A Crítica Literária Na Internet: Literatura Contemporânea Brasileira E Valores Literários Nas Críticas de Booktubers
A Crítica Literária Na Internet: Literatura Contemporânea Brasileira E Valores Literários Nas Críticas de Booktubers
A Crítica Literária Na Internet: Literatura Contemporânea Brasileira E Valores Literários Nas Críticas de Booktubers
Resumo: Este artigo busca traçar uma reflexão geral sobre o fenômeno dos booktubers, no qual
donos de canais no YouTube fazem vídeos comentando livros que leram. Propomos, nesta
reflexão, abordar os seguintes aspectos: qual a origem dos booktubers e sua possível função
social? É possível considerar um vídeo de um booktuber crítica literária? Como se estrutura uma
crítica booktuber e através de quais valores esta crítica se fundamenta?
Palavras-chave: Crítica literária; Booktuber; Literatura contemporânea
Nos últimos anos, é possível acompanhar uma série de discussões que relacionam
o campo dos estudos literários e linguísticos às novas tecnologias, em especial a
internet. Redes sociais, inteligência artificial, softwares de criação literária, realidade
virtual, narrativas interativas, estéticas ciborgues, o pós-humano, gameficação das salas
de aula, novas modalidades digitais de interação comunicativa e produção textual... Há
quase um sabor de ficção científica em muitas das discussões e pesquisas levadas a cabo
no múltiplo e fascinante espaço de pesquisa e reflexão teórica das Letras.
Neste sentido, discutir crítica literária e o impacto da internet na sua produção e
circulação tem se tornado mais frequente com o passar dos últimos anos. As formas de
entrada para esta discussão são múltiplas. É o caso, por exemplo, de avaliar o impacto
do uso dos blogues como suporte para a prática crítica, ou, por outro lado, ponderar se
as principais polêmicas literárias não são mais realizadas nem no espaço acadêmico,
nem no espaço jornalístico, e sim nas redes sociais2.
Uma das mais importantes discussões sobre crítica e internet se dá a partir do
YouTube, plataforma digital de compartilhamento de vídeos. O impacto do Youtube se
faz sentir em diferentes cadeias produtivas da cultura, em especial naqueles segmentos
que possuem como público-alvo adolescentes e jovens. Um dos desdobramentos mais
importantes do fenômeno dos Youtubers – e aquele que mais nos interessa aqui – é o
1
Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana
Mackenzie (cristhianoaguiar@gmail.com).
2
Podemos citar outros pontos de convergência entre a prática crítica – entendida aqui em um sentido
amplo, o da reflexão, em diferentes graus de profundidade, sobre a leitura de um texto – e a internet, tais
como: redes sociais de leitores (Goodreads, Skoob); comentários de leitores relatando sua experiência de
leitura em portais de vendas de livros tais como a Amazon; clubes de assinaturas de livros que usam a
internet como ponto de discussão; páginas de redes sociais e fóruns de bate-papos dedicados à discussão
sobre livros; programas online de rádio dedicados a livros, etc.
181
surgimento dos booktubers, ou seja, donos de canais no YouTube que gravam vídeos
cujo conteúdo diz respeito ao mundo da leitura e do livro.
Neste artigo, quero levantar as seguintes questões, cujas tentativas de resposta não
possuem a pretensão de ser exaustivas: a) É possível falar em “crítica literária” no que
diz respeito aos vídeos produzidos pelos booktubers?; b) Quais elementos precisam ser
levados em consideração no momento em que um pesquisador se dispõe a analisar um
vídeo de um booktuber?; c) Quais valores e estratégias de construção de um texto crítico
podemos identificar nos booktubers brasileiros?
Booktubers: crítica literária?
A produção de conteúdo no YouTube faz parte daquilo que Jeffman (2015, p.99),
pensando a partir de diferentes estudos da Comunicação e dos Estudos Culturais,
classifica como “cultura participativa” ou “cultura de convergência”, ou seja, formas de
produção de conteúdo mais interativas e participativas do que as tradicionais mídias de
massa. Ainda segundo Jeffman (2015, p.102), os booktubers são uma categoria mais
específica vinculada à categoria mais ampla dos vlogs3. Em suas origens, os vlogs
materializaram em vídeo uma das principais vocações dos blogs: a produção de textos
nos quais o autor ou a autora compartilha com seus leitores fatos da sua vida pessoal e
da sua intimidade. Há registros de vlogs desde o começo dos anos 2000, contudo a
produção e consumo deste tipo de conteúdo, tanto no Brasil, quanto no mundo, se
intensificou nos últimos quinze anos (VALIN, 2010).
O surgimento dos booktubers começou a chamar atenção há aproximadamente
doze anos (CHAIÇA, 2015). No caso do Brasil, um dos primeiros, e até hoje mais bem-
sucedidos canais de booktubers, é o Tiny Little Things, de Tatiana Feltrin, criado em
2007 (TRINDADE, 2015). As reportagens sobre o tema são unânimes em enfatizar o
impacto que os booktubers tem causado no mercado editorial global e brasileiro. É o
caso da reportagem “Como os booktubers estão mudando o mercado literário”,
publicada na revista Carta Capital:
3
O termo “vlog” parece ser o mais utilizado, no entanto há também as palavras “videoblog” e
“videolog”, que podem ser consideradas sinônimos.
182
por exemplo, criou em março deste ano o seu próprio portal para
blogueiros, onde eles podem ter acesso a cópias. A empresa também
apresenta seus lançamentos especialmente para os booktubers de
maior destaque. Os booktubers podem definitivamente impulsionar
vendas, pelo menos nos gêneros mais populares entre adolescentes e
jovens adultos, como fantasia e as chamadas light novels – romances
com ilustração, em geral no estilo anime. (PESCHEL, 2015)
Tanta influência junto ao mercado e aos leitores não significa, porém, que os
booktubers vão substituir as vertentes mais tradicionais da crítica literária, ou que
angariaram o mesmo prestígio dessa crítica. Segundo Vizibeli (2016, p.7), no artigo
“Contrastes entre a crítica literária especializada e a amadora: os booktubers e os
discursos sobre o livro e a leitura”, para o mercado livreiro, a crítica literária de um
booktuber é percebida nos campos semânticos da “popularidade”; “comunicabilidade”;
“superficialidade” e “leitura cotidiana”, enquanto à crítica tradicional são atribuídos os
campos semânticos do “prestígio”, da “institucionalização” e da “profissionalização”.
O conceito de crítica literária deste artigo se beneficia da perspectiva ampla sobre
o tema debatida no livro Iniciação aos Estudos Literários, de Roberto Acízelo de Souza
(2006). Empreendendo uma breve e precisa contextualização historiográfica, Acízelo
traça um panorama do desenvolvimento da própria ideia de crítica. Logo, assim como
outros conceitos polêmicos e problemáticos, tais como “literatura”, “romance”, ou
“estética”, o olhar atento aos usos do termo ao longo dos séculos nos ajuda a perceber
que, em diferentes épocas, “crítica literária” significou coisas diferentes, bem como
assumiu diferentes funções sociais.
183
Para ficarmos apenas no século XIX, por exemplo, vemos o quanto, segundo
Acízelo (2006, p.114), uma das principais vertentes da crítica literária consistia na
corrente impressionista, definida como um “comentário mais ou menos ligeiro acerca
dos lançamentos literários, tendo por veículos jornais e revistas”. Penso que vivemos,
em diferentes contextos, uma revalorização se não tanto de uma crítica
“impressionista”, ao menos de uma visão mais generosa para o quanto toda prática
crítica, mesmo se fiel às mais rigorosas balizas e metodologias estabelecidas por uma
determinada teoria, é muito fundamentada na perspectiva pessoal de quem a escreve. E
o desdobramento mais visível desta revalorização – ou, quem sabe, a demonstração do
quanto a crítica-comentário é não só possível, mas socialmente necessária – é o
fenômeno dos booktubers. Se há herdeiras e herdeiros do impressionismo crítico, esses
não se encontram tanto nos jornais e revistas. Eles se encontram diante das câmeras dos
celulares, computadores e notebooks. Portanto, o restante da minha argumentação e
análise tem como fundamento considerar os vídeos de booktubers como uma
modalidade de crítica literária, uma das formas contemporâneas de atualização da crítica
impressionista dos rodapés dos séculos XIX e XX.
Booktubers: valores e estratégias de construção de seus textos críticos
O corpus foi escolhido segundo dois critérios: a) trabalhar com booktubers
brasileiros e b) analisar textos críticos4 produzidos pelos youtubers sobre literatura
brasileira contemporânea. O item b) se justifica pela curiosidade de saber o quanto, no
universo de discussões dos booktubers, a literatura contemporânea nacional seria uma
pauta frequente, ou não, de debate crítico. Se comparadas com as atenções dadas pelos
booktubers a outras vertentes de narrativa ficcional, tais como as citadas nos fragmentos
de reportagens do item anterior, assim como a atenção dada aos clássicos literários,
tanto nacionais, quanto estrangeiros, uma pesquisa breve pode indicar que a menor
quantidade de vídeos sobre literatura contemporânea nacional indica menos interesse
sobre o tema.
Isso não deixa de ser coerente com os dados divulgados, nos últimos anos, sobre
os hábitos de leitura do brasileiro e a respeito da baixa vendagem de boa parte da nossa
literatura contemporânea, em especial se ela não se encaixa totalmente nos nichos de
4
Nosso conceito de texto, neste artigo, diz respeito a qualquer enunciado verbal construtor de sentido,
enunciado esse que pode ser materializado por escrito ou oralmente (MARCUSCHI, 2008).
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leitura ficcional já citados, tais como: Autoajuda, Fantasia, “Romance” (narrativas que
atualizam os idílios amorosos das mais idealizadas vertentes do romantismo), Horror,
Ficção Científica, Infanto-juvenil, etc. Na sua última edição5, por exemplo, a pesquisa
“Retratos da leitura no Brasil”, do Instituto Pró-Livro, nos mostra que, entre os livros e
autores mais lidos pelo brasileiro como um todo, e em especial no segmento dos
professores, há referência a apenas dois escritores brasileiros cujas carreiras se iniciaram
nos últimos 40 anos: Paulo Coelho e a youtuber Kéfera Buchmann (RETRATOS DA
LEITURA NO BRASIL, p.95-99).
Após uma pesquisa inicial, cheguei aos seguintes booktubers: Tatiana Feltrin
(Canal Tiny Little Things); Gisele Eberspächer (Canal Vamos falar sobre livros?);
Tamy (não há indicação de sobrenome; Canal Litera Tamy); Francine Ramos (Canal
Livro & Café); Natasha (não há indicação de sobrenome; Canal Redemunhando);
Humberto Conzo Junior (Canal Primeira Prateleira); Leon Idris (Canal Prelúdios);
Roberta Carmona (Canal Literatorios).
Esse conjunto de canais será desdobrado em reflexões futuras. Para os propósitos
deste artigo, analisarei com mais detalhes um vídeo: “Ciranda de pedra (Lygia Fagundes
Telles)”, de Tatiana Feltrin (Canal Tiny Little Things). A primeira pergunta a ser feita é
a seguinte: como ler estes vídeos? O primeiro passo é o que chamarei da atenção à
constituição da Cena. Herdeiro das escritas de si dos blogs e dos vlogs, todo booktuber
cria uma personagem a partir de si mesmo. Essa personagem estabelece um conjunto de
significações antes mesmo que qualquer palavra seja dita. É, portanto, a Cena, o
primeiro momento de significação da crítica literária booktuber; na Cena, estabelece-se
um contrato com os visitantes de cada canal.
A Cena da crítica booktuber possui dois elementos fundamentais: Espaço e Corpo.
Comecemos pelo último: sim, o booktuber nos olha. A presença do corpo do booktuber,
corpo posicionado de modo a sugerir o estabelecimento de uma conversa com seu
interlocutor, é um dos principais índices de personalização dessas práticas críticas. Mas,
podemos nos questionar, quando um convidado, um jornalista, um intelectual, é
chamado para falar de um livro em um tradicional programa de TV, ali não está também
o corpo? Sim, mas não posicionado da maneira como os booktubers o fazem. Em boa
5
Os dados completos da pesquisa podem ser acessados neste link:
http://prolivro.org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf
185
parte dos vídeos, o close da câmera captura e enfatiza a região do rosto e dos ombros do
crítico. Acredito que isso seja bem ilustrado pelas três imagens abaixo, geradas,
respectivamente, a partir dos canais Tiny Little Things, Prelúdios, Vamos falar sobre
livros?:
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nesse tipo de produção – e, em especial, pela linguagem do texto produzido oralmente.
“Você” e “vocês” são formas de tratamento usadas o tempo todo pela crítica booktuber,
contribuindo, mais uma vez, na criação do intimismo e do “estar à vontade” na cena.
Esses personagens não precisam reafirmar uma legitimação intelectual, daí o pouco uso
de jargões teóricos, ou de qualquer performance a criar uma possível aura de autoridade
intelectual. Pelo contrário, podemos sentir um tom a ser construído, em cada vídeo, de
“estamos lendo, estamos aprendendo sobre esse livro juntos”. Não encontro, também,
ao menos nos canais selecionados, a construção de uma personagem folclórica no estilo
do jornalismo sensacionalista ou de alguns talk shows e programas de auditório
televisivos, por exemplo. No entanto, em canais estrangeiros podemos observar
booktubers que constroem para si uma persona mais performática6.
Jeffman (2015, p.102) conecta a cultura booktuber com a tendência geral dos
vlogs de expor a intimidade dos espaços de suas próprias casas, com destaque para o
quarto. Assim, chegamos ao segundo elemento básico de análise, pois além do Corpo, a
crítica booktuber trabalha com uma cenografia. O espaço fechado do quarto ou do
escritório, os dois espaços fundamentais dos vídeos analisados, são utilizados tanto por
questões práticas, pois toda a cultura YouTube funciona por não precisar, na produção
do seu conteúdo, do suporte de estúdios, produtores, entre outras mediações da mídia
tradicional, quanto para reforçar a busca por uma linguagem cotidiana, intimista,
informal.
No entanto, o Espaço contradiz um pouco a minha hipótese anterior, a de que os
booktubers não buscariam, na sua atuação, nenhuma forma de legitimação ao
construírem a si mesmos enquanto imagem. Pelo contrário, é na cenografia que isso é
encontrado através do cercar-se com livros (JEFFMAN, 2015, p.102), o que é uma regra
observável em praticamente todos os canais pesquisados. A exceção são os vídeos de
Tatiana Feltrin, nos quais o espaço é composto não por livros, e sim por ícones da
cultura pop e/ou nerd, tais como guitarras, lombadas de embalagens de filmes e bonecos
Funko Pop.
Por que tal divergência? Uma hipótese possível seria a de que Feltrin, por ser uma
das pioneiras da crítica booktuber e ter um dos canais mais conhecidos, precisa
6
É o caso da booktuber Christine Riccio e do seu canal Poland Bananas Books. Agradeço às minhas
alunas e alunos da graduação em Letras da UPM pela indicação.
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redimensionar sua imagem em relação àquilo já estabelecido como um lugar comum do
meio. Tendo sua posição como uma das principais booktubers brasileiras garantida,
Feltrin não necessita mais consolidar uma mínima cenografia intelectualizada para a
produção e recepção dos seus textos. Além do mais, e trata-se de uma necessidade do
próprio suporte, cada vídeo posiciona a si mesmo como elemento constituinte de um
espaço virtual, através da indicação de links e ferramentas de interação online: botões de
“curtir” ou “não curtir”, espaço aberto para comentários do público, links para outros
vídeos do canal e também para outras redes sociais/suportes utilizados pelo autor da
crítica, entre outras modalidades de interação com o conteúdo.
Em termos dos elementos constituintes da crítica booktuber, os vídeos mesclam
características da linguagem televisiva, tais como vinhetas introdutórias, ou o constante
uso do corte na fala do crítico, o que nos remete à linguagem do videoclipe, com uma
estrutura de argumentação e organização textual próxima à da resenha jornalística. Em
termos de duração, os vídeos do corpus duram entre 4-12 minutos, aproximadamente. A
partir da observação do conteúdo dos canais selecionados, pude esboçar o seguinte
esquema, que busca sistematizar aquilo que considero os elementos básicos da crítica
booktuber:
188
concreto a ser comentado. A estrutura da resenha da booktuber sobre o conhecido
romance de Lygia Fagundes Telles se articula da seguinte maneira:
Como todo texto crítico, Feltrin busca na obra literária analisada a sua adequação,
parcial, ou plena, a um conjunto de valores literários escolhidos como importantes e
positivos. O entusiasmo, demonstrado tanto pelo texto falado por Feltrin, quanto pelo
189
modo como o seu corpo enfatiza, através de gestos, expressões faciais e tom de voz, o
conteúdo da sua fala, revela que Ciranda de pedra não apenas se adequou, como
também superou suas expectativas; expectativas essas fundamentadas em valores. Da
observação do seu vídeo, sugiro que os valores defendidos seriam os seguintes7:
7
Importante ressaltar que o termo para designar cada valor não é utilizado no vídeo, e sim criado por
mim a partir da minha interpretação do mesmo.
190
negatividade, paradigma – qual crítica “canônica” não está fundamentada nesses
pressupostos, também?
A crítica booktuber, por outro lado, convida a um maior engajamento afetivo dos
seus leitores tanto para com o livro a ser analisado, quanto para com a própria figura do
booktuber. Ela também enfatiza, de modo mais recorrente do que na crítica tradicional,
uma análise sobre a materialidade dos livros resenhados. Uma crítica frequente, e
cabível, diz respeito à suposta superficialidade das resenhas produzidas nesses canais.
De modo geral, concordo: faz falta um maior aprofundamento na maior parte dos vídeos
que assisti. Só o tempo nos dirá o quanto o meio se desenvolverá em busca de um maior
fôlego interpretativo.
Contudo, essa superficialidade não deslegitima a crítica booktuber como crítica
literária, principalmente quando hoje vivemos um jornalismo cultural pouco ousado,
colado em excesso ao discurso autolegitimador de escritores, artistas, curadores,
assessores de imprensa, editores, agentes literários, entre outros... Com espaços, em
muitas revistas e jornais, cada vez mais curtos dedicados à reflexão sobre livros, há
muito é possível encontrar, na internet, em vídeos e em sites/blogs, textos críticos mais
instigantes e aprofundados do que os míseros mil e poucos caracteres cedidos aos
resenhistas dos atuais rodapés.
Além disso, a repercussão dos booktubers parece atestar a necessidade da
existência de instâncias de mediação inicial de leitura no tocante à literatura,
principalmente se levarmos em conta o quanto uma fatia considerável do seu público-
alvo consiste em adolescentes e jovens. Pergunto-me se não há um vácuo deixado pela
escola, pela universidade e pelas licenciaturas na formação não só de leitores e
formadores de leitura, mas de adequados espaços para o exercício crítico e a reflexão.
Esse provável espaço vazio precisa, então, ser ocupado. Com isso em mente, por que
não conectar os booktubers ao surgimento de outros fenômenos recentes de mediação da
leitura, tais como os clubes de literatura, os programas de assinatura de livros, as feiras e
festas literárias, as oficinas de escrita criativa, as redes sociais de discussão e
classificação de livros e os blogs literários?
Que a conversa sobre livros e sobre literatura possa continuar; que possamos
compartilhar a leitura e aprender uns com os outros a ler com afeto e a ler com atenção.
191
Em especial em tempos de leituras literais, ficções mal-intencionadas e práticas políticas
avessas ao debate de ideias e ao prazer desestabilizador da boa escrita literária.
Referências bibliográficas
CHAÍÇA, Inês. Booktube: a crítica literária faz-se em vídeo. 2015. Disponível em: <
http://p3.publico.pt/cultura/livros/17279/booktube-critica-literaria-faz-se-em-video>.
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Jw1dw&list=PL882PZCLlr8gHzbQ4Qk33vuUFWAzzEuxR&index=1>. Acesso em: 29
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SOUZA, Roberto Acízelo de. Iniciação aos estudos literários. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.
VALIN, Allan. Como fazer seu próprio vlog. 2010. Disponível em: <
https://www.tecmundo.com.br/video/4213-como-fazer-seu-proprio-vlog.htm>. Acesso
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