Direito Civil Resumo Com Bibliografia AV3

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UNEMAT – Campus Diamantino

Direito Civil II – Direito 3° Fase


Beatriz Souza Antunes

Os Defeitos do Negócio Jurídico


O Código Civil brasileiro, menciona a existência de seis defeitos do negócio jurídico,
sendo eles: o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo, a lesão corporal, chamados de
vícios de consentimento, pois provocam uma manifestação de vontade que não condiz
com o verdadeiro querer e a fraude contra credores, que é um vício social, esta não tem
a ver com o querer do agente, mas sim a exteriorização com a intenção de prejudicar
terceiros. “Os defeitos do negócio jurídico são, pois, as imperfeições que nele podem
surgir, decorrentes de anomalias na formação da vontade ou na sua declaração”
(Amaral,1984 apud Gonçalves, 2021, p. 351).
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:

II - Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.

I – O Erro
O erro consiste em uma falsa representação da realidade, no código o erro é
igualado a ignorância, sendo esta a falta de conhecimento da realidade do fato. Neste
vício o agente engana-se sozinho, se ele for induzido ao erro, se caracterizaria como dolo.
Na doutrina majoritária não é qualquer espécie de erro que torna o negócio jurídico
anulável, sendo de consenso da doutrina tradicional que o erro deve ser escusável,
substancial e real. O erro pode se subdividir em várias espécies, algumas delas sendo:
Erro Substancial: É o erro que sem que sem ele o ato jurídico não se realizaria.
Segundo Carlos Roberto Goncalves, o “Erro Substancial ou essencial, é oque recai sobre
circunstâncias e aspectos relevantes do negócio jurídico”. Código Civil art. 139:
Art. 139. O erro é substancial quando:

I - Interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das


qualidades a ele essenciais;

II - Concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a


declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou
principal do negócio jurídico.

Erro Escusável: Escusável é o erro que pode ser justificado, o contrário do erro
grosseiro, decorrente do não emprego da diligência ordinária.
Erro Real: É o erro que causa efetivamente o prejuízo do interessado.
Erro Acidental: É o oposto dos erros ditos anteriormente, este diz respeito a
circunstâncias de menos relevância, e que não causariam um efetivo prejuízo.
Erro Impróprio: É oque impede a formação do negócio jurídico, a confusão
podendo ser tão grave que o torna inexistente.
II – O Dolo
“O dolo é o artificio ou o expediente astucioso empregado para induzir alguém a
prática de um ato que prejudique e aproveite ao autor do dolo ou a terceiros.” (Beviláqua,
1927 apud Gonçalves, 2021, p. 360). Diferentemente do erro, que é cometido unicamente
pelo autor do mesmo, o dolo é uma influência externa da outra parte ou de terceiros de
forma intencional. O dolo civil então são os artifícios para se enganar alguém. O dolo
distingue-se também da simulação, neste a vítima é lesada sem participar do negocio
simulado, e também é diferente de fraude, esta se concretiza sem a participação pessoal
do lesado no negócio. Assim como o erro o dolo se divide em algumas espécies,
destacarei abaixo algumas das mais relevantes.
Dolo Principal (dolus causam) e Dolo Acidental (dolus incidens): É a principal
classificação, descrita no Art. 145 do Código Civil. O primeiro quando é a causa do
negócio, apenas este causa a anulabilidade, e o segundo, quando a seu despeito o negócio
seria realizado, só que por outro modo.
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental
quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.

Dolus Bonus e Dolus Malus: o primeiro é um dolo tolerável, não torna o negócio
anulável, pois as pessoas já o esperam e não se envolvem. O segundo tem o propósito de
prejudicar, podendo ocorrer como atos e palavra, este sim causa a anulação do negócio
jurídico.
Dolo Positivo (comissivo) e Dolo Negativo (omissivo): O dolo também pode
ocorrer por ações maliciosas e comportamentos omissivos, surge então a classificação de
dolo comissivo e omissivo, este é disposto no Art. 147 do Código Civil.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a
respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão
dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.

Dolo do outro contratante e Dolo de Terceiro: O dolo pode ser proveniente de


outro contratante ou de terceiros que seja estranho ao negócio, neste caso o dolo ocorre
quando um terceiro que não faz parte do negócio induz uma das partes a agir de forma
enganosa. E se a parte beneficiada souber do dolo, e não avisar a outra parte, esta será
considerada cumplice do ato. O Art. 148 do CC, define a anulação:
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte
a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda
que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da
parte a quem ludibriou.

Dolo da própria parte e Dolo do Representante: Os representantes de uma das


partes, não é considerado um terceiro no negócio jurídico, visto que o mesmo serve de
ponte para mediar a relação do negócio. Se o representante, agindo em nome do seu
representado, induz a outra parte ao erro de forma intencional ou comete fraude, isso
pode afetar a validade do contrato, disposto no Art. 149 do CC:
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a
responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do
representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por
perdas e danos.

Dolo Unilateral e Dolo Bilateral: Em geral o dolo é uma ação Unilateral, exercida
por apenas uma das partes, contudo quando este é exercido por ambas as partes é disposto
no Art. 150 do CC
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização.

Dolo de Aproveitamento: Este relaciona-se com a Lesão, que é outro defeito do


Negócio Jurídico, este dolo acontece quando alguém se aproveita da situação premente
necessidade ou na inexperiência da outra parte, para obter lucro.
III – Coação
A coação é toda ameaça ou pressão sobre um individuo que o force a praticar um
ato ou realizar um negócio jurídico contra sua vontade. A coação é o vício mais grave que
pode afetar um negócio jurídico, a coação não é uma questão da vontade do agente, mas
sim o temos deste oque torna a manifestação da sua vontade defeituosa. Pode-se observar
então que nem toda ameaça é uma coação, para que seja então caracterizada como tal é
necessário que preencha alguns requisitos, como:
1 – Deve ser a causa determinante do ato;

2 – Deve ser grave;

3 – Deve ser injusta;

4 – Deve dizer respeito a dano atual ou iminente;

5 – Deve constituir ameaça de prejuízo a pessoas ou a bens da vítima ou a pessoas de


sua família.

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família,
ou aos seus bens.

As espécies da coação são:


Absoluta (física): O coator age utilizando de força bruta para atingir seus
efeitos, não há manifestação ou consentimento de vontade. Por exemplo, agarrar o braço
de um analfabeto e o forçar a colocar sua digital em um contrato (assinatura a rogo).
Relativa (moral): É uma coação psicológica, é o tipo de coação que ocorre
em um assalto por exemplo quando o assaltante ameaça a vítima com uma arma.
Principal: Está é quando a coação é a causa determinante do Negócio
Jurídico, acarreta a anulação deste.
Acidental: Esta tem haver apenas com as condições do negócio, sem ela o
negócio ainda ocorreria só que de uma forma menos prejudicial, não acarretando a
anulação mas sim o ressarcimento do prejuízo.
Coação feita por Terceiros: Prevalece o princípio da boa fé, sendo disposto
no Art. 154 do CC, só ocorrerá a anulabilidade se a outra parte beneficiada tinha
conhecimento, se esta não tiver conhecimento cabe apenas o pedido de perdas e danos
contra o autor da coação, disposto no Art. 155 do CC:
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente
com aquele por perdas e danos.

Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a
parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da
coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

VI – Estado de Perigo
O estado de perigo é um vício de consentimento que consiste quando uma pessoa
celebra um negócio jurídico em situação de extrema necessidade com o risco de sofrer
dano moral ou material da própria pessoa ou de familiares.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte,
assume obrigação excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o


juiz decidirá segundo as circunstâncias.

No Art. 156 do CC, há alguns requisitos para que haja o estado de perigo, sendo
eles:
1 – Uma situação de necessidade;

2 – Iminência de dano atual e grave;

3 – Nexo de causalidade entre a declaração e o perigo de grave dano;

4 – Incidência da ameaça do dano sobre a pessoa do próprio declarante ou de sua


família;

5 – Conhecimento do perigo pela outra parte e

6 – Assunção de obrigação excessivamente onerosa.

O Art. 178, II do CC, declara que é anulável o negócio jurídico celebrado em estado
de perigo, contudo não será anulado se a obrigação assumida não for excessivamente
onerosa. Se o for, cabe ao juiz para evitar o enriquecimento sem causa, apenas reduzir a
um valor razoável.
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do
negócio jurídico, contado:

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que
se realizou o negócio jurídico;
V – Lesão
A lesão é o prejuízo resultante de uma enorme desproporção existente entre
prestações de um contrato, no momento de sua celebração, determinada pela premente
necessidade ou inexperiência de uma das partes. Sendo esta um vício que pode acarretar
na anulação, salvo disposto no §2° do Art. 157.
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta.

§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo


em que foi celebrado o negócio jurídico.

§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente,


ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

As espécies da lesão na doutrina atual:


Usuária ou Real – é quando a lei exige além da necessidade e experiência do
lesionado, também o dolo de aproveitamento da outra parte.

Lesão, Lesão Especial ou Lesão Enorme – a lei limita-se apenas a exigência de


obtenção de vantagem exagerada ou desproporcional, sem se questionar da má-fé ou
ilicitude.

Os elementos da lesão, esta é composta por dois:


Objetivo – é a manifestação da desproporção entre as prestações recíprocas, geradoras
de lucra exagerado.

Subjetiva – é caracterizada pela falta de “paridade” de conhecimento entre as partes.

VI – Fraude contra Credores


A fraude contra credores é classificada como vício social porque o devedor, com o
objetivo de não cumprir com a obrigação assumida perante seu credor, firma contrato
com terceiro vendendo bens que garantiram o pagamento de sua dívida. Aqui, o terceiro
tem ciência do motivo da disposição do bem, e em conluio com o devedor, conclui o
negócio em prejuízo do credor. Dois elementos compõem o conceito de fraude contra
credores, sendo eles:
Objetivo (eventus damni) – é a insolvência que causa o ato prejudicial ao credor,
tornar-se insolvente em virtude da alienação do bem de sua propriedade para terceiro.

Subjetivo (Consilium fraudis) – é a má fé do devedor, a consciência prejudicar


terceiros. O termo significa conluio fraudulento, pois devedor e comprador, têm
ciência do prejuízo que causarão ao credor em vista da alienação de bens que
garantiriam o adimplemento da obrigação assumida, mas os alienam de má-fé visando
frustrar o cumprimento do negócio

Não é apenas nas transmissões onerosas pode ocorrer fraude contra credores, mas
também pode ocorrer em outras três outras hipóteses.
Transição onerosa – para prova-la os credores tem que provar o eventus damni e o
consilium fraudis.

Alienação de título Gratuito e Remissão da Dívida – nesse caso o credor não


precisa provar o consilium fraudis, porque a lei presume o propósito da fraude. Já a
remissão da dívida também constitui uma liberalidade que diminui o patrimônio do
devedor.

Pagamento Antecipado da Dívida – Dispõe o quando o devedor já insolvente paga a


credor quirógrafários (credor em que o crédito deriva de um título ou documento) -
Art. 162. Do CC “O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o
pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.”

A anulação do negócio jurídico celebrado em fraude contra credores é chamada de


Revocatória ou Pauliana, é a ação pela qual os credores impugnam atos fraudulentos de
seu devedor. Podendo ser/ter:
Natureza Jurídica: possui natureza desconstrutiva, anula as alienações ou concessões
fraudulentas;

Legitimação Ativa: dos credores quirógrafários que já era o tempo de da alienação


fraudulenta. Os credores com garantias reais só poderão ajuizá-la se a garantia tornar-
se insuficiente.

Legitimação Passiva: do devedor insolvente e da pessoa que com ele celebrou a


estipulação considerada fraudulenta, bem como dos terceiros adquirentes que hajam
precedido de má fé.

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