Agrhc 771539 2022 10 24

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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no HABEAS CORPUS Nº 771.539 - RJ (2022/0294177-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : DEONILDO GOMES DA SILVA (PRESO)
ADVOGADOS : CARLOS HENRIQUE NÓRA SOTOMAYOR TEIXEIRA -
DF014292
JOAO PAULO TODDE NOGUEIRA E OUTROS - DF028502
ERICO RODOLFO ABREU DE OLIVEIRA - DF024405
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
EMENTA
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
HABEAS CORPUS. 1. OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ
NATURAL. NÃO VERIFICAÇÃO. AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA. AUSÊNCIA DE DISTRIBUIÇÃO. 2. USO DE
ALGEMAS. ALEGAÇÃO PRECLUSA. PREJUÍZO NÃO
INDICADO. AUSÊNCIA DE NULIDADE. 3. EXCESSO DE
PRAZO. NÃO VERIFICAÇÃO. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE OBSERVADO. 4. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA. CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS. ANOTAÇÕES
ANTERIORES. 5. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, "não há
transgressão ao princípio do juiz natural, nem obrigatoriedade recursal
- acusatória ou defensiva - quando exarada decisão em audiência de
custódia por plantonista e distribuído o inquérito ao Juízo competente,
este decreta a prisão preventiva, fundamentadamente" (AgRg no HC n.
527.921/RS, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 29/10/2019).
2. No moderno sistema processual penal, eventual alegação de
nulidade, ainda que absoluta, deve vir acompanhada da demonstração
do efetivo prejuízo. Não se proclama uma nulidade sem que se tenha
verificado prejuízo concreto à parte, sob pena de a forma superar a
essência. Vigora, portanto, o princípio pas de nulitté sans grief, a
teor do que dispõe o art. 563 do CPP. Na hipótese, não houve
insurgência defensiva oportuna nem indicação de prejuízo concreto,
motivo pelo qual não há se falar em nulidade.
3. Eventual constrangimento ilegal por excesso de prazo não resulta de
um critério aritmético, mas de uma aferição realizada pelo julgador, à
luz dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, levando em
conta as peculiaridades do caso concreto, de modo a evitar retardo
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abusivo e injustificado na prestação jurisdicional. No caso dos autos, a
ação penal tramita em observância ao princípio da razoabilidade, sem
registro de qualquer evento relevante atribuído ao Poder Judiciário que
possa caracterizar constrangimento ilegal e justificar o relaxamento da
prisão.
4. As instâncias ordinárias se basearam em elementos concretos que
demonstram a necessidade da custódia, sobretudo para garantir
a ordem pública. Com efeito, as decisões ordinárias indicam a
gravidade concreta da conduta imputada, uma vez que o paciente foi
preso em flagrante após arremessar pela janela do carro um tablete de
maconha, pesando 609 gramas. Ademais, o paciente possui inúmeros
anotações, inclusive por associação para o tráfico, já tendo sofrido
condenação pelo crime de sequestro.
- Contata-se, portanto, uma periculosidade acentuada, com
fundamento em elementos concretos, aptos a ensejar a atuação do
Estado cerceando sua liberdade para garantia da ordem pública. De
fato, a existência de condenação definitiva enseja igualmente a
decretação da prisão cautelar, como forma de conter a reiteração,
resguardando, assim, o princípio da prevenção geral e o resultado útil
do processo.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik,
Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT) e Jorge Mussi votaram com o Sr.
Ministro Relator.

SUSTENTARAM ORALMENTE: DR. CARLOS HENRIQUE NÓRA


SOTOMAYOR TEIXEIRA (P/AGRVT) E MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Brasília (DF), 18 de outubro de 2022(Data do Julgamento)

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 771.539 - RJ (2022/0294177-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : DEONILDO GOMES DA SILVA (PRESO)
ADVOGADOS : CARLOS HENRIQUE NÓRA SOTOMAYOR TEIXEIRA -
DF014292
JOAO PAULO TODDE NOGUEIRA E OUTROS - DF028502
ERICO RODOLFO ABREU DE OLIVEIRA - DF024405
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


(Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto por DEONILDO GOMES DA
SILVA contra decisão monocrática, da minha lavra, que negou seguimento ao presente
mandamus.

O agravante aduz, em síntese, que os precedentes indicados na decisão


monocrática não se aplicam à hipótese dos autos, que o excesso de prazo é imputável apenas
ao judiciário e que a "fundamentação da prisão preventiva não está lastreada em base empírica
qualitativa e/ou quantitativa idônea".

Pugna, assim, pelo provimento do agravo regimental.

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


(Relator):
A insurgência não merece prosperar.

Com efeito, conforme explicitado na decisão monocrática, a defesa apontou,


em um primeiro momento, ofensa ao princípio do juiz natural. Contudo, a Corte local destacou
que, "quando da realização da audiência de custódia, o processo não foi distribuído para o
Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Campos dos Goytacazes, que estava escalado
para atuar na Central de Audiência de Custódia de Campos dos Goytacazes" (e-STJ fl. 38).

Dessa forma, nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, reafirmo


que "não há transgressão ao princípio do juiz natural, nem obrigatoriedade recursal - acusatória
ou defensiva - quando exarada decisão em audiência de custódia por plantonista e distribuído
o inquérito ao Juízo competente, este decreta a prisão preventiva, fundamentadamente" (AgRg
no HC n. 527.921/RS, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 29/10/2019).

No mesmo sentido:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O


MESMO FIM E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. OFENSA AO
PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. COMPETÊNCIA. JUÍZO DA
CUSTÓDIA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. INADMISSIBILIDADE DE PARADIGMA EM
HABEAS CORPUS PARA COMPROVAR DIVERGÊNCIA. PRISÃO
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. RISCO CONCRETO
DE REITEERAÇÃO DELITIVA. 1. Por não ter sido objeto de debate
pela Corte estadual, a análise da alegada transgressão ao princípio
do juiz natural, por contrariedade à decisão proferida pelo Juízo
da audiência de custódia, acarretaria em indevida supressão de
instância. De qualquer forma, neste Superior Tribunal já se decidiu
que não há transgressão ao princípio do juiz natural, nem
obrigatoriedade recursal - acusatória ou defensiva - quando
exarada decisão em audiência de custódia por plantonista e
distribuído o inquérito ao Juízo competente, este decreta a prisão
preventiva, fundamentadamente (AgRg no HC n. 527.921/RS,
Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 29/10/2019). 2. Acórdãos
proferidos em julgamento de habeas corpus não servem como
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paradigma para demonstração do dissídio jurisprudencial (AgRg
no REsp 1.390.846/SP, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe
26/8/2016). 3. Segundo a farta jurisprudência desta Corte, maus
antecedentes, reincidência ou até mesmo outras ações penais em
curso são motivação idônea para a imposição de segregação
cautelar como forma de evitar a reiteração delitiva e, assim,
garantir a ordem pública. Tais circunstâncias, outrossim,
demonstram a insuficiência e a inadequação das medidas
cautelares diversas da prisão. Precedente. 4. Writ conhecido em
parte e, nessa extensão, ordem denegada. (HC n. 696.917/MG,
relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em
8/3/2022, DJe de 16/3/2022.)

Quanto ao uso de algemas, constata-se que o Tribunal de origem consignou


não ter havido insurgência defensiva oportuna nem indicação de prejuízo concreto. Dessa
forma, reitero que, como é de conhecimento, no moderno sistema processual penal, eventual
alegação de nulidade, ainda que absoluta, deve vir acompanhada da demonstração do efetivo
prejuízo. Não se proclama uma nulidade sem que se tenha verificado prejuízo concreto à
parte, sob pena de a forma superar a essência. Vigora, portanto, o princípio pas de nulitté
sans grief, a teor do que dispõe o art. 563 do Código de Processo Penal.

A propósito:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. USO DE ALGEMAS NA SESSÃO PLENÁRIA.
PRECLUSÃO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. As nulidades ocorridas
durante a Sessão do Júri devem ser arguidas logo depois de sua
ocorrência e registradas em ata, sob pena de preclusão. 2. No caso,
não há na ata de julgamento nenhuma insurgência da defesa
quanto ao uso de algemas pelo réu durante a sessão plenária, a
demonstrar a preclusão da matéria. 3. Embora o Supremo Tribunal
Federal haja editado súmula vinculante com limites para o uso de
algemas, ele próprio reconheceu, por ocasião do recente
julgamento do Agrg na Rcl n. 19.501/SP, ocorrido em 20/2/2018
(DJe 14/3/2018), que a redação é genérica e a súmula não foi
editada para levar, pura e simplesmente, à nulidade do ato
processual. Na ocasião, consignou o relator, Ministro Alexandre de
Moraes (vencedor) - no que foi acompanhado pelos Ministros Rosa
Weber e Luís Roberto Barroso -, que a ausência de comprovação
de prejuízo concreto para a parte impossibilita a anulação do ato
processual. 4. Além disso, o STJ compreende que o édito
condenatório, de per si, não é apto para comprovar o prejuízo
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sofrido pela parte, quando a condenação teve lastro no acervo
probatório dos autos. Precedentes. 5. Sob tais premissas, uma vez
que a defesa não logrou demonstrar o alegado prejuízo, não há
como se reconhecer a nulidade apontada. 6. Agravo regimental não
provido. (AgRg no HC n. 673.299/CE, relator Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 9/11/2021, DJe de
23/11/2021.)

No que concerne ao alegado excesso de prazo, o art. 5º, inciso LXXVIII,


da Constituição Federal, dispõe que "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação". Nada obstante, referida garantia deve ser compatibilizada com outras de igual
estatura constitucional, como o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório que, da
mesma forma, precisam ser asseguradas às partes no curso do processo penal.

Nessa linha de intelecção, eventual constrangimento ilegal por excesso de


prazo não resulta de um critério aritmético, mas de uma aferição realizada pelo julgador, à luz
dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, levando em conta as peculiaridades do
caso concreto, de modo a evitar retardo abusivo e injustificado na prestação jurisdicional.

Com efeito, "segundo pacífico entendimento doutrinário e jurisprudencial, a


configuração de excesso de prazo não decorre da soma aritmética de prazos legais. A questão
deve ser aferida segundo os critérios de razoabilidade, tendo em vista as peculiaridades do
caso". (RHC 104.458/PE, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em
06/06/2019, DJe 21/06/2019)

Mencione-se, por outro lado, que, com o fim de assegurar que a prisão não
se estenda por período superior ao necessário, configurando verdadeiro cumprimento
antecipado da pena, a alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019 ao art. 316 do Código de
Processo Penal estabeleceu que o magistrado revisará a cada 90 dias a necessidade da
manutenção da prisão, mediante decisão fundamentada, sob pena de tornar a prisão ilegal.

Necessário, porém, considerar que, cumprido tal requisito, eventual


constrangimento ilegal por excesso de prazo não resulta de um critério aritmético, mas de uma

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aferição realizada pelo julgador, à luz dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
levando em conta as peculiaridades do caso concreto, de modo a evitar retardo abusivo e
injustificado na prestação jurisdicional.

Na hipótese dos autos, a Corte local consignou que (e-STJ fls. 44/46):

O magistrado de 1º grau procedeu de forma diligente ao tomar as


medidas cabíveis para que fosse agilizada a conclusão da instrução
criminal, de modo que não há que se falar em injustificada
morosidade na tramitação processual.
A dilação para a conclusão da instrução criminal não comporta em
violação ao devido processo legal, estando perfeitamente
compatível com o princípio da razoabilidade.
Apesar de já ultrapassado o número de dias da soma aritmética dos
prazos processuais para conclusão da instrução, não se evidencia
qualquer inércia ou desídia da autoridade judiciária ou do aparato
judicial.
Além disso, os prazos processuais não podem ser tratados como
mero cálculo aritmético, devendo o magistrado analisar caso a
caso, cuidando do seu regular andamento.
(...).
Constata-se pela análise dos autos, que o processo está com seu
andamento regular, não podendo se falar em excesso de prazo, uma
vez que não se verifica qualquer atraso na marcha processual que
se afaste dos padrões de razoabilidade ou que demonstre ter havido
desídia por parte do juízo, revestindo-se a prisão preventiva de
legalidade.
O magistrado de 1º grau vem conduzindo regularmente o feito,
determinando todas as diligências necessárias ao deslinde
processual.
Ademais, não se pode olvidar que a diligência agora reclamada foi
requerida pela própria defesa, o que, por si só, afasta eventual
alegação de constrangimento ilegal, nos termos do enunciado da
Súmula 64 do STJ.
“Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na
instrução, provocado pela defesa”.
Assim, não cabe falar em excesso de prazo na prestação
jurisdicional. Não há nem mesmo dilação processual que autorize o
relaxamento da prisão do ora paciente, uma vez que o retardo na
prestação jurisdicional é totalmente justificável.

Nesse contexto, reafirmo que a ação penal tramita em observância ao

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princípio da razoabilidade, sem registro de qualquer evento relevante atribuído ao Poder
Judiciário que possa caracterizar constrangimento ilegal e justificar o relaxamento da prisão.

A propósito:

PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. ESTUPRO


QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. NÃO
CONHECIMENTO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. EXCESSO DE
PRAZO NÃO CONFIGURADO. DILIGÊNCIAS REQUERIDAS PELA
DEFESA. SÚMULA N. 64/STJ. RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, DESPROVIDO. 1. No que se
refere à alegada ausência de fundamentação idônea do decreto
prisional, conforme se depreende da leitura do acórdão que julgou
o writ impetrado pela defesa perante o Tribunal de origem, o
referido tema não foi apreciado pela instância a quo, o que
configura supressão de instância e impede o conhecimento do
recurso nesta parte. 2. A averiguação do excesso de prazo reclama
a observância da garantia da duração razoável do processo
prevista no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal. Tal
verificação, contudo, não se realiza de forma puramente
matemática. Reclama, ao contrário, um juízo de razoabilidade, no
qual devem ser sopesados não só o tempo da prisão provisória mas
também as peculiaridades da causa, sua complexidade, bem como
quaisquer fatores que possam influir na tramitação da ação penal.
3. No caso em exame, não obstante o tempo em que o recorrente se
encontra encarcerado, não se evidencia a presença do sustentado
excesso de prazo porquanto o feito demanda a expedição de cartas
precatórias, não ficou paralisado por longos períodos, tendo o
Magistrado se esforçado para o cumprimento da diligência
requerida pela defesa de realização de avaliação psicológica na
vítima. Assim, a ação penal tem sido conduzida sem nenhuma
irregularidade, não se encerrando a instrução em razão da
insistência da defesa em ouvir a vítima e realizar avaliação
psicológica, o que atrai a incidência do enunciado da Súmula n. 64
do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual: "Não constitui
constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado
pela defesa." 4. Recurso parcialmente conhecido e, nessa extensão,
desprovido. Prejudicado o pedido de reconsideração. (RHC n.
143.333/SP, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta
Turma, julgado em 5/10/2021, DJe de 8/10/2021.)

Por fim, quanto à alegação de que a prisão não se encontra idoneamente


fundamentada, registro, de plano, que a prisão preventiva é medida excepcional, de natureza
cautelar, que autoriza o Estado a restringir a liberdade do cidadão antes de eventual

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condenação com trânsito em julgado, desde que observadas as balizas legais e demonstrada
sua absoluta necessidade.

Assim, a privação antecipada da liberdade do acusado de crime, embora


possível, deve estar embasada em decisão judicial fundamentada, que demonstre a existência
de prova da materialidade do crime, a presença de indícios suficientes da autoria e o perigo
gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Exige-se, ainda, conforme jurisprudência dominante do Superior Tribunal de


Justiça e do Supremo Tribunal Federal, atualmente normatizada pela Lei n. 13.964/2019, que
a decisão esteja pautada em motivação concreta de fatos novos ou contemporâneos, e que
seja demonstrado o lastro probatório que se ajuste às hipóteses excepcionais da norma em
abstrato e revelem a imprescindibilidade da medida, vedadas considerações genéricas e vazias
sobre a gravidade do crime.

No caso dos autos, a Corte local assentou estar devidamente motivada a


segregação cautelar, para garantia da ordem pública, "já que os fatos narrados se revelam
especialmente graves, uma vez que na operação policial foi apreendido 609 gramas de
maconha, em localidade dominada pela facção criminosa Terceiro Comando Puro, sendo
notório as terríveis consequências a que estão submetidas as comunidades subjugadas por este
tipo de organização criminosa" (e-STJ fl. 42).

Ficou consignado, ademais, que (e-STJ fl. 42):

Os delitos em tese praticados e a dinâmica em que se deram os fatos


são graves, trazendo grande temor à sociedade, devendo o Poder
Judiciário, nesta fase, atuar com as medidas cautelares necessárias
ao desenvolvimento regular do processo.
Ademais, a prisão se justifica para se evitar a reiteração criminosa,
tendo em vista que o paciente Deonildo registra dezesseis anotações
na folha de antecedentes criminais, inclusive já tendo sido
condenado a dezessete anos de prisão pelo crime de sequestro, além
de estar respondendo por três imputações de associação para o
tráfico de drogas.
Neste viés, há de ser mantida a prisão para a garantia da ordem
pública, considerando a gravidade em concreto do crime, em tese,
cometido pelo paciente, e para se evitar a reiteração criminosa.

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Como visto, as instâncias ordinárias se basearam sim em elementos


concretos que demonstram a necessidade da custódia, sobretudo para garantir a ordem
pública. Com efeito, as decisões ordinárias indicam a gravidade concreta da conduta
imputada, uma vez que o paciente foi preso em flagrante após arremessar pela janela do carro
um tablete de maconha, pesando 609 gramas. Ademais, o paciente possui inúmeros
anotações, inclusive por associação para o tráfico, já tendo sofrido condenação pelo crime de
sequestro.

Contata-se, portanto, uma periculosidade acentuada, com fundamento em


elementos concretos, aptos a ensejar a atuação do Estado cerceando sua liberdade para
garantia da ordem pública. De fato, a existência de condenação definitiva enseja igualmente a
decretação da prisão cautelar, como forma de conter a reiteração, resguardando, assim, o
princípio da prevenção geral e o resultado útil do processo.

Com efeito, o entendimento da Suprema Corte é no sentido de que "a


periculosidade do agente pode ser aferida por intermédio de diversos elementos concretos, tal
como o registro de inquéritos policiais e ações penais em andamento que, embora não possam
ser fonte desfavorável da constatação de maus antecedentes, podem servir de respaldo da
necessidade da imposição de custódia preventiva” (HC n. 126.501/MT, Relator Ministro
MARCO AURÉLIO, Relator p/ Acórdão Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado
em 14/6/2016, DJe 4/10/2016).

Do mesmo modo, "conforme pacífica jurisprudência desta Corte, a


preservação da ordem pública justifica a imposição da prisão preventiva quando o agente
ostentar maus antecedentes, reincidência, atos infracionais pretéritos, inquéritos ou mesmo
ações penais em curso, porquanto tais circunstâncias denotam sua contumácia delitiva e, por
via de consequência, sua periculosidade" (RHC n. 107.238/GO, Relator Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, Sexta Turma, julgado em 26/2/2019, DJe 12/3/2019).

Portanto, reitero que se mostra legítima, no caso, a manutenção do decreto

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de prisão preventiva, porquanto demonstrado, com base em dados empíricos, o efetivo risco à
ordem pública gerado pela permanência da liberdade. Nessa linha de intelecção, não há se
falar em constrangimento ilegal.

Assim, em que pese o esforço argumentativo da combativa defesa, não


foram apresentados argumentos aptos a reverter as conclusões trazidas na decisão agravada,
motivo pelo qual esta se mantém por seus próprios e jurídicos fundamentos.

Pelo exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2022/0294177-0 PROCESSO ELETRÔNICO HC 771.539 / RJ
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00009716920228190014 00374206820228190000 00506793320228190000 134006212022


374206820228190000 506793320228190000 9716920228190014

EM MESA JULGADO: 18/10/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROBERTO LUIS OPPERMANN THOMÉ
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : JOAO PAULO TODDE NOGUEIRA E OUTROS
ADVOGADOS : CARLOS HENRIQUE NÓRA SOTOMAYOR TEIXEIRA - DF014292
JOAO PAULO TODDE NOGUEIRA - DF028502
ERICO RODOLFO ABREU DE OLIVEIRA - DF024405
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : DEONILDO GOMES DA SILVA (PRESO)
CORRÉU : RONALD DE OLIVEIRA ROSA
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico Ilícito e
Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : DEONILDO GOMES DA SILVA (PRESO)
ADVOGADOS : CARLOS HENRIQUE NÓRA SOTOMAYOR TEIXEIRA - DF014292
JOAO PAULO TODDE NOGUEIRA E OUTROS - DF028502
ERICO RODOLFO ABREU DE OLIVEIRA - DF024405
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTARAM ORALMENTE: DR. CARLOS HENRIQUE NÓRA SOTOMAYOR TEIXEIRA
(P/AGRVT) E MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

CERTIDÃO

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Superior Tribunal de Justiça
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Jesuíno Rissato (Desembargador
Convocado do TJDFT) e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 2229011 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/10/2022 Página 13 de 4

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