Aula 11 - Defeitos Do Negócio Jurídico. Erro Ou Ignorância.
Aula 11 - Defeitos Do Negócio Jurídico. Erro Ou Ignorância.
Aula 11 - Defeitos Do Negócio Jurídico. Erro Ou Ignorância.
Ferreira
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos
em que o é a declaração direta.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não
viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou
pessoa cogitada.
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real
do manifestante.
Conceito: Erro ou Ignorância é o resultado de uma falsa percepção, noção, ou mesmo da falta (ausência)
de percepção sobre a pessoa, o objeto ou o próprio negócio que se pratica.
“Quando o agente por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias age de um
modo que não seria a sua vontade, se conhecesse a verdadeira situação, diz-se que procede com
erro” (Caio Mário).
Ex: Desejo comprar uma corrente de ouro; por erro, acreditando que o objeto exposto é de ouro, acaba
comprando uma corrente de outro metal, porém dourada. Se soubesse que não era de ouro, não a teria
comprado.
Segundo Orlando Gomes, “tendo sobre um fato ou sobre um preceito noção inexata ou incompleta, o
agente emite sua vontade de modo diverso do que manifestaria, se deles tivesse conhecimento exato,
ou completo”.
No erro, o agente incorre sozinho em lapso, sem qualquer ação de terceiro ou da parte contrária. É a
representação falsa da realidade. Sua causa relaciona-se com a aparência que induziu a pessoa a erro.
Paulo Lôbo afirma que “dá-se o erro quando o que o declarante tinha por verdadeiro não o é de fato.
Não importa para o erro a culpa, que de modo algum pode ser averiguada. O que importa é o
desconhecimento do erro por parte do agente que o cometeu; o conhecimento do erro pela outra parte
não afasta a anulabilidade”.
O erro torna anulável o negócio jurídico, mas para tanto, é necessário que seja substancial, ou seja, “que
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio” (art.
138). Nesse sentido o Código Civil direciona apenas para a pessoa que incidiu em erro e não para o
outro contratante. Deve-se ainda levar em conta as circunstâncias pessoais, ou seja, erro que poderia
ser percebido por uma pessoa de capacidade mediana. Dessa forma, não pode ser tomado por erro a
falta de atenção, ou diligência, ou distração, como no exemplo de pessoa que deseja realizar turismo de
praia e contrata hotel em região fria durante o período de inverno (exemplo extraído da obra de Paulo
Lôbo).
O erro que autoriza a anulação é apenas aquele sem cuja ocorrência não haveria negócio jurídico. Se o
contratante tivesse conhecimento de que a pessoa ou a coisa que contratou não são as mesmas pelas
quais tinha interesse em mente não realizaria o negócio. Ou seja, o erro tem que ser substancial.
O Erro Substancial (ou essencial) pode assumir várias funções:
a) Quanto à natureza do negócio (error in negotio): hipótese em que, por exemplo, alguém que
imagina estar realizando comodato, quando, na verdade, encontra-se praticando doação.
b) Quanto ao objeto principal da declaração ou sobre alguma qualidade a ele essencial ( error in
corpore). Trata-se de hipóteses mais frequentes de erro. Ex. Comprador que adquire imóvel
em uma rua imaginando se tratar de outra rua homônima; ou antiquário que adquire relógio
na convicção de que pertenceu a D. Pedro II, quando jamais pertenceu.
c) Quanto à pessoa (error in persona). Só pode ser importante nos negócios onde se leva em
conta alguma característica específica do outro sujeito, ou seja, nos negócios jurídicos intuito
personae. Personalissímos. Ex. A contratação de uma palestra por um professor que seja
Doutor na área.
e) O inciso III do artigo 139 menciona ainda o erro de direito: essa disposição é uma exceção à
regra de que “ninguém pode se escusar de cumprir norma legal alegando desconhecimento”.
Para tanto é necessário o preenchimento de dois requisitos:
não pode ser meio intencional para deixar de aplicar o direito;
o único motivo para a realização do negócio jurídico era a convicção de que não havia
norma legal contrária. Exemplo que pode ser extraído da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça é o da aquisição de imóvel, por quem, sendo seu possuidor por
muito anos, já o havia usucapido ao tempo do negócio. ... não parece crível que uma
pessoa faria negócio jurídico para fins de adquirir a propriedade de coisa que já é de
seu domínio, porquanto o comprador já preenchia os requisitos da usucapião quando,
induzido por corretores de imobiliária, ora recorrente e também proprietária, assinou
contrato de promessa de compra e venda do imóvel que estava em sua posse ‘ad
usucapionem’.
f) Erro de motivo. Em regra geral, os motivos que levam o agente a emitir sua declaração de
vontade são juridicamente irrelevantes, porque radicados no âmbito psicológico. Daí a
determinação insculpida no artigo 140 de que o falso motivo somente ensejará erro quando
for a razão determinante do negócio. Ninguém deve declarar o motivo pelo qual se contrata,
porém, se assim o fizer e o motivo não se verificar verdadeiro o negócio pode ser anulado.
Podemos citar como exemplo um contrato de doação onde o doador declara estar doando
porque o donatário lhe salvou a vida, e mais tarde fica revelado que o motivo não é real.
É indispensável que seja, além de substancial (constituir causa determinante do ato), real, ou seja, o
erro deve ser efetivo, produzindo um prejuízo para o interessado.
Transmissão errônea da vontade: a teor do disposto no artigo 141 também pode haver erro quando a
manifestação de vontade se der por meios dos instrumentos de comunicação como por exemplo,
telégrafo, telefone, mensagem eletrônica, ou por mensageiro se a mensagem chegar truncada ao
destino. Se o ato não logra ser anulado, a hipótese é de responsabilidade do emitente da declaração
(mensageiro), se agiu com culpa, nos termos do art. 186 do Código Civil.
O artigo 144 permite ao destinatário da declaração de vontade viciada em erro evitar a anulação do
negócio jurídico, oferecendo-se para cumprir o negócio jurídico em conformidade com a real intenção
do declarante. Essa exceção se mostra em conformidade com o princípio da conservação dos negócios
jurídicos pela retificação, e pode ser invocada na própria peça de contestação da ação anulatória. Ex.
Uma pessoa crê que adquire um lote nº 5 na quadra B, quando na verdade, adquire lote 5 na quadra A,
segundo a planta que lhe é apresentada. Antes mesmo de declarar que pretende anular o negócio, o
vendedor (declaratário) concorda em entregar-se o lote 5 da quadra B.