1852 Job Traduzido em Verso Por José Eloy Ottoni
1852 Job Traduzido em Verso Por José Eloy Ottoni
1852 Job Traduzido em Verso Por José Eloy Ottoni
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(Montaigne, Des livres)
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TRADUZIDO EM VERSO
DEDICADO
*>E PllECEDIDO
- RIO DE JANEIRO
TYPOGRAPHIA BRASILIENSE DE F. MANOEL FERREIRA
RUA do Subia n. 111
1852
AO EX..o E REV."° ÜNHOR
O. D . C.
NO BRASIL.
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2.»
III.
A lyra, que á flor dos annos Heróes, fortuna, grandeza
Consagrei, cantando objectos Que o tempo leva e consome,
Tão futeis, como indiscretos, Graças que morrem sem nome,
Hoje é só prestigio e dainnos. Attractivos da belleza,
Encontra só desenganos Tudo é pó, tudo é fraqueza,
Quem busca em trevas amor: E' tudo miséria e pranto;
Mas eu presinto o calor Ou desdobre a noite o manto,
De nova luz que me inspira; Ou desponte a luz do dia,
Agora dá-me outra lyra ! Desenvolvendo a harmonia,
Unge meus lábios, Senhor! Será o Eterno meu canto.
II. IV.
Manda a luz que aponte a lei, Do que a terra e os céosm'inspirão,
Dà-ine o tom que o pelctro afaga, Os pregoeiros são estes,
Os caracteres apaga, Todos os corpos celestes,
Que eu por delirio gravei. Que em curvas orbitas girão,
Também quantos entoei Que innumeros soes se virão
Hymnosde amor ou vaidade: No centro da immensidade,
Seguindo a luz da verdade, Na extensão da Eternidade,
Que brilha de quando em quando, Se eu abrangesse a harmonia,
Ao pó da terra escapando, A luz meu écho seria,
Voarei á Divindade. Meu instrumento a Verdade.
VIII.
Quem achará mulher forte? A incommodar-lhe a família
Seu valor e preço encerra Debalde o tempo se atreve ;
Mais do que as pérolas finas Não entra em roupa forrada
Da extremidade da terra. Rigor de frio ou de neve.
II. IX.
O marido satisfeito Tapeçaria e brocados
Na esperança se mantém Nos seus moveis se conhecem ;
De que ella, em quanto fôr viva, Em todos os seus vestidos
Lhe tornará sempre o bem. Linho e purpura appaiecem.
III. X.
Trabalhando a lãa e o Unho Abrindo a boca ella espalha
Sem se dar a objectos vãos, O clarão da sapiência ;
Mostra que é sabia e engenhosa O pejo mora em seus lábios,
No trabalho de suas mãos. Na sua lingua a clemência.
IV. XI.
Antes que o dia amanheça Examinando a família,
Se levanta do aposento, Conservou sempre bondade;
Para prover a família O pão do próprio sustento
Do necessário sustento. Nao comeu na ociosidade.
XII.
Considerando as vantagens Amais feliz creatura,
Do campo que ella comprou, Oh! tu bemaventurada !
Co'as próprias mãos sem cessar Teus filhos assim te chamão,
Cavando, a vinha plantou. Por teu marido és louvada!
VI. XIII.
Ama o trafego em que vive, Muitas filhas ajuntàrão
Porqueaosbonsaindustriaaffaga; Rellezas á formusura;
A sua alampeda, ardendo Mas tu, excedendo a todas,
Toda a noite não se apaga. És mais formosa e mais pura.
VII. XIV.
Ella abro as mãos à indigencia, A graça e belleza é um dote
Estende os braços ao pobre: Que murcha assim como a flor;
Soccorrer aos desgraçados Meu filho, louva, e procura
E' prenda d'uma alma nobre. Mulher que teme o Senhor.
HISTÓRICA 17
12. 42.
1S. 13.
18. 18.
20 e 21. 20e21.
22. 22.
Dominus possedit me in inicio Na mente eterna increada
viarum suarum, antequam quid- O Senhor me possuía:
quam faceret ã principio. Antes de haver creatura
Eu já coeterna existia.
26.
30. 30.
32. 32.
EXTRAHIDO DO CAPITULO I.
Que doloroso
Espectaculo, triste e miserando,
Offerece o Justo em lance perigoso!
Apenas se ergue Job, no chão tombando
Cede ao peso d'angustia que o devora;
Os vestidos n'um êxtase rasgando,
Tosqueada a cabeça inclina, e chora....
Mas o céo, que não tarda, açode ao Justo,
Os olhos para o céo volvendo, o adora.
« Do seio maternal se a dôr e o susto
(Clama Job) me arrojou despido e pobre,
Em mágoa e pranto, que eu herdei sem custo;
A' madre terra, que os meus órgãos cobre,
Nu. pretendo baixar. Demdito o nome
Que abate o rico, o poderoso, e nobre t
HISTÓRICA 23
PREFACIO.
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CAPITULO I.
(*) Para escusar a repetição, basta que lidos os dez versos seguin-
tes se conheça, que os filhos de Job forão sete moços, e três me-
ninas.
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Ante Deos serão réos de crime horrendo.
Esta oração jamais se interrompia.
Velavão junto do Immortal Cordeiro,
Os anjos, eis Salan assoma um dia.
D'onde vens? Perguntou-lhe o verdadeiro
Deos, e Senhor. Diz elle: Em gyro a terra
Volteando passeei o mundo inteiro.
— Viste o meo servo Job ? Varão, qu' encerra
Em si temor de Deos? Responde, falia;
Que as sementes do mal de si desterra,
Tão recto, e simples, que ninguém o iguala ?
Torna Satan: Debalde o temor santo
Desprende a força, que o leo servo abala?
Não o abençoas, e difundes tanto
As obras, que elle faz, os bens, a casa,
Que tudo cresce com geral espanto?
Estende um pouco a mão, reprime, atraza
Os bens, que elle possue, verás ao menos
Como em blasfêmias o teo Job se abrasa.
Diz-lhe o Senhor: A um só de teos acenos
Tombe, quanto o meo Job possue, excepto
Do justo o coração, e o olhar serenos,
Partio Satan. Risonho, c circumspecto
Dosfilhoso mais velho á mesa eslava
Unido a seos irmãos em doce affecto.
Mensageiro, que súbito chegava,
—Cessou, eis disse a Job, o amanho á terra,
Que o rude camponez cos bois lavrava.
Nem jumenta, nem toiro orneja, e berra,
Absorve o roubo, o que escapou da espada,
De repente os Sabeos nos fazem guerra.
Tudo a ruina involveo, lornou-se em nada
A Lavoira, e Domésticos ; apenas
Eu, que á morte escapei, fugindo á estrada,
Venho dar-te esta nova. — Oh! dor! E ordenas
Que o leo raio, Senhor, no Céo rebombe....
Que abraze, ou dobre do teo servo as penas?
Mas antes que o terror das trevas tombe....
Inda aquelle fallava, (eis outro grita)
— Que funesta, que lúgubre hecatombe! (')
Nuvem negra rasgou sulphurea fita,
Que ovelhas consumio, tragou pastores.
Foi sentença do Céo, com fogo escripta.
Inda não acabava. Ejs salteadores....
(Grita um criado, que os Caldeos temendo
Previne a morte, previnindo horrores)
Lá vão camelos 1... Lá se escuta horrendo
Tríplice estrondo, que no chão resoa....
Quadrupedantes esquadrões batendo.
Rapina, e morte os corações magoa,
Da espada o fio vai cortando a eito....
Mas que novo desastre o campo atrôa!
Rebrama o noto, que traspassa o peito
Da banda do deserto (eis outro clama)
Que abala os troncos no seo próprio leito.
Prestigio lauto de fraterna chama
Do mais velho na meza recendia,
Quando o prazer do vinho se derrama:
Da casa em torno o furacão bramia
Nos quatro cantos, que abalados tremem,
Fechando as portas, que o terror abria.
CAPITULO II.
Contra Deos, contra Job, de novo altenta
O inimigo da Luz, pseudo-profeta,
Que entre os coros dos Anjos se apresenta.
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(*) Omitte-sc a repetição do que fica dito no Cap. 1.» por causa
dharmonia. É preciso nãb enfastiar, para se poder attrahfr.
Os arcanos do Ceo de longe adorão
Eliphar de Theman, Beldad de Suhas,
Namathetes Sophar vem vêl-o, e chorão...
Leprosa escama sobre as carnes nuas..!
Será elle?—Os amigos exclamarão,
Concentrando no peito as magoas suas (*)
Nenhum balsamo á dor lhe ministravão;
O pó sobre a cabeça ao ar lançando,
Os vestidos, que horror! despedaçavão,
Sem dar palavra tristes soluçando
(Deste mesmo recurso a dor nos priva)
Por terra junto a Job ficão chorando,
Que scena luctuosa, e sensitiva!
Sete dias chorarão, sele noites
Porque vião que a dor era excessiva.
CAPITULO III.
Depois que o echo do desastre soa,
Abrindo a boca Job, desesperado
Seo próprio nascimento amaldiçoa.
Pereça o dia (exclama), em que eu fui nado,
Em negro olvido a noite emfim pereça,
Na qual se diz: Que um homem foi gerado.
Também trevas, e o dia se escureça;
O Senhor do alto Ceo lhe volte o rosto,
CAPITULO IV.
Eliphar de Theman, ouvindo extremos
De magoa, e dissabor, com voz sentida
Responde a Job: Talvez t'incommpdemos
Começando a fallar; se concebida
A voz aos lábios vem, quem pode havel-a,
Ou suster a palavra proferida ?
Deste a muitos rigor, lição, caulella,
As mãos cançadas do infortúnio, erguesle,
Soffrendo o influxo de maligna estrella.
Aquém vacilla, e treme esforço deste,
Ensinando a soffrer, não vacillaste,
Os joelhos em tremor fortaleceste.
Soffrendo o influxo de maligna estrella.
As mãos cançadas do infortúnio, erguesle.
Onde agora a paciência, que ensinaste?
O açoite, que a teos males corresponde,
Ferio-te, e logo tu te perturbaste.
Fortaleza, vigor, justiça aonde?
De teos caminhos, se outro tempo ha sido
Modelo a perfeição, hoje se esconde.
Que innocente jamais tem perecido,
Que te lembres ao menos, eu te rogo?
Se houver um justo em seos planos submergido? (')
Antes aquelles, que ateando o fogo
Da impiedade, sem tino a dor semeião,
A um assopro de Deos definhão logo,
CAPITULO V.
Chama, escuta.... não ha, quem te responda;
Vê pois se algum dos Santos te retrata,
Sem que a mão, por fiel, de ti se esconda.
Esvaece a illusão, como insensata,
A ira ao louco, ao pequenino a inveja,
Pouco a pouco lavrando, esfria, e mata.
O louco eu vi tombar : maldito seja
De profunda raiz o luzimento,
Que, tombando o esplendor, por fim rasteja !
Sem dor, nem salvação, nem livramento
Seos filhos hão-de ser aos pés calcados,
Quando a porta lhes negue acolhimento.
Os bens, puc el|c possue, serão roubados,
Um dia ao louco, as messes, c as devezas
Todos os bens ser-lhe-hão arrebatados.
O faminto co'as mãos cm fúria accesas
Hade as messes comer, c o sequioso
Hade beber-lhe o sangue das riquezas.
Não vem da terra o pranto doloroso,
É tudo effeito, que uma causa encerra ;
Mas o fim quasi sempre é duvidoso.
Batendo o vôo, o pássaro não erra;
A sorte humana foi, que descontente
Vá co' próprio suor cavando a terra.
Por isso ó que eu recorro a Deos somente,
Que elle faz de meos dias a esperança,
Porque é grande, insondavel, providenlc.
Sobre a face da terra as agoas lança,
Co' a chuva os campos rega, exalta o pobre,
A humilde, e a tristeza allivio alcança;
Amargura, a afflicção de benções cobre 5
Destroçando a maldade, as mãos lhe prende;
E a crueza dos impios deslumbrando,
O projecto, e furor das mãos suspende.
Elle faz que as escuras tropeçando,
Andem, como de noite, ao meio dia,
Sem luz, nem tino, as trevas apalpando.
Mas aquelle, que pobre se avalia,
Sem soecorro, ha de ser livre da espada,
Que a lingua, por mordaz da boca envia;
E sentindo a esperança recobrada,
O pobre ha de escapar da mão violenta;
Em quanto o máo reprime a voz cançada.
Não desprezes a mão, que te alimenta,
Feliz! quem ama a correcção, que é pura !
A palavra de Deos lambem sustenta.
O castigo, que fere, as vezes cura,
A mão que o golpe dá, também dá vida.
Com seis tribulações teo mal se apura,
Quando a sétima vem, sara a ferida.
Longe agora o desastre, a peste, a fome,
Longe o golpe da espada, ao colo erguida,
Nem o açoite da guerra te consome,
Nem a lingua íeroz, que aguça a inveja,
No mór perigo te deslumbra o nome.
Verás risonho a fera, que esbraveja,
Penúria, estrago, horror verás de perto,
Como a nuvem, depois que o Ceo troveja,
Até com as pedras tu farás concerto ;
Em paz com as feras, sem temor contente
Um dia hão de viver em campo aberto.
Quando toda a família for presente,
Has de achal-a, máo grado os dissabores,
Virtuosa, pacifica, innocente.
E a prole de teos cândidos amores,
Sem culpa, se fará tão numerosa,
Como estrellas no Ceo, no campo flores.
Teos netos tecerão festões de rosa,
Que entre os cedros do Libano frondoso
A entrada enfeitâo de Siao formosa. {')
No sepulchro entrarás, quando abundoso
Teos bens te igualem a um montão de trigo.
Toma tudo em sentido rigoroso;
O que acabas de ouvir, guarda-o com tigo,
Depois revolve-o bem no entendimento,
Olha, que ó tudo assim como te digo.
CAPITULO VI.
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CAPITULO VII.
CAPITULO VIII.
CAPITULO IX.
CAPITULO X.
Que tédio d'entro n'alma eu tenho á vida !
.Soltarei contra mim vozes perennes
Na amargura de uma alma enternecida.
Direi a Deos: Senhor, não me condemnes ;
Sou réo, Senhor 5 mas antes de julgar-me,
Primeiro mostra, porque assim o ordenes ?
E parece-te bem calumniar-jné,
Dando aos ímpios favor ? Não foi desenho,
Obra de tuas mãos ? Queres pizar-me ?
Tens os olhos de carne, como eu tenho ?
Teos dias são os dias dos humanos?
Tu proves o perigos eu me disponho;
Eu sou.... eacabo; são assim teos annos?
Que assim julgues da minha iniqüidade!
Transgredi teos Decretos Soberanos,
Como réo de perjúrio, ou d'impiedade ?
Tu conheces as mãos, que me prenderão,
Que outra mão pode haver, que me degrade?
As tuas mãos, Senhor, me compozerãó,
E meo ser, obra prima, argamassarão,
Desfazes, o que as tuas mãosfizerão?
Ah ! lembra-te, Senhor, que me formarão
De pó tuas mãos -, ao pó convenha
Que se torne o que as mãos organisarão.
Não fui eu como leite, que se ordonha?
Ou queijo, que se coalha ? Que outro pelle,
Ou carne tu vestiste, que eu não tenha ? (*.}
CAPITULO XI.
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CAPITULO XII.
CAPITULO XIII.
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CAPITULO XIV.
CAPITULO XV.
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CAPITULO XVI.
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CAPITULO XVII.
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CAPITULO XVIII.
CAPITULO XIX.
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CAPITULO XX.
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CAPITULO XXI.
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CAPITULO XXII.
CAPITULO XXIII.
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CAPITULO XXIV.
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CAPITULO XXV.
CAPITULO XXVI.
CAPITULO XXVII.
CAPITULO XXVIII.
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CAPITULO XXIX.
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CAPITULO XXX.
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CAPITULO XXXI.
CAPITULO XXXII.
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CAPITULO XXXIV.
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CAPITULO XXXV.
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CAPITULO XXXVI.
CAPITULO XXXVII.
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CAPITULO XXXIX.
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CAPITULO XL.
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CAPITULO XLI.
CAPITULO XLII.
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