algumas partes para interpretar e omitindo
outras conscientemente.
Lag time
1 – Lag time – Excessivo
a – O ILS esquece a informação por seu lag time estar
aproximadamente em 10 segundos em relação à LF e, ao olhar
para o material de apoio do palestrante (Power Point), o que ele
consegue captar deste material ele sinaliza, porém esta
informação não foi produzida pelo palestrante;
b – O ILS esquece a informação por seu lag time estar
aproximadamente em 10 segundos em relação à LF e tenta fazer
a relação da fala do palestrante com o que ele leu no resumo da
palestra e produz um discurso para a LA, porém esta informação
não foi produzida pelo palestrante;
c – O ILS omite mais de uma sentença por seu lag time estar
aproximadamente em 10 segundos em relação à LF sendo que o
palestrante faz referência ao material de apoio (Power Point) e,
para não perder a nova informação, o ILS escolhe omitir a
informação que estava sendo processada e iria produzir para
conseguir acompanhar o que o palestrante está apontando.
6 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
GISH, S. I understood all the words – but I missed the point: A goal-to-
detail/detail-to-goal strategy for the text analysis. In: New Dimensions
in Interpreter Education: Curriculum and Instruction, p. 125, 1986.
SITES CONSULTADOS
http://www.rid.org
http://translit.ie