COMARÚ, F. BARBOSA, B. Movimentos Sociais e Habitação
COMARÚ, F. BARBOSA, B. Movimentos Sociais e Habitação
COMARÚ, F. BARBOSA, B. Movimentos Sociais e Habitação
Francisco Comarú
Benedito Barbosa
Salvador, 2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Gerente Executiva Equipe Design
Maria Emília Batista Cordeiro
Reitor: João Carlos Salles Pires da Silva Supervisão: Alessandro Faria
Vice-Reitor: Paulo César Miguez de Oliveira Gerente Executiva Escola de Habitação Editoração / Ilustração:
Ana Carolina Rabelo de Castro Matos
Pró-Reitoria de Extensão Universitária
Ana Paula Ferreira; Marcos do Nascimento
Pró-Reitora: Fabiana Dultra Britto Gestão do Desenvolvimento Filho; Moema dos Anjos; Sofia Casais;
Territorial
Sumário
Escola de Administração Ariana Santana; Camila Leite; Marcone
Coordenadora: Pereira; Vitor Sousa; Flávia Moreira
Diretor: Horacio Nelson Hastenreiter Filho. Gerente de AVA: Jose Renato Oliveira
Profa. Tânia Maria Diederichs Fischer
Centro Interdisciplinar de Design de Interfaces: Raissa Bomtempo
Desenvolvimento e Gestão Social Design Educacional: Agnes Bezerra Freire
Tânia Maria Diederichs Fischer de Carvalho; Coordenação Executiva:
Rodrigo Maurício Freire Soares; Supervisão Equipe Audiovisual
Superintendência de Educação a Acadêmica: Renata Lara Fonseca ;
Supervisão de Tutoria: Gizele Amorim Direção:
Distância -SEAD Conceição Haenz Gutierrez Quintana
Superintendente
Produção:
Márcia Tereza Rebouças Rangel Produção de Material Didático
Coordenação de Tecnologias Educacionais Leticia Oliveira; Ana Paula Ramos Mini currículo dos autores .....................................................6
Coordenação de Tecnologias Educacionais
Haenz Gutierrez Quintana Câmera: Valdinei Matos
CTE-SEAD Carta de Apresentação ..........................................................7
Coordenação de Design Educacional Edição:
Núcleo de Estudos de Linguagens &
Lanara Souza Deniere Silva; Flávia Braga; Irlan
Tecnologias - NELT/UFBA Nascimento; Jeferson Ferreira; Jorge Unidade I ..............................................................................11
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Coordenação Farias; Michaela Janson; Raquel Campos;
Victor dos Santos 1 - Introdução: desigualdade e injustiças históricas como
Presidente da Caixa Prof. Haenz Gutierrez Quintana ingredientes das organizações populares pela moradia ....................11
Nelson Antônio de Souza Animação e videografismos:
Projeto gráfico 2 - A explosão das periferias, exclusão e espoliação nas
Vice-Presidente Interino/ Diretor de Prof. Haenz Gutierrez Quintana Bianca Silva; Eduarda Gomes; Marcela de
Almeida; Dominique Andrade; Roberval cidades Brasileiras .................................................................................13
Habitação: Paulo Antunes de Siqueira Lacerda; Milena Ferreira
Foto de capa: 3 - Organização popular, a luta por moradia digna e pelo
Superintendente Nacional SUHEN Equipe de Revisão: Edição de Áudio: direito à cidades inclusivas ...................................................................16
Henrique Marra de Souza
Edivalda Araujo; Julio Neves Pereira Cícero Batista Filho; Greice Silva; Pedro 4 - As lutas urbanas e pela moradia digna travadas nos
Gerente Nacional GEHPA Henrique Barreto; Mateus Aragão anos 1980 com o processo de democratização da sociedade ...........21
André de Souza Fonseca Márcio Matos; Simone Bueno Borges
5 - Considerações e elementos para reflexão .....................................23
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de 6 - Referencias (Unidade I) ..................................................................25
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Anexos .....................................................................................................26
Código de Financiamento 001. Esta obra está sob licença Creative
Commons CC BY-NC-SA 4.0: esta licença permite que outros remixem,
adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam o devido Unidade II .............................................................................29
crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. I - Introdução .........................................................................................29
2 - Os movimentos e os rumos das políticas habitacionais
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) no Brasil pós Estatuto da Cidade .........................................................30
Sistema de Bibliotecas da UFBA 3 - A organização dos grupos de sem teto e a ação recente
dos movimentos de moradia ................................................................36
C728 Comarú, Francisco.
Movimentos sociais e habitação / Francisco Comarú, Benedito Barbosa. - Salvador: UFBA,
4 - A luta dos movimentos e enfrentamento a onda despejos
Escola de Administração; Superintendência de Educação a Distância, 2019. e remoções em nossas cidades .............................................................44
49 p. : il.
5 - Considerações finais ........................................................................46
Esta obra é um Componente Curricular do Curso MBA em Gestão do Desenvolvimento Referencias (Unidade II) ......................................................................47
Territorial com Ênfase em Política Habitacional na modalidade EaD da UFBA/SEAD/UAB.
ISBN: 978-85-8292-208-8
CDU: 351.778.5
Carta de
Mini currículo Apresentação
dos autores
Prezado aluno / cursando,
Francisco Comarú
Seja muito bem vindo à disciplina “Movimentos Sociais e Habitação»
de nosso curso. Esta disciplina é composta por um conjuntos de materiais
Engenheiro civil, mestre em engenharia urbana e doutor em saúde e produtos pedagógicos que têm a finalidade de introduzir e permitir o
pública, professor da Universidade Federal do ABC. Fez estágio de pós aprofundamento na temática da origem dos movimentos sociais, principais
doutorado na University College London (Londres), na Organização escolas de interpretação académica, aspectos históricos, relações com as
Mundial da Saúde e na Organização Internacional do Trabalho (Ge- políticas publicas e desafios contemporâneos.
nebra). É coordenador do Laboratório Justiça Territorial (LabJuta) da Você vai encontrar nos textos referentes às unidades I e II desta apostila,
UFABC, membro da coordenação do Centro Gaspar Garcia de Direitos referencias bibliográficas que podem permitir aprofundamentos, fotos e
Humanos e da Rede BR Cidades. imagens, sugestões de videos e filmes, e referencias da literatura popular
contemporânea. Todos esses elementos tem o propósito de permitir uma
interação multissensorial com a temática em questão, para além da leitura
dos textos.
Benedito Barbosa
Importante notar que a temática dos movimentos sociais e habitação
insere-se num campo de estudos interdisciplinares perpassando disciplinas
Bacharel em Direito, atua como Advogado popular no Centro Gaspar de áreas como arquitetura e urbanismo, sociologia, engenharia, economia,
Garcia de Direitos Humanos e na União Nacional de Moradia Popular. meio ambiente e políticas públicas.
É Mestre em planejamento e gestão do território pela UFABC e douto- Neste sentido, além da complexidade de tema, trata-se claramente de
rando no Programa de Pós Graduação em Planejamento e Gestão do um assunto em que não é possível um enquadramento a partir de uma
Território pela Universidade Federal do ABC. Foi Conselheiro do Con- única interpretação, um único ponto de vista, ou “a verdade”. Ao contrário,
selho Nacional das Cidades e fundador da Central dos Mo-vimentos Po- esse tema, como outros tantos, afetos às ciências sociais aplicadas, insere-
pulares (CMP) se num corpo de literatura em que a diversidade e visões e interpretações
e as controvérsias são praticamente inerentes, dada a natureza do objeto.
Procuramos assim trazer algumas referencias e aspectos que introduzam
o aluno neste campo abrangente que ainda merecerá muitos estudos e
pesquisas no futuro.
8 Movimentos Sociais e Habitação 9
Unidade I
Além dos efeitos dos baixos salários, viabilizados pela indústria e pelos
empregadores em geral, nota-se uma clara inadequação ou insuficiência em O Banco Nacional de Habitação - BNH, durante a ditadura militar, por sua
termos de políticas sociais de habitação. vez, havia produzido uma escala bastante significativa de conjuntos habitacionais
nas periferias das grandes cidades e regiões metropolitanas, financiando a
16 Movimentos Sociais e Habitação Unidade I 17
produção de cerca de 4 milhões de residências. A política habitacional do de Favelas do Rio de Janeiro - FAFERJ, que foi fundada em 1963, e existe até os
período caracterizou-se pela produção massiva de grandes conjuntos, em sua dias de hoje. O Movimento de Defesa do Favelado que atua na Zona Leste de São
maioria, localizados nas periferias das cidades, o que ocasionou problemas de Paulo desde a década de 1970, organiza mais 40 favelas na região onde vivem
custos de urbanização, custos de transportes, dificuldades de acesso aos serviços mais de 70 mil pessoas, entre elas as favelas mais antiga de São Paulo, como a
e equipamentos urbanos essenciais para a população residente, como creche, Favela da Vila Prudente que surgiu na década de 1940.
escolas, postos de saúde, hospitais, centros culturais e esportivos e emprego.
Um dos legados mais importantes dos Movimentos de Favelas no Brasil,
No entanto, esta concepção de produção habitacional se revelou danosa às neste enfrentamento cotidiano contra a especulação imobiliária e os violentos
cidades brasileiras, pouco acessível e caro para os trabalhadores de baixa renda. processos de remoções, sem dúvida, foi a conquista das Zonas Especiais de
Na transição final da final do regime militar, no ano de 1986 o banco foi extinto Interesse Social - conhecidas popularmente como ZEIS.
gerando um passivo para os municípios, para as companhias de habitação e para
As Zonas Especiais de Interesse Social são uma conquista do Movimento de
governo federal que administra nos dias de hoje os resultados desta política. A
Favelas, que tinha no período amplo apoio dos planejadores urbanos ativistas e
produção de grande conjuntos nas periferias, gerou mais segregação espacial e
orgânicos, de setores progressistas da Igreja Católica e das Pastorais, inseridas
mais ganhos para o capital imobiliário.
nas comunidades e periferias das cidades. As ZEIS constituíam-se à época,
uma espécie zoneamento popular, aprovado em lei municipal para evitar
principalmente que os territórios das favelas pudessem sofrer processos de
3 - Organização popular, a luta por moradia digna e pelo direito à remoção por pressão da especulação imobiliária, facilitando o acesso à moradia
cidades inclusivas e abrindo maiores perspectivas para os processos de regularização fundiária e
segurança na posse.
Do ponto de vista dos sem teto, quando tem início as primeiras formas de
organização e mobilização para melhoria das condições e investimentos em A primeira experiência de estabelecimento de ZEIS ocorreu no município
do Recife-PE, e teve início na década de 80. Em 1983, uma nova Lei de Uso
habitação?
e Ocupação do Solo da cidade reconheceu as ZEIS como parte integrante da
Com milhares de trabalhadores, que haviam sido expulsos ou deixado o cidade sem, no entanto, dispor de instrumentos de inibição da ação especulativa
campo, rumo às cidades, gerando um complexo processo de ocupação urbana, do mercado imobiliário: a lei reconhecia características particulares daqueles
com forte impacto sobre as áreas de proteção ambiental e as áreas mais frágeis das assentamentos e propunha a promoção de sua regularização jurídica, bem como
cidades. Milhares de favelas e loteamentos populares passaram a ocupar a cena a sua integração à estrutura da cidade, mas, uma vez integradas as ZEIS, as
urbana, ampliando os conflitos pelo direito à terra, num país em que a terra é um leis do mercado tratariam de estabelecer sua dinâmica normal de estruturação
dos principais ativos de concentração de riqueza, e poder político. urbana. Além disso, a lei reconhecia apenas 27 áreas como ZEIS – dentro de um
universo estimado de 200 favelas – deixando uma massa de assentamentos de
Neste contexto de dramática segregação territorial, é que surgem na cena origem espontânea sem instrumentos legais de acesso a solo e benefícios urbanos.
urbana os primeiros movimentos de contestação no final dos 1970. O primeiro (ROLNIK e CYMBALISTA, 1998, pg 01).
movimento de caráter nacional neste período, antes ainda da estruturação do
movimento da reforma urbana, (que vamos tratar mais adiante), é Movimento de
Defesa do Favelado - MDF. Em todo Brasil, especialmente nas médias e grandes A partir da experiência de Recife, outras lutas dos Movimentos de Favelas
cidades e regiões metropolitanas surgem articulações ligadas a este Movimento, com características distintas, porém com fio condutor comum de defesa do
cuja bandeira mais importante era a defesa do direito à terra. acesso à terra, se multiplicaram, em diversas cidades do Brasil como em Belo
A luta do movimentos de favelas, associada à defesa do acesso à terra, ganha Horizonte, Fortaleza, Santo André, Diadema, Santos, Porto Alegre, Belém,
presença na cena urbana no início dos ano 1980, mas existiam movimentos de entre outras. Na esteira da luta pela democratização e por cidades democráticas,
caráter regional ainda mais mais antigos, como é caso por exemplo, da Federação muitas Câmara Municipais foram cercadas e ocupadas pelos moradores das
favelas na luta por seus direitos.
18 Movimentos Sociais e Habitação Unidade 1 19
Com o intenso crescimento da população urbana, nas décadas de 1950, 1960 e 4 - As lutas urbanas e pela moradia digna travadas nos anos 1980 com
1970, nossas cidades sofrem transformações importantes sob diferentes pontos de o processo de democratização da sociedade
vista. Boa parte das estruturas de transporte por bondes cede lugar ao transporte
a pneus por meio dos ônibus urbanos (BONDUKI, 1998). Com a ausência de Neste contexto, de um processo de democratização da sociedade na década
políticas de regulação do uso e ocupação do solo, ausência de política fundiária e de 1980, sobretudo na sua segunda metade, surge o Movimento Nacional pela
planos diretores que em sua maioria não dialogavam com a realidade das cidades Reforma Urbana (MNRU) que se organiza a partir da busca da participação
(VILLAÇA, 1999) abre-se espaço para ocupação predatória e insustentável da direta da sociedade no processo constituinte (SANTOS JUNIOR, 1995).
terra por meio do avanço sobre áreas de preservação ambiental, áreas alagáveis e
“O surgimento deste movimento está estreitamente ligado à elaboração da
sujeitas a escorregamentos com claros riscos para os moradores de baixa renda
emenda popular ao projeto constitucional e, posteriormente, à realização de
que não tem condições de arcar com os custos de uma moradia nos bairros bem
fóruns nacionais debatendo as questões emergentes da política urbana no país”.
localizados. (ALVES JUNIOR, 1995, pg 44).
As práticas do parcelamento irregular e ilegal da terra urbana, a figura do
O projeto de emenda popular da Reforma Urbana no bojo da participação da
loteamento clandestino nas periferias, o clientelismo político, a ausência de
sociedade no processo constituinte, tinha como principais propostas:
políticas urbanas e os baixos salários dos trabalhadores vão abrir caminho para
a autoconstrução nos finais de semana como uma das formas predominantes de “Submeter a propriedade privada do solo urbano ao cumprimento de uma
produção da moradia por parte da classe trabalhadora nos anos 1970 e 1980. função social da cidade; assegurar no caso de desapropriações, justo pagamento
de indenização em moeda, com outra finalidade; punir, via imposto progressivo,
O mercado residencial privado, não se encontra acessível para os trabalhadores parcelamento compulsório e até desapropriação, os proprietários de solos ociosos;
pobres urbanos e a produção pública e estatal da moradia por meio do BNH e criação de usucapião especial urbano (3 anos) e usucapião coletivo; monopólio
das Cohabs apresenta inúmeros problemas e limitações, relativamente ao acesso do Estado nos transportes coletivos e a limitação do custo do transporte para os
por parte da população de baixa renda, à localização dos conjuntos, à qualidade trabalhadores, a um percentual fixo do salário mínimo; o poder de legislar por
arquitetônica e urbanística e à massificação e padronização de sua produção por parte do cidadão - iniciativa popular de projeto de lei; o controle por parte da
parte das empreiteiras envolvidas. sociedade civil e entidades populares, de projetos a serem implantados no município”
(GUIMARÃES e ABICALIL, 1990 apud ALVES JUNIOR, 1995, pg. 46)
Diante desse quadro, que se deteriora e agrava desde os anos 1970 e ao longo da
década de 1980, tanto os moradores de loteamentos periféricos auto-construídos Ao final das negociações e embates, o resultado não foi plenamente favorável,
(quer sejam clandestinos ou irregulares), quanto os moradores das favelas e mas uma vitória parcial, considerando que no capítulo “Da Política Urbana” da
cortiços começam a se organizar de forma mais sistemática e institucional em Constituição de 1988 foram aprovados em dois artigos, apenas algumas propostas
associações e sociedades de bairro, em grupos reivindicatórios e movimentos da emenda (artigos 182 e 183 da CF 1988). O texto determina que
locais de luta pelo abastecimento de água potável, pelo esgotamento sanitário, “a política de desenvolvimento urbano executada pelo poder público municipal,
pela pavimentação, pela energia elétrica, pela iluminação pública, pela drenagem, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
pela coleta do lixo e pelos serviços de transporte e mobilidade, educação, creches desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de
saúde, assistência social e cultura. seus habitantes”. No parágrafo primeiro declara que o Plano Diretor passa
Alguns grupos se organizam também pela luta pelo direito à moradia, que viria a ser obrigatório para municípios com mais de 20 mil habitantes, sendo o
“instrumento básico da política de desenvolvimento e da expansão urbana”
a ser reconhecido posteriormente na constituição, na Lei Federal do Estatuto da
(SANTOS JUNIOR, 1995, pg 47).
Cidade e em diversos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
O artigo 183, por sua vez trata da instituição do usucapião especial, que
assegura a qualquer cidadão o requerimento da propriedade onde reside após
residir por 5 anos, sem oposição ou contestação.
22 Movimentos Sociais e Habitação Unidade I 23
PÁDUA, J. A. Um Sopro de destruição. Pensamento político e crítica ambiental Mangueira, tira a poeira dos porões
no Brasil escravista, 1786-1888, Rio de Janeiro: Zahar, 2002. Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
ROLNIK, R. CYMBALISTA, R. (1998). Zonas Especiais de Interesse Social. Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões
Caderno Dicas do Instituto Polis. Desenvolvimento Urbano. São Paulo, 1998. São verde e rosa, as multidões
Disponível em: http://www.polis.org.br/uploads/497/497.pdf
Brasil, meu nego
ROLNIK, R. Guerra de lugares. A colonização da terra e da moradia na era das Deixa eu te contar
finanças. Sao Paulo: Boitempo, 2015. A história que a história não conta
SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências, O avesso do mesmo lugar
falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo, 1970-80. Rio de Janeiro: Paz Na luta é que a gente se encontra
e Terra, 2001.
SANTOS, B.S. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. São Brasil, meu dengo
Paulo: Boitempo, 2007. A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
SANTOS JUNIOR, O.A. Reforma urbana: por um novo modelo de
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento
planejamento e gestão das cidades. Rio de Janeiro: FASE/UFRJ-IPPUR, 1995.
Tem sangue retinto pisado
VILLAÇA, FlÁvio. Uma contribuição para a história do planejamento urbano Atrás do herói emoldurado
no Brasil, In: DEÁK, Csaba e SCHIFFER, Sueli. (organizadores). O Processo de Mulheres, tamoios, mulatos
Urbanização no Brasil - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999. Eu quero um país que não está no retrato
Samba-Enredo:
Letra da Mangueira
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde e rosa, as multidões
29
Unidade II
1 - Introdução
Como pudemos ver na leitura da Unidade I o Brasil passou por um dos mais
intensos processos de produção de cidades observados no mundo, durante o
século XX. Um enorme contingente populacional deixou o campo rumo às cidades
e a população nas cidades cresceu com taxas bastante elevadas. O abandono de
boa parte da classe trabalhadora à própria sorte em suas «iniciativas» de buscar
«resolver» o problema da moradia, na maior parte dos casos, sem suporte
adequado do Estado por meio de políticas públicas habitacionais e urbanas, e sem
as possibilidades de participar do mercado privado de residências voltado para
as classes médias e altas, contribuiu para a construção de gigantescos territórios
periféricos e populares onde quase tudo é precário.
Nestes territórios populares periféricos, como pode ser visto no filme «Fim de
Semana» produzido pela professora Ermínia Maricato, as casas foram literalmente
produzidas pelos próprios trabalhadores nos finais de semana com ajuda de
familiares e amigos, em terrenos parcelados inadequadamente, localizados
distantes das regiões providas de infra estrutura, serviços públicos urbanos e
da oferta de postos de trabalho. As moradias construídas com materiais mais
baratos e com arquitetura simples levam muitos anos para serem finalizadas.
Algumas vezes não chegam a ser plenamente finalizadas, mesmo após décadas
de trabalhos de autoconstrução.
A população de baixa renda, então precisa reivindicar os serviços de
abastecimento de água, energia elétrica, esgotamento sanitário, coleta de
lixo, iluminação pública, além da pavimentação, dispositivos de drenagem,
equipamentos de educação, saúde, assistência social e cultura. Neste contexto
a organização das Associações de bairros tornaram-se uma alternativa de
institucionalização destas lutas. Em muitos bairros periféricos foram construídas
sedes as associações de moradores e associação de bairro e também igrejas e
paróquias por meio do processo de mutirão.
A organização dos trabalhadores nas periferias das cidades grandes e médias, cidades e muitas conferências municipais, regionais e estaduais das cidades.
com apoio de setores da igreja católica, e em alguns casos de alguns sindicatos, Em muitas localidades, pela primeira vez na história, as pessoas se reuniram
acadêmicos e profissionais ligados à ONGs foi um dos ingredientes importantes em escolas, centros comunitários ou igrejas para discutir os problemas das suas
para a formação dos movimentos sociais de moradia que existem e atuam nos cidades e suas regiões. Isso não é pouca coisa.
dias de hoje. Uma contradição importante, no entanto, acontece. Ao mesmo tempo que
De suas lutas por bairros melhores, servidos com um mínimo de infra estrutura o movimento da Reforma Urbana nasce nas comunidades e alguns grupos de
e serviços, até as formas de organização mais amplas e abrangentes, passaram- profissionais e ativistas penetrando de forma capilar no seio de administrações
se muitos anos. De qualquer forma, no processo de redemocratização dos anos municipais até chegar a influenciar fortemente as formulações de políticas no
1980 o movimento nacional pela Reforma Urbana logrou incidir no processo Ministério das Cidades em nível nacional nos anos 2000, tem início um processo
constituinte e viabilizou dois capítulos da Reforma Urbana na Constituição de de ampliação da dependência das prefeituras, comunidades, associações e
1988. movimentos sociais de moradia, em demanda por políticas públicas, iniciativas e
As gestões municipais dos anos 1990 marcaram história, no tocante a um investimentos oriundos de Brasília.
número significativo de experiências de políticas urbanas e habitacionais A difusão de inúmeras práticas inovadoras em tantas localidades do país, que
participativas, inventivas, com alto grau de experimentação reconhecidas e caracterizou os anos 1990, foi diminuída em muito, principalmente, a partir
algumas premiadas internacionalmente. de meados da década seguinte, associada a um protagonismo muito forte e
decisivo por parte do governo federal. A aparente capacidade criadora e criativa
de formulação para as cidades por parte dos próprios municípios arrefeceu-se
2 - Os movimentos e os rumos das políticas habitacionais no Brasil pós diante da potência dos investimentos desde o governo central.
Estatuto da Cidade Uma iniciativa interessante do governo federal no âmbito do Ministério das
Cidades constituiu-se na formulação e implementação da Campanha Nacional
A promulgação da Lei Federal do Estatuto da Cidade em 2001 permitiu que pela Elaboração dos Planos Diretores participativos. De acordo com a Lei do
se vislumbrasse finalmente, mecanismos legais e instrumentos urbanísticos Estatuto da Cidade todos os municípios com mais de 20 mil habitantes ou aqueles
para colocar em prática os processos que viabilizassem a transformação das localizados em regiões metropolitanas ou em regiões de fronteiras ou em áreas
cidades em territórios mais democráticos, includentes e justos. A promessa das de especial interesse turístico, paisagístico e natural deveriam elaborar os seus
cidades mais justas e sustentáveis se daria por meio dos Planos Diretores de planos diretores participativos. E inúmeros municípios o fizeram.
cada município do país, que deveriam prever os instrumentos apropriados para
Nota-se que em alguns poucos casos, a elaboração ou revisão do plano
garantir o cumprimento da função social da cidade e da propriedade e a gestão
diretor chegou a causar disputas e conflitos de interesses entre representantes de
democrática da cidade.
diferentes grupos - tratavam-se justamente de casos em que os planos diretores
Em 2003 com a criação do Ministério das Cidades ocorre um fortalecimento propunham tocar nos interesses de grupos ligados ao capital imobiliário, por
das políticas federais e nacionais com um impacto muito grande em termos de exemplo. Na proposta do plano diretor de São Paulo de 2014, por exemplo, foram
capacidade de formulação de uma política nacional de desenvolvimento urbano e incorporados diversos instrumentos e mecanismos que tinham o potencial para
possibilidades reais do seu financiamento desde Brasília. O ministério estrutura- alterar o status de domínio sobre os investimentos e ganhos do capital imobiliário
se a partir de quatro secretarias nacionais nas áreas de habitação, saneamento na cidade. Por conta disso observou-se, de um lado, o interesse dos movimentos
ambiental, mobilidade urbana e programas urbanos.
Foram então, instituídos diversos mecanismos e instâncias de participação
da sociedade civil como o Conselho Nacional das Cidades, as Conferências das
Cidades, Audiências Públicas de assuntos de interesse urbano e das cidades e
consequentemente um sem-número de conselhos municipais e estaduais das
32 Movimentos Sociais e Habitação Unidade II
33
3 - A organização dos grupos de sem teto e a ação recente dos Nos grupos de origem, os movimentos procuram organizar atividades
relativamente simples como seminários, debates, grupos de estudos, teatro,
movimentos de moradia
entre outros. Os grupos de origem podem em eventuais momentos indicar
Com o processo de avanço da agenda da Reforma Urbana, a partir da representantes para participar de reuniões com representantes dos órgãos
Constituição de 1988, os movimentos de moradia estruturam-se também muito públicos e privados.
mais. Alguns conseguem articular-se como movimentos de abrangência nacional. As manifestações e atos públicos normalmente, costumam ocorrer na forma
O Fórum Nacional da Reforma Urbana, por exemplo, abriga além de diversas de passeata ou de uma manifestação concentrada e tem por objetivo criar maior
organizações sindicais, da universidade, e organizações não governamentais, visibilidade para o problema da habitação, chamar a atenção do poder público,
5 (cinco) movimentos nacionais de moradia congregando muitos estados da denunciar para a população como um todo, o problema da falta de moradia. A
federação. São eles: União Nacional de Luta por Moradia Popular (UNMP); manifestação pode ocorrer também no contexto de tentar impedir que ocorra
Central dos Movimentos Populares (CMP); Movimento Nacional de Luta por uma reintegração de posse, ou pelo menos negociar de modo que as famílias a
Moradia (MNLM); Confederação Nacional das Associações de Moradores serem reintegradas possam ser tratadas com dignidade e possam receber alguma
(CONAM) e Movimento de Lutas em Bairros, Vilas e Favelas (MLB). contrapartida ou melhores alternativas no processo de remoção.
O Fórum Nacional da Reforma Urbana foi criado em 1987 e é uma articulação As ocupações de terra ou de edifícios abandonados ou subutilizados acabam
nacional que reúne movimentos populares de luta por moradia e por cidades cumprindo finalizadas diferentes: chamar a atenção das autoridades e governantes
mais justas e inclusivas, associações de classe e instituições de pesquisas com a para o problema habitacional; ampliar a visibilidade do problema habitacional e
finalidade de lutar pelo direito à cidade na perspectiva de modificar o processo urbano para a imprensa e a sociedade como um todo, e chamar a atenção das
de segregação espacial e social e construção de cidades justas, inclusivas e comunidades também. A observação empírica sobre as ocupações mostra que
democráticas (FNRU, 20190). em diversos casos, o poder público promove a regularização fundiária e adquire
Com o quadro de intensa desigualdade, pobreza, exclusão e precariedades o prédio. Em muitos outros casos, quando não ocorre a aquisição do prédio, nem
dos assentamentos humanos nas cidades brasileiras os movimentos de moradia a reintegração posse, os moradores permanecem residindo no prédio por muitos
tornam-se canais importantes de reivindicação e luta pela formulação e anos. Somente para ilustrar, em São Paulo, há ocupações, cuja entrada de prédio
implantação de políticas públicas de habitação (IPEA, 2015). ocorreu há mais de 12 anos. A pressão pela reintegração de posse, no geral, se
verifica nos casos de imóveis situados em regiões de alto grau de interesse e
As reivindicações e lutas populares dos movimentos de moradia, se dão de potencial valorização imobiliária. Em localidades onde o mercado formal não
diferentes maneiras e formatos. Parte significativa dos movimentos de moradia possui interesse, a pressão pela remoção tende a ser bem menor.
organizam-se a partir de grupos de base em atividades de formação, capacitação,
mobilização e participação de negociações com órgãos do poder público, além
de atos e manifestações públicas, até ocupação de terrenos e prédios que foram
abandonados durante anos nas preferirias ou áreas centrais das cidades.
A década de 1980, por exemplo, ficou conhecida pelas significativas ocupações
de terra por parte dos sem-teto em regiões periféricas, e a partir dos anos
1990 e 2000 algumas cidades brasileiras conheceram também os processo de
ocupação de edifícios abandonados nas regiões centrais das cidades. Entre outras
circunstâncias, os movimentos de moradia também já adotaram práticas de
“ocupação relâmpago” de órgãos e instituições governamentais como forma de
pressionar o poder público, em situações de impasses ou bloqueios ou ausência
de dialogo visando retomar ou avanças em negociações com representantes.
38 Movimentos Sociais e Habitação Unidade II
39
que foram coletadas mais de 1 milhão de assinaturas, cujo projeto foi protocolado A atuação dos movimentos provoca a SPU - Secretaria do Patrimônio
na Câmara dos Deputados na ocasião de uma Caravana Nacional da Moradia da União - a criar nos estados, no âmbito de suas Superintendências, GTs
Popular, realizada por 5 mil pessoas em Brasília. Este projeto de Iniciativa estaduais para destinação de imóveis vazios para moradia popular. Após a
Popular de nº 2710/1992, tramitou na Câmara dos Deputados por mais de 13 pressão dos Movimentos de Moradia, diversos imóveis foram destinados em
anos, antes de ser aprovado em 2005, instituindo o Fundo e o Conselho Nacional diferentes cidades do país, como Vitória no Espírito Santo, Rio de Janeiro - RJ,
de habitação de Interesse Social pela Lei 11.1124/2005. Mossoró - RN, João Pessoa - PB, Floriano - PI, São Paulo - SP, Porto Alegre - RS,
Registra-se que nestes 13 anos de luta em defesa do FNHIS, foram realizadas Caruaru - PE. Muitos destes imóveis se transformaram em moradia popular,
dezenas de mobilizações e acampamentos dos movimentos de moradia em como caso do Edifício Dandara na avenida Ipiranga em São Paulo, do Edifício
Brasília para pressionar os governos e os deputados pela aprovação do projeto. Manoel Congo e da Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro, ou Edifício
No entanto, após sua aprovação em 2005, nota-se que FNHIS foi praticamente da Borges de Medeiros no centro Porto Alegre. Em diversas outras cidades
abandonado como alternativa de financiamento e destinação direta de recursos há experiências vitoriosas na destinação de terrenos públicos da União ou do
para a moradia popular. Na prática, a dificuldade está associada à excessiva INSS para Moradia Popular.
burocracia para acessar os recursos do FNHIS e também pelo fato de ter sido Outro enfoque dos movimentos de moradia neste período, além da pressão
«atropelado» pelos programas de Crédito Solidário e Minha Casa, Minha Vida, pela aprovação e regulamentação do FNHIS, é luta pela criação de um programa
operados pelo Fundo de Desenvolvimento Social - FDS e Fundo de Arrendamento federal que pudesse destinar recursos diretos para as Associações de Moradia
Residencial - FAR. para produção de Moradia Popular em regime de autogestão popular. Depois
No ano de 2001, como já mencionado, a sociedade brasileira e os movimentos de diversas mobilizações dos movimentos, o governo propõe através do FDS
assistem a aprovação do Estatuto da Cidade, lei federal que regulamentou o a criação do Programa de Crédito Solidário, que permitiria que as próprias
Capítulo da Reforma Urbana nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal. Associações Comunitárias poderiam ser gestoras de projetos de moradia social,
atendendo a sua base organizada em projetos de habitação social.
Na prática a agenda, dos movimentos originalmente voltadas para bandeiras
de escala nacional, seriam remetidas às pautas locais, considerando que boa parte Esta iniciativa permitiria ainda que, de forma embrionária, a gestão
dos instrumentos consagrados no Estatuto da Cidade e na medida Provisória comunitária do projeto através da participação direta de seus beneficiários.
2220/2001, apontam para atuação e inserção nos territórios dos municípios. Os valores por unidade habitacional do programa no ano de 2005, quase
inviabilizava a compra do terreno e a construção das unidades que dependia,
A agenda proposta pelo Estatuto da Cidade nos empurraria naturalmente para
em grande medida, de contrapartida adicional das famílias e das prefeituras
pautas mais municipalistas. Em 2003, com a vitória de Luiz Ignácio Lula da Silva
locais ou governos estaduais. No ano de 2006 diversos movimentos organizam
para Presidência da República é criado é o Ministério das Cidades e na sequência,
mobilizações e acampamentos em frente à escritórios da Caixa Econômica
instituído por força e articulação dos movimentos da reforma urbana, o primeiro
Federal em diversos locais do país, para exigir aumento de repasse sobre o
processo nacional de Conferências da Cidades, com a consequente criação do
valor das unidades habitacionais, no âmbito do programa.
Conselho Nacional das Cidades.
No marco do Conselho Nacional das Cidades e dos processos de Conferências,
os movimentos abrigados no Fórum Nacional Reforma Urbana, passam a
pressionar o governo por pautas setoriais no âmbito da mobilidade, do saneamento
e da moradia. No campo da moradia aparecem, entre outras, reivindicações
associadas aos imóveis do INSS e da União e é constituído um Grupo de trabalho
(GT) nacional de terras públicas para analisar e tentar viabilizar a destinação de
terrenos e imóveis públicos para moradia social.
44 Movimentos Sociais e Habitação Unidade II
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Os movimentos de moradia, apoiados por grupos de assessorias técnicas, COMARU, FA. Áreas centrais urbanas e movimentos moradia: transgressão,
aprenderam a negociar projetos e administrar obras de mutirão e atualmente confrontos e aprendizados. Revista Cidades, v. 13, p. 71-93, 2016. Disponível em:
participam de redes mais amplas tanto em nível nacional quando internacional. http://revista.fct.unesp.br/index.php/revistacidades/article/view/5374/3957
Como todos os atores sociais, os movimentos não estão livres de contradições EARLE, L. 2012. From Insurgent to Transgressive Citizenship: Housing, Social
e inúmeras dificuldades e limitações. Para manter viva a sua permanente Movements and the Politics of Rights in São Paulo. In Journal of Latin American
capacidade de mobilização de massa e legitimar-se em relação às suas bases, os Studies 44(1): 97-126.
movimentos precisam, de tempos em tempos, viabilizar a aprovação de projetos FNRU, Forum Nacional da Reforma Urbana. (2019). Apresentação do FNRU.
para suas demandas. Sob determinados contextos os movimentos confrontam- Disponível em: http://forumreformaurbana.org.br/quem-somos/. Acessado em
se com governos e atores ligados ao mercado imobiliário. Em outros contextos 18 de abril de 2019.
eles competem entre si. Todavia observa-se inúmeros momentos e projetos que
GOHN, M. G. Manifestações de junho de 2013 no Brasil e praças dos
demonstram clara atuação conjunta e cooperação construtiva seja com governos,
indignados no mundo. São Paulo, Editora Vozes, 2014.
seja com agentes do setor imobiliário privado.
HOLSTON, James Cidadania insurgente: disjunções da democracia e da
Apesar das contradições e dos inúmeros obstáculos e dificuldades, os
modernidade no Brasil; tradução Claudio Carina revisão técnica Luísa Valentini.
movimentos de moradia têm amadurecido e formulado propostas importantes
— 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
e criativas mesmo sob condições muito adversas do ponto de vista das políticas
públicas, dos espaços de participação e do respeito aos direitos sociais e HOLSTON, J. Rebeliões metropolitanas e planejamento insurgente no século
econômicos, como o direito a moradia e os direitos humanos. XXI1 Rev. Bras. Estud. Urb anos Reg., RECIFE, V.18, N.2, p.191-204, MAIO-
AGO . 2016
Em que pese as limitações aparentes do tempo presente, o futuro há de abrir
possibilidades outras de construção de novas relações entre os movimentos e as IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Relatório Brasileiro para o
instituições públicas e privadas, na perspectiva de democratização mais intensa da Habitat III. Brasilia: IPEA, 2015.
sociedade, com mais inclusão social, solidariedade, liberdade e responsabilidade. JESUS, P. M.. The inclusion and access of social housing movements to Minha
Resta também aos técnicos, gestores e cidadãos no geral, compreender o papel Casa Minha Vida: the emergence of the Entidades modality. Revista Brasileira de
e o potencial que os movimentos sociais possuem para contribuir objetivamente Estudos Urbanos e Regionais (ANPUR), v. 18, p. 92-110, 2016.
para o equacionamento de graves e inúmeros problemas estruturais que afetam KOHARA, Luiz. Relatório de Pesquisa de Pós-Doutorado “As contribuições
a sociedade. dos movimentos de moradia do Centro para as políticas habitacionais e para as
Para isso, recomenda-se, de partida, dois caminhos, quais sejam: o estudo da políticas de desenvolvimento urbano do centro da cidade de São Paulo.
história, natureza e características dos grupos organizados coletivamente e dos KOWARICK, Lucio A espoliação urbana - Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
movimentos; e o conhecimento a partir da observação, interação e vivência em
contato com os movimentos sociais urbanos e de moraria.
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MARICATO, Ermínia A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil Vídeos recomendados / sugeridos (Unidade II)
industrial. – São Paulo: Alfa-Omega, 1982.
- O curta “Real Conquista” (2017)
MARICATO. E.T.M. O impasse da política urbana no Brasil. São Paulo: Editora
Disponível no Vimeo
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https://vimeo.com/250138346
MARICATO, E. O “Minha Casa” é um avanço, mas segregação urbana fica
intocada. Carta Maior, São Paulo, 27 maio 2009. Disponível em: <http://cartamaior. http://www.semana.art.br/2017/filmes/real-conquista/
com.br/?/Editoria/ Politica/O-Minha-Casa-e-um-avanco-mas-segregacao-
urbana-fica-intocada/4/15160> .
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Pedagogias Transgressoras
PROEXT Instituto de
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
Humanidades, Artes e Ciências