Eixo Integrador Interáreas EF - Sugestão de Temas Parte 2

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EIXO INTEGRADOR

INTERÁREAS
Sugestão de Temas – Parte II

ENSINO FUNDAMENTAL
PRESIDÊNCIA
Paulo Skaf

SUPERINTENDÊNCIA
Alexandre Ribeiro Meyer Pflug

GERÊNCIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO


Roberto Xavier Augusto Filho

GERÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA


Ivy Daniele Gavazzi Sandim

PROJETO 2020
Supervisão de Currículo, Inovação e
Recursos Didáticos
curriculo.educacao@sesisp.org.br

GERÊNCIA EXECUTIVA DE OPERAÇÕES


Roberta Salles Mendes

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Bruno Viana
Érica Barbosa
Kamila Uchino
Sandro Monteiro

REVISÃO ORTOGRÁFICA
Emanuel Galdino
Karina Costa

2020
Todos os direitos reservados ao SESI-SP
Av. Paulista, 1.313 – São Paulo – SP - CEP: 01311-923 | Tel.: (11) 3146-7000 | www.sesisp.org.br
2
“A função de planejar o currículo é uma das facetas mais
relevantes dentro do conjunto de práticas relacionadas com sua
elaboração e desenvolvimento, recolhendo aspectos de ordem
técnica e pedagógica mais genuínos, através dos quais adquire
forma e fica preparado para a sua implantação na prática...”

(Sacristán, 2000, p. 281)

3
4
APRESENTAÇÃO

Este guia é direcionado a você, profes-


sor do Eixo Integrador Interáreas, com
o objetivo de subsidiá-lo com informa-
ções e orientações fundamentais para
que sua ação docente atenda ao prin-
cípio da interdisciplinaridade e ao de-
senvolvimento de competências, como
protagonismo, autonomia, responsabili-
dade e criatividade.

O material está organizado em três


volumes: Eixo Integradore Interáreas –
Orientações Gerais; Eixo Integradore In-
teráreas – Sugestão de Temas – Parte I
e Eixo Integrador Interáreas – Sugestão
de Temas – Parte II.

Este é o terceiro volume da coleção e


contém sugestões de temáticas para o
ensino fundamental - 6º ao 9º, que vi-
sam articular os saberes dos diferentes
componentes curriculares e áreas do
conhecimento. Os temas descritos aqui
são sugestões, porém cada unidade es-
colar tem autonomia para propor novos
temas de acordo com seu contexto e
interesse dos seus alunos.

A leitura desse documento é importan-


te e poderá, junto ao segundo volume,
Eixo Integrador Interáreas – Sugestão
de Temas – Parte I, nortear este traba-
lho nos anos do ensino fundamental.

Bom trabalho!

5
SUMÁRIO

LUZ E CÂMERA EM AÇÃO


8
MÁGICA SEM MISTÉRIO O ESSENCIAL É INVISÍVEL
13 AOS OLHOS
37
MERCADÃO DA CULTURA
17 OBSTÁCULOS OU OPORTUNIDADES?
50
MOSAICO DA BRASILIDADE
26 OUTRAS NUANCES DO VERDE
59
O BÁSICO VOCÊ TEM?
32 PENSAR NA MODA É SÓ MODA?
64
PEQUENOS ESPAÇOS, GRANDES
SOLUÇÕES
70
POR QUE O ABANDONO?
76
POR TERRA, AR E MAR
83
PRECISA-SE DE HERÓIS?
89
QUALQUER SEMELHANÇA
É MERA COINCIDÊNCIA
96
QUEM PLANTA, COLHE!
101
RESPEITÁVEL PÚBLICO!
105
SALVE, REPENTE: AS EXPRESSÕES
DE RUA NA SALA DE AULA
111
SHERLOQUEANDO:
VOCÊ NA CENA DO CRIME
118
SORRIA,
VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO!
126
USOS E ABUSOS
TECH SPORT 144
134
VOCÊ NÃO SABE
UM SONHO SONHADO JUNTO DA MÍDIA A METADE
NÃO É SONHO; É REALIDADE! 151
139
VOZES DA ÁFRICA
159

7
LUZ E CÂMERA EM AÇÃO

Fonte: Thinkstock 2016.

Fonte: Thinkstock 2016.

Apresentação do tema

Neste tema, pretende-se trabalhar o Trazer fatos relacionados à sétima arte


cinema nos seus mais diferentes as- para a realidade dos estudantes, fazer
pectos, tais como sua linguagem, a re- com que eles possam ir além das in-
lação com a comunidade, o acesso ao vestigações sobre o assunto, pensar
cinema pela comunidade etc., possi- em formas de democratizar o acesso
bilitando debates e questionamentos ao cinema e propor atividades em que
disparadores para este trabalho. os estudantes apreciem, criem, pes-
quisem e façam reflexões contextuali-

8
zadas a partir desse tema serão os de- de seu pouco tempo de vida, já são
safios de aprendizagem deste trabalho. incontáveis as sensações, as reflexões
e o aprendizado proporcionado pelo
Pretende-se também ampliar o reper- estudo dessa arte.
tório cultural dos estudantes, propon-
do momentos de apreciação de filmes
que estão fora do circuito comercial, ENTRETENIMENTO: a minoria dos
gerando assim reflexões sobre a in- brasileiros frequenta cinema uma vez
dústria cultural, para que se estabele- no ano. Quase todos os brasileiros
ça uma relação mais crítica com essa nunca frequentaram museus
forma de arte, além de iniciar a com- ou jamais frequentaram alguma
preensão da função de roteiro, direção exposição de arte. Mais de 70% dos
artística, expressão corporal dos ato- brasileiros nunca assistiram a um
res, cenografia, iluminação, figurino, espetáculo de dança, embora muitos
fotografia, trilha sonora, edição etc. saiam para dançar. Grande parte
Para tanto, serão mobilizados recursos dos municípios não possui salas de
tecnológicos disponíveis na unidade cinema, teatro, museus e espaços
escolar e de fácil acesso aos estudan- culturais multiuso (UNESCO, 2016).
tes, como programas de edição de ví-
deos e equipamentos de filmagem.
O acesso a todo produto cultural está
Com isso, espera-se ampliar as habi- garantido no Artigo 23 da Constitui-
lidades argumentativas, as competên- ção, mas, mesmo presente em nossa
cias pragmático-discursivas e sociais. Constituição, segundo a Unesco, a de-
Os celulares podem ser utilizados para sigualdade no acesso à produção cul-
momentos de produção e também tural no Brasil é alarmante.
para investigar maneiras de trabalhar
com o vídeo digital e realizar outras São mais de 5 mil municípios brasi-
pesquisas relacionadas ao tema. leiros sem salas de cinema e, devido
ao acesso restrito, surge outro núme-
Contextualização ro não menos elevado relacionado à
indústria da pirataria: 81% dos inter-
“Num filme o que importa não é a rea- nautas, segundo o Instituto de Pes-
lidade, mas o que dela possa extrair a quisa Econômica Aplicada (IPEA),
imaginação.”
realizam ilegalmente downloads de
(Charles Chaplin)
filmes. Essa porcentagem cresce ain-
da mais quando indicada a faixa etá-
O cinema surge na virada do século
ria: os adolescentes entre 10 e 15 anos
XIX como nova forma de expressão
consomem 91% de conteúdos ilegais
artística, e entra para o rol das artes
(entre filmes e músicas).
conhecido como a sétima arte; apesar

9
Apesar desses dados, é importante o Brasil ainda não conseguiu segurar a
ressaltar que a indústria cinemato- estatueta, mas a América Latina tem
gráfica registrou, em 2015, segundo a participado em várias edições. Isso
Agência Nacional do Cinema (Ancine), mostra como o cinema nacional tem
172,9 milhões de espectadores nos ci- se desenvolvido.
nemas brasileiros, gerando uma renda
de R$ 2,35 bilhões. Filmes nacionais Como forma de aproximar os estudan-
foram responsáveis por 13% desse pú- tes da produção nacional, a partir do
blico total, com 22,5 milhões de espec- ano de 2014, tornou-se obrigatória a
tadores, o que gerou um crescimento exibição de 120 minutos mensais de
de 11,1% em relação ao ano de 2014. filmes nacionais na sala de aula. Fa-
Muitas são as especulações sobre o miliarizá-los com essa arte é mostrar
fim dos cinemas por conta do avan- também que personagens, movimen-
ço de filmes e séries de televisão via to, corpo, espaço, tempo, luz e sombra
streaming, que hoje contam com mais integram-se e estimulam o senso críti-
de 80 milhões de assinantes; porém, o co, estético e cultural.
crescimento que vimos acima vai na
contramão deste argumento, ou seja, Aproveite para utilizar a Coletânea de
há espaço para todos os meios de di- Filmes Nacionais do SESI-SP educação.
vulgação de cultura.
Desafios
Com relação à produção de filmes em
si, a indústria cinematográfica está Estes desafios possibilitarão pesqui-
mais pungente em países como Es- sas variadas, interpretação e coleta
tados Unidos, sendo Hollywood con- de dados em que os estudantes se-
siderada o maior centro de produção, rão estimulados a comparar, analisar,
mas há produções numerosas em vá- sintetizar, relacionar, além de abrir
rios países, como na Índia, no espaço espaço para o trabalho de campo
conhecido como Bollywood. O cinema que aproxima os estudos à realidade
de arte Europeu e o da América Latina do entorno.
também vêm se destacando com gran-
des produções, conquistando prêmios O acesso a todo produto cultural
internacionais, como Festival de Can- está garantido no Artigo 23 da Cons-
nes, Palma de Ouro, Globo de Ouro e, tituição brasileira.
claro, o Oscar. Neste último, o Brasil
teve sua última indicação como Me- Como a existência desse Artigo na
lhor Filme Estrangeiro com Central do Constituição garante o acesso a pro-
Brasil, e, no ano de 2016, a animação O dutos culturais? De que maneira sua
menino e o mundo, de Alê Abreu, es- comunidade (escola, bairro, cidade)
teve entre os indicados. Apesar disso, tem acesso a estes produtos?

10
[...] 81% dos internautas, segundo o [...] a indústria cinematográfica está
IPEA (Instituto de Pesquisa Econô- mais pungente em países como Es-
mica Aplicada), realizam ilegalmente tados Unidos, sendo Hollywood con-
downloads de filmes. Essa porcenta- siderada o point, mas há produções
gem cresce ainda mais quando indi- em vários países, como na Índia, no
cada a faixa etária: os adolescentes espaço conhecido como Bollywood.
entre 10 e 15 anos consomem 91% de O cinema de arte Europeu e o da
conteúdos ilegais. América Latina também vêm se des-
tacando com grandes produções [...].
Por que a pirataria existe? A falta de
salas de cinema pode ser conside- Quais fatores levam uma produção
rada um incentivo à pirataria? Por a ser amplamente divulgada? Há
qual motivo somos consumidores produções cinematográficas na sua
de algum tipo de pirataria cultural cidade? Como esses grupos traba-
(música, filmes, jogos etc.)? lham, se organizam e recebem re-
cursos? De que maneira realizam
sua divulgação?

11
Referências

ACESSO à cultura no Brasil. Unesco. Disponível em:<http://www.unesco.org/


new/pt/brasilia/culture/culture-and-development/access-to-culture/>. Aces-
so em: 8 set. 2016.

BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/


legislacao/-/asset_publisher/siXI1QMnlPZ8/content/constituicao- federal/10937>.
Acesso em: 8 set. 2016.

HIGA, P. 85% dos internautas brasileiros baixam filmes e músicas piratas. Tec-
noblog. 2014. Disponível em: <https://tecnoblog.net/101210/pirataria-brasil/>.
Acesso em: 8 set. 2016.

PORTILHO, G. Como é a produção de um filme? Mundo Estranho. 1 set. 2009.


Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/cinema-e-tv/como-e-a- produ-
cao-de-um-filme/>. Acesso em: 25 ago. 2016.

PÚBLICO DE CINEMA no Brasil em 2015 cresce 11,1% em relação a 2014. G1. 25


jan. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2016/01/
publico-de-cinema-no-brasil-em-2015-cresce-111-em-relacao-2014.html>. Acesso
em: 8 nov. 2016.

SESI-SP. Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino – Ensino Funda-


mental. São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

12
MÁGICA SEM MISTÉRIO
se baseia no sobrenatural, em dogmas,
mágica ou ilusionismo, que vêm iludin-
do os espectadores desde um longo
período antes de Cristo, encantando as
pessoas com seus mistérios.

Os aspectos a serem discutidos den-


tro deste tema estão voltados para um
desafio, o qual envolve a resolução de
mágicas que podem ser explicadas
com os códigos da ciência. A pesquisa
sobre brincadeiras e mágicas desmi-
tifica ilusões e truques que poderiam
convencer os mais desavisados.

A maioria dos truques e ilusionismos


que mais encantam as pessoas e pro-
vocam curiosidade pode ser explicada
pela ciência que, em vista dessa pers-
pectiva, se torna divertida e promove
contribuições para o aprendizado.
Fonte: Thinkstock 2016.

A ideia é que os estudantes pesquisem


Apresentação do tema e tragam os conceitos e a visão da
ciência para explicar as mágicas que se
Sabe-se que na pós-modernidade a
utilizam de princípios científicos, mas
ciência é levada em alta conta. Esse
que, por conveniência, não os revelam.
status foi alcançado depois que ela
Busquem notícias dos grandes feitos
trouxe soluções e respostas para mui-
mágicos em torno do mundo, como
tos dos problemas que afligiam o ser
ocorreram, as questões éticas envolvi-
humano. Hoje, um exemplo de seu
das na realização das mágicas, os er-
valor é que, para tornar um produto
ros e tragédias que ocorreram com os
mais confiável, é comum se deparar
profissionais da mágica e os segredos
com expressões do tipo: “comprovado
de suas mágicas. Nessa investigação,
cientificamente”.
é importante motivar a interação en-
tre os estudantes, de modo que juntos
A ciência não apresenta verdades abso-
possam resolver as questões sobre es-
lutas nem se iguala ao misticismo – não
sas atividades.

13
Contextualização Desse modo, esse tema inspira um ro-
teiro de trabalho atraente para o es-
“Como todos os jovens eu decidi tudante, porém exige dele organiza-
ser um gênio, mas felizmente o
ção: que estabeleça um cronograma
riso interveio”.
de trabalho e tenha disciplina para
Cléa, Lawrence Durrell
administrar o tempo e obter sucesso
nessa empreitada.
A sociedade aceita a ciência como
um paradigma dominante. Existe um
Pode-se citar alguns mágicos que
crédito amplamente aceito de que há
percorreram um caminho interessan-
algo de notável a respeito da ciência
te, levando milhares de pessoas a se
e de seus métodos. Corroborando as
perguntar: “Como ele faz isso?”. O ilu-
ideias de Chalmers (1993): A função
sionismo produziu grandes astros da
do termo ‘científico’ a algum tipo
atualidade, como David Copperfield
de afirmação, linha de raciocínio ou
e Criss Angel, que elevaram a mágica
peça de pesquisa é feita de uma ma-
para os patamares que conhecemos
neira que pretende envolver alguma
hoje. Já entre as atividades circenses
espécie de mérito ou um tipo singu-
está o grande e criativo Cirque du So-
lar de confiabilidade.
leil, que não traz animais em suas apre-
sentações, mas se utiliza de mágicos,
A mágica tem uma história que traz
malabaristas, contorcionistas, músicos
desafios curiosos; a maioria pode
e bailarinos com uma cenografia de al-
ser explicada pelas teorias científi-
tíssima qualidade.
cas. Muitas indagações surgem no
imaginário das pessoas para expli-
O ensino de Ciências, segundo Bizzo
car aquilo que estão vendo diante
(1998), proporciona aos estudantes
de seus olhos, que aguça a curiosi-
momentos em que podem trabalhar
dade por meio de brincadeiras. Por
os questionamentos acerca do desco-
não ser algo corriqueiro, pode-se
nhecido que neles causem inquieta-
lançar mão de fontes de informa-
ção, procurando explicações dentro da
ção vindas da religião, da cultura ou,
lógica e da razoabilidade, amparadas
como se deseja neste trabalho, da
em princípios palpáveis. É uma forma
ciência. Portanto, pretende-se que
de planejar e coordenar as ideias dian-
os estudantes tragam elementos da
te do desconhecido.
cultura e que façam debates nas sa-
las de aula, percorrendo o máximo As perguntas aqui apresentadas são
de explicações advindas do vasto impulsionadoras do trabalho. Poderão
conhecimento científico adquirido também surgir outras no decorrer do
pelo homem até agora. trabalho com o tema, devido às neces-
sidades da pesquisa a ser desenvolvida.

14
Desafios Essas e outras questões que surgi-
rem no desenvolvimento deste tema
A mágica pode ser vista como um nortearão o trabalho com os estu-
mecanismo de escape da realidade fí- dantes, instigando a curiosidade e a
sica em que vivemos. Quando vemos autonomia em seus estudos.
um grande mágico em ação, nossa
mente, mesmo que involuntariamen-
te, abre espaço para o sobrenatural.

Afinal, como é possível andar ape-


nas com a metade do corpo, fazer
desaparecer a Estátua da Liberdade
ou atravessar a Muralha da China
como fez David Copperfield na fren-
te de centenas de espectadores?

Variados conceitos científicos são uti-


lizados nas apresentações de mágica:
o magnetismo para mover moedas, a
reflexão de espelhos para truques de
desaparecimento, entre outros.

Sendo assim, como é possível realizar


truques de mágica com os materiais
disponíveis na escola ou em casa,
mobilizando os saberes das áreas do
conhecimento?

O mágico com o codinome de Mister M,


segundo a narração de Cid Moreira no
programa dominical “Fantástico” exibido
em 1999, irritou muitos mágicos na épo-
ca devido às revelações dos segredos de
alguns truques de mágica, no entanto,
para muitos espectadores o quadro exi-
bido na rede Globo foi um sucesso.

Diante dessa situação como você en-


cara as questões éticas envolvidas
tanto na profissão de mágico como
nas outras profissões?

15
Referências

BIZZO, Nélio. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Editora Ática, 1998.

CHALMERS, A. F. O que é Ciências afinal? Tradução: Raul Filker. Editora brasi-


lense, 1993.

COPPERFIELD, D. David Copperfield V: The Statue of Liberty Dissappears part


3. YouTube. 1983. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=qX-QqrXl-
jnm8 >. Acesso em: 22 ago. 2014.

SESI-SP. Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino: Ensino Funda-


mental. 1 ed. São Paulo: SE- SI-SP Editora, 2016.

VALENTINO, V. Breaking the magician’s code: magic’s biggest secrets finally


revealed S01E02. Fox Network. YouTube. 1997. Disponível em: <https://www.
youtube. com/watch?v=QMbDYW3OaiQ>. Acesso em: 1 set. 2014.

Indicações de consulta

CIRQUE DU SOLEIL. Disponível em: <https://www.cirquedusoleil.com>. Acesso em:


09 set. 2016.

HISTÓRIA da mágica. Fonte do Saber. Disponível em: <http://www.fontedosaber.


com/historia/historia-damagica.html>. Acesso em: 09 set. 2016.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São


Paulo: Cortez, 2007.

TOP 10 Cirque du Soleil show. YouTube. 2015. Disponível em: <https://www.youtu-


be.com/watch?-v=KPL_Ii4gZsY>. Acesso em: 09 set. 2016

16
MERCADÃO DA CULTURA

Fonte: Wikipedia, 2019..

Apresentação do tema

O conceito de cultura é difícil de ser Essas manifestações ou expressões


definido; mas, independentemente do que traduzem uma sociedade, um
conceito que se adote ou se defenda, povo em suas diferentes escalas (na-
a cultura é uma dimensão do proces- cional, regional e local), são refletidas
so social, das construções humanas, na música, na dança, na literatura, na
que incluem o conhecimento, a arte, ciência, na moda, na gastronomia e
as crenças, os costumes e todos os tantos outros modos do ser humano se
hábitos adquiridos pelo ser humano. relacionar, alterar e representar o mun-
Por meio da sua observação podemos do. Além disso, é permeada de poder,
compreender as relações estabeleci- uma vez que as relações na sociedade
das entre os seres humanos e desses são desiguais. Por isso, podemos afir-
com o mundo. mar que a cultura de um povo, também
reflete essas relações de poder.

17
Santos (2006) aponta que a cultura mui- Assim, espera-se que os estudantes in-
tas vezes acaba apresentando marcas de vestiguem as diferentes manifestações
desigualdade e, por isso, a universaliza- que materializam a cultura de um povo,
ção da própria cultura é uma luta contra compreendam o processo histórico, so-
as relações de dominação, mas também cial, econômico, turístico do lugar inves-
contra a desigualdade. E lembra que tigado, critiquem as trocas simbólicas
cada realidade cultural tem sua própria e identifiquem o surgimento de novas
lógica interna e que por isso precisamos manifestações culturais fundamentadas
conhecê-la para que suas práticas, cos- na contemporaneidade
tumes e as transformações nos façam
sentido; além de chamar atenção para
Contextualização
a importância de nos desvencilhar das
ideias de hierarquia e de “evolução cul- Por ser um país de grande extensão ter-
tural”, muito comuns no século XIX, mas ritorial, o Brasil tem um grande potencial
que acabam sempre marcadas por pre- para constituir uma diversidade cultural.
conceitos ou por visões eurocêntricas. Entretanto, isso não é suficiente para
determinar essa característica, afinal,
Assim, um dos objetivos deste tema é historicamente, as diferentes culturas
propor aos estudantes que investiguem manifestadas se constituíram pela inte-
“lugares” de criação e constituição cul- ração das culturas europeias, asiáticas,
tural para que possam reconhecer como africanas e indígenas, autóctones de
as manifestações culturais materializam nosso território. Por outro lado, na atua-
a história de um povo e revelam as diver- lidade, os traços culturais brasileiros, têm
sas territorialidades festivas e as tensões se constituído pela influência de muitos
existentes no território local, estadual ou países do mundo, principalmente os paí-
nacional, reflexo da expressão das diver- ses das Américas. Nesse sentido, as for-
sas identidades e das relações de poder mas diversas culturais que constituem a
ali instituídas. comunidade são legítimas e devem ser
valorizadas em seus contextos de pro-
Por meio das manifestações de cada
dução, criação e manifestação.
cultura, os estudantes podem perceber
uma possibilidade de divulgação cultu-
ral específica daquele lugar. Além disso,
devem considerar, de maneira crítica, o
quanto essas manifestações se consti-
tuem como produto comercial, o quan-
to carregam as marcas culturais de um
povo e o quanto podem estar modifica-
Disponível em: http://www.infopatrimonio.org/#!/
das por estereótipos externos ou inte- map=38329.
Acesso em: 05/09/2018)
resses mercantis.

18
A busca de um “diálogo entre cultu- Exemplo da constituição de patrimô-
ras” tem sido incentivada em diversos nio cultural brasileiro é a música po-
ambientes formais e informais de edu- pular e o futebol, que foram ícones
cação. Segundo Pougy (2014), esse da brasilidade em um momento em
diálogo possibilita conexões entre os que o estilo de vida mais urbana se
saberes locais/ populares e saberes tornou expressão dos serviços de la-
globais/eruditos. Esse diálogo leva ao zer e comércio da informação. Hoje, a
reconhecimento das diversas práticas música não é mais o ícone da cultura
culturais. Nesse sentido, a UNESCO brasileira, mas futebol ainda é, figu-
tem atuado na criação de um banco de rando junto ao Carnaval, que por sua
dados com informações culturais. O IN- vez, tornou-se uma festa espetáculo
FOPATRIMÔNIO, uma plataforma para no circuito de eventos cosmopolitas.
conhecimento do Patrimônio Cultural
Brasileiro, tem como objetivo fomentar Mesmo com esses elementos reco-
a difusão e preservação cultural. Apre- nhecidos internacionalmente com
sentando que: mais força, não podemos desconsi-
derar que a música ainda tem um tra-
Segundo a Constituição Federal de ço forte na caracterização de nosso
1988 (CF88), Artigo 216, constituem povo, ela é elemento de expressão de
patrimônio cultural brasileiro os bens
grupos, que muitas vezes podem ser
de natureza material e imaterial, toma-
caracterizados regionalmente, como
dos individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identida- o sertanejo do centro-oeste do país,
de, à ação, à memória dos diferentes o forró nordestino, o funk carioca, o
grupos formadores da sociedade bra- axé baiano, o tecnobrega paraense, e
sileira, nos quais se incluem: muitos outros estilos que caracteri-
I. As formas de expressão; zam comportamentos e delineiam as
diversas culturas regionais.
II. Os modos de criar, fazer e viver;

III. As criações científicas, artís- Outros elementos, tão ricos como os


ticas e tecnológicas; citados, também caracterizam com a
mesma importância o comportamen-
IV. As obras, objetos, documentos, to de um grupo, como a culinária, a
edificações e demais espaços des- moda, a produção tecnológica e cien-
tinados às manifestações artístico-
tífica, as festas, as formas de consumo,
-culturais;
a arquitetura, as relações com o meio
V. Os conjuntos urbanos e sítios de ambiente, o cinema, o teatro etc.
valor histórico, paisagístico, artísti-
co, arqueológico, paleontológico, Especificamente, no Estado de São
ecológico e científico. Disponível Paulo, é possível reconhecer a riqueza
em http://www.infopatrimonio.or- advinda da diversidade das inúmeras
g/?p=38375. Acesso em 11 set 2018. manifestações culturais tradicionais

19
que ainda hoje são cultivadas e dos na história popular de nossas comu-
eventos que foram ressignificados e nidades, tendenciamos em preservá-
tornaram-se bens culturais. -las e disseminá-las entre as gerações.
Para isso são realizados eventos como
As influências são muitas em nosso festivais, exposições, feiras, festas, en-
estado, desde a grande metrópole contros etc. Em algumas cidades, são
que é a capital, até aos pequenos criadas fundações que estimulam e
municípios do interior. Desde os es- mantêm vivas tais culturas e suas ma-
petáculos teatrais e musicais inter- nifestações, além de serem espaços
nacionais produzidos em algumas ci- de lazer para a comunidade.
dades até a folia de reis e quadrilhas
e outras, variando as festividades da Nesse sentido, ações públicas e priva-
cidade, urbanizada, iluminada, gla- das estimulam e fomentam a cultura
morosa e as da roça, chão batido, em suas diversas manifestações, arti-
pasto, simplicidade. Desde a convi- culando sua existência com a vida nos
vência com as águas salgadas do li- espaços de vivência, tanto na cidade
toral às térmicas do interior. Dos mu- quanto no campo. Na cidade, convi-
seus às estradas de ferro que cortam vendo com as manifestações culturais
o estado. Dos shoppings às feiras tradicionais, as formas de entreteni-
livres, da indústria à lavoura, do vira- mento típicas da vida urbana também
do à paulista ao bauru. De Álvares de caracterizam as comunidades na so-
Azevedo à Carlos Gomes, de Titãs à ciedade contemporânea, como cine-
Zé Neto e Cristiano. Da maior capital mas, bibliotecas, teatros, museus, cen-
do país, à capital do livro, da cultura, tros culturais, parques etc. No campo,
do couro, da cana, do boi gordo, das pois muitas manifestações culturais
flores, do morango, do ovo, dos bor- permanentes até hoje têm origem no
dados, do alimento... comportamento de agricultores, la-
vradores que outrora foram os grupos
Além disso, nosso estado, também, que ajudaram a construir a identidade
tem influência de índios, portugueses, dos municípios do interior.
negros, italianos, japoneses, lituanos,
neerlandeses, estadunidenses, espa- O que revelam esses espaços: lugares
nhóis, sírios, libaneses, poloneses, ale- e territórios1?
mães, nordestinos, coreanos, chineses,
bolivianos e nativos. É importante estar atento que as festas
ou manifestações culturais territoriali-
Com muitas tradições, que vivem e zam os espaços, uma vez que agregam
convivem umas entre as outras, sendo relações diversas, sejam ideológicas,
redefinidas, reconfiguradas, reescritas simbólicas, afetivas e econômicas.

1
O LUGAR é a categoria do espaço geográfico apropriado para compreender e intervir nas dimensões do vivido, pois é re-
pleto de experiências intensas que envolvem a sensibilidade, os sentimentos, o pensamento tanto do indivíduo quanto dos
grupos, e possui características próprias, o que acaba
20
A convergência econômica e cultural listas, aponta que uma das razões da
revela os deslocamentos de valor entre não frequência ao cinema, a teatros ou
o que é tradicional e o que é novo, ou a museus está relacionada à situação
seja, reconhecer que determinadas ma- econômica dos entrevistados, com os
nifestações culturais são remanejadas seguintes percentuais: 21% das classes
afim de ganhar relevância regional. Por A e B, 18% das classes C e D, e 15% das
exemplo, a festa do peão de Barretos classes D e E.
faz parte hoje da “indústria do rodeio”
e inclui arte, cultura, esporte e turismo, O que se percebe, então, é que o pro-
mantendo, dessa forma, a manifesta- cesso de modernização não garante o
ção cultural com possíveis adaptações acesso a expressões de cultura.
mediante o apelo comercial.
Outro ponto importante levantado com
Principal rodeio da América Latina, essa pesquisa é que o baixo índice cul-
a Festa do Peão de Barretos (SP) tural está relacionado à falta de interes-
anunciou um total de R$ 1 milhão em se e não apenas a falta de dinheiro.
prêmios aos melhores competidores
da 63ª edição do evento, que acon-
Apenas 2% dos entrevistados respon-
tece entre 16 e 26 de agosto.
deram que frequentavam o teatro.
Disponível em: https://g1.globo.com/ Porém, se juntarmos a questão econô-
sp/ribeirao-preto-franca/ noticia/ mica e a educacional, as pessoas das
festa-do-peao-de-barretos-2018-ro- classes A e B, com maior nível de es-
deio-distribuir-1-milhao-em-pre- colaridade, frequentam mais as diver-
mios-a-competidores.ghtml. Acesso sas instituições culturais.
em: 06 set. 2018

Portanto, há uma complexidade social,


Pesquisas realizadas trazem dados
de ressignificação dos símbolos e da
consistentes de que as possibilida-
própria expressão da cultura. E o acesso
des de entretenimento não garantem
está vinculado a questões educacionais,
a democratização do acesso de toda
somando-se aos aspectos sociais, a falta
a população a elas. A pesquisa “DNA
de capilaridade dos bens culturais dispo-
Paulistano”, do Datafolha (2012 apud
níveis na cidade, dentre outros elementos.
LEIVA, 2014), revela que, dos 96 dis-
tritos da cidade de São Paulo, em ape- Ademais, sabe-se da diversidade cul-
nas 20 a nota atribuída às atividades tural brasileira e ouve-se muito o termo
culturais do bairro supera a média 5, Multiculturalismo, porém de acordo com
em uma escala de zero a 10. Já o do- Ana Mae Barbosa (2002), o termo Inter-
cumento “Hábitos Culturais do Paulis- culturalidade seria mais apropriado, pois
tas” (LEIVA, 2014), que ouviu mais de significa a interação entre as culturas,
8 mil pessoas em 21 municípios pau-

caracterizando os espaços de forma específica e particular”. (p.154 - Referencial Curricular, do Sistema SESI-SP de Ensino, 2016)

“O TERRITÓRIO se fundamental essencialmente nas relações de poder estabelecidas entre diversos sujeitos: o indivíduo e a
família, os grupos sociais, as coletividades locais, o estado nacional, a autoridade supranacional (ONU, União Europeia etc) e
21
as empresas”. (p.155 - Referencial Curricular, do Sistema SESI-SP de Ensino, 2016)
que não se dá apenas pela coexistência desafiados, a partir de processos de-
de várias culturas, mas como elas se re- mocráticos, a se implicarem no com-
promisso de elaborar e efetivar políti-
lacionam, disputam espaços e são per-
cas públicas com participação cidadã
meadas pelas brigas de poder e não são
da sociedade(...)”. (Côrtes, 2012)
estáticas, mas se transformam o tempo
todo, acompanhando a sociedade. O Decreto 3.551/2000 do IPHAN2 esta-
belece o reconhecimento e registro de
A escola, por ser um lócus privilegiado
bens culturais imateriais como patrimô-
para discutir essas questões e assim
nio, também de forma atenta às questões
poder intervir e transformar a realida-
e limitações sobre o registro de bens cul-
de, torna-se ambiente propício para
turais na perspectiva da dimensão sim-
esse debate e pesquisa.
bólica. Nesse sentido, o IPHAN institui o
compromisso do Estado em inventariar,
Desafios documentar, produzir conhecimento e
apoiar o registro e das práticas culturais,
Atores (as) e autores (as) culturais di-
além da realização de mapeamentos ao
versos (as) tornam-se, cada vez mais,
chamar atenção para o registro de bens
protagonistas nos processos de in-
clusão sociocultural. A identificação e serviços culturais como expressões
de bens e serviços da cultura se dá inerentes ao patrimônio imaterial.
paralela à importância de evidenciar Disponível em: <https://diversidadecultural
seus mobilizadores situados em ter- d o to rg 1 .f i l e s .wo rd p re ss .co m /2 01 4/07/
ritórios urbanos e rurais. Nestes terri- spdc14_neusa-martins-e-clelia-neri-cortes.
tórios tornam-se protagonistas, cada pdf>. Acesso em 17 set. 2018.
vez mais conhecendo e recorrendo os
instrumentos legais, nacionais e inter-
Quais são as manifestações culturais
nacionais, no âmbito local. O territó-
presentes na sua comunidade ou na
rio considerado como fruto de uma
apropriação simbólica por determina- região onde mora? Qual sua origem?
dos grupos de identidades sociocul- Que linguagens elas mobilizam?
turais diversas. (HAESBAERT, 2002) Como mapeá-las? De que forma essas
manifestações impactam o turismo?
“Neste contexto, atentar para a reali- Há ressignificação da manifestação
zação de mapeamento cultural como
em objeto de consumo?
um procedimento propulsor para o re-
gistro desses bens e serviços, nos leva
“A minoria dos brasileiros frequenta
a considerar instrumentos legais, na-
cinema uma vez no ano. Quase to-
cionais e internacionais que acentuam
dos os brasileiros nunca frequenta-
o reconhecimento da diversidade cul-
ram museus ou jamais frequentaram
tural e suas demandas nos processos
alguma exposição de arte. Mais de
de organização da cultura, no sentido
70% dos brasileiros nunca assistiram
amplo. Por conseguinte, governos são
a um espetáculo de dança, embora

2
“O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura
que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do
País, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras”. Disponível em: http://portal.iphan.gov.
22 br/pagina/detalhes/872 Acesso em: 24/09/2018
muitos saiam para dançar. Grande O acesso cultural é garantido para toda
parte dos municípios não possui sa- a população do município ou região?
las de cinema, teatro, museus e es-
Como o acesso cultural é incentivado
paços culturais multiuso.“
pelo Estado? Quais seriam as medidas
Disponível em: <http://www.unesco. a serem sugeridas para o poder públi-
org/new/pt/brasilia/culture/culture-
co promover o acesso a todos?
-and-development/access-to-cultu-
re/>. Acesso em 17 set. 2018.
“Costuma-se considerar que ela exige
uma cultura capaz de homogeneizar
Para o doutor em Educação, Arte e His- a vida e a visão de mundo das diver-
tória da Cultura Marcelo Campos Tiago, sificadas populações que foram essas
as políticas públicas na área cultural sociedades, ultrapassando barreiras
deveriam trabalhar com processos de de classe social e facilitando, por es-
construção, diálogo e difusão das prá- sas razões, o controle das massas. Tais
instrumentos seriam principalmente o
ticas culturais, e não apenas na libera-
rádio, a televisão, a imprensa e o ci-
ção de verba para a manutenção de um
nema. Essa cultura homogeneizado-
espaço ou a realização de um evento. ra, niveladora, teria o núcleo de sua
existência num setor específico de
“Quando dizem que quem mora em atividade, a indústria cultural.” Santos,
determinadas regiões não tem aces- José Luiz dos. O que é cultura. São
so direto ao cinema ou ao teatro, é Paulo: Brasiliense, 2003.
preciso pensar em como esses espa-
(Coleção Primeiros Passos. pag 68)
ços culturais podem fazer parte da
vida daquelas pessoas”, comenta. (...)
Como as manifestações tradicionais
“Não há políticas públicas que tra- se relacionam com a indústria cultu-
balhem com a cultura como forma ral? Qual o impacto da indústria cul-
de, efetivamente, garantir o acesso
tural no consumo de bens artísticos e
a todos os bens culturais. A gente
culturais da comunidade? A globali-
ainda precisa de um Estado muito
mais fortalecido para que os gran- zação influencia na continuidade ou
des eventos culturais não sejam pa- não das manifestações artísticas tra-
trocinados por quem lucra muito em dicionais? Quais novas formas cultu-
cima deles, mas sejam favorecidos rais estão sendo produzidas?
pelo Estado para que todos ‘lucrem
culturalmente’”, finaliza Tiago.

Disponível em: <https://www.carta-


capital.com.br/blogs/32xsp/quanto-
-vale-o-ingresso-acesso-a-cultura-e-
-questao-de-preco-em-sp>. Acesso
em 17 set. 2018.

23
Referências

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2002.

ELESBÃO, Elaine. Vale Cultura. Imagem, maio 2014. Disponível em: <http://www.
elaineelesbao.com.br/wpcontent/uploads/2014/05/vale_cultura.jpg>. Acesso em:
08 dez. 2016.

LEIVA, J. Hábitos culturais dos paulistas. São Paulo: Tuva Editora, 2014. Disponível
em: <http://www.pesquisasp.com.br/downloads/livro_cultura_em_ sp.pdf>. Aces-
so em: 08 dez. 2016.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CUL-


TURA (UNESCO) Acesso à cultura no Brasil. Disponível em: <http://www.unesco.
org/new/pt/brasilia/culture/culture-and-development/access-to-culture/>. Aces-
so em: 08 dez. 2016.

POUGY, E. O dispositivo lúdico e artístico da educação planetária. VERVE (Re-


vista Semestral Autogestionária do Nu-Sol), nº 25, pp 129-144, 2014. Disponível
em: https://revistas.pucsp.br/index.php/verve/article/view/30689 Acesso em:
05/09/2018.

SÃO PAULO (Estado). Cultura e folclore paulista: danças e folguedos. Biblioteca


Virtual. Disponível em: <http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/sao-paulo/
cultura-e-folclore-paulista-dancas-e-folguedos.php>. Acesso em: 08 dez. 2016.

Sales, Fabiana de Lima; Gastal, Susana. O patrimônio cultural sob a ótica da indús-
tria cultural e da educação patrimonial. Disponível em: <https://www.ucs.br/site/
midia/arquivos/gt5-o-patrimonio.pdf>. Acesso em: 28/08/2018.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura? São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção
primeiros passos; 110)

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sistema SE-


SI-SP de Ensino – Ensino Fundamental. São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

Thomaz, Rosangela C.C.; “A Revalorização e difusão do patrimônio cultural como


meio desenvolvimento do turismo rural e cultural: estudo de caso da rede Galega
do patrimônio arqueológico”. TÓPOS V. 4, N° 2, p. 33 - 59, 2010.

24
Indicações de consulta

“Performance Cegos: CEGOS é uma obra aberta a diferentes leituras: a redução


da nossa existência à função produtiva e ao consumo, o excesso de trabalho, o
aprisionamento e a petrificação da vida, a automatização do cotidiano, a degene-
ração ética que se alastra no atual estágio da sociedade. ” (CEGOS: Desvio coleti-
vo (SP). Cena contemporânea. Disponível em: <www.cenacontemporanea.com.br/
programacao/cegos-desvio-coletivo-sp>. Acesso em: 17 nov. 2016).

ABAÇAÍ CULTURA E ARTE. Mapa do Patrimônio Imaterial da Cultura Paulista. Dis-


ponível em: <http://abacai.org.br/patrimonio_imaterial/>. Acesso em: 08 dez. 2016.

ABRAÃO, Elisa et al. Imagens e percepção da dança: da estética formal à ex-


pressão estética. In: SILVA, Ana Márcia; DAMIANI, Iara Regina. Práticas corporais:
construindo outros saberes em Educação Física. Florianópolis: Nauemblu Ciência
e Arte, 2006, p. 85-116. FRANCO, Marina Minussi. Vivendo para dançar ou.... dan-
çando para viver? Sarao, v. 3, n. 7, abr. 2005. Disponível em: <http://www.centro-
dememoria.unicamp.br/sarao/revista31/PDF/sarao_texto_01.pdf>. Acesso em: 16
nov. 2016.

REVELANDO SÃO PAULO. Apresentação. Disponível em: <http://revelandosao-


paulo.org.br/rv/wp-content/uploads/2013/07/REVELANDO-SAO-PAULO-APRE-
SENTACAO.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2016.

25
MOSAICO DA BRASILIDADE

Fonte: istockphoto

Apresentação do tema

Desde os anos iniciais do ensino fun- o tema da identidade, percebendo-a


damental, por meio do estudo da ori- como uma construção do cotidiano.
gem familiar, das heranças culturais e Nos anos finais do ensino fundamen-
da sua própria história, os estudantes tal, agregado ao reconhecimento
têm a oportunidade de trabalhar com da diversidade cultural, ou seja, das

26
características dos diferentes gru- e as manifestações da diversidade
pos étnicos marcados pela territo- cultural na comunidade. O aprofun-
rialização do povoamento do Brasil, damento se dá, fundamentalmente, a
resgata-se a participação dos negros partir do estudo do meio, com a pos-
e dos indígenas na construção e for- sibilidade de intervenção concreta
mação da sociedade brasileira, como na realidade local.
sanciona a Lei 10.639/03.
Contextualização
Para que os estudantes elaborem hi-
póteses e questionamentos sobre a O jornal O Globo tem disponível na
temática, é necessário que o profes- internet um infográfico que apresen-
sor promova, integrando os saberes ta dez casos de racismo que enver-
de cada componente das Ciências gonham o futebol. Um dos episódios
Humanas, a ampliação do conhe- evidenciados é o do jogador Daniel
cimento e da consciência do grupo Alves, que, em uma das temporadas
acerca de conceitos como unida- jogando pelo Barcelona, durante o
de nacional, diferença, diversidade, clássico Barcelona e Real Madrid, no
desigualdade, miscigenação, assi- estádio Santiago Bernabeu, na Es-
milação, aculturação, ideologia do panha, ouviu no final do jogo sons
branqueamento, exclusão, equidade, de imitações de macacos vindos das
participação, mito da democracia ra- arquibancadas.
cial, preconceito e discriminação, en-
tre outros. É importante ressaltar, no Segundo o Censo Demográfico de
entanto, que, apesar de fundamental, 2010 (IBGE), o número de pessoas
o estudo dos conceitos e do proces- que se declaram pardas ou pre-
so histórico não constitui fim em si tas cresceu, enquanto o número de
mesmo, mas uma forma de subsidiar brancos caiu. Isso é reflexo da valori-
a execução do trabalho com o tema. zação da negritude e do aumento da
autoestima da população, segundo
Este, se organiza em torno do tema alguns analistas.
da identidade nacional, apresentan-
do, portanto, evidentes nexos com o Muitos teóricos da cultura brasilei-
trabalho desenvolvido no ensino fun- ra deram importantes contribuições
damental, trazendo como diferencial sobre diversas categorias de análise
o foco na investigação, problema- do povo brasileiro. Esses intelectuais
tização e intervenção na realidade procuraram compreender como é o
local e em situações próximas do brasileiro, tanto pela junção das três
cotidiano dos estudantes, estabele- etnias principais (afrodescendente,
cendo relações entre o processo de europeia e indígena) como pelas ca-
construção da identidade nacional racterísticas que o formam.

27
Todos nós brasileiros, somos car- Vale evidenciar que são inegáveis os
ne da carne daqueles negros e benefícios que o trabalho de campo
índios supliciados. Todos nós bra-
proporciona aos estudantes, estimu-
sileiros somos, por igual, a mão
lando relações afetivas e cognitivas.
possessa que os supliciou. A do-
çura mais terna e a crueldade mais Assim, é possível promover a valoriza-
atroz aqui se conjugaram para fa- ção de diversas culturas e etnias que
zer de nós a gente sentida e sofri- formam o Brasil.
da que somos e a gente insensível
e brutal, que também somos. [...]
Desafios
A mais terrível de nossas heranças
é esta de levar sempre conosco a
“Cores, paladares, ritmos, ritos, tri-
cicatriz de torturador impressa na
bos, diante de tanta diversidade o
alma e pronta a explodir na bruta-
nosso país foi construído e hoje esse
lidade racista e classista. Ela é que
mar de culturas forma o Brasil que
encandesce, ainda hoje, em tanta
conhecemos. Mesmo assim, desde
autoridade brasileira predispos-
crianças “aprendemos” a gostar de
ta a torturar, seviciar e machucar
certos símbolos nacionais, pois isso
os pobres que lhes caem às mãos.
faz com que estejamos incluídos no
(RIBEIRO, 1995, p. 120)
que a sociedade espera de nós. O
samba, nesse sentido, pode exempli-
Assim, o cerne desse tema é investigar ficar um pouco toda essa discussão.
como as tensões que envolvem a for- Considerado como o ritmo nacional,
mação da identidade em suas diversas a beleza musical dele é inegável e
dimensões – local, regional e nacional; tem servido de referência para pro-
individual e coletiva – estão presentes jetar a cultura musical do país para
o resto do mundo. No entanto, vis-
na comunidade.
to de outro ângulo, a exaltação su-
lista desse gênero musical fez com
O estudo do meio é entendido aqui
que outros estilos não recebessem
como indispensável para o conheci- o mesmo reconhecimento da nação.
mento da realidade, não sendo apenas [...]”(DIDIER, 2012)
uma exploração do lugar, mas um mé-
todo de ensino que visa a proporcio- Além do fato de termos nascido no
nar aos estudantes e aos professores Brasil, que elementos nos identificam
a investigação e o contato direto com como brasileiros?
uma determinada realidade.

Cada unidade escolar viabilizará, se


possível, a saída dos estudantes, em
diferentes momentos, seja para coleta,
seja para verificação de dados, obser-
vação ou interferência em dada locali-
dade/comunidade.

28
O que nos faz pertencentes a um funcionam assim na prática: valem
grupo? para qualquer outra forma diversa.
(SODRÉ, 2006).
O senso comum está habituado a
pensar a diferença como um ponto Como lidamos com as diferenças em
de partida, e então julga a partir da nosso cotidiano e como se dão essas
“identidade da diferença” do outro, manifestações em nossa comunidade?
como se a identidade fosse alguma
coisa pronta e acabada. Você vê al-
guém com um turbante na cabeça
e pensa que já sabe tudo sobre ele,
que é, por exemplo, árabe, logo, is-
lamita, logo investido de determi-
nada disposição frente ao mundo.
O racismo apresenta-se geralmen-
te como esse “saber automático”
sobre o Outro. Os preconceitos

29
Referências

DIDIER, Diogo. O que te faz ser brasileiro? Ser feliz é ser livre. Jun. 2012. Dis-
ponível em:<http://serfelizeserlivre.blogspot.com.br/2012/06/o-que-te-faz-ser-
-brasileiro.html>. Acesso em: 23 set. 2016.

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São Paulo, v.1, n.1, p. 115-126. 1º sem. 2009.

LOPES, Claudivan S.; PONTUSCHKA, Nídia N. Estudo do meio: teoria e prá-


tica. Geografia. v. 18, n.2, Londrina. 2009. Disponível em: <http://www.uel.
br/revistas/uel/index.php/geografia/article/view/2360/3383>. Acesso em:
24 ago. 2016.

MEIER, Cardy. Professor Cardy. Disponível em: <http://www.profcardy.com/


exercicios/DOCS/work725.jpg>. Acesso em: 23 set. 2016.

MELO, Debora. Em dez anos, população que se autodeclara negra aumenta, e


número de brancos cai. UOL. 29 jun. 2012. Disponível em: <http://noticias.uol.
com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/06/29/em-dez-anos-populacao-que-
-se-autodeclara-negra-sobe-e-numero-de-brancos-cai-diz-ibge.htm#>. Acesso
em: 06 set. 2016.

PEREIRA FILHO, Gérson. A identidade do Brasil e do brasileiro. Gestão e Co-


nhecimento. PUC-Minas campus Poços de Caldas, v. 2, n. 2, art. 1, mar./jun. 2006.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, São Paulo:


Companhia das Letras, 1995.SANTOS, Milton. Entrevista explosiva com Milton
Santos. Entrevistadores: Marina Amaral, Sério Pinto de Almeida, Leo Gilson Ri-
beiro, Georges Bourdoukan, Roberto Freire, João Noro, Sérgio de Souza. Ago.
1998. Revista Caros Amigos. 04 mar. 2016. Disponível em: <http://www.carosa-
migos.com.br/index.php/grandes-entrevistas/6047-entrevista-explosiva-com-
-milton-santos>. Acesso em: 24 ago. 2016.

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sis-


tema SESI-SP de Ensino, São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

SILVA, Ana Maria Radaelli. Trabalho de campo: prática andante de fazer geo-
grafia. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/geo-
grafia/0003.html>. Acesso em: 24 ago. 2016.

30
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formação do povo brasileiro. Plano de Aula. 2011. Disponível em: <http://por-
taldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=32191>. Acesso em: 25
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SODRE, Muniz. Diversidade e diferença. Revista Científica de Información y


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VIEIRA, Antonio José Berutti et al. Cartografia. Curitiba: Universidade Federal


do Paraná, 2004.

THINKSTOCK. People Portraits. Fotografia. Disponível em: <http://www.thinks-


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31
O BÁSICO VOCÊ TEM?

Fonte: istockphoto

Apresentação do tema

Milhões de pessoas, em especial mundo? Quais são as consequências


crianças e pessoas no limiar da po- da falta de saneamento básico, no
breza, são atingidas pela falta de sa- que se refere à saúde e ao bem-es-
neamento básico e suas doenças, de tar dessas pessoas? Quais desafios
acordo com a Organização Mundial precisam ser vencidos e quais estra-
da Saúde (OMS). Além disso, cerca tégias estão sendo utilizadas para
de 88% dos óbitos por diarreias são sanar esse problema? Como e quan-
causados por sistemas inadequados to dinheiro os gestores públicos
de esgotamento sanitário. têm investido na busca de soluções
para a falta de saneamento básico?
Este tema propõe um trabalho sobre Quanto seria possível economizar
a conscientização acerca do sanea- com gastos na saúde pública, se a
mento básico. Quantas pessoas não população tivesse acesso ao sanea-
têm acesso à água potável ou à co- mento básico adequado?
leta e ao tratamento de esgoto no

32
O acesso à água potável e ao sanea- Contextualização
mento básico são direitos humanos
essenciais. Quase 3 bilhões de pes- Mesmo com 17 anos de antecedência,
soas no mundo não têm acesso ao o governo brasileiro já admitiu que
saneamento básico, e outras milhões não conseguirá cumprir o Plano Na-
não possuem acesso à água potável cional de Saneamento Básico que tem
de fontes confiáveis. como meta atender 90% do território
brasileiro com tratamento e destina-
As crianças são as grandes afetadas ção adequada de esgoto em 2033.
pela falta de saneamento básico. Atualmente quase metade da popula-
Cerca de 84% das crianças menores ção brasileira (43%) vive em cidades
de 5 anos sofrem por enfermidades sem rede de tratamento de esgoto
causadas por essa escassez. Cerca (FÓRUM ALTERNATIVO MUNDIAL
de 443 milhões de aulas são perdidas DA ÁGUA, [s.d.]).
pelas crianças por conta da precarie-
dade no tratamento do esgoto; 99% Há uma desigualdade incrível quando
das mortes ocasionadas por falta de olhamos para as regiões do país: en-
saneamento básico ocorrem em paí- quanto na Região Norte cerca de 90%
ses pobres e em desenvolvimento. da população não tem acesso à rede
de esgoto, na Região Sudeste esse nú-
Ao focar o olhar para dados brasi- mero é de 17%, a menor proporção no
leiros, essa e outras questões com- país (FÓRUM ALTERNATIVO MUN-
põem o objeto de estudo desse Eixo DIAL DA ÁGUA, [s.d.]).
Integrador, que visa a aplicação dos
conhecimentos das diferentes áreas Grande parte da população brasileira
do saber aplicar os conhecimentos está suscetível a doenças decorrentes
matemáticos a fim de compreender da falta de saneamento básico, que vão
os dados levantados. De posse dos desde uma corriqueira diarreia até o
dados e de outras pesquisas realiza- agravamento de epidemias, que estão
das, será possível debater, discutir, preocupando as autoridades. Os gastos
inferir, refletir e propor soluções viá- com saúde pública poderiam ser bas-
veis para os problemas encontrados tante diminuídos, caso o investimento
na comunidade/região/município em saneamento básico fosse maior
onde se vive. A base de investigação (FÓRUM ALTERNATIVO MUNDIAL DA
e a aplicação dos conhecimentos e ÁGUA, [s.d.]). Para cada R$ 1 investido
diferentes conceitos devem auxiliar em saneamento básico, são economiza-
no desenvolvimento do tema com dos R$ 4 em custos com saúde.
profundidade e embasamento cien-
tífico na proposição de soluções. Dados pesquisados pelo Instituto Tra-
ta Brasil (2015) indicam que, dos 100

33
maiores municípios brasileiros, 34 Até 2014, as cidades de São José do
não possuem o Plano Municipal de Rio Preto e de Carapicuíba nem se-
Saneamento Básico (PMSB) e apenas quer tinham um Plano Municipal de
12 atendem integralmente ao marco Saneamento Básico.
regulatório. Em tempo, essa pesquisa
ainda questionou 58 municípios, anali- Além disso, segundo o Instituto Tra-
sou a gestão em cidades que possuem ta Brasil (2015), “seriam necessários
ao menos políticas públicas na área investimentos na ordem de R$ 35
de esgotamento e, para surpresa e bilhões para se atingir a universaliza-
decepção dos pesquisadores, 32 mu- ção dos serviços de água tratada e
nicípios não quiseram responder aos de esgotamento sanitário em todo o
questionamentos realizados. Estado de São Paulo até 2020”. Desse
valor, 42% seriam gastos para trata-
A situação é tão alarmante que a di- mento de água e os 58% restantes,
retora geral da Organização Mundial para os serviços de esgoto.
da Saúde veio recentemente ao Brasil
para discutir com as autoridades bra- Desafios
sileiras medidas para frear epidemias,
em especial a microcefalia relacionada De acordo com a Organização Mun-
ao Zika vírus. dial da Saúde (OMS), doenças gera-
das pela precariedade dos sistemas de
Segundo o Instituto Trata Brasil (2015), água e esgoto e a ausência de higiene
o Brasil perde cerca de 40% da água são responsáveis por inúmeras mortes
tratada, mais da metade da popula- no mundo todo. A perpetuação de sis-
ção não tem coleta de esgoto e cerca temas inadequados de esgotamento
de 36 milhões de brasileiros não têm sanitário é causadora de 88% dos óbi-
acesso à água tratada. tos por diarreias registrados no mun-
do, e isso se passa principalmente nos
No estado de São Paulo, apesar de países em desenvolvimento.
ser o mais desenvolvido do Brasil, há
muitos locais em que esse serviço Apesar de o saneamento ser um di-
é inadequado ou inexistente. Exem- reito essencial garantido constitucio-
plos como o da cidade de Campinas, nalmente no Brasil, observa-se que
em que a maioria das 245 áreas irre- a agenda de investimento em sa-
gulares não têm saneamento básico neamento básico praticamente ficou
adequado ou, ainda, da capital do parada nas décadas de 1980 e 1990.
estado, onde cerca de 194 mil imó- Nesse período, os investimentos nes-
veis não são ligados à rede de coleta sa área não foram significativos, o
de esgotos, mostram que ainda há que colaborou para o desencadea-
muito o que avançar para que esse mento de um enorme déficit em pra-
serviço seja universalizado.

34
ticamente todas as cidades brasilei- tuto Trata Brasil ao Ibope, em 2009,
ras (TRATA BRASIL). nos municípios com mais de 300 ha-
bitantes (na época, 79 cidades) reve-
A precariedade de investimento em lou que 31% da população desconhe-
saneamento básico é uma realidade cem o que é saneamento e somente
local ou regional? Quais propostas 3% relacionam o tema à saúde.
de políticas públicas são ou podem
ser aplicadas de modo que o sanea- Que mecanismos podem ser utili-
mento básico receba os investimen- zados para maior informação e cons-
tos necessários para maior qualidade cientização da população no sentido
de vida e saúde das pessoas? de ampliar ou melhorar a qualidade
de vida?
Infelizmente, mais de 100 milhões
de brasileiros não são contemplados Quais dessas propostas de conscien-
minimamente com redes de coleta tização podem ser formuladas di-
de esgoto e ainda não têm conhe- retamente pela população sem ne-
cimento sobre sua importância para cessariamente contar com a gestão
garantir saúde e qualidade de vida. pública? Quais dessas propostas são
Pesquisa encomendada pelo Insti- necessárias para a comunidade local?

35
Referências

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ca-a-saude-publica-no-brasil.htm>. Acesso em 30 out. 2019.

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compromete universalização em duas décadas. Disponível em: < http://www.
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safios-do-avanco-do-saneamento-basico-no-nordeste-brasileiro>. Acesso
em: 10 nov. 2016.

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tabrasil.org.br/saneamento-duas-decadas-de-atraso>. Acesso em: 30
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noticias/baixo-indice-de-saneamento-basico-nas-cidades-brasileiras-e-debatido-
-em-seminario-na-fiesp/>. Acesso em: 10 nov. 2016.

36
O ESSENCIAL É INVISÍVEL
AOS OLHOS

Fonte: istockphoto
Apresentação do tema

Classificar pessoas pela cor de sua parte de um todo que não se define de
pele, tratar homossexuais como de- forma primária.
turpados e mulheres como seres in-
feriores foram durante muito tempo A Declaração de Direitos do Homem e
práticas socialmente aceitas e comuns do Cidadão3 é considerada um marco
no Ocidente. A escravidão e a grande na busca da igualdade entre todos, já
violência contra os que se revoltavam que tem como foco a não pré-classifi-
contra a cultura dominante foram mar- cação por nascimento. Desde aquele
cas constantes historicamente. No en- momento, muitos avanços no sentido
tanto, muitas transformações sociais de promoção da luta pelos direitos
mudaram a visão pré-classificatória do humanos têm ocorrido, na reflexão
ser humano, na busca de vê-lo como sobre a discriminação e luta contra a

3
Documento que se tornou um clássico para as democracias do mundo contemporâneo aprovado em 1789 pela Assembleia
Constituinte, no contexto inicial da Revolução Francesa. (Disponível em: <http://www.ambafrance-br.org/A-Declaracao-dos-
-Direitos-do-Homem>. Acesso em: 28 nov. 2016).
37
segregação. Obviamente esse marco É interessante demonstrar como con-
não impediu que existisse a escravi- ceitos de raça e de gênero já foram
dão africana, o apartheid e eventos taxados como “científicos” e serviram
históricos como o holocausto e gran- para disseminar o preconceito e a pré-
des massacres devido à cor da pele, à -determinação dos indivíduos. O estu-
religião, ao grupo de pertencimento, do e a reflexão sobre os preconceitos
à orientação política etc. visam a contribuir para a promoção
do respeito à diversidade e à plurali-
Embora esses eventos existam em dade. Disso vem a ideia de fazer um
seu aspecto macro, eles têm como movimento com os estudantes que os
reflexo também o contexto esco- auxilie a ir além das aparências, pois o
lar, transparecendo em forma de “essencial é invisível aos olhos”.
bullying e violências física e/ou sim-
bólica no mundo escolar. Refletir so-
Contextualização
bre essas manifestações, perceber
suas raízes, como se evidenciam no O preconceito e a discriminação so-
mundo escolar e seu combate são cial estão presentes em nossa socie-
objetivos desse Eixo. Tais precon- dade muitas vezes de forma velada.
ceitos invadem, inclusive, as redes A pré-classificação por gênero, cor,
sociais e o mundo virtual de modo religião etc. se faz presente na escola
geral, trazendo problemas para os e nas comunidades.
que sofrem tais preconceitos.
Essas distorções sociais estão pre-
Da mesma forma como esse é um sentes em nosso cotidiano, causando
tema debatido no mundo político e sofrimento e isolamento às suas víti-
jornalístico, ele está presente no con- mas. Denúncias de episódios de dis-
texto micro de nossos estudantes. criminação racial são frequentes. Um
Piadas, brincadeiras e diversas formas levantamento realizado pelo Correio
de bullying são expressões muitas ve- Braziliense aponta que, em três anos e
zes cotidianas no ambiente escolar, meio, mais de 12.891 denúncias de epi-
que se não levadas a sério podem sódios de discriminação racial ocor-
ser causas de diversos transtornos reram em 18 unidades da Federação.
e problemas no desenvolvimento de Esse total é distribuído em 8.741 casos
crianças e adolescentes. Além disso, é de injúria, 3.332 casos de racismo e
na escola onde primeiramente se tem 818 não especificados.
contato com a diversidade humana,
entendendo que embora tenhamos A violência no cotidiano e a pré-classi-
nossas peculiaridades devemos pro- ficação pela cor de pele e pelo gênero
mover o respeito e o aprendizado por precisam ser levadas à reflexão no am-
meio da diversidade. biente escolar.

38
O segurança Fabricio Barbosa Vi- Além da diferença por cor, outra fa-
dal tem 37 anos. Cristiana dos San- ceta muito presente do preconceito
tos Luiz, 37, é assistente social. Ele
é em relação ao gênero, em especial
chegou a levar um tapa do chefe.
às mulheres. Embora existam mui-
Ela foi impedida de entrar no banco
e humilhada na internet. A história
tos avanços em relação ao lugar do
de vida dos dois se cruza em uma feminino no ambiente de trabalho,
característica: a cor da pele, com- estudos mostram que em muitos ca-
bustível para recorrentes episódios sos as mulheres recebem menos que
de preconceito. Eles fazem parte de os homens para executar o mesmo
um país miscigenado que, a despeito
trabalho. Além disso, embora sejam
dos avanços, ainda renega a própria
maioria na vida pública, são repre-
cor. As histórias de Fabrício e Cristia-
na ocorreram em locais e de formas sentadas de forma mínima nos siste-
diferentes, mas ambas compõem mas de governo. Outro dado dessa
um cenário ampliado e entristecido realidade é que boa parte dos as-
da realidade em que o racismo é, sassinatos (33,2%) cometidos contra
costumeiramente, silenciado. Mesmo mulheres são por parceiros ou ex-
quando a vítima chega a denunciar,
-parceiros5 . A visão determinista de
o crime acaba, muitas vezes, dimi-
gêneros deve ser questionada e re-
nuído ao ser classificado como injú-
ria. (CORREIO BRAZILIENSE, 2015)
fletida em ambiente escolar, promo-
vendo a integração e a valorização
Apesar dos casos de racismo se- das capacidades de cada um, não
rem computados como baixos e de predeterminadas por sua condição
a maioria ser colocada nas estatís- social, racial ou biológica.
ticas como injúria, eles existem no
cotidiano social. Casos como os da Segundo o relatório “Progressos para
atriz Taís Araújo4 e da jornalista Ma- as Mulheres do Mundo: Em Busca de
ria Julia Coutinho tornaram-se famo- Justiça”, as mulheres ganham em média
sos, mas existem diversos outros que 30% menos do que os homens e maiori-
acabam não tendo essa repercussão. tariamente têm empregos mais vulnerá-
Tratamentos diferenciados e visões veis. A agência estima que 53% das mu-
baseadas na cor de pele devem ser lheres estão em empregos vulneráveis:
combatidas em sala de aula, refletin- autoemprego, trabalho doméstico ou
do sobre seus efeitos e como podem negócio familiar não remunerado.
ser identificados no cotidiano.

4
ATRIZ Tais Araújo é alvo de comentários racistas em rede social. G1, nov. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-
-de-janeiro/noticia/2015/11/atriz-tais-araujo-e-alvo-de-comentarios-racistas-em-rede-social.html. > Acesso em: 25 nov. 2016.

5
BRASIL. Senado Federal. Lugar de mulher também é na política. 2016. disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/
materias/2016/03/08/lugar-de-mulher-tambem-e-na-politica>

39
De acordo com a ONU Mulheres6 , a violên- Desafios
cia doméstica é criminalizada apenas em
125 países dos 193 países existentes no pla-
neta e reconhecidos pela ONU. E, mesmo
nos países em que a violência doméstica
é crime, as mulheres estão mais expostas
à violência, afinal em apenas 52 países a
violação conjugada é criminalizada.

Outro tipo de violência existente é


Que preconceitos podemos perceber em
contra pessoas com deficiência física
nosso cotidiano e de que forma podemos
ou intelectual, que se dá muitas vezes
combatê-los? Como podemos promover
pela falta de acesso a bens públicos
ações que visem ao respeito às diferenças?
e privados e, também, por crime de
ódio. A Declaração Universal dos Di- A humanidade sempre teve reações va-
reitos Humanos pronuncia que todas riadas pelas diferenças que percebiam
as pessoas devem ser tratadas frater- entre si e os vários povos com os quais
nalmente, independentemente de de- tinham contato. Guerreiros; viajantes;
comerciantes; e lendas relatavam a seus
ficiências, sejam físicas ou intelectuais,
pares, desde a mais remota antiguidade,
e ter assegurado o atendimento a suas
as exoticidades dos demais. As reações
necessidades especiais. No Brasil, a eram e são variadas: desde o medo e
Constituição Federal profere que o a repulsa, até a curiosidade e o apreço.
bem-estar deve ser garantido a todos, Aspectos culturais e físicos imediata-
sem discriminação. Além disso, o Có- mente perceptíveis da singularidade
digo Penal prevê punição aos atos dis- dos “outros”, como vestimentas; orna-
mentos corporais; estatura; cor da pele,
criminatórios. Além da discriminação
cabelos e olhos; e língua, ressaltavam a
por cor de pele ou gênero, há outras
singularidade mais aparente. Os “cos-
formas de segregação presentes no tumes” mais estranhos, porém, sobres-
cotidiano que terminam por se refle- saíam aos que tinham a oportunidade
tir na escola. Outro exemplo são as de passar um certo tempo maior entre
pessoas com algum tipo de limitação os “estrangeiros” e outras diferenças
física, que, além de terem dificuldade mais profundas entre os povos só pode-
riam ser apreendidas por um olhar mais
trazida pela própria locomoção e in-
detalhado: historiadores como Heródo-
serção social, são taxadas, muitas ve-
to são tidos, por alguns, como os primei-
zes, como menos capazes. É papel da ros “antropólogos”, por se preocuparem
escola problematizar tais fatos sociais, com a organização das sociedades que
mostrando suas raízes, combatendo- descrevia, e não somente com os acon-
-os e desenvolvendo valores de uma tecimentos históricos, buscando assim
sociedade aberta e democrática. uma razão, uma causalidade para os
eventos. (VERANI, 2016)
6
ONU Mulheres. Disponível em:<http://www.onumulheres.org.br/>.Acesso em: 25 nov. 2016.>

40
Fonte: flickr

“Você não tem noção do que é ser negão “Onde você guarda seu racismo?” Como
Então para de dizer que o primo do podemos combater a reprodução do ra-
teu avô é preto cismo? Ou como romper com a domi-
E que por isso você também é negro” nação das noções preconcebidas?
Thiaguinho - Da Pele Preta (2016)7

7
THIAGUINHO. Vagalume. Disponível em: <https://www.vagalume.com.br/thiaguinho/da-pele-preta.html>. Acesso em: 28
nov. 2016.

41
Referências

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www.diarioliberdade.org/archivos/Administradores/diego/2013-07/170713_racis-
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FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos barcos. São Paulo: Global, 1972.

_____. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Globo, 2013.

HERÓDOTO. História. Traduzido por Pierre Henri Larcher. Rio de Janeiro, W. M.


Jackson, 1950. (Clássicos da Jackson - vol. XXIII e XXIV).

HARTOG, François. O Espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do ou-


tro. Tradução de Jacyntho Lins Brandão. Belo Horizonte: UFMG, 1999.

LEER, Harper. O sol é para todos. Niterói: Civilização Brasileira, 1963.

OLIVEIRA, Ivane Martins. Preconceito e autoconceito: identidade e interação na


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QUASE 13 mil pessoas sofreram discriminação racial em três anos e meio. Cor-
reio Braziliense. 12 jul. 2015. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.
br/app/noticia/brasil/2015/07/12/interna-brasil,489910/quase-13-mil-pessoas-so-
freram-discriminacao-racial-em-tres-anos-e-meio.shtml> Acesso em: 07 nov. 2016.

QUEM foi que disse que tem racismo no Brasil? Circuito geral 2015, jul. 2016. Dis-
ponível em: <http:// circuitogeral2015.blogspot.com.br/2016/07/quem-foi-que-dis-
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SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP) Referencial Curricular do Sistema


SESI-SP de Ensino, São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

VERANI, Cibele. Diversidade humana. Ghente.org. Disponível em: <http://www.


ghente.org/ciencia/diversidade/>. Acesso em: 28 nov. 2016.

THINKSTOCK. Disabled children with friends and teacher. Fotografia. Disponível


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sability/f=CPIHVX/s=DynamicRank>. Acesso em: 08 dez.2016.

42
O MUNDO É PLURAL!

Negro Branco Homossexual Heterossexual Religioso Ateu Você


Fonte: istockphoto

Apresentação do tema

“Todos os seres humanos nascem li- de qualquer espécie, seja de raça, cor,
vres e iguais em dignidade e direitos. sexo, idioma, religião, opinião política
São dotados de razão e consciência e ou de outra natureza, origem nacio-
devem agir em relação uns aos outros nal ou social, riqueza, nascimento ou
com espírito de fraternidade”. Esse qualquer outra condição”, tendo di-
é o Artigo I da Declaração Universal reito à liberdade de pensamento, de
dos Direitos Humanos, proclamada consciência e de religião, de opinião e
pela Organização das Nações Unidas de expressão (Artigos 18 e 19).
em 10 de dezembro de 1948. Respos-
ta às atrocidades a que o mundo foi No entanto, passados mais de meio
submetido durante a Segunda Guerra século de sua promulgação, os crimes
Mundial, tal declaração preconiza que de ódio estão cada vez mais em des-
todos somos iguais em nossa dignida- taque nos noticiários nacionais e inter-
de e em nossos direitos. nacionais, e a falta de compreensão
com o que é diferente, com aqueles
A Declaração também reconhece que divergem de nossas opiniões, se
que a diversidade e as diferenças são manifesta em atitudes desrespeitosas
constitutivas dos seres humanos ao e agressivas de intolerância étnica, po-
afirmar, em seu Artigo II, que todo “ser lítica, de gênero, de classe, religiosa,
humano tem capacidade para gozar sexual, cultural, linguística e social. Por
os direitos e as liberdades estabeleci- que, cada vez mais, parece tão difícil
dos nesta Declaração, sem distinção conviver com as diferenças?

43
Mas, afinal, quais são essas diferenças? mento da alteridade, do colocar-se no
A intolerância se ramifica em várias lugar do outro, já que um dos grandes
vertentes, sendo uma delas a social, desafios do mundo contemporâneo é
que está ligada a causas políticas e à fazer com que os diferentes consigam
religião. A motivação é direcionada conviver juntos, em uma atitude de
pela cultura e se expressa em racismo, respeito e reconhecimento dos direi-
xenofobia, homofobia e sexismo. Todos tos à liberdade.
os dias nas cidades há manifestações
de intolerância, por exemplo, no trân- Neste tema, abordar a intolerância,
sito, quando as pessoas ultrapassam os preconceitos e as discriminações é
umas às outras pela direita, o que, além uma forma de reafirmar o compromis-
de não recomendável, é proibido, pois so que a educação deve assumir para
bloqueia a visão da pessoa à esquer- a consolidação de uma cultura de paz,
da. Isso acaba provocando xingamen- favorecendo, como nos diz o Artigo 26
tos, ofensas verbais ou até agressão da já citada Declaração Universal dos
física. O intolerante também pode se Direitos Humanos, “a compreensão, a
incomodar por motivos fúteis, como tolerância e a amizade entre todas as
algum motorista que esteja transitando nações e todos os grupos étnicos ou
devagar. Alvos comuns dessa irritação, religiosos” (ONU, 1948).
motivada por puro preconceito, são
mulheres, idosos e jovens, o que pode Contextualização
se traduzir em palavras ou gestos.
Com ideias em falta, os xingamen-
A discriminação também se estende tos sobram. A narrativa dos intole-
rantes não é a de contar histórias,
ao mundo esportivo, atingindo direta-
mas a de encontrar culpados. O dis-
mente negros, gays, migrantes e tor-
curso dos intolerantes não é a con-
cidas rivais. Encontramos também nas versa e a argumentação, é a ofensa.
mídias sociais outros posicionamentos (Antonio Lassance)
condenáveis em relação a diversos
campos da sociedade, como a for- Comparado a períodos históricos ante-
mação de grupos pró-racismo ou que riores, hoje vivemos em um mundo com
promovem ações violentas a museus, muito mais liberdade.
bancos, instituições e pessoas.
A humanidade passou por muitas guer-
Diante desse cenário, sensibilizar os ras para que fosse construída a base
estudantes para a riqueza da diversi- social e cultural necessária à democra-
dade e educar para a tolerância é con- cia, aos direitos humanos, à ampliação
templar as diferenças entre os iguais e universalização da cidadania. Parado-
e as igualdades entre os diferentes. É xalmente, vemos hoje muitas manifesta-
também um exercício de reconheci- ções de intolerância, incompatíveis com

44
os ideais libertários e democráticos pac- que guarda por trás de si a intolerância
tuados em meados do século passado. em seus diversos aspectos.
Ficamos assombrados com genocídios,
guerras étnicas, xenofobia, homofobia, Nesse sentido, debruçar-se sobre o tema
preconceito racial, intolerância religiosa, “intolerância”, extremamente atual e re-
misoginia (desprezo pelas mulheres), presentativo da trajetória humana, pode
entre outras formas de intolerância, pre- se tornar uma tarefa muito estimulante,
conceito, discriminação e segregação. significativa e fascinante para o jovem
estudante do ensino fundamental.
Em diversas partes do mundo, inclusive
em países tradicionalmente democráti-
Desafios
cos, percebe-se o recrudescimento de
discursos e atitudes radicais e excluden-
tes, supostamente enterrados pela histó-
ria, mas, ao que parece, apenas mantidos
em estado latente, sufocados pelo perío-
do libertário conquistado com o suor e
sangue das gerações passadas. Posi-
cionamentos extremistas configuram o
pano de fundo das grandes tensões e
conflitos e, como tal, tornam preocupan-
te o movimento que transforma rapida-
mente grotescas caricaturas de supos-
tos líderes em reais alternativas de poder
e influência.

Manifestações de intolerância religiosa


e política como o Estado Islâmico do
Iraque e Síria (ISIS), guerras em diversos
países do mundo, notadamente no con-
tinente africano, o ressurgimento do dis-
curso neonazista na Alemanha, o cresci-
mento do Partido Nacionalista na França
ou do Partido Aurora Dourada na Grécia, O que está errado em nossa sociedade
o advento do Brexit na Inglaterra, a elei- quando permitimos que a intolerância
ção de Donald Trump nos EUA, a queda de uns se manifeste de forma tão cruel
de diversos governos ditos progressistas diante de outro ser humano, apenas
na América Latina...Tudo isso tem de- por este ter opiniões diversas daque-
monstrado um preocupante retrocesso les? Qual a origem desse ódio? O que
nas conquistas históricas da democracia, fazer para solucionar este problema?

45
res. Resultou de uma luta histórica
Primeiro levaram os negros dos movimentos feministas e de mu-
Mas não me importei com isso lheres por uma legislação contra a
Eu não era negro impunidade no cenário nacional de
Em seguida levaram alguns operários
violência doméstica e familiar contra
a mulher. (BRASIL, 2012).
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
A lei contra o feminicídio (Lei nº
Depois prenderam os miseráveis
13.104, de 9 de março de 2015) é uma
Mas não me importei com isso
recente conquista da luta das mulhe-
Porque eu não sou miserável
res por proteção jurídica contra abu-
Depois agarraram uns desempregados sos e agressões.
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei “Em briga de marido e mulher não se
Agora estão me levando mete a colher”. Esse ditado popular
Mas já é tarde. revela muito sobre como o país tra-
Como eu não me importei com ninguém tou a violência doméstica e contra a
Ninguém se importa comigo. mulher. Isso porque durante séculos,
esse tipo de agressão nem sempre
Bertolt Brecht foi considerada violência pela socie-
Fonte: Paula, 2014
dade brasileira. Essa frase naturaliza
um ato abusivo, como algo sem im-
portância e de interesse particular,
uma situação que não precisa de aju-
É comum a ocorrência de atitudes in- da ou um “não é problema meu”.
tolerantes como o ódio racial, o ódio
contra as mulheres ou contra os imi- A cada ano, mais de um milhão de
grantes na comunidade local e região? mulheres são vítimas de violência
É possível ter acesso a esses dados na doméstica no País, segundo levan-
delegacia do município? O que tem tamentos do Instituto Brasileiro de
sido noticiado nos jornais? Há regis- Geografia e Estatística (IBGE). Ou-
tros de violência contra homossexuais tros dados mostram a gravidade da
ou transexuais? O que é possível fazer questão: a cada 5 minutos uma mu-
para promover a tolerância, o respeito lher é agredida no Brasil; uma em
e a solidariedade entre as pessoas? cada cinco mulheres já sofreu algum
tipo de violência de um homem (co-
A popular Lei Maria da Penha (Lei nhecido ou não).
11.340/2006) é reconhecida pela
ONU como uma das três melhores
legislações do mundo no enfrenta-
mento à violência contra as mulhe-

46
Fonte: 0% de intolerância Religiosa, 2016.
O parceiro é responsável por 80%
dos casos reportados. Os dados são
de uma pesquisa de 2010 da Funda-
ção Perseu Abramo. (CUNHA, 2016b)

Qual o índice de violência contra as


mulheres registrado na Delegacia da
Mulher do bairro e/ ou cidade? Você
conhece casos/histórias de mulheres Por que existe intolerância religiosa
que foram agredidas ou sofreram al- entre os seguidores de religiões di-
gum tipo de discriminação apenas por versas se a mensagem de todas as
serem mulheres? Legislações como a religiões é a paz? Há religiões mais
Lei Maria da Penha são necessárias? perseguidas do que outras? Quais os
Como a mulher era tratada na legisla- casos de intolerância religiosa pre-
ção que vigorava anteriormente (Ci- sentes na comunidade e entorno? O
vil 1916, Penal 1940), onde constavam que é possível fazer para promover
os termos “mulher honesta”, “mulher uma cultura de paz e respeito entre
virgem”, “rapto consentido” etc.? Em os praticantes de diversas religiões?
que medida essas novas leis podem Há intolerância religiosa na sua co-
fazer com que os índices de violên- munidade/escola?
cia contra a mulher diminuam? Que
outras ações podem ser criadas para
ajudar a solucionar essa questão?

47
Referências

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49
OBSTÁCULOS OU OPORTUNIDADES?
Considerando o cenário econômico do
Brasil e do mundo e as realidades locais,
espera-se que essa temática ajude os
estudantes a compreender as questões
econômicas, sociais, políticas e cultu-
rais que os rodeiam e a empreender
soluções criativas e inovadoras para os
desafios enfrentados no cotidiano, esti-
mulando o protagonismo juvenil e uma
atitude transformadora e crítica diante
dos problemas atuais.

Nesse sentido, a fim de contextuali-


zar a temática, os estudantes farão
investigações em torno de dados es-
tatísticos, da importância global do
empreendedorismo, de exemplos de
empreendedorismo (coorporativo,
startup, social) etc. Serão estimulados
Fonte: Thinkstock 2019
a mapear a comunidade, o bairro ou a
Apresentação do tema cidade para conhecerem os produtos
e serviços oferecidos. Nessa investiga-
Ao longo de décadas de debates ção, os estudantes irão observar as ne-
sobre o assunto, a capacidade de cessidades locais que ainda não foram
empreender foi associada a um tra- atendidas, sendo incentivados a criar
ço inato da personalidade, para hoje soluções para contemplá-las e a divul-
passar a ser entendida como uma gar tais soluções num movimento de
atitude. Essa ideia de que todos os promoção de agentes multiplicadores.
indivíduos são empreendedores em Podem considerar ainda o desenvolvi-
potencial forneceu a base para se mento de ações fundamentadas nos
pensar em uma “educação empreen- princípios do empreendedorismo so-
dedora” ou em uma “educação para cial, por exemplo, buscando soluções
o empreendedorismo”. Como conse- na economia criativa e na economia
quência, a escola despontou como solidária, fomentando assim a elabo-
um importante espaço no incentivo ração de projetos de intervenção local
do espírito empreendedor. de relevância para a comunidade.

50
Contextualização preendedorismo, à economia criativa
e à economia solidária. Na sequência,
O mundo da moda não reflete a reali- trataremos sucintamente de cada uma
dade do Brasil, país em que os negros dessas alternativas criativas de negó-
(pretos e pardos) são maioria – soma- cios e serviços.
vam 53,6% da população em 2014.
Quando falamos de empreendedoris-
De olho nessa desproporção históri- mo, não é difícil ligar a esse assunto às
ca, um jovem casal de Salvador criou palavras inovação, oportunidade e cria-
uma loja virtual que tenta mostrar que tividade, sendo esta última a palavra
é possível, sim, priorizar a negritude da vez, considerada atualmente como
nesse mercado – e lucrar com isso. A o ingrediente essencial do crescimen-
Kumasi é uma plataforma de vendas to econômico e de ganhos de produ-
online que reúne artigos artesanais tividade (MADEIRA, 2014). De acordo
produzidos somente por pequenos com Newbigin (2016), a criatividade é
empreendedores negros. um processo disruptivo que faz com
que as pessoas questionem os limites e
E a própria loja nasceu por uma causa: os pressupostos estabelecidos.
levantar recursos para bancar a De-
sabafo Social, rede de educação em No Brasil, o empreendedorismo sur-
direitos humanos criada por Monique giu na década de 1990, quando novos
e que transformou a jovem em refe- planos de negócios e oportunidades
rência quando o assunto é feminismo foram criados para impulsionar a com-
negro e ativismo social no Brasil. petição com os produtos importados
que chegavam devido à abertura eco-
A rede de jovens e adolescentes co- nômica no país.
meçou em 2011 como uma chapa de
grêmio estudantil de escola pública. A movimentação econômica no mun-
Hoje tem 30 mil seguidores na inter- do gerada pelo empreendedorismo
net. Com 80 voluntários em 13 es- aumenta diariamente. Pesquisadores
tados, organiza grupos de estudos, da GERA (Global Entrepreneurship
videoconferências e oficinas sobre Research Association) estão convic-
temas como racismo e inserção social. tos de que as novas alternativas de
(UCHÔA, 2016) negócios podem ser uma ferramenta
poderosa para combater a pobreza e
No exemplo acima, podemos identi- reduzir a desigualdade social.
ficar uma ação empreendedora que
alia inovação, criatividade e ativismo, A última pesquisa realizada pela Glo-
visando a atender demandas sociais, bal EntrepreNeurship Monitor (GEM)
econômicas e políticas que eviden- mostrou que três em cada dez brasi-
ciam elementos relacionados ao em- leiros entre 18 e 64 anos possuem ou

51
estão envolvidos com a criação de lhos de celular. Também estão incluí-
um negócio próprio. Em dez anos, das as atividades de televisão, rádio,
a taxa de empreendedorismo no cinema e fotografia, além da expan-
Brasil passou de 23,4%, em 2004, são dos diferentes usos da internet
para 34,5%. Ainda de acordo com a (desde as novas formas de comuni-
pesquisa, ter o próprio negócio é o cação até seu uso mercadológico)
terceiro maior sonho do brasileiro, (SEBRAE, 2016).
depois de comprar a casa própria e
viajar pelo país. As pessoas que al- A Economia Solidária é um jeito di-
mejam se tornar o seu próprio chefe ferente de produzir, vender, comprar
são 31% no país, praticamente o do- e trocar o que é preciso para viver.
bro das que desejam fazer carreira Enquanto na economia convencional
numa empresa (16%). existe a separação entre os donos do
negócio e os empregados, na eco-
A Economia Criativa nomeia mo- nomia solidária os próprios trabalha-
delos de negócio ou gestão que se dores também são donos. São eles
originam em atividades, produtos ou quem tomam as decisões de como
serviços desenvolvidos a partir do tocar o negócio, dividir o trabalho e
conhecimento, criatividade ou ca- repartir os resultados. São milhares
pital intelectual de indivíduos com de iniciativas econômicas, no campo
vistas à geração de trabalho e renda. e na cidade, em que os trabalhadores
Diferentemente da economia tradi- estão organizados coletivamente:
cional, de manufatura, agricultura e associações e grupos de produtores;
comércio, a economia criativa, es- cooperativas de agricultura familiar;
sencialmente, foca no potencial indi- cooperativas de coleta e reciclagem;
vidual ou coletivo para produzir bens empresas recuperadas assumidas
e serviços criativos. De acordo com a pelos trabalhadores; redes de pro-
Organização das Nações Unidas, as dução, comercialização e consumo;
atividades do setor estão baseadas bancos comunitários; cooperativas
no conhecimento e produzem bens de crédito; clubes de trocas; entre
tangíveis e intangíveis, intelectuais outras (BRASIL, 2015).
e artísticos, com conteúdo criativo e
valor econômico.

Grande parte dessas atividades vem


do setor de cultura, moda, design,
música e artesanato. Outra parte é
oriunda do setor de tecnologia e ino-
vação, como o desenvolvimento de
softwares, jogos eletrônicos e apare-

52
Brasília – Na comparação mundial, o
Desafios
Brasil se destaca com a maior taxa de
Coxinha, quibe e feijoada: jovem empreendedorismo (34,5%) quase 8
abre bar vegano que imita comida pontos porcentuais à frente da Chi-
de boteco. na, o segundo colocado, com taxa de
26,7%. O número de empreendedo-
O número de pessoas que busca res entre a população adulta no país
uma alimentação mais saudável vem é também superior ao dos Estados
crescendo, segundo Juliana de Ma- Unidos (20%), Rei- no Unido (17%),
galhães Berbert, consultora do Se- Japão (10,5%) e França (8,1%). Entre
brae-SP (Serviço de Apoio às Micro as economias em desenvolvimento, a
e Pequenas Empresas de São Paulo). taxa brasileira é superior à da Índia
(10,2%), África do Sul (9,6%) e Rússia
A demanda vem crescendo e ainda (8,6%). (ALVES, 2016)
há muito campo para ser explorado.
Até pouco tempo, os produtos não Qual o panorama do empreendedoris-
eram vistos como saborosos. Hoje, mo no Brasil e no mundo? Que fatores
estão mais atraentes e a procura au- podem explicar o destaque do Brasil
mentou (RODRIGUES, 2016). nesse cenário? Que relações podem
ser estabelecidas entre os índices na-
Que necessidades de produtos e/ou cionais e os de sua comunidade?
serviços identificamos em nossa co-
munidade? E que ações podem ser
propostas visando a atendê-las?

Fonte: Thinkstock 2019

53
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58
OUTRAS NUANCES DO VERDE

Fonte: Thisnktock, 2016

Apresentação do tema

Fonte: Thinkstock
Apresentação do tema

Quando se ouve falar em ambiente, Para tanto, é preciso compreender o


logo se pensa em plantas verdes cres- ambiente como o local em que mora-
cidas cercando o lugar e, de preferên- mos, brincamos, trabalhamos ou nos
cia, intocáveis. Para se compreender divertimos, e para cuja qualidade con-
melhor sobre o ambiente, o que é e correm fatores como a luz, a umidade,
onde ele se encaixa nos dias atuais, a poeira, o mofo, o ruído, a temperatura,
contamos com a educação ambien- o conforto, o arejamento, entre outros.
tal, que é originária da preocupação Como as populações locais e suas cul-
da sociedade com o futuro da vida no turas se relacionam e interferem em seu
planeta e de como podem viver me- próprio ambiente? Como ele pode ser
lhor as gerações atuais e aquelas que modificado de forma positiva?
estão por vir. Portanto, parece que está
mais do que na hora de construir ou- As ações antrópicas impactam a ocupa-
tros modos de se pensar o ambiente e ção dos espaços, a locomoção, a produ-
as relações sociais que o influenciam. ção de alimentos, a retirada de recursos

59
naturais, o despejo de resíduos sólidos e Contextualização
a produção de energia. Têm ocasionado
problemas ambientais como o aumento As discussões desse tema estão ligadas
da temperatura, dos ruídos, de material ao ambiente e à qualidade de vida das
particulado e de substâncias voláteis, pessoas. Há uma preocupação crescente
além da diminuição da umidade do ar, com esse tema por parte de governos,
interferindo na saúde individual, coleti- empresas, cidadãos, instituições de pes-
va e do ambiente. quisa e ONGs, que procuram, cada vez
mais, adotar práticas que melhorem os
Os aspectos a serem discutidos neste ambientes locais (prédios, ruas, cidades)
tema, portanto, estão voltados para um e contribuam para preservar ou restaurar
problema desafiador que envolve a vi- o equilíbrio do ambiente planetário.
são diferenciada do que é ambiente e a
compreensão por parte dos estudantes Muito além do ambiente natural, po-
da influência dos fatores ambientais na de-se considerar também o ambiente
saúde e no bem-estar das pessoas, para doméstico, dos escritórios, das fábricas,
que possam intervir em seus locais de de uma sala de cinema, da rua, do bair-
moradia, lazer e estudo promovendo ro, da cidade ou da lavoura. Entende-se
ações de melhoria. ambiente, portanto, como o conjunto
de fatores físicos, químicos e biológicos
Dessa forma, os estudantes, munidos que exercem influência sobre um ser
desses conhecimentos, poderão propor vivo, como a água, o ar (gases, partícu-
soluções para mitigar esses impactos, e las sólidas, compostos voláteis), a lumi-
divulgá-las de maneira educativa para nosidade, a temperatura, o solo, os sons,
a comunidade. Permitir aos estudantes os poluentes e os micro-organismos, e
o estudo desses impactos e o modo de que podem determinar a qualidade de
evitá-los ou mesmo minimizá-los possi- vida dos seus frequentadores com refle-
bilita que eles realizem ações desenvol- xos diretos na sua saúde física e mental.
vendo habilidades específicas de cada
área do conhecimento. Na discussão sobre a qualidade dos
diversos ambientes, o conceito de sus-
tentabilidade (social, ambiental e eco-
nômica) torna-se central. Nesse sentido,
o Ministério do Meio Ambiente (MMA)
brasileiro elaborou um Plano de Ação
para a Produção e Consumo Sustentá-
veis que tem, como um dos enfoques,
trabalhar por construções e cidades
mais sustentáveis, primando pela quali-
dade de vida da população.

60
co”. (PAIXÃO, 2002 apud LOURENÇO;
De acordo com suas SILVEIRA, 2011, p. 547). Esses conta-
publicações, o plano tem minantes podem ser o ruído, a poeira,
o objetivo de fomentar os micro-organismos ou os compostos
políticas, programas e ações orgânicos voláteis (VOC) emanados
que promovam a produção de tintas, colas e vernizes. Ao mesmo
e o consumo sustentáveis tempo, outros fatores também interfe-
no país. Enfoca seis áreas rem no ambiente, como a luminosida-
principais: Educação para o de, a umidade do ar, a temperatura e o
Consumo Sustentável; Varejo arejamento. Todos eles merecem aten-
e Consumo Sustentável; ção quando se discute a qualidade do
Aumento da reciclagem; ambiente em que vivemos, com con-
Compras Públicas Sustentáveis; sequências para a saúde, o bem-estar
Construções Sustentáveis e a segurança de todos.
e Agenda Ambiental na
O ruído em sala de aula, por exem-
Administração Pública (A3P).
plo, pode afetar a concentração no
Esse último programa incentiva
processo de ensino e aprendizagem,
a incorporação de atitudes
causando problemas de atenção e in-
sustentáveis na rotina dos
fluenciando na inteligibilidade e no
órgãos públicos do país. (...)
entendimento das informações. A efi-
buscar um melhor ordenamento
ciência da comunicação verbal é preju-
do ambiente urbano primando
dicada e a atenção pode ser facilmente
pela qualidade de vida da
desviada. Além de certo nível, o ruído
população é trabalhar por uma
do ambiente também causa descon-
cidade sustentável. Melhorar a
forto, e pode contribuir para estados
mobilidade urbana, a poluição
de estresse e provocar alterações nos
sonora e atmosférica, o
aparelhos fonador e auditivo, devendo
descarte de resíduos sólidos,
ser controlado nos diversos ambientes.
eficiência energética, economia
de água, entre outros aspectos,
A baixa umidade do ar também pode
contribuem para tornar uma
afetar as funções respiratórias, cau-
cidade sustentável. (BRASIL,
sando desde um simples desconforto,
MMA, 2016)
com potencial para prejudicar a aten-
ção, até problemas como rinite, asma
No entanto, a maioria dos ambientes e tosse. Em excesso, pode favorecer o
em que vive a população não é sus- desenvolvimento de fungos, cujos es-
tentável. “Diariamente, o ser humano é poros podem provocar reações alérgi-
afetado por contaminantes que rom- cas além de odores desagradáveis de
pem o seu equilíbrio natural e ecológi- mofo. Por conta de seus reflexos sobre

61
a saúde humana, deve ser controlada. Sendo assim, como os sons presentes
Esse fator ambiental é determina- nos ambientes interferem na saúde e
do pela quantidade de vegetação no no bem-estar das pessoas? Quando
bairro e no entorno, e está diretamen- um som é considerado ruído? Como
te associado ao nível de insolação/ se pode analisar e solucionar um pro-
sombreamento do local. blema de ruído em um ambiente?

Dessa forma, a análise dos diversos A falta de responsabilidade social e


fatores ambientais presentes em um ambiental de algumas empresas e go-
local, visando a propor soluções para vernos transformou algumas cidades
melhorar a qualidade ambiental, pode em ambientes tão poluídos que a vida
ser um bom campo de estudos. Pre- se tornou quase inviável” (eCycle). Por
tende-se que os estudantes analisem outro lado várias empresas e governos
os ambientes em que vivem e propo- no mundo vêm trabalhando no sentido
nham ações fundamentadas em dados de tornar as cidades mais sustentáveis,
e em conhecimentos científicos para enquanto engenheiros e arquitetos já
solucionar os problemas detectados e projetam edificações sustentáveis. Es-
transformar positivamente o mundo à sas questões nos fazem pensar sobre
sua volta, pois da sua relação com o as relações entre tecnologia, socieda-
ambiente dependerão sua saúde e seu de e ambiente. Partindo dessa refle-
modo de estar no mundo. xão, que fatores ambientais devem ser
considerados ao se avaliar a qualidade
Desafios de algum ambiente? O que é preciso
fazer para tornar uma edificação ou
As perguntas aqui apresentadas são uma cidade mais sustentável, melho-
impulsionadoras do trabalho; outras rando a qualidade desses ambientes
poderão surgir no decorrer do traba- para que produzam saúde e equilí-
lho com o Eixo devido à necessidade brio ecológico?
da pesquisa a ser desenvolvida.
Essas e outras questões que surgirem
Um dos condicionantes do ambiente é no desenvolvimento deste tema nor-
o excessivo barulho que afeta o bem- tearão o trabalho com os estudantes,
-estar da maioria dos indivíduos. De instigando a curiosidade e a autono-
acordo com o site Rudge Ramos Onli- mia no ensino e aprendizagem na ar-
ne, em muitos municípios os morado- ticulação das áreas de conhecimento.
res sofrem com o barulho provocado
pelo som alto de carros, pelas festas
na rua, o trânsito intenso ou pela pro-
ximidade com uma construção.

62
Referências

LOURENÇO, Giane Margarete S.; SILVEIRA, Djalma Dias da. Educação Ambiental.
Revista eletrônica de educação ambiental – REGET- CT/ UFSM, 2011.

RUDGE RAMOS online, Excesso de ruído pode causar perda da audição e insônia.
Disponível em:<http://www.metodista.br/rronline/noticias/saude/2016/03/exces-
so-de-ruido-pode-causar-perda-da-audicao-e-insonia.2>. acesso em: 16 dez. 2016

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Cidades Sustentáveis. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis>. Acesso em: 18 nov. 2016.

CONHEÇA as principais substâncias que devem ser evitadas nos cosméticos e pro-
dutos de higiene. Ecycle. Disponível em: <http://www.ecycle.com.br/component/
content/article/63/2180-substancias-cosmeticos-produtos-higiene-quimicos-no-
civose-vitar-triclosan-formaldeido-parabenos-triclocar-ban-alcatrao-carvao-hul-
ha-cocamida-dea-bha-bht-chumbo-fragrancia-tolueno-oxibenzona-acido-borico-
-liberadores-dioxina-lauril-sulfato-de-sodio-fluor.html>. Acesso em: 05 dez. 2016.

63
PENSAR NA MODA É SÓ MODA?

Fonte: istockphoto

Apresentação do tema

O mercado da moda é um dos que ainda parece estar ligada a questões


mais crescem no Brasil. Em dez anos, fúteis e a pessoas superficiais, que se
de acordo com reportagem da Revista preocupam mais com a aparência do
Exame (2014), o faturamento do setor que com o “conteúdo”. Só que a moda
quadruplicou, chegando a 140 bilhões não está restrita ao consumo de obje-
de reais em 2013. Os brasileiros nunca tos. Também se “consome” um modo
gastaram tanto dinheiro com sapatos, de vida, uma forma de ser e de parecer
roupas, joias, óculos e os demais pro- para o mundo. Na internet e nas redes
dutos que formam o que se conven- sociais, propagam-se blogs que se de-
ciona chamar de mercado da moda. dicam a este tema, tendo as blogueiras
Em nenhum país esse setor cresce de moda e lifestyle adquirido status de
tanto quanto no Brasil. celebridade e referência para os jovens.
Para além desses clichês, especifica-
Apesar desta importância econômica, mente para a área de Linguagens, a
de maneira geral, a moda para muitos moda é geradora de sistemas simbóli-

64
cos e representante do entendimento anos, acredita-se que as roupas fazem
de cultura como modos de vida e rela- parte do cotidiano de nossa espécie,
ções de poder, tendo como referência seja para proteção do frio, do vento,
e sendo referência para o cinema, a te- da umidade ou do calor, seja para es-
levisão, a literatura, a música, relaciona- conder a nudez.
da a culturas tradicionais e alternativas,
eruditas e de massa. Os vestuários, suas cores e ma-
teriais sempre carregaram forte sim-
O desenvolvimento deste tema deve bologia, sendo inclusive objeto de leis
garantir que o estudante do ensino e regimentos que buscavam controlar
fundamental desperte seu olhar crí- hábitos de consumo relacionados ao
tico e consiga desgarrar-se dos luga- luxo – e seus excessos –, as chamadas
res-comuns, não caindo na armadilha Leis Suntuárias, que tiveram pouco
de mero consumidor passivo de bens efeito prático. No Antigo Egito, o linho
simbólicos e materiais. Enquanto pro- era considerado a fibra mais pura, pois
duto cultural na contemporaneidade, clareava-se naturalmente sob a luz do
o trabalho pode ser conduzido a partir sol (considerado pelos egípcios um
de vários enfoques: corpo como su- deus), e por isso simbolizava a pure-
porte e meio de expressão; discursos, za e a nobreza. Já para os romanos,
mídias e comportamentos culturais; a cor associada ao poder era o ver-
estética, padrões de beleza e corpo- melho, simbolizando calor e força. Na
latria; identidade(s), comportamentos Idade Média, a roupa era um marcador
e atitudes; massificação, indústria da de classe social: os nobres possuíam
moda e consumo; empoderamento e tecidos e cores diferenciadas, e a bur-
representatividade por meio da moda. guesia, rica, tentava imitar as roupas
Mais que tudo isso, pretende-se que o da nobreza, e os costureiros tinham
estudante desconstrua a ideia comu- trabalho para diferenciar nobres de
mente difundida de que moda é “coisa burgueses. De geração para geração,
de menina”, limitando-se ao vestuário. o vestuário seguia este “modelo” de
distinção de classe.
Contextualização
Somente a partir da Revolução
“A moda é o que a gente traz, o que Industrial, com a redução de custos
está fora de moda é o que trazem os na produção de tecidos e produções
outros. ” de máquinas de costura, a população
(Oscar Wilde) passa a ter mais acesso às roupas, e
elas adquirem o caráter de necessi-
A história da moda e do vestuário dade, cultural e socialmente. Desde
confunde-se com a história do pró- então, a moda passou adquirir uma
prio homem. Desde o aparecimento forte conotação simbólica, mesmo em
do Homo sapiens, há mais de 600 mil

65
momentos históricos de crise mundial, Os padrões de beleza, de gênero e de
nos períodos de guerra refletindo ou comportamento são cada vez mais
contestando as hegemonias culturais. postos em xeque - embora as revistas
Com a modernidade, para marcar uma e campanhas publicitárias ainda pro-
posição quanto ao conservadorismo paguem os discursos hegemônicos
dos vestuários, a moda surge enquan- sobre “o que é ser e parecer belo”. A
to “novidade”, ou seja, não se buscava moda é reconhecida como uma das
mais seguir os modelos e a tradição das formas de se questionar e contestar a
gerações anteriores, tanto no que elas sociedade ao trazer para a discussão
vestiam, como no que elas pareciam. pública problemáticas como represen-
tatividade, empoderamento, consumo
e sustentabilidade – debates muito
influenciados pelos discursos mi-
diáticos, pelas novas tecnologias e
pelas redes sociais.
Fonte: Ferreira, 2016

Desafios

A espécie Homo sapiens é a única


que tem o ‘estranho’ costume de
usar roupas. Por que isso aconte-
ceu? Por proteção? Por pudor? Para
Na contemporaneidade, a moda incor- diferenciar social e culturalmente seus
pora muitas das contradições que vive- grupos? Inventamos diversas maneiras
mos, sendo cada vez mais uma forma de nos vestir e nos revelamos através
de expressão das identidades. Ainda do que vestimos. Ao escolher nossas
há a celebração de padrões de bele- roupas, demonstramos nossas convic-
za, e o corpo é cada vez mais gerador ções religiosas, nosso sexo, nossa posi-
de sistemas simbólicos, sendo suporte ção social, nossa origem étnica, nossa
para mensagens que dão voz às es- profissão ou mesmo nossa intenção
colhas pessoais em relação ao mundo de chocar, nosso desejo de agradar e,
por meio de adornos (ou da ausência às vezes, nossa originalidade. (MODA,
deles), tatuagens, piercings e modifi- 1999. Adaptado)
cações corporais. Nas culturas juvenis,
a moda é uma estratégia de diferen- Hoje em dia a minissaia faz parte des-
ciação (SILVA, 2008), demarcando as de uniforme escolar, de uniforme de
identidades dos grupos culturais que tenista, e pode ser usada das mais va-
se expressam por suas roupas, músicas riadas maneiras. [...] O que em 1960 foi
e comportamentos contestadores. um choque, já faz parte dos armários e
virou ícone fashion. [...]. No início uma

66
revolução, hoje em dia algo usual. As Ao estar ligado a padrões de beleza e
minissaias começaram e continuam de comportamento, o tema toca em
ousadas. Símbolo de luta das mulheres, pontos polêmicos da adolescência,
hoje é marca registrada do público fe- como problemas de autoestima, acei-
minino (GREGORI, 2013. Adaptado). tação em grupos, contestação e rebel-
dia etc. Podemos, por meio da moda,
A moda buscou sempre a “originalida- romper e até mesmo superar esses
de”? Como as permanências e rupturas problemas? De que maneira?
com a tradição se apresentaram, histori-
camente, nos modos de vestir e de ser?

A moda é universal? Como a necessidade


de nos diferenciar pela roupa que vesti-
mos influencia nosso comportamento?
(Augusto de Campos, 1965) in Campos, Augusto de. “Viva
Vaia” São Paulo, Brasiliense, 1986.

Embora seja sempre associada ao


luxo, à beleza e à ostentação, há um
outro lado da moda nada glamoro-
so. Que problemas podemos levan-
tar quando pensamos em moda na
contemporaneidade?

Fonte: Padrão, 2011.

Em sua comunidade, há manifestações


de estilos e grupos representativos?

Como podemos nos desconectar dos


padrões estéticos no nosso grupo e na
comunidade?

67
Referências

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res trans na passarela. Estadão. 16 out. 2016. Disponível em <http://emais.estadao.
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FERREIRA, Glenda. Anime avant-garde, Janis Joplin e 70’s Moda. Cidadão Cultu-
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68
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LIPOVETSKY, G. O império do efêmero. São Paulo: Companhia de bolso, 2009.


LIPOVETSKY, G.; CHARLES, S. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Edições 70,
2011.

LIPOVETSKY, G; ROUX, E. O Luxo eterno: da idade do sagrado ao tempo das


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MAS isto é moda? Sentidos do vestir no contemporâneo. Documentário. You-


Tube. 2012. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=xuKQW9YxkI8>.
Acesso em: 01 set. 2016.

SOUZA, Gilda de Mello e. O Espírito das roupas: a moda do século XIX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987

69
PEQUENOS ESPAÇOS,
GRANDES SOLUÇÕES
Esse tema propõe o estudo e a pro-
dução orgânica de vegetais, fungos
e animais em espaços urbanos como
forma de aplicar os conhecimentos
construídos na escola e no cotidiano,
e desenvolver diversas habilidades. Os
estudantes podem conhecer e empre-
gar as tecnologias utilizadas em insta-
lações hidráulicas e elétricas, dosagem
de nutrientes (sólidos ou em solução),
uso racional da água e dos insumos,
gestão de resíduos e planejamento, e
execução de projetos.

Com os conhecimentos construídos,


os estudantes podem desenvolver
hábitos alimentares mais saudáveis,
uma vez que a agricultura orgânica
Fonte: istockphoto

se utiliza de técnicas de produção de


alimentos sem uso de agrotóxicos ou
insumos químicos, sem despejo de po-
luentes no meio ambiente e com res-
peito à natureza e ao ser humano.
Apresentação do tema
Buscando o atendimento às atuais de-
Os estudantes vivenciam em seu coti- mandas de um mercado consumidor
diano situações relacionadas ao con- mais consciente e exigente, o tema
sumo de animais e plantas, muitas ve- pode suscitar ideias para a criação
zes sem a percepção de como foram de espaços de produção e venda de
tratados. A partir do conhecimento, alimentos orgânicos em contextos
assumem posicionamentos críticos urbanos, revitalizando a indústria de
acerca de sua produção e seu consu- manufaturados e serviços, e influen-
mo, do uso de agrotóxicos e da quali- ciando o comportamento das pessoas
dade alimentar. Interagem com esses e suas escolhas de vida e carreira, nos
assuntos também na escola, mas difi- moldes da economia criativa.
cilmente os trazem para a prática.

70
Contextualização vegetais, carne, peixes, madeira e fibras,
energia renovável etc.), segmentados
O crescente uso de agrotóxicos no Bra- em Agricultura, Pastagens, Florestas,
sil tem gerado preocupações na popu- Pesca, Área Construída e Energia e Ab-
lação quanto aos possíveis problemas sorção de Dióxido de Carbono (CO2).
causados por esses agentes químicos, Expressada em hectares globais (gha),
tanto na saúde dos agricultores e dos permite comparar diferentes padrões
consumidores, quanto no ambiente de consumo e verificar se estão dentro
em que são utilizados. Embora o uso da capacidade ecológica do planeta.
de agrotóxicos seja autorizado pelos Um hectare global significa um hectare
órgãos de controle governamentais, de produtividade média mundial para
existe um crescente movimento de terras e águas produtivas em um ano.
consumidores que não querem inge- (WWF, 2016)
rir alimentos com essas substâncias e
buscam alternativas alimentares mais Um exemplo disso são as fazendas
seguras. Nesse sentido, a agricultura urbanas que, de acordo com relató-
orgânica catalisa esforços ao propor a rio publicado pela Embrapa Tabulei-
produção de alimentos sem agrotóxi- ros Costeiros, escrito por Paulo César
cos, ao mesmo tempo em que promove Falanghe Carneiro (2015), trazem a
a saúde da população e do ambiente. possibilidade de aumentar a seguran-
ça alimentar nas cidades, economizar
A predominância da população urbana com logística e transporte de alimen-
no Brasil mantém afastada a produ- tos, gerar empregos e se adaptar às
ção de alimentos in natura dos centros mudanças na paisagem urbana, cons-
consumidores, comprometendo a sus- tituindo uma alternativa sustentável
tentabilidade, já que os produtos agrí- para a produção e comercialização de
colas precisam ser transportados a dis- alimentos in natura ao reduzir a pe-
tâncias cada vez maiores, aumentando gada ecológica e não utilizar adubos
sua pegada ecológica. Com vistas a nem defensivos químicos.
aumentar a segurança alimentar nas ci-
dades e diminuir o uso de combustíveis Uma laje, uma varanda, uma janela
fósseis surgem, pelo mundo, propostas ensolarada, uma parte do quintal, um
de produção de alguns alimentos de terreno ou prédio abandonados são
forma orgânica, utilizando para tanto, espaços que podem ser reconfigu-
espaços disponíveis na cidade. rados para a produção de alimentos
como hortaliças, ervas, chás, tempe-
A pegada ecológica é uma metodo- ros, frutas, além de animais como pei-
logia de contabilidade ambiental que xes. Mas por que peixes? De acordo
avalia a pressão do consumo das po- com a FAO - Organização das Nações
pulações humanas sobre os recursos Unidas para Alimentação e Agricultu-
naturais biológicos renováveis (grãos e

71
ra (2016), o pescado é uma das fon- ou adubos químicos, e a produção de
tes mais sustentáveis de proteína ani- vegetais e de pescado em pequenos
mal, principalmente se comparado ao espaços domésticos.
gado, cuja produção exige oito vezes
mais alimento para cada quilo de car- Finalmente, esse tema propõe a produ-
ne e que gera toneladas de gases de ção local de alimentos (hortaliças, le-
efeito estufa ao longo do processo de gumes, frutas e peixes) de forma orgâ-
crescimento e engorda. É também a nica, reforçando a segurança alimentar
fonte de proteína animal mais deman- e proporcionando alimentos saudáveis
dada mundialmente e a de maior valor e com baixa pegada ecológica.
de mercado.

Desafios
Ainda conforme Carneiro (2015), a
criação de peixes e seu aproveita- O cultivo de hortas proporciona a pro-
mento como fonte de fertilizante dução de alimentos sem agrotóxicos e
para plantações é uma possibilidade também serve como decoração, seja
que se abre para pequenos espaços e para casas ou apartamentos. Ape-
também para resolver o grande pas- sar de pouco espaço, quem mora em
sivo ambiental da aquacultura, téc- prédio aproveita sacadas e pequenos
nica que utiliza muita água limpa e a locais para montar este tipo de estru-
devolve ao ambiente cheia de excre- tura. Em um escritório de design de
mentos, amônia e restos de ração, po- interiores em Goiânia, a demanda por
luindo corpos d’água. Por outro lado, projetos com espaço verde quase tri-
quando associada ao cultivo de vege- plicou nos últimos dois anos. Segundo
tais, essa matéria orgânica é transfor- especialistas, o custo para montar as
mada em nutrientes que podem ser hortas é baixo e não é necessário co-
utilizados como adubo para plantas. nhecimento profundo sobre plantas.
(G1 GO, 2016).
O crescente número de fazendas ur-
banas que têm se utilizado dessa Sendo assim, como é possível produ-
associação para resolver o passivo zir alimentos orgânicos em pequenos
ambiental da criação tradicional de ambientes domésticos?
peixes, enviando seus excrementos
para as plantas que, com suas raízes, Existem cultivos de vegetais em terra
retiram os nutrientes de que necessi- ou em água, em sistemas verticais ou
tam. Se associada com a hidroponia, horizontais, muitas vezes integrados
a água retorna limpa para o tanque com a criação de animais. Tudo de for-
dos peixes. Sobressaem como vanta- ma orgânica: sem a utilização de agro-
gens a economia de água (por recir- tóxicos, adubos químicos, antibióticos
culação), o cultivo sem agrotóxicos nem promotores de crescimento, e

72
sem a geração de resíduos que conta-
minem o ambiente.

Assim, quais são as técnicas utilizadas


nos espaços urbanos do município e
entorno para a produção de vegetais
e de animais orgânicos?

Tradicionalmente, utiliza-se uma fonte


de água abundante para fornecer aos
peixes um ambiente limpo e oxigena-
do. A água que sai do sistema, no en-
tanto, contém restos de ração e excre-
mentos, resíduos que geram grande
passivo ambiental.

Uma vez que a criação orgânica de


animais defende uma alimentação
sem antibióticos e promotores de
crescimento, como resolver o proble-
ma dos resíduos gerados sem conta-
minar o ambiente?

A todo momento os estudantes serão


convidados a pesquisar, lançar hipóte-
ses, testá-las com experimentos, com-
parar, inferir, coletar dados, analisar,
interpretar e propor soluções aos di-
versos problemas que se apresentam
na produção de alimentos orgânicos
no meio urbano.

73
Referências

CARNEIRO, Paulo César Falanghe et. al. Produção integrada de peixes e vegetais
em aquaponia. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2015. Disponível em: <ht-
tps://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1025991/1/Doc189.
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SANTANA, Vitor. Hortas em casa e apartamento aliam alimentação saudável e


decoração. G1 GO. Disponível em: <http://g1.globo.com/goias/mercadoimobiliario/
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SESI-SP. Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino: Ensino Fundamen-


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cia/18853/pesquisa-estuda-sustentabilidade-e-produtividade-na-aquicultura>.
Acesso em: 09 set. 2016.

NEHER, Clarissa. Fazenda urbana em Berlim produz verduras e peixes em


larga escala. BBC Brasil. 9 mar. 2015. Disponível em:<http://www.bbc.com/
portuguese/noticias/2015/03/150309_fazenda_urbana_ berlim_cn>. Acesso
em: 09 set. 2016.

PIOLHO-DE-COBRA produz adubo de alta qualidade. Agência Fapesp. 29 set.


2016. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/piolhodecobra_produz_adubo_de_
alta_qualidade/24042/>. Acesso em: 10 nov. 2016.

74
REDE GLOBO. Globo Rural - Aquaponia. YouTube. 16 jun. 2016. Disponível em: <ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=BCI9qRPGDYw>. Acesso em: 09 set. 2016.

TV CÂMARA SP. Programa Ecocidade - Aquaponia. YouTube. 25 jun. 2014. Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=_ojUrp1nZQo>. Acesso em: 09 set. 2016.

75
POR QUE O ABANDONO?

Fonte: istockphoto

76
Apresentação do tema Nesta perspectiva, os estudantes
podem investigar sobre os motivos
Nos tempos atuais, a questão do aban-
que levam ao abandono, em núme-
dono de animais tem sido pauta de
ros, quais os animais mais são aban-
muitas conversas e reivindicações em
donados e no que esse abandono
diversos âmbitos, até em função da
acarreta; quais são as doenças
representatividade dos pets em nosso
transmitidas pelos animais e como
contexto social.
o abandono pode contribuir para
o aumento da transmissão dessas
Os dados são alarmantes: desde a
doenças; de que forma o abando-
motivação para o abandono (velhice
no de animais interfere na economia
do animal, doenças, desobediência,
da região (bairro, município, estado
entre outros), até os que se referem à
etc.); se há organizações que aju-
saúde pública (disseminação de doen-
dam esses animais e como elas são
ças como a raiva, a leishmaniose, entre
amparadas, além de levantar possí-
outras). Boa parte desses animais aban-
veis soluções para diminuir o aban-
donados vive em situação de rua, sem
dono (políticas públicas, incentivo
o cuidado necessário para que possam
à adoção etc.); quais são os dados
viver dignamente. Por outro lado, o
desse setor econômico, que movi-
mercado dos pets é um setor da econo-
menta bilhões de reais por ano e a
mia que vem acumulando crescimentos
influência no modo como as pessoas
vultosos ao longo dos últimos anos.
se relacionam com seus animais de
estimação, entre outros.
Dessa forma, com o objetivo de apro-
fundar conhecimentos sobre essa te-
Com isso, espera-se que os estudan-
mática e proporcionar mudanças do
tes se conscientizem da responsabili-
comportamento próprio e de outros,
dade inerente à situação, não apenas
evidenciados em produtos que levem
quando se opta por acolher um ani-
a disseminação de informações di-
mal em casa, mas também num con-
versas, este Eixo propõe um trabalho
texto mais amplo, considerando con-
de pesquisa que aborde a necessi-
dições sanitárias da comunidade na
dade de viabilizar condições para o
qual reside. Esse contexto também
acolhimento desses animais em si-
é propício para que os estudantes
tuação de rua, além da conscientiza-
exerçam protagonismo social, ao se
ção para que não sejam abandona-
organizarem para propor campanhas
dos, evitando que essa população
que mobilizem as pessoas de seu
aumente ainda mais, gerando riscos
convívio para questões relevantes.
para a saúde dos animais e, também,
dos seres humanos.

77
Contextualização ruas de qualquer cidade para avistarmos
algum animal abandonado. A quantida-
de de animais nessa situação é suntuosa
Cada vez mais, cachorros e gatos dividem e suas condições de vida são precárias.
espaços com seus donos em casa num Muitos sofrem com desnutrição e doen-
comportamento tão próximo ao dos ças, que podem agravar as condições
humanos, que envolve cardápios elaborados, sanitárias de uma determinada região.
direito a passeios especiais, adestradores
e salão de beleza. Hábitos que geram Dados da Organização Mundial da Saúde
negócios bilionários e estão em curva atestam que, no Brasil, dos 100 milhões
ascendente. de animais de estimação, cerca de 30%
estão em condições de abandono. Isso,
Dados da Associação Brasileira da Indústria sem contar os que são assistidos por
de Produtos para Animais de Estimação ONGs e abrigos, sendo que muitas des-
(Abinpet) indicam que, no ano passado, os sas instituições passam por muitas difi-
fabricantes de alimentos, medicamentos culdades para manter essa assistência.
e acessórios para o mercado Pet tiveram
um faturamento de R$ 20,37 bilhões, o Segundo a Associação Protetora dos
equivalente a 6,9% a mais do que em 2016. Animais São Francisco de Assis, o nú-
Disponível em http://agenciabrasil.ebc.com. mero de abandonos aumenta quando
br/economia/noticia/2018-09/humanizacao- chegam as férias escolares, apresentan-
de-animais-de-estimacao-gera-negocios- do crescimento médio de 1000%, com
bilionarios. Acesso em 22 out. 2018. cerca de 50 denúncias diárias sobre
abandono e maus tratos.

Essa notícia informa sobre um merca- Infelizmente, não há levantamentos esta-


do que não para de crescer na econo- tísticos mais abrangentes no Brasil, devi-
mia brasileira, revelando um compor- do à dificuldade de contabilizá-los. Como
tamento consumidor que se acentuou afirma Ricardo Augusto Dias, professor
nos últimos anos. É bastante provável da Faculdade de Medicina Veterinária e
que cada um de nós conheça o pro- Zootecnia da Universidade de São Paulo,
prietário de um animal de estimação os animais abandonados, em geral “cos-
que trate seu bichinho como um mem- tumam se concentrar em áreas de limpe-
bro da família. za escassa e com abrigo, como terrenos
baldios e construções”. Outros países
Porém, há outra perspectiva bastante registram casos semelhantes ao Brasil,
explícita nesse contexto, se por um lado, como mostram os gráficos a seguir sobre
muitos cuidam exacerbadamente de as causas mais comuns para o abandono
seus pets, por outro há muitos animais de animais. Os dados foram obtidos por
domésticos abandonados e sendo cui- meio de um levantamento realizado em
dados por ninguém, basta andar pelas 12 abrigos nos Estados Unidos.

78
CÃES
Desobediente Morde Late ou uiva muito Requer muita atenção

Ativo demais Tem o vício de fugir de casa Agressivo com as pessoas Destrutivo fora de casa

Suja a casa Destrutivo dentro de casa

7%
16%
8%

8%

15%

9%

10% 9%

9% 9%

GATOS
Suja a casa Agressivo com as pessoas

Destrutivo dentro de casa Destrutivo fora de casa

Morde Não se adapta com outros animais

Não amistoso Requer muita atenção

Eutanásia por motivos de comportamento Ativo demais

4%
4%

6%

31%
6%

7%

7%

14%
9%

12%

Disponível em: https://medium.com/jornalismo-de-dados/n%C3%BAmero-de-animais-abandonados-no-brasil-supera-


-30-milh%C3%B5es-89c708f98616. Acesso em 22/10/2018.

79
Desafios animais de estimação, de modo que
estes não sejam abandonados poste-
Basta andar poucos segundos pelas riormente? Há campanhas de adoção
ruas para avistar um animal abando-
de animais na sua cidade ou região?
nado. Em grande quantidade, alguns
Como são divulgadas (cartazes, redes
se encontram desnutridos e em esta-
do de vida precária. De acordo com os sociais etc.)? Quais são os impactos,
últimos números divulgados pela Or- a quais públicos atingem (inclusive
ganização Mundial da Saúde (OMS), dados quantitativos)?
mais de 30 milhões de animais estão
abandonados só no Brasil. São aproxi- Os animais de rua são um sério pro-
madamente 10 milhões de gatos e 20 blema de saúde pública e as iniciativas
milhões de cachorros.
para enfrentá-lo são poucas, para não
dizer também do “pouco caso” do Po-
Disponível em https://medium.
co m / j o r n a l i s m o - d e - d a d o s /n % - der Público em relação a esse assunto.
C3%BAmero-de-animais-abando- Segundo a Revista Científica de Medi-
nados-no-brasil-supera-30-milh%- cina Veterinária (2014), as instalações
C3%B5es-89c708f98616. Acesso de canis e gatis são precárias e insufi-
em 25 set. 2018. cientes para atender à demanda. Além
disso, muitas ONGs no Brasil estão su-
Quais são os números do abandono perlotadas e passam por dificuldades
de animais na sua região (bairro, ci- técnicas e financeiras para abrigar os
dade etc.)? Quais ações podem ser animais que são recolhidos.
realizadas para que haja diminuição
no número de abandonos, a fim de No seu município há leis sobre o
proteger os animais e a comunidade? abandono de animais? Qual é a situa-
Quais são as doenças mais comuns ção sobre o cumprimento dessas leis?
transmitidas por animais de estima- Quais melhorias podem ser propos-
ção, e como impactam a saúde das tas nesse âmbito? É possível propor
pessoas? alguma lei para minimizar os impac-
tos do abandono de animais?
Muitas pessoas adquirem animais de
estimação por impulso ou para “es- Na sua região há ONGs que protegem
tar na moda”, ou ainda, para almejar animais abandonados? Como ajudá-
algum “status” ao adquirir um animal -las? Quais materiais e recursos são
com pedigree, para posteriormente necessários para que cumpram sua
abandoná-los, seja por doença, idade função?
avançada ou por desvio comporta-
mental do animal, entre outras causas. O mercado dos pets é um dos setores
mais lucrativos da economia brasileira,
O que é possível fazer para conscien- acumulando crescimentos da ordem
tizar as pessoas acerca da compra de de bilhões de reais nos últimos anos.

80
Há grande diversidade de produtos e Quais são os dados desse mercado na
serviços nesse segmento, impulsiona- sua região? Quais propostas podem
do pelo desejo dos proprietários de ser feitas para que gestores públicos
animais de estimação em proporcio- ou da iniciativa privada apliquem, a
nar bem-estar para seu bichinho. fim de enfrentar os problemas causa-
dos pelo abandono de animais?

81
Referências

MAIS DE 30 MILHÕES de animais abandonados estão esperando uma chance”,


diz especialista. Disponível em < https://www.anda.jor.br/2017/05/mais-de-30-mi-
lhoes-de-animais-abandonados-estao-esperando-uma-chance-diz-especialista/>.
Acesso em 25 set. 2018.

MARLI MOREIRA. “Humanização” de animais de estimação gera negócios bilio-


nários. Agência Brasil. Disponível em <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/
noticia/2018-09/humanizacao-de-animais-de-estimacao-gera-negocios-biliona-
rios. Acesso em 25 set. 2018.

NÚMERO DE ANIMAIS abandonados no Brasil supera os 30 milhões. Disponí-


vel em <https://medium.com/jornalismo-de-dados/n%C3%BAmero-de-animais-
-abandonados-no-brasil-supera-30-milh%C3%B5es-89c708f98616>. Acesso em
24 set. 2018.

SOLANGE MARIA. As Consequências do Abandono de Animais à Saúde Pública.


Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/
as-consequencias-do-abandono-de-animais-a-saude-publica/19132>. Acesso em
21 ago. 2018.

82
POR TERRA, AR E MAR

Fonte: istockphoto
Apresentação do tema

Os sistemas de transportes operam por Como ressalta Sávio (2016):


vias e rotas específicas que, interligadas,
formam uma rede. Podemos supor que Logística é a parte do processo da
cadeia de suprimento que planeja,
seja um conjunto infinito de nós, que
implementa e controla o eficiente e
muitas vezes causam prejuízos e atrasos
efetivo fluxo e estocagem de bens,
caso não sejam estudados nem sejam serviços e informações relacionadas,
feitas previsões adequadas para minimi- do ponto de origem ao ponto de
zar os impactos desse emaranhado de consumo, visando atender aos requi-
vias. Há situações em que a intuição não sitos dos consumidores. Na definição
basta, e para isso é preciso realizar estra- de Ferreira (1986), logística, do fran-
cês Logistique, significa a parte da
tégias e análises para que os caminhos
arte da guerra que trata do planeja-
tomados sejam as melhores escolhas.
mento e da realização de atividades
Esses problemas específicos, que envol- de projeto e desenvolvimento, ob-
vem situações concretas, podem ser mi- tenção, armazenamento, transporte,
nimizados com estudos de logística. distribuição, reparação, manutenção
e evacuação de material, tanto para

83
fins operativos como administrativos. Contextualização
Como se percebe pela definição do
termo, a função da logística é princi- A competitividade brasileira está cada
palmente ser o elo de ligação em um vez mais aquém das demandas inter-
processo que pode começar com um
nacionais, pois, como aponta a Asso-
fornecedor e encerrar com um clien-
te em outra ponta da ‘cadeia’.
ciação Brasileira de Logística (Abralog),
o Brasil perdeu posição no ranking das
Com isso, percebemos que os processos economias mais competitivas no mun-
de logística não são importantes apenas do pelo sexto ano consecutivo. Entre
em grandes empresas, mas podem ser 61 nações analisadas, o país passou a
utilizados também nas pequenas empre- ocupar o 57º lugar na lista do World
sas e na vida cotidiana do indivíduo, des- Competitiveness Yearbook, anuário da
de a escolha do melhor caminho para ir à escola de negócios suíça IMD publicado
escola até do melhor horário para enviar desde 1989. No ano passado, ocupava o
uma correspondência, por exemplo. Não 56º lugar no ranking. A metodologia do
bastando isso, até a disposição de pra- IMD considera todos os países analisa-
teleiras em uma loja ou os móveis no la- dos em quatro dimensões: desempenho
boratório da escola podem ser mais bem da economia, eficiência do governo, efi-
organizados com estudos logísticos. ciência empresarial e infraestrutura.

Dessa forma, com o objetivo de oportu- Analisando este último item, a infraestru-
nizar a otimização de espaços e ações no tura, sabe-se que esse assunto é delicado
dia a dia, é proposto o desenvolvimento no Brasil, e muitas são as propostas para
desse tema aos estudantes. Eles deve- eliminar os entraves que dificultam as reso-
rão realizar pesquisas e abranger os con- luções para as más condições existentes.
ceitos de Logística e das diferentes áreas
do conhecimento e a Matemática aí em- Nesse panorama, o processo logístico
pregadas, como: aplicar conhecimentos apresenta-se como de grande impor-
de regra de três, porcentagem, área, perí- tância para enfrentar os desafios do
metro, sistemas de medidas etc,. com a momento econômico brasileiro. Cada
finalidade de criar soluções baseadas em etapa do processo passa a ter um pa-
situações reais em que, por exemplo, seja pel sobremaneira determinante nas
remodelada a disposição dos móveis do estratégias encontradas.
laboratório da escola ou de uma loja na ci-
Assim, a importância da Logística vem
dade, ou criada uma empresa fictícia com
destacando-se cada vez mais no desen-
planos logísticos traçados para a entrega
volvimento econômico e também no
dos seus produtos. Todas essas ações pre-
tecnológico. O custo financeiro elevado
veem que os estudantes desenvolvam a
para os processos de produção, arma-
noção do espaço e tracem prioridades
zenamento e transporte faz com que au-
para as ações cotidianas.
mente o valor agregado à produção. Por

84
outro lado, há muitos tipos de produtos mento público para os setores de trans-
que exigem tratamento racional de esto- porte, por outro houve um aumento nos
ques e de processos de distribuição. Daí transportes terrestres de cargas e de
a necessidade de buscar soluções mais veículos leves. Os dados apontam que
inteligentes na área dos transportes. 17,7% do PIB brasileiro foi destinado para
esse fim em 2014, valor bem menor que
As soluções demandam investigações em 2010, quando se registrou um inves-
em muitas vertentes. Segundo o portal timento total de 19,5% do PIB nessa área,
Guia do Transportador (GT), se por um como apontam os gráficos seguintes.
lado foi registrada uma queda no investi-

Movimento nas estradas I


Fluxo pedagiado em milhões de veículos leves
Transporte aéreo de carga *
1140
Milhões de toneladas
1.172
1.138 1,20
1140
1,055 1,12 1,10
1,05
980 1,00
941 0,96

820
0,84 0,82 0,83
0,79
719
660
532 0,72 0,72

500
0,60
08 09 10 11 12 13
06 07 08 09 10 11 12
Fonte: ABCR. (*) Base: 1999 = 100 (**) Em julho.
Fonte: ANAC (*) Carga paga transportada
(doméstica e internacional).

Movimento nas estradas II


Fluxo pedagiado em milhões de veículos pesados Transporte aquaviário de carga
500 Milhões de toneladas
1.050
430
430
407 424 955
950
930
886 904
360
362 850
834
768
733
290
750
270

220
650
190

150 550
08 09 10 11 12 13 08 09 10 11 12 13 14
Fonte: ABCR. (*) Base: 1999 = 100 (**) Em julho. Fonte: Antaq (*) Pontos e terminais, 12 meses até julho.

85
O mesmo portal também aponta um Desafios
crescimento considerável para os trans-
portes aéreos e aquaviários de carga, A sofisticação crescente das técnicas
como indicam os gráficos seguintes. mercadológicas, somada à estreita
competição entre os produtores, gerou
Mesmo com toda a preocupação com o sistemas de produção cada vez mais
crescimento econômico do país, há uma flexíveis, abrangendo um extenso leque
importante aliada dos processos logísti- de opções e tipos de produto a serem
cos no Brasil, a informática, que vem se colocados em circulação pelas redes de
desenvolvendo cada vez mais e trazen- intermediações. Com a atual situação de
do possibilidades amplas na gestão e ra- crise do país, agravaram-se as restrições
cionalização dos processos logísticos. A financeiras com impacto nos diversos
automação de atividades de controle e setores da sociedade. Esse fator influi
burocracia, a agilização das operações e diretamente nos custos de produção, ar-
a transmissão de dados podem ser enfo- mazenamento, transporte e entrega de
ques dados à análise de Sistemas Logís- produtos aos consumidores.
ticos que atende a vários direcionamen-
tos, como o econômico, o administrativo, Quais soluções logísticas podem ser
o operacional, o institucional etc. apresentadas para baratear os custos
de produção, armazenamento e entre-
Considerando todas essas informações para ga de diferentes produtos e empresas?
uma boa gestão em rotas, seja de regu-
lação de fluxo de pessoas, seja de meios A evolução da rede de transportes no
de transportes, muitos indicadores devem Brasil vem atingindo níveis que possibi-
ser considerados, como: a receita gerada litam uma melhor coordenação dos as-
pelo produto transportado, os custos com pectos logísticos. A rede rodoviária pavi-
os serviços de transportes, as despesas com mentada, a oferta de transporte marítimo
as operações e as adequações estruturais, regular e a intensificação do transporte
as avarias, os furtos, os extravios, os impre- aéreo de carga, por exemplo, oportuni-
vistos, as distâncias percorridas e sobretudo zam o barateamento dos custos para as
o retorno financeiro que as escolhas de- empresas. No entanto, se faz necessário
vem proporcionar. Isso porque, indepen- considerar as tecnologias atuais que auxi-
dentemente de se tratar do transporte de liam na gestão do transporte e as tecno-
alimentos, de remédios, de combustíveis, logias empregadas para sua construção.
de eletrônicos ou o de pessoas, o objetivo
final dos sistemas planejados e implementa- Dessa forma, quais soluções tecnológi-
dos segundo os princípios logísticos é o de cas podem auxiliar na gestão do trans-
conseguir soluções econômicas em que a porte e na correção de fluxo para, além
preocupação com custos, embora não seja de baratear custos, melhorar a circulação
o único critério, ocupe papel de destaque. de automóveis e/ou pessoas, otimizan-
do processos em diferentes ambientes?

86
Referências

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log.org.br/website/ home/>. Acesso em 10 nov. 2016.

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-matematica-em-logistica-urbana>. Acesso em 10 nov. 2016.

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ca>. Acesso em 10 nov. 2016.

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caoID=508074&SubsecaoID=091451&Template=/artigosnoticias/user_exibir.asp&I-
D=221689&Titulo=O%20USO%20DA%20MODELAGEM%20MATEM%C1TICA%20
APLICADA%20A%20LOG%CDSTICA>. Acesso em: 10 nov. 2016.

NEVES, M. A. O. Cinco importantes números para a gestão das transportadoras.


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na=19>. Acesso em: 10 nov. 2016.

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de produtos. São Paulo. Editora Edgar Blücher Ltda. 1989.

OTM Editora. Anuário de Logística no Brasil, infraestrutura e comércio exterior.


2013/2014, p. 145. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/
negocios/as-funcoes-da-estatistica-na-logistica/70468/>. Acesso em 10 nov. 2016.

ROSA, A. A. Dimensionamento e localização de centro de distribuição de correios


uma cidade de médio porte. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópo-
lis, 1996. Disponível em: <http://media.wix.com/ugd/26a617_70b62ce117b2482b-
9c6910097411a039.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2016.

SAVIO, D. A importância da logística. Disponível em:<http://www.ebah.com.br/


content/ABAAAA7RwAI/a-importancia-logistica>. Acesso em 10 ago. 2016.

SESI-SP, Serviço Social da Indústria. Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de


Ensino: Ensino Fundamental. 1 ed. São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

87
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Indicações de consulta

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nível em <http://tvescola.mec.gov.br/tve/video/matematica-em-toda-parte-mate-
matica-nos-transportes>. Acesso em: 10 nov. 2016.

Os exploradores de Kuont. Transporte. 2013. Disponível em <http://tvescola.mec.


gov.br/tve/video/os-exploradores-de-kount-transporte>. Acesso em: 10 nov. 2016.

88
PRECISA-SE DE HERÓIS?

Fonte: Thinkstock 2016.


Apresentação do tema

Quando se fala em heróis, a primeira Com isso, cria-se no imaginário, espe-


representação que vem à mente da cialmente das crianças, uma idealiza-
maioria das pessoas é a de persona- ção do que é ser um herói, surgem os
gens super-heróis, sobretudo das his- estereótipos comuns a essas persona-
tórias em quadrinhos, que hoje em dia gens e, assim, os verdadeiros heróis da
são transformados em diversos filmes e sociedade, que não têm superpoderes,
seriados de TV, lançados todos os anos acabam, quase sempre, sem o devido
com alguma nova trama em busca de reconhecimento.
recordes de bilheteria. A grande impor-
tância atribuída a essas personagens O desenvolvimento deste tema deve
deve-se à indústria do entretenimento garantir que o estudante desperte seu
como uma das maiores propagadoras olhar de modo a valorizar as pessoas
de ideias, propagandas e apelos nacio- que fazem a diferença na sociedade
nais, levando os super-heróis a serem em que vivemos, sejam elas conheci-
venerados e, muitas vezes, imitados. das ou anônimas, analisando de forma

89
crítica sua importância. O trabalho conta os aspectos psicológicos, bem
com a temática dos heróis pode ser como os aspectos físicos e corporais,
conduzido a partir de vários enfoques: aplicando o conhecimento adquiri-
desde a mitologia antiga até a con- do no desenvolvimento da temática.
temporaneidade, observando como Os estudantes poderão criar/recriar
hoje em dia existe a necessidade de personagens (reais e imaginários)
uma “personagem excepcional” que em textos de sua autoria por meio da
porá fim ao sofrimento, à violência, ao linguagem escrita e concretizá-las fi-
medo, ao desemprego, à fome, entre sicamente utilizando o próprio corpo
outros problemas; da difusão dessas e técnicas teatrais, com reflexões so-
personagens na sociedade capitalista bre quais motivos os levaram a optar
por meio da produção em massa de por tal personagem, o que define um
quadrinhos e do alcance das redes de herói, que aspectos da personalidade
televisão, bem como do grande mer- humana pretende-se destacar, qual
cado consumidor; das ideologias liga- a vestimenta mais adequada para o
das aos super-heróis que, geralmente, personagem, como fazer a vestimen-
são criadas a fim de que certo grupo ta etc., estimulando a criatividade e o
ou sociedade possa projetar expecta- senso crítico dos estudantes.
tivas que não são possíveis de serem
concretizadas; do herói como símbolo Portanto, a temática sobre heróis é
de uma nação, com os valores por ela complexa e pode ser desenvolvida por
determinados – nos Estados Unidos o diversas perspectivas a serem defini-
super-herói foi por muitos anos o capi- das a partir da escuta atenta do grupo
tão América, no Brasil foi o índio puro, de estudantes que desenvolverá esse
íntimo da natureza, sem maldade e o trabalho, percorrendo os caminhos re-
mais corajoso, ilustre em obras como flexivos que façam mais sentido para o
Iracema de José de Alencar. Porém, grupo, visando ao pensamento crítico,
atualmente, o brasileiro perdeu muito à conscientização, à experimentação
da nacionalidade, incorporando os he- nas variadas linguagens e a busca por
róis-símbolos de outras culturas. Mais analisar essa temática a partir de di-
que tudo isso, pretende-se buscar a versas perspectivas que as diferentes
formação da subjetividade e da sensi- áreas de conhecimento permitem.
bilidade a partir da reflexão sobre um
conceito formador de nossa sociabili- Contextualização
dade: a representação do herói.
“Infeliz a nação que não tem heróis.
Com base nos possíveis direcionamen- Mais infeliz a nação que precisa de
tos dados ao tema, espera-se que os heróis. ”
estudantes passem pelo processo da (Bertolt Brecht)
criação de personagens levando em

90
Herói é um indivíduo notável positiva- missões militares pelo país e, quando
mente por seus feitos e/ou capacida- os EUA entraram na II Guerra Mundial,
des; alguém que reúne em si atributos Superman e cia., foram convocados
necessários para superar de forma ex- para enfrentar Hitler e seus seguidores.
cepcional um determinado problema
de difícil solução. Apesar de a palavra Foi a partir de Superman (1938) que o
herói estar muito desgastada pelo uso termo superhero começou a ser usa-
inadequado que vem recebendo (su- do e, embora o conceito original fosse
per-heróis dos quadrinhos, artistas, muito próximo dos costumed heroes
esportistas, participantes de reality (também conhecidos como masked
show etc.), sempre existirão pessoas heroes ou mystery men), logo foi evo-
que, pelo seu comportamento al- luindo para o que hoje nós conhece-
truísta e solidário, serão consideradas mos como super-heróis.
como os verdadeiros heróis. Há vários
exemplos dessas pessoas na história Seguindo essa linha, temos o Capitão
da humanidade que ficaram famosas, América, que encarna o exemplo de
enquanto outras continuaram anôni- soldado americano durante o confli-
mas, mas nem por isso foram menos to, cuja única arma é um escudo. Se-
importantes. Alguns são admirados guindo o exemplo do Homem de Aço,
por diversos povos e, pouco a pouco, Capitão América é alto, forte, de olhos
se tornaram conhecidos; outros são azuis e cabelos loiros, enquanto seu
reconhecidos por pequenas comuni- maior rival é o nazista Caveira Verme-
dades, servindo de exemplos a todos. lha. Com isso, começa-se a estereoti-
par as representações de herói e vilão,
A mitologia greco-romana já trazia ou seja, do bem e do mal. Quem faz o
muitas histórias de heróis, como Hér- bem é dotado de características clas-
cules, Perseu, Ulisses, Jasão, Orfeu, sificadas como impecáveis e grandes
mas no mundo contemporâneo, quan- habilidades, geralmente físicas com
do falamos em heróis, pensamos logo superpoderes, enquanto quem realiza
em personagens dos quadrinhos e fil- o mal tem sempre características con-
mes que surgiram nos Comics, as tiras sideradas de alguma forma inadequa-
de jornais que apresentavam histórias das, mas possui também muitas ha-
engraçadas no início do século passa- bilidades, especialmente intelectuais,
do, que evoluíram para as aventuras além das físicas e dos superpoderes.
de super-heróis nacionais, das quais
Superman e Batman foram os precur- Por meio dessas personagens fictícias,
sores mais famosos. A importância além de todo o trabalho a respeito do
dessas HQs, como ficaram conhecidas contexto histórico e da incorporação
no Brasil, foi tamanha que os heróis nas a outras culturas, também é possível
histórias começaram a desempenhar resgatar diversos valores como: o al-
truísmo (os super-heróis quase sem-

91
pre apelam ao uso de máscaras para super-heróis são órfãos muito bem
poder ajudar a humanidade a se livrar cuidados: por tios como o Homem-
do mal sem revelar sua própria identi- -Aranha, por pais adotivos humanos
dade, e doam-se à sociedade abrindo como o Superman ou pelo mordomo
mão de qualquer reconhecimento); da família, que cuidou do Batman); e
a importância dos estudos (muitos assim por diante.
super-heróis como Homem-Aranha,
Batman, Homem de Ferro, Hulk e Fera Apesar de haver muitos contextos inte-
aparecem estudando e demostram ressantes por trás das histórias dessas
alto nível de conhecimento, atribuin- personagens fictícias, não se pode des-
do a necessidade de desenvolver o considerar que, com essa idealização
intelecto como habilidade); a tolerân- do “herói”, a nossa sociedade foi se tor-
cia à “diferença” (em exemplos como nando cada vez mais passiva e menos
os discursos do professor Xavier que imbuída da realidade que a cerca. Por
defende a convivência entre humanos isso, é importante perceber quem são
e mutantes, dos quadrinhos X-Men, os verdadeiros heróis, que fazem a dife-
surgido na década de 1960, mesma rença, embora sejam pessoas comuns.
época em que os discursos de Mar-
tin Luther King pregavam a igualdade Para debater a respeito dessas impor-
entre brancos e negros); o reconhe- tantes personagens da vida real, podem-
cimento da igualdade entre os sexos -se utilizar canções como: Imagine, do
(se as aventuras de 1960 mostravam a grupo The Beatles; We Are the World,
mulher como namorada do mocinho, de Michael Jackson; ou What a Wonder-
sempre resgatada do perigo, nas últi- ful World, de Louis Armstrong. Outras
mas décadas esse conceito mudou ra- opções seriam de trabalho com o vídeo
dicalmente, conferindo-se a elas papel Unicef USA Child Survival PSA, disponí-
ativo nas histórias); a prática da inclu- vel no YouTube, ou o trailer do filme Gan-
são (ser super-herói é superar qual- dhi, dirigido por Richard Attenborough.
quer dificuldade, seja emocional, seja
intelectual ou mesmo física; nenhuma O desenvolvimento do trabalho com
deficiência, portanto, justifica o iso- o tema deve estimular os estudantes
lamento e desde 1964 os quadrinhos a analisar de maneira crítica a influên-
estampam em suas páginas pessoas cia dos super-heróis na sociedade; os
com deficiência, como o Demolidor contextos históricos imbricados no
que é cego, a Batgirl e o professor surgimento das famosas personagens
Xavier que são paraplégicos etc.); o fictícias; a presença de pessoas na co-
respeito a todos os modelos de família munidade e no mundo que, mesmo
(as histórias em quadrinhos também sem superpoderes, buscam fazer a di-
costumam retratar diferentes modelos ferença, tornando-se heróis invisíveis;
familiares, pois muitos que se tornam a atuação de personalidades mundial-
mente conhecidas que realizaram fei-

92
tos heroicos, como Mahatma Gandhi, Qual é o contexto histórico por trás
Martin Luther King, Zilda Arns e ou- da criação dos super-heróis mais co-
tros; a ilegalidade no tentar agir como nhecidos dos quadrinhos? Por que o
os heróis das histórias em quadrinhos Brasil importa concepções que são
quando cidadãos buscam imitá-los; a descontextualizadas da nossa cultura?
representação do que seria realmente
um herói versus o que a mídia apre- “Filha de uma escrava doméstica, des-
senta com artistas e atletas, receben- de cedo, Laudelina de Campos Melo
do essa atribuição etc. deu mostras de que não toleraria o ra-
cismo. Nascida em 1904, na cidade de
Poços de Caldas, Laudelina fez história
Desafios
no Brasil. Ela dedicou sua vida à reali-
zação de um sonho: fazer com que as
empregadas domésticas, muitas ve-
Em tempos beligerantes, zes tratadas como escravas, conquis-
o cultivo do patriotismo é tassem direitos trabalhistas. Durante
fundamental. Os super-heróis, décadas, ela não se apequenou dian-
com sua clássica, e quase te das ameaças machistas e desafiou
infantil, visão do bem e do a elite de Campinas nos anos 1950 e
mal, serviram muito bem a 1960. Suas ações, como reunir mulhe-
esse propósito. Com a entrada res negras para fazer piqueniques em
dos Estados Unidos na guerra, praças onde apenas brancos costuma-
após o bombardeio japonês a vam frequentar, atraíram a atenção dos
Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de jornais; tanto que Laudelina ficou co-
dezembro de 1941, Superman e nhecida como ‘O terror das patroas’”.
seus seguidores passaram mais (Adaptado de FELIPE, 2016).
do que nunca a posar em frente
à bandeira americana. Nasceu Quem são os heróis/heroínas anôni-
também, naquele mesmo ano, mos (as) da sua comunidade e de nos-
o mais patriota de todos os so país? E as pessoas mundialmente
heróis: o Capitão América. reconhecidas por seus atos heroicos?
(NOGUEIRA, 2013) Como os atos desses (as) heróis/he-
roínas contribuíram/contribuem para
a melhoria da sociedade?

Por que os super-heróis ganharam e Muitas pessoas imitam os super-he-


até hoje têm tamanha repercussão róis na vida real, utilizando roupas
em nossa sociedade? Quais são os iguais às das famosas personagens e
padrões observados na maioria de até tentando realizar atos semelhantes
suas histórias? aos delas. Quais são os problemas re-
lacionados a essas atitudes?

93
Referências

A IDOSA de 100 anos que costura um vestido por dia para crianças carentes da
África. Razões para acreditar. 2015. Disponível em: <http://razoesparaacreditar.
com/gentilezas/idosa-de-99-anos-ajuda-criancas-da-africa-costurando-um-vesti-
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ALUNOS fazem capas de heróis para crianças de abrigos. Revista Exame. Disponível
em: <http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/alunos-fazem-capas-de-herois-para-
-criancas-de-abrigos/>. Acesso em: 06 nov. 2016.

ENTREVISTA com Roniel Felipe - Escritor fala sobre os heróis da vida real. Correio
Popular. Disponível em: <http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/04/projetos_
correio/correio_escola/mais_videos/49322-escritor-fala-sobre-os-herois-da-vida-
-real.html>. Acesso em: 06 nov. 2016.

FELIPE, Roniel. Negros Heróis: histórias que não estão no gibi. Catarse. 2016. Dispo-
nível em: <https://www.catarse.me/negrosherois>. Acesso em: 25 out. 2016.

HERÓIS da vida real. Brincar Educação Especial. Disponível em: <http://escolabrin-


car.com.br/index.php/herois-da-vida-real/>. Acesso em: 08 nov. 2016.

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news24.com/xArchive/Archive/Hero-rescued-20-from-plane-20020416>. Acesso
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NACHTIGALL, Lucas Suzigan. Super-heróis da década de 1960: Guerra Fria e mu-


danças sociais nos comics norte-americanos. Faces da História, v. 1, n. 2, p. 186-205,
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2013. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/como-os-super-he-
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RODRIGUES, V. PICOLLI, L. F. EIDAM, A. Trabalhando os conceitos de herói, super-


-herói e anti-herói. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/21875395/Projeto-
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VILELA, T. Quadrinhos e Guerra Fria: gibis retratam o conflito entre EUA e URSS.
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/quadrinhos-e-guer-
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94
Indicações de consulta

CAMPBELL, JOSEPH. O herói de mil faces. Editora Pensamento, 1995.

CARVALHO, H. [Infográfico] a jornada do herói: transformando sua audiência


em heróis através de histórias memoráveis. Disponível em: <http://macaladeus.
blogspot.com.br/2007/08/super-heris-e-guerra-fria-parte-ii.html>. Acesso em: 31
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nocontextoescolar.blogspot.com.br/>. Acesso em: 31 out. 2016.

TEIXEIRA, Priscila G. De que forma o trabalho com os super-heróis pode favorecer


as relações de confiança e cumplicidade no grupo? Portal do Professor. Disponí-
vel em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=38490>.
Acesso em: 01 nov. 2016.

VILELA, T. Super-heróis e guerra fria. Disponível em: <http://macaladeus.blogspot.


com.br/2007/08/super-heris-e-guerra-fria-parte-ii.html>. Acesso em: 31 out. 2016.

95
QUALQUER SEMELHANÇA
É MERA COINCIDÊNCIA

Fonte: istockphoto

Apresentação do tema

As telenovelas têm suas raízes no en- como a marginalização, a inclusão, o


tretenimento, mas é possível ampliar papel da mulher etc. são representa-
este olhar e perceber nelas problemas dos nas novelas atuais; quanto tempo
sociais, por exemplo, além de identi- a comunidade gasta na frente das teli-
ficar as formas de arte, diferentes lin- nhas; a confusão dos atores com seus
guagens e a corporeidade. Dessa for- personagens na visão do público e a in-
ma, pretende-se criar um espaço de fluência que as novelas têm na criação
discussão, problematização e criação de novas formas de falar e se vestir, por
desse gênero por meio de estudos e exemplo. Pretende-se estudar desde
análises dos discursos verbais/não ver- a história do gênero telenovela até as
bais presentes nele a fim de que o es- suas diferenças com outros gêneros,
tudante adquira um olhar mais sensível a concepção e produção das novelas
e crítico, e reflita de forma autônoma. mais próximas à realidade dos estu-
Partiremos de problemáticas sobre dantes (telenovelas), perpassando pe-

96
los estudos sobre rádio e fotonovelas, e tem temas diferentes dos gibis: ro-
estilos para cuja criação as expressões mances, dramas, amores impossíveis,
corporal, oral, textual e artística são de- problemas sociais etc. Seus persona-
talhes importantes. gens são bastante estereotipados: o
bonzinho sempre será bom, passando
Este tema se torna alvo de estudos por uma vida muito sofrida; já os mal-
visto que os estudantes assistem a te- vados serão sempre maus e no final
lenovelas e comentam sobre elas. Se- devem sofrer as consequências das
gundo Motter (2006), suas maldades.

(...) em um simples acionar de botões, No Brasil, a primeira fotonovela, de


está um contador de histórias fazen-
1949, cujo nome era “Encanto – A ro-
do avançar uma narrativa dramati-
mântica revista do amor”, começou a
zada, com personagens conhecidas,
vivenciando seus conflitos, domesti- ser distribuída com desenhos. Somen-
cando circunstâncias hostis, driblan- te em 1950, no exemplar de nº 22, pas-
do os azares da sorte na luta tenaz sou a ter suas histórias encenadas por
pela consecução de seus objetivos. atores. A fotonovela teve seu público
cativo durante 30 anos, entre os anos
Ao final dessas discussões, espera-se 1950 e 1980, e na década de 1970 mais
que os estudantes se tornem teles- de 20 títulos circulavam entre as edito-
pectadores cada vez mais críticos e ras; era comum que participassem das
possam evidenciar problemáticas da produções atrizes e atores famosos,
sua realidade com a produção de ma- além de cantores da Jovem Guarda.
teriais que serão divulgados dentro e
fora da comunidade escolar. Concomitantemente às fotonovelas,
num Brasil da década de 1940, apa-
Contextualização reciam as radionovelas, uma narrati-
va folhetinesca sonora em que atores
Para que possamos estudar a telenove- dramatizavam o gênero novela através
la que conhecemos hoje, vários outros do rádio. Na Rádio Nacional do Rio de
gêneros foram explorados e criados, Janeiro foi feita a primeira transmissão
como é o caso da fotonovela, que teve de radionovela brasileira, “Em busca
seu início na França, mas ganhou força da felicidade”, em 12 de julho de 1941;
e reconhecimento somente na Itália na era uma adaptação da obra mexicana
década de 1940, com adaptações de que durou três anos. Logo em segui-
grandes produções cinematográficas da, foi ao ar a maior audiência de uma
como “O Conde de Monte Cristo”, “A radionovela, “O direito de nascer”,
dama das Camélias” etc. A fotonovela dessa vez a adaptação de uma obra
tem sua estrutura muito parecida com cubana. O crescimento desse meio foi
a dos gibis, com balões de falas, mas tão grande que os escritores brasilei-
em vez de desenhos traz fotografias,

97
ros começaram a produzir os próprios A princípio, as telenovelas eram vis-
roteiros, abandonando a espera de tas somente como forma de entrete-
adaptações estrangeiras: entre eles, nimento, mas hoje elas conseguem
os mais conhecidos são Dias Gomes, passar de maneira eficaz mensagens e
Mário Lago, Janete Clair e Ivani Ribei- críticas; é também a partir delas que
ro, muitos dos quais se imortalizaram giram muitas outras indústrias, como
escrevendo também telenovelas. alguns ramos de moda e acessórios,
música, esportes etc. Isso ocorre por-
As radionovelas foram entrando em que os brasileiros passam muito tem-
declínio logo após o surgimento da po em frente à televisão; segundo o
televisão; seu custo de produção era Ibope, uma pesquisa de 2014 revelou
muito alto e os investimentos em pu- que os brasileiros passaram 5 horas, 52
blicidade estavam sendo destinados minutos e 39 segundos por dia diante
ao novo veículo de comunicação. As- da telinha, o equivalente a três meses
sim, a década de 1970 declarou oficial- por ano.
mente o fim das radionovelas, e gran-
de parte da produção radiofônica foi Sabemos que a maior assistência das
adaptada para a tevê. telenovelas pertence à Rede Globo de
Televisão, mas não podemos descartar
Mas quando surge a telenovela? O iní- o sucesso de algumas novelas mexica-
cio da sua produção data da década nas exibidas pelo Sistema Brasileiro
de 1950, logo após o início da televi- de Televisão (SBT), como exemplo “A
são, mais especificamente em 1951 com Usurpadora”, que está sendo exibida
“Sua vida me pertence”, exibida pela pela 7ª vez pela emissora. Além dis-
TV Tupi em São Paulo. Como não havia so, outras emissoras vêm ganhando
o recurso de gravação, era tudo feito ao destaque em suas produções, como
vivo, do dia 21 de dezembro de 1951 até a Rede Record e a Band. Isso ocorre
15 de fevereiro de 1952. Mas foi a partir porque, segundo Thompson (1995):
da década de 1970 que as telenovelas
ganharam destaque, tendo seu ápice Os personagens que se apresentam
com a exibição dos 100 capítulos da nos filmes e nos programas de tele-
visão se tornam pontos de referên-
novela “Escrava Isaura”, exibida cinco
cia comuns para milhões de indiví-
vezes e a mais vendida para o exterior.
duos que podem nunca interagir um
com o outro, mas que partilham, em
Caso seja possível, os alunos podem virtude de sua participação numa
realizar uma visita a uma rádio da ci- cultura mediada, de uma experiência
dade e/ou a uma produtora de tele- comum e de uma memória coletiva.
visão, para que os estudantes conhe-
çam os espaços e o funcionamento E é a partir dessa memória coletiva
de equipamentos, e da própria equipe das muitas “Helenas”, das vidas sofri-
envolvida nas produções. das das “Marias”, das tramas adoles-

98
centes de “Malhação”, que este eixo espectador, é o local onde moravam
analisará alguns vieses apresentados as patroas, um condomínio chamado
pelas telenovelas. “Casa Grande”, que pode nos remeter a
Casa Grande e Senzala, livro de Gilberto
Para o conhecimento sobre a história Freyre de 1933 que discutia problemas
da telenovela e o final da radionovela sociais e de miscigenação.
podem-se selecionar trechos, devido
à classificação etária, da novela “Nada Como essas e outras problemáticas
será como antes”, de 2016, além de tratadas nas novelas são encaradas na
documentários e entrevistas disponí- sua comunidade?
veis online.
A telenovela teen “Malhação”, no ar
desde 1995 e já classificada sob o gê-
Desafios
nero soap opera, tem em sua receita
À medida que crescem os meios de co- de sucesso temas da adolescência,
municação, vemos crescer também uma além de situações que perpassam o
onda de ódio e preconceitos desmedi- olhar desta faixa etária e que a influen-
dos, na qual uma simples opinião con- ciam, tais como os esportes da moda
trária pode levar a um crime. O acesso de cada temporada, as gírias de cada
à informação, principalmente através da grupo social, as roupas e as músicas
televisão, cumpre um papel decisivo na que se escutam etc.
hora de fomentar o preconceito; temos
como exemplo a telenovela, que pode Por que a faixa etária se envolve mais
ser olhada além do entretenimento. com – e se influencia mais por – esse
estilo de telenovela? Como estabe-
Como as novelas propagam arquéti- lecer um olhar entre o início da sua
pos e estereótipos? De que maneira a produção em 1995 e as temporadas
sua comunidade enxerga essa propa- atuais, e traçar um histórico das in-
gação? Como o mercado e a indústria fluências sobre os adolescentes de
(vestuário, alimentação, estética etc.) uma determinada região, seja no âm-
estão envolvidos nesse processo? bito esportivo, seja nas gírias, na músi-
ca e na criação de estereótipos, assim
Produzida pela Rede Globo em 2012, como dos preconceitos revelados?
“Cheias de Charme”, trouxe à tona dife-
rentes olhares sobre alguns problemas
sociais. Entre eles podemos destacar as
protagonistas, as “empreguetes” que
sofriam abusos diversos nas mãos das
suas patroas. Um ponto de extrema
relevância, mas que pode passar desa-
percebido pelos olhares de um simples

99
Referências

A HISTÓRIA da radionovela no Brasil. O mundo do grotesco. Blog. Disponível em:


<http://omundodogrotesco.blogspot.com.br/2013/04/a-historia-da-radionovela-
-no-brasil.html#.WC2g-bIrLIU> Acesso em: 05 dez. 2016.

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<http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/as-maquinas-de-vender-
-intolerancia-e-preconceito-4823.html> Acesso em: 05 dez. 2016.

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 2014. Disponível


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BAZZO, Gabriela; IRAHETA, Diego. Dia da África: o que a SUA África tem de me-
lhor? Huffpost Brasil. 25 maio 2015. Disponível em: <http://www.brasilpost.com.
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BRASILEIRO passa três meses por ano na frente da televisão, diz Ibope. Notícias
da TV. Disponível em: <http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/brasileiro-
-passa-tres-meses-por-ano-na-frente-da-televisao-diz-ibope-6302> Acesso em:
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FOTONOVELA no Brasil. Acervo de fotonovelas. Disponível em: <http://acervode-


fotonovelas.blogspot.com.br/p/fotonovelas-no-brasil.html> Acesso em 05 dez. 2016.

MOTTER, Maria Lourdes. Educação, telenovela e crítica. Comunicação & Educa-


ção, n. 17, 2000. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/
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NOVELAS Brasileiras têm impacto sobre os comportamentos sociais. IADB.


2009. Disponível em: <http://www.iadb.org/pt/noticias/artigos/2009-01-29/nove-
las-brasileiras-tem-impacto-sobre-os-comportamentos-sociais,5104.html>. Acesso
em: 05 dez. 2016.

POR QUE somos loucos por novela? Superinteressante. Disponível em: <http://super.
abril.com.br/cultura/por-que-somos-loucos-por-novela/> Acesso em 05 de dez de 2016.

ORIGEM das fotonovelas. Acervo de fotonovelas. Disponível em: <http://acervodefo-


tonovelas.blogspot.com.br/p/origem-das-fotonovelas.html>. Acesso em: 05 dez. 2016.

100
QUEM PLANTA, COLHE!

Fonte: Thinkstock 2019.


Apresentação do tema

Agronegócio é toda relação comercial e A geração, a adaptação, a transferên-


industrial envolvendo a cadeia produti- cia e a adoção das inovações tecnoló-
va agrícola ou pecuária. No Brasil, o ter- gicas pelo setor produtivo agropecuá-
mo “agropecuária” é usado para definir rio têm tido papel preponderante no
o uso econômico do solo para o cultivo sucesso do agronegócio brasileiro. Fo-
da terra associado à criação de animais. ram criadas e incorporadas pelos agri-
cultores centenas de variedades de
O Brasil é um dos líderes mundiais na grãos, hortaliças, forrageiras e frutei-
produção e exportação de produtos ras adaptadas às diferentes condições
agropecuários, de acordo com o Mi- de solo e clima, e sistemas de cultivo,
nistério da Agricultura. Além disso, em como por exemplo rotação de culturas,
2015, o agronegócio contribuiu com diversificação da produção, implanta-
23% do PIB, de acordo com a Confe- ção de uma agricultura sustentável,
deração da Agricultura e Pecuária do entre outros, além do reconhecimento
Brasil (CNA). de pragas e doenças, através da ciên-

101
cia e tecnologia. Desenvolveram-se li- (MTE). O bom resultado do agronegó-
nhagens e cruzamentos superiores de cio no ano de 2015 reverteu o quadro
animais com expressivos ganhos de de 2014, quando houve um saldo ne-
produtividade, rusticidade e tolerância gativo de 370 empregos com carteira
a doenças, além de práticas de manejo assinada (AZEVEDO, 2016).
do processo produtivo adequadas às
diferentes condições de recursos na- O movimento financeiro do agrone-
turais e socioeconômicos. gócio, em relação às exportações,
responde a quase metade (49,6%)
Este tema pretende proporcionar aos do mercado brasileiro. Foi uma mo-
estudantes verificar a Matemática ne- vimentação de US$ 52,8 bilhões no
cessária e aplicada, para a utilização dos acumulado do ano de 2016, segundo o
conhecimentos das diferentes áreas do Ministério da Agricultura.
saber de forma a compreender os pro-
cessos do agronegócio (do plantio às Os cinco principais setores exportado-
questões econômicas, sociais, políticas res do agronegócio em julho de 2016 fo-
e tecnológicas), além de pensar em so- ram o complexo soja (39% do total das
luções (produtos) que possam trazer exportações); as carnes (15,1%); o com-
benefícios à comunidade. plexo sucroalcooleiro (15,0%); os produ-
tos florestais (10,7%); e o café (4,1%).

Contextualização
Esses cinco setores foram responsá-
A agropecuária brasileira é um campo veis por 83,8% das exportações do
cheio de oportunidades de investi- agronegócio em julho de 2016.
mentos e desenvolvimento. Sua parti-
O estado de São Paulo dispõe do
cipação no PIB brasileiro, em 2015, foi
maior e mais moderno sistema agroin-
de 23%, ante os 21,4% de 2014.
dustrial do país e de um dos mais ex-
Na contramão de outros setores da pressivos do mundo. Com um clima
economia brasileira, a agroindústria tropical, solo fértil e água abundante,
fechou 2015 com um saldo positivo na conta com 7,9 milhões de hectares de
geração de empregos. Foram criados terra voltados ao agronegócio, o que
9.821 postos de trabalho, um cresci- representa 32% do seu território total
mento de 0,63%. Nos últimos 12 me- de 24,8 milhões de hectares (IBGE,
ses, foram 1,07 milhões de admissões e 2011). Com condições competitivas
1,06 milhões de demissões. Os dados para o setor, responde por 22% (US$
são do Cadastro-Geral de Emprega- 21,9 bilhões) do total exportado pelo
dos e Desempregados (Caged, 2016), agronegócio brasileiro, segundo da-
de acordo com dados divulgados pelo dos de 2011 do Instituto de Economia
Ministério do Trabalho e Emprego Agrícola (IEA).

102
Além do agronegócio, que movimenta porcionar um uso mais consciente da
bilhões de reais, temos a agricultura água utilizada na irrigação agrícola?
familiar, responsável pela produção de
70% dos alimentos consumidos pelos O mundo está cada vez mais populoso
brasileiros, de acordo com o Portal Bra- e esse aumento populacional deman-
sil (2015). Esse portal oferece também da consumo alimentício nunca visto
informações sobre o pequeno agri- antes, impactando os grandes produ-
cultor, que ocupa hoje papel decisivo tores de alimentos, e até mesmo os
na cadeia produtiva abastecedora do agricultores locais e seus familiares.
mercado brasileiro: mandioca (87%), Assim, percebe-se que, mais do que
feijão (70%), carne suína (59%), leite um provedor de alimentos para a ci-
(58%), carne de aves (50%) e milho dade, o campo também é a casa de
(46%) são alguns grupos de alimentos milhares de brasileiros.
com forte presença da agricultura fa-
miliar na sua produção. Quais propostas de inclusão social são
possíveis para que as pessoas do cam-
De acordo com dados do IBGE obti- po e da cidade estejam integradas?
dos no Censo 2006, dos aproximada-
mente 5,1 milhões de estabelecimen- A agricultura de precisão vem ganhan-
tos agropecuários no país, mais de do espaço no mercado, sendo consi-
4,3 milhões são caracterizados como derada um sistema com o objetivo de
agricultores familiares, representan- reduzir os custos e aumentar a produ-
do 84% do total. Além disso, das 16,5 tividade por meio de tecnologias que
milhões de pessoas que exercem al- envolvem tratores, GPS, controladores
gum tipo de atividade rural, 12,3 mi- de aplicação e análises de solo, entre
lhões estão relacionadas de alguma outras. Além disso, com a necessida-
forma à agricultura familiar, perfa- de de abastecer a mesa das pessoas
zendo 74% do total. atendendo à demanda por alimentos,
a prática agrícola tem, nos últimos
tempos, a necessidade de se desen-
Desafios
volver em bases sustentáveis.
De acordo com dados da Organização
Que soluções tecnológicas podem ser
das Nações Unidas (ONU), 70% da
propostas para auxiliar o desenvolvi-
água do planeta é destinada à irriga-
mento da agroindústria e dos peque-
ção agrícola. Trata-se de um recurso
nos produtores? Além disso, quais
natural indispensável para a manuten-
ações podem ser realizadas para des-
ção das lavouras.
carbonizar a produção agrícola?
Quais propostas podem ser feitas para
ajudar a prevenir crises hídricas e pro-

103
Referências

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104
RESPEITÁVEL PÚBLICO!
permitir que eles escolham ações que
despertem seu interesse. Assim, es-
pera-se que os estudantes vivenciem
a gestualidade de cada manifestação
corporal existente no circo, participem
efetivamente do processo de organi-
zação coletiva, analisem e opinem a
respeito das vantagens e desvanta-
gens da manifestação vivenciada, e
compreendam o processo genealógi-
co que envolve a constituição do circo
em diferentes culturas.

Contextualização

“Um olhar, olhares. Cada um à sua


maneira, o mundo que o circunda,
Divulgação

este circo que chamamos de Vida”.


(Marc Chagall)

Nesta temática, o circo será explora-


Apresentação do tema do a partir do seu potencial educativo
e lúdico. O circo é uma forma de arte
O objetivo é que os estudantes con-
que há muito tempo está presente na
textualizem as produções circenses,
história da humanidade, mas tem se
pesquisando sobre a história do cir-
transformado com frequência, visto
co e sua relação com a sociedade, e
as constantes inovações tecnológi-
criem performances e materiais com
cas e as mudanças na sociedade. É
base na multiplicidade de atrações
também uma manifestação artística
presentes no circo, como malabares,
abrangente, com muitas facetas, e
palhaços, acrobacias, equilíbrio de
assim pode ser abordada a partir de
pratos, mágica etc. Pela diversidade
diversas perspectivas, possibilitando
de atividades que é possível realizar,
um trabalho interdisciplinar.
podem-se trabalhar diferentes habili-
dades e competências nos estudantes,
O circo é uma manifestação artística
bem como os conteúdos atitudinais,
oriunda da cultura popular, presente
como solidariedade, trabalho coletivo,
na vida cultural de diversos países e
persistência, liderança, entre outros, e
povos. Não se sabe ao certo a origem

105
dessa prática, mas há indícios de sua
presença desde a Antiguidade. Na Água para elefantes
China, foram descobertas pinturas
EUA, 2011. Direção: Francis Lawrence
de quase 5 mil anos nas quais apa-
recem acrobatas que provavelmente
Trechos do filme, previamente se-
se apresentavam para os convida-
lecionados, podem ser utilizados
dos do rei. Em algumas pirâmides
para promover algumas discussões
do Egito, existem pinturas de mala-
sobre a arte circense, como a pre-
baristas e paradistas. Nos grandes
sença dos animais nos espetácu-
desfiles militares dos faraós, era co-
los, a vida dos artistas do circo e
mum a exibição de animais ferozes
as constantes viagens e itinerância.
das terras conquistadas. Na Índia, os
Os trechos utilizados para fomen-
espetáculos sagrados eram acompa-
tar o debate devem ser bem deli-
nhados de saltos e contorcionismos.
mitados, pois há cenas de sexo e
Na Grécia, as paradas de mão e o
violência no filme, portanto deve-
equilíbrio mão a mão eram modali-
-se atentar à faixa etária.
dades olímpicas. Durante o Império
Romano, existiam grupos de artistas
O palhaço
saltimbancos que percorriam ruas
e faziam apresentações até nas ca- Brasil, 2011. Direção: Selton Mello
sas de famílias nobres ou em arenas
destinadas aos espetáculos (anfi- O filme mostra de uma forma bo-
teatros). Nessas arenas, era comum nita e delicada a figura do palhaço
acontecerem batalhas, corridas de dentro do circo. Pode ser trabalha-
cavalos e outras diversões, promovi- do explorando essa figura tão im-
das pelo império. portante no circo e no imaginário
de crianças e adultos.

O circo

EUA, 1928. Direção: Charles Chaplin

No filme, o Vagabundo sem querer


acaba entrando em um espetácu-
lo e fazendo grande sucesso com
o público, sendo logo contratado
pelo dono, que irá se aproveitar
dele. Pode-se levantar questões a
respeito das condições de trabalho,
da exploração, do humor etc.

106
Na Idade Média, cresceu o número Assim, pode-se observar que o circo
de grupos de malabaristas, artistas é uma das mais antigas manifestações
de teatro e bufões (comediantes) populares e artísticas. Durante o espe-
que viajavam pela Europa com as táculo, sob uma lona colorida, há músi-
suas apresentações. No entanto, ca, teatro, dança, cenografia, figurino,
foi somente em 1769 que o circo narrativas, entre outras atrações que
ganhou o formato que vemos hoje, encantam o público, proporcionando,
sendo o inglês Philip Astley o pro- até hoje, a alegria não só das crianças,
tagonista e organizador das apre- mas também de muitos adultos.
sentações circenses em formato
circular de tenda de lona, justamen-
te pela presença de acrobacias em
cavalos, que percorriam o formato
circular ganhando velocidade.

No Brasil, o surgimento do circo


está relacionado à chegada dos ci-
ganos. Eles faziam apresentações
com animais, acrobacias e também
dançavam. Há relatos de que eles
usavam tendas, e alguns espetácu-
los eram de teatro de bonecos. Via-
javam de cidade em cidade e adap-
tavam seus espetáculos ao gosto
da população local.

Na atualidade, os circos enfrentam


um período de crise, principalmente
nas capitais, pois no interior do Bra- Fonte:<http://falcaodejade.blogspot.com.br/2012/12/georges-
sil ainda são muito frequentados. As -seurat-nasceu-ha-153-anos.html>. Acesso em 23 nov. 2016

apresentações foram se modifican-


do, incorporando os avanços tecno- Ao trabalhar com a temática do circo,
lógicos e shows musicais e deixando a ideia é problematizar e valorizar a
de utilizar animais. Há um movimen- cultura circense, a qual está presente
to recente chamado de Novo circo, na contemporaneidade de diferentes
em que as técnicas de circo tradi- formas, com diversos recursos huma-
cionais são misturadas com outras nos, econômicos, estéticos. Mergulhar
linguagens artísticas como a dança e no estudo do circo é buscar entender
o teatro e muitos artistas pesquisam e vivenciar seus instigantes desafios.
essa nova proposta.

107
Desafios bicicletas, nem saltam através de
anéis de fogo, podem aprender a exe-
O advento da televisão e, mais tarde, cutar tais proezas?
a facilidade de aquisição de apare-
lhos de tevê aumentaram a procura Que fatores podem contribuir para
do produto e abalaram as outras for- que os animais sejam tratados de for-
mas de divertimento anteriormente ma (in)adequada?
procuradas. O circo foi o que mais se Joanito, do Circo do Chiquinho, ao
ressentiu, segundo os entrevistados, relatar as grandes dificuldades encon-
devido a sua frágil estrutura econô- tradas para se poder assentar o circo
mica (SÃO PAULO, 1981). nos locais escolhidos, revela a imensa
Por que nas grandes cidades, muitas flexibilidade de ação que o circense foi
vezes, o circo já não consegue atrair obrigado a desenvolver: como nós te-
aquele público de antigamente? mos uma dificuldade em São Paulo de
terrenos! (SÃO PAULO, 1981)
Como incentivar a arte do circo mesmo
com os avanços tecnológicos e o cine- Quais as dificuldades enfrentadas
ma, a televisão, os videogames? pelo circo nas grandes cidades e no
interior do estado de São Paulo? E
Por que o circo contemporâneo vem em outros estados brasileiros? Que
atraindo mais público que o tradicional? iniciativas, públicas ou não, poderiam
ajudar a preservar a arte do circo?
Quais são os aspectos negativos da uti-
lização de animais em circos? Será que em outros países ocorrem as
mesmas dificuldades?
Como animais que não montam em

Divulgação

108
Referências

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em: <http://www.anda.jor.br/wpcontent/uploads/2011/09/62.jpeg>. Acesso em:
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circo%20mo-derno%20romantismo%20guerras%20e%20nacio-nalismo.pdf>.
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com/watch?v=gA3rlQmO_FY>. Acesso em: 1 set. 2016.

MATERIAIS para as aulas de circo: claves de malabares. Vídeo produzido por


Nova Escola. YouTube. 7 mar. 2012. 2 min. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=XfwAyGyf4y0>. Acesso em: 1 set. 2016.

MATERIAIS para as aulas de circo: aros de malabares. Vídeo produzido por Nova
Escola. YouTube. 7 mar. 2012. 1 min 56 segs. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=IRo_4FyWq0Q>. Acesso em: 1 set. 2016.

MATERIAIS para as aulas de circo: pé de lata. Vídeo produzido por Nova Escola.
YouTube. 7 mar. 2012. 1 min 50 segs. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=wTKwBuWb27Y>. Acesso em: 1 set. 2016.

110
SALVE, REPENTE: AS EXPRESSÕES
DE RUA NA SALA DE AULA

Fonte:Thinkstock, 2014

Apresentação do tema

Entende-se por expressão oral toda co- Entretanto, por meio de pesquisas, pro-
municação entre os falantes de uma lín- duções, debates e apresentações, esse
gua que, por meio das manifestações tema enfoca as expressões orais e as
socioculturais, determinam as variedades manifestações socioculturais que carac-
linguísticas nacionais e regionais, cultas terizam o “modo de ser” dos jovens da
ou populares. contemporaneidade, nas ruas das regiões
do país e do mundo, como o repente, o
As manifestações socioculturais são mui- rap, o funk, o hip hop, o punk, o skate etc.
tas e, por intermédio delas, é possível re-
conhecer a identidade de um povo, sua Objetiva-se que os estudantes problema-
localização, sua classe social, seu contexto tizem sobre as origens das expressões
histórico, entre outros. Alguns exemplos orais, artísticas, culturais e comportamen-
de manifestações artísticas são contos, tais utilizadas por eles diariamente; se es-
lendas, adivinhas, provérbios, cordéis etc. sas expressões (modo de se comunicar,

111
caminhar, se vestir etc.) surgem das mani- prestígio etc. Já a linguagem informal
festações socioculturais com as quais eles representa a linguagem do dia a dia,
se identificam; se essas expressões estão das conversas informais, de rodas de
vinculadas a questões de classe social, amigos, de grupos que possuem algu-
localização espacial, gostos e/ou poder ma identificação entre si etc.
aquisitivo; se o uso delas causa precon-
ceito linguístico ou de outros tipos; como A variação linguística é um fenôme-
as expressões orais influenciam nas ma- no que acontece por intermédio das
nifestações socioculturais e vice-versa; influências socioculturais (influências
se o uso delas é adequado a todos os históricas, artísticas, culturais, regio-
espaços, como ambiente de trabalho ou nais etc.). Elas representam as varia-
familiar; por que os jovens se identificam ções da linguagem, mas acabam inter-
com essas manifestações socioculturais; ferindo em todo processo identitário
entre outros desafios que possam surgir de um grupo social.
ao longo do desenvolvimento das ativi-
dades com o tema. Destacam-se as variações:

Ademais, busca-se também, com as • Históricas: são aquelas que sofrem


atividades, que os estudantes ampliem transformações ao longo do tempo;
seu conhecimento em relação às varie-
dades sociolinguísticas e culturais das • Regionais: são marcas determinan-
outras regiões do país, a fim de valori- tes de cada região (dialeto e sotaque);
zá-las e de explorar a sua identidade e
• Sociais ou culturais: estão direta-
a de sua comunidade.
mente ligadas aos grupos sociais de
uma maneira geral e também ao grau
Contextualização de instrução de uma determinada pes-
soa. São exemplos as gírias, os jargões
A expressão oral ou linguagem oral é
e o linguajar caipira:
a principal característica que nos dife-
re dos demais seres vivos. É por meio • As gírias pertencem ao vocabu-
dela que expressamos os nossos sen- lário específico de certos grupos, e
timentos, revelamos nossos saberes, são normalmente utilizadas entre
expomos nossa opinião, ou seja, nos os jovens, como os surfistas, can-
comunicamos em sociedade. Dentro tores de rap, repentistas etc.
da linguagem oral destacam-se níveis
da fala: formal e informal. • Os jargões estão relacionados ao
profissionalismo, caracterizando
A linguagem formal está mais relacio- um linguajar técnico, como o dos
nada à linguagem escrita, pois ela se médicos, advogados, profissionais
restringe às normas gramaticais, ao da área de informática, entre outros.

112
O Brasil possui uma extensão territorial que se alternam dois cantadores. Es-
muito ampla, o que explica a existên- pecialmente forte no Nordeste brasi-
cia de diversas variantes linguísticas leiro, é baseado no canto alternado
no país. Isso se deve a vários fatores que se dá em forma de improviso poé-
históricos, sociais e culturais presentes tico. Os jovens têm utilizado o repente
nas diferentes regiões. Ao se estudar para se expressar sobre temas como
as variações linguísticas, compreende- racismo, representatividade, cotidiano
mos que, apesar de falarmos a mesma nordestino etc.;
língua, falamos com características
únicas, as quais nos diferenciam uns • Rap é uma forma de expressão que
dos outros, pois os indivíduos se ex- possuiu como características a temá-
pressam de formas diferentes a de- tica social voltada aos problemas do
pender da sua origem, classe social, gueto, o vocabulário também cen-
da época em que vivem etc. trado na realidade da comunidade e
a rima marcando a linha rítmica. No
Os jovens consomem muitas manifes- Brasil, os primeiros shows de rap eram
tações socioculturais, bem como criam apresentados no Teatro Mambembe
as suas próprias expressões (orais, pelo DJ Theo Werneck. Na década de
comportamentais, artísticas etc.), com 1980, muitas pessoas não aceitavam
o intuito de mostrar à sociedade e ao o rap, pois consideravam esse estilo
mundo a que grupo social pertencem, musical violento e típico da periferia.
como constituem a sua identidade, o Na década de 1990, o rap ganhou as
que querem, e o que ou quem os re- rádios e a indústria fonográfica come-
presenta. Esses grupos sociais são çou a dar mais atenção ao estilo. Os
variadíssimos e entre eles há elemen- primeiros rappers a fazerem sucesso
tos em comum, como as produções foram Thayde e DJ Hum. Logo a se-
artísticas, a vestimenta, as expressões guir começam a surgir novas caras
orais, o jeito de se expressar, etc. Isto no rap nacional como Racionais MCs,
é, os jovens se identificam pelo uso Pavilhão 9, Detentos do Rap, Câmbio
das mesmas linguagens. Este Eixo visa Negro, Xis & Dentinho, Planet Hemp
a problematizar as manifestações ar- e Gabriel, o Pensador. O rap está pre-
tísticas e culturais que utilizam a ora- sente em todo o país. As pessoas que
lidade, a musicalidade, a vestimenta se identificam com o rap normalmente
etc. como modo de expressão entre usam as mesmas gírias e expressões
os jovens. orais, e vestimenta parecida, como
bonés, bermudas largas e camisetas
Vejamos algumas: básicas. (SUA PESQUISA, 2016);

• Repente (conhecido também como • Funk é uma manifestação artística e


cantoria) é uma forma de expressão cultural oriunda das favelas do estado
baseada no improviso cantado, em

113
do Rio de Janeiro. Apesar do nome, é boca, língua, e muitas vezes esmalte
diferente do funk originário dos Esta- preto, inclusive para os rapazes (SIG-
dos Unidos. Surgiu a partir dos anos NIFICADOS, 2016).
1970, quando começaram a ser realiza-
dos bailes de black, soul, shaft ou funk Essas, entre outras, são as manifesta-
no Rio de Janeiro. Com o tempo, os ções socioculturais presentes entre os
DJs foram buscando outros ritmos de jovens da contemporaneidade. É por
música negra, mas o nome original per- intermédio delas que os jovens expres-
maneceu. O termo “baile funk” é usado sam o que sentem, o que pensam e o
para se referir a festas em que se toca o que sabem, seja utilizando um voca-
funk carioca (WIKIPÉDIA, 2016); bulário comum (expressão oral), seja
utilizando roupas parecidas, criando
• Punk é uma manifestação artística um “estilo” próprio de vestir-se, ou até
e cultural direcionada à música e à pelo modo de andar, de cortar o cabe-
militância política, com discussões e lo etc. Normalmente essas manifesta-
ações mais ativas que se opõem à mí- ções surgem nas ruas e causam pre-
dia tradicional, ao machismo, à homo- conceito ou estranhamento por parte
fobia etc. Podemos dizer que os punks das pessoas que não se identificam
buscam uma revolução, uma quebra com esses grupos. São as característi-
da hegemonia de ideias burguesas. cas desses grupos e as influências que
Eles divulgam suas ideias através das eles exercem nos jovens que serão as
músicas, de mídias alternativas – como problemáticas a serem respondidas
fanzines – e, principalmente, através nas próximas etapas do guia.
do seu discurso. Estão presentes prin-
cipalmente em São Paulo; Desafios
• Emo vem do termo em inglês emo- Usar a linguagem que é peculiar à
tional hardcore (hardcore emocional), sua tribo e a seu grupo faz parte do
um movimento artístico dos anos 1980 desenvolvimento da autoestima e da
pertencente ao punk rock, caracteriza- confiança, e é fundamental para o sen-
do pela musicalidade melódica. O emo so de identidade e pertencimento. Os
é também como uma cultura alternati- jovens estão tentando encontrar o seu
va, um estilo de vida, que se propagou caminho no mundo adulto e sentem-se
pelo Brasil e pelo mundo. As roupas mais à vontade quando desenvolvem
dos emos geralmente são pretas, com relações entre pares. Ter sua própria
coturnos pretos até os joelhos, lápis linguagem permite uma aproximação
preto nos olhos, batom preto, cabe- maior entre os grupos sociais com os
los bem tingidos de negro e franjas quais eles se identificam, e permite
longas caídas no rosto, e todo o tipo que se expressem da forma como que-
de tatuagem e piercings pelos olhos, rem (BERTON; DIEDRICHS, 2016).

114
Por que os jovens se expressam por A língua, quando compreendida como
meio de manifestações sociocultu- órgão complexo e extenso, derruba
rais? Como os jovens se expressam alguns paradigmas preconceituosos,
socialmente em sua comunidade? como: “o certo é falar assim, porque
se escreve assim”.
“Você tem que usar a linguagem que
é apropriada para o contexto, assim Por que o modo como as pessoas se
como é necessário vestir a roupa ade- expressam na sociedade causa pre-
quada para cada contexto” (BERTON; conceito em outras? O que pode ser
DIEDRICHS, 2016). feito para combater ou minimizar es-
ses preconceitos?
Por que as manifestações sociais e
culturais adotadas por alguns grupos
são consideradas inadequadas em al-
guns espaços ou ambientes?

Fonte:Obvious, 2015

115
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Indicações de consulta

BERTOCCHI, Sonia. O que são projetos? SlideShare. Disponível em: <http://pt.sli-


deshare.net/soniabertocchi/o-que-so-projetos-34680>. Acesso em: 09 set. 2016

HISTÓRIAS do Rap Nacional | Criolo, DJ Dandan e Rinha dos MCs. YouTube.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kCaaj5TovLg>. Acesso em:
09 nov. 2016.

JOVENS repentistas. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?-


v=fLJt2YiPHp4>. Acesso em: 09 nov. 2016.

O MOVIMENTO Punk no Brasil. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.


com/watch?v=E5_ wHaDtLGo>. Acesso em: 09 nov. 2016.

PRECONCEITO Linguístico. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=QLsmAGq- 5jZw>. Acesso em: 09 de nov. 2016.

RAP Plus Size. UOL Música. Disponível em: <http://musica.uol.com.br/noticias/re-


dacao/2016/10/25/ rap-plus-size-quer-desgourmetizar-termo-da-moda-para-es-
cancarar-problemas.htm>. Acesso em: 09 nov. 2016.

117
SHERLOQUEANDO:
VOCÊ NA CENA DO CRIME

Fonte: Pixabay, 2019

Apresentação do tema

A comunicação permeia as diversas damental. Para tanto, propõe-se o tra-


áreas da atividade humana. Em con- balho com um tema envolvendo crime,
junto com o conhecimento provenien- ciência e sociedade que permita mais
te das ciências, do uso e da aplicação que o diálogo e favoreça uma possível
das linguagens, das práticas sociais e interação dos saberes curriculares.
filosóficas, ampliam-se as possibilida-
des de formação e inserção do indi- Essa abordagem interdisciplinar tem
víduo na sociedade, de modo a com- como foco principal uma educação
preender os desafios que se impõem para o pensar, que se desdobra em
no cotidiano e colaborar para a busca estratégias de ensino e aprendizagem
de soluções. pautadas na investigação crítica e
criativa, na reflexão e fundamentação
Um grande desafio é justamente tra- de ideias, valores e ações. Nesse sen-
balhar um tema que envolva todas as tido, mais que discutir casos que aba-
áreas do conhecimento do ensino fun- lam a normatividade social ou discutir

118
técnicas forenses, a intenção é mobili- Contextualização
zar recursos didáticos e estratégias de
pesquisa que visem à autonomia do Relacionar crimes apenas a homicí-
pensamento e desenvolvam processos dios e ao sistema penitenciário seria
cognitivos de reflexão e tomada de simplificar o trabalho com a temática.
decisão. Afinal, como sustenta Kant8 As secretarias de segurança pública e
“sabere audi! ” (ouse saber!). administração penitenciária, por exem-
plo, trazem dados atualizados interes-
Espera-se do estudante que, ao entrar santes como fonte de pesquisa. Porém,
em contato com as atividades promo- mais do que esses dados, o cerne do
toras de reflexões relacionadas à te- trabalho foca os desdobramentos, a
mática citada, possa relacionar infor- investigação, as metodologias e as im-
mações nas esferas de conhecimento plicações sociais, desde as motivações
que a permeiam, a destacar: até as consequências e reflexos na so-
ciedade como um todo. Perpassam a
• Ética: valores, anomia, legalidade, esfera criminal, portanto, questões éti-
legitimidade, dolo x culpa, corrupção; cas, filosóficas, sociológicas, a condu-
ção científica, as análises laboratoriais
• Lógica: inferência, indução, dedu- e investigativas, entre outras que são
ção, argumentação, falácias; de suma importância para que se en-
tenda esse campo.
• Linguística forense: expressões idiomá-
ticas (regionalismos, termos próprios); De acordo com o Dicionário Online de
Português, “Crime é substantivo masculi-
• Psicologia: ação instintiva, impulsos, no que significa delito; qualquer violação
análise de perfil, entre outros; grave da lei por ação ou por omissão, do-
losa ou culpável; ação ilícita; [Por Exten-
• Investigação: técnicas científicas e
são] Toda ação cujas consequências são
laboratoriais, análises;
desastrosas, condenáveis ou desagradá-
veis; o que se opõe à moral, à ética; aquilo
• Cálculos: estatística, probabilidades,
que é socialmente condenável; [Figura-
criptografia;
do] O que traz resultados ruins para si
mesmo ou para outra(s) pessoa(s).” Con-
• Logística: localização, mapeamento,
forme visto nas definições, os desdobra-
rastreamento;
mentos semânticos abarcam uma gama
• Crimes: cibernéticos, roubos, furtos, de possibilidades para tratar essa temá-
assassinatos, relacionados à intolerân- tica. Estabelece-se, assim, a provocação
cia, ambientais, políticos, econômicos; de gerar propostas das diferentes áreas
do conhecimento que melhor explorem
essas possibilidades.
8
KANT, Immanuel. O que é Esclarecimento?

119
De acordo com Lavor (2016), a “Cri- thur Conan Doyle (1859-1930), criador
minologia atua com o entendimento de Sherlock Holmes, tentou ajudar nas
dos atos praticados pelo criminoso, investigações. O motivo de seu desapare-
juntamente com o estudo da vítima cimento é desconhecido. Uns dizem que
(Vitimologia), com o delito e com o foi uma fuga psicótica, outros dizem ter
controle social, de forma a conhecer e sido um colapso nervoso natural, típico
compreender melhor o criminoso para de uma possível depressão pela morte da
assim buscar mecanismos de preven- mãe e pela infidelidade do marido, o que
ção do crime, e também evitar a sua poderia também ter sido intencional para
possível reincidência. A interdisciplina- incriminá-lo. Essa história faz sucesso até
ridade da Criminologia decorre de sua os dias atuais.
própria consolidação histórica como
ciência autônoma, à vista da influência Atualmente também é comum o crime
profunda de diversas outras ciências: cibernético, cometido em ambientes vir-
Medicina Legal, Sociologia criminal, tuais, e que em geral envolvem roubos e
Direito, Psicologia etc”. De fato, diver- desvios de grandes montantes em dinhei-
sas instituições pelo mundo utilizam ro, quando sites de instituições financei-
essa temática como ponto de partida ras são hackeados, ou ainda quando cida-
para elaboração de projetos escolares, dãos comuns tem seus dados utilizados
como o projeto CientificaMente, reali- para transações suspeitas. Nesse tipo de
zado pela Universidade de São Paulo; crime, entram em cena estudos envolven-
o CSI@school, um projeto didático de- do a criptografia, compreendida como a
senvolvido pela faculdade de Ciência ciência de codificação, que ganhou noto-
Leuven, na Bélgica; e o projeto Ciên- riedade a partir da Segunda Guerra Mun-
cias Forenses: A Realidade, realizado dial, como se pode ver no filme “A arte
na Escola Secundária Fernão Mendes da imitação”. A criptografia é um ramo da
Pinto, em Portugal. Matemática que está na base dos moder-
nos sistemas de segurança da informa-
Veja como a investigação é mesmo ção largamente utilizados nas transações
fascinante! Uma das maiores escritoras eletrônicas. Em relação ainda a crimes
de todos os tempos, Agatha Christie, de corrupção, há técnicas contábeis que
considerada a “Dama do Crime”, trans- contribuem para rastreamento de frau-
formou sua vida em uma espécie de des e a consequente responsabilização
ficção que envolveu toda a sociedade. dos envolvidos. Essa tipologia de crime
Ela desapareceu e não deixou pistas. vem sendo discutida e analisada em pra-
Os britânicos passaram a acompanhar ticamente todos os âmbitos da vida em
o caso nos jornais como quem lê um sociedade, suas causas, as motivações, as
livro da autora: ansiosos para chegar consequências, como identificar e punir
ao fim e descobrir quem cometera o os envolvidos, o que permite explorações
crime. Até o consagrado escritor Ar- investigativas das mais variadas espécies.

120
Além das investigações sobre crimes logia, Medicina, Química, Matemática,
nas esferas cível e criminal (assassinatos, dentre outras, e tem por objetivo auxi-
sequestros etc.), financeira e socioeco- liar nas investigações relativas à justiça
nômica (cibernéticos, desvios de verbas (ROSA; SILVA; GALVAN, 2014). Existem
etc.), há outros que podem promover situações em que as pistas são eviden-
pesquisas relevantes do ponto de vista da tes. Contudo, há casos em que elas não
ampliação dos saberes. Há que se consi- estão explícitas, pois o cenário pode ter
derar crimes ambientais, que decorrem sido alterado, e se faz necessário o uso
da negligência e provocam desastres e de técnicas para revelar essas evidên-
prejuízos irreparáveis. Também se pode cias. Além disso, há estudos psiquiátricos
propor investigações no âmbito do es- e antropológicos que consideram perfis
porte, quando há o uso de substâncias característicos de criminosos. O que leva
ilícitas para aumento do desempenho, um indivíduo a cometer um crime (his-
ferindo a ética e os princípios desportivos tória de vida, formação ética e moral,
da competição saudável. O que há por dinâmica social)? É possível estabelecer
trás de todos esses desvios de conduta, padrões de comportamentos crimino-
que em certa medida lesam à sociedade sos? Quais “peças” podem ser juntadas
como um todo? para solucionar um crime? Como é pos-
sível esclarecer um crime por meio de
Desafios vestígios retirados da cena? Que mate-
riais e metodologias de análise podem
Todo crime pode ser solucionado? contribuir para investigações desse tipo
Esse tema, como explicitado acima, de crime?
propõe pesquisar sobre investigações
que contemplem diversos aspectos Pode-se também conduzir a temática
relacionados, tais como: jurídico, téc- para outras linhas de pesquisa, como por
nico (pericial), psicológico, psiquiátri- exemplo, os crimes ambientais. Uma pos-
co, entre outros. A partir disso, descre- sibilidade é investigar o uso indiscrimina-
veremos a seguir alguns desafios que do de agrotóxicos na produção agrícola
podem ser desenvolvidos nos traba- brasileira. Sabe-se que o Brasil está na
lhos junto aos estudantes. contramão dos países desenvolvidos,
onde há forte tendência de redução no
Estudos de casos, enigmas e mistérios uso de agrotóxicos por conta dos danos
podem ser propostos de modo a envol- diretos à saúde humana e impactos am-
ver, por exemplo, a genética, a trajetória bientais preocupantes. Já o Brasil, desde
de uma bala, a identificação da presença 2008 ocupa a primeira posição no con-
de sangue, a análise da impressão digi- sumo mundial de agrotóxicos (ASSAD,
tal na cena do crime. A ciência forense 2012). Pode-se desenvolver uma ampla
é uma área transdisciplinar relacionada pesquisa sobre a composição química
a esse contexto que envolve Física, Bio- dos agrotóxicos e os efeitos que pode

121
provocar no corpo humano. É possível (multas, se foram pagas ou não), impli-
também pesquisar sobre as regiões agrí- cações socioeconômicas e culturais para
colas brasileiras, identificando o tipo de os habitantes das regiões atingidas.
cultivo que predomina, o uso de agrotó-
xicos, os prejuízos ao meio ambiente etc. Quais condições culminaram com o
Em que medida o uso de agrotóxicos rompimento da barragem? Como são
pode ser causa de prejuízos à saúde de investigadas e eventualmente punidas
seres vivos, constituindo-se num crime situações desse porte no Brasil? Há his-
(questões éticas e legais)? Como é feita tórico de outros episódios semelhantes,
a regulação para o uso de agrotóxicos inclusive em nível mundial? Como foram
no Brasil? E na sua região, como os pro- tratadas, do ponto de vista legal (houve
dutores agrícolas lidam com essa regu- punição, alguém foi preso)? Houve res-
lação? É possível garantir a produção sarcimento das vítimas compatível com
sustentável de alimentos sem burlar a o grau de prejuízo, ou seja, foi feita jus-
legislação? tiça? Quais mecanismos legais podem
ser propostos para evitar esse tipo de
desastre?

Numa perspectiva filosófica, vale lembrar


a afirmação de Aristóteles de que “todo
ser humano é um animal político”. Político
aqui não representa simplesmente aque-
las pessoas que ocupam cargos públicos,
como entendemos hoje. Político, vem do
grego pólis, que significa cidade. Mas não
Fonte: https://www.blogpenadigital.com/2015/11/ nao-es-
cidade compreendida unicamente como
queca-de-mariana-nao-esqueca-dos.html
espaço geográfico, e sim como lugar da
relação compartilhada, do conflito de
Outra possibilidade é desenvolver um interesses, do diálogo, da luta por direi-
trabalho investigativo considerando tos, do estabelecimento dos deveres e
desastres ambientais que ocorrem por da busca pelo bem comum. Em síntese,
negligência, como por exemplo, o rom- a pólis é o espaço público, onde se deci-
pimento da barragem de rejeitos de mi- de coletivamente, através da política, os
neração que ocorreu em Mariana-MG, rumos sociais, culturais e econômicos de
em novembro de 2016, atingindo comu- um determinado grupo humano. Nesse
nidades que tinham no Rio Doce ou na sentido mais originário, visto que também
região sua principal fonte de sustento. construímos nossa identidade coletiva-
Nesse contexto, pode-se investigar so- mente, no espaço público, todos somos
bre a legislação que regulamenta o se- indivíduos políticos. O ser político identi-
tor, quais os impactos decorrentes do fica-se com o ser cidadão. Essa ideia fica
não cumprimento, as responsabilizações

122
muito bem ilustrada pelo poema “Filhos cobrir atos de corrupção? Quais os
da época” de Wislawa Szymborska: mecanismos de punição/reparação
nesses casos? Diante de supostos
atos de corrupção na sua cidade e/
SOMOS FILHOS DA ÉPOCA E A ÉPO- ou região, como as pessoas se in-
CA É POLÍTICA. formam a respeito e se mobilizam
para cobrar uma atuação ética dos
Todas as tuas, nossas, vossas coisas seus representantes?
diurnas e noturnas, são coisas políticas.
Querendo ou não querendo, teus genes No Brasil, o problema da pornogra-
têm um passado político, tua pele, um fia infantil é muito sério e precisa
matiz político, teus olhos, um aspecto ser adequadamente tratado. Ainda
político. que seja muito difícil definir a di-
mensão exata desse problema, é
O que você diz tem ressonância, o que certo que ele aumentou significati-
silencia tem um ecode um jeito ou de vamente com o surgimento da in-
outro, político.(...) ternet, sendo que, no ano de 2009,
era apontado como um dos crimes
Ao se pensar a política institucionalizada, mais comumente cometidos (FE-
no âmbito do Estado, lamentavel- DERAL, 2018). Sentindo-se benefi-
mente outro termo vem sendo asso- ciados por um suposto anonimato,
ciado à ideia da política em nosso criminosos utilizam-se de diversas
país: a corrupção, que de alguma estratégias para cooptar menores
forma pode ser compreendida como de idade, provocando inúmeras se-
apropriação indevida de bens públi- quelas psicológicas. Outro exemplo
cos para benefícios próprios, mistu- de crime virtual é a quebra de códi-
rando a esfera do público com o pri- gos de segurança para clonagem ou
vado, prejudicando a coletividade. subtração de dados, pela invasão a
Nesse sentido, esse Eixo também sites de grandes instituições finan-
permite o desenvolvimento de pes- ceiras, por exemplo. Seja qual for a
quisas com foco em crimes dessa intenção, trata-se de ato criminoso
natureza. Quais as leis que tipificam e passível de penalidades. O crime
crimes de corrupção? A relação en- cibernético, também chamado de
tre o público e o privado é intrin- delito virtual, crime digital, ciber-
secamente corrupta? Além das re- criminalidade, dentre outros termos
lações políticas institucionalizadas, utilizados nos diversos meios de co-
de que outras formas a corrupção municação e no meio jurídico, ocor-
se faz presente? Quais métodos in- re de diversas formas, como espio-
vestigativos são usados para des- nagem virtual, racismo cibernético,

9
Ransomware é um tipo de software nocivo que restringe o acesso ao sistema infectado com uma espécie de bloqueio e
cobra um resgate em criptomoedas para que o acesso possa ser restabelecido. Caso não ocorra o mesmo, arquivos podem
ser perdidos e até mesmo publicados.
123
lavagem de dinheiro, ransomware 9 , cos que tiveram que devolver suas
delitos de ódios nos sites e redes medalhas após comprovação do
sociais etc. Sob essa ótica, como doping. Isso posto, como são ava-
ocorrem as investigações de cri- liadas as questões relacionadas ao
mes cibernéticos? Quais os limi- doping e de que forma se diferem
tes da atuação da polícia cientí- daquelas de caráter medicamen-
fica nessas investigações? Como toso ou de tratamento? Quais são
as grandes corporações do setor, as principais substâncias acusadas
como Facebook e Google, coope- nos testes laboratoriais que carac-
ram com as investigações? Como terizam doping e como esses testes
é a legislação atual nos casos de são realizados? Quais os efeitos do
crimes digitais, e como aplicá-la uso dessas substâncias no organis-
de forma eficaz? Qual o papel da mo a curto e longo prazo? Quais as
justiça, das plataformas e da socie- consequências legais para atletas
dade para combater os crimes co- flagrados em exames antidoping?
metidos contra as pessoas no mun- O Brasil possui legislação própria
do virtual (cyberbullying, racismo, ou segue regulamentação de ór-
xenofobia)? Que tipos de ações
podem ser propostas e implemen-
tadas, no âmbito da comunidade
escolar, para coibir essas práticas?

Outro âmbito no qual se pode ca-


racterizar uma linha de investiga-
ção que integre saberes de diversas
áreas é o Esporte, mais precisamen-
te quando um atleta de determina-
da modalidade, intencionalmente
ou por desconhecimento, consome
substâncias ou adota tratamentos
considerados ilícitos para conseguir
desempenho acima de seus con-
correntes. O tão alarmado “doping”
tem sido constantemente noticiado
na imprensa mundial, já tendo leva-
do atletas e delegações inteiras à
suspensão de importantes competi-
ções, como foi o caso da Rússia nas
Olimpíadas do Rio, em 2016. Tam-
bém há casos de campeões olímpi-

124
gãos internacionais?
Referência

ASSAD, Leonor. Agricultura brasileira é a maior consumidora mundial. In: Ciência


e Cultura – Revista da SBPC. Ano 64, nº4, out-dez. 2012, p. 6-8

BERGSLIEN, E. Teaching To Avoid the “CSI Effect”. Journal Of Chemical Educa-


tion, v. 83, n. 5, May 2006.

DIAS FILHO, C. R.; ANTEDOMENICO, E. A Perícia Criminal e a Interdisciplina-


ridade no Ensino de Ciências Naturais. Química Nova na Escola, São Paulo, v.
32, n. 2, maio 2010. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc32_2/
02-QS-6309.pdf>. Acesso em: 25 set. 2018.

KANT, Immanuel. O que é o esclarecimeno? In: . Textos Seletos. Tradução de Flo-


riano de Souza Fernandes. 4. Ed. Petropolis: Vozes, 2010. p.63-71.

ROSA, M. F. da; SILVA, P. S. da e GALVAN, F. B. Ciência Forense no Ensino de Quí-


mica por Meio da Experimentação. Química Nova na Escola, São Paulo, 2014.

SESI-SP. Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino: Ensino Fundamen-


tal. 1 ed. São Paulo: SE- SI-SP Editora, 2016.

LAVOR, Isabelle Lucena. A importância do estudo da criminologia. 2016. Dispo-


nível em: <https://canalcienciascriminais.com.br/estudo-da-criminologia/>. Acesso
em: 25 set. 2018.

Dicionário Online de Português. Significado de crime. Disponível em: <https://


www.dicio.com.br/crime/>. Acesso em: 25 set. 2018.

FEDERAL, Ministério Público. Crimes Cibernéticos. Disponível em: <http://www.


mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr2/publicacoes/coletaneas-de-artigos/co- leta-
nea_de_artigos_crimes_ciberneticos>. Acesso em: 25 set. 2018.

NETO, Francisco Radler de Aquino. O papel do atleta na sociedade e o controle de


dopagem no esporte. Rev. Bras. Med. Esporte – Vol. 7, nº 4 - Jul/Ago, 2001.

125
SORRIA,
VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO!

Fonte: Istockphoto

Apresentação do tema

A espionagem, embora atualmente mais expressiva durante a Guerra Fria,


seja facilitada pela própria tecnologia agências de inteligência e serviços de
e suas formas de conseguir informa- espionagem existiram antes da Segun-
ção, foi usada por muitas sociedades da Guerra e ainda existem no mundo
historicamente. Era comum o uso de contemporâneo. No Brasil, por exem-
informações para vencer uma guerra, plo, a ABIN (Agência Brasileira de In-
descobrindo-se o ponto vulnerável do teligência) oferece informações de in-
adversário no conflito. teligência estratégica para subsidiar as
ações governamentais.
Os casos mais emblemáticos na his-
tória contemporânea possivelmente Base de um grande número de filmes e
tenham sido a KGB (Comitê de Segu- livros de ficção, as histórias de espiões
rança do Estado, da ex-URSS) e a CIA e suas estratégias tomam outras di-
(Agência Central de Inteligência, dos mensões na Era da Informação.
Estados Unidos). Embora com atuação

126
Edward Snowden, ex-agente da Cia, fi- passíveis de serem utilizadas por empre-
cou famoso ao apresentar ao mundo os sas, por exemplo para fins comerciais?
dados coletados por meio da espiona-
gem em computadores e celulares de di- O objetivo deste tema é que os estu-
versas personalidades contemporâneas, dantes reflitam sobre as diversas formas
inclusive a chanceler alemã Ângela Mer- de produção, circulação e controle de
kel e a própria presidente brasileira Dilma informações no mundo contemporâneo
Rousseff e seus principais assessores. e como tal sistema repercute em seu co-
tidiano e em sua comunidade.
Se a espionagem é usada por razões es-
tratégicas nos governos e atualmente Nesse sentido, são importantes a identi-
serve como justificativa contra o terro- ficação e a compreensão das diferentes
rismo, é importante compreender que aplicações das tecnologias de comuni-
ela não se restringe a autoridades polí- cação e informação pelas instituições
ticas. Sem precisar lançar mão da figura públicas e privadas, como, por exemplo:
do agente infiltrado ou do espião com pelas agências de publicidade na promo-
mil disfarces, diariamente são disponibi- ção do consumo de produtos e serviços;
lizadas inúmeras informações sobre pes- pelas empresas que utilizam as redes
soas e instituições nas redes sociais. Nem sociais – Facebook, LinkedIn etc. – na
mesmo os regimes totalitários do século busca de profissionais para compor seus
XX, caracterizados pela estruturação de quadros de funcionários; pelas agências
fortes aparatos de vigilância e controle de inteligência governamentais na vigi-
comandados pelo Estado, tiveram acesso lância e no controle dos cidadãos etc.
a tantos dados sobre a vida dos cidadãos
A proposta é que os estudantes com-
quanto os governos e grandes corpora-
preendam que mesmo as experiências
ções sob governos democráticos têm na
mais corriqueiras, aparentemente prote-
atualidade. E tudo em um clique.
gidas de olhares externos – como preen-
O que faz com que, por exemplo, após cher um formulário de concurso com seus
uma pesquisa sobre sapatos em sites de dados pessoais ou uma simples busca de
compra, surjam inexplicavelmente propa- um produto qualquer em um site na inter-
gandas do mesmo produto nas páginas net em seu computador pessoal – estão
das redes sociais do internauta? De que submetidas aos mecanismos de controle
forma sites de busca, como Google, Bing, adotados por empresas e governos.
Yahoo! etc. conseguem ter informações
A análise das relações entre informação
pessoais do usuário tais como idade, en-
e poder, das contradições entre liber-
dereço, localização, profissão, estado ci-
dade e segurança, e dos limites entre o
vil, preferências de consumo, tendência
público e o privado serão os focos do
política etc.? Como essas informações
trabalho com este tema, por meio da in-
transitam, fazendo com que as vidas de
vestigação da realidade local.
pessoas anônimas se tornem públicas e

127
Contextualização Curioso e nativo digital, o jovem é
um ávido consumidor das novidades,
Assim, dentro de um mundo globaliza- tanto mais sedutoras quanto mais efi-
do e tecnológico, os próprios cidadãos, cazes para os produtores e controla-
em sua vida cotidiana, fornecem seus dores desses sistemas informacionais.
dados pessoais por meio da utilização Afinal, nós mesmos alimentamos vo-
de diversos meios informacionais. Ca- luntariamente os gigantescos bancos
racterísticas, desejos e até mesmo sua de dados (Big Data) que são contro-
localização, os restaurantes visitados, as lados por organizações de inteligência
viagens são compartilhadas com muita – governamentais ou privadas – cujos
facilidade no ambiente virtual. Essa rea- dados coletados (via mineração de
lidade transformou significativamente dados) são utilizados tanto para fins
as formas tradicionais de obtenção de mercadológicos por umas quanto para
informações e dados diversos, inclusive controle social pelas outras. Técnicos
por parte do Estado. altamente especializados trabalham
nesse setor, utilizando métodos cientí-
Nos últimos anos, a internet foi in- ficos avançados e alta tecnologia.
corporada à vida de milhões de pes-
soas em todo o mundo e com ela, Em um canteiro de obras, dentro da
inúmeros benefícios foram trazidos à Universidade Federal do Rio de Ja-
sociedade, como a facilidade de co- neiro, está o que promete ser o maior
municação, o acesso e compartilha- centro de pesquisa em Big Data da
mento de informações. Mas, sem os América Latina. Um laboratório mo-
cuidados necessários, essa tecnolo- derno, servidores com capacidade
gia também pode apresentar sérios para processar terabites de dados,
riscos à segurança do internauta. cientistas especializados em gran-
Nos dias atuais, as pessoas cada vez des desafios.
mais trocam dados por meio eletrô-
nico. As novas tecnologias propiciam Nós somos um centro de pesquisa
diferentes tipos de escândalo geran- aplicada, aqui a gente tem o que a
do danos exponenciais. Estamos em gente mais precisa, a gente tem ta-
um momento de transição em que lento, e a gente tem problemas de
as relações humanas se tornam cada última geração. O Big Data é funda-
vez mais interativas através dos dis- mental para exploração e para aten-
positivos móveis de comunicação, der os grandes desafios do pré-sal”,
porém, estamos nos tornando cada explica Karin Breitman, diretora do
vez mais vulneráveis aos ataques a centro de pesquisa.
nossa esfera de privacidade [...]
(JORNAL DA GLOBO, 2013)
(ÂMBITO JURÍDICO, 2016)

128
O método da etnografia em mídias Em 2013, Snowden, que também
sociais, por exemplo, envolve mo- prestou serviços técnicos para a
Agência Nacional de Segurança
nitoramento, análise e identificação
(NSA) dos Estados Unidos, desen-
de perfis e hábitos de consumo para
cadeou um escândalo sem prece-
fins de marketing dirigido. A própria dentes quando vazou para jornais
investigação policial envolve seme- internacionais documentos sobre
lhantes métodos, técnicas e tecno- como a agência tem acesso a da-
logias para obter seus resultados. dos sobre milhares de telefone-
mas e e-mails e outras mensagens
A imensidão de dados disponíveis nas enviadas ao redor do mundo. Por
meio do sistema, agentes da NSA
mídias sociais e nos bancos de dados
teriam acesso direto a servidores
corporativos e governamentais é co-
de nove grandes empresas da in-
letada, sistematizada e analisada por ternet, incluindo Google, Micro-
meio destes complexos sistemas de soft, Facebook, Yahoo!, Skype e
informação, geridos por uma multi- Apple. (BBC, 2015)
dão de profissionais especializados.
NSA espiona usuários de Angry Birds
A cada cinco segundos, no mundo e outros aplicativos
inteiro, 17 mil fotos e 144 mil posts
são publicados no Facebook. Por Em janeiro de 2014, novos documen-
dia, são 247 milhões de e-mails. Isso tos revelaram que a NSA (Agência
sem contar nos rastros que a gente de Segurança Nacional dos EUA) e
deixa pelo caminho, como cartão a GCHQ (numa tradução livre, Sede
de crédito, pedágio, exames... de Comunicações Governamentais
do Reino Unido) desenvolveram
(JORNAL DA GLOBO, 2013)
ferramentas para explorar brechas
de aplicativos para celulares, como
Tais informações são utilizadas tan-
o “Angry Birds”, para espionar da-
to pelo mercado, para fins de pu- dos dos usuários. (VEJA, 2014)
blicidade dirigida, quanto pelo go-
verno, para efeito de investigação Vivemos num mundo em constante
e inteligência. Os bancos de dados e rápida transformação, onde vêm se
corporativos e governamentais são, redefinindo diversas dimensões da
em grande medida, integrados e co- sociedade: novas formas de trabalho,
laborativos. A relação indivíduo-Es- emprego e empregabilidade; novas
tado é também afetada na medida formas de socialização e produção
em que se relativizam os princípios cultural, novas formas de interação
e garantias ao sigilo e à inviolabili- social e hábitos de consumo; nova
dade das informações privadas por ética tanto nas relações humanas
tais ações. quanto na relação indivíduo-Estado.

129
O jovem estudante encontra-se, desde Desafios
a mais tenra idade, exposto e estimula-
do a percorrer espaços virtuais aparen- Existe espionagem na vida real? Há
temente seguros, mas que estão conec- espionagem hoje em dia ou isso é só
tados a complexos sistemas de coleta, ficção? Como a espionagem atinge
controle e manipulação de dados e in- as relações entre as nações e nossas
formações para diversos fins. vidas privadas? Existe privacidade
no mundo virtual? O que podemos
Nesse sentido, é necessário o de- fazer para garantir a privacidade e a
senvolvimento de atividades educa- segurança em nossas interações no
cionais que abordem estes temas, mundo virtual?
proporcionando ao jovem estudante
Tão logo o Pokémon Go foi lan-
informações capazes de propiciar a
çado em alguns países, surgiram
construção de conhecimentos que
alertas sobre como o game de
deem condições para análise crítica realidade aumentada da Ninten-
dessas dimensões, se posicionando do invade a privacidade de seus
como sujeito histórico e social. usuários e tem acesso a informa-
ções pessoais, microfone, câmera
e localização exata. [...] Uma das
teorias que viralizaram a partir do
domingo (24) diz que o Pokémon
Go é, na verdade, um ambicioso
instrumento de espionagem glo-
bal lançado pela CIA em parceria
com outras agências de inteligên-
cia. A postagem de um brasileiro
no Facebook, que já tem quase 20
mil compartilhamentos, detalha
como o aplicativo seria um artifí-
Fonte: G1, 2015
Charge publicada no site Wikileaks satiriza a espionagem cio criado pelos yankees para en-
dos Estados Unidos a integrantes do governo Dilma.
trar em nossas casas e fazer uma
devassa em nossas vidas10.

Por que é necessário colocar tantas


informações particulares para insta-
lar um aplicativo ou game no celular?
A quem pode interessar tudo isso?

Dez brasileiros suspeitos de pre-


pararem atos terroristas durante
a Olimpíada do Rio foram presos,
Fonte: Amarildo Charge, 2013.
nesta quinta-feira, pela Polícia Fe-

10
POKEMON go: Pikachu é o novo espião da Cia. Época, jul. 2016. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/experiencias-
-digitais/noticia/2016/07/ pokemon-go-pikachu-e-o-novo-espiao-da-cia.html>. Acesso em: 11 nov. 2016.

130
deral, informou o ministro da Jus- um suposto grupo terrorista no Brasil
tiça, Alexandre de Moraes, em en- às vésperas da Olimpíada Rio 2016?
trevista coletiva. Foram expedidos
Será que foram espionados? Como?
12 mandados de prisão temporária
por 30 dias. A operação foi fei-
Como é possível que apareçam ban-
ta no Amazonas, Ceará, Paraíba,
Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, ners publicitários de um determinado
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná produto nos celulares e nos compu-
e Rio Grande do Sul, foram as pri- tadores logo após o usuário ter pes-
meiras com base na lei antiterror, quisado sobre este produto anterior-
segundo adiantou o colunista do mente em outro site?
GLOBO, Lauro Jardim11 ”

Como o computador “sabe” disso? A


Como a Polícia Federal conseguiu quem pode servir essa informação?
encontrar e prender preventivamente Que uso é feito dessas informações?

Fonte: Grigory, 2016.

11
POLÍCIA federal prende dez suspeitos de prepararem atos terroristas durante Olimpíada do Rio. O Globo. 2016. Disponível
em: <http://oglobo.globo. com/rio/policia-federal-prende-dez-suspeitos-de-prepararem-atos-terroristas-durante-olimpiada-
-do-rio-19757769>. Acesso em: 11 nov. 2016.
131
Referências

AMARILDO CHARGE, 2013. Disponível em: <https://amarildocharge.files.wor-


dpress.com/2013/09/blog4.jpg?w=640&h=456>. Acesso em: 11 nov. 2016.

ÂMBITO JURÍDICO, 2016. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/


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BBC. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/notícias/2015/09/150929_


snowden_salasocial_twitter_cc>. Acesso em 09 nov. 2016.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Snowden: Herói ou traidor narra a saga de sistema de


espionagem dos EUA. Disponível em: <http://www.diariodepernambuco. com.br/app/
noticia/viver/2016/11/10/internas_viver,674538/snowden-heroi-ou-traidor-narra-a-sa-
ga-de-sistema-de-espionagem-dos-eu.shtml>. Acesso em: Acesso em: 08 nov. 2016.

FERRANTE, Daniel. O Big Brother é inglês. Revista Veja. São Paulo: Ed Abril, Edu-
cação 1848, ano 37, nº 14, 7 abril 2004.

GRIGORY, 2016. Disponível em: <http://grigory.us/big-data-class.html>. Acesso


em 09 nov.2016.

HISTÓRIAS e técnicas da famosa Stasi. Spy Global. 2012. Disponível em: <http://
spyglobal.blogspot.com.br/2012/02/stasi-historias-e-tecnicas-da-famosa.html>.
Acesso em 11 nov. 2016.

LEI E ORDEM. Espionagem digital: chumbo trocado não dói. Disponível em:
<http://www.leieordem.com.br/espionagem-digital-chumbo-trocado-nao-doi.
html>. Acesso em: 08 nov. 2016.

LISTA revela 29 integrantes do governo Dilma espionados pelos EUA. G1, 2015.
Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/lista-revela-29-inte-
grantes-do-governo-dilma-espionados-pelos-eua.html>. Acesso em: 11 nov. 2016.

MASSA de informações digitais pode ser usada em benefício da população. Jor-


nal da Globo, dez. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noti-
cia/2013/12/massa-de-informacoes-digitais-pode-ser-usada-em-beneficio-da-po-
pulacao.html. > Acesso em 09 nov. 2016.

NSA espiona usuários de Angry Birds e outros aplicativos. Veja, dez. 2014. Dispo-
nível em: <http://veja.abril.com.br/mundo/nsa-espiona-usuarios-de-angry-birds-e-
-outros-aplicativos/>. Acesso em 09 nov. 2016.

132
PEREIRA, Marcelo Cardoso. Direitos à intimidade na internet. 2. ed. Curitiba: Juruá
Editora, 2004

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sistema


SESI-SP de Ensino, São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

STASI: oito histórias inacreditáveis. Superinteressante. Disponível em: <http://


super.abril.com.br/historia/stasi-oito-historias-inacreditaveis/> Acesso em 11
nov. 2016.

WETERMAN, Daniel. Richa defende prévias para escolha de presidenciá-


vel tucano em 2018. Estadão. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/
noticias/geral,richa-defende-previas-para-escolha-de-presidenciavel-tucano-
-em-2018,10000087792>. Acesso em: 08 nov. 2016.

THINKSTOCK. Hacker hacking through laptop in binary code background. Fo-


tografia. Disponível em: <http://www.thinkstockphotos.com/image/stock-photo-
-hacker-hacking-through-laptop-in-binary-code/176217552/popup?sq=Virtual%20
espionage/f=CPIHVX/p=3/s=DynamicRank>. Acesso em: 08 dez. 2016.

133
TECH SPORT

Fonte: Thinkstock

Apresentação do tema

Na atualidade, a tecnologia avança ra- para que os estudantes compreendam


pidamente em todos os setores da so- quais aspectos têm influência na me-
ciedade; assim também é no que tange lhoria do desempenho dos atletas nas
aos esportes. Estamos assistindo a mu- competições e podem interferir no re-
danças de regras e de hábitos em todos sultado final.
os esportes, inclusive nos paralímpicos.
Há, por exemplo, mudanças no tecido O tema trata de problemas relaciona-
do vestuário esportivo para natação, e dos à popularização das modalidades
no uso de câmeras e drones evidencian- esportivas na sociedade; como e por
do cada detalhe, que pode ser discutido que a tecnologia passou a desenvolver
de forma síncrona. materiais para esse setor que visa ao
cumprimento assertivo das regras, com
Os aspectos a serem abordados neste maior possibilidade de preparação físi-
tema estão voltados para um problema ca relacionada ao esporte específico e
desafiador que envolve a tecnologia no equipamentos preparados para atingir a
esporte, seus avanços e consequências, perfeição na sua precisão; e chegamos

134
até a uma moda específica para cada Contextualização
esporte, com uma gama infinita de no-
vidades que movimentam esse setor. Os esportes, entendidos como práti-
A fim de evitar lesões nos atletas nas cas de exercícios físicos e de destreza
competições que causariam o término com regras, para fins de recreação ou
precoce das suas carreiras, a indústria competição, existem desde as mais
produz trajes que proporcionam de- remotas origens dos agrupamentos
sempenho, conforto e o máximo uso de humanos. Mas os primeiros registros
sua capacidade nas competições. mais evidentes datam de 1.860 a.C. Já
na Antiguidade, surgiram as Olimpía-
Os torneios esportivos atraem as pes- das, nas quais os atletas competiam
soas aficionadas pelo esporte, que em diversas modalidades esportivas.
muitas vezes passam a consumir tudo
o que envolve a sua simbologia como Os atletas executam exaustivos cro-
logos, bandeiras etc. Há uma gama de nogramas de treinamentos para me-
influências em todas as áreas, desde a lhorar seu desempenho nas compe-
social e política até a econômica. Porém, tições. Mas, com a contribuição da
nesse mundo competitivo, há exclusão ciência e da tecnologia, foi possível
de competidores também, pois nem to- melhorar suas marcas em centésimos
dos os atletas têm acesso a todas essas de segundo em competições que pa-
descobertas. Tudo isso é oneroso e só reciam ter alcançado o limite das ca-
países e atletas consagrados têm maior pacidades humanas. Segundo Katz
acesso às novas tecnologias em medici- (2016, p. 27):
na, nutrição, fisioterapia, física de mate-
Treinadores e atletas estão sem-
riais, computação, entre outros.
pre se empenhando para alcançar
a performance máxima. A tecno-
logia moderna, particularmente a
internet, e a comunicação digital
Os treinadores de hoje contam
multiuso de alta velocidade tor-
com olheiros para observar e nam possível a treinadores e atle-
informar em tempo real o que tas obter, analisar e integrar infor-
acontece com os jogadores das mações e recursos de maneiras
equipes no decorrer do jogo. eficiente e efetiva para aperfei-
Desse modo, os estudantes çoar o treinamento, a tomada de
munidos desses conhecimentos decisões e as colaborações.

poderão propor soluções, por


No salto com vara, por exemplo, uti-
meio do ensino por investigação,
liza-se uma tecnologia de novos ma-
para estudar e ampliar as ideias
teriais que permite construir a vara
sobre a influência da tecnologia
com flexibilidade calibrada para dar
no esporte.
maior impulso ao salto. Na natação,

135
foi desenvolvida uma tecnologia senvolvimento de produtos para
que envolve a roupa utilizada pelo melhorar o desempenho dos atletas,
nadador nas competições com o in- que dispõem de um grande arsenal
tuito de diminuir o atrito do nada- tecnológico que pode interferir nos
dor com a água (uma delas gerou resultados de uma competição. Até
polêmica e chegou a ser banida das mesmo a cura das lesões causadas
competições oficiais). A Fórmula 1 pelos traumas sofridos nos esportes
utiliza uma tecnologia que envolve está no escopo dos avanços tecno-
a aerodinâmica dos carros, propor- lógicos. Assim, lesões que levariam
cionando maior segurança em altas um tempo longo para desaparecer
velocidades. Assim, ficam evidentes hoje podem levar um tempo bem
as discrepâncias que ocorrem entre menor. Atletas de diversas áreas, as-
alguns tipos de automóvel que dis- sim como seus técnicos e professo-
putam essa modalidade, que estão res, são beneficiados com os avan-
sempre à frente de outras marcas. ços tecnológicos da atualidade.
Outro exemplo interessante envolve
os calçados para cada esporte. Desafios

As perguntas aqui apresentadas são


impulsionadoras do trabalho; outras
Um tênis de maratonista, por
poderão surgir no decorrer do traba-
exemplo, possui grande absorção
lho com o Eixo devido às necessidades
de impacto de baixa magnitude,
das pesquisas a serem desenvolvidas.
apresentando, ao mesmo tempo,
grande amplitude e pouca
Em vários esportes, verificamos as
restrição de movimento para
diferenças dos portes físicos dos
o atleta, ao passo que o tênis
atletas, característicos de cada mo-
de um jogador de basquete
dalidade. Por que os atletas pos-
necessita de absorção de
suem portes físicos diferentes con-
impacto com maiores magnitude
forme a modalidade esportiva? No
e restrição de movimento, pois
atletismo, por exemplo, os atletas
nessa modalidade o jogador
da corrida de 100m rasos devem
desempenha muitos movimentos
possuir pernas longas e musculatura
bruscos de mudança de direção
bem desenvolvida. Já os maratonis-
que podem proporcionar maior
tas, por exemplo, são menores e não
risco de lesão (OKAZAKI et al.,
muito musculosos.
2012, p.144).
Quais as consequências que al-
guns esforços ou impactos físicos
Todos esses exemplos envolveram das modalidades esportivas podem
estudos multidisciplinares e o de- causar nos atletas?

136
Como o conhecimento científico
contribui para a preparação desses
atletas e para minimizar os impac-
tos de sua atividade?

As Olimpíadas do Rio de Janeiro em


2016 mostraram tecnologias para afe-
rição dos resultados nunca vistas an-
tes. Com os recordes sendo batidos
por centésimos de segundo, instru-
mentos mais precisos são necessários.
A tecnologia também apareceu em
calçados e tecidos especiais e novos
materiais para a produção de equipa-
mentos, que auxiliam a performance
dos atletas.

Por que existem investimentos tão


pesados em desenvolvimento tec-
nológico voltado ao esporte? Como
essa tecnologia impacta o ambiente
e a vida do cidadão comum? Como a
tecnologia ajuda os atletas paralímpi-
cos na prática esportiva?

137
Referências

KATZ, Larry. Inovações na tecnologia esportiva: Implicações para o futuro. Revista E.


F., Conselho Federal de Educação Física, n. 3, jun. 2002. Disponível em: <http://www.
confef.org.br/RevistasWeb/n3/inovacoes_tecnologia.pdf>. Acesso em: 06 dez. 2016.

OKAZAKI, Victor. H. A. et al. Ciência e tecnologia aplicada à melhoria do desempe-


nho esportivo. Revista Mackenzie de Educação Física e Prática de Esporte, v. 11, n. 1,
2012, p. 144.

Indicações de consulta

INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS. A física no esporte. 26 set. 2012. Disponível


em:<http://www.ifsc.usp.br/index.php?option=com_contentie-w=article&id=1225:a
-fisica-no-esporte&catid=7:-noticias&Itemid=224> Acesso em: 06 dez. 2016.

GOUVEIA, Pamela. Qual a influência da física no es- porte? Ciência na rua. 04 mar.
2016. Disponível em: <http://ciencianarua.net/qual-a-influencia-da-fisica-no-esporte/>
Acesso em: 06 dez. 2016.

FÍSICA nos esportes: natação. Azeheb. 15 dez. 2015. Disponível em: <http://azeheb.
com.br/blog/fisica-nos-esportes-natacao/> Acesso em: 06 dez. 2016.

FÍSICA no esporte: corrida 200 metros rasos. Azeheb. 15 set. 2015. Disponível em:
<http://azeheb.com.br/blog/fisica-no-esporte-corrida-200-metros-rasos/> Acesso
em: 06 dez. 2016.

FERNANDES, Paula M. N. R. A física no esporte. Teia do saber. Universidade Santa


Cecília. Disponível em:<http://sites.unisanta.br/teiadosaber/apostila/fisica/a_fisica_
no_esporte-fisica1109.pdf> Acesso em: 06 dez. 2016.

Presença e influência da física no esporte: Disponível em: <http://rede.novaescola-


clube.org.br/ planos-de-aula/presenca-e-influencia-da-fisica-no esporte> Acesso em:
06 dez. 2016.

Tecnologias no esporte: Disponível em: <http://universidadedofutebol.com.br/tecno-


logia-no-esporte-a-busca-pela-melhoriada-performance> Acesso em: 06 dez. 2016.

Tecnologias esportivas auxiliando no esporte: Disponível em: <http://www.revistas.


udesc.br/index.php/reavi/article/viewFile/3776/2915>. Acesso em: 06 dez. 20

138
“UM SONHO SONHADO JUNTO
NÃO É SONHO; É REALIDADE!”

Fonte:Thinkstock,

Apresentação do tema

Este tema pretende desenvolver um sujeito participante da conjuntura


trabalho dinâmico e prático buscando política. Entender que as decisões e
garantir que o estudante tenha clareza mudanças na vida pública atingem a
da dimensão do “eu como um ser po- vida privada do estudante é essencial
lítico”, percebendo a si mesmo como no caminhar da vida estudantil e este

139
tema procura seguir nessa direção. cio da cidadania comprometido com as
transformações sociais e políticas que
Nesse sentido, é importante que as demandam as relações interpessoais. A
estruturas e as formas de organização maior contribuição desse tema, nesse
política específicas sejam discutidas sentido, está na compreensão crítica
com os estudantes, a fim de viabilizar do estudante sobre o significado das
ações de participação política mais expressões “viver em sociedade” e “fa-
conscientes. Assim, os estudantes de- zer política”; o exercício da cidadania e
vem perceber a forma como ocorre a as ações voltadas para o bem comum,
dinâmica política, quais suas estrutu- na promoção de uma sociedade mais
ras e quais espaços podem ser ocu- justa para todos.
pados pela participação dos jovens e
adolescentes. Contextualização

A Comissão de Legislação Participa-


Durante todo o ensino fundamental,
tiva da Câmara dos Deputados dis-
tanto nos anos iniciais quanto nos fi- cute, nesta quarta-feira, 10/ago/2016,
nais, os estudantes têm acesso a co- as políticas públicas para fortaleci-
nhecimentos de uma sucessão de mento do protagonismo juvenil, em
eventos que marcaram a origem da alusão ao Dia Internacional da Juven-
territorialização brasileira e o esta- tude, celebrado em 12 de agosto. O
deputado Chico Lopes lembra que,
belecimento dos seus poderes. Daí a
de acordo com o Instituto Brasileiro
importância de um estudo integrado
de Geografia e Estatística (IBGE), os
da localidade/comunidade, na qual os jovens representam hoje 1/4 da po-
estudantes podem se aproximar da pulação do País. “São 51,3 milhões de
realidade política por meio da reflexão brasileiros de 15 a 29 anos, dos quais
sobre seu local de vida. 84,8 % vivem nas cidades e 15,2 % no
campo”, acrescenta o parlamentar.
A partir da escala local e da esfera pri- Para a ocasião, foram convidados
também a presidente da União Na-
vada do indivíduo em reflexão e ação
cional dos Estudantes (UNE), Carina
na comunidade, espera-se chegar ao
Vitral, além do presidente do Conse-
desenvolvimento de uma consciência lho Nacional de Juventude (Conju-
e responsabilidade coletiva da esfera ve), Daniel Santos Souza.”
pública. O desenvolvimento do Eixo (Adaptado de BRASIL, 2016).
visa oportunizar, junto aos estudantes,
um levantamento de experiências em As demandas juvenis ganharam for-
sociedade, dessa forma problemati- ça na agenda das políticas públicas a
zando o objeto de pesquisa: a relação partir de 2005 com a Política Nacional
do indivíduo em sociedade. da Juventude (PNJ). Entretanto, mes-
mo com a criação de mecanismos de
Pretende-se que os estudantes identifi- participação social, a impressão sobre
quem a importância do tema no exercí-

140
o engajamento dos jovens fica restrita de institucionalização ou manifesta-
ao senso comum de que os jovens não ção da opinião pública; teorias sobre
gostam de política. esfera pública, democracia e cultura
política; direitos básicos relativos a
De acordo com Almeida (2008), ao saúde, educação, trabalho, lazer, cul-
ampliarmos a noção de política para tura; entre outros.
a de participação política coletiva per-
ceberemos que muitos jovens não só A operacionalização desses conheci-
gostam, como têm forte engajamento. mentos num processo de formação
Isso ocorre na medida em que perce- do jovem cidadão conduz à discussão,
bem como as decisões nesse âmbito em um primeiro momento, das con-
têm impacto sobre várias áreas da cepções de política.
vida social.
A política está presente em todo o
Rodrigues (2014) realizou um levan- nosso cotidiano, em praticamente to-
tamento para entender a cabeça po- das as relações sociais. Política e ética
lítica da juventude e de que maneira são indissociáveis. Fazer política é a
isso pode influenciar as eleições. Seus ação social orientada por valores éti-
dados revelaram que essa população cos e dirigida para o bem comum. A
pode decidir a eleição por ser mais in- despeito do senso comum, que consi-
formada e levar dinheiro para dentro dera equivocadamente a política algo
de casa. negativo, o jovem deve compreender
que aprender a fazer política é apren-
Sem dúvida, a crescente disponibiliza- der a lidar com o mundo e com os ou-
ção de informações e o papel da tec- tros de maneira ética. É aprender a ser
nologia no cotidiano dos jovens são e a conviver.
dimensões presentes na vida pessoal
do estudante hoje. Como consequên- Então, por que se tem uma impressão
cia, muitas das mobilizações ocorrem pejorativa da política? O fator corrup-
por meio da tecnologia, através de mí- ção parece contribuir em grande parte
dias sociais que se tornam instrumen- para essa representação. Além da cor-
tos de participação. rupção, a sociedade contemporânea
é permeada por diversos problemas
Nesse quadro de política e engajamen- causados por decisões políticas equi-
to da juventude, muitos conhecimen- vocadas, que vão desde questões co-
tos são fundamentais para fomentar tidianas como, por exemplo, o desres-
novas práticas no nível da localidade/ peito ao outro no trânsito, na escola,
comunidade. Alguns desses conheci- no trabalho, até questões estruturais
mentos são: o funcionamento do siste- mais complexas, como as grandes mi-
ma político e das estruturas sociais; o grações forçadas, as práticas discrimi-
comportamento político como forma natórias (xenofobia, preconceito racial

141
e de gênero), a desigualdade social, a Que formas, canais e espaços de par-
violência, entre outros. ticipação social e política identifica-
mos em nossa comunidade? Que lu-
Por trás dessas problemáticas, es- gar ocupam os jovens e adolescentes
tão em jogo valores éticos e morais nesse cenário?
da convivência entre os indivíduos e
entre as distintas culturas, religiões, “As manifestações de junho de 2013
ideologias políticas, orientações de pegaram o Brasil e o mundo de sur-
presa. Através da internet, milhares
gênero etc. Ou seja, o pano de fun-
de jovens de todo o País se mobili-
do deste tema é a política, a ética e
zaram e foram às ruas protestar por
a cidadania. Diante de tal situação, a motivos diversos”.
compreensão de si mesmo enquanto (BRASIL, 2014).
sujeito social e político e sua relação
com o outro é o ponto crucial para a O que pensam as pessoas de nossa
formação cidadã, permeada por um comunidade daqueles que participam
olhar de alteridade, tolerância, respei- de manifestações sociais e políticas?
to e diálogo, que é o que se espera
desenvolver no trabalho com este Que ações podem ser propostas
tema. para divulgar as experiências de
participação política e social em
Desafios nossa comunidade? Que ações po-
dem ser propostas para promover
Como já dizia o poeta Raul Seixas:
“Sonho que se sonha só/ É só um so- a consciência sobre a participação
nho que se sonha só/ Mas sonho que política e social dos jovens e ado-
se sonha junto é realidade (1974)”. lescentes em nossa comunidade?

O que é preciso para transformar


sonhos em realidade? Como é pos-
sível transformar a realidade utili-
zando os instrumentos e as práticas
democráticas?

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera, enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude...
(Gonzaguinha - E vamos à luta- 1980)

Qual a relação entre os jovens de nos-


sa comunidade e a política?

142
Referências

ALMEIDA, Renato Souza. Participação política, quando o jovem entra em cena.


Entrevista. Mundo Jovem: um jornal de ideias. n. 390, set. 2008. Disponível em:
<http://www.mundojovem.com.br/entrevistas/participacao-politica-quando-o-jo-
vem-entra-em-cena>. Acesso em: 25 ago. 2016.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação participativa discute protagonismo


juvenil nesta tarde. Câmara Notícias. 10 ago. 2016. Disponível em: <http://www2.
camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/514334-LEGISLA-
CAO-PARTICIPATIVA-DISCUTE-PROTAGONISMO-JUVENIL-NA-TERCA.html>.
Acesso em: 6 ago. 2016.

BRASIL. Secretaria Nacional de Juventude. Reinvenção da democracia atra-


vés da internet. 25 jan. 2014. Disponível em: <http://juventude.gov.br/participato-
rio/participatorio/reinvencao-da-democracia-atraves-da-internet#.V7bv8fkrKUk>.
Acesso em: 19 ago. 2016.

LOPES, Claudivan S.; PONTUSCHKA, Nídia N. Estudo do meio: teoria e prática.


Geografia. v. 18, n. 2, Londrina. 2009. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/
uel/index.php/geografia/article/view/2360/3383>. Acesso em: 24 ago. 2016.

MOREIRA, Marco Antonio. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. 2012.


Disponível em: <https://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf>. Acesso em: 11
abr. 2014.

RODRIGUES, Alan. O que os jovens pensam sobre a política. IstoÉ. 29 ago. 2014.
Disponível em: <http://istoe.com.br/380009_O+QUE+OS+JOVENS+PENSAM+SO-
BRE+A+POLITICA/>. Acesso em: 19 ago. 2016.

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sistema


SESI-SP de Ensino, São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

THINKSTOCK. Diverse People Friendship Togetherness Connection Aerial View Co.


Fotografia. Disponível em:<http://www.thinkstockphotos.com/image/stock-pho-
to-diverse-people-friendship-togetherness/520097492/popup?sq=520097492/
f=CPIHVX/s=DynamicRank>. Acesso em: 07 dez.2016.

143
USOS E ABUSOS

Fonte: Thinkstock

Apresentação do tema

O abastecimento e tratamento de Diante da necessidade vital da água,


água são fundamentais para a garantia é preponderante a discussão de ques-
da sobrevivência humana, bem como tões importantes ligadas ao geren-
do desenvolvimento socioeconômico ciamento e ao consumo apropriado
de todas as comunidades, consideran- desse bem, uma vez que, apesar das
do não somente o consumo direto das condições naturais, o abastecimento e
pessoas nas residências, mas também o consumo de água têm sido grandes
o seu uso no setor produtivo em geral, desafios para o nosso país.
seja de bens, seja de equipamentos
ou do agronegócio. A utilização des- Dados apontados pelo Sistema Nacio-
se bem tão precioso é imprescindível nal de Informações sobre Saneamento
para a vida. (SNIS) permitem uma análise alarman-

144
te sobre o consumo de água pelo bra- criativas que despontam para a sus-
sileiro: uma média de 159 litros por dia. tentabilidade.

O desperdício e o mau uso da água Com isso, ao trabalharem no desen-


são realidades em nossas comunida- volvimento desse projeto no âmbito
des. Além dos aspectos culturais, tais escolar, espera-se que os estudantes
fatores podem ser explicados pela di- entendam o que é necessário consu-
ficuldade de as pessoas entenderem e mir e o que é desperdício, mudando
se conscientizarem sobre o real valor comportamentos ao aplicar conheci-
da água de qualidade disponibilizada mentos matemáticos para criar mode-
para o consumo, não atribuindo valor los com o intuito de diminuir os gastos
apenas ao que é pago monetariamen- e o consumo desse recurso natural,
te nas contas. mudando comportamentos ao pesqui-
sar, refletir, dialogar, debater e aplicar
Dessa forma, com o objetivo de pro- conhecimentos das diferentes áreas
porcionar mudanças de comporta- do saber, gerando análises e conhe-
mento perante o consumo dos recur- cimentos conjuntos com o intuito de
sos hídricos, este tema propõe um reduzir os gastos e o consumo desse
trabalho que aborde a necessidade recurso natural.
de entender o real valor da água de
qualidade que recebemos em nossas Pois, como aponta Lima e Gomes (2018):
torneiras, além de levar à percepção
sobre o desperdício e o mau uso cons- Através da análise das questões am-
bientais de consequências locais,
tantes em nossas comunidades, de
é possível estender o estudo para
modo a oportunizar análises, reflexões
questões ambientais mais globais,
e proposições que minimizem os im- que resultem em aplicações mate-
pactos financeiros e ambientais desse máticas, incorporando outros con-
comportamento enraizado. textos culturais e geográficos, bem
como a percepção dos alunos em
Nesta perspectiva, os estudantes de- relação a sua ocupação na situação
vem investigar sobre os recursos hí- global. Dessa forma, os alunos po-
derão compreender a utilidade da
dricos, o consumo direto e indireto da
Matemática e, ao mesmo tempo, se
água, por exemplo, o quanto a comu-
sensibilizarão com as questões am-
nidade gasta, o custo e as estratégias bientais. Além disso, a partir do con-
de tratamento para que a água fique tato com a natureza, da divulgação
própria ao consumo, entender as os- de conhecimentos ecológicos e in-
cilações climáticas que têm impacto terpretação de fenômenos naturais,
nos níveis dos reservatórios, conhecer os alunos sentirão naturalmente a
necessidade de sua conservação.
o custo do consumo doméstico, indus-
trial e rural da água consumida, além
A água é um importante patrimônio
de levantar as soluções e as iniciativas

145
da humanidade que encanta, por ser pouco e pode ser compensado com
fonte de vida e preocupa, por estar técnicas de armazenamento e edu-
se tornando cada vez mais escassa. cando a população ao uso racional.
A preocupação com o acesso a água
potável e de qualidade é emergente, De acordo com a ONU, cada pessoa ne-
pois os hábitos de poluição e des- cessita de 110 litros de água por dia para
perdício já começam a surtir efeito.
atender às suas necessidades de consu-
Logo, algo precisa ser feito, e com
mo e higiene. E mesmo assim, em 2013,
urgência, para preservar esse patri-
mônio prestes a ser destruído. o brasileiro consumia em média, como
supracitado, 159 litros por dia. Essa situa-
[E], (...) a escola pode ser considera- ção se agrava quando olhamos para a
da um dos lugares mais adequados Região Sudeste, que batia a marca de 185
para se trabalhar à relação homem- litros por habitante por dia. Vale ressaltar
-ambiente-sociedade, pois é um es-
que essa média é calculada com base na
paço propício para a formação de ci-
população atendida com o abastecimen-
dadãos críticos e criativos, com uma
nova visão de mundo (...). to de água, e não faz distinção entre os
consumos de tipo doméstico, comercial,
Contextualização público ou industrial.

Dados mostram que o planeta pode en- Segundo Mesquita (2015), na Região Su-
frentar um déficit de 40% no abasteci- deste encontra-se 6% da água doce do
mento de água até 2030 se não houver Brasil e, portanto, há 0,1% de disponibi-
uma melhora da gestão desse recurso. lidade de água por habitante, a mesma
No Brasil, o quadro não é diferente; em- distribuição que a Região Nordeste; no
bora o país detenha 12% da água doce entanto, na Região Sudeste não há uma
mundial, a perda de 37% de toda água preocupação com o desperdício desse
tratada indica o mau uso de recursos hí- recurso, por seus habitantes não esta-
dricos no país. rem habituados a conviver com a escas-
sez. Outro dado importante a ser des-
A má gestão muitas vezes atribui à falta tacado é que, segundo o portal Globo.
de chuva a necessidade de estabelecer com (2013), a Região Sudeste, a mais po-
planos emergenciais para a redução de pulosa do país por ter começado o pro-
consumo de água, mas, como aponta cesso de industrialização primeiro (com
Molion, citado por Madeiro (2015): mais de 80 milhões de brasileiros), tem
a rede de distribuição de abastecimento
A média global de chuva é em torno
de 800 mm no ano, e são raras as re-
de água mais bem preparada, com co-
giões aqui [no Brasil] que chovem me- bertura de 96,6%. A segunda região mais
nos que isso. Falta é planejamento es- populosa do Brasil, o Nordeste, com seus
tratégico a longo prazo. E a tendência 53 milhões de habitantes, tem uma co-
é que até 2025, 2030, as chuvas redu- bertura urbana de rede de água de 87,1%.
zam de 10 a 20%. Isso é relativamente

146
A falta de preocupação com o desper- Para exemplificar:
dício de água pelo ser humano reflete
nas atividades econômicas, conforme • Quatro dutos transportam minérios ex-
aponta Mesquita (2015); apenas 2,7% traídos em Minas Gerais até portos bra-
da água doce do mundo é consumível sileiros utilizando água suficiente para
pelas atividades humanas e, dessa fatia, suprir uma cidade de 1,6 milhão de habi-
70% é consumida de modo ineficiente tantes, por ano;
pela agricultura, 22%, destinada ao uso
industrial e à geração de energia e 8%, • Para produção de um quilo de café são
para uso doméstico. empregados 19 mil litros de água;

A Pegada Hídrica de um indivíduo, co- • Para se obter 1 quilograma de carne


munidade ou empresa é definida como o bovina são destinados 15,4 mil litros de
volume total de água doce que é utilizado água para sua produção;
para produção dos bens e dos serviços
consumidos pela comunidade ou pro- • 11,35 litros de água são destinados para
duzidos pelas empresas. O portal Wa- a produção de uma folha de papel.
ter Footprint utiliza esse indicador, que
Através dessa análise, não se deve pa-
analisa o uso da água de forma direta e
rar de produzir esse ou aquele produto
indireta, tanto do consumidor quanto do
por conta do intenso uso de água, mas
produtor. A média mundial per capita no
podem-se mudar as formas como esses
período de 1996 a 2005 era de 3.795 litros
produtos são produzidos. Por exemplo,
de água por dia, ao passo que, no mesmo
no que diz respeito à irrigação, apenas
período, no Brasil essa média era de 5.559
alterando o método intensivo (a jato)
litros de água por dia.
para o de gotejamento ou vaporização,
É possível perceber que o consumo de o consumo de água é reduzido a 30% e
água vai muito além daquele que vemos a 20%, respectivamente.
ou consumimos diretamente; existe um
consumo exacerbado de água indireta, Diante dessa constatação, em nível ma-
“água invisível” ou ainda o que podemos cro não é excluída a necessidade de se
chamar de “água virtual”. Para efeito de mudarem hábitos individuais, pois algu-
comparação, dez minutos de uma boa mas pessoas sozinhas chegam a gastar
ducha consomem 162 litros de água, mais de 200 litros por dia, e alguns com-
enquanto a produção de meio litro de portamentos consomem mais água que
refrigerante demanda 170 a 310 litros o necessário. Veja:
de água. Na média, 94% do consumo
• Uma torneira gotejando chega a des-
de água no mundo é indireto, gasto na
perdiçar 46 litros de água por dia, o que
irrigação, no transporte de minérios por
representa 1.380 litros por mês;
dutos, e na produção de carnes, vegetais
e materiais diversos.

147
• Uma ducha por 15 minutos, com o Outra preocupação é o elevado índice
registro meio aberto, consome 135 li- de urbanização e aumento da indus-
tros de água; trialização. O processo de urbaniza-
ção recente é atrelado ao aumento
• Um banho com chuveiro elétrico, em das indústrias, as águas residuais são
15 minutos com o registro meio aberto, lançadas nos rios, lagos e oceanos, na
gasta 45 litros na residência; maioria das vezes sem nenhum tipo
de tratamento, ameaçando a saúde da
• Para a escovação dental de cinco mi- população e comprometendo o aces-
nutos com a torneira não muito aberta so à água potável.
gastam-se 12 litros de água.
Que propostas de estratégias são ou
Desafios podem ser estabelecidas para que
A água se renova por meio da biodi- haja a redução do consumo dos re-
versidade se não interferimos, mas, se cursos hídricos no setor produtivo
estamos destruindo a base biogeofí- industrial em geral?
sica do planeta para obter lucro para
poucos no curto prazo, a água não vai A água é um recurso natural, indis-
conseguir se renovar. Fazemos parte pensável para manutenção da vida,
do ciclo hidrológico”. (Renato Tagnin,
no entanto ainda é possível verificar
arquiteto urbanista e professor do
muitas situações de degradação e po-
Centro Universitário Senac). É preciso
agir rapidamente. A água é um recurso luição deste recurso, mesmo com a
natural essencial para todas as formas elaboração de leis e políticas elabora-
de vida em nosso planeta. das para sua preservação, como a Po-
Disponível em: www.revistaplaneta. lítica Nacional dos Recursos Hídricos.
com.br. Acesso em: 15/12/2016. Assim, conclui-se que não é efetiva a
criação dessas leis sem a formação da
Qual a abrangência da interferência consciência ambiental voltada para a
humana no que tange à destruição am- preservação do meio ambiente e seus
biental neste contexto (água)? recursos, baseada nos princípios de
educação ambiental e desenvolvimen-
Nos últimos anos, o consumo de água to sustentável.
no mundo aumentou em razão do
crescimento populacional, pois com Que ações educacionais e sociais
um número maior de habitantes, é podem ser propostas para os seto-
necessário um aumento da produção res de produção e consumo no sen-
agrícola. A estimativa é de que, para tido de evitar o desperdício de água
alimentarmos os habitantes da Terra e também que, em alguma medida,
em 2025, será necessário um aumento oportunizem o desenvolvimento de
de 14% no consumo de água, compro- consciência ambiental voltada à pre-
metendo ainda mais nossos recursos. servação dos recursos hídricos?

148
Referências

BARBOSA, V. 20 números revelam o drama da água no mundo. Planeta Sustentável.


23 mar. 2015. Disponível em:<http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/planeta-a-
gua/20-numeros-revelam-o-drama-da-agua-no-mundo/>. Acesso em: 18 ago. 2016.

FERREIRA, D. H. L. O tratamento de questões ambientais através de modelagem


matemática: um trabalho com alunos do ensino fundamental e médio. 2003. Tese
(Doutorado) – Universidade Estadual Paulista. Instituto de Geociências e Ciências
Exatas. Rio Claro/SP, 2003. Disponível em: <http://repositorio.unesp.br/bitstream/
handle/11449/102168/ferreira_ dhldr_rcla_prot.pdf?sequence=1>. Acesso em: 08
nov. 2016.

GOBBI, L. D. Água; uso e problemas. Globo.com Educação. Geografia. Disponível


em: <http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/agua-uso-e-
-problemas.html>. Acesso em: 08 nov. 2016.

BRASILEIRO consome 159 litros por dia. Globo Ecologia. 12 maio 2013. Disponível
em: <http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2013/05/brasileiro-con-
some-159-litros-por-dia.html>. Acesso em: 18 ago. 2016.

LIMA, J. C. B.; GOMES, G. de S. Relatos de uma experiência construtiva, o projeto


“Água um bem precioso: da poluição a preservação e utilização consciente. In: III
Congresso Internacional de Educação Inclusiva & III Jornada Chilena Brasileira de
Educação Inclusiva e Direitos Humanos, 2018, Campina Grande: REALIZE, 2018. v. 1.

MADEIRO, C. Com 12% da água doce mundial, o Brasil cuida bem dela? Entenda
por que não. UOL Maceió. 21 mar. 2015. Disponível em: <http://noticiasuol.com.br/
cotidiano/ultimas-noticias/2015/03/21/com-12-da-agua-doce-mundial-o-brasil-
-cuida-bem-dela-veja-respostas.htm>. Acesso em: 08 nov. 2016.

MALDONADO, S. D’O. ANDRADE, S. V. R de. Modelagem Matemática e Planilha


Calc: A água – Redescobrindo conceitos matemáticos nas questões ambien-
tais. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arqui-
vos/1963-8.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2016.

MESQUITA, R. V. de. O custo (oculto) da água. 6 jul. 2015. Disponível em: <http://
www.revistaplaneta. com.br/o-custo-oculto-da-agua/>. Acesso em: 18 ago. 2016.

WATER FOOTPRINT. Pegada Hídrica. 2008. Disponível em: <http://www.pegadah-


idrica.org/?page=files/home>. Acesso em: 08 nov. 2016

149
Indicação de consulta

BRANCO, E. S. MENTA, E. Matemática e o meio ambiente. Portal do professor.


11 jan. 2011. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.
html?aula=27995>. Acesso em: 08 nov. 2016.

150
VOCÊ NÃO SABE DA MÍDIA
A METADE

Fonte: Thinkstock 2019.


Apresentação do tema

Este tema aborda os mecanismos, formas e os objetivos da manipulação


movimentos e fluxos de distribuição de informações ao longo da história, o
e consumo dos discursos em diferen- impacto da democratização do aces-
tes mídias (TV, rádio, jornal, internet, so aos meios de comunicação sobre
cinema, revistas etc.). Seu objetivo é a produção de conteúdo, as relações
contribuir para a ampliação da capa- entre as questões de autoria, trabalho
cidade de leitura crítica da realidade e colaborativo e propriedade intelectual.
possibilitar escolhas conscientes dos
estudantes sobre a forma de consumir Além disso, poderão investigar as
e produzir discursos. questões relacionadas aos limites en-
tre o público e o privado, à superex-
Assim, os estudantes irão refletir sobre posição da intimidade, às implicações
as condições de produção dos discur- do culto à celebridade, à atuação dos
sos na contemporaneidade, as variadas youtubers e dos digital influencers, ao

151
império das fake news e seus equiva- pesquisa ainda revela que os jovens
lentes em outros momentos da história. estão habituados a usar um ou mais
meios de comunicação ao mesmo
Os estudantes serão estimulados a tempo, consumindo-os nas mais va-
analisar os discursos veiculados nas riadas combinações.
diferentes mídias, a problematizar sua
experiência individual e de sua comu- A mídia alcançou um lugar domi-
nidade como consumidores e produ- nante no nosso dia a dia. Ela cria as
tores de discursos e a participar do demandas, orienta os costumes e há-
debate sobre a ética no que é dito, bitos da civilização, de maneira até
compartilhado, ouvido e visto. então nunca vista. Mais do que divul-
gar um produto ou lançá-lo no mer-
Contextualização cado, a publicidade acabou desem-
penhando o papel de criar hábitos,
As mídias fazem parte da cultura da
modos de viver e de pensar, além de
população brasileira e constituem
definir estilos, fabricar modelos iden-
um importante fator de produção de
tificatórios, testemunhando assim o
identidades. Segundo pesquisa reali-
poder das palavras e das imagens
zada pela comScore consultoria, di-
sobre os seres falantes. O papel de
vulgada pelo portal O Globo no ano
destaque da publicidade hoje não é
de 2015, os brasileiros gastam 650
sem relação com a organização do
horas por mês em redes sociais. Sa-
mundo globalizado, no qual a comu-
ber como, por que e para que as mí-
nicação ascende a um lugar decisivo
dias são produzidas, o que torna um
no circuito produtivo.
fato notícia, como identificar as fake
news, a quem pertencem as grandes
A eficácia da publicidade, portan-
corporações midiáticas, entre outros to, apoia-se na atual organização
fatores que envolvem o assunto, é civilizatória e também no avanço
necessário para o desenvolvimento tecnológico que, no caso da ima-
da criticidade e da ética, uma vez gem, produz novidades cada vez
que a voz do estudante é um direito mais sofisticadas.

e isso o faz protagonista da realidade


(BARROSO, 2006)
em que vive.

Não é de hoje que vemos e sabemos


O jovem acompanha a mudança
da força que a mídia possui, e isso fica
das mídias e se adapta facilmente a
mais nítido quando por meio de toda
elas. A presença dos mais novos na
essa força ela passa a incutir nas pes-
internet teve um aumento de cerca
soas uma ideia ou mesmo um ponto
de 50% de 2003 a 2013, saltando
de vista já formado sobre determina-
de 35% para 85%, segundo o Kantar
do assunto. E note que, quando faze-
IBOPE Media (2014). Além disso, a

152
mos referência à mídia, estamos na entre outros. Em síntese:
verdade nos referindo a todas as suas
formas de veiculação, seja ela falada, Problematizar as maneiras de ler, le-
var o sujeito falante ou o leitor a se
escrita, televisionada e aquela feita
colocarem questões sobre o que
pelos meios virtuais e outros meios
produzem e o que ouvem nas dife-
que sejam possíveis. rentes manifestações da linguagem.
Perceber que não podemos não es-
Na sociedade contemporânea tem tar sujeitos à linguagem, a seus equí-
ocorrido o surgimento de uma nova vocos, sua opacidade. Saber que não
produção da subjetividade em fun- há neutralidade nem mesmo no uso
ção da organização do cotidiano mais aparentemente cotidiano dos
pela mídia (...) portanto, crianças, signos. A entrada no simbólico é ir-
adolescentes e adultos alteram suas remediável e permanente: estamos
relações intersubjetivas a partir das comprometidos com os sentidos e o
influências que a mídia e a cultura político. Não temos como não inter-
exercem sobre todos. pretar. (ORLANDI, 1999)

(CAMPOS E SOUZA, 2003).


Como forma de instrumentalizar os
estudantes na interpretação dos con-
Sabendo que a mídia interfere di-
teúdos das mídias afirma-se a impor-
retamente no modo como os estu-
tância do trabalho com a Análise do
dantes recebem e interpretam as
Discurso que possibilita ao sujeito su-
informações, abordar esse tema em
perar a sua condição de receptor de
sala de aula é uma oportunidade de
informações e compreender-se en-
orientar o seu uso, refletir e debater
quanto produtor de discursos.
sobre a democratização dos meios
e técnicas de produção; o poder das
Cada pessoa carrega em si elementos
grandes corporações; cyberbullying;
de sua história, condição social, re-
anonimato; privacidade; publicidade;
pertório cultural, crenças, ética, mo-
fofoca digital; segurança; liberdade;
ral, convicções políticas, ou seja, seu
efemeridade; formas de resistência e
conhecimento de mundo, sua identi-
alternativas no compartilhamento de
dade. Conforme explicitado em MELO
informações; dependência e antropo-
(2009), todos esses fatores consti-
fagia digital; ética; plágio; discursos
tuem as formações ideológicas do su-
de ódio etc.; para que esses sujeitos
jeito12 que influenciam o modo como
consumidores e produtores de dis-
cada um vê, ouve, sente e compreen-
cursos consigam produzir conteúdo
de o que está ao seu redor e definem
coerente e ético sem desqualificar a
a maneira como este se apresenta e
sua imagem ou ferir os princípios bá-
se expressa para os outros.
sicos de convivência em sociedade:
o respeito, a dignidade, a autonomia,
12
Entende-se formação ideológica como um conjunto de diferentes discursos e influências que constituem o discurso de um
sujeito, “oriundos de diferentes momentos da história e de diferentes lugares sociais” (FERNANDES, [s.d.] p.36).

153
Uma vez que não há discurso sem gem que alcance seu objetivo, mes-
sujeito e não há sujeito sem ideolo- mo que esse dependa da interpreta-
ção do receptor.
gia, (PÊCHEUX, 1975) e que elaborar
discursos é uma forma de atribuir
Disponível em: <https://www.edito-
sentidos à realidade, uma ação intrin- racontexto.com.br/blo- g/o-que-e-
secamente coletiva, é fundamental a -analise-do-discurso/> . Acesso em:
Análise do Discurso como elemento 24 set. 2018
de construção de cidadania.
Desafios
A Análise do Discurso (ou Análise de
Discursos) é uma ciência que consis-
te em analisar a estrutura de um tex-
to e, a partir disto, compreender as
construções ideológicas presentes
no mesmo.

O discurso em si é a construção
linguística junto ao contexto social
Fonte: <https://www.dicionariopopular.com/e- verdade-es-
onde o texto se desenvolve. Ou seja, se-bilete/> Acesso em: 24 set. 2018.

as ideologias presentes em um dis-


curso são diretamente construídas e
No caso deste “bilete” ficam muito
influenciadas pelo contexto político-
evidentes a falsificação e a manipula-
-social em que o seu autor está in-
serido. Mais que uma análise textual,
ção da informação como estratégias
a análise do discurso é uma análise do autor para atingir seus objetivos.
contextual da estrutura discursiva Outros autores, no entanto, utilizam
em questão. estratégias mais sofisticadas de ma-
nipulação da informação que dificul-
Para Foucault, um texto só pode ser
tam a percepção de sua real intenção
assim chamado se o receptor for ca-
e potencializam o compartilhamento
paz de compreender o seu sentido, e
isto cabe ao autor do texto e à aten-
de conteúdo falso, como é o caso das
ção que o mesmo der ao contexto fake news.
da construção de seu discurso. Isso
tem relação direta com os princí- Afinal, o que é verdade e o que é men-
pios básicos da comunicação verbal: tira? Como podemos averiguar a ve-
emissão, recepção e compreensão. racidade das informações veiculadas
nas mídias (rádio, TV, Internet, jornais,
O sentido do discurso não é fixo. Ele
revistas)? Como estratégias de mani-
muda em função do contexto, da
estética, da ordem do discurso e da
pulação de discurso foram utilizadas
sua forma de construção. O sentido ao longo da história? Quais estimativas
do discurso é sempre determinado podem ser feitas do volume de fake
pela interpretação do receptor e, sua news que circulam atualmente, e como
finalidade é transmitir uma mensa- se podem mensurar seus impactos?

154
“O número de vítimas de vazamen- que uma criança na mais tenra idade
to de “nude selfies”, ou vídeos ínti- já tenha tido contato com mais in-
mos divulgados sem consentimento, formações do que um indivíduo do
quadruplicou no Brasil em dois anos. século XX, durante toda sua vida.

No ano passado, 224 internautas Quantas horas em média as pessoas


procuraram o serviço de ajuda da que formam as comunidades do
SaferNet, organização de defesa de entorno da escola passam “conec-
direitos humanos na web, para de- tadas”? Quais atividades elas rea-
nunciar o crime cibernético conheci- lizam durante este tempo de cone-
do como “revenge porn” – pornogra- xão? Como as relações humanas e
fia de vingança, em tradução livre. a produção de conhecimento foram
Em 2012, 48 casos haviam sido re- afetadas após o advento das mídias
gistrados pela entidade” (ESTADÃO digitais e sociais?
CONTEÚDO, 2015).
Não há garantias, mas ser famoso nas
“Uma adolescente de 16 anos come- mídias sociais não precisa ser neces-
teu suicídio na tarde da última quin-
sariamente uma missão impossível.
ta-feira, na cidade de Veranópolis, na
Com o “gancho” certo e estratégia,
serra gaúcha, depois que fotos em
que aparecia com os seios à mostra você também pode se tornar famoso
se espalharam pelas redes sociais” na internet.
(ILHA, 2013).
Algumas das conclusões mais impor-
No mundo do clique, no qual se pode tantes:
compartilhar com grande facilidade
e rapidez uma informação ao mes- • Prepare-se para a sua fama na in-
mo tempo em vários ambientes dife-
ternet;
rentes, que impactos podem trazer
a publicação de fotos e vídeos pes-
• Escolha o seu mercado: pelo que
soais nas redes sociais? Que ações
podem ser propostas para conscien- você é completamente apaixonado
tizar a comunidade sobre os limites ou conhece muito bem;
entre o público e o privado? Como
os estudantes podem discutir e for- • Adapte a sua personalidade para
mular práticas autônomas de “auto- atrair seu público ideal;
proteção” contra os efeitos que essa
superexposição pode causar? • Escolha pelo menos 2 ou 3 dessas
plataformas: blog, Facebook, Goo-
“(...) segundo pesquisa os brasileiros
gle+, Twitter, LinkedIn e YouTube;
gastam 650 horas por mês em redes
sociais e segundo o IBOPE as crian-
ças passam cerca de 5 horas em • Desenvolva sua estratégia de mídia
frente da TV e assistem a mais de 40 social.
mil propagandas em um ano” (OTO-
NI, 2015). Nesse contexto, é provável Depois de decidir quais plataformas

155
você vai usar, decida quanto tempo
você deseja dedicar a cada uma. Você
pode fazer tudo isso em 1 hora por dia
ou menos, mas é uma boa ideia sepa-
rar 2 sessões de 30 minutos, ou 4 ses-
sões de 15 minutos. Não importa quais
são as mídias sociais que você partici-
pa, seja consistente em todas elas.

Fonte:<https://jornaldoempreen-
dedor.com.br/the-growth-hacker/
marketing-digital/o-que-faz-pes-
soas-ficarem-famosas-na-internet/>
Acesso em: 23 nov. 2018

Fama e popularidade são as mesmas


coisas? O que explica os fenômenos de
fama e popularidade? Quais os benefí-
cios e os problemas da fama e da po-
pularidade? Quais os desdobramentos
da valorização da fama e da populari-
dade entre os jovens da comunidade
escolar? Como a compreensão sobre o
que é ser famoso e influente tem im-
pactado nas relações de produção e
consumo de discursos?

156
Referências

BARROSO, Suzana Faleiro. O uso da imagem pela mídia e sua repercussão na


subjetividade contemporânea. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 12,
n. 19, p. 92-97, jun. 2006. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?s-
cript=sci_arttext&pi-d=S1677-11682006000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:
26 nov. 2018.

CAMPOS, Cristiana Caldas Guimarães de; SOUZA, Solange Jobim e. Mídia, cul-
tura do consumo e constituição da subjetividade na infância. Psicol. cienc. prof.,
Brasília , v. 23, n. 1, p. 12-21, Mar. 2003 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scie-
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Acesso em: 26 Nov. 2018.

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FERNANDES, Cleudemar Alves. Análise do Discurso-reflexões introdutórias. São


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Globo, 20 nov. 2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/ jovem-come-
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158
VOZES DA ÁFRICA

Fonte: Thinkstock

Apresentação do tema

Para que possamos entender a his- A História da África está intrinseca-


tória de nosso país, invariavelmente mente associada à História da huma-
temos que entender nossa proximi- nidade. A África é o berço da huma-
dade com o continente africano. Um nidade, pois lá surgiram os primeiros
primeiro passo da educação para en- indícios de vida dos homens do nosso
tender essa relação foi a criação da lei planeta. No decorrer da jornada hu-
nº 10.639/03, que tornou obrigatório o mana, os nativos do continente africa-
ensino de História da África e dos paí- no relacionaram-se aos habitantes de
ses africanos no Brasil. outras regiões e continentes, fazendo

159
com que seus conhecimentos, produ- A África é o segundo continente do
tos, criações e ideias circulassem o mundo em população, com mais de
mundo (LIMA, 2010). 800 milhões de habitantes. De cada
100 pessoas no mundo, 13 vivem na
No Brasil, a cultura africana foi pouco África, sendo que a taxa de cresci-
valorizada ou problematizada ao lon- mento da sua população é uma das
go da história, seja por desconheci- mais altas do nosso planeta: quase
mento das características de suas ma- 3% ao ano. É o terceiro continente do
nifestações, seja por preconceito em mundo em extensão, com cerca de 30
relação ao povo negro. No entanto, o milhões de quilômetros quadrados, o
território brasileiro concentra a maior que corresponde a 20,3% da área to-
parte da população africana fora do tal da Terra. São 54 países, sendo 48
continente da África, por isso a cul- continentais e seis insulares, e ainda
tura, a língua e os costumes desses há 10 territórios dominados por paí-
povos exercem grande influência na ses estrangeiros – a maioria são ilhas.
constituição da identidade do nosso Cerca de 75% da superfície do conti-
país. Partindo dessas problemáticas, nente se situa nos trópicos; somente
neste tema, por meio de pesquisas, as suas extremidades norte e sul têm
debates, apresentações etc., os estu- clima temperado. É o mais quente dos
dantes terão a oportunidade de co- continentes, ainda que tenha regiões
nhecer, refletir sobre e problematizar de altas montanhas sempre cobertas
as linguagens africanas e afro-brasilei- de neve, como o Monte Kilimanjaro, no
ras, como: línguas, danças, produções Quênia. Na África são faladas aproxi-
literárias, vestimentas, culinária, cren- madamente duas mil línguas, as quais,
ças, esporte, músicas etc. por sua vez, têm suas variantes: os
dialetos. Entre essas línguas, mais de
Contextualização
50 são faladas por mais de um milhão
“Branco, se você soubesse o valor de pessoas cada. O árabe, por exem-
que o preto tem. Tu tomava um ba- plo, é falado por cerca de 150 milhões
nho de piche, branco, e ficava preto de africanos – e é a língua oficial de
também. sete países da África. O hauçá, falado
E não te ensino a minha malandra- no norte da Nigéria, tem quase 70 mi-
gem. E tampouco minha filosofia. lhões de falantes (LIMA, 2010).
Por quê?

Quem dá luz a cego é bengala bran- De acordo com Lima (2010, p. 32), um
ca em Santa Luzia.” dos troncos linguísticos derivados da
(Gilberto Gil)
família Níger-Cordofoniana é o banto,
que deu origem a muitas línguas afri-
canas faladas ao sul da linha do equa-
dor. Essas línguas foram trazidas pelos

160
escravos ao Brasil e algumas de suas sileira, é importante atentarmos para
palavras foram incorporadas à Língua três princípios destacados por Lima
Portuguesa. Na esteira dos troncos lin- (2010). A interdisciplinaridade, para
guísticos, temos também os iorubás, que possamos entender os processos
um dos maiores grupos etnolinguísti- ocorridos; a apresentação da história
cos da Nigéria, composto por mais de de dentro da África para fora; e, em
30 milhões de pessoas das quais um terceiro lugar, a apresentação da cul-
número considerável vive na Repúbli- tura sempre em conjunto para que a
ca do Benin, em pequenas comunida- pluralidade e diversidade fiquem mais
des no campo, em Togo, Serra Leoa, claras. Ainda há um quarto princípio,
no Brasil e em Cuba. que diz que deve-se evitar os eventos
dissociados que possam prejudicar a
Como podemos notar, a história da cul- aprendizagem crítica e o entendimen-
tura africana é marcada pela diversidade to das relações.
de seus povos, algo muito característico
também em nosso país. Nesse sentido,
ao estudarmos a relação da África com
o Brasil e suas proximidades, temos que
considerar tais aspectos, os quais nos
trarão inúmeras perspectivas de estu-
dos, como suas crenças, línguas, danças,
modos de vida etc.

Além da diversidade que salta aos


olhos, muitos aspectos comuns são
encontrados entre os povos africanos,

Fonte: Thinkstock 2016


o que permitiu que surgisse o conceito
de africanidade. Para Lima (2010),

este conceito nasceu muito ligado às


lutas pela descolonização em meados
do século XX, e foi aprofundado nas
décadas que se seguiram. A africani- A influência da cultura africana na cul-
dade está muito relacionada à expe- tura brasileira se deve à diversidade de
riência de similaridade cultural vivida escravos dos mais diferentes povos ad-
por aqueles que vivenciam diferentes
vindos do continente africano que foram
(e distantes) realidades no continente
trazidos para o Brasil, o que refletiu di-
e nelas percebem semelhanças no do-
mínio da cultura. retamente nos aspectos culturais que se
desenvolveram nas diversas regiões de
Ao pensarmos as questões referentes nosso país. A maior parte dos escravos
à África e sua influência na cultura bra- que vieram da África eram das etnias

161
Banto, Nagô, Jejes e Hauçás, ou islamiza- Alguns países africanos que falam
dos, e eles trouxeram a influência da um- inglês:
banda, a religião afro-brasileira baseada
• África do Sul; Etiópia; Gâmbia;
no culto dos Orixás, de onde surgiram
também o candomblé e a capoeira, entre • Quênia; Madagascar; Nigéria;
outros. Na nossa culinária, a influência da • Ruanda; Samoa; Sudão;
cultura africana também está presente,
• Serra Leoa; Tonga; Zâmbia;
mas é na área musical que o Brasil ga-
nhou mais com a cultura desses povos: • Tanzânia; Zimbábue.
a música africana é a origem dos mais
famosos ritmos brasileiros, como o sam- Desafios
ba, o maxixe e a bossa nova (PORTAL
Neste contexto, quais problemáticas
BRASIL, 2016).
podem-nos provocar e funcionar como
disparadores para repensarmos nosso
Influência negra no Brasil: papel na relação cotidiana com a cultu-
culinária ra africana? Seguem algumas possíveis
problemáticas que poderão ajudar a
No Nordeste, a marca africana pensar em diferentes perspectivas para
é profunda, sobretudo na Bah- o trabalho com a temática “África”:
ia, em pratos como vatapá, ca-
“A ama negra fez muitas vezes com
ruru, efó, acarajé e bobó, com
as palavras o mesmo que com a co-
largo uso de azeite de dendê,
mida: machucou-as, tirou-lhes as es-
leite de coco e pimenta. A fei- pinhas, os ossos, as durezas, só dei-
joada carioca, de origem negra, xando para a boca do menino branco
é o mais tipicamente brasileiro as sílabas moles. Daí esse português
dos pratos. de menino que no Norte do Brasil,
principalmente, é uma das falas mais
Autoria: Erasmo Lopes doces deste mundo. Sem rr nem ss;
as sílabas finais moles; palavras que
só faltam desmanchar-se na boca da
gente. A linguagem infantil brasileira,
Desse modo, temos diferentes aspec-
e mesmo a portuguesa, tem um sabor
tos da cultura africana que influencia- quase africano: caca, pipi, bumbum,
ram e influenciam a cultura brasileira: nenen, tatá, lili [...] ”(FREYRE, Gilberto.
a música, a culinária, a língua e até os Casa-Grande & Senzala. 9. ed. Rio de
modos de se vestir. Realizar uma leitu- Janeiro: José Olympio, 1958).
ra crítica desses artefatos culturais e de
sua influência na contemporaneidade é Qual a influência das diferentes lín-
conhecer um pouco mais sobre a histó- guas africanas no modo como nos
ria e valorizar os diferentes modos de expressamos?
vida presentes em nossa comunidade.

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Por que os adeptos da cultura africana, televisão e internet. Assim, ao lermos al-
seja nos esportes, na religião, na músi- gumas imagens de áreas ricas da África,
ca, sofrem preconceito em nossa so- podemos pensar até que se trata de ou-
tro continente, como a Europa.

Qual a relação da sua cidade com o


continente africano? Quais preconcei-
tos ecoam nos entornos da comunida-
de escolar sobre esse tema?

Como podemos pensar e conhecer


o continente africano para além dos
discursos homogeneizadores que nos
chegam? Como a África pode ser pen-
sada para além da pobreza? É possível
fazer algo para minimizar tal situação?
Fonte: Thinkstock 2016

ciedade? E na sua comunidade, como


essas pessoas são vistas?

O continente africano é muitas vezes


tido como um lugar onde só existe po-
breza e doenças. No intuito de reverter o
discurso depreciativo sobre o continen-
te, muitas iniciativas são tomadas a fim
Fonte: Thinkstock 2016

de mostrar as belezas da África. Nesse


sentido, podemos conhecer uma outra
África que não nos chega pelos meios
de comunicação mais conhecidos, como

163
Referências

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Você também pode gostar