Inicial Ação Civil Pública PDF
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ALIANÇA NACIONAL LGBTI+, inscrita no CNPJ nº
06.925.318/0001-60, com sede na Avenida Marechal Floriano Peixoto, 366 cj,
43, Curitiba/PR, neste ato representada por seu Diretor Presidente e por seus
advogados;
1 - Síntese da demanda
2
As Associações Autoras requerem por meio da presente Ação Civil
Pública a prestação de tutela jurisdicional para reparação de dano moral
coletivo e dano social infligidos à população negra, à comunidade
LGBTQIA+, e ao povo brasileiro de modo geral, em razão das graves ofensas
racistas e homofóbicas vociferadas pelo réu, com a responsabilidade de quem
porta a imagem pública de esportista tricampeão mundial de Fórmula-1
brasileiro, portanto figura pública de renome mundial, em face do piloto
inglês negro heptacampeão da Formula-1 Lewis Hamilton, em celerada e
nauseante entrevista concedida em novembro de 2021 e que ganhou imensa
notoriedade no Brasil e no mundo em junho de 2022, declanchando
gigantesca onda de revolta e indignação.
2 - Da Gratuidade de Justiça
5
e da coletividade” (Estatuto, art. 2º, I), e “promover ou propor formas de
eliminar as injustiças, revelando as violações dos Direitos Humanos e suas
causas, de maneira a permitir a solicitação dos Direitos e da Justiça” (Estatuto,
art. 2º IV). Reza o art. 20º, II, do Estatuto, que Compete ao Presidente
“representar a Entidade ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente”,
razão pela qual o segundo requisito está atendido.
5 - Da tempestividade
7
No silêncio da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985) quanto
ao prazo prescricional para propositura da ação, pacificou-se a jurisprudência
no sentido de que se aplica a prescrição quinquenal (Resp 1.473.846/SP, Rel.
Min. RICARDO VILLAS BOAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 21/02/2017).
6 - Dos fatos
8
carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que
só o outro se f*deu. Fez uma p*ta sacanagem"
9
Contudo, prossegue Djamila Ribeiro,
10
"Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável de qualquer
forma e não deve fazer parte da sociedade. Lewis é um embaixador
incrível do nosso esporte e merece respeito
A Mercedes afirmou por sua vez que condena “nos termos mais
fortes qualquer uso de linguagem racista ou discriminatória de qualquer
tipo”.
11
atitudes e fui alvo delas a minha vida toda. Houve muito tempo
para aprender. Chegou a hora da ação".
"O Keke? Era um bosta, não tinha valor nenhum. É que nem o
filho dele [Nico]. Ganhou um campeonato. O 'neguinho'
[Hamilton] devia estar dando mais c* naquela época, aí tava meio
ruim".
12
e dos Territórios, acusando o ex-piloto de praticar crime de discriminação ou
preconceito.
13
Cora Lima. 29 de junho de 2022. Disponível em:
<https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2022/06/nelson-piqu
et-pede-desculpas-para-lewis-hamilton-e-diz-que-foi-mal-pensad
o.shtml>. Acesso em 1º.07.2022.
14
O ESTADO DE S.PAULO – “Hamilton rebate Piquet em
português após ser chamado de ‘neguinho’: ‘Vamos mudar a
mentalidade’”, 28 de junho de 2022. Disponível em:
<https://esportes.estadao.com.br/noticias/velocidade,hamilton-
piquet-racismo-formula-1-mentalidade,70004103782>. Acesso
em 1º.07.2022.
15
<https://www.uol.com.br/esporte/ultimas-noticias/2022/07/01
/em-novo-trecho-de-video-piquet-repete-racismo-e-e-homofobic
o-com-hamilton.htm>. Acesso em 1º.07.2022.
16
<https://ge.globo.com/motor/formula-1/noticia/2022/06/29/p
iquet-pede-desculpas-mas-minimiza-termo-racista-contra-hamilt
on.ghtml>. Acesso em 1º de julho de 2022.
GE.GLOBO – “F1 e FIA condenam termo racista usado por
Piquet sobre Hamilton”, 28 de junho de 2022. Disponível em:
<https://ge.globo.com/motor/formula-1/noticia/2022/06/28/f
1-e-fia-condenam-termo-racista-usado-por-piquet-sobre-hamilto
n.ghtml>. Acesso em 1º.07.2022.
GE.GLOBO – “Doutor especialista no tema explica racismo em
fala de Piquet sobre Hamilton”, 30 de junho de 2022.
Disponível em:
<https://ge.globo.com/motor/formula-1/noticia/2022/06/30/d
outor-especialista-no-tema-explica-racismo-em-fala-de-piquet-so
bre-hamilton.ghtml>. Acesso em 1º.07.2022.
ESTADO DE MINAS – “‘Vamos focar em mudar mentalidade’,
diz Hamilton à fala racista de Piquet”. Matéria de Izabella
Caixeta, 28 de junho de 2022. Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2022/06/28
/noticia-diversidade,1376451/vamos-focar-em-mudar-mentalida
de-diz-hamilton-a-fala-racista-de-piquet.shtml>. Acesso em
1º.07.2022.
17
ate-racismo-de-piquet-vamos-mudar-a-mentalidade/>. Acesso
em 1º.07.2022.
18
Richards, 1º de julho de 2022. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/sport/2022/jul/01/nelson-piqu
et-racial-homophobic-slurs-lewis-hamilton-f1>. Acesso em
1º.07.2022.
THE SUN – “Nelson Piquet used racist and homophobic slur
towards Lewis Hamilton as another vile interview emerges
before British GP”. Matéria de Etienne Fermie, 1º de julho de
2022. Disponível em:
<https://www.thesun.co.uk/sport/19060700/nelson-piquet-raci
st-homophobic-lewis-hamilton/>. Acesso em 02.07.2022.
MIRROR – “Nelson Piquet uses racist AND homophobic slur
against Lewis Hamilton in fresh footage”. Matéria de Daniel
Moxon, 1º de julho de 2022. Disponível em:
<https://www.mirror.co.uk/sport/formula-1/breaking-piquet-h
omophobic-racist-hamilton-27375313 >. Acesso em 02.07.2022.
BLOOMBERG – “F1’s Lewis Hamilton Condemns Nelson
Piquet’s Racist Slur, Calls for Action”. Matéria de Augusta
Saraiva, 28 de junho de 2022. Disponível em:
<https://www.bloomberg.com/news/articles/2022-06-28/lewis-
hamilton-f1-condemn-former-driver-nelson-piquet-s-racial-slur
>. Acesso em 1º.07.2022.
REUTERS – “Hamilton calls for action amid storm over racist
Piquet comment”. Matéria de Gabriel Araújo, 28 de junho de
2022. Disponível em:
19
<https://www.reuters.com/lifestyle/sports/hamilton-calls-actio
n-amid-storm-over-racist-piquet-comment-2022-06-28/>.
Acesso em 1º.07.2022.
20
<https://www.lesoir.be/451173/article/2022-06-28/derapage-ra
ciste-de-nelson-piquet-envers-lewis-hamilton-le-monde-de-la-f1
>. Acesso em 1º.07.2022.
21
As ofensas injuriosas, humilhantes e vexatórias, de cunho racista e
homofóbico, vociferadas publicamente pelo réu, ex-piloto tricampeão de
Fórmula 1, portanto figura pública e expoente do esporte brasileiro, contra o
piloto inglês negro sete vezes campeão de Fórmula 1, por meio da celerada e
nauseante entrevista concedida a canal esportivo na internet, viola a um só
tempo dois sistemas de normas, ambos considerados fundamentais no
arcabouço principiológico consagrado na Constituição Federal, a saber: as
normas que protegem a honra e dignidade da pessoa humana e as normas que
protegem a população negra contra o racismo.
Refere-se aqui ao racismo como prática velada, a qual não precisa ser
revelada de forma verbal e explícita - porque quase nunca o é, mas que reside
na maneira com que os fenômenos sociais se reproduzem, guiados pelas
estruturas sociais nas quais se alicerçam.
22
Assim, não é preciso que a ofensa seja expressamente decorrente de
ódio ou discriminação racial para se lhe reconheça o caráter racista: basta que
ela se revele como reprodutora da violência sistêmica que comprovadamente
se abate sobre a afrodescendência brasileira.
23
Tais práticas antirracistas aludidas pelo célebre autor em nada se
confundem com a incitação à contraviolência ou ao ódio racial. Pelo
contrário, trata-se de dar concretude ao preceito fundamental da dignidade
da pessoa humana, encetado no art. 1º, III, na nossa Constituição.
24
legislação atual. Falta atendimento humanitário nas delegacias
de polícia, onde os gays têm medo de prestar queixa. Homossexuais
discriminados não podem nem apelar ao bispo, visto os
depoimentos desses representantes da Igreja Católica.
É preciso que a sociedade se conscientize que defender os direitos
civis dos homossexuais é um processo de civilidade. E a garantia
desses direitos deve servir para aperfeiçoar as relações entre as
pessoas e preservar todos os Direitos Difusos e Coletivos da
Humanidade. A violência contra esse segmento começa cedo. Em
casa com a família, na escola com professores e comunidade
estudantil, na faculdade, no trabalho, na rua em todos os lugares,
nenhum lugar é seguro para um gay, uma lésbica ou travesti. Os
crimes praticados contra esse segmento variam de xingamento ao
extermínio físico”
(https://grupogaydabahia.com/about/menus-geral/editorial/).
25
baseiam em notícias publicadas nos meios de comunicação, sendo
coletados e analisados pelo Grupo Gay da Bahia, que há 40 anos
divulga essas tristes estatísticas, cobrando do governo políticas
públicas que erradiquem essa mortandade que vai muito além
desses números, pois representam apenas a ponta de um iceberg de
ódio e sangue.
(https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2022/03/mortes-
violentas-de-lgbt-2021-versao-final.pdf)
26
homotransfobia cultural que macula nossa sociedade, além de dificultar uma
análise mais profunda e completa dessas mortes violentas”.
27
Para o Dr. Toni Reis, da Aliança Nacional LGBTI+, parceiro do Grupo
Gay da Bahia nessa pesquisa, “os requintes de crueldade como muitos dessas
execuções foram cometidas, demonstra o ódio extremo dos criminosos, que não
contentes em matar, desfiguram a vítima lavando no sangue derramado sua
homofobia assassina”.
28
reiteração de condutas dessa natureza, bem como o de ver reparado o dano
causado ao senso coletivo de justiça e igualdade.
29
transgêneros como colegas. E isso só estamos falando de alunos que
abertamente tiveram coragem de declarar seu preconceito.
30
manifestação dos indivíduos, não há nenhum direito que se revista de caráter
absoluto, principalmente tratando de questões de interesse público ou
quando desrespeitados outras garantias da própria Constituição, como os
preceitos fundamentais de direito humanos e sociais, previstos no artigo 3 e
artigo 1, da Constituição Federal.
(...)
32
Ainda sob esse prisma, insta salientar que as manifestações que
degradem, inferiorizem, subjuguem, ofendam ou que levem a intolerância ou
discriminação, não estão protegidos pela liberdade de expressão, e podem ser
configurados como crime, conforme entendimento do STF:
1
Revista Pensamento Jurídico – São Paulo – Vol. 13, Nº 1, jan./jun. 2019
2
ADO 26 e MI 4733, decisão do dia 13/06/2020, E. Supremo Tribunal Federal
34
Porém, as complexidades da vida em sociedade levaram à constatação
de que tal direito fundamental – aliás como todos os demais direitos
fundamentais – não é, e nem pode ser, absoluto, como desde logo se verifica
pela vedação ao anonimato. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já
assentou importante precedente jurisprudencial, respaldado pela melhor
doutrina nacional.
35
expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações
de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal”.
36
dignidade da pessoa humana, buscando inibir, desse modo,
comportamentos abusivos que possam, impulsionados por
motivações racistas, disseminar, criminosamente, o ódio contra
outras pessoas, mesmo porque a incitação – que constitui um dos
núcleos do tipo penal – reveste-se de caráter proteiforme, dada a
multiplicidade de formas executivas que esse comportamento
pode assumir, concretizando, assim, qualquer que tenha sido o
meio empregado, a prática inaceitável do racismo”.
37
culminem por fazer instaurar tratamentos discriminatórios
fundados em inadmissíveis ódios raciais”.
(...)
38
Declaração Universal, “que condiciona os direitos e liberdades
fundamentais de cada um aos deveres para com a comunidade,
assim como aos direitos e liberdades dos outros” (José Augusto
Lindgren Alves, A Arquitetura Internacional dos Direitos
Humanos, cit., p. 91).
Para além disso, José Emílio Medauar Ommati sustenta que a prática
do discurso preconceituoso e discriminatório sequer pode ser considerada
exercício da liberdade de expressão:
40
“o perigo do discurso de ódio é tornar impossível, ou de todo muito
difícil, o exercício da cidadania por parte de membros de grupos
vulneráveis”.
41
9 - Do direito difuso violado
42
No art. 3º, estão elencados os objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil, entre os quais figura o de “promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação” (inc. IV).
43
As condutas praticadas configuram aparentes crimes contra a honra
(Código Penal, arts. 138 e seguintes), violando, ainda, toda diretriz constante
do Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010).
O Código Civil, por seu turno, estabelece no art. 186 que “aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito''.
O Código Civil prevê o dever de indenizar: “Aquele que, por ato ilícito
(arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo
único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem” (art. 927).
44
princípio da dignidade da pessoa humana receba a dignidade normativa que
merece.
45
Prossegue determinando no art. II, 1, que “Todo ser humano tem
capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma,
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”.
46
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo, e reconhecem que esses direitos
decorrem da dignidade inerente à pessoa humana.
Por fim, o art. 26 estabelece que “Todas as pessoas são iguais perante a
lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da Lei. A este
respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a
todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por
motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou
qualquer outra situação”.
47
9.3.3 - Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto
de San José da Costa Rica), de 1969
48
Deve ainda ser mencionada aqui a Opinião Consultiva 24/2017 a
pedido da República da Costa Rica, a qual foi um dos principais documentos
que fundamentou a decisão do STF na ADI 4275 reconhecendo o direito à
retificação de registro civil por pessoas trans diretamente em cartório. A OC
24/2017 é extremamente rica e merece destaque aqui seu item 64:
49
obrigação de respeitar e garantir os direitos humanos e o
princípio da igualdade e da não discriminação.
50
origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em
igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos
campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da
vida pública”.
51
O art. 6º determina que “Os Estados Partes assegurarão às pessoas que
estiverem sob sua jurisdição proteção e recursos eficazes perante os tribunais
nacionais e outros órgãos do Estado competentes, contra todos os atos de
discriminação racial que, contrariando a presente Convenção, violem os seus
direitos individuais e as suas liberdades fundamentais, assim como o direito
de pedir a esses tribunais satisfação ou reparação, justa e adequada, por
qualquer prejuízo de que tenham sido vítimas em virtude de tal
discriminação”.
52
Já no art. 1º a Convenção adota definição de discriminação abrangendo
a distinção, exclusão, restrição ou preferência inclusive por orientação sexual.
53
direitos das pessoas LGBTI+, além de estabelecer orientações para os Estados
signatários, merecendo destaque nesta peça o segundo item:
2. DIREITO À IGUALDADE E A
NÃO-DISCRIMINAÇÃO
54
agravada por discriminação decorrente de outras
circunstâncias, inclusive aquelas relacionadas ao gênero,
raça, idade, religião, necessidades especiais, situação de
saúde e status econômico.
A alínea e, por sua vez, é muito importante no caso em tela, uma vez
que trata da interseccionalidade entre os tipos de discriminação que aqui se
55
deu pela cor do ofendido e também por uma hipotética prática homossexual
que é usada como forma de inferiorizar pessoas pertencentes àquele grupo.
56
moralmente degradadas. Para esse autor, “esse foi exatamente o sentido
utilizado por Nelson Piquet quando fez referência a Lewis Hamilton”.
57
própria entrevista, enquanto Hamilton é apenas um ‘neguinho’,
não existe ‘o branquinho’ para se referir a um piloto branco.
Por todas essas razões, as ofensas perpetradas pelo réu atingem não
apenas os direitos individuais da vítima, mas os valores de toda a coletividade,
e da população negra e da comunidade LGBTQIA+ em especial.
60
A condenação se impõe em razão da magnitude dos direitos aviltados e
do caráter antissocial dos ilícitos perpetrados contra os mais basilares valores
constitucionais.
61
fundamentais da sociedade e se essa vulneração ocorrer de
forma injusta e intolerável.” (REsp 1502967/RS, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 26/06/2018).
62
jurídica-base. […]” (REsp 1197654/MG, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 01/03/2011, DJe 08/03/2012).
63
“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem
prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade
por danos morais e patrimoniais causados: l - ao
meio-ambiente; ll - ao consumidor; III – a bens e direitos
de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico; IV - a qualquer outro interesse difuso ou
coletivo; V - por infração da ordem econômica; VI - à
ordem urbanística; VII – à honra e à dignidade de
grupos raciais, étnicos ou religiosos ; III – ao patrimônio
público e social”.
64
coletivas de segurança, e de indenização dissuasória, se
atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma
diminuição do índice de qualidade de vida da
população” (AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Por
uma nova categoria de dano na responsabilidade civil: o
dano social. In: FILOMENO, José Geraldo Brito;
WAGNER JR., Luiz Guilherme da Costa;
GONÇALVES, Renato Afonso (coord.). O Código Civil
e sua interdisciplinariedade. Belo Horizonte: Del Rey,
2004, p.376).
Nesta mesma linha, segue o art. 187, CC, dispondo que o excesso
capaz de causar dano a terceiro, deve ser reparado, pois trata-se de ilícito,
responsável por lesar direito de outrem:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
66
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem.
É por isso que a Lei de Ação Civil pública conclui referido raciocínio,
ao dispor sobre danos difusos especificamente como o caso aqui presente:
67
inumanas, o que vai de encontro com todo o avanço feito nos últimos anos
contra esse tipo de violência.
Podemos definir o dano moral como abalo psíquico, intelectual ou
moral que a pessoa sofre, seja ele por ataque à honra, intimidade, imagem,
nome, privacidade ou até mesmo físico.
No Brasil há proteção constitucional tutelado no art. 5º, incisos V e
X, dispõe que a indenização pelos danos morais se inclui como garantia
individual:
68
A fala ofende não somente pessoas negras, mas inferioriza a população
LGBTI+. Seguindo esse raciocínio conceitual de dano moral, Carlos Roberto
Gonçalves, conceitua o dano moral asseverando que:
69
Assim, verifica-se clara distinção entre os danos moral e material,
onde a principal distinção está nos efeitos da lesão, e a repercussão que esta
causou sobre o ofendido e seus bens tutelados.
Ver uma pessoa em posição de tricampeão mundial de um dos
esportes mais populares do mundo ,propagando ideias de pura discriminação,
excludentes, chega a ser assustador.
Suas declarações implicam grande retrocesso em toda a luta dedicada
nos últimos anos, representando humilhação em forma de ofensa estrutural à
todos que tiveram seu sangue derramado pela violência racista e LGBTfóbica,
às mortes, violências físicas, psicológicas e seus reflexos nas vidas de inúmeras
pessoas LGBTI+, as quais lutam diariamente pelo direito de não serem
invisibilizadas, ou seja, o simples direito de existir.
É assim comprovado o dano moral coletivo, não se trata de mera
questão de liberdade de expressão ou opinião.
A opinião é restringida diante da dignidade humana de outrem, desta
forma, opinião não é inferiorizar grupo social em relação a outro, opinião não
é manto que pode ser usado para esconder práticas criminosas. Opinião não é
o direito de praticar o crime de racismo. Opinião não é ofender e discriminar
inúmeras famílias.
Acerca da liberdade de expressão, o próprio STF já julgou que este
não é direito absoluto, não podendo, assim, ser usado como argumento para
cometer crimes:
70
HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS:
ANTI-SEMITISMO. RACISMO. CRIME
IMPRESCRITÍVEL. CONCEITUAÇÃO.
ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM
DENEGADA. (...)
13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que
não se tem como absoluta. Limites morais e jurídicos. O
direito à livre expressão não pode abrigar, em sua
abrangência, manifestações de conteúdo imoral que
implicam ilicitude penal. 14. As liberdades públicas não
são incondicionais, por isso devem ser exercidas de
maneira harmônica, observados os limites definidos na
própria Constituição Federal (CF Art. 5º § 2º, primeira
parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão
não consagra o "direito à incitação ao racismo", dado que
um direito individual não pode constituir-se em
salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os
delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da
dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. (...)
(STF - HC 82.424-2 RS. Relator MOREIRA ALVES.
Data de julgamento 17/09/2003, Tribunal Pleno. Data
de publicação: 19/03/2004)
71
Havendo a existência de lesão, a própria Lei 7.347/85 traz a previsão
legal do dano moral coletivo em seu artigo 1º, caput e IV:
72
O valor a ser arbitrado deverá ser condizente com o dano provocado, e
a quantia deve ser economicamente significativa como Carlos Alberto Bittar
ensina:
73
Desta maneira, é imperioso lembrar que as declarações
homotransfóbicas e racistas do Requerido atingem a sociedade como um
todo, especialmente por vigorar no país o princípio da não-discriminação.
75
A garantia do direito à inversão do ônus da prova é sumamente
importante para a defesa dos direitos difusos em juízo, visto que a sua
inexistência poderia vir a acarretar prejuízos irreparáveis às vítimas de danos
materiais e morais coletivos e sociais.
A não concessão da inversão do ônus da prova implicaria violação
de direito material e básico da parte autora, direito esse que visa a facilitar a
defesa processual. Vale ressaltar que esse direito não é de natureza processual,
mas de natureza material, garantia de proteção efetiva e apta à reparação de
danos.
A verossimilhança exigida pelo CDC para concessão da inversão do
ônus da prova é mais do que um indício de prova, é a aparência de verdade.
No caso em tela, isso está robustamente demonstrado.
Sendo assim, caso não haja aceitação dos fatos tal como narrados,
malgrado sejam eles públicos e notórios, requer-se a inversão do ônus da
prova para que as pessoas jurídicas demandadas demonstrem a não ocorrência
dos fatos que servem de fundamento à presente ação. Desde já, fica requerido
o valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) a título de dano moral e
social coletivos.
76
A reparação integral de dano dessa magnitude e alcance não pode se dar
exclusivamente na esfera pecuniária ou indenizatória. É necessário que se
imponha ao réu leque de obrigações capaz de impedir a reiteração da sua
conduta. Tais medidas estão a seguir apontadas:
77
Para a fixação do quantum indenizatório, devem ser consideradas
algumas peculiaridades do caso concreto, levando em conta,
primordialmente, a magnitude dos direitos aviltados – a negação dos
desdobramentos do passado escravocrata do Brasil e o atentado à dignidade e
à honra das populações negras e da comunidade LGBTQIA+.
78
“O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a
possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou
pedagógica da responsabilidade civil”.
79
“o fundamento da reparabilidade pelo dano moral está
em que, a par do patrimônio em sentido técnico, o
indivíduo é titular de direitos integrantes de sua
personalidade, não podendo conformar-se à ordem
jurídica em que sejam impunemente atingidos”. “A
vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem cunho
patrimonial efetivo, mas ofendida em um bem jurídico
que em certos casos pode ser mesmo mais valioso do que
os integrantes de seu patrimônio, deve receber uma soma
que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada
pelo juiz, atendendo às circunstâncias de cada caso, e
tendo em vista as posses do ofensor e a situação pessoal
do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte
de enriquecimento, nem tão pequena que se torne
inexpressiva”.
3
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk2512200212.htm
80
funcionários e, desde a sua fundação, em 1994, cresce de
25% a 35% ao ano, em média.
Nelson Piquet às vezes esquece que foi piloto de
F-1. Aos 50 anos, o tricampeão (81, 83 e 87) tornou-se
um executivo de sucesso e quebrou uma regra: grande
parte de seus colegas, ex-campeões da categoria, é um
fiasco nos negócios.
14 - Dos requerimentos
81
II) Seja determinada a inversão do ônus probatório, como
autorizam o art. 21 da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº
7.347/1985) e os arts. 357, III, e 373, § 1º, do CPC, caso negue o
réu a ocorrência de referidas entrevistas ou edição de suas falas;
IV) Seja julgada procedente a presente Ação Civil Pública para que
seja condenado o réu ao pagamento de indenização por dano moral
coletivo e dano social no valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões
de reais), quantia a ser revertida ao fundo previsto no art. 13 da Lei
da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985);
82
As Associações Autoras deixam de recolher custas diante do
mandamento contido no art. 18 da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº
7.347/1985).
16 - Do valor da causa
83
Nestes termos,
OAB/DF nº 52.226
OAB/GO 36.578
OAB/SP nº 125.930
OAB/TO nº 9.737
Thiago Thobias
84
OAB/SP 279.877
ANEXOS:
- Doc. 2 – Procurações;
85