Aula 11 - Defeitos Do Negócio Jurídico. Erro Ou Ignorância.

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DIREITO CIVIL II - TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO II – 2024/1 – Profª Patrícia R. P.

Ferreira

AULA 11 – DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO


Os defeitos de negócio jurídico dizem respeito ao fato de o acordo estar inquinado de algum vício, que
pode se apresentar sob a forma de vícios do consentimento (no que tange à manifestação de vontade)
ou de vícios sociais.
Nos vícios do consentimento a manifestação de vontade não corresponde à verdadeira intenção do
agente. A vontade declarada diverge do real desejo do declarante. São vícios do consentimento: erro,
dolo, coação, lesão e estado de perigo.
Nos vícios sociais a vontade é exteriorizada de acordo com a vontade do agente, porém com vontade de
prejudicar terceiros ou burlar a legislação. O Código Civil apresenta como vício social a fraude contra
credores.
Nesse sentido, dispõe a doutrina jurídica ser o vício do consentimento um vício interno e o vício social
externo.
Embora a maioria dos doutrinadores afirme que a lesão e estado de perigo são vícios do consentimento,
uma corrente minoritária aponta no sentido de serem vícios sociais, ao argumento de que, pelo fato de
uma das partes (a que sofre a lesão) se encontrar em premente estado de necessidade, não há que se
falar que sua manifestação de vontade não corresponde ao real interesse de contratação.
Os defeitos do negócio jurídico erradicam vontade deficiente, mas não insuficiente, daí a razão porque
não são nulos, mas sim anuláveis. Por dizer respeito apenas a proteção dos interesses particulares
envolvidos, apenas as partes ou terceiros prejudicados podem requerer a invalidade do negócio, e não o
fazendo no prazo legal, a situação de anulabilidade deixa de existir, e o acordo convalesce.
A existência de vícios, a depender de sua natureza, tornam o negócio jurídico anulável.
ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144)
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de
erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio.

Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de
vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do
negócio jurídico.

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante.

Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos
em que o é a declaração direta.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não
viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou
pessoa cogitada.

Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.

Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real
do manifestante.

Conceito: Erro ou Ignorância é o resultado de uma falsa percepção, noção, ou mesmo da falta (ausência)
de percepção sobre a pessoa, o objeto ou o próprio negócio que se pratica.
“Quando o agente por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias age de um
modo que não seria a sua vontade, se conhecesse a verdadeira situação, diz-se que procede com
erro” (Caio Mário).
Ex: Desejo comprar uma corrente de ouro; por erro, acreditando que o objeto exposto é de ouro, acaba
comprando uma corrente de outro metal, porém dourada. Se soubesse que não era de ouro, não a teria
comprado.
Segundo Orlando Gomes, “tendo sobre um fato ou sobre um preceito noção inexata ou incompleta, o
agente emite sua vontade de modo diverso do que manifestaria, se deles tivesse conhecimento exato,
ou completo”.
No erro, o agente incorre sozinho em lapso, sem qualquer ação de terceiro ou da parte contrária. É a
representação falsa da realidade. Sua causa relaciona-se com a aparência que induziu a pessoa a erro.
Paulo Lôbo afirma que “dá-se o erro quando o que o declarante tinha por verdadeiro não o é de fato.
Não importa para o erro a culpa, que de modo algum pode ser averiguada. O que importa é o
desconhecimento do erro por parte do agente que o cometeu; o conhecimento do erro pela outra parte
não afasta a anulabilidade”.
O erro torna anulável o negócio jurídico, mas para tanto, é necessário que seja substancial, ou seja, “que
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio” (art.
138). Nesse sentido o Código Civil direciona apenas para a pessoa que incidiu em erro e não para o
outro contratante. Deve-se ainda levar em conta as circunstâncias pessoais, ou seja, erro que poderia
ser percebido por uma pessoa de capacidade mediana. Dessa forma, não pode ser tomado por erro a
falta de atenção, ou diligência, ou distração, como no exemplo de pessoa que deseja realizar turismo de
praia e contrata hotel em região fria durante o período de inverno (exemplo extraído da obra de Paulo
Lôbo).
O erro que autoriza a anulação é apenas aquele sem cuja ocorrência não haveria negócio jurídico. Se o
contratante tivesse conhecimento de que a pessoa ou a coisa que contratou não são as mesmas pelas
quais tinha interesse em mente não realizaria o negócio. Ou seja, o erro tem que ser substancial.
O Erro Substancial (ou essencial) pode assumir várias funções:
a) Quanto à natureza do negócio (error in negotio): hipótese em que, por exemplo, alguém que
imagina estar realizando comodato, quando, na verdade, encontra-se praticando doação.
b) Quanto ao objeto principal da declaração ou sobre alguma qualidade a ele essencial ( error in
corpore). Trata-se de hipóteses mais frequentes de erro. Ex. Comprador que adquire imóvel
em uma rua imaginando se tratar de outra rua homônima; ou antiquário que adquire relógio
na convicção de que pertenceu a D. Pedro II, quando jamais pertenceu.

c) Quanto à pessoa (error in persona). Só pode ser importante nos negócios onde se leva em
conta alguma característica específica do outro sujeito, ou seja, nos negócios jurídicos intuito
personae. Personalissímos. Ex. A contratação de uma palestra por um professor que seja
Doutor na área.

d) Quanto à quantidade ou qualidades especiais da coisa: Por exemplo: colecionador que


adquire uma coleção pensando ter um número de peças e depois descobre que a referida
coleção tinha um número maior ou menor de peças. A anulabilidade recai sobre a substância
da coisa, a falta de propriedade sobre a coisa não é considerada erro, mas sim defeito na
licitude civil do objeto o que desconfigura a existência perfeita dos elementos essenciais do
negócio jurídico.

e) O inciso III do artigo 139 menciona ainda o erro de direito: essa disposição é uma exceção à
regra de que “ninguém pode se escusar de cumprir norma legal alegando desconhecimento”.
Para tanto é necessário o preenchimento de dois requisitos:
 não pode ser meio intencional para deixar de aplicar o direito;
 o único motivo para a realização do negócio jurídico era a convicção de que não havia
norma legal contrária. Exemplo que pode ser extraído da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça é o da aquisição de imóvel, por quem, sendo seu possuidor por
muito anos, já o havia usucapido ao tempo do negócio. ... não parece crível que uma
pessoa faria negócio jurídico para fins de adquirir a propriedade de coisa que já é de
seu domínio, porquanto o comprador já preenchia os requisitos da usucapião quando,
induzido por corretores de imobiliária, ora recorrente e também proprietária, assinou
contrato de promessa de compra e venda do imóvel que estava em sua posse ‘ad
usucapionem’.

f) Erro de motivo. Em regra geral, os motivos que levam o agente a emitir sua declaração de
vontade são juridicamente irrelevantes, porque radicados no âmbito psicológico. Daí a
determinação insculpida no artigo 140 de que o falso motivo somente ensejará erro quando
for a razão determinante do negócio. Ninguém deve declarar o motivo pelo qual se contrata,
porém, se assim o fizer e o motivo não se verificar verdadeiro o negócio pode ser anulado.
Podemos citar como exemplo um contrato de doação onde o doador declara estar doando
porque o donatário lhe salvou a vida, e mais tarde fica revelado que o motivo não é real.

É indispensável que seja, além de substancial (constituir causa determinante do ato), real, ou seja, o
erro deve ser efetivo, produzindo um prejuízo para o interessado.

Erro substancial (ou essencial)


Quando o equívoco disser respeito à substância do negócio, às circunstâncias e aos
aspectos relevantes do negócio jurídico

GERA A INVALIDADE DO NEGÓCIO
Erro acidental
É aquele que não incide sobre as causas determinante do negócio jurídico. (art. 143 – erro
de cálculo – não constitui motivo de anulação , autoriza apenas a retificação da
declaração da vontade).

NÃO GERA A INVALIDADE DO NEGÓCIO

Transmissão errônea da vontade: a teor do disposto no artigo 141 também pode haver erro quando a
manifestação de vontade se der por meios dos instrumentos de comunicação como por exemplo,
telégrafo, telefone, mensagem eletrônica, ou por mensageiro se a mensagem chegar truncada ao
destino. Se o ato não logra ser anulado, a hipótese é de responsabilidade do emitente da declaração
(mensageiro), se agiu com culpa, nos termos do art. 186 do Código Civil.
O artigo 144 permite ao destinatário da declaração de vontade viciada em erro evitar a anulação do
negócio jurídico, oferecendo-se para cumprir o negócio jurídico em conformidade com a real intenção
do declarante. Essa exceção se mostra em conformidade com o princípio da conservação dos negócios
jurídicos pela retificação, e pode ser invocada na própria peça de contestação da ação anulatória. Ex.
Uma pessoa crê que adquire um lote nº 5 na quadra B, quando na verdade, adquire lote 5 na quadra A,
segundo a planta que lhe é apresentada. Antes mesmo de declarar que pretende anular o negócio, o
vendedor (declaratário) concorda em entregar-se o lote 5 da quadra B.

Distinção entre erro e vício redibitório:


Vício Redibitório é defeito oculto presente em coisa recebida em virtude de contrato comutativo, que a
torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o valor (art.441). Ação redibitória – para
desfazer o negócio. Ação quanti menoris – para abatimento do preço. Não há qualquer erro em relação
ao consentimento no momento em que foi celebrado o negócio.

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