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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.847.

296 - PR (2021/0049381-6)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : JOSE ROBERTO DE CARLI
ADVOGADOS : SAMUEL CAMARGO FALAVINHA - PR065874
VICTOR GABRIELL FROSSARD VALBÃO CAMARGO DE
LIMA - PR094402
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA
PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRABANDO. ART.
334-A, § 1º, INCISO IV, DO CP. CIGARROS.
MATERIALIDADE COMPROVADA. QUEBRA DA CADEIA DE
CUSTÓDIA DA PROVA NÃO DEMONSTRADA. NULIDADE.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que o
instituto da quebra da cadeia de custódia diz respeito à idoneidade
do caminho que deve ser percorrido pela prova até sua análise
pelo magistrado, sendo certo que qualquer interferência durante o
trâmite processual pode resultar na sua imprestabilidade. Tem
como objetivo garantir a todos os acusados o devido processo
legal e os recursos a ele inerentes, como a ampla defesa, o
contraditório e principalmente o direito à prova lícita (AgRg no
HC 615.321/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma,
julgado em 03/11/2020, DJe 12/11/2020).
2. In casu, embora tenha se reconhecido a divergência da quantidade
de cigarros apreendidos constantes no auto de infração confeccionado
pela Receita Federal (1.050 maços) e no auto de apreensão e e
exibição da polícia civil (10.050 maços), não se pode falar na quebra
da cadeia de custódia, uma vez que há provas suficientes nos autos
para a condenação, tendo em vista que ficou comprovado que o
acusado manteve em depósito pelo menos 1.050 maços de cigarros
estrangeiros sem a devida documentação da regular internalização em
território nacional. Assim, tal situação não induz à imprestabilidade da
prova, tendo em vista que ficou comprovado que os 1.050 maços
pertencem mesmo ao acusado, o que configura o delito.
3. Ademais, importante destacar que a jurisprudência desta Corte
Superior se firmou no sentido de que, no campo da nulidade no
processo penal, vigora o princípio pas de nulité sans grief, previsto
no art. 563, do CPP, segundo o qual, o reconhecimento de nulidade
exige a comprovação de efetivo prejuízo. Desse modo, a
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contradição do número de cigarros apreendidos não
proporcionou prejuízo para a demonstração da materialidade do
crime imputado ao acusado, sendo indubitável que o réu manteve em
depósito pelo menos 1.050 maços de cigarros estrangeiros sem a
devida documentação da regular internalização em território nacional.
Assim, a defesa não logrou demonstrar prejuízo em razão do alegado
vício, visto que a condenação se sustenta nos 1050 maços
apreendidos.
4. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik
e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.

Brasília (DF), 22 de junho de 2021(Data do Julgamento)

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

Documento: 2073099 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/06/2021 Página 2 de 5
AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.847.296 - PR (2021/0049381-6)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : JOSE ROBERTO DE CARLI
ADVOGADOS : SAMUEL CAMARGO FALAVINHA - PR065874
VICTOR GABRIELL FROSSARD VALBÃO CAMARGO DE
LIMA - PR094402
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):

Trata-se de agravo regimental interposto por JOSÉ ROBERTO DE CARLI


(e-STJ fls. 775/792) contra decisão monocrática de e-STJ fls. 769/772, que conheceu do
agravo para negar provimento ao seu recurso especial.

A parte agravante alega que ao ocorrer a quebra da cadeia de custódia


da prova emergiu dúvida em relação à materialidade, o que de imediato, trouxe prejuízo
ao AGRAVANTE, pois se há dúvida em relação à materialidade deveria ser reconhecida
a nulidade da prova, já que o Estado não conseguiu demonstrar de maneira coesa e
clara a real quantidade de cigarro apreendido (e-STJ fls.. 782).

Sustenta o reconhecimento da quebra de cadeia de custódia e a


imprestabilidade da prova de materialidade no presente caso, tendo como consequência a
absolvição do acusado.

Requer, assim, a reconsideração da decisão agravada.

É o relatório.

Documento: 2073099 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/06/2021 Página 3 de 5
AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.847.296 - PR (2021/0049381-6)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : JOSE ROBERTO DE CARLI
ADVOGADOS : SAMUEL CAMARGO FALAVINHA - PR065874
VICTOR GABRIELL FROSSARD VALBÃO CAMARGO DE
LIMA - PR094402
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA
PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRABANDO. ART.
334-A, § 1º, INCISO IV, DO CP. CIGARROS.
MATERIALIDADE COMPROVADA. QUEBRA DA CADEIA DE
CUSTÓDIA DA PROVA NÃO DEMONSTRADA. NULIDADE.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que o
instituto da quebra da cadeia de custódia diz respeito à idoneidade
do caminho que deve ser percorrido pela prova até sua análise
pelo magistrado, sendo certo que qualquer interferência durante o
trâmite processual pode resultar na sua imprestabilidade. Tem
como objetivo garantir a todos os acusados o devido processo
legal e os recursos a ele inerentes, como a ampla defesa, o
contraditório e principalmente o direito à prova lícita (AgRg no
HC 615.321/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma,
julgado em 03/11/2020, DJe 12/11/2020).
2. In casu, embora tenha se reconhecido a divergência da quantidade
de cigarros apreendidos constantes no auto de infração confeccionado
pela Receita Federal (1.050 maços) e no auto de apreensão e e
exibição da polícia civil (10.050 maços), não se pode falar na quebra
da cadeia de custódia, uma vez que há provas suficientes nos autos
para a condenação, tendo em vista que ficou comprovado que o
acusado manteve em depósito pelo menos 1.050 maços de cigarros
estrangeiros sem a devida documentação da regular internalização em
território nacional. Assim, tal situação não induz à imprestabilidade da
prova, tendo em vista que ficou comprovado que os 1.050 maços
pertencem mesmo ao acusado, o que configura o delito.
3. Ademais, importante destacar que a jurisprudência desta Corte
Superior se firmou no sentido de que, no campo da nulidade no
processo penal, vigora o princípio pas de nulité sans grief, previsto
no art. 563, do CPP, segundo o qual, o reconhecimento de nulidade
exige a comprovação de efetivo prejuízo. Desse modo, a
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contradição do número de cigarros apreendidos não
proporcionou prejuízo para a demonstração da materialidade do
crime imputado ao acusado, sendo indubitável que o réu manteve em
depósito pelo menos 1.050 maços de cigarros estrangeiros sem a
devida documentação da regular internalização em território nacional.
Assim, a defesa não logrou demonstrar prejuízo em razão do alegado
vício, visto que a condenação se sustenta nos 1050 maços
apreendidos.
4. Agravo regimental não provido.

Documento: 2073099 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/06/2021 Página 5 de 5
VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):

O agravo regimental não merece acolhida.

Com efeito, dessume-se das razões recursais que a parte agravante não
trouxe elementos suficientes para infirmar a decisão agravada que, de fato, apresentou a
solução que melhor espelha a orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça sobre
a matéria.

Portanto, nenhuma censura merece o decisório ora recorrido, que deve ser
mantido pelos seus próprios e jurídicos fundamentos.

Segundo a jurisprudência desta Corte, o instituto da quebra da cadeia de


custódia diz respeito à idoneidade do caminho que deve ser percorrido pela prova até
sua análise pelo magistrado, sendo certo que qualquer interferência durante o trâmite
processual pode resultar na sua imprestabilidade. Tem como objetivo garantir a todos os
acusados o devido processo legal e os recursos a ele inerentes, como a ampla defesa, o
contraditório e principalmente o direito à prova lícita (AgRg no HC 615.321/PR, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma, julgado em 03/11/2020, DJe 12/11/2020).

Nessa linha, o seguinte julgado:

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, I,


CP). NULIDADES. ALEGAÇÃO DE AUTORIA RECONHECIDA
COM BASE EM INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ILEGAL.
NULIDADE AFASTADA. INDICAÇÃO DE OUTROS INDÍCIOS DE
AUTORIA E PRECLUSÃO DA MATÉRIA. ILEGALIDADE DO
LAUDO PERICIAL. EXAME REALIZADO EM CORPO QUE NÃO
SERIA DA VÍTIMA. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA.
DIVERGÊNCIAS NA COR DA PELE E TEMPO DE MORTE.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
ORDEM DENEGADA.
[...].
2. Com relação à ilegalidade referente à cadeia de custódia do
material genético enviado para exame de DNA, tem-se que, apesar
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de o ofício ter sido elaborado de maneira concisa, sem indicação de
número do pacote, não restou comprovada a quebra da cadeia de
custódia, uma vez que a simples concisão do ofício e a ausência de
indicação do número do pacote não são suficientes para
reconhecer a ilegalidade.
[...]
6. Habeas corpus denegado. (HC 574.103/MG, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/08/2020, DJe
14/08/2020)

No que tange à quebra da cadeia de custódia, a Corte de origem consignou


(e-STJ fls. 276)

No que concerne à alegação de quebra da cadeia de custódia da


prova, importa destacar que há provas suficientes nos autos para
afirmar que o acusado manteve em depósito, pelo menos 1.049
maços de cigarros,acrescidos de mais 1 maço acautelado para
fins de Instrução Criminal,perfazendo a quantia de 1.050 maços
de cigarros.
Ademais, o Juízo a quo (e. 68) decidiu, de maneira acertada,
que a divergência da quantidade de cigarros apreendidos é
irrelevante para a ação penal, uma vez que não há dúvida de que o
réu, de fato, tenha mantido em depósito pelo menos 1.050 maços de
cigarros.
Portanto, não há que se falar que houve quebra na cadeia de
custódia da prova, pois a contradição do número de cigarros
apreendidos não proporciona prejuízo para a demonstração
da materialidade do crime imputado ao acusado, sendo
indubitável que o réu manteve em depósito pelo menos 1.050 maços
de cigarros estrangeiros sem a devida documentação da regular
internalização em território nacional.

In casu, embora tenha se reconhecido a divergência da quantidade de


cigarros apreendidos constantes no auto de infração confeccionado pela Receita Federal
(1.050 maços) e no auto de apreensão e e exibição da polícia civil (10.050 maços), não se
pode falar na quebra da cadeia de custódia, uma vez que há provas suficientes nos autos para
a condenação, tendo em vista que ficou comprovado que o acusado manteve em depósito
pelo menos 1.050 maços de cigarros estrangeiros sem a devida documentação da regular
internalização em território nacional. Assim, tal situação não induz à imprestabilidade da prova,

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tendo em vista que ficou comprovado que os 1.050 maços pertencem mesmo ao acusado, o
que configura o delito.

Ademais, importante destacar que a jurisprudência desta Corte Superior se


firmou no sentido de que, no campo da nulidade no processo penal, vigora o princípio pas de
nulité sans grief, previsto no art. 563, do CPP, segundo o qual, o reconhecimento de
nulidade exige a comprovação de efetivo prejuízo.

Acerca dessa temática, foi editada pelo Supremo Tribunal Federal a Súmula
523, que assim dispõe: "No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade
absoluta,mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu".

Nessa linha, a necessidade de demonstração do prejuízo sofrido é


reconhecida pela jurisprudência atual como imprescindível, tanto para a nulidade relativa
quanto para a absoluta.

Desse modo, a contradição do número de cigarros apreendidos não


proporcionou prejuízo para a demonstração da materialidade do crime imputado ao
acusado, sendo indubitável que o réu manteve em depósito pelo menos 1.050 maços de
cigarros estrangeiros sem a devida documentação da regular internalização em território
nacional. Assim, a defesa não logrou demonstrar prejuízo em razão do alegado vício, visto que
a condenação se sustenta nos 1050 maços apreendidos.

Sendo assim, o inconformismo não merece prosperar.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Relator

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2021/0049381-6 AREsp 1.847.296 /
PR
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 50189166720184047000 50255184520164047000

EM MESA JULGADO: 22/06/2021

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROBERTO DOS SANTOS FERREIRA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : JOSE ROBERTO DE CARLI
ADVOGADOS : SAMUEL CAMARGO FALAVINHA - PR065874
VICTOR GABRIELL FROSSARD VALBÃO CAMARGO DE LIMA - PR094402
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Particular Contra a Administração em Geral -
Contrabando ou descaminho

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : JOSE ROBERTO DE CARLI
ADVOGADOS : SAMUEL CAMARGO FALAVINHA - PR065874
VICTOR GABRIELL FROSSARD VALBÃO CAMARGO DE LIMA - PR094402
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik e João Otávio de Noronha votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.

Documento: 2073099 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/06/2021 Página 9 de 5

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