Con Jun Tinho 281
Con Jun Tinho 281
Con Jun Tinho 281
Uma vitamina
para tempos difíceis
Paula Franco, Bastonária
SETEMBRO 2023 3
FICHA TÉCNICA SUMÁRIO
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ANO XXIII
REVISTA N.º 281 • SETEMBRO 2023
Propriedade Publicidade
Ordem dos Contabilistas Departamento
Certificados de Comunicação
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Diretora Impressão
Paula Franco LiderGraf
17
Álvaro Costa
Pedro Nuno Ferreira ISSN
1645-9237
Redação
Jorge Magalhães Organismos
Nuno Dias da Silva internacionais
a que a Ordem pertence:
Design e paginação
Duarte Camacho
João Martins
Sara Brás
Fotografia
Jorge Gonçalves
José Barros
Lauriany Ribeiro
Nuno Ribeiro
Pedro Granadeiro
Raquel Wise
Ricardo Almeida Aprovadas alterações aos estatutos das ordens
Secretariado
24
Raquel Carvalho
Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Mais de 1 600 pessoas no XVII Encontro Nacional dos Contabilistas
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SUMÁRIO
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NOTÍCIAS
17 Aprovadas alterações aos estatutos das ordens profissionais | Análise da OCC à proposta do OE/2024
18 Festa de Natal 2023
19 9 349 participantes na formação sobre boas práticas profissionais
20 Ordem alvo de ciberataque
21 Análise à Lei n.º 56/2023 | Guia prático: «Sociedades comerciais – constituição e início de atividade» |
Calendário 2024
22 Bastonária na conferência «Liderança feminina»
23 AG da FCM | OCC na Figueira da Foz | Celebração do 5 de outubro | «Portugal 2030»
24 XVII Encontro Nacional dos Contabilistas
33 Apresentação do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2022
42 Cerimónia de entrega de medalhas: Coimbra
45 Cerimónia de entrega de medalhas: Évora
48 Cerimónia de entrega de medalhas: Leiria
51 Cerimónia de entrega de medalhas: Setúbal
54 Cerimónia de entrega de medalhas: Portalegre
57 Cerimónia de entrega de medalhas: Beja
60 Cerimónia de entrega de medalhas: Faro
63 Ordem nos media
COLABORAÇÃO ISCA-UA
64 Donativos (ou doações) – questões atuais para investigação futura
FISCALIDADE
71 Teletrabalho numa ótica internacional
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ENTREVISTA
Contabilista – Reproduzir com- de criar sistemas que reproduzem Mas há ainda campos em que esta-
portamentos inteligentes em má- a inteligência humana foi formula- mos atrasados, por exemplo, a inte-
quinas é uma ambição já antiga da da nessa altura e coincidiu com as ração da robótica com o mundo real
Humanidade. O termo Inteligência primeiras expêriencias com pro- ainda é muito incipiente. E ainda
Artificial (IA) surgiu em 1956 no gramas de computador. Em suma, temos outros domínios em que a IA
seio de um grupo de cientistas que foram décadas de grande desen- está muito longe do comportamento
revelaram que conseguiriam cons- volvimento. Os primeiros anos da inteligência humana.
truir algoritmos, máquinas que foram de franco otimismo. Talvez
conseguem replicar a inteligência demasiado. Frank Rosenblatt an- Contabilista – Singularidade é um
nos humanos. Quase 70 anos após teviu que em 10 anos teríamos isto termo associado à Física e à Ma-
essa primeira referência, qual é o mais ou menos resolvido. Afinal, temática, mas também pode estar
«estado da arte» da IA no mundo? constatou-se que as questões eram relacionado com a tecnologia. Ba-
Arlindo Oliveira – Na verdade, o bem mais complexas. Atualmen- sicamente, determina um cresci-
termo foi criado em 1956, mas as te, registamos alguns sucessos em mento tecnológico desenfreado da
primeiras referências e a ideia de certas áreas, nomeadamente na super inteligência artificial com
construir sistemas inteligentes são língua natural, já temos inclusive impactos irreversíveis na civiliza-
anteriores a essa data. A ambição sistemas que falam essas línguas. ção humana. Na sua perspetiva, es-
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ENTREVISTA
tamos numa era de singularidade co está a adquir uma velocidade de aplicação geral e pode ter utili-
tecnológica? desenvolvimento tal que adquire zações em muitas áreas. Mas não
A.O. – A ideia da singularidade algumas características de singu- consegue fazer tudo. Há áreas da
deve-se a John von Neumann, um laridade, nomeadamente na difi- sociedade em que não avançamos
famoso cientista, que morreu nos culdade de previsão do futuro. Se mais rapidamente neste domínio
anos 50 do século passado e é sua a no ano 1500 era relativamente sim- da IA por falta de capacidade ins-
tese de que a tecnologia pode ace- ples prever que o futuro era mais ou talada. Se, por exemplo, na saúde
lerar tão rapidamente que nós, os menos igual ao passado, atualmen- tivéssemos mais médicos, os pa-
seres humanos, não conseguiría- te, alguém que preveja que daqui a cientes receberiam um melhor tra-
mos acompanhar o seu desenvolvi- 100 anos a sociedade será mais ou tamento e poderíamos salvar mais
mento. Pode não ser, unicamente, menos igual ao que é hoje, isso não vidas. Se a comunidade científi-
por via da IA. Há outras tecnolo- é muito credível. ca que investiga o ambiente fosse
gias que podiam conduzir a uma mais numerosa, podíamos ter mais
singularidade. Por exemplo, se de Contabilista – Defende que a IA projetos inovadores para preser-
repente inventássemos a vida eter- vai trazer melhorias na qualidade var a ecologia, se tivéssemos mais
na e as pessoas não morressem era de vida. E há muitos setores, como especialistas na captação de novas
uma verdadeira singularidade vis- a banca, a educação, a segurança formas de energia, provavelmente
to que a sociedade mudava para um nacional, a investigação policial e, já não estaríamos tão dependen-
estado completamente diferente. naturalmente, a saúde, que serão tes dos combustíveis fósseis, etc.
Em resumo, não há acordo sobre se impactados por estas transforma- Considero, por isso, ao nível dos
chegaremos a uma fase de singu- ções. Quais os setores mais bene- benefícios da IA, a saúde, a energia
laridade tecnológica, mas o que se ficiados? e o ambiente como áreas críticas,
constata é que o avanço tecnológi- A.O. – A IA é uma tecnologia de pelo impacto na qualidade de vida
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
tação suficientemente eficaz e, pior, estivesse de acordo relativamente de legisladores que defendem que
ela não é uniforme, nomeadamente às questões da proteção de dados, não devem existir modelos aber-
em termos de blocos geográficos. o desenvolvimento da IA ou, em tos, por ficarem à mercê e à dis-
termos ambientais, a emissão de posição de muitas pessoas. Pelo
Contabilista – A Europa é, por as- dióxido de carbono. Lamentavel- contrário, há os que defendem
sim dizer, o continente da regula- mente, o que se vê nesta sociedade o oposto: o código aberto é que
ção, situando-se nos antípodas do global e competitiva, é que nem to- permitará validar e controlar a
que se passa nos Estados Unidos e dos os blocos e nem todos os países aplicação dos modelos e garantir
na China. Regular é, também, uma têm a mesma abordagem. Isso co- que estes tenham coisas que não
espécie de pau de dois bicos, por- loca assimetrias que levantam ine- deviam ter. Se a regulamentação
que permite conservar, de algum gáveis desafios. impedir, por exemplo, código
modo, os valores da privacidade, aberto e a partilha de soluções e
mas hipoteca o desenvolvimento e Contabilista – Há dias escreveu algoritmos, creio que será nega-
o dinamismo económico propicia- um artigo no jornal «Público» tivo.
do pela inovação? em que defendeu que regular em
A.O. – Sim, coloca desafios. O re- demasia pode estrangular o pro- Contabilista – É possível ter uma
gulamento geral de proteção de cesso e «esmagar a revolução». IA ao serviço da Humanidade,
dados, que coloca devidamente Teme que isso possa acontecer? «sem ambivalências» e usada de
proteções sobre o que pode ser fei- A.O. – Sim, em alguns casos par- forma «responsável», como pediu
to com as nossas informações pes- ticulares. Na atualidade, grande o Papa Francisco em agosto? Ou
soais, também apresenta custos de parte do ordenamento tecnológi- tal só se conseguirá regulamen-
desenvolvimento para as empresas, co acontece pela partilha de códi- tando?
etc. O ideal seria que todo o mundo gos, de dados, etc. E há opiniões A.O. – A afirmação do Papa é re-
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ENTREVISTA
lativamente consensual. Não há Contabilista – Para já, defende soas estão mais ou menos imunes
objeções de maior. Creio que o uma tomada de posição a uma só à desinformação. Alguns estudos
ideal seria que os grandes blocos, voz? indicam que as pessoas são mui-
os Estados Unidos, a Europa, a A.O. – Sim, mais diálogo e coope- to difíceis de convencer de coisas
China, e também a Índia e o Ja- ração entre os blocos, de forma a que vão contra as suas opiniões.
pão, estivessem globalmente de chegarem a um acordo sobre as Há um crescente ceticismo e resis-
acordo quanto às aplicações de medidas que devem ser impostas tência das pessoas face a opiniões
IA. Isto é mais fácil dizer do que ao desenvolvimento e, em particu- distintas das suas. Uma investiga-
fazer, por duas razões: a primei- lar, às aplicações de IA. ção recente aponta que um ou dois
ra é porque existe pouco diálo- por cento das pessoas só mudará
go entre os blocos e depois a IA Contabilista – Sem intervenção por via de campanhas eficazes de
sendo uma tecnologia flexível e e soluções políticas de cariz de- informação ou de desinformação.
relativamente fácil de desenvol- mocrático, a IA nas mãos erradas Mas, porventura, mais sério do que
ver, torna dificil prever o que vai pode contribuir para fomentar e a desinformação, o problema mais
acontecer. Imagine que presente- abrir terreno aos populismos, ra- grave radica no facto de as pessoas
mente estamos de acordo relati- dicais e autoritários? rejeitarem informação não envie-
vamente à regulação de modelos A.O. – Por via da desinformação, sada ou equilibrada. Querem infor-
de linguagem, que é o grande sim. A desinformação já existe e mação que reforce e solidifique as
foco atual, mas ninguém diz que muita, a pergunta que se coloca é se suas opiniões. O exemplo recente
daqui a cinco anos possa aparecer a IA vai tornar este problema ainda do «Brexit», em que as pessoas não
um assunto que se torne o pomo mais dramático, com desinforma- tiveram informação equilibrada,
de discórdia. Como a tecnologia ção a uma maior escala, mais eficaz levou a que a maior parte dos britâ-
evolui muito rapidamente torna- e mais convincente. Pessoalmente, nicos tenha mantido a sua opinião
-se dificil de prever a sua evolução. estou convencido de que as pes- de abandonar a União Europeia.
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ENTREVISTA
Contabilista – Defende que a aten- função da atenção que prestamos a fornecer muita informação em tro-
ção das pessoas é o valor económi- aos seus produtos. Há, inclusive, ca de usarmos serviços que exigem
co mais alto dos nossos tempos. um livro muito interessante sobre a nossa atenção. Os mecanismos de
Talvez por esse motivo, e devido este tema chamado «Os Mercado- atenção são pensados para focar e
ao excesso de estímulos com que res de Atenção», de Tim Wu. manter a atenção da pessoa e fazem
somos “bombardeados” perma- isso reforçando as opiniões que já te-
nentemente, torna-se difícil pren- Contabilista – Ou seja, perante mos. A meu ver, isso elimina a possi-
der a atenção das pessoas para um essa lógica é impossível que um bilidade de diálogo.
tema tão crucial como é a IA para ser humano mantenha o foco no
as nossas vidas? essencial… Contabilista – Falando concreta-
A.O. – Cada segundo da nossa aten- A.O. – Ao longo dos tempos, tive- mente do nosso país, qual é a expo-
ção é valioso, na medida em que mos os jornais, depois a televisão, sição de Portugal a todas estas mu-
pode ser usado essencialmente depois a TV por cabo e, mais recen- danças em curso no âmbito da IA?
para marketing, mas também para temente, a internet. Vivemos numa A.O. – Portugal está bem posiciona-
outros fins. As grandes plataformas sociedade onde a atenção é um dos do, sendo de destacar o papel desem-
(Google, Amazon, Facebook, etc.) valores mais preciosos. Tudo é com- penhado por empresas e universi-
vivem e fazem o seu negócio em prado e vendido. E estamos dispostos dades nesta área. Em Lisboa temos
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ENTREVISTA
PERFIL
uma unidade da Rede Europeia de profunda, foi oficialmente lançado. é fidedigna, tem de ser verificada e
Machine Learning (LUMLIS) com O seu uso sem leitura de contraindi- é gerada aleatoriamente de acordo
dezenas de pessoas que trabalham cações pode ser altamente perigoso com um modelo estatístico.
nesta área e que é reconhecida inter- para utilizadores incautos?
nacionalmente. Mas também temos A.O. – O ChatGPT é a face mais visí- Contabilista – Ao nível do ensino, e
dificuldades difíceis de superar. As vel destes novos modelos de lingua- enquanto professor, preocupam-no
tecnologias são caras e difíceis de de- gem, mas o GPT-3 foi lançado ante- as eventuais situações de plágio em
senvolver, o que faz com que estejam riormente, em junho de 2020. Se as teses académicas, por exemplo?
acessíveis a governos ou a grandes pessoas souberem que estão a usar A.O. – Esta tecnologia é útil, pode
empresas. Infelizmente, Portugal um modelo estatístico e que gera pa- ser usada em benefício do processo
não tem empresas nesta área, o que lavras aleatoriamente, que pode in- de ensino, mas teremos de garantir
leva a que os países dominadores se- ventar e que não tem acesso a dados que há algum tipo de avaliação em
jam os Estados Unidos e a China. A recentes, acho que é uma ferramenta que os alunos não possam usar esta
Europa anseia desempenhar um pa- muito útil. Gera textos geralmente ferramenta. No IST estudou-se esta
pel ativo neste domínio. Vamos ver corretos e de boa qualidade, dando- matéria e foi criada uma comissão
se será bem sucedida. -nos acesso a informação que, por para a qual fui convidado para coor-
outras vias, nem sempre é muito fá- denar. O relatório concluiu que não
Contabilista – Assinala-se a 30 cil obter. Mas a advertência principal devemos impedir ou tentar impedir
de novembro um ano desde que o deve ser a seguinte: o ChatGPT não é o uso destas ferramentas, mas o im-
ChatGPT, o símbolo maior da cha- uma base de dados, não é um motor portante é clarificar as situações
mada revolução da aprendizagem de busca. A informação que gera não em que podem ser usadas. Tornar
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
lise de potenciais clientes, etc. Por a utilização de técnicas analíticas sua vertente com uma pergunta
outro lado, para aumentar a eficiên- para conhecer os seus clientes e téc- derradeira: o que é que nos reser-
cia, devem automatizar parcialmen- nicas de automação – para se torna- va o futuro do futuro?
te o seu trabalho, nomeadamente, a rem mais eficientes – vai-se tornar A.O. – A nossa civilização tecno-
elaboração de um relatório e contas cada vez mais decisiva. Apesar de lógica tem 250 anos, a Humani-
que já pode ser elaborado de forma tudo, admito que as empresas dade tem 200 mil anos e o planeta
parcialmente automatizada. mais pequenas, limitadas e fa- Terra tem milhares de milhões de
miliares, creio que continuarão anos. Acredito que a inteligência
Contabilista – Um estudo recente a existir, sempre circunscritas a e a civilização humana vão dei-
concluiu que metade das PME na- uma zona geograficamente espe- xar de ser simplesmente produto
cionais não usa tecnologias para cífica. Mas ao nível do tecido em- dos seres humanos e vão resultar
transição digital. Podemos estar presarial português seria desejá- de uma sinergia entre inteligên-
na iminência de um processo de vel ter, sobretudo, mais empresas cia humana e a inteligência arti-
darwinismo em termos de aptidão exportadoras. ficial. Provavelmente as sondas
tecnológica? que mandarmos para colonizar
A.O. – O tema do tecido empresarial Contabilista – No perfil que outros planetas vão ser sistemas
português escapa um pouco à minha ilustra o seu mais recente livro, de IA, porque não vai ser possível
área de conforto e tenho, por esse «Ciência, Tecnologia e Socieda- enviar seres humanos para outras
motivo, alguma dificuldade em ace- de» é descrito que «uma das suas estrelas. O futuro vai ser, por isso,
der a estatísticas finais, mas parece- atividades favoritas é especular muito diferente. Mas, garantida-
-me razoável assumir que as em- sobre o futuro da Humanidade mente, ninguém ousará antecipar
presas que têm uma ambição e visão neste planeta e no cosmos.» Per- como será a civilização humana
global, além do mercado nacional, mita-me, então, explorar essa daqui a mil anos.
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NOTÍCIAS
Análise OCC
SETEMBRO 2023 17
NOTÍCIAS
Pelo sexto ano consecutivo, a Ordem organi- Este ano, Nena é a grande cabeça de cartaz.
za para os seus membros e respetivos familia- A jovem artista, que se tornou conhecida com
res e amigos, a festa de Natal. o seu hit «Portas do Sol», promete cantar e
Tal como tem sucedido em edições anteriores, encantar miúdos e graúdos, como é de bom
e para que o maior número de contabilistas tom numa festa natalícia.
Festa de Natal 2023Para
à sua espera
certificados possa desfrutar da magia e do
divertir e surpreender
encanto do Natal, estão previstas quatro ses-
pela sua esponta-
neidade, está ainda previsto um momento de
sões, duas em Lisboa e duas no Porto. karaoke, em que serão protagonistas Joana
Na capital, no Auditório António Domingues Lopes e Norberto Gonçalves, contabilistas
de Azevedo (Av. Defensores de Chaves, n.º certificados com queda para a música.
85-B), a primeira sessão arranca às 19 horas Surpresas para os mais novos e atividades
do dia 30 de novembro (quinta-feira, véspera diversas compõem ainda o cartaz da edição
de feriado). A segunda sessão decorrerá no de 2023 e que prometem rasgar sorrisos junto
dia seguinte, 1 de dezembro, feriado nacio- dos destinatários mais jovens. O custo é de 20
nal, com início às 14 horas. euros por pessoa com idade igual ou superior
Nas instalações da Ordem no Porto (Largo a 18 anos. Crianças e jovens até aos 17 anos,
1.º de dezembro, n.º 43), o espírito natalício inclusive, têm entrada gratuita.
assentará arraiais durante todo o dia 2 de de- Se ainda não o fez, reserve, desde já, o seu
zembro (sábado), repartido por duas sessões. lugar. As inscrições são limitadas!
A primeira com início às 14 horas, a segunda
com arranque às 19 horas. Programa e inscrições
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NOTÍCIAS
A Ordem promoveu, em todo o país, entre rações estatutárias a adiarem o projeto, a o fundamental mesmo, é mudar mentali-
25 de setembro e 13 de outubro, um ciclo bastonária referiu que «este é um guia de dades. Por exemplo, os profissionais são
formativo subordinado ao tema «Imple- orientação para a nossa profissão, que muito bons tecnicamente, mas falhamos
mentação de boas práticas profissionais.» pretende sistematizar conhecimentos, imenso como empresários.» Contudo, a
Foi a terceira ronda de formação eventual mobilizando-nos a todos para a vontade formação não termina aqui. Posterior-
do ano e foi, em vários aspetos, diferente do de melhoria e alavancagem, de forma a mente, para quem manifestar vontade,
habitual, a começar pelo próprio manual, passarmos para o patamar seguinte», será feita formação em contexto de tra-
que surgiu dividido em dez volumes, com referiu. balho, nos gabinetes, e só depois se se-
direito à respetiva caixa de arquivo. A responsável máxima da Ordem admitiu guirá a etapa de verificação. Um projeto
No total, participaram nesta ação, 9 349 que os dois primeiros volumes (que inte- para dois anos que ambiciona transfor-
pessoas, sendo 8 315 membros e 1 214 gram as questões estatutárias e deonto- mar a profissão e os seus executantes.
não membros, a esmagadora maioria cola- lógicas da profissão) do total de 10 que
boradores de contabilistas certificados nos compõem o manual, «vão sofrer altera-
respetivos gabinetes e escritórios. ções com o novo estatuto, mas não era
«Um grande desafio e um grande projeto», possível adiar mais.» A bastonária subli-
foi desta forma que Paula Franco classifi- nhou ainda a importância de participar
cou esta iniciativa no primeiro dia desta nas formações presenciais, como forma
formação, em Lisboa, diante de cerca de «de tirar os profissionais da sua zona
800 formandos que praticamente lotaram de conforto, obrigando-os a pensar e a
o Auditório António Domingues de Azeve- refletirem nos comportamentos do dia a
do. Depois de lembrar que, após cinco anos dia, os valores do rigor e cumprimento. É
de maturação, com a pandemia e as alte- imperioso otimizar o desempenho, mas
SETEMBRO 2023 19
NOTÍCIAS
Foram dias agitados, de muito trabalho e Ordem e outros serviços dependentes de dados sensíveis ou de danos causados
de muita apreensão. Fenómeno dos tem- da Pasta CC e site. Nesse mesmo comu- nos sistemas.
pos modernos, sem fim à vista, os cibera- nicado, a bastonária descrevia o suce- A 19 de outubro, finalmente, foi anunciado
taques surgem quando menos se espera e dido como «um complexo ciberataque», fumo branco. A bastonária divulgou novo
podem atingir qualquer um, seja entidade dando conta das diligências efetuadas. comunicado onde dava conta disso mesmo,
coletiva, seja mero utilizador individual. A 10 de outubro, em novo comunicado, afiançando que «a Ordem e a sua equipa
Na madrugada de 7 de outubro, sábado, Paula Franco atualizou a situação, refe- informática estão já a delinear uma estra-
a Ordem foi alvo de um desses ataques, rindo que «os trabalhos de recuperação tégia de reforço dos sistemas informáticos
inviabilizando o normal funcionamento de dos dados e reconstrução das platafor- por forma a mitigar riscos de eventuais
algumas das ferramentas mais usadas pela mas decorrem a bom ritmo e com suces- novos ataques. As autoridades policiais
instituição e pelos seus membros. so. Por precaução, e porque queremos estão a acompanhar, a par e passo, toda a
ter total garantia de que tudo corra situação e a Ordem continuará a colaborar
Comunicados a 8 e 19 de outubro bem, ainda não recolocamos todos os e a apoiar todo o processo por forma a que
No dia seguinte, 8 de outubro, a bas- serviços online. No entanto, começando os responsáveis pelo ataque sejam devida-
tonária emitiu um comunicado escrito, já a partir desta quarta-feira, 11 de ou- mente identificados e sancionados.»
divulgado nas redes sociais da Ordem e tubro, iremos restabelecer aos poucos Ficou o susto, e a certeza de que neste
uma mensagem vídeo, onde dava conta, toda a rede de sistemas informáticos da «admirável mundo novo», nada nem nin-
precisamente, de tudo aquilo que ficara Ordem.» guém está a salvo de atores pouco reco-
inoperacional. Foram os casos da Pasta Apesar de toda a complexidade, e após mendáveis.
CC, do e-mail geral da Ordem, CCclix; longos dias de trabalho exaustivo e inin-
Comunicado
site; SICC; acesso a faturas; licenças do terrupto, a normalidade voltou, paulati-
TOConline e inscrições em eventos da namente, não havendo registo de fuga Comunicação Youtube
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NOTÍCIAS
Análise OCC
SETEMBRO 2023 21
NOTÍCIAS
A bastonária participou, no dia 19 de ou- em liderar uma instituição que acolhe 68 mil brar os preconceitos que ainda subsistem».
tubro, na primeira mesa-redonda da 10.ª membros e 150 colaboradores. «Qualquer Para Paula Franco, esta viragem tem de ser
grande conferência «Liderança Feminina», líder deve ser gerador de confiança, tanto acompanhada pelo esforço de ver a conta-
promovida pelo projeto Executiva, que de- para a sua equipa, como para os outros que bilidade noutra perspetiva, «mais em tons
correu durante todo o dia no Auditório An- o rodeiam», começou por dizer. A basto- de rosa e menos cinzenta.»
tónio Domingues de Azevedo, em Lisboa, nária lembrou que nas recentes complexas Por seu turno, Sara do Ó, empresária e tam-
dedicada à temática «Inspiring women». situações, relacionadas com a Nova Lei das bém contabilista certificada, argumentou
«Os líderes como agentes de transforma- Ordens e o ciberataque à instituição, existiu que «os contabilistas certificados são os
ção», foi o assunto escolhido para um pai- a confiança por parte dos profissionais que grandes influenciadores do tecido empre-
nel que contou ainda com a presença de os problemas seriam resolvidos. E assim foi. sarial português», beneficiando, em grande
Sara do Ó, cofundadora e CEO do Grupo Para além do mais, a responsável máxima medida, do facto de estarem próximos da
Your, Frederico Lupi, CEO da Inapa e Lúcia da Ordem acrescentou que «um líder tem decisão. Cerca de 500 pessoas assistiram a
Cavaleiro, responsável de comunicação da de ser apaixonado por aquilo que faz» e este evento, que contou aproximadamente
Tabaqueira, subsidiária em território nacio- «demonstrar capacidade para mobilizar e com três dezenas de oradores que partilha-
nal da Philip Morris. alinhar equipas em torno de um objetivo.» ram mensagens inspiradoras e motivacio-
No que ao “universo” da contabilidade no nais, tendo em vista a valorização da lide-
Contabilidade em tons de rosa nosso país diz respeito, defendeu estar a rança feminina e a promoção de um mundo
Perante uma plateia esmagadoramente fazer tudo o que está ao seu alcance para mais paritário.
constituída por congressistas do sexo femi- «operar uma grande transformação nas
Resumo e galeria fotográfica
nino, Paula Franco manifestou o seu orgulho mentalidades e, ao mesmo tempo, que-
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NOTÍCIAS
AG da FCM
Celebração do 5 de outubro
Portugal 2030
Anabela Santos, consultora da Ordem, mar- desenvolvendo no sentido de capacitar
cou presença, a 3 de outubro, num webi- os contabilistas certificados para o au-
nar sobre o Portugal 2030, promovido mento das competências profissionais.
pela consultora Baker Tilly. Esta inter- No caso concreto, foi abordado o papel
venção concretiza, em mais uma ação do contabilista certificado no âmbito
formativa, a missão que a Ordem vem dos incentivos do Portugal 2030.
SETEMBRO 2023 23
XVII Encontro nacional dos contabilistas
O utubro e chuva
podiam, à pri-
meira vista, ser uma
acolheu o evento, o
Porto. Pelo menos
por um dia, ficou pro-
mistura de ingredien- vado que há mesmo
tes desmobilizadora vida para além da
para o convívio anual contabilidade.
dos contabilistas cer- São Pedro teimou em
tificados. Mas acon- não associar-se à fes-
teceu precisamente ta anual que celebra
o contrário. A data a união profissional
não foi obstáculo – desde as primeiras
para que os profissio- horas da manhã caiu
nais e suas famílias na cidade do Porto
viajassem de todo o uma chuva fina, mas
país até à cidade «In- persistente – mas
victa» e a chuva que também não foi o
praticamente caiu contratempo meteo-
durante todo o dia também não foi pro- sos rasgados e que ao tempo de inver- rológico a impedir que a festa anual dos
blema, levando a que todas as atividades no fizeram cara alegre. contabilistas certificados tenha celebrado a
se concentrassem no interior do espaçoso, Mas foi sob o signo e o espírito da cultura união profissional e o convívio entre colegas
Super Bock Arena, também conhecido por celta que se iniciou o XVII Encontro Nacio- do mesmo ofício e as respetivas famílias.
Pavilhão Rosa Mota. nal dos Contabilistas Certificados. Tiaras,
coroas, espadas e arcos com flecha, foram Uma despedida em apoteose
Sob o signo celta adereços associados à época histórica, Já é um clássico. Um Encontro Nacional
Domingo é sinónimo de descanso, reflexão ofertados a adultos e crianças no ato de sem a performance do contabilista cer-
e família. Mas foram muitos os profissio- credenciação. Já sem falar das tatuagens, tificado com queda para a música, Cel-
nais que abandonaram o remanso dos pinturas e jogos de mesa disponibilizados so Coelho, podia realizar-se, mas não
seus lares e vieram, a 15 de outubro de para deleite dos presentes à entrada do era, certamente, a mesma coisa. «Eu
2023, até ao XVII Encontro Nacional auditório da sala de espetáculos multiusos. quero ver essas palminhas», foi o apelo
dos Contabilistas Certificados, no Por- Objetivo: recriar o modo de vestir e de es- mobilizador do profissional de Tonde-
to, para conviver com colegas e apro- tar deste povo da Antiguidade que habitou la, repetido com insistência. Após ter
veitar o tempo de qualidade junto dos regiões da Europa entre os séculos II e III apresentado o seu mais recente lança-
seus entes queridos. Muitas pessoas A.C. E também houve oportunidade para mento, o single «Eu sempre acreditei»,
felizes, das mais diversas idades e das um momento cultural, com a partilha de Celso aproveitou o mote para partilhar
mais distintas proveniências, com sorri- curiosidades históricas sobre a cidade que uma mensagem de confiança: «Se nós
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XVII Encontro nacional dos contabilistas
quisermos, podemos ter a melhor pro- Sousa e Vergília Perdigão, o rock (com feita para uma festa que mereceu o elo-
fissão do mundo. Podemos sonhar, mas Joana Lopes e Norberto Gonçalves) e, gio generalizado. Não sem antes ainda
para concretizar o sonho é preciso acre- para a despedida, o mega clássico de se ter disponibilizado um lanche e um
ditar.» José Cid, «Um grande, grande amor», magusto aos participantes, bem apro-
Para além de música celta e das canções entoado a plenos pulmões por todo o priado para uma tarde, já sem chuva,
de partir corações de Celso Coelho, no pavilhão. O refrão «Addio, adieu, aufwie- mas com o céu cor de chumbo. O Encon-
XVII Encontro, realizado no Porto, tam- dersehen, goodbye, amore, amour, meine tro Nacional dos contabilistas regressa
bém existiu lugar para o fado (com Zita liebe, love of my life» foi a apoteose per- em… 2024, em local a definir.
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XVII Encontro nacional dos contabilistas
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XVII Encontro nacional dos contabilistas
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XVII Encontro nacional dos contabilistas
Galeria fotográfica 1
Galeria fotográfica 2
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XVII Encontro nacional dos contabilistas
Ecos da festa
Que balanço faz do XVII Encontro dos Contabilistas?
Iniciativas desta natureza são úteis para promover a coesão profissional?
Faço um balanço muito positivo. De todas tre as pessoas. O ano passado, na Ma-
as edições em que já participei e penso lafaia, estava muito calor, aqui dentro
que foram cinco, foi a que mais gostei. do pavilhão é bem mais arejado. Este
Este ano notou-se uma organização evento permitiu promover um espírito
mais cuidada, tanto ao nível do almoço de partilha e de convívio entre colegas,
bem como da própria animação que foi trazendo a vida pessoal para a vida pro-
muita divertida. Foi tudo estruturado fissional. No fundo, foi juntar as peças
para propiciar uma maior interação en- todas num dia só.
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XVII Encontro nacional dos contabilistas
É a minha primeira vez nestes encontros. te encontro, seria injusto estar a desta-
Fui arrastada pela minha colega e também car isto ou aquilo. Mas talvez salienta-
pelo apelo à mobilização que a bastonária ria o jeito de outros colegas para outras
fez nas reuniões livres semanais. É uma for- atividades, como por exemplo cantar.
ma de também aprender a conviver com os Foi surpreendente e muito divertido. O
colegas. Passamos muito tempo em frente que me leva a pensar que todos nós po-
aos papéis e esquecemo-nos, muitas ve- demos explorar outras coisas. A ver se
zes, de conviver. E foi basicamente isso para o ano, para além do marido e da
que me trouxe aqui. Gostei de tudo nes- sobrinha, também trago a minha filha.
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
Informação fidedigna
ao serviço do País
Textos Jorge Magalhães | Fotos Raquel Wise
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
por dois municípios cada e 3 091 freguesias. ritariamente de transferências, situando- Atente-se no peso significativo que a taxa
-se a média nacional nos 37 por cento. Em municipal turística tem no valor global das
Metade do investimento público 2022 houve um acréscimo generalizado da taxas, multas e outras penalidades cobra-
é feito pelos municípios independência financeira. das em alguns destes municípios, nomea-
Curiosos foram os dados apresentados re- damente em Óbidos (49,3 por cento), Porto
lativamente à caracterização dos municí- IMT supera o IMI (43,4 por cento), Lisboa (38,4 por cento),
pios portugueses em perspetiva compara- e taxa turística rende 56 milhões Faro (34,1 por cento) e Vila Real de Santo
da. Na análise com outros países europeus, No que toca à estrutura das receitas cobra- António (30,7 por cento). Lisboa foi o mu-
verifica-se que a média da população por das, e aqui a oradora entrou já na análise nicípio que arrecadou maior receita de taxa
município português de 33 432 habitantes orçamental, em termos globais, a receita municipal turística ao faturar 33,1 milhões
é superior à da maioria dos países euro- cobrada total aumentou 948 milhões de eu- de euros. Seguiu-se o Porto com cerca de
peus e aproximada aos valores da Grécia, ros, sendo que a receita fiscal, proveniente 14,9 milhões de euros.
Suécia e Holanda, sendo largamente ultra- de impostos, representa 36 por cento do to-
passada apenas, pela Dinamarca, Irlanda e tal da receita cobrada, seguido das transfe- Despesa com pessoal representam
Reino Unido. rências correntes com 35 por cento, vendas 31 por cento da despesa total
Não será novidade, mas os dados confir- de bens e serviços com 9 por cento e trans- No que respeita à estrutura das despesas
mam: existe um elevado grau de centraliza- ferências de capital com 8 por cento. Des- pagas, a coordenadora do Anuário referiu
ção financeira do setor público administra- taca-se o aumento de 500 milhões de euros que, em termos globais, a despesa paga to-
tivo. Revelou Maria José Fernandes que «as de transferências correntes, de 441 milhões tal aumentou 665 milhões de euros, sendo
despesas locais dos municípios portugueses de euros de receita fiscal e de 133 milhões que as despesas com pessoal constituem a
correspondem apenas a 13,6 por cento do de euros de vendas de bens e serviços. rubrica com maior volume de pagamentos
total das despesas públicas, valores que são Considerando o peso que os impostos di- e, consequentemente, com maior peso na
dos mais baixos, quando comparados com retos cobrados têm no total da receita, em despesa paga, representando 31 por cento
a média europeia de 29,8 por cento.» 2022, o montante global de impostos di- da despesa total. Esta despesa aumentou,
No que diz respeito ao peso do investimen- retos foi de 3 871 milhões de euros, mais em 2022, 321 milhões de euros, totalizando
to local no total de investimento público, 457 milhões de euros relativamente a 2021, os 3 273 milhões de euros. 287 municípios
Portugal apresenta um valor superior (50 sendo 44 por cento proveniente do IMT, 38 apresentaram aumento da despesa com
por cento) à média europeia (45,9 por cen- por cento do IMI, 8 por cento do IUC e 10 pessoal.
to), «o que sugere uma maior intervenção por cento da derrama. O peso da despesa paga com aquisição de
dos municípios portugueses nas atividades Pela primeira vez, o valor cobrado de IMT bens e serviços, no total da despesa autár-
de investimento público», acrescentou a ultrapassou o IMI, tendo-se registado um quica, foi de 26 por cento, ao apresentar o
oradora. Contudo, as receitas locais dos aumento total desta receita de 351,5 mi- valor total de 2 727 milhões de euros. Em
municípios portugueses correspondem a lhões de euros, isto é, 28 por cento relati- 2022 esta despesa aumentou 337 milhões
15,2 por cento do total das receitas públi- vamente a 2021. Por sua vez, a coleta de de euros.
cas, valores muito abaixo da média euro- IMI e da derrama aumentou 8,7
peia de 33,4 por cento. milhões de euros e 77,9 milhões
Já no tocante à independência financeira de euros, respetivamente.
(casos em que as receitas próprias repre- Outro dado, e outro tributo mo-
sentam, pelo menos, 50 por cento das re- derno que tem vindo a ganhar
ceitas totais) verifica-se que as receitas cada vez mais peso, dá pelo
próprias assumem um maior peso rela- nome de taxa municipal turís-
tivo nos municípios de grande dimensão, tica, sendo que em 2022, os 11
representando 62 por cento do total das municípios que a aplicam cobra-
receitas destes municípios, e que, em con- ram 56,4 milhões de euros, o que
trapartida, nos municípios de pequena di- representa, em média, 30,8 por
mensão as receitas próprias representam cento do total das taxas e, em
apenas 28 por cento das receitas totais, média, 2,4 por cento do total de
sendo estes municípios dependentes maio- receita cobrada.
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
Dívidas a terceiros
com ligeiro aumento
A terceira parte da apresentação deste
anuário dizia respeito à análise económico-
-financeira.
Na totalidade dos 308 municípios verificou-
-se que, em 2022, o ativo total aumentou
1 598 milhões de euros, os fundos próprios
(acrescidos dos proveitos diferidos) aumen-
taram 1 227 milhões de euros e o passivo
aumentou 371 milhões de euros.
Os fundos próprios representam 86 por
cento do ativo total, e os passivos 14 por
cento.
Analisando a evolução das dívidas a tercei-
ros, é clara a descida acentuada da dívida
desde 2011 até 2020.
Contudo, desde 2021 que a dívida a pagar
dos 308 municípios apresenta um ligeiro au-
mento, tendo totalizado uma subida de 66
milhões de euros de 2021 para 2022, isto é,
mais 1,5 por cento. Este aumento foi, qua-
se na sua totalidade, das dívidas correntes,
que subiram 65 milhões de euros.
Em dezembro de 2021, dos 17 municípios
em incumprimento do limite da dívida,
quatro apresentaram uma dívida total su-
perior a três vezes a média de receita dos
três últimos exercícios. Estes municípios já
aderiram ao procedimento de recuperação
financeira municipal; um apresenta uma
Feitas as contas, analisando a evolução receita cobrada deste ano, incluindo o dívida total superior a 2,25 e inferior a 3
global das receitas e das despesas nos saldo de gerência, foi de 12 882 milhões vezes a média de receita dos três últimos
308 municípios, verifica-se que, quando de euros e que o montante de despesa exercícios; e 12 apresentaram o valor da
incluído o saldo de gerência anterior, a paga foi 10 612 milhões de euros, conclui- dívida total superior a 1,5 e inferior a 2,25
receita liquidada de 2022 aumentou 8,3 -se que, no final de 2022 existiu um saldo vezes a média da receita corrente líquida.
por cento relativamente a 2021, tendo de tesouraria de 2 270 milhões de euros, É ainda de referir que 34 municípios apre-
a despesa comprometida no mesmo na globalidade do setor autárquico. Este sentaram sinais de alerta precoce, nos ter-
período aumentado 5,3 por cento. O saldo foi superior em 459 milhões de eu- mos do n. º 1 do artigo 56.º do RFALEI. Por
diferencial positivo entre a receita li- ros ao total de compromissos por pagar outras palavras, àquela data, estes municí-
quidada e a despesa comprometida ve- contabilizados no final de 2022, pelo que pios apresentaram um valor de dívida to-
rificou-se em 158 municípios (mais 13 se conclui que o setor apresentou um su- tal igual ou superior à média da receita
municípios do que em 2021). peravit económico correspondente a este corrente líquida cobrada nos últimos
Considerando que o valor registado na valor, tendo-se assumido um volume de três exercícios.
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
englobam nove municípios de cada nestes ranking dos 100 melhores. aproximados na maioria dos indicado-
100 municípios (56,3 por cento de cada dis- No que concerne à pontuação obtida pe- res, havendo uma maior divergência em
trito). los municípios de cada dimensão (gran- «impostos por habitante.»
No lado oposto encontram-se os distritos de, média e pequena, respetivamente) Estas foram, de uma forma global, as
de Coimbra e Évora: têm apenas um dos em função de cada um dos indicadores contas que os municípios portugueses
seus 17 e 14 municípios, respetivamente, considerados para este ranking, Sintra, apresentaram em 2022. Na segunda
nesta lista. Tavira e Santana obtiveram pontuações metade do próximo ano, cá estaremos
Os restantes 13 distritos apresentam entre que lhes permitiram liderar em cada para analisar as contas referentes a
10 a 54,5 por cento dos seus municípios no um dos escalões e revelaram números 2023.
Pedro Mota e Costa (moderador), Carlos Carreiras (Cascais), Benjamim Pereira (Esposende), António Leitão (IHRU) e Gonçalo Lopres (Leiria)
Falou-se de habitação, saúde, educação e, lasse de habitação e temas conexos, mas Pedro Mota e Costa, economista e docente
de uma forma indireta, de paz, ou da falta os lamentos e preocupações de Benjamim universitário, e agora também um dos ros-
dela em diferentes latitudes. Com todos es- Pereira, Carlos Carreiras e Gonçalo Lopes, tos das «Reuniões Livres SNC-AP», que a
tes ingredientes, vem «à memória uma fra- respetivamente presidentes de câmara de Ordem inaugurou a 6 de novembro, assu-
se batida», ou melhor, o refrão de uma mú- Esposende, Cascais e Leiria, e também de miu o papel de moderador e tentou balizar
sica bem conhecida de Sérgio Godinho: «Só António Leitão, presidente do Instituto da o debate onde, como se verá, e ao contrário
há liberdade a sério quando houver/ A paz, Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), do que é habitual, ninguém se queixou da
o pão/ habitação/ saúde, educação (…)». acabaram por abarcar também outros pi- falta de dinheiro, mas antes da falta de tem-
O tema do debate proposto «Desafios lares essenciais da vida de uma sociedade, po e de engenho (ou excesso de burocracia)
da governação local – Estratégia local de evocando, ainda que involuntariamente, a para o tentar estender. «Quais são os desa-
habitação e Plano de Recuperação e Resi- música de Sérgio Godinho que conheceu a fios e as estratégias locais de habitação de
liência (PRR)» deixava antever que se fa- luz do dia em… 1974. cada município? O que é que isso representa
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
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ANUÁRIO FINANCEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES 2022
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
especial. Esta medalha vai ficar guardada tes, mas o contabilista nos meios pequenos
no meu escritório, também para os meus faz tudo. Até uma simples carta vem parar
clientes verem. Faço questão de exibi-la a nós.
com muito orgulho. 3 – É inevitável que as transformações
2 – A evolução foi muito grande, apesar das fruto da sofisticação da tecnologia vão
Fernanda Vinagre dificuldades que foram bastantes. Mas tive- continuar e a nós só nos restará acom-
mos sempre a Ordem na retaguarda para panhar. Aliás, como até aqui temos fei-
CC n.º 40 452
nos ajudar, em particular na altura da pan- to, adaptando o nosso trabalho a essas
1 - É muito importante para a nossa pro- demia. Sempre fui contabilista no interior, mudanças. Só podemos olhar para estas
fissão e reconhece o nosso esforço ao lon- neste caso em Mora, e considero que é, ao alterações tecnológicas como um aliado
go destes anos. Estou muito orgulhosa por mesmo tempo, fácil e difícil. Há uma maior do nosso trabalho. Primeiro estranha-
receber esta medalha. Este é um dia muito proximidade (quase familiar) com os clien- -se, depois entranha-se…
viver, este momento será recordado para tes tudo o que eles merecem. A dignifi-
sempre. Esta medalha vai ficar guardada cação da profissão também evoluiu muito
no meu escritório, em Montemor-o-Novo. – nada tem que ver com a situação de há
Depois, irá comigo para o quarto da resi- 25 anos. E é justo mencionar que a nossa
dência e, quem sabe, deixarei escrito que, Ordem tem sido muito importante, dan-
aquando do meu funeral, quero levá-la do-nos muita força e apoio, em todos os
Cipriano Dias
comigo para a minha última morada. aspetos.
CC n.º 47 537 2 – Ainda sou do tempo dos guarda-livros 3 – Sou, por natureza, um otimista po-
e tenho acompanhado a evolução até aos sitivo. O contabilista continuará a estar
1 – Estou muito grato. É, certamente, um dias de hoje, com alguns altos e baixos. muito perto do empresário. Já o papel de-
dos dias mais importantes da minha vida. Os avanços tecnológicos não têm sido fá- saparecerá por completo. Estou em crer
Tenho 74 anos – ainda estou no ativo - e ceis de acompanhar para pessoas com a que as novas gerações vão ter mais facili-
é a segunda vez que sou "condecorado" minha idade, mas tenho o meu trabalho, dade de ficarem entrosadas com as novas
e nos poucos anos que me restam para proporcionando sempre aos meus clien- tecnologias.
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?
em Monte Real, onde sou sócia, para mos- distante quanto isso – terá muita automa-
trar aos meus colaboradores e clientes. ção e automatização. Haverá programas
2 – Francamente, não gostei dos anos li- autónomos em que o contabilista introduz
derados por Domingues de Azevedo, não a informação e as máquinas fazem os cál-
representou a instituição como devia. Já culos. Provavelmente, como noutros países,
esta bastonária tem uma postura diferente. a contabilidade será feita de uma outra for-
Tem representado, e bem, a profissão e os ma. O apuramento de resultados pode ser
Natalina Domingues
profissionais, perfilhando ideias e ideais que idêntico, mas o apuramento de resultados
CC n.º 40 148 também defendo. Atualmente, sinto que a fiscais deve ser feito de forma diferente,
Ordem funciona como uma espécie de rede como já existe noutros países da Europa.
1 – É o festejo de 25 anos de uma carreira de apoio para os profissionais. Portugal ainda tem muita burocracia e mui-
muito exigente. A medalha ficará exposta 3 – Não sei qual será o papel do contabi- to papel para chegar a um resultado que
no meu local de trabalho, no meu escritório, lista, mas acredito que o futuro – e não tão ainda hoje é maleável.
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Uma medalha
com sabor a… Óscar
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Profissionais
todo-o-terreno
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Nuno Ribeiro
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
vai direitinha para a secretária do meu es- 3 – Isso já não será para o meu tempo,
critório, em Elvas, onde sou diretor técnico. mas prevejo que com a sofisticação das
2 – O tempo tem demonstrado o quão im- novas tecnologias e com a introdução
portante é a profissão de contabilista cer- da inteligência artificial os automatis-
Antonio Cipriano tificado. No fundo, os profissionais são o mos vão facilitar, em grande medida, o
CC n.º 38 908 elo de ligação, nomeadamente, entre nosso trabalho. Apesar disso, o nosso
o fisco e o próprio empresário. Sem o trabalho manual e de aconselhamento
1 – É uma cerimónia de grande importân- nosso contributo, dificilmente as em- ao empresário não será, de todo, substi-
cia em que é reconhecida a nossa profissão. presas teriam a evolução positiva que tuído. O toque humano na tomada de de-
Não posso estar mais orgulhoso. A medalha têm tido. cisão não será substituído por máquinas.
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Os resistentes
do «Portugal profundo»
Textos Nuno Dias da Silva | Fotos Lauriany Ribeiro
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?
nagem que nos valoriza. Ser contabilista últimos anos. Temos sabido encarar as difi-
no interior não é tarefa fácil. Felizmente culdades, ultrapassando-as. Os últimos anos
temos uma Ordem sempre disponível foram de valorização para esta profissão, es-
para apoiar, mas nem sempre é simples pecialmente em dois momentos tão difíceis,
obtermos informação da forma mais rá- como foi a pandemia e a recente Nova Lei
pida para resolver os problemas que os das Ordens. Sublinho que sem mais valoriza-
nossos clientes nos colocam. As novas ção, não conseguiremos avançar.
Ana Maia tecnologias têm mitigado essas dificulda- 3 – Espero que a profissão e os profissionais
CC n.º 44 009 des. Esta medalha vai ficar exposta no escri- resistam à evolução tecnológica. A contabi-
tório para os clientes verem. lidade não se faz só com tecnologia. Sem o
1 – É um dia representativo do nosso tra- 2 – Foi um percurso acidentado, mas são toque pessoal de um profissional, a profissão
balho, esforço e dedicação. É uma home- notórias as melhorias, em particular nos perderá valor.
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
Em cada cerimónia, pedimos a três medalhados que respondessem a três questões. Eis as suas respostas e opiniões.
1 – O que significa para si esta medalha?
2 – Tem 25 anos de inscrição na Ordem. Como olha para o percurso da instituição ao longo deste quarto de século?
3 – Para terminar, um desafio: é capaz de antecipar o que será a profissão daqui a 25 anos?
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS MEDALHAS (1998/2023)
sempre tive uma especial predileção por Muito pelo contrário. Aliás, estou em crer
números, pela contabilidade e mais tar- que sem esta bastonária e a sua direção,
de também gostei de fiscalidade. A me- muitos colegas já teriam desistido.
dalha vai para o meu gabinete de con- 3 – A profissão de contabilista certi-
tabilidade, em Tavira, num lugar com o ficado nunca irá acabar, até porque
devido destaque, junto ao diploma de está diretamente ligada com questões
Cristina Santos membro efetivo da Ordem. fiscais. O que faz toda a diferença. O
2 – O caminho até aqui não tem sido Estado quererá continuar a cobrar im-
CC n.º 39 946
fácil. Comparativamente ao período em postos e as boas empresas (porque,
1 – É um marco na minha vida pessoal e que comecei, noto que há cada vez mais com toda a sinceridade, são essas
profissional. Na verdade, foi uma longa exigência, mas também há muito mais que nos interessam) também precisa-
batalha, muito particular. Era um sonho desgaste. Felizmente, nos últimos anos, rão sempre de um bom profissional a
de vida ser alguém, conseguir ter uma em termos institucionais, não poderia auxiliá-las. Com trabalho, rigor e exi-
profissão digna. Não vou dizer que era ser melhor o apoio que temos, a todos gência, esta profissão continuará a ser
a profissão com que sempre sonhei, mas os níveis. Não me sinto desamparada. imprescindível.
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ORDEM NOS MEDIA
OCC homenageia
profissionais do Distrito
de Évora
«Num périplo pelo país, a Ordem dos
Contabilistas Certificados (OCC) está
a realizar sessões em diferentes pontos
para entregar medalhas aos membros que
contam com 25 anos de inscrição nesta
entidade. A Delegação de Évora acolheu a
iniciativa na passada segunda-feira, sendo
TVI - «Esta Manhã» - Programa «Mais Habitação» (16 de outubro 2023)
O que muda em termos fiscais na habitação? Após avanços e recuos as novas me- distinguidos os contabilistas certificados
didas estão em vigor. Paula Franco explicou, em conversa com Nuno Eiró e Sara deste distrito, numa cerimónia contou com
Sousa Pinto, as principais alterações.. a presença da bastonária da OCC, Paula
Franco (...)»
REDES SOCIAIS
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COLABORAÇÃO ISCA-UA
64 CONTABILISTA 281
COLABORAÇÃO ISCA-UA
ceito de doação conferido pelo Códi- 218/2015, de 23 de julho – Código de lucrativos (vulgo, empresas) se des-
go Civil (CCv): «Doação é o contrato Contas – apresenta as seguintes con- tina a registar verbas não destina-
pelo qual uma pessoa, por espírito tas para as ESNL: «75 – Subsídios, das à exploração, ou de outra forma:
de liberalidade e à custa do seu pa-
1
doações e legados à exploração» e a destinadas ao investimento, que, em
trimónio, dispõe gratuitamente de conta «594 – Outras variações nos princípio, assumem uma vida útil
uma coisa ou de um direito, ou as- fundos patrimoniais – doações». que extravasa o exercício em que fo-
sume uma obrigação, em benefício Para as outras entidades (ditas «lu- ram recebidos ou consignados 3.
de outro contraente» (conforme n.º crativas»), elenca as seguintes: «75
1 do artigo 940.º do CCv). – Subsídios à exploração» e «594 – Mensuração
Em bom rigor, na linguagem do EBF, Outras variações no capital próprio de doações/donativos em espécie
continuamos na presença de «dona- – doações». Nas notas explicativas A questão da mensuração dos bens
tivo». Outra ideia a ressaltar é que a não existem quaisquer comentários em espécie revela-se importantíssi-
doação não tem de ser consubstan- em torno da conta «594 – Doações»2 ma. Para efeitos de simplificação, re-
ciada em imóveis. O «património» Ao invés, existem notas diferencia- duzamos a tipologia dos donativos a
(da definição) pode, obviamente, das para a conta 75, consoante se AFT e a inventários. Não é incomum,
incluir imóveis, outros ativos fixos trate de ESNL ou das outras enti- na prática empresarial, a mensu-
tangíveis (AFT), ativos intangíveis, dades (empresariais). Relativamen- ração dos bens doados mostrar-se
direitos sobre terceiros, dinheiro te à conta «75 - Subsídios, doações demasiado subjetiva (pecando por
(“vivo”), entre outros. Em síntese, e legados à exploração», a nota diz excesso), ou seja, o valor não é de-
termos diferentes para a mesma rea- taxativamente: «Esta é uma conta terminado em conformidade com a
lidade! específica das ESNL. Registam-se legislação fiscal, sobretudo em des-
É legítima a interrogação: o que de- nesta conta os subsídios das entida- respeito do EBF. Recorde-se a solu-
fine, nesta matéria, o Sistema de des públicas e os subsídios, doações ção preconizada: no caso de donati-
Normalização Contabilística? Dou- e legados dos instituidores/funda- vos em espécie (síntese do n.º 11 do
tra forma: o que está preconizado, dores das entidades destinados à artigo 62.º, n.º 5 do artigo 62.º-A e n.º
na esfera da entidade beneficiária, exploração.» Desta definição pode 7 do artigo 62.º-B do EBF), efetuados
para a sua contabilização? Admi- inferir-se que a conta 594, quer nas por sujeitos passivos de IRC ou IRS
tamos: muito pouco. A Portaria n.º ESNL quer nas entidades com fins que exerçam atividades empresa-
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Não Qualquer situação Não liquida IVA f), n.º3, art.º 3.º, a contrario
Amostras Não liquida IVA n.º 7 do art.º 3.º e Portaria n.º 497/2008, de 24/06
Sim (Algumas ) doações ao Estado e IPSS para pessoas carenciadas Não liquida IVA n.º 10, art.º 15.º do CIVA
ESNL reconhecidas fora UE Não liquida IVA o), n.º 1. art.º 14.º do CIVA
gócios do sujeito passivo no ano civil zados pelo sujeito passivo. produzidas pelo sujeito doador quer
anterior .6 Tecidas as considerações preambu- adquiridas a terceiros, e caso se te-
Quanto às amostras, o próprio n.º 7 lares, iniciemos as várias hipóteses nha procedido à dedução do IVA,
do artigo 3.º do CIVA, alicerçado na de transmissões gratuitas em sede ter-se-á de, à luz do n.º 7 do artigo
redação da referida Portaria, pro- de IVA. Para o efeito, construiu-se, 3.º do CIVA, classificá-las em infe-
porciona alguns contributos para a partir da doutrina firmada pelas riores ou iguais a 50 euros ou supe-
a sua definição 7. Assim, amostras informações vinculativas, a tabela riores a esse valor. No primeiro caso,
«são bens não destinados a poste- 1. Comecemos por referir o macro não haverá liquidação de IVA, de-
rior comercialização que, pelas suas princípio inerente aos donativos (?) vendo existir na segunda hipótese 8.
características, ou pelo tamanho ou em espécie: a não dedução total ou Continuando a análise, segue-se a
formato diferentes do produto que parcial do IVA na aquisição dos bens isenção prevista no n.º 10 do artigo
constitua a unidade de venda, vi- a doar permite, por regra, a não li- 15.º do CIVA, que nos merece espe-
sem, sob a forma de amostra, apre- quidação de imposto aquando da cial atenção. Desde logo, a alínea a)
sentar ou promover bens produzido oferta/donativo/doação. do n.º 1 restringe as entidades bene-
ou comercializados pelo próprio su- Da análise da tabela, repara-se que ficiárias das transmissões gratuitas
jeito passivo.» De outra forma, utili- as amostras, na conceção supra ao Estado, instituições particula-
zando a sistematização do ponto 10 apresentada, independentemente do res de solidariedade social (IPSS) e
da Informação Vinculativa (IV) 13 valor que lhes possa ser atribuído e organizações não governamentais
855, de 8 de agosto de 2018, da dire- ainda que se tenha verificado a de- (sem fins lucrativos), impondo tam-
tora de serviços do IVA, para a deli- dução parcial ou total do IVA na sua bém uma condição sine qua non de
mitação de «amostra» é importante aquisição ou produção, a sua trans- tais bens serem distribuídos a pes-
verificar-se: missão gratuita não implica liqui- soas carenciadas, em princípio,
- Tenham um formato ou tama- dação de IVA. Não esqueçamos que numa relação/utilização direta.
nhos diferentes do produto que a sua própria definição assenta na Neste contexto, a IV 337, de 15 de
constitua a unidade de venda; ou quase impossibilidade de utilização fevereiro de 2020, do SGD do IVA
- Sejam apresentados em quanti- enquanto bem comerciável. Portan- defende que a impressora multifun-
dade, capacidade, peso ou medida to, muito dificilmente adquirirão ções (o donativo em espécie) que de-
substancialmente inferiores aos o estatuto de donativo/doação, ou terminada entidade pretende doar a
que constituem a unidade de ven- seja, com utilidade para as ESNL ou uma IPSS para utilização de pessoas
da; e quaisquer outros operadores econó- carenciadas, eventualmente seus
- Em ambos os casos, se destinem micos, senão enquanto apresentação utentes ou clientes, ou não, não pode
a apresentar ou promover os pro- e promoção de produtos. usufruir desta isenção porque a pró-
dutos produzidos ou comerciali- Já no que se refere às ofertas, quer pria IPSS poderá utilizar em seu be-
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nefício tal equipamento. Contudo, c) isenta «as transmissões a título - Reconhecimento prévio do di-
o relator propõe uma alternativa: gratuito efetuadas a entidades inte- reito à isenção; e
a empresa doadora considerar tal gradas na Rede Portuguesa de Mu- - A igualdade de tratamento de
transmissão como oferta, podendo seus.» À laia de conclusão, não são transmissões gratuitas ou one-
não liquidar IVA se o valor da oferta muitas as transmissões gratuitas rosas, entre outros. Portanto, de
for inferior ou igual a 50 euros! Vere- de bens que podem aproveitar estas aplicação mais controlada e res-
mos, adiante, que esta possibilidade isenções. trita.
pode desvirtuar o atual paradigma Para terminar a sequência da tabela
do mecenato. Por outro lado, a IV 1, resta analisar uma outra hipótese Da teoria à prática: hipóteses,
3273, de 27 de junho de 2012, entre de isenção, menos tratada nas in- dúvidas e investigação…
outras, questiona que tipo de docu- formações vinculativas, concreta- Nesta fase, já na posse de alguns
mento comprova ou justifica o desti- mente a alínea o) do n.º 1 do artigo conceitos-chave, e porque a princi-
no/utilização dos bens doados (pon- 14.º do CIVA, que isenta «as trans- pal razão justificadora deste intento
to 2). Não é proporcionada resposta a missões de bens para organismos reside em algumas (aparentes) sim-
este item. Mas, diz o bom senso, que devidamente reconhecidos que os ples questões que um empresário
deve ser uma prática corrente e que exportem para fora da Comunidade colocou, numa linguagem terra a
tal documento deve fazer parte do (leia-se União Europeia) no âmbito terra.
processo de documentação fiscal (cf. das suas atividades humanitárias, Questão a resolver: «Estamos a pen-
artigo 130 do CIRC). caritativas ou educativas, mediante sar desfazermo-nos da mercadoria
A alínea b) do n.º 10 do artigo 15.º prévio reconhecimento do direito LL&O, ou doando-a a uma IPSS ou
do CIVA isenta «as transmissões à isenção.» A redação suscita, em a outras associações ou vendendo-
de livros a título gratuito efetuadas nossa opinião, várias dificuldades -a (ao peso) para a sucata. Qual é a
aos departamentos governamentais de interpretação, sobretudo no que melhor solução para a empresa? Ou
nas áreas da cultura e educação, a se refere ao alcance da norma. Ve- seja, o que nos custa menos?
instituições de carácter cultural e jamos o que a IV A100 2007901, de Tenha-se em consideração os se-
educativo, a centros educativos de 23 de abril de 2008 defende: - O re- guintes elementos:
reinserção social e a estabelecimen- conhecimento prévio dos referidos a) Volume de negócios médio
tos prisionais.» Por último, a alínea organismos; (exercício anterior e atual): 1 500
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I niciamos a nossa análise com estejam em causa Estados distintos, OCDE, os salários obtidos de um
as considerações fiscais. Se esta pode continuar a ser considerado emprego por um residente de um
questão já suscitava problemas de como elemento de conexão subjeti- Estado contratante só podem ser
delimitação da competência tributá- vo para efeitos de aplicação das CDT. tributados nesse Estado, a não ser
ria entre Estados antes da pandemia, Isto porque, existindo uma residên- que o emprego seja exercido no ou-
tornou-se mais relevante e urgente cia física identificável do teletraba- tro Estado contratante. Se o empre-
de solucionar no contexto pós-pan- lhador num determinado Estado (o go for aí exercido, as remunerações
démico, sendo certo que as soluções que, na verdade, pode não suceder correspondentes podem ser tributa-
legislativas ainda se encontram em em caso de nomadismo, mas vamos das nesse outro Estado.
construção. apenas considerar o cenário base Verifica-se que o “exercício” do
Isto porque quer a Convenção Mode- mais simples), o direito interno des- emprego é uma construção jurídica
lo da OCDE, que serve de base à ne- te Estado considerará o teletraba- ancorada na presença física e não no
gociação das convenções para evitar lhador como seu residente à luz dos exercício do trabalho em benefício
a dupla tributação (CDT) bilaterais, critérios gerais de residência. Mas material da atividade do emprega-
quer as CDT estão construídas com o Estado do empregador, que é o da dor, o que conduz à situação de in-
base em elementos de conexão ou fonte do rendimento e em favor de capacidade de o “exercício” ende-
repartição de competências basea- quem o trabalho é prestado, deveria reçar a repartição de competências
das na realidade do trabalho físico. também ter competência tributária, tributárias entre Estados no caso do
Embora há vários anos se venha dis- pelo facto de o trabalho ser exerci- teletrabalho.
cutindo a reformulação dos acordos do para o empregador desse Estado, Ainda assim, e porque não pode-
internacionais para acomodar a rea- pelo menos em circunstâncias de mos cair num vazio normativo e o
lidade do teletrabalho internacional, exercício do trabalho por período objetivo das convenções é evitar e
a verdade é que só a pandemia con- superior a 183 dias. Só que, sendo não promover a dupla tributação ou
seguiu trazer de volta o tema para a dispensada a presença física do te- a dupla não tributação, haverá que
discussão. letrabalhador, embora o trabalho encontrar um critério de interpre-
Comecemos por enunciar o proble- continue a ser prestado para o re- tação à luz desses princípios.
ma: o que está em causa é saber se sidente de outro Estado, é exercido, Enquanto não se encontrar outra
um critério de residência física de um pelo menos fisicamente, fora desse solução, a mais fácil, digamos, será
teletrabalhador internacional, a que Estado. considerar que o trabalho é “exer-
não corresponde uma presença físi- Com efeito, de acordo com as re- cido” no Estado da residência do
ca de prestação de trabalho no esta- gras de atribuição de competências teletrabalhador, ainda que, como se
belecimento do empregador, quando tributárias da Convenção Modelo da entenda, tal corresponda apenas a
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FISCALIDADE
um exercício em termos de conexão tiva apenas vincula quem a emitiu, dor não residente efetuar retenções
física e não material, pois, em rigor, no caso Espanha, que não se encon- na fonte em Portugal, por aqui dispor
o trabalho é exercido para e em be- tra obrigada a consultar a autoridade de um número de identificação fiscal
nefício de um empregador residente tributária portuguesa a este respeito. atribuído.
noutro Estado, destinando-se a servir Se é verdade que, no caso concreto, Neste sentido, veja-se que uma pessoa
a execução da atividade económica Portugal, certamente, não se oporá singular não residente solicitou a con-
do empregador e a ser incorporado na a este entendimento, o que dizer do firmação a título vinculativo desta
produção de bens e serviços realizada caso contrário? mesma questão em relação a um tra-
noutro Estado. Assiste, pois, preten- Temos, assim, as normas internas balhador do serviço doméstico ao seu
são tributária ao Estado do emprega- e convencionais não se encontram serviço em Portugal, tendo-lhe sido
dor, pois é para tal Estado que a pro- adaptadas à realidade do teletrabalho, transmitido o entendimento de que a
dução do teletrabalhador contribuiu. o que, em situações em que o Estado obrigação de retenção na fonte é apli-
A adoção simplista desta solução fá- de residência seja Portugal pode ter cável mesmo para um não residente
cil pode, contudo, ser fonte de dupla implicações ao nível do reconheci- sem estabelecimento estável ou ins-
tributação, pois nada compromete os mento de créditos de imposto por du- talação fixa em Portugal (conforme
dois Estados a adotar unilateralmen- pla tributação jurídica internacional processo n.º 461/2018, com despacho
te este mesmo entendimento. Sendo relativamente a Estados que conside- concordante da subdiretora de servi-
certo que a vasta maioria das con- rem que, por neles serem residentes ços do IR, de 29-05-2018). Há, contu-
venções bilaterais contêm cláusulas os empregadores, o teletrabalho é aí do, entendimentos que apontam em
de procedimento amigável e troca exercido e não no Estado de residência sentido diverso, como o veiculado no
de informações, também é certo que do teletrabalhador. Processo: 5942/2021, despacho de 1 de
deixar a resolução desta questão na Por outro lado, a questão também se setembro de 2021, do diretor de servi-
mão de mecanismos administrativa- estende à retenção na fonte. ços de Relações Internacionais.
mente complexos não parece a me- É certo que o empregador não resi- Pelo que é possível entender que, sen-
lhor solução. dente, não tendo em Portugal um do atribuído um NIF (e, nessa sequên-
Vem isto a propósito do conhecimen- estabelecimento estável, e assumin- cia, password para acesso ao Portal
to de uma informação vinculativa do que o trabalho é aqui exercido e das Finanças), é possível, pelo menos
emitida pelas autoridades fiscais es- apenas Portugal tem competência do ponto de vista dos procedimentos
panholas (DGT, V2440/2022, de 25- tributária sobre esses rendimentos práticos, efetuar retenções na fonte
11-2022), em que um teletrabalhador de fonte estrangeira, não se deveria como se de uma entidade residente
residente em Portugal ao serviço de encontrar obrigado a efetuar reten- ou estabelecida em território nacio-
um empregador espanhol questionou ções na fonte, em Portugal, sobre es- nal se tratasse. Do mesmo modo, a
a confirmação da sua situação fiscal. ses rendimentos. entidade pode cumprir com as obri-
E nessa resposta vinculativa foi afir- Em relação à retenção na fonte, nos gações declarativas fiscais como se
mado pela autoridade tributária es- termos do artigo 99.º do Código do de uma entidade residente ou estabe-
panhola que «No tributan en España IRS, as entidades devedoras de ren- lecida se tratasse.
las rentas por el teletrabajo prestado dimentos de trabalho dependente são A ser feita retenção na fonte de IRS,
por un residente en Portugal», assim obrigadas a reter o imposto no mo- esta é efetuada nos mesmos termos
reafirmando a solução que enuncia- mento do seu pagamento ou colocação aplicáveis a quaisquer outros traba-
mos, no sentido de que a autoridade à disposição dos respetivos titulares. lhadores dependentes residentes.
tributária espanhola considera que o Sendo certo que a entidade devedo- Diferentemente do que sucede com as
teletrabalho prestado a empregador ra não disporá, em princípio, de es- contribuições para a Segurança So-
espanhol por um residente em Portu- tabelecimento estável em Portugal, cial, o pagamento das retenções na
gal é exercido em Portugal, pelo que não deveria haver lugar a retenção na fonte pode ser feito a partir de uma
Espanha não tem competência tribu- fonte, nos termos referidos. Contu- conta bancária estrangeira.
tária sobre os rendimentos de fonte do, como veremos para efeitos con- Embora os rendimentos sejam de
espanhola obtidos pelo teletrabalha- tributivos, a eventual obrigação de fonte estrangeira, se a entidade es-
dor residente em Portugal. se registar em Portugal para efeitos trangeira comunicar os rendimentos
Contudo, esta informação vincula- contributivos permitirá ao emprega- e retenções na fonte através das de-
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clarações mensais de remunerações, De todo o modo, o n.º 3 do artigo 11.º rio A1 deverá solicitá-lo à UCI, para
o trabalhador verá os seus rendimen- contém uma disposição residual, nos o seguinte endereço de e-mail: ISS-
tos e retenções pré-preenchidos no termos da qual «outra pessoa à qual -IInternacionais@seg-social.pt»
anexo A, como se de rendimentos de não sejam aplicáveis as alíneas a) a E importa ainda dar a conhecer que,
fonte portuguesa se tratasse. De todo d) está sujeita à legislação do Estado- desde 1 de julho de 2023, se encontra
o modo, para o trabalhador a carga -membro de residência, sem prejuízo em vigor um Framework Agreement,
fiscal é a mesma, caso os rendimentos de outras disposições do presente re- que complementa os Regulamentos
sejam declarados como de fonte por- gulamento que lhe garantam presta- (CE) n.º 883/2004 e 987/2009.
tuguesa (no anexo A) ou estrangeira ções ao abrigo da legislação de um ou No âmbito deste acordo, que comple-
(no anexo J). mais outros Estados-membros.» menta os referidos regulamentos, os
Por outro lado, o art.º 21.º do Regula- Estados da União Europeia, Espaço
Considerações contributivas mento (CE) n.º 987/2009, estabelece Económico Europeu e Suíça acorda-
Em termos do cumprimento das obri- no seu n.º 1 que um empregador que ram que a legislação relevante para
gações declarativas e de pagamento tenha a sua sede ou centro de ativi- efeitos de cobertura em matéria de
da entidade enquanto empregadora, dades fora do Estado-membro com- Segurança Social dos trabalhadores
há, atualmente, mais segurança jurí- petente deve cumprir as obrigações habitualmente em teletrabalho em si-
dica do que em matéria fiscal. previstas pela legislação aplicável aos tuações em que o Estado de residência
Com efeito, nos termos do Regula- seus trabalhadores, nomeadamente a do trabalhador e o local do estabeleci-
mento (CE) n.º 883/2004, a pessoa obrigação de pagar as contribuições mento do empregador são distintos, é a
que exerce uma atividade por conta previstas por essa legislação, como se do Estado de residência do trabalhador.
de outrem ou por conta própria no tivesse a sua sede ou centro de ativi- A entidade empregadora pode pedir
território de um Estado-membro está dades no Estado-membro competente. que o trabalhador fique sujeito à le-
sujeita, em princípio, à legislação de Nestas situações, o empregador e o gislação do seu Estado (da entidade
Segurança Social desse Estado, mes- trabalhador podem acordar que este empregadora) apenas no caso de o
mo que resida no território de outro último dê cumprimento às obrigações teletrabalho no Estado de residência
Estado-membro ou mesmo que a en- do empregador, por conta deste, no do trabalhador representar menos de
tidade empregadora que emprega a que respeita ao pagamento das con- 50 por cento do seu tempo total de
pessoa por conta de outrem tenha a tribuições, sem prejuízo das obrigações trabalho. O que significa que, regra
sua sede ou domicílio no território de subjacentes do empregador. O empre- geral, se o trabalhador apenas traba-
outro Estado-membro (alínea a) do n.º gador comunica tal acordo à instituição lhar no seu Estado de residência, não
3 do artigo 11.º). competente daquele Estado-membro. pode ficar sujeito à legislação do Es-
Assim, se uma entidade empregadora É ainda de assinalar que a Segurança tado da entidade empregadora. Estas
de um Estado-membro contratar um Social já teve oportunidade de se pro- regras não se aplicam a trabalhadores
trabalhador em Portugal para aqui nunciar sobre os efeitos do teletraba- independentes nem a trabalhadores
exercer atividade, será aplicável a le- lho nos seguintes termos: por conta de outrem que não sejam
gislação do Estado-membro do exer- «Estou a trabalhar em Portugal, em considerados trabalhadores em tele-
cício da atividade. situação de teletrabalho, para uma trabalho.
Esta regra–critério do local da presta- empresa sedeada noutro país. Onde O conceito de residência usado no
ção da atividade – não tem em conta tenho que descontar? Devo pedir o acordo não é equivalente à definição
a modalidade de teletrabalho. É que, destacamento? para efeitos de IRS, sendo o conceito
no teletrabalho, o que está em causa Neste caso, o trabalhador deverá próprio dos Regulamentos, tal como
não é os trabalhadores estarem a pres- inscrever-se com base no art.º 21.º, e acontece com as definições de tele-
tar os seus serviços para a realização efetuar os seus descontos para a Se- trabalho e trabalhadores abrangidos.
da atividade da entidade estrangeira gurança Social portuguesa, visto que Do exposto, decorre que o acordo que
em Portugal, mas somente estarem a Portugal é o país em que o trabalha- vigora desde o segundo semestre des-
exercer uma atividade em Portugal, dor se encontra fisicamente a exer- te ano vem dar cobertura ao enten-
por conveniência, não tendo a ativida- cer a sua atividade. Não se trata de dimento que já vigorava no âmbito
de da entidade estrangeira, em princí- uma situação de destacamento. Se o do Regulamento n.º 883/2004, mas
pio, qualquer conexão com Portugal. trabalhador necessitar do formulá- que não endereçava especificamente
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FISCALIDADE
o teletrabalho. Por outro lado, este cária estabelecida em Portugal, não guês, desde que tais atividades sejam
acordo permite evitar a escolha da sendo, até à data, aceites transferên- exercidas durante um período ou pe-
jurisdição mais atrativa em termos cias bancárias a partir de contas ríodos que, no total, excedam 183 dias
contributivos, evitando assim que as bancárias estrangeiras. Em alter- num período de 12 meses com início
partes possam ter margem para fixar nativa, a entidade pode abrir uma ou termo no período de tributação
o Estado onde pretendem efetuar as conta numa instituição bancária em causa (conforme art.º 5.º, n.º 3,
contribuições. estabelecida em Portugal, tendo em alínea c) do Código do IRC).
Por outro lado, torna-se inequívoco vista a realização desses pagamen- Contudo, quando esteja em causa
que as entidades empregadoras terão tos, sem que tal abertura de conta a aplicação de CDT (eventualmen-
de se registar para efeitos contributi- constitua, por si só, um indício da te, impactada na sua redação pe-
vos no Estado onde o teletrabalhador existência de um estabelecimento las alterações aplicáveis no âmbito
reside e presta a parte mais significa- em Portugal. do instrumento multilateral), esta
tiva do seu trabalho, o que não coloca Em regra, os empregadores estran- delimita negativamente a noção de
apenas na residência o elemento de geiros não estabelecidos e com vários estabelecimento estável. Isto signi-
conexão para efeitos de determinação trabalhadores ao serviço em Portugal, fica que a extensão da definição de
do Estado em que as contribuições são têm conveniência em nomear um re- estabelecimento estável constante
devidas, articulando este critério com a presentante para efeitos de Segurança do Código do IRC só é aplicável na
percentagem de prestação de trabalho. Social, figura distinta do representante medida do permitido pela CDT.
Contudo, este acordo não se aplica a legal ou do representante para efeitos Ainda assim, e como já referimos,
Estados que não os indicados, e os de- fiscais, o qual será responsável pelo não estando a Convenção Modelo
mais acordos bilaterais e multilaterais cumprimento das obrigações declara- da OCDE e as CDT bilaterais e o Ins-
dos quais Portugal é signatário não tivas e de pagamento. trumento Multilateral adaptados à
endereçam o teletrabalho. Fica, por- Note-se que o representante pode realidade do teletrabalho, só os fac-
tanto, comprometida a coordenação ser um – e apenas um - dos traba- tos e circunstâncias específicos de
internacional nesses casos, a qual só lhadores da entidade. cada caso podem permitir alcançar
pode ser superada por acordo entre as conclusões a este respeito.
partes, caso os acordos o permitam. Estabelecimento estável
Ficam também de fora os Estados Havendo atividade desenvolvida em Direito laboral
com os quais Portugal não celebrou Portugal pelo empregador, pode susci- e condições de trabalho
acordos de coordenação internacio- tar-se a questão de saber se a atividade Em contexto de teletrabalho, have-
nal em matéria de Segurança Social em Portugal da entidade estrangeira rá ainda que ter em consideração o
e que, tendo em conta a dinâmica do deveria aqui ser tributada no âmbito direito internacional no que respei-
teletrabalho, poderão respeitar a ju- de um estabelecimento estável, em ta à lei aplicável em matéria laboral.
risdições com as quais Portugal tem virtude de a entidade aqui ter contra- No que respeita a condições de
relações económicas menos densas. tado um ou mais teletrabalhadores. trabalho, embora exista legislação
Sobre os registos que os empregado- Nos termos do artigo 5.º do Código harmonizada na União Europeia em
res terão de criar para efeitos contri- do IRC, considera-se estabelecimen- matéria de destacamento, não exis-
butivos nos Estados aplicáveis, dire- to estável qualquer instalação fixa te no que respeita a teletrabalho. Será
mos, em relação a Portugal, que tal através da qual seja exercida uma ati- conveniente o empregador questionar
registo implica a inscrição no Institu- vidade, nomeadamente, de natureza a Autoridade para as Condições de Tra-
to dos Registos e Notariado para ob- comercial. balho, tendo em conta o direito inter-
tenção de NIF e de NISS, para poder Incluem-se na noção de estabeleci- nacional no que respeita à lei aplicável
cumprir com as obrigações declarati- mento estável as atividades de presta- ao contrato de trabalho, nomeada-
vas (entrega das declarações mensais ção de serviços, incluindo serviços de mente, caso se considere que o traba-
de remunerações). consultoria, prestados por uma em- lhador fica sujeito à lei do país onde o
Quanto ao pagamento das quotiza- presa, através dos seus próprios em- trabalhador presta normalmente o seu
ções e contribuições, este deverá ser pregados ou de outras pessoas con- trabalho.
feito a partir de uma conta bancária tratadas pela empresa para exercerem
domiciliada numa instituição ban- essas atividades em território portu- *Consultora da OCC
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