Con Jun Tinho 281

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EDITORIAL

Uma vitamina
para tempos difíceis
Paula Franco, Bastonária

A dimensão e a grandeza de uma instituição não se


podem medir, apenas, pelo seu número de mem-
bros, mas sim, e em particular, pelas iniciativas cen-
conforto. Resistimos à socialização. As festas de Natal
e o Encontro dos Contabilistas são eventos que, pela
reiterada aceitação demonstrada ao longo dos anos
trais e decisivas para o exercício profissional dos seus pelos membros e suas famílias, já entraram na rotina
executantes, neste caso, os contabilistas certificados. e nas tradições. São momentos em que celebramos a
O ciclo formativo presencial que a Ordem promoveu, profissão e também a vida. São uma vitamina, num
a nível nacional, entre 25 de setembro e 13 de outubro, contexto pessoal e profissional, que está longe de ser
revelou-se um enorme sucesso. A qualidade dos forma- fácil. O XVII Encontro, realizado no Palácio de Cris-
dores e a maneira como as matérias estavam estrutu- tal, no Porto, foi mais um momento inesquecível de
radas mereceram opiniões elogiosas quase unânimes comunhão. Foram cerca de 1 600 os presentes, mas
por parte de praticamente todos os participantes das podiam ter sido muitos mais. De facto, os locais para
sessões sobre a «Implementação de boas práticas pro- acolher a grandiosidade dos eventos da nossa institui-
fissionais.» Foram mais de nove mil, oito mil contabi- ção começam a ser escassos e… pequenos.
listas certificados e mais de um milhar de não mem- Por seu turno, gratidão e reconhecimento têm sido os
bros. Uma mobilização que nos encheu de orgulho e principais ensinamentos de mais um ciclo de entrega
também de responsabilidade para levar a bom porto de medalhas aos membros que perfazem 25 anos de
este grande desafio e grande projeto para os próximos profissão. Alguns dos depoimentos que podem ser li-
dois anos. dos nas páginas interiores desta revista são revelado-
Mas esta formação está longe de terminar aqui e não res do simbolismo e da emoção da homenagem.
se esgota nas sessões em sala. Para a segunda quinzena
de novembro e início de dezembro já estão agenda- ***
das várias formações plug in, muitas delas já sem va-
gas. Posteriormente, as formações serão ministradas Arlindo Oliveira é um profundo conhecedor das te-
em contexto dos gabinetes de trabalho, na sequência máticas relacionadas com o maravilhoso mundo da
das solicitações que formos recebendo por parte dos inteligência artificial. Em entrevista, o professor cate-
membros. Fica a promessa de que a Ordem não se pou- drático do Instituto Superior Técnico e presidente do
pará a esforços para que esta formação chegue a todos Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores
os profissionais. (INESC) partilha a sua visão sobre os impactos positi-
Mas nem só de formação e de trabalho vive o homem e vos, e outros mais inquietantes e perversos, desta ver-
o contabilista também não é exceção. Os mais de dois tiginosa sofisticação tecnológica. E, como não podia
anos de pandemia tiveram efeitos nocivos. Afastaram- deixar de ser, os contabilistas certificados não ficaram
-nos. Acomodamo-nos a estar mais na nossa zona de à margem da conversa e do futuro.

SETEMBRO 2023 3
FICHA TÉCNICA SUMÁRIO

6
ANO XXIII
REVISTA N.º 281 • SETEMBRO 2023
Propriedade Publicidade
Ordem dos Contabilistas Departamento
Certificados de Comunicação
e Imagem da Ordem
Avenida Barbosa
du Bocage, 45 Contactos
1049-013 Lisboa 217 999 715/17/18/19
Contribuinte n.º 503 692 310 comunicacao@occ.pt
Telefone: 217 999 700 www.occ.pt

Diretora Impressão
Paula Franco LiderGraf

Diretores adjuntos Tiragem


Joaquim Jorge Barbosa 67 500 exemplares
Cristina Pena Silva Arlindo Oliveira em entrevista
Manuel Teixeira Depósito legal
Helena Costa N.º 150317/00

17
Álvaro Costa
Pedro Nuno Ferreira ISSN
1645-9237
Redação
Jorge Magalhães Organismos
Nuno Dias da Silva internacionais
a que a Ordem pertence:
Design e paginação
Duarte Camacho
João Martins
Sara Brás

Fotografia
Jorge Gonçalves
José Barros
Lauriany Ribeiro
Nuno Ribeiro
Pedro Granadeiro
Raquel Wise
Ricardo Almeida Aprovadas alterações aos estatutos das ordens

Secretariado

24
Raquel Carvalho

Colaboram nesta edição


Anabela Santos
Gilberto Carvalho Fernandes
Paula Franco

Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Mais de 1 600 pessoas no XVII Encontro Nacional dos Contabilistas

4 CONTABILISTA 281
SUMÁRIO

42

As cerimónias de entrega de medalhas dos 25 anos continuam a percorrer o país

NOTÍCIAS
17 Aprovadas alterações aos estatutos das ordens profissionais | Análise da OCC à proposta do OE/2024
18 Festa de Natal 2023
19 9 349 participantes na formação sobre boas práticas profissionais
20 Ordem alvo de ciberataque
21 Análise à Lei n.º 56/2023 | Guia prático: «Sociedades comerciais – constituição e início de atividade» |
Calendário 2024
22 Bastonária na conferência «Liderança feminina»
23 AG da FCM | OCC na Figueira da Foz | Celebração do 5 de outubro | «Portugal 2030»
24 XVII Encontro Nacional dos Contabilistas
33 Apresentação do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2022
42 Cerimónia de entrega de medalhas: Coimbra
45 Cerimónia de entrega de medalhas: Évora
48 Cerimónia de entrega de medalhas: Leiria
51 Cerimónia de entrega de medalhas: Setúbal
54 Cerimónia de entrega de medalhas: Portalegre
57 Cerimónia de entrega de medalhas: Beja
60 Cerimónia de entrega de medalhas: Faro
63 Ordem nos media

COLABORAÇÃO ISCA-UA
64 Donativos (ou doações) – questões atuais para investigação futura

FISCALIDADE
71 Teletrabalho numa ótica internacional

SETEMBRO 2023 5
ENTREVISTA

Arlindo Oliveira, presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas


e Computadores (INESC)

«A nossa civilização vai ser


uma sinergia entre inteligência
humana e inteligência
artificial»
Investigador há cerca de três décadas sobre temas relacionados com a sofisticação
tecnológica ao mais alto nível, Arlindo Oliveira considera provável que dentro de
uma década alguns sistemas de inteligência artificial (IA) já demonstrem empatia. O
professor do Instituto Superior Técnico (IST) acrescenta que o impacto da IA na saúde,
energia e ambiente será crítico para melhorar a qualidade de vida das populações.
Admite ainda que os robôs possam vir a pagar impostos em função da frequência do
seu uso e sobre os contabilistas certificados recomenda a automatização parcial do
seu trabalho, mas estima que se manterá intacto o seu poder de «aconselhamento
estratégico» e capacidade de «pensamento crítico.»

Entrevista Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise

Contabilista – Reproduzir com- de criar sistemas que reproduzem Mas há ainda campos em que esta-
portamentos inteligentes em má- a inteligência humana foi formula- mos atrasados, por exemplo, a inte-
quinas é uma ambição já antiga da da nessa altura e coincidiu com as ração da robótica com o mundo real
Humanidade. O termo Inteligência primeiras expêriencias com pro- ainda é muito incipiente. E ainda
Artificial (IA) surgiu em 1956 no gramas de computador. Em suma, temos outros domínios em que a IA
seio de um grupo de cientistas que foram décadas de grande desen- está muito longe do comportamento
revelaram que conseguiriam cons- volvimento. Os primeiros anos da inteligência humana.
truir algoritmos, máquinas que foram de franco otimismo. Talvez
conseguem replicar a inteligência demasiado. Frank Rosenblatt an- Contabilista – Singularidade é um
nos humanos. Quase 70 anos após teviu que em 10 anos teríamos isto termo associado à Física e à Ma-
essa primeira referência, qual é o mais ou menos resolvido. Afinal, temática, mas também pode estar
«estado da arte» da IA no mundo? constatou-se que as questões eram relacionado com a tecnologia. Ba-
Arlindo Oliveira – Na verdade, o bem mais complexas. Atualmen- sicamente, determina um cresci-
termo foi criado em 1956, mas as te, registamos alguns sucessos em mento tecnológico desenfreado da
primeiras referências e a ideia de certas áreas, nomeadamente na super inteligência artificial com
construir sistemas inteligentes são língua natural, já temos inclusive impactos irreversíveis na civiliza-
anteriores a essa data. A ambição sistemas que falam essas línguas. ção humana. Na sua perspetiva, es-

SETEMBRO 2023 7
ENTREVISTA

«Considero, ao nível dos benefícios da


IA, a saúde, a energia e o ambiente como
áreas críticas, pelo impacto na qualidade
de vida das populações e também ao
nível das migrações, tensões sociais e
desenvolvimento das nações.»

tamos numa era de singularidade co está a adquir uma velocidade de aplicação geral e pode ter utili-
tecnológica? desenvolvimento tal que adquire zações em muitas áreas. Mas não
A.O. – A ideia da singularidade algumas características de singu- consegue fazer tudo. Há áreas da
deve-se a John von Neumann, um laridade, nomeadamente na difi- sociedade em que não avançamos
famoso cientista, que morreu nos culdade de previsão do futuro. Se mais rapidamente neste domínio
anos 50 do século passado e é sua a no ano 1500 era relativamente sim- da IA por falta de capacidade ins-
tese de que a tecnologia pode ace- ples prever que o futuro era mais ou talada. Se, por exemplo, na saúde
lerar tão rapidamente que nós, os menos igual ao passado, atualmen- tivéssemos mais médicos, os pa-
seres humanos, não conseguiría- te, alguém que preveja que daqui a cientes receberiam um melhor tra-
mos acompanhar o seu desenvolvi- 100 anos a sociedade será mais ou tamento e poderíamos salvar mais
mento. Pode não ser, unicamente, menos igual ao que é hoje, isso não vidas. Se a comunidade científi-
por via da IA. Há outras tecnolo- é muito credível. ca que investiga o ambiente fosse
gias que podiam conduzir a uma mais numerosa, podíamos ter mais
singularidade. Por exemplo, se de Contabilista – Defende que a IA projetos inovadores para preser-
repente inventássemos a vida eter- vai trazer melhorias na qualidade var a ecologia, se tivéssemos mais
na e as pessoas não morressem era de vida. E há muitos setores, como especialistas na captação de novas
uma verdadeira singularidade vis- a banca, a educação, a segurança formas de energia, provavelmente
to que a sociedade mudava para um nacional, a investigação policial e, já não estaríamos tão dependen-
estado completamente diferente. naturalmente, a saúde, que serão tes dos combustíveis fósseis, etc.
Em resumo, não há acordo sobre se impactados por estas transforma- Considero, por isso, ao nível dos
chegaremos a uma fase de singu- ções. Quais os setores mais bene- benefícios da IA, a saúde, a energia
laridade tecnológica, mas o que se ficiados? e o ambiente como áreas críticas,
constata é que o avanço tecnológi- A.O. – A IA é uma tecnologia de pelo impacto na qualidade de vida

8 CONTABILISTA 281
ENTREVISTA

das populações e também ao ní-


vel das migrações, tensões sociais
e desenvolvimento das nações. De
«Confesso que fico inquieto com a
facto, há muitas áreas da nossa vida
em sociedade em que a tecnologia perspetiva de terroristas se apoderarem
é importante para o futuro. Por de tecnologias que permitam desenvolver
exemplo, na forma como usamos e armas com um poder ofensivo muito
protegemos o mar. Ou na agricul- maior comparativamente com o arsenal a
tura, um setor que poderá ser mais
que, neste momento, têm acesso.»
eficaz e eficiente com o recurso a
robôs inteligentes. Quanta azeitona
não é deixada nas árvores por não
haver recursos humanos em quan-
tidade suficiente para o fazer?
principais «armas» em termos de rá-lo». Gostaria de obter a sua opi-
Contabilista – É a tal pergunta segurança nacional das nações. nião sobre esta descrição.
para um milhão de dólares: será Mas vai além disso, com as armas A.O. – Conheço muito bem a Vir-
que algum dia esses sistemas irão inteligentes ou os drones autóno- ginia Dignum. É uma investiga-
superar a inteligência dos seus mos. E pode alcançar dimensões dora portuguesa que trabalha, há
criadores, os humanos? algo mais assustadoras, com a muito, questões relacionadas com
A.O. – Não existe uma resposta de- guerra biológica ou a guerra quími- a segurança e a IA, sendo por isso
finitiva para essa pergunta. É um ca, possibilitada por novas tecno- compreensível a sua posição crí-
tema que divide opiniões entre os logias que sejam desenvolvidas por tica e preocupada pelo facto de a
próprios investigadores e especia- IA. Confesso que fico inquieto com regulamentação existente não ter
listas. Uns admitem que estamos a perspetiva de terroristas se apo- conseguido acompanhar a veloci-
relativamente próximos desse pon- derarem de tecnologias que per- dade dos desenvolvimentos tecno-
to, à medida que vamos integrando mitam desenvolver armas com um lógicos. Por isso, na prática, a re-
estas tecnologias. E até se antecipa poder ofensivo muito maior com- gulamentação é inadequada. Todos
que dentro de 10 ou 20 anos pode- parativamente com o arsenal a que, reconhecemos que é fundamental
mos ter sistemas com comporta- neste momento, têm acesso. regulamentar as aplicações de IA,
mentos e competências indistin- da mesma forma que regulamenta-
guíveis de um ser humano. Pelo Contabilista – Em declarações à mos através de leis a vida em socie-
contrário, há outros que defendem Agência Lusa, a investigadora por- dade. Por outro lado, há visões mais
que nunca lá chegaremos, por não tuguesa Virginia Dignum, que radicais que sustentam que para
percebermos na plenitude toda a integra o órgão consultivo das além de regulamentar a IA também
riqueza do funcionamento do cé- Nações Unidas para a IA recente- se deve regulamentar o próprio de-
rebro. Num ponto intermédio tam- mente criado por indicação do se- senvolvimento de uma tecnologia
bém temos os que argumentam que cretário-geral, António Guterres, que é demasiado poderosa para ir
lá chegaremos, mas vai demorar. considerou que «neste momento, parar às mãos de qualquer pessoa.
Talvez dentro de 100 ou 150 anos. a situação da IA é aquela de estar- Pessoalmente, discordo que se re-
mos dentro de um carro que não gulamente o desenvolvimento da
Contabilista – Do ponto de vista tem travões nem cinto de segu- tecnologia, mas estou de acordo
geopolítico, a IA vai converter-se rança, está a ser guiado por uma que se regulamentem as aplicações,
numa das principais «armas» no pessoa que não tem carta de con- nomeadamente ao nível da violação
combate pela supremacia entre su- dução e vai por uma rua que não de privacidade, segurança nacional
perpotências? tem sinais de trânsito». Ressalvou, ou manipulação de informação. Em
A.O. – Do ponto de vista de análise contudo, que isso «não quer dizer termos genéricos, acabo por con-
de dados (emails, mensagens, te- que o sistema está fora de contro- cordar com a Virginia: atualmente,
lefonemas, etc. )a IA já é uma das lo», advertindo que «podemos pa- ainda não dispomos de regulamen-

SETEMBRO 2023 9
ENTREVISTA

«Pessoalmente, discordo que se


regulamente o desenvolvimento
da tecnologia, mas estou de
acordo que se regulamentem as
aplicações, nomeadamente ao
nível da violação de privacidade,
segurança nacional ou
manipulação de informação.»

tação suficientemente eficaz e, pior, estivesse de acordo relativamente de legisladores que defendem que
ela não é uniforme, nomeadamente às questões da proteção de dados, não devem existir modelos aber-
em termos de blocos geográficos. o desenvolvimento da IA ou, em tos, por ficarem à mercê e à dis-
termos ambientais, a emissão de posição de muitas pessoas. Pelo
Contabilista – A Europa é, por as- dióxido de carbono. Lamentavel- contrário, há os que defendem
sim dizer, o continente da regula- mente, o que se vê nesta sociedade o oposto: o código aberto é que
ção, situando-se nos antípodas do global e competitiva, é que nem to- permitará validar e controlar a
que se passa nos Estados Unidos e dos os blocos e nem todos os países aplicação dos modelos e garantir
na China. Regular é, também, uma têm a mesma abordagem. Isso co- que estes tenham coisas que não
espécie de pau de dois bicos, por- loca assimetrias que levantam ine- deviam ter. Se a regulamentação
que permite conservar, de algum gáveis desafios. impedir, por exemplo, código
modo, os valores da privacidade, aberto e a partilha de soluções e
mas hipoteca o desenvolvimento e Contabilista – Há dias escreveu algoritmos, creio que será nega-
o dinamismo económico propicia- um artigo no jornal «Público» tivo.
do pela inovação? em que defendeu que regular em
A.O. – Sim, coloca desafios. O re- demasia pode estrangular o pro- Contabilista – É possível ter uma
gulamento geral de proteção de cesso e «esmagar a revolução». IA ao serviço da Humanidade,
dados, que coloca devidamente Teme que isso possa acontecer? «sem ambivalências» e usada de
proteções sobre o que pode ser fei- A.O. – Sim, em alguns casos par- forma «responsável», como pediu
to com as nossas informações pes- ticulares. Na atualidade, grande o Papa Francisco em agosto? Ou
soais, também apresenta custos de parte do ordenamento tecnológi- tal só se conseguirá regulamen-
desenvolvimento para as empresas, co acontece pela partilha de códi- tando?
etc. O ideal seria que todo o mundo gos, de dados, etc. E há opiniões A.O. – A afirmação do Papa é re-

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ENTREVISTA

lativamente consensual. Não há Contabilista – Para já, defende soas estão mais ou menos imunes
objeções de maior. Creio que o uma tomada de posição a uma só à desinformação. Alguns estudos
ideal seria que os grandes blocos, voz? indicam que as pessoas são mui-
os Estados Unidos, a Europa, a A.O. – Sim, mais diálogo e coope- to difíceis de convencer de coisas
China, e também a Índia e o Ja- ração entre os blocos, de forma a que vão contra as suas opiniões.
pão, estivessem globalmente de chegarem a um acordo sobre as Há um crescente ceticismo e resis-
acordo quanto às aplicações de medidas que devem ser impostas tência das pessoas face a opiniões
IA. Isto é mais fácil dizer do que ao desenvolvimento e, em particu- distintas das suas. Uma investiga-
fazer, por duas razões: a primei- lar, às aplicações de IA. ção recente aponta que um ou dois
ra é porque existe pouco diálo- por cento das pessoas só mudará
go entre os blocos e depois a IA Contabilista – Sem intervenção por via de campanhas eficazes de
sendo uma tecnologia flexível e e soluções políticas de cariz de- informação ou de desinformação.
relativamente fácil de desenvol- mocrático, a IA nas mãos erradas Mas, porventura, mais sério do que
ver, torna dificil prever o que vai pode contribuir para fomentar e a desinformação, o problema mais
acontecer. Imagine que presente- abrir terreno aos populismos, ra- grave radica no facto de as pessoas
mente estamos de acordo relati- dicais e autoritários? rejeitarem informação não envie-
vamente à regulação de modelos A.O. – Por via da desinformação, sada ou equilibrada. Querem infor-
de linguagem, que é o grande sim. A desinformação já existe e mação que reforce e solidifique as
foco atual, mas ninguém diz que muita, a pergunta que se coloca é se suas opiniões. O exemplo recente
daqui a cinco anos possa aparecer a IA vai tornar este problema ainda do «Brexit», em que as pessoas não
um assunto que se torne o pomo mais dramático, com desinforma- tiveram informação equilibrada,
de discórdia. Como a tecnologia ção a uma maior escala, mais eficaz levou a que a maior parte dos britâ-
evolui muito rapidamente torna- e mais convincente. Pessoalmente, nicos tenha mantido a sua opinião
-se dificil de prever a sua evolução. estou convencido de que as pes- de abandonar a União Europeia.

«Do ponto vista tributário,


um robô mesmo sem ter
personalidade jurídica, pode
pagar impostos através da
empresa que o tem ou o usa,
em função da intensidade ou
frequência do seu uso.»

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ENTREVISTA

Contabilista – Defende que a aten- função da atenção que prestamos a fornecer muita informação em tro-
ção das pessoas é o valor económi- aos seus produtos. Há, inclusive, ca de usarmos serviços que exigem
co mais alto dos nossos tempos. um livro muito interessante sobre a nossa atenção. Os mecanismos de
Talvez por esse motivo, e devido este tema chamado «Os Mercado- atenção são pensados para focar e
ao excesso de estímulos com que res de Atenção», de Tim Wu. manter a atenção da pessoa e fazem
somos “bombardeados” perma- isso reforçando as opiniões que já te-
nentemente, torna-se difícil pren- Contabilista – Ou seja, perante mos. A meu ver, isso elimina a possi-
der a atenção das pessoas para um essa lógica é impossível que um bilidade de diálogo.
tema tão crucial como é a IA para ser humano mantenha o foco no
as nossas vidas? essencial… Contabilista – Falando concreta-
A.O. – Cada segundo da nossa aten- A.O. – Ao longo dos tempos, tive- mente do nosso país, qual é a expo-
ção é valioso, na medida em que mos os jornais, depois a televisão, sição de Portugal a todas estas mu-
pode ser usado essencialmente depois a TV por cabo e, mais recen- danças em curso no âmbito da IA?
para marketing, mas também para temente, a internet. Vivemos numa A.O. – Portugal está bem posiciona-
outros fins. As grandes plataformas sociedade onde a atenção é um dos do, sendo de destacar o papel desem-
(Google, Amazon, Facebook, etc.) valores mais preciosos. Tudo é com- penhado por empresas e universi-
vivem e fazem o seu negócio em prado e vendido. E estamos dispostos dades nesta área. Em Lisboa temos

12 CONTABILISTA 281
ENTREVISTA

PERFIL

Arlindo Oliveira nasceu em Negage, An- (INESC). Desde 2020 é administrador


gola, a 4 de junho de 1963. Viveu em não executivo do conselho de admi-
Moçambique, Suíça, Estados Unidos e nistração da Caixa Geral de Depósitos.
Japão. Estudou no Instituto Superior Publicou vários livros, traduzidos em
Técnico (IST), licenciando-se em En- diversas línguas, e centenas de artigos
genharia Eletrotécnica e de Computa- científicos e de divulgação nas áreas
dores, área em que também se douto- dos algoritmos, inteligência artificial,
rou na Universidade da Califórnia, em arquitetura de computadores e biolo-
Berkeley, com uma bolsa fulbright. Foi gia computacional. Interessa-se, desde
investigador do CERN, do Electronics sempre, por tecnologia e pelo impacto
Research Laboratory da UC Berkeley que esta tem na sociedade. Tem uma
e dos Berkeley Cadence Laboratories. coluna mensal no jornal «Público» e
É professor catedrático do IST, institui- lançou no verão, com a chancela da
ção a que presidiu entre 2012 e 2019. Guerra e Paz, o livro «Ciência, Tecnolo-
Lidera desde 2021 o Instituto de Enge- gia e Sociedade», uma compilação com
nharia de Sistemas e Computadores os seus artigos dos últimos anos.

uma unidade da Rede Europeia de profunda, foi oficialmente lançado. é fidedigna, tem de ser verificada e
Machine Learning (LUMLIS) com O seu uso sem leitura de contraindi- é gerada aleatoriamente de acordo
dezenas de pessoas que trabalham cações pode ser altamente perigoso com um modelo estatístico.
nesta área e que é reconhecida inter- para utilizadores incautos?
nacionalmente. Mas também temos A.O. – O ChatGPT é a face mais visí- Contabilista – Ao nível do ensino, e
dificuldades difíceis de superar. As vel destes novos modelos de lingua- enquanto professor, preocupam-no
tecnologias são caras e difíceis de de- gem, mas o GPT-3 foi lançado ante- as eventuais situações de plágio em
senvolver, o que faz com que estejam riormente, em junho de 2020. Se as teses académicas, por exemplo?
acessíveis a governos ou a grandes pessoas souberem que estão a usar A.O. – Esta tecnologia é útil, pode
empresas. Infelizmente, Portugal um modelo estatístico e que gera pa- ser usada em benefício do processo
não tem empresas nesta área, o que lavras aleatoriamente, que pode in- de ensino, mas teremos de garantir
leva a que os países dominadores se- ventar e que não tem acesso a dados que há algum tipo de avaliação em
jam os Estados Unidos e a China. A recentes, acho que é uma ferramenta que os alunos não possam usar esta
Europa anseia desempenhar um pa- muito útil. Gera textos geralmente ferramenta. No IST estudou-se esta
pel ativo neste domínio. Vamos ver corretos e de boa qualidade, dando- matéria e foi criada uma comissão
se será bem sucedida. -nos acesso a informação que, por para a qual fui convidado para coor-
outras vias, nem sempre é muito fá- denar. O relatório concluiu que não
Contabilista – Assinala-se a 30 cil obter. Mas a advertência principal devemos impedir ou tentar impedir
de novembro um ano desde que o deve ser a seguinte: o ChatGPT não é o uso destas ferramentas, mas o im-
ChatGPT, o símbolo maior da cha- uma base de dados, não é um motor portante é clarificar as situações
mada revolução da aprendizagem de busca. A informação que gera não em que podem ser usadas. Tornar

SETEMBRO 2023 13
ENTREVISTA

«Cada segundo da nossa


atenção é valioso, na
medida em que pode ser
usado essencialmente para
marketing, mas também
para outros fins. As grandes
plataformas (Google, Amazon,
Facebook, etc.) vivem e fazem
o seu negócio em função da
atenção que prestamos aos
seus produtos.»

transparente o processo de utili- a redistribuição. Se uma grande cussões interessantes…


zação e os documentos que forem empresa nacional ou internacio-
elaborados com base nesta ferra- nal, que empregue apenas 10 pes- Contabilista – Será uma temáti-
menta. Porventura, a componen- soas e recorre praticamente só a ca para ser discutida e decidida,
te menos pacífica prende-se com mecanismos de automação, pen- por exemplo, ao nível da Comis-
a manutenção dos mecanismos so que deve haver redistribuição são Europeia?
de avaliação imunes a estas fer- do valor que esta gera. Bem mais A.O. – Provavelmente. Aliás, em
ramentas, de modo a que o aluno complexo é prever se algum dia 2016 o Parlamento Europeu ela-
tenha pensamento crítico e possa chegaremos à situação em que borou um relatório em que aludia
pensar pela sua própria cabeça. robôs ou sistemas de IA, que se- a essa questão. Entretanto, essa
jam simplesmente programas, temática foi ignorada pela mais
Contabilista – Os robôs e a inteli- tenham o tipo de características, recente legislação da Comissão
gência artificial devem ter direi- nomeadamente a consciência, a Europeia, mas não me parece im-
tos, deveres e pagar impostos? sapiência, a capacidade de de- provável que volte a reaparecer
A.O. – São duas coisas diferen- cisão, o livre arbítrio, emoções, num futuro mais ou menos dis-
tes. Do ponto vista tributário, um inclusive, que justificariam que tante. Imagine que estes sistemas
robô, mesmo sem ter personalida- atribuíssemos a esses sistemas começam a ter intervenções e a
de jurídica, pode pagar impostos uma personalidade jurídica. É tomar decisões na área médica
através da empresa que o tem ou uma questão de futuro que, de ou até judicial. Nesse caso, admi-
o usa, em função da intensidade momento, ainda é prematura. to que deixem de ser vistos como
ou frequência do seu uso. Con- Mas que estará, certamente, em meras ferramentas e sejam en-
cordo que com os desafios que nos cima da mesa dentro de algumas tendidos como algo mais.
são colocados teremos de pensar dezenas de anos. Os próximos
sobre questões relacionadas com tempos prometem, por isso, dis- Contabilista – Admite que a in-

14 CONTABILISTA 281
ENTREVISTA

teligência emocional e humana


possa ser suplantada pela inteli-
gência artificial?
A.O. – A inteligência humana vai «Portugal até está relativamente bem
manter-se. Acho é que a inte- posicionado para beneficiar da IA,
ligência emocional também irá nomeadamente para contrariar a
existir nestes sistemas de IA. E crónica baixa produtividade e a fraca
isso não demorará assim tanto
capacidade para atrair recursos humanos
tempo. Penso que dentro de uma
qualificados.»
dezena de anos vamos ter siste-
mas de IA que demonstrem empa-
tia. Se é empatia simulada ou real,
logo veremos. E como sabemos a
empatia é uma característica fun-
damental, porque permite que as
pessoas dialoguem e percebam as mas fáceis de automatizar. Admi- tivamente mecanizável, rotineira
intenções dos outros, etc. to, por isso, que seja nestas áreas e pouco criativa. Porquê? Por-
que surjam as alterações mais que os sistemas, neste momento,
Contabilista – A IA terá impacto profundas. Contudo, pode ser um conseguem perceber pedidos em
diferenciado em termos do mer- processo relativamente rápido, língua natural e transformá-los
cado laboral? mas não instantâneo, até porque em solicitações às bases de dados.
A.O. – Parece-me relativamente as instituições não mudam de um Contudo, há muitas decisões que
óbvio que os trabalhos muito cria- dia para o outro. Teremos, por- os contabilistas tomam que não são
tivos ou muito estratégicos conti- ventura, uma janela de 5, 10, 15 tão trivais e que exigem uma sofis-
nuarão a ser desempenhados por anos de conversão da economia e ticação e uma criatividade maior.
seres humanos, com pouca auto- também para as pessoas se adap- Como classificar determinadas rú-
mação. Por outro lado, os traba- tarem a outros empregos. Por- bricas, diferir proveitos, etc.
lhos tradicionalmente pior remu- tugal até está relativamente bem
nerados – trabalhos físicos como posicionado para beneficiar da Contabilista – O papel de conse-
limpar as ruas, servir à mesa, IA, nomeadamente para contra- lheiro será cada vez mais o core
guia turístico, etc – podem ainda riar a crónica baixa produtividade destes profissionais?
estar a salvo, porque a robótica, e a fraca capacidade para atrair A.O. – O pensamento crítico dos
para interagir com o mundo físi- recursos humanos qualificados. contabilistas vai manter-se. Em
co, ainda não está suficientemen- Ou seja, dos poucos empregos que princípio, é no tipo de aconse-
te desenvolvida para esta substi- venham a ser eliminados, essas lhamento mais estratégico e de
tuição de seres humanos. Ou seja, pessoas até podem vir a ocupar alto nível, que uma máquina terá
os trabalhos que estão no meio da uma nova atividade onde sejam mais dificuldade em aproximar-
cadeia de valor serão os mais sa- mais úteis. -se. Neste domínio, o ChatGPT
crificados. Pessoas que lidam com também já dá conselhos bastan-
informação, com documentos… Contabilista – A aprendizagem te válidos. Tudo depende se é um
automática já permite fazer uma conselho com base na situação
Contabilista – Parece-me que demonstração de resultados e um financeira atual da empresa ou
está a descrever o trabalho de um balanço a partir do trabalho de se visa uma lógica prospetiva, em
contabilista… um contabilista? que se procura antever a evolução
A.O. – Sim, contabilistas, juris- A.O. – Já. Um contabilista proces- futura do mercado. Por isso, aos
tas, serviço de atendimento ao sa inteligentemente um pedido contabilistas competirá debruça-
cliente, seguros, por exemplo. São que lhe chega. Consulta registos rem-se sobre a vertente analítica,
profissionais que fazem tarefas de uma base de dados e elabora os olhando para os dados e daí extraí-
relativamente repetitivas e siste- resultados. Isto é uma parte rela- rem valor económico, como a aná-

SETEMBRO 2023 15
ENTREVISTA

«O pensamento crítico dos


contabilistas vai manter-se.
Em princípio é no tipo de
aconselhamento mais estratégico
e de alto nível, que uma máquina
terá mais dificuldade em
aproximar-se.»

lise de potenciais clientes, etc. Por a utilização de técnicas analíticas sua vertente com uma pergunta
outro lado, para aumentar a eficiên- para conhecer os seus clientes e téc- derradeira: o que é que nos reser-
cia, devem automatizar parcialmen- nicas de automação – para se torna- va o futuro do futuro?
te o seu trabalho, nomeadamente, a rem mais eficientes – vai-se tornar A.O. – A nossa civilização tecno-
elaboração de um relatório e contas cada vez mais decisiva. Apesar de lógica tem 250 anos, a Humani-
que já pode ser elaborado de forma tudo, admito que as empresas dade tem 200 mil anos e o planeta
parcialmente automatizada. mais pequenas, limitadas e fa- Terra tem milhares de milhões de
miliares, creio que continuarão anos. Acredito que a inteligência
Contabilista – Um estudo recente a existir, sempre circunscritas a e a civilização humana vão dei-
concluiu que metade das PME na- uma zona geograficamente espe- xar de ser simplesmente produto
cionais não usa tecnologias para cífica. Mas ao nível do tecido em- dos seres humanos e vão resultar
transição digital. Podemos estar presarial português seria desejá- de uma sinergia entre inteligên-
na iminência de um processo de vel ter, sobretudo, mais empresas cia humana e a inteligência arti-
darwinismo em termos de aptidão exportadoras. ficial. Provavelmente as sondas
tecnológica? que mandarmos para colonizar
A.O. – O tema do tecido empresarial Contabilista – No perfil que outros planetas vão ser sistemas
português escapa um pouco à minha ilustra o seu mais recente livro, de IA, porque não vai ser possível
área de conforto e tenho, por esse «Ciência, Tecnologia e Socieda- enviar seres humanos para outras
motivo, alguma dificuldade em ace- de» é descrito que «uma das suas estrelas. O futuro vai ser, por isso,
der a estatísticas finais, mas parece- atividades favoritas é especular muito diferente. Mas, garantida-
-me razoável assumir que as em- sobre o futuro da Humanidade mente, ninguém ousará antecipar
presas que têm uma ambição e visão neste planeta e no cosmos.» Per- como será a civilização humana
global, além do mercado nacional, mita-me, então, explorar essa daqui a mil anos. 

16 CONTABILISTA 281
NOTÍCIAS

Aprovadas alterações aos estatutos


das ordens profissionais
A 13 de outubro, no Parlamento

O Parlamento aprovou, a 13 de outu- trega das medalhas dos 25 anos, em


bro, as alterações aos estatutos das Coimbra, que decorreu no final desse
ordens profissionais, em votação final mesmo dia, Paula Franco não escondeu
global. a sua satisfação. «Tem sido um percur-
O texto final altera o regime jurídico so muito difícil, mas, para já, este é um
da constituição e funcionamento de estatuto que reforça as competências
20 ordens profissionais, entre as quais dos contabilistas certificados». Para fi-
se inclui a Ordem dos Contabilistas nalizar, a responsável máxima da insti-
Certificados. O documento aguarda tuição deixou ainda um agradecimento
publicação em «Diário da República», pelo «trabalho desenvolvido entre to-
após promulgação de Marcelo Rebelo das as partes que participaram neste
de Sousa. processo: o governo, os deputados de
Na intervenção da cerimónia de en- vários partidos e a Ordem».

Análise da OCC à proposta do OE para 2024


Disponível desde 11 de outubro
A Ordem disponibilizou, uma vez mais, pou-
cas horas após ser conhecido o documento
que Fernando Medina, ministro das Finan-
ças, entregou na Assembleia da República,
a análise à proposta de lei do Orçamento
do Estado para 2024, realizada pelos seus
consultores.
Dividida em dez pontos, esta análise apre-
senta, de forma sintética e esquematizada,
as alterações mais relevantes que será ne-
cessário ter em conta e que abarcam o IRS;
benefícios fiscais; IRC; IVA; imposto do selo;
IMT; IMI; contribuições extraordinárias,
SNC-AP e alterações ao Código do Proce-
dimento e de Processo Tributário.

Análise OCC

Proposta de Lei n.º 109/XV/2.ª

SETEMBRO 2023 17
NOTÍCIAS

Festa de Natal 2023


a sua espera
Nos dias 30 de novembro, e 1 e 2 de dezembro, em Lisboa e Porto

Pelo sexto ano consecutivo, a Ordem organi- Este ano, Nena é a grande cabeça de cartaz.
za para os seus membros e respetivos familia- A jovem artista, que se tornou conhecida com
res e amigos, a festa de Natal. o seu hit «Portas do Sol», promete cantar e
Tal como tem sucedido em edições anteriores, encantar miúdos e graúdos, como é de bom
e para que o maior número de contabilistas tom numa festa natalícia.
Festa de Natal 2023Para
à sua espera
certificados possa desfrutar da magia e do
divertir e surpreender
encanto do Natal, estão previstas quatro ses-
pela sua esponta-
neidade, está ainda previsto um momento de
sões, duas em Lisboa e duas no Porto. karaoke, em que serão protagonistas Joana
Na capital, no Auditório António Domingues Lopes e Norberto Gonçalves, contabilistas
de Azevedo (Av. Defensores de Chaves, n.º certificados com queda para a música.
85-B), a primeira sessão arranca às 19 horas Surpresas para os mais novos e atividades
do dia 30 de novembro (quinta-feira, véspera diversas compõem ainda o cartaz da edição
de feriado). A segunda sessão decorrerá no de 2023 e que prometem rasgar sorrisos junto
dia seguinte, 1 de dezembro, feriado nacio- dos destinatários mais jovens. O custo é de 20
nal, com início às 14 horas. euros por pessoa com idade igual ou superior
Nas instalações da Ordem no Porto (Largo a 18 anos. Crianças e jovens até aos 17 anos,
1.º de dezembro, n.º 43), o espírito natalício inclusive, têm entrada gratuita.
assentará arraiais durante todo o dia 2 de de- Se ainda não o fez, reserve, desde já, o seu
zembro (sábado), repartido por duas sessões. lugar. As inscrições são limitadas!
A primeira com início às 14 horas, a segunda
com arranque às 19 horas. Programa e inscrições

18 CONTABILISTA 281
NOTÍCIAS

9 349 participantes na formação


sobre boas práticas profissionais
Ciclo decorreu entre 25 de setembro e 13 de outubro

A Ordem promoveu, em todo o país, entre rações estatutárias a adiarem o projeto, a o fundamental mesmo, é mudar mentali-
25 de setembro e 13 de outubro, um ciclo bastonária referiu que «este é um guia de dades. Por exemplo, os profissionais são
formativo subordinado ao tema «Imple- orientação para a nossa profissão, que muito bons tecnicamente, mas falhamos
mentação de boas práticas profissionais.» pretende sistematizar conhecimentos, imenso como empresários.» Contudo, a
Foi a terceira ronda de formação eventual mobilizando-nos a todos para a vontade formação não termina aqui. Posterior-
do ano e foi, em vários aspetos, diferente do de melhoria e alavancagem, de forma a mente, para quem manifestar vontade,
habitual, a começar pelo próprio manual, passarmos para o patamar seguinte», será feita formação em contexto de tra-
que surgiu dividido em dez volumes, com referiu. balho, nos gabinetes, e só depois se se-
direito à respetiva caixa de arquivo. A responsável máxima da Ordem admitiu guirá a etapa de verificação. Um projeto
No total, participaram nesta ação, 9 349 que os dois primeiros volumes (que inte- para dois anos que ambiciona transfor-
pessoas, sendo 8 315 membros e 1 214 gram as questões estatutárias e deonto- mar a profissão e os seus executantes.
não membros, a esmagadora maioria cola- lógicas da profissão) do total de 10 que
boradores de contabilistas certificados nos compõem o manual, «vão sofrer altera-
respetivos gabinetes e escritórios. ções com o novo estatuto, mas não era
«Um grande desafio e um grande projeto», possível adiar mais.» A bastonária subli-
foi desta forma que Paula Franco classifi- nhou ainda a importância de participar
cou esta iniciativa no primeiro dia desta nas formações presenciais, como forma
formação, em Lisboa, diante de cerca de «de tirar os profissionais da sua zona
800 formandos que praticamente lotaram de conforto, obrigando-os a pensar e a
o Auditório António Domingues de Azeve- refletirem nos comportamentos do dia a
do. Depois de lembrar que, após cinco anos dia, os valores do rigor e cumprimento. É
de maturação, com a pandemia e as alte- imperioso otimizar o desempenho, mas

SETEMBRO 2023 19
NOTÍCIAS

Ordem alvo de ciberataque


No dia 7 de outubro
Texto Jorge Magalhães

Foram dias agitados, de muito trabalho e Ordem e outros serviços dependentes de dados sensíveis ou de danos causados
de muita apreensão. Fenómeno dos tem- da Pasta CC e site. Nesse mesmo comu- nos sistemas.
pos modernos, sem fim à vista, os cibera- nicado, a bastonária descrevia o suce- A 19 de outubro, finalmente, foi anunciado
taques surgem quando menos se espera e dido como «um complexo ciberataque», fumo branco. A bastonária divulgou novo
podem atingir qualquer um, seja entidade dando conta das diligências efetuadas. comunicado onde dava conta disso mesmo,
coletiva, seja mero utilizador individual. A 10 de outubro, em novo comunicado, afiançando que «a Ordem e a sua equipa
Na madrugada de 7 de outubro, sábado, Paula Franco atualizou a situação, refe- informática estão já a delinear uma estra-
a Ordem foi alvo de um desses ataques, rindo que «os trabalhos de recuperação tégia de reforço dos sistemas informáticos
inviabilizando o normal funcionamento de dos dados e reconstrução das platafor- por forma a mitigar riscos de eventuais
algumas das ferramentas mais usadas pela mas decorrem a bom ritmo e com suces- novos ataques. As autoridades policiais
instituição e pelos seus membros. so. Por precaução, e porque queremos estão a acompanhar, a par e passo, toda a
ter total garantia de que tudo corra situação e a Ordem continuará a colaborar
Comunicados a 8 e 19 de outubro bem, ainda não recolocamos todos os e a apoiar todo o processo por forma a que
No dia seguinte, 8 de outubro, a bas- serviços online. No entanto, começando os responsáveis pelo ataque sejam devida-
tonária emitiu um comunicado escrito, já a partir desta quarta-feira, 11 de ou- mente identificados e sancionados.»
divulgado nas redes sociais da Ordem e tubro, iremos restabelecer aos poucos Ficou o susto, e a certeza de que neste
uma mensagem vídeo, onde dava conta, toda a rede de sistemas informáticos da «admirável mundo novo», nada nem nin-
precisamente, de tudo aquilo que ficara Ordem.» guém está a salvo de atores pouco reco-
inoperacional. Foram os casos da Pasta Apesar de toda a complexidade, e após mendáveis. 
CC, do e-mail geral da Ordem, CCclix; longos dias de trabalho exaustivo e inin-
Comunicado
site; SICC; acesso a faturas; licenças do terrupto, a normalidade voltou, paulati-
TOConline e inscrições em eventos da namente, não havendo registo de fuga Comunicação Youtube

20 CONTABILISTA 281
NOTÍCIAS

Análise da Ordem à Lei n.º 56/2023


Na sequência da aprovação da Lei n.º
56/2023, de 6 de outubro, no âmbito do
Programa Mais Habitação, a Ordem dis-
ponibilizou nesse mesmo dia uma análise
ao normativo, incidindo sobre as medidas
legais com implicações fiscais. O pacote le-
gislativo proposto pelo governo entrou em
vigor a 7 de outubro. 

Análise OCC

Guia prático «Sociedades comerciais


- constituição e início de atividade»
Nono guia disponibilizado em finais de setembro
Dá pelo nome de «Sociedades comerciais - O guia prático de setembro está dividido,
Constituição e início de atividade». É este ao longo das suas 56 páginas, em duas
o tema do nono guia prático que a Ordem partes:
disponibilizou, a 27 de setembro, na se- - A legislação relevante para a constitui-
quência do projeto iniciado em janeiro de ção de sociedades comerciais;
2023 e que prevê a apresentação, na últi- - Constituição de sociedades e início de
ma quarta-feira de cada mês e até final do atividade. 
ano, de guias explicativos sobre matérias
fundamentais para o exercício da profissão. Guia prático

Calendário 2024 distribuído


com a presente edição
A exemplo de anos anteriores
Com a presente edição da revista «Conta- tendo ambos como objetivo assinalar
bilista» é distribuído um calendário de e chamar a atenção para as principais
mesa para 2024, razão pela qual, e a tí- datas fiscais que ocorrerão ao longo do
tulo excecional, este número 281 é dis- próximo ano.
tribuído a todos os membros. Este ca- Esta é mais uma ferramenta que a Or-
lendário, a exemplo de anos anteriores, dem fornece a todos os contabilistas
reveste-se de utilidade extra, uma vez certificados para complementar o apoio
que é acompanhado por um conjunto permanente que a presente gestão da
de marcadores autocolantes e um flyer, instituição adotou. 

SETEMBRO 2023 21
NOTÍCIAS

Bastonária participou na 10.ª conferência «Liderança Feminina», no auditório da OCC

«Um líder tem de ser


apaixonado
por aquilo que faz»
Texto Nuno Dias da Silva | Fotos Paulo Alexandrino (Executiva)

A bastonária participou, no dia 19 de ou- em liderar uma instituição que acolhe 68 mil brar os preconceitos que ainda subsistem».
tubro, na primeira mesa-redonda da 10.ª membros e 150 colaboradores. «Qualquer Para Paula Franco, esta viragem tem de ser
grande conferência «Liderança Feminina», líder deve ser gerador de confiança, tanto acompanhada pelo esforço de ver a conta-
promovida pelo projeto Executiva, que de- para a sua equipa, como para os outros que bilidade noutra perspetiva, «mais em tons
correu durante todo o dia no Auditório An- o rodeiam», começou por dizer. A basto- de rosa e menos cinzenta.»
tónio Domingues de Azevedo, em Lisboa, nária lembrou que nas recentes complexas Por seu turno, Sara do Ó, empresária e tam-
dedicada à temática «Inspiring women». situações, relacionadas com a Nova Lei das bém contabilista certificada, argumentou
«Os líderes como agentes de transforma- Ordens e o ciberataque à instituição, existiu que «os contabilistas certificados são os
ção», foi o assunto escolhido para um pai- a confiança por parte dos profissionais que grandes influenciadores do tecido empre-
nel que contou ainda com a presença de os problemas seriam resolvidos. E assim foi. sarial português», beneficiando, em grande
Sara do Ó, cofundadora e CEO do Grupo Para além do mais, a responsável máxima medida, do facto de estarem próximos da
Your, Frederico Lupi, CEO da Inapa e Lúcia da Ordem acrescentou que «um líder tem decisão. Cerca de 500 pessoas assistiram a
Cavaleiro, responsável de comunicação da de ser apaixonado por aquilo que faz» e este evento, que contou aproximadamente
Tabaqueira, subsidiária em território nacio- «demonstrar capacidade para mobilizar e com três dezenas de oradores que partilha-
nal da Philip Morris. alinhar equipas em torno de um objetivo.» ram mensagens inspiradoras e motivacio-
No que ao “universo” da contabilidade no nais, tendo em vista a valorização da lide-
Contabilidade em tons de rosa nosso país diz respeito, defendeu estar a rança feminina e a promoção de um mundo
Perante uma plateia esmagadoramente fazer tudo o que está ao seu alcance para mais paritário. 
constituída por congressistas do sexo femi- «operar uma grande transformação nas
Resumo e galeria fotográfica
nino, Paula Franco manifestou o seu orgulho mentalidades e, ao mesmo tempo, que-

22 CONTABILISTA 281
NOTÍCIAS

AG da FCM

A Fédération des Experts Comptables Médi-


terranéens (FCM), entidade contabilística
que reúne vários países do Mediterrâneo,
reuniu-se, a 28 de setembro, presencial-
mente e por via telemática, para a sua as-
sembleia geral. A Ordem, que integra esta
organização, esteve representada pelos
assessores da bastonária, João Ferreira da
Silva e Nelson Ferreira. 

OCC na Figueira da Foz

Sónia Lucas, consultora da OCC, (segunda


da esquerda para a direita, na foto) partici-
pou, a 29 de setembro, na 2.ª edição do Por-
tugal Business Summit na Figueira da Foz.
A iniciativa decorreu sob o tema genérico
«Preparar o futuro» e foi organizada pelo
«Mais Negócio Figueira da Foz», um grupo
de empresários que promove encontros de
networking com o objetivo de proporcionar
mais intercâmbios comerciais.

Celebração do 5 de outubro

Cristina Pena Silva, diretora da Ordem, es-


teve presente, em representação da basto-
nária, na cerimónia solene comemorativa do
113.º aniversário da Implantação da Repúbli-
ca, que decorreu ao final da manhã de 5 de
outubro, na Praça do Município, em Lisboa.
A sessão contou com as intervenções do
Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa e do presidente da Câmara Municipal
de Lisboa, Carlos Moedas. 

Portugal 2030
Anabela Santos, consultora da Ordem, mar- desenvolvendo no sentido de capacitar
cou presença, a 3 de outubro, num webi- os contabilistas certificados para o au-
nar sobre o Portugal 2030, promovido mento das competências profissionais.
pela consultora Baker Tilly. Esta inter- No caso concreto, foi abordado o papel
venção concretiza, em mais uma ação do contabilista certificado no âmbito
formativa, a missão que a Ordem vem dos incentivos do Portugal 2030. 

SETEMBRO 2023 23
XVII Encontro nacional dos contabilistas

1 620 participantes no XVII Encontro dos Contabilistas Certificados, no Porto

O espírito foi celta,


a mensagem foi de união
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Jorge Gonçalves e Pedro Granadeiro

O utubro e chuva
podiam, à pri-
meira vista, ser uma
acolheu o evento, o
Porto. Pelo menos
por um dia, ficou pro-
mistura de ingredien- vado que há mesmo
tes desmobilizadora vida para além da
para o convívio anual contabilidade.
dos contabilistas cer- São Pedro teimou em
tificados. Mas acon- não associar-se à fes-
teceu precisamente ta anual que celebra
o contrário. A data a união profissional
não foi obstáculo – desde as primeiras
para que os profissio- horas da manhã caiu
nais e suas famílias na cidade do Porto
viajassem de todo o uma chuva fina, mas
país até à cidade «In- persistente – mas
victa» e a chuva que também não foi o
praticamente caiu contratempo meteo-
durante todo o dia também não foi pro- sos rasgados e que ao tempo de inver- rológico a impedir que a festa anual dos
blema, levando a que todas as atividades no fizeram cara alegre. contabilistas certificados tenha celebrado a
se concentrassem no interior do espaçoso, Mas foi sob o signo e o espírito da cultura união profissional e o convívio entre colegas
Super Bock Arena, também conhecido por celta que se iniciou o XVII Encontro Nacio- do mesmo ofício e as respetivas famílias.
Pavilhão Rosa Mota. nal dos Contabilistas Certificados. Tiaras,
coroas, espadas e arcos com flecha, foram Uma despedida em apoteose
Sob o signo celta adereços associados à época histórica, Já é um clássico. Um Encontro Nacional
Domingo é sinónimo de descanso, reflexão ofertados a adultos e crianças no ato de sem a performance do contabilista cer-
e família. Mas foram muitos os profissio- credenciação. Já sem falar das tatuagens, tificado com queda para a música, Cel-
nais que abandonaram o remanso dos pinturas e jogos de mesa disponibilizados so Coelho, podia realizar-se, mas não
seus lares e vieram, a 15 de outubro de para deleite dos presentes à entrada do era, certamente, a mesma coisa. «Eu
2023, até ao XVII Encontro Nacional auditório da sala de espetáculos multiusos. quero ver essas palminhas», foi o apelo
dos Contabilistas Certificados, no Por- Objetivo: recriar o modo de vestir e de es- mobilizador do profissional de Tonde-
to, para conviver com colegas e apro- tar deste povo da Antiguidade que habitou la, repetido com insistência. Após ter
veitar o tempo de qualidade junto dos regiões da Europa entre os séculos II e III apresentado o seu mais recente lança-
seus entes queridos. Muitas pessoas A.C. E também houve oportunidade para mento, o single «Eu sempre acreditei»,
felizes, das mais diversas idades e das um momento cultural, com a partilha de Celso aproveitou o mote para partilhar
mais distintas proveniências, com sorri- curiosidades históricas sobre a cidade que uma mensagem de confiança: «Se nós

24 CONTABILISTA 281
XVII Encontro nacional dos contabilistas

quisermos, podemos ter a melhor pro- Sousa e Vergília Perdigão, o rock (com feita para uma festa que mereceu o elo-
fissão do mundo. Podemos sonhar, mas Joana Lopes e Norberto Gonçalves) e, gio generalizado. Não sem antes ainda
para concretizar o sonho é preciso acre- para a despedida, o mega clássico de se ter disponibilizado um lanche e um
ditar.» José Cid, «Um grande, grande amor», magusto aos participantes, bem apro-
Para além de música celta e das canções entoado a plenos pulmões por todo o priado para uma tarde, já sem chuva,
de partir corações de Celso Coelho, no pavilhão. O refrão «Addio, adieu, aufwie- mas com o céu cor de chumbo. O Encon-
XVII Encontro, realizado no Porto, tam- dersehen, goodbye, amore, amour, meine tro Nacional dos contabilistas regressa
bém existiu lugar para o fado (com Zita liebe, love of my life» foi a apoteose per- em… 2024, em local a definir. 

Um dia para celebrar

No discurso da praxe, a bastonária Paula


Franco agradeceu o empenho e o trabalho
desenvolvido pela comissão organizado-
ra, os colaboradores da Ordem e tam-
bém das empresas contratadas para este
XVII Encontro. Dirigindo-se aos membros,
acompanhados pelos seus familiares, pre-
sentes na arena do pavilhão Rosa Mota,
a responsável máxima da Ordem rego-
zijou-se com a casa cheia, referindo que
«sem a vossa presença não era possível
esta moldura humana. É muito importan-
te que participem sempre!». Paula Franco
aproveitou a oportunidade para lembrar
que na última sexta-feira foi aprovado o
novo estatuto da Ordem, sem a perda de
competências. «Este dia merece, pois, ser
comemorado», rematou.

SETEMBRO 2023 25
XVII Encontro nacional dos contabilistas

Uma surpresa chamada «CC Celtas»

Foi um segredo muito bem guardado. Até


ao último segundo. A comissão organizado-
ra do evento – composta por Bruno Silva,
Raquel Mota Pinto e Fernanda Freitas – pre-
parou uma surpresa que não estava sequer
no programa do XVII Encontro. Com a co-
laboração de alguns elementos da Assem-
bleia Representativa do Porto e de outros
órgãos sociais, o grupo «CC Celtas», exi-
biu uma coreografia, visualmente original e
bem ensaiada, com música e traje adequa-
do à temática do evento. A bastonária Pau-
la Franco subiu ao palco para agradecer a
iniciativa e aproveitou para referir: «Ainda
dizem que os contabilistas certificados são
cinzentos. Somos sérios e rigorosos, mas
muito bem-dispostos.»

Grande operação logística

1 620 pessoas encheram, por completo, o


espaço central da arena do Super Bock/Pa-
vilhão Rosa Mota, espalhadas por 150 me-
sas. O almoço do XVII Encontro Nacional
revelou-se uma operação logística de gran-
de envergadura para a qual contribuíram
110 empregados de mesa, 40 elementos na
cozinha, para além do apoio permanente
do nutrido staff da Ordem. A abertura de
portas aconteceu às 12h35, ao som de uma
banda celta, e a acomodação dos partici-
pantes nas mesas foi célere, visto que tinha
havido, antecipadamente, reserva de mesa.
Uma evento desta dimensão tem um gran-
de potencial de gerar desperdício alimentar,
mas para obstar a essa situação a Ordem
fez a doação dos bens alimentares ao nú-
cleo da Foz do Douro, da Refood.

26 CONTABILISTA 281
XVII Encontro nacional dos contabilistas

SETEMBRO 2023 27
XVII Encontro nacional dos contabilistas

28 CONTABILISTA 281
XVII Encontro nacional dos contabilistas

Os encontros dos contabilistas já entraram


na rotina e nas tradições dos profissionais e
das suas famílias. Com o selo de qualidade
da OCC, estes eventos, apesar do passar
dos anos, são fiéis à mesma receita de sem-
pre: gastronomia farta, música (portugue-
sa, com certeza) e convívio para alimentar
a alma.
Pela primeira vez um encontro da Ordem
foi dedicado a uma temática específica: a
cultura celta. O regresso ao passado, até
ao período celta, possibilitou que o espí-
rito, os hábitos e a cultura deste povo da
Antiguidade estivessem, em permanência,
em todos os recantos da Super Bock Arena,
mas foi a amizade e a coesão profissional
os valores do presente que prevaleceram.
Complicado começa a ser encontrar espa-
ços que consigam albergar todos os interes-
sados em participar nestas celebrações.

SETEMBRO 2023 29
XVII Encontro nacional dos contabilistas

Galeria fotográfica 1

Galeria fotográfica 2

30 CONTABILISTA 281
XVII Encontro nacional dos contabilistas

Ecos da festa
Que balanço faz do XVII Encontro dos Contabilistas?
Iniciativas desta natureza são úteis para promover a coesão profissional?

Juntar as peças todas num dia só


Cláudia Lapa, Porto

Faço um balanço muito positivo. De todas tre as pessoas. O ano passado, na Ma-
as edições em que já participei e penso lafaia, estava muito calor, aqui dentro
que foram cinco, foi a que mais gostei. do pavilhão é bem mais arejado. Este
Este ano notou-se uma organização evento permitiu promover um espírito
mais cuidada, tanto ao nível do almoço de partilha e de convívio entre colegas,
bem como da própria animação que foi trazendo a vida pessoal para a vida pro-
muita divertida. Foi tudo estruturado fissional. No fundo, foi juntar as peças
para propiciar uma maior interação en- todas num dia só.

Conciliar o melhor de dois mundos


Raquel Ferreira, Vila Nova de Gaia

Foi muito agradável. A minha experiência Vim na companhia do meu marido e do


neste tipo de eventos é recente, visto que meu filho. Dedicamos imenso tempo ao
é apenas a segunda vez que participo, trabalho, por isso, conseguir conciliar o
após me ter estreado o ano passado, na melhor de dois mundos e estar, ao mesmo
Malafaia. Este ano o espaço foi diferente, tempo, com colegas e família, é sempre
mas o que sobressaiu foi mesmo a orga- muito bom. Acredito que este evento tem
nização. A festa temática celta foi uma o condão de reforçar a união e a solida-
surpresa, e trouxe um espírito diferente. riedade entre os profissionais.

SETEMBRO 2023 31
XVII Encontro nacional dos contabilistas

O trabalho ficou à porta do pavilhão


Isabel Melo, Seixal
É a primeira vez que venho ao convivo que assim seria quando foi antecipada-
dos contabilistas certificados. Tenho mente divulgada a imagem do evento.
visto as referências e também os teste- Vim acompanhada pela minha colega
munhos de colegas sobre eventos ante- e sócia e da sua respetiva família. Foi
riores e, como fiquei curiosa, decidi vir muito importante conviver e falar de
este ano. outros temas externos à profissão.
Não foi uma completa surpresa as alu- Aliás, eu não falo de assuntos de traba-
sões à cultura celta, até porque deduzi lho vai para três dias…

Aprender a conviver com os colegas


Ângela Nunes, Seixal

É a minha primeira vez nestes encontros. te encontro, seria injusto estar a desta-
Fui arrastada pela minha colega e também car isto ou aquilo. Mas talvez salienta-
pelo apelo à mobilização que a bastonária ria o jeito de outros colegas para outras
fez nas reuniões livres semanais. É uma for- atividades, como por exemplo cantar.
ma de também aprender a conviver com os Foi surpreendente e muito divertido. O
colegas. Passamos muito tempo em frente que me leva a pensar que todos nós po-
aos papéis e esquecemo-nos, muitas ve- demos explorar outras coisas. A ver se
zes, de conviver. E foi basicamente isso para o ano, para além do marido e da
que me trouxe aqui. Gostei de tudo nes- sobrinha, também trago a minha filha.

Um fim de semana de trabalho zero


Aurora Pinto, Samora Correia
Foi muito bom. Gostei imenso e destaco, distração, apesar da distância até cá e
em particular, a forma como tudo foi or- do dia de chuva. Este foi um fim de sema-
ganizado. Destaco a parte da diversão, a na de trabalho zero. Nenhum. Descanso
comida e também o convívio. É a minha puro e duro. Para além disso, este even-
estreia e vim sozinha com o meu marido. to permitiu-me conhecer pessoas novas.
Tive de arranjar uma desculpa para sair Estes eventos servem, precisamente,
da frente do computador. Foi uma ótima para isto.

Mais motivação profissional


Manuel Carvalho, Braga
É a segunda vez que venho, depois do ano é uma forma para que nos sintamos ain-
passado, na Malafaia. E tenho muito pena da mais motivados na nossa profissão. Ao
ter perdido as edições anteriores. Mas da- mesmo tempo que convivemos, partilhamos
qui para a frente quero estar presente em dificuldades e passamos a conhecer-nos
todas. Foi, de facto, uma jornada muito in- melhor uns aos outros, trocando impres-
teressante e muito agradável. Partilhámos sões para resolvermos os problemas com
vivências juntos, entre os contabilistas: difi- que nos deparamos. Foi um dia de descan-
culdades e alegrias. Uma partilha muito útil so, mas no fundo também tivemos alguma
para a nossa vida profissional. Este convívio atividade profissional.

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

Apresentação do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2022

Informação fidedigna
ao serviço do País
Textos Jorge Magalhães | Fotos Raquel Wise

S ão já 19 as edições do Anuário Finan-


ceiro dos Municípios Portugueses. É
obra! A longevidade do projeto, iniciado em
Domingues de Azevedo, em Lisboa. Um ano
mais, assinale-se a presença dos responsá-
veis máximos da Ordem dos Contabilistas
co, na sessão de abertura.
Bem a propósito, a bastonária aproveitou
a conferência para lembrar, uma vez mais,
2004 por João Carvalho, mais tarde presi- Certificados e do Tribunal de Contas, duas a necessidade de as autarquias, mas tam-
dente do Instituto Politécnico do Cávado e entidades que, desde a primeira hora, têm bém de muitos outros organismos públicos,
do Ave (IPCA) e nos últimos meses de vida apoiado, cada uma à sua maneira, o projeto possuírem nos seus quadros contabilistas
presidente também da Mesa da Assembleia criado há praticamente duas décadas. Enti- certificados. «Temos ainda um longo cami-
Representativa da Ordem dos Contabilistas dades igualmente associadas a este traba- nho a percorrer. As contas depositadas no
Certificados, mantém-se bem vivo e é hoje, lho são o Centro de Investigação em Con- Tribunal de Contas deveriam ser assinadas
indiscutivelmente, a “bíblia” das contas do tabilidade e Fiscalidade (CICF) do IPCA e o por um contabilista certificado. Deve haver
poder autárquico em Portugal. Centro de Investigação em Ciência Política alguém que se responsabilize por aquelas
A 19.ª edição do Anuário, coordenada por da Universidade do Minho. contas do ponto de vista técnico. Espero
Maria José Fernandes, presidente do IPCA, «Esta é uma obra que se tornou uma refe- que o futuro nos traga o cumprimento des-
e que conta também com a participação de rência dentro desta área, o que beneficia se desejo. É um desafio que aqui deixo.»
Susana Jorge e Pedro Camões, docentes o país e todos os contribuintes. É infor- Afinal, avançou ainda Paula Franco, «os
universitários, referente às contas dos mu- mação fidedigna, que nos serve a todos CC são os profissionais em melhor posição
nicípios de 2022, foi este ano apresentado enquanto utilizadores e enquanto cida- para desempenhar este papel. Responsabi-
a 28 de setembro, no Auditório António dãos», fez questão de vincar Paula Fran- lizar significa ter qualidade na informação.

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

«Referência incontornável» de Contas, também ele, a exemplo dos seus


A exemplo do que sucedera já na apresen- antecessores, presença assídua nesta con-
tação do Anuário há um ano, Carlos Miguel ferência.
voltou a marcar presença neste evento, em Depois de ter recordado o papel de João
representação de Ana Abrunhosa, ministra Carvalho como mentor e «pai» desta
da Coesão Territorial. «Este Anuário é uma obra, - «Devemos agradecer este ver-
referência incontornável na observação dadeiro serviço público», recordou – o
Paula Franco das contas dos municípios portugueses. É juiz-conselheiro salientou aquilo que
uma fonte de informação sobre o que se será um dos eixos principais da atuação
vai passando em cada um dos municípios e da instituição a que preside: o acompa-
ser uma fonte de informação nos dias que
correm é uma ferramenta poderosa, até em
termos de comparação saudável entre os
municípios», referiu o secretário de Estado
da Administração Local e Ordenamento do
Território.
Carlos Miguel fez ainda questão de elogiar o
desempenho geral dos municípios, uma vez
A vinculação e a responsabilização trazem que «a evolução financeira é muito positiva, Carlos Miguel
boas contas, transparência e, acima de o que não quer dizer que tenham uma vida
tudo, imagem verdadeira e apropriada.» fácil.» E, socorrendo-se dos números, ata-
Porque de contas públicas se falava, a res- lhou: «Os municípios são responsáveis por
ponsável máxima da OCC lembrou ainda 13,6 por cento da despesa pública nacional
que a implementação do SNC-AP «tem mas, em contrapartida, são também res-
feito o seu caminho, mas poderíamos estar ponsáveis por 50 por cento do investimento
mais avançados.» Contudo, reconheceu, público nacional.»
«os municípios portugueses estão à frente Olhando de forma mais abrangente para
de muitas outras entidades públicas naqui- toda o edifício que sustenta, a nível legal,
lo que tem sido o respeito pela aplicação e a atuação dos municípios, Carlos Miguel
cumprimento do normativo.» defendeu uma nova lei das finanças locais:
Seja como for, uma certeza ressalta clara: «Não faz sentido, com a descentralização
«As contas públicas têm que ser o exem- de competências e com estas assimetrias
plo em qualquer país. Temos o sonho de territoriais, a atual lei. É necessário repen-
chegar às contas públicas consolidadas, sar de forma global aquilo que a lei das
mas ainda temos de caminhar muito até finanças locais hoje estipula e que deverá
aí chegarmos.» fazer de forma diferente no futuro. É uma
Cerca de três horas depois, já no encer- pretensão da Associação Nacional dos
ramento, Paula Franco voltaria a usar Municípios Portugueses e do Governo»,
da palavra, fazendo a síntese: «Habi- garantiu.
tação, saúde e educação foram as três José Tavares
grandes vertentes que aqui falamos, que Auditar os algoritmos
são centrais e devem preocupar qual- A sessão de abertura ficaria concluída com
quer país. Esperemos que nos próximos a intervenção de José Tavares. «O resultado
anos consigamos ultrapassar estes pro- desta iniciativa, que remonta a 2004, tem
blemas.» Contudo, pairam incertezas e contribuído para que seja um instrumento
dúvidas: «Como executar, sabendo que indispensável na análise e no conhecimento
há dinheiro, mas num curto período de aprofundado da realidade municipal portu-
tempo?» guesa», sublinhou o presidente do Tribunal

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

nhamento de todo o processo de descentra- nas 1 188 o foram em SNC-AP, ou seja,


lização. «Vamos acompanhar a par e passo cerca de 50 por cento.»
este processo, tendo em vista suscitar ques- Repescando a ideia defendida minutos
tões e apontar soluções para a boa aplica- antes por Paula Franco, José Tavares
ção dos recursos públicos», garantiu. confessou gostar muito das contas con-
Até setembro de 2022, o presidente do solidadas «porque elas é que nos dão a
TC revelou que tinham dado entrada 6 situação da família» e deixou um aler- Maria José Fernandes
222 contas através da plataforma ele- ta claro para o futuro, fruto dos novos
trónica. Dessas, «3 887 eram da adminis- tempos e tendências: «As tecnologias
tração local, das quais 3 497 em SNC-AP, ou da informação já não são uma opção,
seja, cerca de 94 por cento.» Por outro são uma obrigação, já não se pode vol-
lado, o retrato na administração central tar atrás. Temos que começar a preo-
não é tão colorido. «Das 2 335 contas cuparmo-nos em auditar os algoritmos,
da administração central que deram en- de forma a que asseguremos que a qua-
trada o ano passado até setembro, ape- lidade dos dados é verdadeira.»

Municípios com superavit de 459 milhões


As contas de 2022 do setor autárquico

É, por norma, o momento mais aguardado


destas conferências. A sumula da informa-
ção contida nas 490 páginas do Anuário re-
ferente às contas de 2022 foi apresentada
por Maria José Fernandes, a exemplo do
que sucedeu nos últimos anos, e permite,
como também sempre acontece, leituras
diversas.
Antes de passar aos números e percenta-
gens, a coordenadora da obra, começou por
recordar João Carvalho, o “pai” de todo o
projeto e o propósito que, há praticamen-
te duas décadas, o levou a deitar mãos à
obra. «Quando arrancamos, em 2004, ana-
lisamos apenas 175 municípios porque não
havia informação disponível, era impossível
termos acesso às contas. Dezanove anos
depois, percebemos que este trabalho é dos dados que disponibilizamos.» rio e dados do INE relativos a 2022, 25 são
fundamentalmente de serviço público, um Também a exemplo dos últimos anos, a de grande dimensão, 95 de média dimensão
trabalho que honra as instituições que nele apresentação do Anuário surgiu dividida em e 188 de pequena dimensão; 155 entidades
se envolveram e que tem vindo a crescer e a seis partes, a primeira das quais relativa à empresariais locais, das quais 126 são em-
ser útil para quem o utiliza. Muito trabalho caracterização do setor local em 2022: 308 presas municipais e 29 empresas intermu-
de investigação, muitas teses de mestrado municípios, dos quais, conforme o critério de nicipais; 24 serviços municipalizados, dos
e de doutoramento têm sido feitas a partir divisão dos municípios utilizado neste Anuá- quais dois são intermunicipalizados, detidos

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

por dois municípios cada e 3 091 freguesias. ritariamente de transferências, situando- Atente-se no peso significativo que a taxa
-se a média nacional nos 37 por cento. Em municipal turística tem no valor global das
Metade do investimento público 2022 houve um acréscimo generalizado da taxas, multas e outras penalidades cobra-
é feito pelos municípios independência financeira. das em alguns destes municípios, nomea-
Curiosos foram os dados apresentados re- damente em Óbidos (49,3 por cento), Porto
lativamente à caracterização dos municí- IMT supera o IMI (43,4 por cento), Lisboa (38,4 por cento),
pios portugueses em perspetiva compara- e taxa turística rende 56 milhões Faro (34,1 por cento) e Vila Real de Santo
da. Na análise com outros países europeus, No que toca à estrutura das receitas cobra- António (30,7 por cento). Lisboa foi o mu-
verifica-se que a média da população por das, e aqui a oradora entrou já na análise nicípio que arrecadou maior receita de taxa
município português de 33 432 habitantes orçamental, em termos globais, a receita municipal turística ao faturar 33,1 milhões
é superior à da maioria dos países euro- cobrada total aumentou 948 milhões de eu- de euros. Seguiu-se o Porto com cerca de
peus e aproximada aos valores da Grécia, ros, sendo que a receita fiscal, proveniente 14,9 milhões de euros.
Suécia e Holanda, sendo largamente ultra- de impostos, representa 36 por cento do to-
passada apenas, pela Dinamarca, Irlanda e tal da receita cobrada, seguido das transfe- Despesa com pessoal representam
Reino Unido. rências correntes com 35 por cento, vendas 31 por cento da despesa total
Não será novidade, mas os dados confir- de bens e serviços com 9 por cento e trans- No que respeita à estrutura das despesas
mam: existe um elevado grau de centraliza- ferências de capital com 8 por cento. Des- pagas, a coordenadora do Anuário referiu
ção financeira do setor público administra- taca-se o aumento de 500 milhões de euros que, em termos globais, a despesa paga to-
tivo. Revelou Maria José Fernandes que «as de transferências correntes, de 441 milhões tal aumentou 665 milhões de euros, sendo
despesas locais dos municípios portugueses de euros de receita fiscal e de 133 milhões que as despesas com pessoal constituem a
correspondem apenas a 13,6 por cento do de euros de vendas de bens e serviços. rubrica com maior volume de pagamentos
total das despesas públicas, valores que são Considerando o peso que os impostos di- e, consequentemente, com maior peso na
dos mais baixos, quando comparados com retos cobrados têm no total da receita, em despesa paga, representando 31 por cento
a média europeia de 29,8 por cento.» 2022, o montante global de impostos di- da despesa total. Esta despesa aumentou,
No que diz respeito ao peso do investimen- retos foi de 3 871 milhões de euros, mais em 2022, 321 milhões de euros, totalizando
to local no total de investimento público, 457 milhões de euros relativamente a 2021, os 3 273 milhões de euros. 287 municípios
Portugal apresenta um valor superior (50 sendo 44 por cento proveniente do IMT, 38 apresentaram aumento da despesa com
por cento) à média europeia (45,9 por cen- por cento do IMI, 8 por cento do IUC e 10 pessoal.
to), «o que sugere uma maior intervenção por cento da derrama. O peso da despesa paga com aquisição de
dos municípios portugueses nas atividades Pela primeira vez, o valor cobrado de IMT bens e serviços, no total da despesa autár-
de investimento público», acrescentou a ultrapassou o IMI, tendo-se registado um quica, foi de 26 por cento, ao apresentar o
oradora. Contudo, as receitas locais dos aumento total desta receita de 351,5 mi- valor total de 2 727 milhões de euros. Em
municípios portugueses correspondem a lhões de euros, isto é, 28 por cento relati- 2022 esta despesa aumentou 337 milhões
15,2 por cento do total das receitas públi- vamente a 2021. Por sua vez, a coleta de de euros.
cas, valores muito abaixo da média euro- IMI e da derrama aumentou 8,7
peia de 33,4 por cento. milhões de euros e 77,9 milhões
Já no tocante à independência financeira de euros, respetivamente.
(casos em que as receitas próprias repre- Outro dado, e outro tributo mo-
sentam, pelo menos, 50 por cento das re- derno que tem vindo a ganhar
ceitas totais) verifica-se que as receitas cada vez mais peso, dá pelo
próprias assumem um maior peso rela- nome de taxa municipal turís-
tivo nos municípios de grande dimensão, tica, sendo que em 2022, os 11
representando 62 por cento do total das municípios que a aplicam cobra-
receitas destes municípios, e que, em con- ram 56,4 milhões de euros, o que
trapartida, nos municípios de pequena di- representa, em média, 30,8 por
mensão as receitas próprias representam cento do total das taxas e, em
apenas 28 por cento das receitas totais, média, 2,4 por cento do total de
sendo estes municípios dependentes maio- receita cobrada.

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

despesa inferior ao volume de receita dis-


ponível para a pagar.

Dívidas a terceiros
com ligeiro aumento
A terceira parte da apresentação deste
anuário dizia respeito à análise económico-
-financeira.
Na totalidade dos 308 municípios verificou-
-se que, em 2022, o ativo total aumentou
1 598 milhões de euros, os fundos próprios
(acrescidos dos proveitos diferidos) aumen-
taram 1 227 milhões de euros e o passivo
aumentou 371 milhões de euros.
Os fundos próprios representam 86 por
cento do ativo total, e os passivos 14 por
cento.
Analisando a evolução das dívidas a tercei-
ros, é clara a descida acentuada da dívida
desde 2011 até 2020.
Contudo, desde 2021 que a dívida a pagar
dos 308 municípios apresenta um ligeiro au-
mento, tendo totalizado uma subida de 66
milhões de euros de 2021 para 2022, isto é,
mais 1,5 por cento. Este aumento foi, qua-
se na sua totalidade, das dívidas correntes,
que subiram 65 milhões de euros.
Em dezembro de 2021, dos 17 municípios
em incumprimento do limite da dívida,
quatro apresentaram uma dívida total su-
perior a três vezes a média de receita dos
três últimos exercícios. Estes municípios já
aderiram ao procedimento de recuperação
financeira municipal; um apresenta uma
Feitas as contas, analisando a evolução receita cobrada deste ano, incluindo o dívida total superior a 2,25 e inferior a 3
global das receitas e das despesas nos saldo de gerência, foi de 12 882 milhões vezes a média de receita dos três últimos
308 municípios, verifica-se que, quando de euros e que o montante de despesa exercícios; e 12 apresentaram o valor da
incluído o saldo de gerência anterior, a paga foi 10 612 milhões de euros, conclui- dívida total superior a 1,5 e inferior a 2,25
receita liquidada de 2022 aumentou 8,3 -se que, no final de 2022 existiu um saldo vezes a média da receita corrente líquida.
por cento relativamente a 2021, tendo de tesouraria de 2 270 milhões de euros, É ainda de referir que 34 municípios apre-
a despesa comprometida no mesmo na globalidade do setor autárquico. Este sentaram sinais de alerta precoce, nos ter-
período aumentado 5,3 por cento. O saldo foi superior em 459 milhões de eu- mos do n. º 1 do artigo 56.º do RFALEI. Por
diferencial positivo entre a receita li- ros ao total de compromissos por pagar outras palavras, àquela data, estes municí-
quidada e a despesa comprometida ve- contabilizados no final de 2022, pelo que pios apresentaram um valor de dívida to-
rificou-se em 158 municípios (mais 13 se conclui que o setor apresentou um su- tal igual ou superior à média da receita
municípios do que em 2021). peravit económico correspondente a este corrente líquida cobrada nos últimos
Considerando que o valor registado na valor, tendo-se assumido um volume de três exercícios.

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

Dívida dos grupos autárquicos


nos 5 428 milhões de euros
Na análise ao setor empresarial local (SEL),
avançou Maria José Fernandes, existiam
158 entidades empresariais locais das quais
foi possível obter informação de 144. Fo-
ram constituídas duas novas empresas, am-
bas intermunicipais; foram dissolvidas cinco
e seis empresas encontram-se numa ou
mais das situações dispostas no art.º 62.º
da Lei n.º 50/2012, devendo ser dissolvidas.
Agregando a dívida dos municípios com a
dívida das empresas e serviços municipali-
zados, ou seja, a dívida dos grupos autár-
quicos, verifica-se que no final de 2022, a
dívida agregada dos grupos autárquicos
estimou-se em 5 428 milhões de euros,
verificando-se um aumento de 70 milhões
de euros, fruto do acréscimo da dívida dos
municípios e dos serviços municipalizados.
A dívida a pagar dos 308 municípios au-
mentou 66 milhões de euros, a das 121 em-
presas do setor empresarial local, das quais
foi possível obter informação financeira de
2012 a 2022, diminuiu 2 milhões de euros, e
a dívida de 22 dos 24 serviços municipaliza-
dos em atividade nesse ano, aumentou 6,6
milhões de euros.
De notar ainda que o peso da dívida do SEL
na dívida global tem aumentado, repre-
sentado 16 por cento da mesma em 2022,
quando em 2012 era de 10 por cento, em
resultado principalmente da descida acen-
tuada da dívida dos municípios no período
de 2012 a 2022.

Distrito de Faro na liderança


Se há capítulo que merece especial atenção
é o dos rankings globais. O que ditaram os
números de 2022? Pois bem, eis alguns dos
resultados: considerando a distribuição dos
municípios com melhor pontuação por dis-
trito ou região, verifica-se que 69 por cento
dos municípios do distrito de Faro, ou seja,
11 municípios, fazem parte dos 100 municí-
pios com melhor pontuação. Destacam-se
ainda o distrito de Leiria e Lisboa, onde se

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

englobam nove municípios de cada nestes ranking dos 100 melhores. aproximados na maioria dos indicado-
100 municípios (56,3 por cento de cada dis- No que concerne à pontuação obtida pe- res, havendo uma maior divergência em
trito). los municípios de cada dimensão (gran- «impostos por habitante.»
No lado oposto encontram-se os distritos de, média e pequena, respetivamente) Estas foram, de uma forma global, as
de Coimbra e Évora: têm apenas um dos em função de cada um dos indicadores contas que os municípios portugueses
seus 17 e 14 municípios, respetivamente, considerados para este ranking, Sintra, apresentaram em 2022. Na segunda
nesta lista. Tavira e Santana obtiveram pontuações metade do próximo ano, cá estaremos
Os restantes 13 distritos apresentam entre que lhes permitiram liderar em cada para analisar as contas referentes a
10 a 54,5 por cento dos seus municípios no um dos escalões e revelaram números 2023.

Há dinheiro. Não há tempo para o aplicar!


Debate sobre habitação e PRR aponta para conclusão invulgar

Pedro Mota e Costa (moderador), Carlos Carreiras (Cascais), Benjamim Pereira (Esposende), António Leitão (IHRU) e Gonçalo Lopres (Leiria)

Falou-se de habitação, saúde, educação e, lasse de habitação e temas conexos, mas Pedro Mota e Costa, economista e docente
de uma forma indireta, de paz, ou da falta os lamentos e preocupações de Benjamim universitário, e agora também um dos ros-
dela em diferentes latitudes. Com todos es- Pereira, Carlos Carreiras e Gonçalo Lopes, tos das «Reuniões Livres SNC-AP», que a
tes ingredientes, vem «à memória uma fra- respetivamente presidentes de câmara de Ordem inaugurou a 6 de novembro, assu-
se batida», ou melhor, o refrão de uma mú- Esposende, Cascais e Leiria, e também de miu o papel de moderador e tentou balizar
sica bem conhecida de Sérgio Godinho: «Só António Leitão, presidente do Instituto da o debate onde, como se verá, e ao contrário
há liberdade a sério quando houver/ A paz, Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), do que é habitual, ninguém se queixou da
o pão/ habitação/ saúde, educação (…)». acabaram por abarcar também outros pi- falta de dinheiro, mas antes da falta de tem-
O tema do debate proposto «Desafios lares essenciais da vida de uma sociedade, po e de engenho (ou excesso de burocracia)
da governação local – Estratégia local de evocando, ainda que involuntariamente, a para o tentar estender. «Quais são os desa-
habitação e Plano de Recuperação e Resi- música de Sérgio Godinho que conheceu a fios e as estratégias locais de habitação de
liência (PRR)» deixava antever que se fa- luz do dia em… 1974. cada município? O que é que isso representa

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

para os municípios? Como gerir depois es-


tes equipamentos, já sem as verbas do Pla-
no de Recuperação e Resiliência?», foram Carlos Carreiras: «Há dinheiro. Mas não há tempo. Temos uma legislação que
as questões deixadas no ar. não permite sequer acelerar o tempo e, em alguns casos, induz que, para se
Carlos Carreiras foi o primeiro a usar da pa- cumprir a legislação, tenhamos que fazer má gestão. Tudo isto é uma quadra-
lavra e foi muito direto: «Há dinheiro. Mas tura do círculo. Num país em que ajuste direto é crime, pelo menos aos olhos
não há tempo. Temos uma legislação que da comunicação social, leva-nos a um conjunto de incongruências.»
não permite sequer acelerar o tempo e, em
alguns casos, induz que, para se cumprir a
legislação, tenhamos que fazer má gestão.
Tudo isto é uma quadratura do círculo. Num Benjamim Pereira: «No momento em que se criou o fenómeno da reabilitação
país em que ajuste direto é crime, pelo me- urbana, surgiu algo de pernicioso: foi colocado à disposição dos investidores
nos aos olhos da comunicação social, leva- dinheiro, mas não foi acautelado o fim último a dar a esses imóveis. A com-
-nos a um conjunto de incongruências.» ponente da habitação ficou praticamente eliminada nas zonas centrais das ci-
O autarca de Cascais lembrou que a sua câ- dades, uma vez que muito desse edificado foi para a oferta turística. Por isso,
mara vê com bons olhos a questão da des- somos todos corresponsáveis.»
centralização, mas levantou dúvidas quanto
à sua eficácia. «Mesmo que o Estado cen-
tral queira fazer delegação de competên-
cias e transferir os valores corretos, temos dimensão não são muito diferentes. Ben- central. Começa pelos terrenos. Depois
um problema: o Estado não sabe quais são jamim Pereira começou por lamentar que vêm as licenças. Há casos gravíssimos que
os valores corretos, não tem nenhuma con- «os municípios e o IHRU não fizeram o que condicionam tudo. Os pareceres são outro
tabilidade analítica que lhe permita saber poderiam ter feito em relação à habitação.» problema: é um drama, perdem-se meses,
o que está a transferir e quanto é que isso O presidente da câmara de Esposende lem- por vezes anos. Somados todos estes pra-
custa.» Acrescente-se, lembrou Carreiras, brou que «no momento em que se criou o zos e problemas passaram-se já meses ou
outro dado relevante: «Mesmo que o valor fenómeno da reabilitação urbana, surgiu anos sem chegarmos ainda ao lançamento
transferido seja inferior ao valor total da algo de pernicioso: foi colocado à dispo- do concurso para construção. Como é que
despesa, mesmo assim há atrasos constan- sição dos investidores dinheiro, mas não conseguimos executar fundos do PRR, com
tes nesse pagamento. Na área da educação, foi acautelado o fim último a dar a esses os seus prazos apertados, passando por
por exemplo, estamos permanentemente imóveis. A componente da habitação ficou todo este calvário?»
com cerca de 3,5 milhões de euros em atra- assim praticamente eliminada nas zonas
so. Isto gera desconfiança. Um sistema que centrais das cidades, uma vez que muito País sem capacidade de resposta
se quer descentralizado não funciona se desse edificado foi para a oferta turística. O testemunho que Gonçalo Lopes trouxe
não houver confiança.» Por isso, somos todos corresponsáveis.» sobre Leiria foi um pouco mais longe. «O
De volta à habitação, Carlos Carreiras Em Esposende, explicou o autarca, exis- PRR existe devido a uma pandemia que pôs
esclareceu que a câmara está a comprar te um programa de reabilitação urbana, a descoberto um conjunto de fragilidades
terrenos em zonas edificáveis «por valo- através de uma ONG. «É um projeto com que os países tinham. As autarquias deram
res medianos» e a «lançar construção em 30 anos. Vamos junto das populações que nesse período respostas de proximidade
terrenos inicialmente destinados a equipa- vivem de forma menos digna, e intervimos muito positivas e extraordinárias», adian-
mentos», mas deixou um alerta muito sério diretamente nessas habitações para dar tou o autarca leiriense para quem o Gover-
para o futuro: «Pela legislação que temos, dignidade às mesmas. Com a vantagem de no, conduzido por «um ex-presidente de câ-
estamos a criar um problema: o valor que é as pessoas permanecerem no local onde mara e conhecedor do perfil dos autarcas,
passível de ser pago de rendas, não dá se- vivem.» sabe que a melhor maneira de aliviar carga
quer para garantir a manutenção futura do Assumindo que o seu concelho vive mo- é colocá-la em quem está próximo das pes-
edificado. É um ónus que fica.» mentos de «forte pressão urbanística», soas e em quem tem capacidade de execu-
Benjamim Pereira apontou baterias a ou- ção. Os autarcas foram mobilizados para
O «calvário» da burocracia tro obstáculo estrutural: «Burocracia, bu- uma missão de enorme responsabilidade, a
Os problemas de um concelho de média rocracia, burocracia é o nosso problema que nunca poderíamos dizer que não.»

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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022

Na educação, por exemplo, «tínhamos em


Leiria 600 funcionários e de um dia para o
outro ficamos com 1 200. Imaginam a pres- Gonçalo Lopes: «O Estado não pode encarar os presidentes de câmara como
são que isto causa nos serviços?» Depois, naïves, porque felizmente o nível qualitativo dos autarcas é muito elevado. Não
anotou ainda este edil, «as escolas que fica- nos tratem dessa forma. A descentralização não pode ser encarada nesta lógica
ram fora do programa “Parque Escolar” co- de que há um poder central superior e um poder local que é inferior, e que até
meçaram a chegar agora à câmara, sendo é um bocadinho ingénuo, e vai atrás do que a gente quer.»
que passaram os últimos 15 anos a marcar
passo, sem obras de requalificação. Agora
pedem-nos para as arranjar. Estamos a fa-
zer projetos, mas depois vem a burocracia. António Leitão: «Temos hoje um problema que não se resume à camada da
E temos também o problema da capacidade população que tem menos recursos, para passarmos a ter cada vez mais franjas
produtiva. O país não tem capacidade de da população com dificuldade em aceder à habitação. A necessidade de políti-
resposta para tantas obras. Os prazos de cas públicas que deem resposta a esse problema torna-se mais urgente.»
execução têm que ser dilatados.»
Com este quadro instalado, Gonçalo Lopes
lembrou que «o Estado não pode encarar os
presidentes de câmara como naïves, porque mia e isto é um grande problema. Um aluno às obras palpáveis e visíveis. Precisamos de ter
felizmente o nível qualitativo dos autarcas é licenciado custa ao Estado 100 mil euros…» esta máquina permanentemente a trabalhar.»
muito elevado. Não nos tratem dessa forma. Aqui chegados, o autarca da cidade do Lis O resultado de toda esta inação acumulada
A descentralização não pode ser encarada deixa um conselho: «Tudo o que estamos a levou a que «tenhamos hoje um problema
nesta lógica de que há um poder central viver, países como a França já viveram há que não se resume à camada da população
superior e um poder local que é inferior e alguns anos. Portanto, os problemas que que tem menos recursos, para passarmos
que até é um bocadinho ingénuo e vai atrás vamos ter daqui a uma década, são iguais a ter cada vez mais franjas da população
do que a gente quer.» Por isso, a exemplo aos que estão a acontecer agora em Paris. com dificuldade em aceder à habitação. A
do que já se ouvira, também Gonçalo Lopes Temos de ser capazes de antecipar e tentar necessidade de existir políticas públicas que
deixou claro que «a descentralização nunca fazer melhor.» deem resposta a esse problema torna-se
poderá avançar se não estiver assente numa mais urgente.»
lógica de confiança e convicção.» Falta de políticas públicas O presidente do IHRU recordou que há uma
Para não fugir à introdução deste relato, fa- A mesa redonda ficaria completa com a in- resposta integrada no âmbito do PRR «que
lou-se também de saúde. «O que estamos tervenção de António Leitão. Ao repto lan- procura cobrir várias áreas, mas sabemos
a receber da descentralização é assustador. çado pelo moderador sobre se vê os municí- todos que a pressão do tempo incorre sobre
Os serviços de enfermagem que são presta- pios como parceiros, o presidente do IRHU todos nós e é o grande desafio.»
dos ao domicílio são feitos com táxis, com não teve dúvidas em responder afirmativa- Em jeito de epílogo, Pedro Mota e Costa
despesas assustadoras», exemplificou o au- mente, até porque «ambos concorrem para lembrou que os municípios são destinatá-
tarca. Outra situação gritante: «Tenho um o mesmo objetivo. Sem essa parceria temo rios de cerca de 5,5 mil milhões de euros do
centro de saúde feito que não é aberto por- que não haja sucesso.» PRR, ou seja, cerca de 33 por cento. «Não
que não tenho médicos.» Ou seja, defende Para este responsável há uma evidência que é a capacidade financeira que falta, essa
o autarca, «não basta colocar dinheiro, pre- ressalta clara: «Houve falta de política pública abunda. A capacidade de resposta é que
cisamos também de uma estratégia para a nível nacional e, portanto, o IHRU e os orga- poderá colocar em crise a concretização
fixação de recursos humanos.» nismos que o antecederam não ocuparam o desse objetivo.» Ou seja, há dinheiro. Fal-
A dificuldade de recrutamento de pessoas espaço que deveriam ter ocupado.» Leitão foi ta apenas o engenho (e a arte) para o lidar
para concretizar projetos foi outra das do- mais longe, ao lembrar que «um dos grandes com o tempo! 
res de cabeça que Lopes indicou. «Os inves- problemas foi, de facto, este hiato de tempo
Galeria fotográfica
tigadores, jovens talentosos, não estão cá. em que nada aconteceu. Colocar a máquina a
Exportamos talento e qualificações e esta- funcionar, colocar tudo a trabalhar, leva o seu Transmissão integral
mos a importar mão de obra desqualificada tempo, é inglório para todos, mas é um traba-
e de baixos salários. É esta a nossa econo- lho que é invisível, mas necessário para chegar Anuário Financeiro 2022

SETEMBRO 2023 41
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

COIMBRA •13 de Outubro de 2023

Lição de gratidão na «cidade


dos estudantes»
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Ricardo Almeida

A quarta etapa do ciclo de entrega de


medalhas 2023 realizou-se a 13 de
outubro, em Coimbra, no mesmo auditó-
eventos, que percorrerão o país até mea-
dos de dezembro, são a prova inequívoca
de que esta é uma instituição próxima e
é de interesse público e é preciso destacar
o serviço inestimável prestado às empre-
sas, sempre em prol de um Portugal me-
rio onde horas antes havia terminado o de afetos porque, também aqui, por mais lhor», acrescentou a líder da instituição.
XIX Congresso Internacional de Contabi- simbólicos que sejam, os gestos também Antes do início do emocionante momento
lidade e Auditoria (CICA). E, praticamente contam. de entrega das medalhas, Paula Franco
à mesma hora, em Lisboa, a Assembleia salientou ainda o facto de muitos dos con-
da República aprovara, na generalidade, Um serviço em prol tabilistas certificados presentes no audi-
a alteração ao estatuto da OCC, com os de um país melhor tório da escola de negócios de Coimbra
profissionais a manterem as suas compe- No curto discurso de boas-vindas que di- estarem acompanhados das respetivas
tências exclusivas. rigiu às cerca de duas centenas de pes- famílias. «É um momento de tão grande
Na «cidade dos estudantes», onde se soas que lotavam o auditório do ISCAC, importância e significado que merece que
funde tradição, modernidade e conheci- na Quinta Agrícola da Bencanta, a bas- o celebremos com as pessoas de quem
mento, a principal lição a retirar desta tonária Paula Franco salientou o percurso mais gostamos», acrescentou.
cerimónia, que homenageou 95 conta- de crescimento e sucesso que a profissão
bilistas certificados, resumiu-se a uma tem trilhado ao longo de mais de 25 anos. Galeria fotográfica
única palavra: gratidão. Até porque estes «A profissão que todos desempenhamos

42 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

COIMBRA •13 de Outubro de 2023

A OPINIÃO DOS HOMENAGEADOS

Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?

«O apoio fundamental ao empresário


na tomada de decisão»
no meu escritório, mais concretamente na últimos tempos: acompanhar esta lógica
minha secretária, para eu poder olhar para crescentemente desmaterializada. Quan-
ela. do comecei a trabalhar, há 25 anos, a do-
2 – O primeiro momento marcante foi cumentação era uma peça fundamental, e
quando recebi, da então Câmara, a carta a hoje já não o é. Trabalhamos muito com a
informar que a minha inscrição tinha sido informática e a documentação desmate-
Nuno Cruz
aceite. A partir daí foi seguir em frente, com rializada. E a tendência será precisamente
CC n.º 47 085
dias bons e outros menos bons. O stress e a essa: a desmaterialização total. O conta-
1 – É um dia muito importante, visto que é pressão diária são, porventura, os aspetos bilista continuará a acompanhar o empre-
o culminar de 25 anos de trabalho e de de- mais negativos associados a esta profissão, sário, aconselhando-o da melhor forma
dicação a uma profissão para a qual estudei normalmente devido aos apertados prazos. que souber. No fundo, o profissional será o
e me preparo todos os dias. É um desafio 3 – Acredito que o contabilista continuará apoio fundamental do empresário na toma-
diário e constante. Esta medalha vai ficar no mesmo rumo que tem vindo a seguir nos da de decisão.

SETEMBRO 2023 43
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

COIMBRA •13 de Outubro de 2023

«Reconhecimento de uma parte da nossa vida»


sável desta instituição, que nos vem dar, cutível o crescimento e a afirmação
presencialmente, valor e louvor pelo que a profissão tem tido, especialmen-
trabalho realizado. Esta medalha vai fi- te nos últimos anos.
car no meu escritório, num local espe- 3 – Espero uma vida mais facilitada –
cial onde seja possível recordar estes tanto ao nível de legislação, como de
25 anos que, no fundo, são uma parte equipamentos – e acredito que o apro-
da nossa vida. fundar da área digital também possa
Sandra Brandão 2 – Devo dizer que tenho acompanha- ajudar. O mundo dos papéis e dos nú-
CC n.º 44 326 do este processo com alguma distân- meros não é fácil. Chega-se ao fim do
1 – É relevante para quem exerce a ati- cia, porque apenas exerci a profissão dia com a cabeça "embrulhada" e sobra
vidade, ainda para mais quando é a pró- fugazmente, visto que enveredei pela pouca disponibilidade para a vida fa-
pria bastonária, como mais alta respon- banca desde o ano 2000. Mas é indis- miliar.

«Contabilidades totalmente informatizadas


e digitalizadas»
neste caso, a banca. Faz todo o sentido atualizações que diariamente a Ordem
continuarmos a pertencer a uma institui- fornece aos seus membros. É, por isso,
ção que diariamente nos fornece informa- com o maior orgulho, que mantenho ati-
ção e formação tão importante para o va a minha inscrição na OCC.
nosso dia a dia. Esta medalha vai direi- 3 – Em 2048? Se calhar a entrega de
tinha para o meu escritório, para que medalhas será feita por um robô! (risos)
todos os dias a possa contemplar. O desenvolvimento informático será
2 – Apesar de trabalhar na banca, no aprofundado e estou em crer que no fu-
Sofia Reis
diálogo ao nível do aconselhamento turo teremos contabilidades totalmente
CC n.º 44 780
que mantenho com os clientes é preciso informatizadas e digitalizadas. Contu-
1 – É o assinalar de uma etapa. Conti- abordar diretamente temas relaciona- do, acredito que o contabilista reforçará
nuamos a pertencer a uma ordem profis- dos com a contabilidade, como emprés- a sua vertente de conselheiro, relegan-
sional, apesar de, como eu, ter seguido a timos, investimentos, leasing, etc. Por do até para um segundo plano o aspeto
minha carreira noutro setor de atividade, isso, necessito das informações e das das contas.

44 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

ÉVORA •16 de outubro de 2023

Os membros, o mais valioso


património da instituição
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise

A quinta etapa do ciclo de medalhas


dos 25 anos passou no dia 16 de
outubro por Évora. Na representação
momentos mais ou menos desafiantes.
Foi um dia de celebração para os 28
profissionais que receberam a medalha,
os membros devem saber valorizar os
bons momentos em detrimento dos mo-
mentos menos bons. «É preciso realçar
permanente, na Rua do Iroma, na cidade como símbolo de gratidão. «Este é um aquilo que deram ao país e ao tecido
museu, património mundial da UNESCO, dia de festa e que ficará, certamente, na empresarial português. Somos uma peça
a Ordem homenageou o mais valioso pa- memória de todos», começou por referir fundamental para alavancar a econo-
trimónio que possui: os seus membros. Paula Franco, na sua breve intervenção mia», realçou.
No fundo, todos os que deram o seu me- de boas-vindas. A bastonária acrescen-
Galeria fotográfica
lhor, ao longo dos últimos 25 anos, em tou que no quarto de século que passou,

SETEMBRO 2023 45
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

ÉVORA •16 de outubro de 2023

A OPINIÃO DOS HOMENAGEADOS

Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?

«A profissão e os profissionais não acabarão»


porque o meu filho também já é contabilista e merecida para quem tem estado na lide-
certificado, o que é a garantia de continui- rança dos destinos da Ordem por ter sabi-
dade do meu trabalho. Enquanto estiver no do resolver os problemas que têm surgido.
ativo, a trabalhar, esta medalha vai ficar 3 – É difícil prever o que vai acontecer
no escritório, em Reguengos de Monsaraz, daqui a 25 anos, mas estou em crer que
bem perto de mim, e também para mostrar a informática continuará a ajudar-nos
Domingos Santana aos meus clientes. muito. Até porque as exigências são
2 – Tem sido um percurso fulgurante, em cada vez maiores. Acredito também que
CC n.º 39 414
que muita coisa se alterou ao longo dos toda a papelada que ainda temos nos
1 – É o corolário de uma longa caminhada. anos, em particular ao nível da responsa- nossos escritórios irá desaparecer por
Árdua, com altos e baixos, com avanços e bilidade. Dantes, trabalhávamos mais para completo e ficará tudo digitalizado. Mas
recuos. Bem me lembro o difícil que foi o as finanças e nos últimos anos estamos a profissão e os profissionais não aca-
reconhecimento como técnico oficial de cada vez mais focados em ajudar e prestar barão e o aconselhamento continuará
contas. Felizmente, sinto um orgulho duplo apoio aos empresários. Uma palavra justa a ter um papel fundamental.

46 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

ÉVORA •16 de outubro de 2023

«O contabilista nos meios pequenos faz tudo»

especial. Esta medalha vai ficar guardada tes, mas o contabilista nos meios pequenos
no meu escritório, também para os meus faz tudo. Até uma simples carta vem parar
clientes verem. Faço questão de exibi-la a nós.
com muito orgulho. 3 – É inevitável que as transformações
2 – A evolução foi muito grande, apesar das fruto da sofisticação da tecnologia vão
Fernanda Vinagre dificuldades que foram bastantes. Mas tive- continuar e a nós só nos restará acom-
mos sempre a Ordem na retaguarda para panhar. Aliás, como até aqui temos fei-
CC n.º 40 452
nos ajudar, em particular na altura da pan- to, adaptando o nosso trabalho a essas
1 - É muito importante para a nossa pro- demia. Sempre fui contabilista no interior, mudanças. Só podemos olhar para estas
fissão e reconhece o nosso esforço ao lon- neste caso em Mora, e considero que é, ao alterações tecnológicas como um aliado
go destes anos. Estou muito orgulhosa por mesmo tempo, fácil e difícil. Há uma maior do nosso trabalho. Primeiro estranha-
receber esta medalha. Este é um dia muito proximidade (quase familiar) com os clien- -se, depois entranha-se…

Levar a medalha até à «última morada»

viver, este momento será recordado para tes tudo o que eles merecem. A dignifi-
sempre. Esta medalha vai ficar guardada cação da profissão também evoluiu muito
no meu escritório, em Montemor-o-Novo. – nada tem que ver com a situação de há
Depois, irá comigo para o quarto da resi- 25 anos. E é justo mencionar que a nossa
dência e, quem sabe, deixarei escrito que, Ordem tem sido muito importante, dan-
aquando do meu funeral, quero levá-la do-nos muita força e apoio, em todos os
Cipriano Dias
comigo para a minha última morada. aspetos.
CC n.º 47 537 2 – Ainda sou do tempo dos guarda-livros 3 – Sou, por natureza, um otimista po-
e tenho acompanhado a evolução até aos sitivo. O contabilista continuará a estar
1 – Estou muito grato. É, certamente, um dias de hoje, com alguns altos e baixos. muito perto do empresário. Já o papel de-
dos dias mais importantes da minha vida. Os avanços tecnológicos não têm sido fá- saparecerá por completo. Estou em crer
Tenho 74 anos – ainda estou no ativo - e ceis de acompanhar para pessoas com a que as novas gerações vão ter mais facili-
é a segunda vez que sou "condecorado" minha idade, mas tenho o meu trabalho, dade de ficarem entrosadas com as novas
e nos poucos anos que me restam para proporcionando sempre aos meus clien- tecnologias.

SETEMBRO 2023 47
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

LEIRIA • 24 de outubro de 2023

Celebrar a felicidade, em dia


de tempestade
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise

Q uem disse que não se deve voltar a


um sítio onde já se foi feliz? No fi-
nal da tarde de 24 de outubro, a Ordem
memorável», disse a bastonária no início
da sua intervenção. Paula Franco subli-
nhou ainda que o dinamismo empresarial
multiplicidade de indústrias e empresas
que contribuem para o todo nacio-
nal. Contudo, esta pujança não seria
regressou a um auditório onde, anual- e económico que o distrito de Leiria tem possível sem a intervenção e o toque
mente, promove, em parceria com a registado, nos últimos anos, deve-se, em pessoal dos contabilistas certificados
Escola Superior de Tecnologia e Gestão grande medida, ao contributo dos pro- e do seu contributo «para o bem-estar
do Instituto Politécnico de Leiria (ESTG/ fissionais, papel esse que, mais recente- económico do país», como sublinhou a
IPL), a sempre bem-sucedida conferência mente, se encontra mais focado na pers- bastonária.
de Fiscalidade e Contabilidade. Apesar petiva da sustentabilidade ao serviço da Esta cerimónia foi mais uma demonstra-
da intempérie que durante todo o dia evolução e crescimento das empresas. ção de uma instituição presente e pró-
se abateu sobre a cidade do Lis, a ce- xima dos seus membros, estejam eles
rimónia de entrega das medalhas a 126 O toque pessoal dos profissionais onde estiveram. Afinal, ao contrário do
profissionais do distrito que perfazem 25 Segundo dados referentes ao final do que se diz, é possível reencontrar a feli-
anos de inscrição foi, ao fim e ao cabo, ano passado, Leiria tinha 3 174 profis- cidade em locais onde ela já nos sorriu.
a celebração da felicidade. «Não quere- sionais inscritos da Ordem. Este distrito Mesmo num terrível dia de chuva… 
mos que esta homenagem seja mais um da região centro é um dos mais dinâmi-
momento, mas sim fazer dela um grande cos do país, do ponto de vista empre- Galeria fotográfica
momento da vossa vida, uma cerimónia sarial e tecnológico, contando com uma

48 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

LEIRIA • 24 de outubro de 2023

A OPINIÃO DOS HOMENAGEADOS

Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?

«Uma rede de apoio para os profissionais»

em Monte Real, onde sou sócia, para mos- distante quanto isso – terá muita automa-
trar aos meus colaboradores e clientes. ção e automatização. Haverá programas
2 – Francamente, não gostei dos anos li- autónomos em que o contabilista introduz
derados por Domingues de Azevedo, não a informação e as máquinas fazem os cál-
representou a instituição como devia. Já culos. Provavelmente, como noutros países,
esta bastonária tem uma postura diferente. a contabilidade será feita de uma outra for-
Tem representado, e bem, a profissão e os ma. O apuramento de resultados pode ser
Natalina Domingues
profissionais, perfilhando ideias e ideais que idêntico, mas o apuramento de resultados
CC n.º 40 148 também defendo. Atualmente, sinto que a fiscais deve ser feito de forma diferente,
Ordem funciona como uma espécie de rede como já existe noutros países da Europa.
1 – É o festejo de 25 anos de uma carreira de apoio para os profissionais. Portugal ainda tem muita burocracia e mui-
muito exigente. A medalha ficará exposta 3 – Não sei qual será o papel do contabi- to papel para chegar a um resultado que
no meu local de trabalho, no meu escritório, lista, mas acredito que o futuro – e não tão ainda hoje é maleável.

SETEMBRO 2023 49
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

LEIRIA • 24 de outubro de 2023

«Sermos cada vez menos escravos


das instituições públicas»

2 – A evolução institucional passou por continuar a lutar para agilizar o cumprimen-


diversas fases, de Câmara a Ordem, mas to dos prazos fiscais e para que sejamos,
foi nos anos mais recentes que se sentiu cada vez menos, escravos das instituições
a melhoria do apoio, também ao nível da públicas. Ao mesmo tempo continuaremos
salvaguarda dos nossos direitos e tam- a dignificar a nossa profissão. Costumo di-
bém no apoio fiscal e jurídico. Gostaria zer o seguinte a uma contabilista que está a
de destacar a utilidade do consultório iniciar funções: «O digital é bom, mas tens
Lina Carreira
técnico e da diversidade das formações de saber fazer as coisas à mão.» Se ape-
CC n.º 50 195
que a Ordem disponibiliza. Os próprios nas se carregar no botão não se fica com
1 – É o reconhecimento de uma profissão contactos com a instituição estão muito a mínima noção do que é ser contabilista
de grande desgaste e um dia que nos faz mais simples e facilitados. certificado. O digital é apropriado para ter
lembrar todos os colegas e os clientes com 3 – Em 2048 cumprirei os 50 anos de profis- respostas mais céleres, mas não podemos
quem nos cruzamos e que ajudamos. Ainda são. Faço votos para que a Ordem continue deixar que nos tirem o tapete à conta disto
estou indecisa entre guardar a medalha no a fazer o que tem feito – e mais ainda, se e que deixemos de ser uma mais-valia para
escritório ou em casa. Decidirei em breve. possível – pelos seus membros. É preciso qualquer empresa.

«Menos operativos e mais estrategas»


isso é que seguimos esta carreira. Aliás, contabilidade tradicional, tal como a
é preciso gostar a sério do trabalho que conhecemos, não vai deixar de existir,
fazemos. Esta medalha já tem um can- mas passará, certamente, por grandes
tinho muito especial para ficar, no meu transformações. E o contabilista certifi-
escritório, no trabalho. cado, mais do que nunca, será chamado
2 – Estes últimos 25 anos foram muito a apoiar o empresário e a ajudar nas de-
Jorge Rodrigues
desafiantes e gratificantes. Talvez por cisões estratégicas das empresas. Vamos
CC n.º 45 809 estar mais próxima no tempo, a pan- ser menos operativos e mais estrategas.
demia foi um período de superação. De Um lado menos positivo, é que creio que
1 – É um momento de grande simbolismo uma forma geral, a Ordem tem evoluído este novo contexto não atrairá tantas
e também de reconhecimento pelo des- num sentido muito positivo. A bastonária pessoas quanto aquelas que seriam de-
gaste que todos os profissionais que tem feito um excelente trabalho e isso sejáveis. A renovação profissional e a
abraçaram esta profissão têm sofrido, reflete-se, diariamente, no acompanha- própria retenção de talento será, por
especialmente nos últimos anos. Contu- mento que é dado aos membros. isso, um trabalho complexo. Tenho dois
do, esta profissão tem tanto de desgas- 3 – Nos próximos anos a profissão vai filhos a cursar engenharia e foram firmes
tante, como de motivante e aliciante. Por voltar a enfrentar grandes desafios. A em não querer seguir as pisadas do pai.

50 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

SETÚBAL • 25 de outubro de 2023

Uma medalha
com sabor a… Óscar
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise

Q uis o acaso que a cerimónia de en-


trega de medalhas aos 113 mem-
bros do distrito de Setúbal, tenha decorri-
últimos 25 anos estes profissionais têm
sido atores, produtores, realizadores e
argumentistas. Por isso, a medalha en-
gem de boas-vindas a bastonária referiu
ser esta uma «homenagem merecida ao
vosso esforço e dedicação», tendo subli-
do, a 25 de outubro, no Cinema Charlot, tregue pela Ordem, não tem a forma de nhado que «o crescimento do país só foi
no bairro de Liceu, na cidade sadina. Com uma estatueta dourada de Hollywood, possível também graças ao vosso contri-
efeito, a metáfora da 7.ª arte aplica-se mas tem mesmo sabor a um…Óscar. Não buto.» Após ter mencionado a importân-
como uma luva aos contabilistas certifi- do cinema, mas da contabilidade. Um cia do colar, a insígnia oficial do titular
cados. Foi um quarto de século preenchi- prémio de carreira. Com direito a passa- do cargo de bastonário da OCC, que tra-
do e intenso, com altos e baixos, muitos deira vermelha... zia ao peito, Paula Franco não terminaria
avanços e recuos, mas nunca abdicando a sua intervenção sem realçar a presen-
de um permanente esforço de reconheci- Sempre ao lado dos empresários ça de muitas famílias que se deslocaram
mento e dignificação. E se o icónico ator Numa região que ao longo das déca- até ao Cinema Charlot para acompanhar
britânico Charlie Chaplin não precisou das tem sido confrontada com imensos os seus entes queridos num momento de
de falar para encantar gerações, tendo desafios e dificuldades, os contabilistas celebração tão especial.
sido o «rei» da arte de comunicar sem certificados, na sua permanente relação
palavras, no «filme» que os contabilistas de parceria com os empresários, disse-
Galeria fotográfica
certificados protagonizam ao longo dos ram sempre «presente»! Na sua mensa-

SETEMBRO 2023 51
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

SETÚBAL • 25 de outubro de 2023

A OPINIÃO DOS HOMENAGEADOS

Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?

«Uma profissão mais vista e mais ouvida»

escritório. O local concreto ainda está fissão. O resultado é evidente: esta é


em fase de estudo. Mas escondida não uma profissão, atualmente, mais vista
ficará, certamente. e mais ouvida.
2 – A evolução institucional e dos pro- 3 – Vai ter obrigatoriamente de evoluir.
fissionais tem sido positiva, com maior O digital, que entendo ser uma mais-
notoriedade a acontecer aquando da -valia, vai fazer crescer os profissio-
Dora Rosado
pandemia de Covid-19. Esse foi o ponto nais. E a única alternativa perante esta
CC n.º 41 366 de viragem que obrigou a que apren- inevitabilidade é que nos vamos ter de
dêssemos, um pouco à força, a lidar adaptar. Por isso, em 2048 os documen-
1 - E muito importante. 25 anos é um com novas tecnologias e ferramentas. tos serão totalmente digitais, mas creio
número redondo e representa muito Gostaria ainda de sublinhar o papel da que continuaremos próximos dos em-
tempo. É um dia que nos vai ficar na me- bastonária, como o rosto desta pro- presários, do ponto de vista do acon-
mória. Para além de ter gostado muito fissão para chegar junto dos empresá- selhamento. E acredito que com bem
de ter conhecido a nossa bastonária, rios e até mesmo de outros agentes, menos burocracia do que a que ainda
pessoalmente. A medalha vai ficar no que nada têm que ver com esta pro- temos hoje.

52 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

SETÚBAL • 25 de outubro de 2023

«Um gestor de negócios e de pessoas»

tucionais na Escola Superior de Ciências cialmente, bem preparados. Contamos,


Empresariais do Instituto Politécnico de por isso, com esta interligação permanen-
Setúbal, como diretor da escola, e esta te e fundamental.
medalha vai para o meu gabinete, como 3 – O debate da digitalização está mui-
forma de inspirar e motivar todos os no- to em voga. O profissional só tem é de
vos estudantes de contabilidade e finan- crescer e de valorizar-se, atualizando
ças a serem profissionais de excelência. ainda mais os seus conhecimentos. Al-
Pedro Pardal 2 – Assistimos a uma consolidação cres- gumas tarefas ficarão obsoletas, mas
CC n.º 42 775 cente e exponencial da Ordem. É uma abrir-se-á um novo campo de atuação,
instituição com um peso e um número de de maior responsabilidade e visibilida-
1 – Este dia é muito gratificante do ponto membros bastante significativo, afirman- de. Perante isto, acredito que a profis-
de vista pessoal e a nível institucional re- do-se com uma instituição de referência são só terá a ganhar em termos de pro-
levo a importância de homenagear mere- que é invejada por muitas outras ordens. jeção. Não há, por isso, que ter medo.
cidamente todos estes homens e mulheres A academia olha para a Ordem como um No futuro, o contabilista para além de
que lutaram pelo sucesso e desempenho parceiro de exceção. Estamos cientes da profissional, vai ser um gestor de negó-
do tecido empresarial e da atividade eco- grande responsabilidade que temos em cios, um gestor de pessoas, um consul-
nómica. Tenho responsabilidades insti- formar novos contabilistas e, preferen- tor informado e qualificado.

SETEMBRO 2023 53
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

PORTALEGRE • 26 de outubro de 2023

Profissionais
todo-o-terreno
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Nuno Ribeiro

A 21 de Setembro de 2021, a data da


inauguração da representação de
Portalegre, coincidiu com as celebrações
fissionais que completam, este ano, 25
anos de inscrição na instituição.
país.» Esta cerimónia coincidiu com um
dos grandes eventos do ano para a re-
gião, a Baja Portalegre 500, a mais an-
do Dia do Contabilista. As histórias e Dia de S. Mateus fora de época tiga prova de todo-o-terreno nacional e
«estórias» do saudoso empresário Rui Foram 27 os contabilistas certificados uma das mais prestigiadas da modalida-
Nabeiro e os acordes do alentejano de que fizeram deste um dia tão especial. de a nível mundial. Não causou, por isso,
gema, António Zambujo, fizeram com Uma espécie de dia de S. Mateus fora de surpresa que alguns membros tenham
que esse fosse um dia memorável. Pouco época. «Olhem para a medalha que vão chegado já depois da habitual foto de
mais de dois anos depois, a 26 de outu- receber e recordem os momentos bons e família. A apresentação oficial da pro-
bro de 2023, a Ordem regressou ao Alto também os momentos menos bons que va realizou-se, à mesma hora, a poucos
Alentejo, em dia de invernia pouco típica viveram e sintam o orgulho de pertencer metros da representação da Ordem, no
destas paragens, para mais uma genuí- a uma profissão que muito contribuiu central Rossio de Portalegre. 
na demonstração de descentralização e para melhorar o tecido empresarial por-
Galeria fotográfica
de proximidade, homenageando os pro- tuguês e para um futuro melhor do nosso

54 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

PORTALEGRE • 26 de outubro de 2023

A OPINIÃO DOS HOMENAGEADOS

Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?

«Prestar um serviço com a qualidade de sempre»


pletamente merecidas, de uma carreira e e complexo trabalho.
de um trabalho que é desempenhado há 25 3 – Já seria uma grande vitória se em
anos. Invariavelmente, rodeados de papéis 2048 estivéssemos aqui todos para receber
e mais papéis e com grande paciência para a medalha dos 50 anos. Mas até lá, o im-
ultrapassar as burocracias deste país. Esta portante é fazer mais e melhor, continuando
medalha irá comigo uns dias para o escritó- a prestar o serviço com a qualidade de sem-
rio, mas depois repousará na sala da minha pre. Relativamente às novas tecnologias,
Anabela Vicente casa, em Ponte de Sor. entendo que não devem ser vistas como um
CC n.º 49 401 2 – Acho que estamos no rumo certo. A bicho papão. Antes de mais, não devemos
bastonária tem feito um bom trabalho, cruzar os braços e teremos de acompanhar,
1 – É um dia da maior importância em em crescendo, e espero que seja para tal qual já fizemos com outros desafios no
termos de dignificação da profissão. Um continuar. Sentimos que não estamos passado, como aconteceu com a desmate-
reconhecimento e uma valorização, com- sozinhos a executar o nosso tão difícil rialização das declarações fiscais.

SETEMBRO 2023 55
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

PORTALEGRE • 26 de outubro de 2023

«O toque humano na tomada de decisão


não será substituído»

vai direitinha para a secretária do meu es- 3 – Isso já não será para o meu tempo,
critório, em Elvas, onde sou diretor técnico. mas prevejo que com a sofisticação das
2 – O tempo tem demonstrado o quão im- novas tecnologias e com a introdução
portante é a profissão de contabilista cer- da inteligência artificial os automatis-
Antonio Cipriano tificado. No fundo, os profissionais são o mos vão facilitar, em grande medida, o
CC n.º 38 908 elo de ligação, nomeadamente, entre nosso trabalho. Apesar disso, o nosso
o fisco e o próprio empresário. Sem o trabalho manual e de aconselhamento
1 – É uma cerimónia de grande importân- nosso contributo, dificilmente as em- ao empresário não será, de todo, substi-
cia em que é reconhecida a nossa profissão. presas teriam a evolução positiva que tuído. O toque humano na tomada de de-
Não posso estar mais orgulhoso. A medalha têm tido. cisão não será substituído por máquinas.

«Muita luta, muito trabalho e muita responsab ilidade»

lho e também muita responsabilidade. de, no seguro de responsabilidade civil,


Se depender de mim, espero ficar ou- no consultório técnico ou em ferramen-
tros 25. Esta medalha fica no meu es- tas informáticas inovadoras, como o
critório, em Sousel, juntamente com os CCclix.
outros diplomas e certificados. 3 – O anúncio da morte da profissão e
2 - Com a atual bastonária, Paula Fran- dos profissionais é um manifesto exa-
co a evolução tem corrido de forma gero. Num passado distante, sempre
Jorge Serafim mais positiva. A questão da Nova Lei houve contabilistas, com outro nome,
CC n.º 42 479 das Ordens foi uma areia na engrena- mas sempre existiram. Foram, são e
gem, mas tudo leva a crer que a situa- continuarão a ser preponderantes na
1 – Este evento tem um grande signifi- ção se resolverá a contento. O dinheiro atividade económica. No futuro tudo
cado para mim e acredito que para to- que pagamos nas quotas é muito bem será desmaterializado, mas não será
dos os colegas. É um orgulho ter estado aplicado e, mesmo apesar do aumento possível prescindir de alguém que ana-
25 anos a representar esta profissão. registado para 15 euros, o retorno é lisa as contas e os números. E esse al-
Foram anos de muita luta, muito traba- muito superior: seja no seguro de saú- guém são os contabilistas certificados.

56 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

BEJA • 27 de outubro de 2023

Os resistentes
do «Portugal profundo»
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Lauriany Ribeiro

À s 12 horas em ponto iniciou-se a


cerimónia de entrega das medalhas
aos membros do distrito de Beja, a 27 de
Fernandes, n.º 28, facto que foi enaltecido
pela bastonária Paula Franco.
nomia e o tecido empresarial de uma re-
gião que se encontra bastante distancia-
da dos grandes centros urbanos. Por isso,
outubro. Foram mais concretamente 23 Um obstáculo esta cerimónia, no coração do chamado
os profissionais que se deslocaram à re- chamado interioridade «Portugal profundo», se fosse traduzida
presentação da OCC no centro da capital Depois de ter considerado esta homena- num gesto, seria inquestionavelmente um
do Baixo Alentejo. Para além do porme- gem «singela, mas sentida», a responsá- grande abraço. Um genuíno agradecimen-
nor da pontualidade, em Beja, também vel máxima da OCC sublinhou ainda a re- to por tudo e por tanto, ao longo deste
aconteceu algo inédito: pela primeira vez, sistência e a dedicação dos profissionais último quarto de século.
considerando os oito eventos já realiza- do distrito, tendo em conta um obstáculo
dos, todos os inscritos marcaram pre- de monta chamado interioridade, como Galeria fotográfica
sença nas instalações da Avenida Miguel grande contributo para alavancar a eco-

SETEMBRO 2023 57
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

BEJA • 27 de outubro de 2023

A OPINIÃO DOS HOMENAGEADOS

Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?

«A contabilid ade não se faz só com tecnologia »

nagem que nos valoriza. Ser contabilista últimos anos. Temos sabido encarar as difi-
no interior não é tarefa fácil. Felizmente culdades, ultrapassando-as. Os últimos anos
temos uma Ordem sempre disponível foram de valorização para esta profissão, es-
para apoiar, mas nem sempre é simples pecialmente em dois momentos tão difíceis,
obtermos informação da forma mais rá- como foi a pandemia e a recente Nova Lei
pida para resolver os problemas que os das Ordens. Sublinho que sem mais valoriza-
nossos clientes nos colocam. As novas ção, não conseguiremos avançar.
Ana Maia tecnologias têm mitigado essas dificulda- 3 – Espero que a profissão e os profissionais
CC n.º 44 009 des. Esta medalha vai ficar exposta no escri- resistam à evolução tecnológica. A contabi-
tório para os clientes verem. lidade não se faz só com tecnologia. Sem o
1 – É um dia representativo do nosso tra- 2 – Foi um percurso acidentado, mas são toque pessoal de um profissional, a profissão
balho, esforço e dedicação. É uma home- notórias as melhorias, em particular nos perderá valor.

58 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

BEJA • 27 de outubro de 2023

«Uma profissão diferente,


mas interessante e atrativa»

de, onde sou o sócio-gerente. 3 – Sublinho a crescente visão e sensi-


2 – A profissão não é a mesma de há 25 bilização que os profissionais têm tido
anos. Há uma grande diferença no reco- para um caminho sem retorno, que é
nhecimento dos profissionais, muito por o da digitalização. As profissões vão
Ricardo Roque
causa do papel da Ordem. O contacto adaptar-se e transformar-se face às no-
CC n.º 49 680
com os organismos e entidades públicas vas exigências e às novas realidades. O
é muito mais organizado, direcionado mundo muda e aos contabilistas só res-
1 – É o justo e merecido reconhecimen- e complementar entre as partes. A Or- ta adaptarem-se às alterações que vão
to de 25 anos de profissão. Comecei a dem é um interlocutor mais reconhecido impactar na sua atividade. Haverá me-
exercer pouco depois da minha inscri- e isso é, naturalmente, benéfico para nos trabalho mecanizado executado por
ção na então Câmara. E é preciso re- nós. O difícil período do Covid foi ultra- parte do contabilista, mas ficará a seu
ferir o papel da nossa instituição que passado com o apoio inestimável que cargo a vertente da análise e do trata-
nos tem acompanhado ao longo desta a OCC prestou aos seus membros, em mento de dados. Estou convicto que te-
caminhada. Esta medalha vai ficar na estreita articulação com as entidades remos uma profissão diferente, mas que
sede da minha empresa de contabilida- públicas. continuará a ser interessante e atrativa.

«Profissio nais fundamen tais


na organizaç ão da sociedade »
meu trabalho, cumprindo as obrigações, termos de afirmação institucional. A
tanto para com o cliente, como para evolução da responsabilidade que com-
a administração fiscal. Não é fácil ser pete aos profissionais também tem sido
contabilista no interior, mas o digital, sempre em crescendo. Somos o apoio das
nomeadamente as formações online, empresas e dos empresários a todos os
vieram facilitar muito o trabalho. Até níveis – administrativo, contabilístico, fis-
Carla Deodato porque, e é com mágoa que digo isto, cal e até em pequenas situações.
na localidade onde trabalho, em Cas- 3 – No meu caso particular, espero con-
CC n.º 44 595
tro Verde, não vejo os colegas muito tinuar a trabalhar porque gosto muito do
unidos na partilha de informação. Esta que faço. E faço votos para que haja mais
1 – É o reconhecimento de um esforço medalha vai ficar pendurada na parede união. Acredito que reforçaremos o nosso
imenso, ao longo dos anos, para tentar do meu gabinete, na empresa onde sou papel já preponderante na ligação entre
ser uma boa profissional. Invisto muito colaboradora. o contribuinte e a Autoridade Tributária e
na formação e não faço engenharia fi- 2 – Este percurso foi muito difícil. Os seremos cada vez mais fundamentais na
nanceira, o que são pontos básicos no últimos anos foram determinantes em organização da sociedade.

SETEMBRO 2023 59
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

FARO • 27 de outubro de 2023

Gritos de júbilo, abraços


sentidos e olhos marejados
pela emoção
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos José Barros

É um final de tarde como outro qual-


quer. 27 de outubro, sexta-feira, já
cheira a fim de semana e as grandes
cada que, apesar de residir em Coimbra,
por encontrar-se no Algarve, inscreveu-se
para receber a medalha nesta região. Foi
desta natureza sirva de exemplo para es-
tarmos mais vezes juntos. A Ordem tem
feito a sua parte para estar mais próxima
superfícies comerciais que circundam a uma das mais vibrantes cerimónias deste dos membros. Agora, precisamos que os
representação da Ordem, em Faro, come- ciclo de medalhas 2023, tendo havido vá- profissionais façam a sua.» A bastoná-
çam a ficar apinhadas de gente. As ins- rios gritos de júbilo e incentivo, abraços ria acrescentou ainda que «é a partir de
talações da instituição na capital algarvia sentidos, muitas fotografias para a pos- iniciativas e convívios, nomeadamente
também conheceram um dia diferente do teridade e alguns olhos marejados pela através de jantares ou almoços, como os
habitual. Estiveram praticamente lotadas emoção. que se realizam após estas cerimónias de
com os 62 homenageados e respetivos entregas de medalhas, que aprendemos e
familiares para a nona etapa do ciclo de Fomentar a proximidade evoluímos com a troca de impressões en-
entrega de medalhas dos 25 anos. Mas entre colegas tre pares.» 
não se pense que eram todos algarvios. Paula Franco começou por referir ser este
Galeria fotográfica
Houve, inclusive, uma contabilista certifi- «um dia para festejar. Que um evento

60 CONTABILISTA 281
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

FARO • 27 de outubro de 2023

A OPINIÃO DOS HOMENAGEADOS

Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?

«A base e os alicerces de sempre»

ber da área internacional de um grupo mento a recente convulsão relacionada


empresarial da Arábia Saudita, mas com a Nova Lei das Ordens, e o que me
nunca perco de vista a contabilidade apraz dizer é que os líderes políticos e
como referência indispensável. É uma governamentais devem ter a noção do
base fundamental quando hoje analiso quão importante, foi, é e será esta ins-
projetos e demonstrações financeiras, e tituição para Portugal. O selo do conta-
Noel Gomes continua a ser o selo de credibilidade da bilista nas empresas, seja o profissional
CC n.º 45 489 informação de uma qualquer empresa. externo ou interno, é de extrema rele-
É fundamental para a minha tomada de vância.
1 – Esta medalha tem um significado decisão. O meu trabalho obriga a via- 3 – À semelhança de outras áreas, esta
especial porque, no fundo, foi a base gens frequentes, mas a medalha ficará profissão terá que acompanhar os de-
da minha carreira e são os alicerces do na minha casa de Portugal, junto de ou- senvolvimentos que surgirem, fazendo o
trabalho que hoje desempenho ao nível tros marcos igualmente importantes da match com a inovação tecnológica. Não
da gestão e de estratégia de negócio. minha vida. tenho dúvidas que a nossa profissão
Sou gestor, trabalho como board mem- 2 – Acompanhei com algum distancia- será bem-sucedida.

SETEMBRO 2023 61
CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)

FARO • 27 de outubro de 2023

«Mais exigência e também mais desgaste»

sempre tive uma especial predileção por Muito pelo contrário. Aliás, estou em crer
números, pela contabilidade e mais tar- que sem esta bastonária e a sua direção,
de também gostei de fiscalidade. A me- muitos colegas já teriam desistido.
dalha vai para o meu gabinete de con- 3 – A profissão de contabilista certi-
tabilidade, em Tavira, num lugar com o ficado nunca irá acabar, até porque
devido destaque, junto ao diploma de está diretamente ligada com questões
Cristina Santos membro efetivo da Ordem. fiscais. O que faz toda a diferença. O
2 – O caminho até aqui não tem sido Estado quererá continuar a cobrar im-
CC n.º 39 946
fácil. Comparativamente ao período em postos e as boas empresas (porque,
1 – É um marco na minha vida pessoal e que comecei, noto que há cada vez mais com toda a sinceridade, são essas
profissional. Na verdade, foi uma longa exigência, mas também há muito mais que nos interessam) também precisa-
batalha, muito particular. Era um sonho desgaste. Felizmente, nos últimos anos, rão sempre de um bom profissional a
de vida ser alguém, conseguir ter uma em termos institucionais, não poderia auxiliá-las. Com trabalho, rigor e exi-
profissão digna. Não vou dizer que era ser melhor o apoio que temos, a todos gência, esta profissão continuará a ser
a profissão com que sempre sonhei, mas os níveis. Não me sinto desamparada. imprescindível.

«Os contabilistas vão ser sempre insubstituíveis»

Hoje em dia, a fiscalidade e a contabi- minação e confiança.


lidade são muito mais complexas, mas 3 – Os contabilistas vão ser sempre in-
os apoios também são muito maiores do substituíveis. O futuro, estou em crer,
que há 25 anos, por exemplo. Esta me- será de cada vez maior reconhecimento,
dalha vai direitinha para a secretária do especialmente por parte do tecido empre-
Ana Paula Viegas meu escritório, em Conceição de Tavira, sarial. Aliás, há cada vez mais empresá-
que tive a ousadia de abrir em março de rios que vêm falar connosco, para pedir
CC n.º 49 431
2020, em plena pandemia. opinião e orientação sobre determinado
1 – Quando recebi a primeira mensa- 2 – Tem sido um percurso complicado, investimento. É algo que constato, no
gem da Ordem a informar-me que era mas a nossa Ordem tem sido fundamental dia a dia. A tecnologia não faz tudo e os
elegível para receber a medalha, recor- para motivar os profissionais, ajudando- empresários precisam de apoios. E essa
dei tudo aquilo que passei para chegar -os a alcançar os objetivos. Há dias em muleta, em muitos momentos, somos nós.
até aqui. Foi uma grande luta. Na ver- que estou mais em baixo e é a força e Aliás, sublinho que gosto de empresários
dade, há 33 anos que trabalho nesta a capacidade de superação que a nossa informados (e que são cada vez mais),
área. Comecei aos 18 anos. Não havia bastonária transmite que me permitem porque são esses que se dirigem aos pro-
formações, computadores ou o Google. encarar certas situações com mais deter- fissionais com as suas dúvidas.

62 CONTABILISTA 281
ORDEM NOS MEDIA

OCC homenageia
profissionais do Distrito
de Évora
«Num périplo pelo país, a Ordem dos
Contabilistas Certificados (OCC) está
a realizar sessões em diferentes pontos
para entregar medalhas aos membros que
contam com 25 anos de inscrição nesta
entidade. A Delegação de Évora acolheu a
iniciativa na passada segunda-feira, sendo
TVI - «Esta Manhã» - Programa «Mais Habitação» (16 de outubro 2023)
O que muda em termos fiscais na habitação? Após avanços e recuos as novas me- distinguidos os contabilistas certificados
didas estão em vigor. Paula Franco explicou, em conversa com Nuno Eiró e Sara deste distrito, numa cerimónia contou com
Sousa Pinto, as principais alterações.. a presença da bastonária da OCC, Paula
Franco (...)»

REDES SOCIAIS

6 633 719 VISUALIZAÇÕES


56 475 FOTOS
Foco e conhecimento:
35 780 SUBSCRITORES chaves na liderança e na vida
«O humor, a paixão, a consciência dos li-
mites e das exigências aos outros, o exer-
77 506 GOSTOS
cício de disciplina e a atenção às equipas,
2 291 SEGUIDORES a necessidade das mulheres contarem as
87 334 SEGUIDORES
suas histórias, a naturalidade da gravidez
na carreira foram alguns dos prismas que
30 oradores partilharam com cerca de
13 071 500 pessoas na 10.ª Grande Conferência
SEGUIDORES 341 SEGUIDORES
Liderança Feminina. E ainda houve tempo
para fado e vintage jazz (...)»

NOVIDADES DE ÂMBITO TÉCNICO *


Alojamento Local — Alguns
aspetos fiscais
Pareceres técnicos mais vistos em SETEMBRO Artigo de Catarina Esgaio, consultora da
Ordem

Isenção de IRS e IRC nos


rendimentos prediais — Impacto
∞ IRS - Caução ∞ IVA - Declaração periódica fiscal
∞ IRC - Benefícios fiscais ∞ IVA - Regime da margem Artigo de Daniela Cunha, consultora da
∞ IRC - Cooperativas ∞ IVA - Isenções Ordem
∞ IRC - Tributação autónoma ∞ IVA - Vendas à distância
∞ IRC - Dupla tributação internacional ∞ IVA - Dedução
Tributação em sede de IRS do
recebimento de cauções
Artigo de Felícia Teixeira, consultora da
*Mais informação em: https://www.occ.pt/pt-pt/novidades-tecnicas Ordem

SETEMBRO 2023 63
COLABORAÇÃO ISCA-UA

Donativos (ou doações) – questões


atuais para investigação futura
Este trabalho, que termina com um curioso exercício prático, pretende suscitar uma reflexão
mais profunda e sistematizada, no intuito de se definir um referencial teórico-prático
suficientemente robusto para reduzir as dúvidas e incertezas, garantindo-se, assim, a
segurança jurídica em que o sistema fiscal deve assentar quando se fala de donativos.

Por Gilberto de Carvalho Fernandes* | Artigo recebido em outubro de 2023

N a esteira de trabalhos anterio-


res sobre a temática dos dona-
tivos, também no presente, são ra-
garantindo-se, assim, a segurança
jurídica em que o sistema fiscal deve
assentar.
«incrementos patrimoniais», para
operações a título gratuito (ver, por
exemplo, o n.º 4 do artigo 56.º e n.º 2
zões de ordem prática que suscitam do artigo 21.º, ambos do CIRC), mas
a reflexão. Não poucas vezes, senti- Destrinça preambular não exclusivamente.
mos, juntamente com os doadores, em torno de donativos, doações, Por seu turno, no Estatuto dos Be-
dificuldades de enquadramento de amostras e ofertas nefícios Fiscais (EBF), a definição de
situações reais de donativos, espe- Nesta temática dos «donativos», é donativos, sublinhe-se, para efeitos
cialmente, nos «em espécie». Será, frequente, na prática empresarial, fiscais «constituem entregas em di-
portanto, privilegiada a perspetiva utilizarem-se várias designações nheiro ou em espécie, concedidos,
dos doadores, sem descurar o papel para as mesmas realidades. Da nos- sem contrapartidas que configurem
das entidades beneficiárias. sa experiência, constata-se ser mais obrigações de caráter pecuniário
A legislação encontra-se dispersa e comum reservar o termo «doação» ou comercial, às entidades públicas
retalhada, sem linhas de orientação para donativos (muito) significati- ou privadas, previstas nos artigos
estratégica, isto é, não adota coe- vos, mesmo em dinheiro, ou para seguintes, cuja atividade consis-
rência concetual, por exemplo, no a entrega de bens imóveis. Neste ta predominantemente na realiza-
que toca à própria definição de doa- contexto, o termo «donativo» está ção de iniciativas nas áreas social,
ções, donativos, ofertas e amostras. muito identificado com entregas cultural, ambiental, desportiva ou
Seríamos demasiado presunçosos em dinheiro ditas «normais» (im- educacional» (conforme artigo 61.º
se, no presente intento, apresen- portâncias dentro dos limites «es- do EBF). Ora, nesta abordagem, a
tássemos uma solução «geralmente perados/solicitados», para a reali- entrega, sem contrapartidas, de um
aceite». O nosso objetivo nuclear zação de determinadas causas ou imóvel para a realização dos fins
pode ser sintetizado no seguinte: atividades, promovidas geralmente estatutários de determinada ESNL,
suscitar, sobretudo, nos contabi- por entidades do setor não lucrativo apesar de ser (obviamente) em es-
listas certificados (CC) e em outros (ESNL)). pécie, não deixa de ser um donativo,
técnicos, bem como na academia, Como primeira nota, atente-se para efeitos fiscais. Não se necessita,
uma reflexão mais profunda e sis- que os Códigos do Imposto Sobre o portanto, para a sua consumação,
tematizada, no intuito de se definir Rendimento das Pessoas Coletivas apurar se tal operação se configura
um referencial teórico-prático su- (CIRC) e do Imposto Sobre o Rendi- ou não uma doação ou um donativo.
ficientemente robusto para redu- mento das Pessoas Singulares (CIRS) No seguimento da reflexão, afigura-
zir as (atuais) dúvidas e incertezas, adotam, por regra, a terminologia -se pertinente trazer à colação o con-

64 CONTABILISTA 281
COLABORAÇÃO ISCA-UA

ceito de doação conferido pelo Códi- 218/2015, de 23 de julho – Código de lucrativos (vulgo, empresas) se des-
go Civil (CCv): «Doação é o contrato Contas – apresenta as seguintes con- tina a registar verbas não destina-
pelo qual uma pessoa, por espírito tas para as ESNL: «75 – Subsídios, das à exploração, ou de outra forma:
de liberalidade e à custa do seu pa-
1
doações e legados à exploração» e a destinadas ao investimento, que, em
trimónio, dispõe gratuitamente de conta «594 – Outras variações nos princípio, assumem uma vida útil
uma coisa ou de um direito, ou as- fundos patrimoniais – doações». que extravasa o exercício em que fo-
sume uma obrigação, em benefício Para as outras entidades (ditas «lu- ram recebidos ou consignados 3.
de outro contraente» (conforme n.º crativas»), elenca as seguintes: «75
1 do artigo 940.º do CCv). – Subsídios à exploração» e «594 – Mensuração
Em bom rigor, na linguagem do EBF, Outras variações no capital próprio de doações/donativos em espécie
continuamos na presença de «dona- – doações». Nas notas explicativas A questão da mensuração dos bens
tivo». Outra ideia a ressaltar é que a não existem quaisquer comentários em espécie revela-se importantíssi-
doação não tem de ser consubstan- em torno da conta «594 – Doações»2 ma. Para efeitos de simplificação, re-
ciada em imóveis. O «património» Ao invés, existem notas diferencia- duzamos a tipologia dos donativos a
(da definição) pode, obviamente, das para a conta 75, consoante se AFT e a inventários. Não é incomum,
incluir imóveis, outros ativos fixos trate de ESNL ou das outras enti- na prática empresarial, a mensu-
tangíveis (AFT), ativos intangíveis, dades (empresariais). Relativamen- ração dos bens doados mostrar-se
direitos sobre terceiros, dinheiro te à conta «75 - Subsídios, doações demasiado subjetiva (pecando por
(“vivo”), entre outros. Em síntese, e legados à exploração», a nota diz excesso), ou seja, o valor não é de-
termos diferentes para a mesma rea- taxativamente: «Esta é uma conta terminado em conformidade com a
lidade! específica das ESNL. Registam-se legislação fiscal, sobretudo em des-
É legítima a interrogação: o que de- nesta conta os subsídios das entida- respeito do EBF. Recorde-se a solu-
fine, nesta matéria, o Sistema de des públicas e os subsídios, doações ção preconizada: no caso de donati-
Normalização Contabilística? Dou- e legados dos instituidores/funda- vos em espécie (síntese do n.º 11 do
tra forma: o que está preconizado, dores das entidades destinados à artigo 62.º, n.º 5 do artigo 62.º-A e n.º
na esfera da entidade beneficiária, exploração.» Desta definição pode 7 do artigo 62.º-B do EBF), efetuados
para a sua contabilização? Admi- inferir-se que a conta 594, quer nas por sujeitos passivos de IRC ou IRS
tamos: muito pouco. A Portaria n.º ESNL quer nas entidades com fins que exerçam atividades empresa-

SETEMBRO 2023 65
COLABORAÇÃO ISCA-UA

riais ou profissionais, considera-se


que o valor dos bens é o valor fiscal
que os mesmos tiverem no exercício
em que forem doados, ou seja:
- No caso de bens do AFT, o cus-
to de aquisição ou de produção
deduzido das depreciações efeti-
vamente praticadas e aceites para
efeitos fiscais 4, e
- No caso de bens com a natureza
de inventários, o custo de aquisi-
ção ou de produção eventualmen-
te deduzido das perdas por impa-
ridade que devam ser constituídas
de acordo com o respetivo regime
fiscal.
Do exposto resulta que doação de
um bem do AFT totalmente depre-
ciado, ou seja, com quantia escri- pela entidade patronal com a sua re- do em sede de IVA, cuja liquidação
turada nula, o valor fiscal de tal muneração, incluindo os suportados cabe ao beneficiário, mais especifi-
entrega é zero. Portanto, não sus- para regime obrigatórios de Segu- camente naquelas situações em que
cetível de qualquer benefício fis- rança Social, durante o período da a gratuitidade (sem contrapartidas)
cal, permanecendo o altruísmo e a respetiva cedência 5. do donativo possa estar em causa.
responsabilidade social da empresa Por fim, reforce-se a ideia de que o Portanto, não se afigura necessário,
doadora. Contudo, esta limitação valor tributável das transmissões de nesta fase, qualquer outra análise.
não impede a ESNL beneficiária de bens a título gratuito deve seguir o A segunda consideração pertinente
reconhecer tal bem, cumpridas que preceituado na alínea b) do n.º 2 do prende-se com a definição de «ofer-
estejam as condições de reconhe- artigo 16.º do CIVA, ou seja, «o pre- ta». Para o efeito, socorremo-nos
cimento do ponto 3 da NCRF-ESNL ço de aquisição dos bens, ou bens da Portaria n.º 497/2008, de 24 de
e, consequentemente, terá de ser similares, ou, na sua falta, o preço junho. Oferta pode ser constituída
mensurado. Para o efeito, dispõe o de custo, reportados ao momento da por bens comercializados ou pro-
ponto 7.6. da NCRF-ESNL o seguin- realização das operações.» duzidos pelo sujeito passivo ou por
te: «Nas ESNL existem bens do ativo bens adquiridos a terceiros (cf. n.º 1).
fixo tangível em que o custo pode ser Tributação em sede de IVA Adianta também que quando a ofer-
desconhecido. Neste caso, os bens (na esfera do doador) ta seja constituída por um conjunto
são mensurados ao justo valor, ao No intuito de assegurar a predomi- de bens, o valor de 50 euros, a que se
valor pelo qual estão segurados ou nância, no presente trabalho, da refere o n.º 7 do artigo 3.º do CIVA,
pelo valor pelo qual figurava na sua perspetiva do doador, começamos aplica-se ao conjunto (conforme n.º
contabilidade.» por recordar que, quer a Circular 2). Por último, exclui-se do concei-
Para terminar, um último apon- n.º 12, de 19 de abril de 2002, da to de oferta os bónus de quantida-
tamento, quanto à mensuração do DSIRC e DSIVA, quer a circular n.º des concedidos pelo sujeito passivo
«mecenato de recursos humanos» 2, de 20/01/2004, da DSIRC, am- aos seus clientes (conforme n.º 3). A
(conforme n.º 6 do artigo 62.º-A do bas a propósito do enquadramen- exigência da parte final do n.º 7 do
EBF – Mecenato científico e n.º 8 to jurídico-tributário de donativos artigo 3.º do CIVA, ou seja, a con-
do artigo 62.º-B do EBF - Mecenato quando relativamente aos mesmos formidade com os usos comerciais,
cultural). Preconiza-se que o valor esteja associada atribuição por parte não é de todo irrelevante, como ve-
da cedência de um investigador ou do respetivo beneficiário de rega- remos. Em sede de IVA, este mesmo
técnico especialista é o valor corres- lias em espécie ao doador, definem n.º 7 impõe um limite (global) anual
pondente aos encargos despendidos hipóteses de tributação, sobretu- de cinco por mil do volume de ne-

66 CONTABILISTA 281
COLABORAÇÃO ISCA-UA

Tabela 1 - Dedução e liquidação de IVA nas operações gratuitas

Dedução Fundementação legal


Situação concreta Liquidação do IVA
do IVA Observações

Não Qualquer situação Não liquida IVA f), n.º3, art.º 3.º, a contrario

Amostras Não liquida IVA n.º 7 do art.º 3.º e Portaria n.º 497/2008, de 24/06

Ofertas Até 50€ Não liquida IVA idem

Mais 50€ Liquida IVA idem

Sim (Algumas ) doações ao Estado e IPSS para pessoas carenciadas Não liquida IVA n.º 10, art.º 15.º do CIVA

ESNL reconhecidas fora UE Não liquida IVA o), n.º 1. art.º 14.º do CIVA

gócios do sujeito passivo no ano civil zados pelo sujeito passivo. produzidas pelo sujeito doador quer
anterior .6 Tecidas as considerações preambu- adquiridas a terceiros, e caso se te-
Quanto às amostras, o próprio n.º 7 lares, iniciemos as várias hipóteses nha procedido à dedução do IVA,
do artigo 3.º do CIVA, alicerçado na de transmissões gratuitas em sede ter-se-á de, à luz do n.º 7 do artigo
redação da referida Portaria, pro- de IVA. Para o efeito, construiu-se, 3.º do CIVA, classificá-las em infe-
porciona alguns contributos para a partir da doutrina firmada pelas riores ou iguais a 50 euros ou supe-
a sua definição 7. Assim, amostras informações vinculativas, a tabela riores a esse valor. No primeiro caso,
«são bens não destinados a poste- 1. Comecemos por referir o macro não haverá liquidação de IVA, de-
rior comercialização que, pelas suas princípio inerente aos donativos (?) vendo existir na segunda hipótese 8.
características, ou pelo tamanho ou em espécie: a não dedução total ou Continuando a análise, segue-se a
formato diferentes do produto que parcial do IVA na aquisição dos bens isenção prevista no n.º 10 do artigo
constitua a unidade de venda, vi- a doar permite, por regra, a não li- 15.º do CIVA, que nos merece espe-
sem, sob a forma de amostra, apre- quidação de imposto aquando da cial atenção. Desde logo, a alínea a)
sentar ou promover bens produzido oferta/donativo/doação. do n.º 1 restringe as entidades bene-
ou comercializados pelo próprio su- Da análise da tabela, repara-se que ficiárias das transmissões gratuitas
jeito passivo.» De outra forma, utili- as amostras, na conceção supra ao Estado, instituições particula-
zando a sistematização do ponto 10 apresentada, independentemente do res de solidariedade social (IPSS) e
da Informação Vinculativa (IV) 13 valor que lhes possa ser atribuído e organizações não governamentais
855, de 8 de agosto de 2018, da dire- ainda que se tenha verificado a de- (sem fins lucrativos), impondo tam-
tora de serviços do IVA, para a deli- dução parcial ou total do IVA na sua bém uma condição sine qua non de
mitação de «amostra» é importante aquisição ou produção, a sua trans- tais bens serem distribuídos a pes-
verificar-se: missão gratuita não implica liqui- soas carenciadas, em princípio,
- Tenham um formato ou tama- dação de IVA. Não esqueçamos que numa relação/utilização direta.
nhos diferentes do produto que a sua própria definição assenta na Neste contexto, a IV 337, de 15 de
constitua a unidade de venda; ou quase impossibilidade de utilização fevereiro de 2020, do SGD do IVA
- Sejam apresentados em quanti- enquanto bem comerciável. Portan- defende que a impressora multifun-
dade, capacidade, peso ou medida to, muito dificilmente adquirirão ções (o donativo em espécie) que de-
substancialmente inferiores aos o estatuto de donativo/doação, ou terminada entidade pretende doar a
que constituem a unidade de ven- seja, com utilidade para as ESNL ou uma IPSS para utilização de pessoas
da; e quaisquer outros operadores econó- carenciadas, eventualmente seus
- Em ambos os casos, se destinem micos, senão enquanto apresentação utentes ou clientes, ou não, não pode
a apresentar ou promover os pro- e promoção de produtos. usufruir desta isenção porque a pró-
dutos produzidos ou comerciali- Já no que se refere às ofertas, quer pria IPSS poderá utilizar em seu be-

SETEMBRO 2023 67
COLABORAÇÃO ISCA-UA

nefício tal equipamento. Contudo, c) isenta «as transmissões a título - Reconhecimento prévio do di-
o relator propõe uma alternativa: gratuito efetuadas a entidades inte- reito à isenção; e
a empresa doadora considerar tal gradas na Rede Portuguesa de Mu- - A igualdade de tratamento de
transmissão como oferta, podendo seus.» À laia de conclusão, não são transmissões gratuitas ou one-
não liquidar IVA se o valor da oferta muitas as transmissões gratuitas rosas, entre outros. Portanto, de
for inferior ou igual a 50 euros! Vere- de bens que podem aproveitar estas aplicação mais controlada e res-
mos, adiante, que esta possibilidade isenções. trita.
pode desvirtuar o atual paradigma Para terminar a sequência da tabela
do mecenato. Por outro lado, a IV 1, resta analisar uma outra hipótese Da teoria à prática: hipóteses,
3273, de 27 de junho de 2012, entre de isenção, menos tratada nas in- dúvidas e investigação…
outras, questiona que tipo de docu- formações vinculativas, concreta- Nesta fase, já na posse de alguns
mento comprova ou justifica o desti- mente a alínea o) do n.º 1 do artigo conceitos-chave, e porque a princi-
no/utilização dos bens doados (pon- 14.º do CIVA, que isenta «as trans- pal razão justificadora deste intento
to 2). Não é proporcionada resposta a missões de bens para organismos reside em algumas (aparentes) sim-
este item. Mas, diz o bom senso, que devidamente reconhecidos que os ples questões que um empresário
deve ser uma prática corrente e que exportem para fora da Comunidade colocou, numa linguagem terra a
tal documento deve fazer parte do (leia-se União Europeia) no âmbito terra.
processo de documentação fiscal (cf. das suas atividades humanitárias, Questão a resolver: «Estamos a pen-
artigo 130 do CIRC). caritativas ou educativas, mediante sar desfazermo-nos da mercadoria
A alínea b) do n.º 10 do artigo 15.º prévio reconhecimento do direito LL&O, ou doando-a a uma IPSS ou
do CIVA isenta «as transmissões à isenção.» A redação suscita, em a outras associações ou vendendo-
de livros a título gratuito efetuadas nossa opinião, várias dificuldades -a (ao peso) para a sucata. Qual é a
aos departamentos governamentais de interpretação, sobretudo no que melhor solução para a empresa? Ou
nas áreas da cultura e educação, a se refere ao alcance da norma. Ve- seja, o que nos custa menos?
instituições de carácter cultural e jamos o que a IV A100 2007901, de Tenha-se em consideração os se-
educativo, a centros educativos de 23 de abril de 2008 defende: - O re- guintes elementos:
reinserção social e a estabelecimen- conhecimento prévio dos referidos a) Volume de negócios médio
tos prisionais.» Por último, a alínea organismos; (exercício anterior e atual): 1 500

68 CONTABILISTA 281
COLABORAÇÃO ISCA-UA

000 euros; transmissão, ainda que (inequivo- prova em contrário, presumem-se


b) Custo de aquisição dos bens em camente) gratuita, sem quaisquer transmitidos os bens adquiridos, im-
causa ascende a 90 mil euros, so- contrapartidas, originaria um mon- portados ou produzidos que não se
bre o qual foi deduzido IVA à taxa tante de IVA liquidado de 20 700 encontrem nos locais em que o sujei-
normal; euros (90 000 € x 23 %) ! Nesta si-
10 to passivo exerce a sua atividade.»
c) Custo de aquisição de cada uni- tuação a limitação dos cinco por mil Na mesma esteira, trouxemos à cola-
dade de mercadoria é superior a 50 não interferiria porque a liquidação ção o conteúdo do Ofício-Circulado
euros; do IVA seria sobre a totalidade da (OC) n.º 35 264, de 24 de outubro de
d) Trata-se de uma mercadoria transmissão. 1986, da direção de serviços do IVA,
com um grau de obsolescência Resta-nos verificar as vantagens sobre destruição de bens inutiliza-
significativa, mas que proporcio- fiscais que o EFB pode proporcionar. dos, deteriorados ou obsoletos. Mui-
na ainda elevado grau de satisfa- Sabemos que a otimização fiscal se to sucintamente, este documento
ção a pessoas mais carenciadas; e opera com a doação ao Estado (con- prescreve os procedimentos para os
e) A mercadoria está excluída da forme n.º 1 do artigo 62.º do EBF) em sujeitos passivos fazerem prova da
isenção prevista no n.º 10 do arti- que se proporciona a consideração não transmissão de bens que tenham
go 15.º do CIVA. fiscal da totalidade da entrega. Mas, sido inutilizados ou destruídos,
consoante as entidades beneficiárias aconselhando ainda que os sujeitos
Tentativa de resposta/solução a permilagem de aceitabilidade fiscal passivos comuniquem previamente à
Dos pressupostos apresentados re- varia entre 1/1000 e 8/1000. Como o Autoridade Tributária (AT) esses fac-
sulta a impossibilidade de utilização objetivo seria doar a uma IPSS, que tos, indicando dia e hora (acrescen-
da isenção do n.º 10 do artigo 15.º do tem inerente um limite de 8/1000, o taríamos, local), «a fim dos agentes
CIVA. A empresa também não quer valor aceite fiscalmente ascenderia de fiscalização possam, se assim o
enrodilhar-se na burocracia ineren- apenas a 12 000 euros (1 500 000 € entenderem, exercer o devido con-
te à alínea o) do n.º 1 do artigo 14.º x 8/1000)! Em termos de (des)vanta- trole.» O ponto 3.2. do OC remata da
do CIVA. Tente-se, em alternativa, gem, descurando a perda patrimo- seguinte forma: «Em qualquer caso,
a entrega de amostras. Desde logo, nial registada (em todas as hipóte- os sujeitos passivos, no seu próprio
o valor unitário não condiciona o ses), o custo líquido para a empresa interesse, poderão elaborar e conser-
conceito. Contudo, sabe-se que as seria: 20 700 euros de IVA, acrescido var um auto de destruição ou inutili-
mercadorias a doar (apesar de, nes- do efeito da não aceitação fiscal do zação dos bens objeto de abate, tes-
te momento, serem pouco ou nada donativo por exceder o limite dos temunhado pelas pessoas estranhas
vendáveis neste mundo altamente 8/1000 = 16 740 euros 11, donde resul- ou não à empresa que presenciaram
concorrencial e global), constituem ta: 37 440 euros. Ou seja, a empresa aquele ato.»
de facto unidades de venda “nor- para doar 90 000 euros de mercado- Após a explicação, o empresário, in-
mais”. Não almejam, de forma algu- rias teria um acréscimo de tributação sistiu: afinal o que é que vamos pagar
ma, ser mera representação ou pro- de 41,6 por cento do valor donativo! de impostos se optarmos pelo abate?
moção, em formato reduzido ou com Depois desta longa e complicada re- A resposta, muito simples, foi: se ela-
menor capacidade, daquelas que se flexão, sem convencer o empresário borarmos o processo devidamente e
vendem. Não. São o próprio objeto que, apesar de os impostos, a empre- comunicarmos à AT, a perda em in-
de venda. Logo, está excluída a hi- sa “ficava bem vista”, eis que ques- ventários é, na sua totalidade, aceite
pótese de considerar tais mercado- tiona: e se a empresa desse ou ven- fiscalmente e o IVA que possa existir
rias como sendo amostras. desse as mercadorias (a peso) a uma incidirá sobre o valor da proposta de
Esgotadas as hipóteses de amos- sucateira? Deixávamos o altruísmo aquisição da “sucateira”. Mas, inclu-
tras, tente-se pela via das ofertas.9 para trás… Temos de pagar alguns sive, esta operação está sujeita ao re-
A primeira reserva reside no custo impostos? gime de autoliquidação.
de aquisição superior, em termos Na resposta invocamos e explica- Afigura-se demasiado óbvio, mes-
unitários, a 50 euros, agravado pelo mos, obviamente, o artigo 86.º do mo para os mais altruístas, preocu-
facto de terem sido alvo da dedução CIVA – Presunção de aquisição e de pados e identificados com os valores
do IVA (neste caso, total), aquando transmissão de bens, mais especifi- da economia social, a opção tomada
da aquisição. Em bom rigor, a sua camente a parte que estipula: «salvo pelo empresário…

SETEMBRO 2023 69
COLABORAÇÃO ISCA-UA

Considerações finais valor fiscal nulo? A aceitar-se este 5


Neste caso, defendemos que a entida-
e novos desenvolvimentos enquadramento qualquer que fosse o de cedente terá de fornecer inequivo-
Após este caminho percorrido, bas- valor atribuído à viatura a sua trans- camente o valor da cedência, no sen-
tante sinuoso, parece-nos funda- missão, pela via das ofertas, não li- tido de a ESNL beneficiária dispor de
mental que se avance no sentido de: quidaria qualquer IVA, consequência valor concreto para a sua contabiliza-
- Aprimorar os conceitos de doa- direta da não dedução na aquisição! ção. Em caso de desconhecimento do
ção, donativos, amostras e ofertas Será uma oferta? Ser ou não ser fará valor, a entidade beneficiária deverá
e que estes assumam significado toda a diferença, pelo menos em sede ser prudente quanto à mensuração. Na
igual em todos os Códigos e legis- de IVA… nossa prática, para ultrapassar a situa-
lação fiscais, e promover a conver- ção, já nos deparámos com a utilização
gência da doutrina firmada. do salário mínimo nacional como refe-
- Rever o atual regime do mecena- *Professor adjunto rência para a sua determinação.
to e conjugá-lo com o atual Estatu- convidado do ISCA-UA
6
Sublinhe-se que esta limitação ope-
to de Utilidade Pública (decorrente CC n.º 5 616 ra apenas em sede de IVA. Não acolhe,
da Lei n.º 36/2021, de 14 de junho) portanto, em sede de imposto sobre o
e com a restante legislação fiscal rendimento, tal limitação. Quer isto di-
conexa; zer, partindo do pressuposto que o vo-
Notas:
- Alargar a abrangência do n.º 10 lume de negócios é o mesmo em ambos
1
Apesar de ser importante analisar
do artigo 15.º do CIVA, quer em ter- os impostos, o excesso do limite (ou a
mais profundamente o alcance de «li-
mos do tipo de bens quer ao nível totalidade) ficará, por um lado, sujeito
beralidade» versus «sem contrapar-
das entidades beneficiárias, imple- a IVA, mas será considerado “gasto e
tidas», não é imprescindível para os
mentando, à semelhança do «Auto perda fiscal” nos termos do artigo 23 do
objetivos deste trabalho.
de Abate», por exemplo, um «Auto CIRC.
2
A título de curiosidade no normati-
de Transmissão Gratuita», tendo 7
O conceito de “amostra” tem sido
vo anterior ao SNC, concretamente no
por base a filosofia do OC n.º 35 aperfeiçoado (e também desvirtuado)
Plano Oficial de Contabilidade (POC),
264/1986, aperfeiçoando-o e atua- em várias Informações Vinculativas
a nota explicativa para a conta «Doa-
lizando-o às novas dinâmicas dos que têm sido publicadas.
ções» (que figurava como reserva,
negócios; e 8
Vd., a título de exemplo, IV A100
conta 576), consistia: «serve de con-
- Promover a investigação em tor- 2007901, de 23/04/08; IV 337, de
trapartida às doações que a empresa
no destas temáticas, utilizando o 15/02/2010; IV 13.855, de 08/08/2018; IV
seja beneficiária.»
conhecimento e as capacidades da 19.356, de 17/12/2020, entre outras.
3
Esta divisão não é linear, mas deve
academia para elaborar um refe- 9
Como algumas IV propõem. Veremos,
ser prevalecente. Não poucas vezes,
rencial concetual e, por outro lado, a terminar o presente trabalho, que
as ESNL têm um limite definido para
o conhecimento prático dos em- não se deverá “vulgarizar” o conceito
a classificação na conta 75 ou na conta
presários e CC, trazendo ao debate de donativo/doação, nem os confundir
594. A utilização deste método não se
a vasta panóplia da sua casuística com ofertas.
afigura, de forma alguma, adequado
que experienciam cotidianamente. 10
Veja-se a propósito do cálculo, conta-
aos «princípios» do SNC, em geral,
Como últimas palavras, talvez como bilização, faturação e não repercussão
nem da Norma de Contabilidade e Re-
preâmbulo de novos trabalhos e in- do IVA, entre outros, os Pareceres técni-
lato Financeiro das Entidades do Setor
vestigações mais sistemáticas, par- cos da Ordem dos Contabilistas Certifi-
Não Lucrativo (NCRF_ESNL), em par-
tilhamos a seguinte reflexão: será cados: PT 24673 – Abate de inventários,
ticular.
que uma viatura ligeira de passagei- de 9 de abril de 2020; parecer de doação
4
A redação continua com o seguinte
ros adquirida nova, sujeita a depre- de inventários, de 15 de janeiro de 2021
texto: «sem prejuízo do disposto na
ciação à taxa de 25 %/ano, pode ser e PT 27146 - Ofertas, de agosto de 2022.
parte final da alínea a) do n.º 5 do arti-
oferecida a uma ESNL, pela via «das 11
Este valor obtém-se: (90 000 € - 12
go 29.º do Código do IRC.» Esta última
ofertas» (reguladas na Portaria n.º 000 € (1 500 000 € x 8/1000) – 3 600
parte encontra-se incorreta porque na
497/2008, de 24 de junho), por exem- € (majoração, considerando 30%)) x
redação atual do artigo 29.º o n.º 5 não
plo, no quinto exercício, com a quan- 22,5% (IRC + Derrama municipal: 21
está desdobrado em quaisquer alíneas!
tia escriturada nula, portanto com % + 1,5 %).

70 CONTABILISTA 281
FISCALIDADE

Teletrabalho numa ótica


internacional
Este artigo aborda a temática da mobilidade internacional, na sua perspetiva fiscal e
contributiva, em particular no que se refere ao teletrabalho dependente, ou seja, a situação
de facto em que um trabalhador dependente presta o trabalho a partir de um ou mais
Estados para um empregador residente ou estabelecido noutro Estado.

Por Anabela Santos* | Artigo recebido em setembro de 2023

I niciamos a nossa análise com estejam em causa Estados distintos, OCDE, os salários obtidos de um
as considerações fiscais. Se esta pode continuar a ser considerado emprego por um residente de um
questão já suscitava problemas de como elemento de conexão subjeti- Estado contratante só podem ser
delimitação da competência tributá- vo para efeitos de aplicação das CDT. tributados nesse Estado, a não ser
ria entre Estados antes da pandemia, Isto porque, existindo uma residên- que o emprego seja exercido no ou-
tornou-se mais relevante e urgente cia física identificável do teletraba- tro Estado contratante. Se o empre-
de solucionar no contexto pós-pan- lhador num determinado Estado (o go for aí exercido, as remunerações
démico, sendo certo que as soluções que, na verdade, pode não suceder correspondentes podem ser tributa-
legislativas ainda se encontram em em caso de nomadismo, mas vamos das nesse outro Estado.
construção. apenas considerar o cenário base Verifica-se que o “exercício” do
Isto porque quer a Convenção Mode- mais simples), o direito interno des- emprego é uma construção jurídica
lo da OCDE, que serve de base à ne- te Estado considerará o teletraba- ancorada na presença física e não no
gociação das convenções para evitar lhador como seu residente à luz dos exercício do trabalho em benefício
a dupla tributação (CDT) bilaterais, critérios gerais de residência. Mas material da atividade do emprega-
quer as CDT estão construídas com o Estado do empregador, que é o da dor, o que conduz à situação de in-
base em elementos de conexão ou fonte do rendimento e em favor de capacidade de o “exercício” ende-
repartição de competências basea- quem o trabalho é prestado, deveria reçar a repartição de competências
das na realidade do trabalho físico. também ter competência tributária, tributárias entre Estados no caso do
Embora há vários anos se venha dis- pelo facto de o trabalho ser exerci- teletrabalho.
cutindo a reformulação dos acordos do para o empregador desse Estado, Ainda assim, e porque não pode-
internacionais para acomodar a rea- pelo menos em circunstâncias de mos cair num vazio normativo e o
lidade do teletrabalho internacional, exercício do trabalho por período objetivo das convenções é evitar e
a verdade é que só a pandemia con- superior a 183 dias. Só que, sendo não promover a dupla tributação ou
seguiu trazer de volta o tema para a dispensada a presença física do te- a dupla não tributação, haverá que
discussão. letrabalhador, embora o trabalho encontrar um critério de interpre-
Comecemos por enunciar o proble- continue a ser prestado para o re- tação à luz desses princípios.
ma: o que está em causa é saber se sidente de outro Estado, é exercido, Enquanto não se encontrar outra
um critério de residência física de um pelo menos fisicamente, fora desse solução, a mais fácil, digamos, será
teletrabalhador internacional, a que Estado. considerar que o trabalho é “exer-
não corresponde uma presença físi- Com efeito, de acordo com as re- cido” no Estado da residência do
ca de prestação de trabalho no esta- gras de atribuição de competências teletrabalhador, ainda que, como se
belecimento do empregador, quando tributárias da Convenção Modelo da entenda, tal corresponda apenas a

SETEMBRO 2023 71
FISCALIDADE

um exercício em termos de conexão tiva apenas vincula quem a emitiu, dor não residente efetuar retenções
física e não material, pois, em rigor, no caso Espanha, que não se encon- na fonte em Portugal, por aqui dispor
o trabalho é exercido para e em be- tra obrigada a consultar a autoridade de um número de identificação fiscal
nefício de um empregador residente tributária portuguesa a este respeito. atribuído.
noutro Estado, destinando-se a servir Se é verdade que, no caso concreto, Neste sentido, veja-se que uma pessoa
a execução da atividade económica Portugal, certamente, não se oporá singular não residente solicitou a con-
do empregador e a ser incorporado na a este entendimento, o que dizer do firmação a título vinculativo desta
produção de bens e serviços realizada caso contrário? mesma questão em relação a um tra-
noutro Estado. Assiste, pois, preten- Temos, assim, as normas internas balhador do serviço doméstico ao seu
são tributária ao Estado do emprega- e convencionais não se encontram serviço em Portugal, tendo-lhe sido
dor, pois é para tal Estado que a pro- adaptadas à realidade do teletrabalho, transmitido o entendimento de que a
dução do teletrabalhador contribuiu. o que, em situações em que o Estado obrigação de retenção na fonte é apli-
A adoção simplista desta solução fá- de residência seja Portugal pode ter cável mesmo para um não residente
cil pode, contudo, ser fonte de dupla implicações ao nível do reconheci- sem estabelecimento estável ou ins-
tributação, pois nada compromete os mento de créditos de imposto por du- talação fixa em Portugal (conforme
dois Estados a adotar unilateralmen- pla tributação jurídica internacional processo n.º 461/2018, com despacho
te este mesmo entendimento. Sendo relativamente a Estados que conside- concordante da subdiretora de servi-
certo que a vasta maioria das con- rem que, por neles serem residentes ços do IR, de 29-05-2018). Há, contu-
venções bilaterais contêm cláusulas os empregadores, o teletrabalho é aí do, entendimentos que apontam em
de procedimento amigável e troca exercido e não no Estado de residência sentido diverso, como o veiculado no
de informações, também é certo que do teletrabalhador. Processo: 5942/2021, despacho de 1 de
deixar a resolução desta questão na Por outro lado, a questão também se setembro de 2021, do diretor de servi-
mão de mecanismos administrativa- estende à retenção na fonte. ços de Relações Internacionais.
mente complexos não parece a me- É certo que o empregador não resi- Pelo que é possível entender que, sen-
lhor solução. dente, não tendo em Portugal um do atribuído um NIF (e, nessa sequên-
Vem isto a propósito do conhecimen- estabelecimento estável, e assumin- cia, password para acesso ao Portal
to de uma informação vinculativa do que o trabalho é aqui exercido e das Finanças), é possível, pelo menos
emitida pelas autoridades fiscais es- apenas Portugal tem competência do ponto de vista dos procedimentos
panholas (DGT, V2440/2022, de 25- tributária sobre esses rendimentos práticos, efetuar retenções na fonte
11-2022), em que um teletrabalhador de fonte estrangeira, não se deveria como se de uma entidade residente
residente em Portugal ao serviço de encontrar obrigado a efetuar reten- ou estabelecida em território nacio-
um empregador espanhol questionou ções na fonte, em Portugal, sobre es- nal se tratasse. Do mesmo modo, a
a confirmação da sua situação fiscal. ses rendimentos. entidade pode cumprir com as obri-
E nessa resposta vinculativa foi afir- Em relação à retenção na fonte, nos gações declarativas fiscais como se
mado pela autoridade tributária es- termos do artigo 99.º do Código do de uma entidade residente ou estabe-
panhola que «No tributan en España IRS, as entidades devedoras de ren- lecida se tratasse.
las rentas por el teletrabajo prestado dimentos de trabalho dependente são A ser feita retenção na fonte de IRS,
por un residente en Portugal», assim obrigadas a reter o imposto no mo- esta é efetuada nos mesmos termos
reafirmando a solução que enuncia- mento do seu pagamento ou colocação aplicáveis a quaisquer outros traba-
mos, no sentido de que a autoridade à disposição dos respetivos titulares. lhadores dependentes residentes.
tributária espanhola considera que o Sendo certo que a entidade devedo- Diferentemente do que sucede com as
teletrabalho prestado a empregador ra não disporá, em princípio, de es- contribuições para a Segurança So-
espanhol por um residente em Portu- tabelecimento estável em Portugal, cial, o pagamento das retenções na
gal é exercido em Portugal, pelo que não deveria haver lugar a retenção na fonte pode ser feito a partir de uma
Espanha não tem competência tribu- fonte, nos termos referidos. Contu- conta bancária estrangeira.
tária sobre os rendimentos de fonte do, como veremos para efeitos con- Embora os rendimentos sejam de
espanhola obtidos pelo teletrabalha- tributivos, a eventual obrigação de fonte estrangeira, se a entidade es-
dor residente em Portugal. se registar em Portugal para efeitos trangeira comunicar os rendimentos
Contudo, esta informação vincula- contributivos permitirá ao emprega- e retenções na fonte através das de-

72 CONTABILISTA 281
FISCALIDADE

clarações mensais de remunerações, De todo o modo, o n.º 3 do artigo 11.º rio A1 deverá solicitá-lo à UCI, para
o trabalhador verá os seus rendimen- contém uma disposição residual, nos o seguinte endereço de e-mail: ISS-
tos e retenções pré-preenchidos no termos da qual «outra pessoa à qual -IInternacionais@seg-social.pt»
anexo A, como se de rendimentos de não sejam aplicáveis as alíneas a) a E importa ainda dar a conhecer que,
fonte portuguesa se tratasse. De todo d) está sujeita à legislação do Estado- desde 1 de julho de 2023, se encontra
o modo, para o trabalhador a carga -membro de residência, sem prejuízo em vigor um Framework Agreement,
fiscal é a mesma, caso os rendimentos de outras disposições do presente re- que complementa os Regulamentos
sejam declarados como de fonte por- gulamento que lhe garantam presta- (CE) n.º 883/2004 e 987/2009.
tuguesa (no anexo A) ou estrangeira ções ao abrigo da legislação de um ou No âmbito deste acordo, que comple-
(no anexo J). mais outros Estados-membros.» menta os referidos regulamentos, os
Por outro lado, o art.º 21.º do Regula- Estados da União Europeia, Espaço
Considerações contributivas mento (CE) n.º 987/2009, estabelece Económico Europeu e Suíça acorda-
Em termos do cumprimento das obri- no seu n.º 1 que um empregador que ram que a legislação relevante para
gações declarativas e de pagamento tenha a sua sede ou centro de ativi- efeitos de cobertura em matéria de
da entidade enquanto empregadora, dades fora do Estado-membro com- Segurança Social dos trabalhadores
há, atualmente, mais segurança jurí- petente deve cumprir as obrigações habitualmente em teletrabalho em si-
dica do que em matéria fiscal. previstas pela legislação aplicável aos tuações em que o Estado de residência
Com efeito, nos termos do Regula- seus trabalhadores, nomeadamente a do trabalhador e o local do estabeleci-
mento (CE) n.º 883/2004, a pessoa obrigação de pagar as contribuições mento do empregador são distintos, é a
que exerce uma atividade por conta previstas por essa legislação, como se do Estado de residência do trabalhador.
de outrem ou por conta própria no tivesse a sua sede ou centro de ativi- A entidade empregadora pode pedir
território de um Estado-membro está dades no Estado-membro competente. que o trabalhador fique sujeito à le-
sujeita, em princípio, à legislação de Nestas situações, o empregador e o gislação do seu Estado (da entidade
Segurança Social desse Estado, mes- trabalhador podem acordar que este empregadora) apenas no caso de o
mo que resida no território de outro último dê cumprimento às obrigações teletrabalho no Estado de residência
Estado-membro ou mesmo que a en- do empregador, por conta deste, no do trabalhador representar menos de
tidade empregadora que emprega a que respeita ao pagamento das con- 50 por cento do seu tempo total de
pessoa por conta de outrem tenha a tribuições, sem prejuízo das obrigações trabalho. O que significa que, regra
sua sede ou domicílio no território de subjacentes do empregador. O empre- geral, se o trabalhador apenas traba-
outro Estado-membro (alínea a) do n.º gador comunica tal acordo à instituição lhar no seu Estado de residência, não
3 do artigo 11.º). competente daquele Estado-membro. pode ficar sujeito à legislação do Es-
Assim, se uma entidade empregadora É ainda de assinalar que a Segurança tado da entidade empregadora. Estas
de um Estado-membro contratar um Social já teve oportunidade de se pro- regras não se aplicam a trabalhadores
trabalhador em Portugal para aqui nunciar sobre os efeitos do teletraba- independentes nem a trabalhadores
exercer atividade, será aplicável a le- lho nos seguintes termos: por conta de outrem que não sejam
gislação do Estado-membro do exer- «Estou a trabalhar em Portugal, em considerados trabalhadores em tele-
cício da atividade. situação de teletrabalho, para uma trabalho.
Esta regra–critério do local da presta- empresa sedeada noutro país. Onde O conceito de residência usado no
ção da atividade – não tem em conta tenho que descontar? Devo pedir o acordo não é equivalente à definição
a modalidade de teletrabalho. É que, destacamento? para efeitos de IRS, sendo o conceito
no teletrabalho, o que está em causa Neste caso, o trabalhador deverá próprio dos Regulamentos, tal como
não é os trabalhadores estarem a pres- inscrever-se com base no art.º 21.º, e acontece com as definições de tele-
tar os seus serviços para a realização efetuar os seus descontos para a Se- trabalho e trabalhadores abrangidos.
da atividade da entidade estrangeira gurança Social portuguesa, visto que Do exposto, decorre que o acordo que
em Portugal, mas somente estarem a Portugal é o país em que o trabalha- vigora desde o segundo semestre des-
exercer uma atividade em Portugal, dor se encontra fisicamente a exer- te ano vem dar cobertura ao enten-
por conveniência, não tendo a ativida- cer a sua atividade. Não se trata de dimento que já vigorava no âmbito
de da entidade estrangeira, em princí- uma situação de destacamento. Se o do Regulamento n.º 883/2004, mas
pio, qualquer conexão com Portugal. trabalhador necessitar do formulá- que não endereçava especificamente

SETEMBRO 2023 73
FISCALIDADE

o teletrabalho. Por outro lado, este cária estabelecida em Portugal, não guês, desde que tais atividades sejam
acordo permite evitar a escolha da sendo, até à data, aceites transferên- exercidas durante um período ou pe-
jurisdição mais atrativa em termos cias bancárias a partir de contas ríodos que, no total, excedam 183 dias
contributivos, evitando assim que as bancárias estrangeiras. Em alter- num período de 12 meses com início
partes possam ter margem para fixar nativa, a entidade pode abrir uma ou termo no período de tributação
o Estado onde pretendem efetuar as conta numa instituição bancária em causa (conforme art.º 5.º, n.º 3,
contribuições. estabelecida em Portugal, tendo em alínea c) do Código do IRC).
Por outro lado, torna-se inequívoco vista a realização desses pagamen- Contudo, quando esteja em causa
que as entidades empregadoras terão tos, sem que tal abertura de conta a aplicação de CDT (eventualmen-
de se registar para efeitos contributi- constitua, por si só, um indício da te, impactada na sua redação pe-
vos no Estado onde o teletrabalhador existência de um estabelecimento las alterações aplicáveis no âmbito
reside e presta a parte mais significa- em Portugal. do instrumento multilateral), esta
tiva do seu trabalho, o que não coloca Em regra, os empregadores estran- delimita negativamente a noção de
apenas na residência o elemento de geiros não estabelecidos e com vários estabelecimento estável. Isto signi-
conexão para efeitos de determinação trabalhadores ao serviço em Portugal, fica que a extensão da definição de
do Estado em que as contribuições são têm conveniência em nomear um re- estabelecimento estável constante
devidas, articulando este critério com a presentante para efeitos de Segurança do Código do IRC só é aplicável na
percentagem de prestação de trabalho. Social, figura distinta do representante medida do permitido pela CDT.
Contudo, este acordo não se aplica a legal ou do representante para efeitos Ainda assim, e como já referimos,
Estados que não os indicados, e os de- fiscais, o qual será responsável pelo não estando a Convenção Modelo
mais acordos bilaterais e multilaterais cumprimento das obrigações declara- da OCDE e as CDT bilaterais e o Ins-
dos quais Portugal é signatário não tivas e de pagamento. trumento Multilateral adaptados à
endereçam o teletrabalho. Fica, por- Note-se que o representante pode realidade do teletrabalho, só os fac-
tanto, comprometida a coordenação ser um – e apenas um - dos traba- tos e circunstâncias específicos de
internacional nesses casos, a qual só lhadores da entidade. cada caso podem permitir alcançar
pode ser superada por acordo entre as conclusões a este respeito.
partes, caso os acordos o permitam. Estabelecimento estável
Ficam também de fora os Estados Havendo atividade desenvolvida em Direito laboral
com os quais Portugal não celebrou Portugal pelo empregador, pode susci- e condições de trabalho
acordos de coordenação internacio- tar-se a questão de saber se a atividade Em contexto de teletrabalho, have-
nal em matéria de Segurança Social em Portugal da entidade estrangeira rá ainda que ter em consideração o
e que, tendo em conta a dinâmica do deveria aqui ser tributada no âmbito direito internacional no que respei-
teletrabalho, poderão respeitar a ju- de um estabelecimento estável, em ta à lei aplicável em matéria laboral.
risdições com as quais Portugal tem virtude de a entidade aqui ter contra- No que respeita a condições de
relações económicas menos densas. tado um ou mais teletrabalhadores. trabalho, embora exista legislação
Sobre os registos que os empregado- Nos termos do artigo 5.º do Código harmonizada na União Europeia em
res terão de criar para efeitos contri- do IRC, considera-se estabelecimen- matéria de destacamento, não exis-
butivos nos Estados aplicáveis, dire- to estável qualquer instalação fixa te no que respeita a teletrabalho. Será
mos, em relação a Portugal, que tal através da qual seja exercida uma ati- conveniente o empregador questionar
registo implica a inscrição no Institu- vidade, nomeadamente, de natureza a Autoridade para as Condições de Tra-
to dos Registos e Notariado para ob- comercial. balho, tendo em conta o direito inter-
tenção de NIF e de NISS, para poder Incluem-se na noção de estabeleci- nacional no que respeita à lei aplicável
cumprir com as obrigações declarati- mento estável as atividades de presta- ao contrato de trabalho, nomeada-
vas (entrega das declarações mensais ção de serviços, incluindo serviços de mente, caso se considere que o traba-
de remunerações). consultoria, prestados por uma em- lhador fica sujeito à lei do país onde o
Quanto ao pagamento das quotiza- presa, através dos seus próprios em- trabalhador presta normalmente o seu
ções e contribuições, este deverá ser pregados ou de outras pessoas con- trabalho.
feito a partir de uma conta bancária tratadas pela empresa para exercerem
domiciliada numa instituição ban- essas atividades em território portu- *Consultora da OCC

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