Poema
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2. POEMA
1. Responda as questões.
a) Você gosta de poema? b) Você conhece algum poeta da sua região?
2. Agora, leia o poema a seguir de Fernando Pessoa:
Autopsicografia
O poeta é um fingidor. E os que leem o que escreve, E assim nas calhas da vida
Finge tão completamente Na dor lida sentem bem, Gira, a entreter a razão,
Que chega a fingir que é dor Não as duas que ele teve, Esse comboio de corda
A dor que deveras sente. Mas só as que ele não tem. Que se chama coração.
PESSOA, Fernando. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pe000006. Acesso em: 26 jun. 2023.
Observe que, no poema, abordam-se o fazer poético e os papeis do poeta e da própria poesia. O poeta é aquele que
consegue se colocar no lugar do outro, sentir por ele, contar o que esse outro sente, mas é também aquele que, dando a
entender que fala da dor do outro, acaba falando da própria dor. Ao mesmo tempo, o leitor, diante do poema, ao
interpretá-lo, pensa estar lendo sobre a dor do poeta; no entanto, pode apenas estar lendo sobre a dor do eu lírico e, ao
ler, sente-se bem, reconfortado. A emoção, representada pelo coração (3ª estrofe), é que se expressa no poema,
ludibriando (entretendo) a razão. Esta se manifesta no fazer poético, filtrando a emoção. Essas são apenas
possibilidades de leitura desse poema, que tem encantado gerações e gerações.
Pit Stop 1
Fernando Pessoa (1888 – 1935) nasceu em Lisboa e foi um dos mais importantes poetas portugueses. Uma
particularidade desse autor é que, além de escrever como Fernando Pessoa, criou diversos heterônimos, com
personalidade e estilos próprios (Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos), além de semi-heterônimos (Bernardo
Soares, Antonio Mora, José Pacheco, etc.), múltiplas facetas de uma escrita literária intensa.
O poema é um gênero textual que se estrutura com palavras, expressões em sentido figurado e pode também ser
composto de imagem.
Pode expressar um estado emocional e também narrar uma história.
Estruturalmente, compõe-se de versos, estrofe, A linguagem é mais sintética.
sonoridade, métrica. Podem trazer diferentes apresentações físicas, de
Linguisticamente, constroem-se por meio de acordo com o estilo de época e intenção artística
palavras com sentido conotativo, figurado, do poeta.
manifestado por meio de figuras de linguagem. Expressam os mais variados temas.
Dando a largada
1. Retome o poema “Autopsicografia” e responda às questões a seguir:
a) Quantos versos há no poema “Autopsicografia”? c) É possível identificar a variedade linguística
b) Quantas estrofes há no poema? empregada pelo poeta?
d) Qual o tema abordado no poema?
2. Leia ao texto a seguir e responda o que se pede.
Meu caro poeta
Recebi e agradeço-vos muito de coração a carta o pensamento, transladado ao papel, é guardado entre as
com que me felicitais pelo meu aniversário natalício. Não coisas mais queridas de alguém. Agradeço-vos também
tendo o gosto de conhecer-vos, mais tocante me foi a os gentis versos que me dedicais e trazem a data de 21 de
vossa lembrança. Pelo que me dizeis em vossa bela e junho, para melhor fixar o vosso obséquio e intenção.
afetuosa carta, foram os meus escritos que vos deram a Disponde de mim, e crede-me amigo muito
simpatia que manifestais a meu respeito. Há desses agradecido.
amigos, que um escritor tem a fortuna de ganhar sem ASSIS, Machado de. Carta a Belmiro Braga. Rio de Janeiro, 24 de junho
de 1895. Disponível em:
conhecer, e são dos melhores. É doce ao espírito saber https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?
que um eco responde ao que ele pensou, e mais ainda se action=download&id=138204. Acesso em: 28 abr. 2019.
a) Essa carta foi escrita por Machado de Assis no b) Imagine que essa carta tenha sido escrita nos dias
século XIX. Aponte marcas linguísticas e expressões da atuais. Reescreva-a fazendo alterações adequadas no
época não mais usadas atualmente. texto para deixar a linguagem mais moderna.
3. Leia o poema a seguir e responda às questões propostas.
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras Em cismar, sozinho, à noite, Mais Não permita Deus que eu morra,
Onde canta o Sabiá, prazer encontro eu lá; Sem que eu volte para lá;
As aves, que aqui gorjeiam, Minha terra tem palmeiras Sem que desfrute os primores
Não gorjeiam como lá. Onde canta o Sabiá Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Nosso céu tem mais estrelas, Minha terra tem primores Onde canta o Sabiá
Nossas várzeas têm mais flores, Que tais não encontro eu cá;
Nossos bosques têm mais vida Em cismar – sozinho, à noite DIAS, Gonçalves. Poesia lírica e indianista.
Nossa vida mais amores Mais prazer encontro eu lá; São Paulo: Ática, 2006. P 31.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
O poema lido chama-se “Canção do exílio”.
a) O que significa a palavra “exílio”?
b) Qual a relação entre esse termo e o conteúdo do poema?
c) No texto há a presença constante dos termos “lá” e “cá” (“aqui”). Estabelecem, entre si, que tipo de relação de ideia,
contribuindo para uma progressão temática interessante?
d) De que modo o significado desses advérbios contribui para a construção de sentido do texto?
O haicai é um tipo de poema de origem japonesa que se caracteriza pela concisão, geralmente composto de três
versos.
4. Leia o haicai a seguir e responda o que se pede.
Um dia vai ser
pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando
LEMINSKI, Paulo. Disponível em: http://paulo-lemisnki.tumblr.com/post/68829221394/prços-caminhos-que-ando-um-dia-vai-ser-s%. Acesso em: 1º jul.
2023.
(____) O código S.O.S. é a sigla de Save Our Ship (Salvem nosso barco), Save our Souls (Salvem nossas almas) ou
Send out Succour (Enviem socorro).
(____) O título, elemento estratégico para a interpretação de um texto, assume a função de antecipar para o leitor a
temática do texto que trata da comparação do poema com uma garrafa lançada ao mar contendo um pedido de socorro.
O haicai, nesse sentido, é uma possibilidade de salvamento do indivíduo que o lê.
(____) Para que um texto ganhe significado é necessário que, nele, existam pistas sobre o pacto de leitura que o autor
propõe ao leitor. Nesse contexto, a construção dos efeitos de sentido do haicai exige que o leitor compreenda a relação
metafórica entre o poema e a garrafa. O poema é comparado a uma garrafa lançada ao mar, mas, ao contrário da
garrafa, que normalmente leva um pedido de socorro, o poema traz a possibilidade de salvação por meio da arte. Isto
pode acontecer a qualquer pessoa que ler o poema, da mesma forma que a garrafa também pode ser encontrada por
qualquer pessoa.
6. Leia o haicai para responder às questões a seguir.
Sob a luz do sol
Míseros cacos de vidro
Brilham como estrelas.
VIEIRA, Oldegar. Folhas de chá. In: Verçosa, C. Oku. Viajando com BashTM. Salvador EGBA, Empresa Gráfica da Bahia, 1996. P. 383.
a) O texto lido é um haicai,forma poética que valoriza a concisão formal e a objetividade da linguagem. Além dessas,
quais características desse gênero textual podem ser percebidas no poema?
b) A comparação é uma figura de linguagem que procura aproximar, de forma explícita, dois ou mais elementos por meio
de determinada característica que eles têm em comum. No poema lido, qual é a palavra que pode ser associada ao
elemento comparado ao comparante?
c) Para instaurar o processo comparativo, o poeta recorre a três elementos: comparado, comparante e o conectivo
empregado para compará-los. Identifique-os no poema e preencha o quadro a seguir.
Elemento comparado Articulador comparativo Elemento comparante
Pit Stop 2
Para compreendermos o Trovadorismo, é importante primeiro entender o período em que ocorreu: a Idade Média.
Somente a partir do século XII, quando, formalmente, Portugal constituiu-se como reino independente, é que houve
manifestações literárias, ainda que se expressassem em galego-português, já que a língua portuguesa, com suas
feições mais modernas, surgiu somente no século XV.
A produção trovadoresca em verso foi chamada de cantiga, e não de poema, porque, naquela época, a poesia ainda não
se havia separado da música. O amor é um dos temas centrais no Trovadorismo, cantigas de amigo e em cantigas de
amor.
Voltando para a pista
1. Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.
Quando eu na maneira de um provençal
fazer agora um cantar de amor
e quererei muito ai louvar minha senhora,
a quem muitas qualidades e formosuras não faltam,
nem bondade, e ainda vos direi isto:
tanto fez Deus perfeita de bem
que mais que todas as do mundo vale.
Sobre o amor cortês no Trovadorismo, pode-se afirmar que era:
I. um código amoroso composto por regras;
II. idealizado, e a dama constituía um ser inalcançável;
III. manifestado por um vassalo que se submetia a sua dama e a seus caprichos.
Está correto o que se afirma em:
a) I, apenas b) I e II, apenas c) II, apenas d) III, apenas
Na cantiga verifica-se os personagens: um eu poemático, que assume a palavra, e um interlocutor a quem se dirige.
Com base nessa informação, releia a cantiga e faça o que se pede a seguir:
a) Indique com base na flexão dos verbos, a pessoa gramatical utilizada pelo poemático para dirigir-se ao interlocutor ou
interlocutores.
Pit stop 3
O Renascimento produziu uma cultura exuberante na qual se destacam a pintura, a escultura, a arquitetura e a literatura.
A produção artística era regida por um rigoroso planejamento, sendo os ideais de equilíbrio, de harmonia e de simetria
os pilares do novo padrão estético. Grande parte da arte produzida nesse período sobrevive até hoje e molda o
repertório visual das várias gerações.
O Classicismo literário integra esse movimento cultural que recupera a produção da Antiguidade greco-romana e pode
ser entendido como uma continuação do Humanismo. Esse estilo literário, em Portugal, teve seu início em 1527;
portanto, não o vivemos no Brasil da forma como se experimentou na Europa, porque lá houve vasta produção artística.
O foco de estudo será dado à obra de Luís Vaz de Camões, por ser seu maior representante e por ser um referencial
inquestionável para compreender a literatura portuguesa em um dos períodos de seu grande esplendor.
Voltando para a pista
Leia esse poema e responda às questões propostas.
Amor é fogo que arde sem se ver; É querer estar preso por vontade,
é ferida que dói e não se sente; é servir a quem vence, o vencedor;
é um contentamento descontente; é ter com quem nos mata, lealdade.
é dor que desatina sem doer.
Mas como causar pode seu favor
É um não querer mais que bem querer; nos corações humanos amizade,
é solitário andar por entre a gente; se tão contrário a si é o mesmo Amor?
é nunca contentar-se de contente; CAMÔES, Luís Vaz de. In: Sonetos. Disponível em:
https://www.dominiopublico.gov.br/texto/bv000164pdf. Acesso em: 05
é cuidar que ganha sem se perder. out. 2020.
Pit stop 4
O Barroco foi o espaço da abundância de detalhes formais e de conteúdo, da explicação redundante e convincente, da
linguagem profundamente metafórica. Antitética e paradoxal. Foi um estilo de época
Que usou ostensivamente as figuras de estilo, de linguagem e de construção, para expressar o posicionamento do
homem barroco no tempo e no espaço.
Voltando para a pista
1. Leia este poema, do escritor português Francisco Rodrigues Lobo, e responda às questões.
Fermoso Tejo meu, quão diferente Já que somos no mal participantes,
Te vejo e vi, me vês agora e viste: Sejamo-lo no bem. Oh! quem me dera
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste, Q
Claro te vi eu já, tu a mim contente.
Mas lá virá a fresca primavera:
A ti foi-te trocando a grossa enchente Tu tornarás a ser quem eras de antes,
A quem teu largo campo não resiste: Eu não sei se serei quem de antes era.
A mim trocou-me a vista em que consiste
LOBO, Francisco Rodrigues. In: Morais, J. A. (Org.). Ecos que o clarim
O meu viver contente ou descontente. da fama d#. Lisboa. Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1761, p.
223.
a) O tema desse poema é recorrente no Barroco. Deque trata o poema de Francisco Rodrigues Lobo?
b) Nesse poema, estão presentes elementos característicos do barroco português, como as antíteses e as aliterações.
Identifique o jogo de contrários que está na forma temporal dos verbos.
Cruzando a linha
1. Leia os textos a seguir e responda às questões.
Texto 1
Amor é fogo que arde sem se ver; É querer estar preso por vontade,
é ferida que dói e não se sente; é servir a quem vence, o vencedor;
é um contentamento descontente; é ter com quem nos mata, lealdade.
é dor que desatina sem doer.
Mas como causar pode seu favor
É um não querer mais que bem querer; nos corações humanos amizade,
é solitário andar por entre a gente; se tão contrário a si é o mesmo Amor?
é nunca contentar-se de contente; CAMÔES, Luís Vaz de. In: Sonetos. Disponível em:
https://www.dominiopublico.gov.br/texto/bv000164pdf. Acesso em: 05
é cuidar que ganha sem se perder. out. 2020.
Texto 2
Te ver e não te querer E não se molhar
É improvável, é impossível É como não morrer de frio
Te ter e ter que esquecer No gelo polar
É insuportável, é dor incrível É ter o estômago vazio
Te ver e não te querer E não almoçar
É improvável, é impossível É ver o céu se abrir no estio
Te ter e ter que esquecer E não se animar
É insuportável, é dor incrível Te ver e não te querer
É como mergulhar no rio É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer Sem alguém pra amar
É insuportável, é dor incrível É como procurar no mato
É como esperar o prato Estrela do mar
E não salivar [...]
Sentir apertar o sapato ROSA, Samuel, AMARAL, Chico,ZANETTI,Lelo. Compositores:
Samuel Rosa, Lelo Zanetti, Chico Amaral. Te ver. Disponível em:
E não descalçar www.skank.com.br/music/te-ver. Acesso em 28 ago. 2019.
É ver alguém feliz de fato
a) Analise o soneto de Luís Vaz de Camões e a letra da canção “Te ver”, da banda Skank. O que elas têm em comum?
b) Aponte exemplos de uso de antíteses e de paradoxos nos versos do poema e da canção.
2. Leia a letra da canção para responder às questões.
Asa branca
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Intonce eu disse “Adeus, Rosinha, Guarda contigo meu coração”
GONZAGA, Luiz, TEIXEIRA, Humberto. Asa Branca. RCA/Victor, 1974. (Fragmento)
a) Qual é o assunto tratado na canção?
b) Como a variedade linguística utilizada contribui para caracterizar o eu lírico da canção?
c) Embora esteja evidente a variedade regional, há vários versos que são construídos com base na norma-padrão da
língua. Identifique alguns deles na canção e cite-os.
3. A aproximação do poema com a música desde seus princípios deixou como traço fundamental do texto poético>:
a) a musicalidade b) a síntese
c) a linguagem figurada d) o prazer estético
4. Leia os textos a seguir, e responda ao que se pede.
Texto 1 – Última flor do Lácio
Última flor do Lácio, inculta e bela, Amo o teu viço agreste e o teu aroma
És, a um tempo, esplendor e sepultura: De virgens selvas e de oceano largo!
Ouro nativo, que na ganga impura Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
A bruta mina entre os cascalhos vela.
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
Amo-te assim, desconhecida e obscura, E em que Camões chorou, no exílio amargo,
Tuba de alto clangor, lira singela, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Que tens o tom e o silvo da procela Olavo Bilac
E o arrolo da saudade e da ternura!
Texto 2 - Língua
Gosto de sentir minha língua roçar a língua E quem há de negar que esta lhe é superior
[de Luís de Camões E deixa os portugais morrerem a míngua
Gosto de ser e estar "Minha pátria é minha língua"
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia Fala mangueira!
E uma profusão de paródias Fala!
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões Flor de Lácio
xxx Sambódromo