Fichamento Nietzsche
Fichamento Nietzsche
Fichamento Nietzsche
FICHAMENTO NIETZSCHE
2022
Disciplina: Filosofia da Educação
Fichamento de Citações
Dados bibliográficos
Texto: Nietzsche
1ª edição
Editora: Publifolha
Data: 2000
“Ao longo desse seu confronto com o conjunto da herança cultural de nossa
tradição, Nietzsche forjou conceitos e figuras do pensamento que até hoje
impregnam nosso vocabulário e povoam nosso imaginário político e artístico. Tais
são, por exemplo, as noções de Apoio e Dionísio, transformadas em categorias
estéticas, os conceitos de vontade de poder, além-do-homem (Übermensch),
eterno retomo e niilismo e a figura da morte de Deus.” (P.7)
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“Dele afirma o filósofo Martin Heidegger: "Nietzsche é o primeiro pensador que,
perante a história universal pela primeira vez aflorada em seu conjunto, coloca a
pergunta decisiva e a reflete internamente em toda a sua extensão metafísica.
Essa pergunta reza: como homem, em sua essência até aqui, está o homem
preparado para assumir o domínio da terra?"” (P.7)
“Para ele, não resta dúvida de que, herdeiro dos progressos do Iluminismo,
julgamo-nos liberados das cadeias da ignorância e da superstição. Confiantes nas
possibilidades advindas da utilização industrial da ciência e da técnica, estamos
certos de poder descobrir todos os segredos do universo e construir uma
sociedade expurgada de todas as formas de opressão, violência, exploração.”
(P.9)
2
“Por essa razão, Nietzsche dedicou sua vida a realizar três tarefas principais:
compreender a lógica desse movimento contraditório ao longo do qual o
progresso do conhecimento leva á perda de consistência dos valores absolutos; a
partir daí, denunciar todas as formas de mistificação pelas quais o homem
moderno oblitera sua visão dos perigos de sua condição; por fim, destruídos os
falsos ídolos — e esses são os valores mais venerados pelo homem moderno —
assumir corajosamente o risco de pensar novos valores, abrir novos horizontes
para a experiência humana na história.” (P.9-10)
“O homem louco saltou em meio a eles e trespassou-os com o oUiar. 'Para onde
foi Deus?', clamou ele,'eu vos quero dízê-lo! Nós o matamos, vós e eu! Nós todos
somos seus assassinos? Como, porém, fizemos isso?” (P.10)
“Não se pode, porém, extrair as últimas conclusões desse impulso crítico sem
retomar á sua origem, isto é, para Nietzsche, á metafísica de Platão. Por essa
razão, uma das primeiras e mais fundamentais tarefas que Nietzsche se atribui é
a de refutar e destruir a metafísica platônica.” (P.11)
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“Tais formas puras, denominadas tecnicamente idéias por Platão, teriam sua
origem na idéia do Bem — ou de Deus — que é a causa produtora de todas as
outras idéias que são as formas gerais do universo.” (P.12)
“Isso significa que não podemos mais sustentar a crença num conhecimento
objetivo, que ultrapasse a particularidade de nossos afetos.” (P.13)
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“Nietzsche é, pois, o filósofo que ousa colocar em questão o valor dos valores.
Sua preocupação consiste em trazer ã luz as condições históricas das quais
emergiram nossos supostos valores absolutos, colocando em dúvida a pretensa
sacralidade de sua origem. Em sua genealogia da moral, Nietzsche pretende
também submeter a julgamento o valor desses mesmos valores: foram eles
propícios ou nocivos ao florescimento e intensificação da vida humana na terra?”
(P.14)
“Com a mesma necessidade com que uma árvore dá seus frutos, crescem em
nós nossos pensamentos, nossos valores, nossos sins e nãos e quandos e ses —
aparentados e referidos todos eles entre si e testemunhas de uma única vontade,
de uma única saúde, de um único terreno, de um único sol.” (P.14)
“De um ponto de vista genérico, pode-se afirmar que i questão central da filosofia
do jovem Nietzsche está ligada ao destino da arte e da cultura no mundo
moderno. Nesse momento, ele se encontra profundamente influenciado pela
metafísica da vontade de Schopenhauer (1788-1860), o teórico do pessimismo,
que considerava que o universo não era expressão do intelecto e da vontade de
Deus, nem efeito de outra espécie de princípio racional. Para ele, a essência do
universo é um impulso cego, denominado Vontade, ávida e insaciável,
eternamente em busca de satisfação.” (P.16 e 17)
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“Tomando Wagner e Schopenhauer como seus aliados, Nietzsche empreende
uma crítica radical das tendências culturais dominantes em seu tempo,
caracterizadas por uma confiança ingênua nas idéias de evolução e progresso
lógico ou natural, no curso dos quais a humanidade teria alcançado um estágio de
desenvolvimento em que estaria em condições de, humanizando a natureza e
racionalizando a sociedade, aproximar-se do ideal da felicidade universal.” (P.17)
“Assim, nem pela razão especulativa nem pela razão prática — nem pela via da
ciência, nem pela da moralidade — se poderiam justificar a existência do universo
e a razão de ser da vida humana.” (P.18)
“[...] “só como fenômeno estético toma-se justificada a existência do mundo [das
Dasein der Welt]”” (P.18)
“Esta é a lição deixada pela tragédia grega: arte e cultura têm como finalidade a
transformação desse horror em beleza, em poesia épica e lírica popular, em
música e ditirambos , em instituições ético-religiosas e políticas como a obra de
arte do Estado grego.” (P.19)
“Sem destruição, não há criação; sem trevas, não há luz; sem barbárie e
crueldade, não há beleza nem cultura.” (P.19)
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“Uma cultura de tipo socrático é necessariamente iluminista e, portanto, hostil à
arte e ao mito, considerados uma forma de ignorância e de ilusão, unia vez que
não explicam as verdadeiras causas das coisas. Entretanto, essa mesma cultura
se converte em seu contrário — isto é, abre espaço para um renascimento da
ilusão artística — quando a consciência do homem teórico admite que nem tudo é
acessível à racionalidade lógica; mais ainda, que o essencial em nossa existência
permanece envolto num mistério impenetrável a qualquer explicação racional. Tal
experiência teria sido vivida na Grécia e estaria simbolizada no enigma de
Sócrates — ao mesmo tempo sendo inimigo dos artistas e, no final da vida,
compondo música e pondo em versos algumas fábulas de Esopo. Isto é:
retomando ao mito. Essa seria, pois, a catástrofe da razão socrática.” (P.20)
7
“Em razão da hipertrofia do conhecimento histórico, a cultura moderna é uma
mistura caótica das formas culturais de todas as épocas a que tem acesso; nesse
sentido, o termo que a designa é,para Nietzsche, "barbárie civilizada". Falta-lhe,
pois, a característica que constitui o traço essencial de toda verdadeira cultura:
"Cultura é, sobretudo, a unidade do estilo artístico em todas as manifestações da
vida de um povo".” (P.21 e 22)
“Nietzsche, de fato, não acreditava que uma organização racional das relações
sociais faria desaparecer completamente da sociedade moderna as figuras
negativas da violência, opressão e exploração. Suas razões para isso consistem
em que o ser humano é, sobretudo, uni animal impulsivo, dominado por forças
que escapam ao controle integral e autárquico de sua consciência. Para
Nietzsche, a racionalidade é uma forma refmada da vontade de poder, e não
ainda suficientemente vigorosa para exercer pleno domínio sobre figuras menos
espiritualizadas dessa mesma vontade que, na forma de paixões arrebatadoras,
ameaçam permanentemente arrastar o homem às experiências mais terríveis de
violência e destruição.” (P.23)
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“Dedicando o livro à memória do filósofo francês Voltaire e escolhendo como
epígrafe uma citação de O Discurso do Método para bem conduzir a própria razão
e buscar a verdade na ciência, de René Descartes, Nietzsche já o insere
simbolicamente na tradição da filosofia das Luzes, caracterizada pela confiança
no poder emancipatório da ciência, em seu triunfo contra as trevas da ignorância
e da superstição. Não por acaso, portanto, a obra tem como subtítulo Um Livro
Para Espíritos Livres.” (P.24 e 25)
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e, como herdeiro da riqueza e da elevação de ânimos produzidas pela arte, passa
a assumir uma função transfiguradora, embelezadora da existência.” (P.25)
“Aplicando-o á gênese dos sentimentos morais, Nietzsche afirma que aquilo que,
a um olhar não suficientemente adestrado, pode aparecer como uma oposição
entre contrários — por exemplo, entre bom e mau, egoísta e altruísta, mas
também entre belo e feio, verdadeiro e falso, objetivo e subjetivo —, sempre se
revela, á luz de sua consideração histórico-genealógica, como uma transformação
do oposto em seu outro.” (P.27)
“Em Aurora, Nietzsche lança mão cia penetração psicológica, do rigor de sua
filosofia histórica, para escavar o campo da moralidade e da religião, com o
propósito de examinar as fundações sobre as quais foram erigidos os majestosos
edifícios éticos da tradição ocidental. Esse trabalho de topeira no subsolo
insalubre dos sentimentos morais visa trazer à superfície de um conhecimento
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livre de preconceitos as condições e os propósitos, as motivações inconfessáveis,
que estão na origem dos valores éticos prctensamente absolutos. Trata-se de um
livro marcado por uma disposição de ânimo ao mesmo tempo grave e libertária:
um livro das profundezas sombrias, que aspira pela luz da superfície.” (P.29)
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ensinamentos deverá produzir o desmascaramento e a ruína da hipocrisia que
caracteriza a cultura moderna.” (P.32)
“Para que o homem moderno possa ainda criar para além dele mesmo, é
necessário que se aproprie dessa natureza, ou seja, de sua vontade de poder.
Somente desse modo poderá realizar aquilo que, por meio dele, constitui o
fervoroso desejo da vida: superar-se a si mesmo, rompendo a camisa-de-força
em que a encerrou a moderna civilização ocidental — a rigidez da
autoconservação a qualquer custo.” (P.34)
“Somente quando o sofrimento não for mais vivido como uma objeção contra a
vida e um motivo para condená-la é que o homem poderá superar seu desejo de
um além metafísico e seu rancor contra a passagem do tempo.” (P.35)
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“O ensinamento que conduz a essa forma de superação é o eterno retomo do
mesmo. Não se trata de mera aceitação resignada dos acontecimentos do
destino, mas de afirmação incondicional, que aceita e bendiz cada instante
vivido.” (P.35)
“As duas obras subseqüentes, Para Além de Bem c Mal (1886) e Para a
Genealogia da Moral (1887), são os principais testemunhos da tentativa de
divulgar, como uma espécie de glossário conceitual, os temas e problemas do
Zaratustra. No primeiro deles, Nietzsche expõe sua hipótese de interpretação
global da existência com base na perspectiva fornecida pelo conceito de vontade
de poder.” (P.36)
“Para a Genealogia da Moral talvez seja o livro mais conhecido de Nietzsche. [...]
Principalmente, acredita ter fornecido agora ao método genealógico uma
dimensão especial. A genealogia nietzscheana não se contenta mais apenas com
uma abordagem histórica dos sentimentos e conceitos morais. A gênese histórica
é tarefa preparatória para uma questão mais incisiva, mais radical: aquela que se
pergunta pelo próprio valor dos valores e avaliações da moral tradicional” (P.37)
“"Necessitamos uma critica dos valores morais, é necessário colocar alguma vez
em questão o próprio valor desses valores -e para isso se tem necessidade de ter
conhecimento das condições e circunstâncias das quais surgiram aqueles
valores, nas quais se desenvolveram e modificaram (a moral como conseqüência,
como sintoma, como máscara, como tartufaria, como enfermidade, como mal-
entendido; mas também a moral como causa, como remédio, como estímulo,
como freio, como veneno), um conhecimento que não existiu até agora, nem
sequer foi desejado."” (P.37 e 38)
“"Todos os instintos que não se descarregam para fora voltam-se para dentro — é
isso que eu denomino interiorização do homem: é somente com isso que cresce
no homem aquilo que mais tarde se denomina sua'alma'.”” (P.38)
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“Nesses escritos, Nietzsche interpreta a história da cultura moderna como
escalada do niilismo. Este, por sua vez, deve ser entendido como um sentimento
opressivo e difuso, próprio ás fases agudas de ocaso de uma cultura. O niilismo
seria a expressão afetiva e intelectual da decadência. Por meio dele, o homem
moderno vivência a perda de sentido dos valores superiores de nossa cultura. Por
essa ótica, niilismo seria o sentimento coletivo de que nossos sistemas
tradicionais de valoração, tanto no plano do conhecimento, quanto no ético-
religioso, ou sociopolítico, ficaram sem consistência e já não podem mais atuar
como instâncias doadoras de sentido e fundamento para o conhecimento e a
ação.” (P.38 e 39)
““ Conheço a minha sina. Um dia, meu nome será ligado á lembrança de algo
tremendo — de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda
colisão de consciência, cie uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi
acreditado, santificado, querido. Eu não sou um homem, sou dinamite".” (P.41)
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“Nietzsche considerava, pois, até o final de sua vida lúcida, que o silêncio que
pairava sobre sua obra não era casual. Sabia que nascera póstumo. Sabia que
sua obra seria necessariamente fonte de mal-entendidos e apropriação indébita
por parte de seus contemporâneos.” (P.41)
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