Que Cérebro É Esse Que Chegou À Escola
Que Cérebro É Esse Que Chegou À Escola
Que Cérebro É Esse Que Chegou À Escola
3ª edição
Rio de Janeiro
2017
© 2012 by Marta Pires Relvas
Este livro foi revisado por duplo parecer, mas a editora tem a política de
reservar a privacidade.
R321q
Que cérebro é esse que chegou à escola? as bases neurocientí cas da
aprendizagem/ Carolina Relvas Chaves... [et al.]; Marta Pires Relvas (organizadora)
- 3 ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2017.
260p. : 21cm
Inclui bibliogra a
ISBN 978-85-7854-207-8
1. Neurociências. 2. Neurociência cognitiva. 3. Aprendizagem - Aspectos
siológicos. 4. Cérebro. 5. Prática de ensino. I. Relvas, Marta Pires. II. Chaves,
Carolina Relvas. III. Título.
12-6307. CDD 612.82 CDU 612.82
2017
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
WAK EDITORA
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Agradeço a todos os amigos e amigas que, com seus saberes e emoções, contribuíram
para a realização deste livro.
Meus sinceros e afetivos neuroabraços!
Marta Relvas
Sumário
Prefácio
Que cérebro é esse que chegou à escola?
Por uma pedagogia mais neurocientífica!
Capítulo 1
Neuroaprendizagem na Educação Inclusiva
Marta Pires Relvas
Capítulo 2
Plasticidade Cerebral e Aprendizagem
Geraldo Peçanha de Almeida
Capítulo 3
A Influência da Escolaridade na Avaliação Neuropsicológica
Luciano Bicchieri Medeiros
Capítulo 4
O Jogo no Contexto Escolar diante da Dificuldade de Aprendizagem
Simone Magalhães
Capítulo 5
Cérebro: Rede de Energia
Claudia Nunes
Capítulo 6
Neurociência dos Movimentos e da Aprendizagem Afetiva e Motora
Vasco Manuel Martins do Amaral
Capítulo 7
Cérebro e Educação – Aspectos que perpassam nas Teorias da
Aprendizagem
Mary Sue Carvalho Pereira
Capítulo 8
Neurociência e Psicopedagogia: Um Diálogo Possível!
Josele Teixeira
Capítulo 9
Neurociência e Criatividade
Dina Lucia Chaves Rocha
Capítulo 10
Neurociência e a Psicomotricidade
Fátima Alves
Capítulo 11
Neuroplasticidade Cerebral e Aprendizagem
Luiz Antonio Costa Tarcitano
Capítulo 12
Nutrição na formação do Sistema Nervoso
Carolina Relvas Chaves
Capítulo 13
Devir Cérebro – Um Universo extremamente desafiador
Luiz Gustavo Vasconcellos
Posfácio
Prefácio
Quézia Bombonatto
Presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia
– Gestão 2008/2010
Que cérebro é esse que chegou à escola?
Por uma pedagogia mais neurocientífica!
Esta é uma obra que ressalta o conhecimento adquirido de seus autores por
meio de abordagens teóricas, re exões, discussões e práticas pedagógicas,
revitalizadas por muitas leituras de artigos cientí cos contextualizados na
temática de aprendizagem, inteligência, criatividade, comportamento,
nutrição, e o desenvolvimento humano.
Neste livro, os autores têm o propósito de desenvolver uma abordagem
clara, coerente e mediadora entre as interfaces da Ciência e Educação,
construindo um conhecimento abrangente de como o humano aprende e
guarda saberes, não se limitando em mostrar apenas os seus trabalhos, mas
tendo como proposta trazer para todos os envolvidos em educar um
aprofundamento para as questões neurocientí cas que exigem do educador
moderno este embasamento mais especí co de que a aprendizagem e o
comportamento acontecem no cérebro.
Diante de seus conhecimentos e estudos, integraram à Neurociência e à
Pedagogia uma contribuição descrita nos capítulos demonstrando a riqueza da
escrita de cada autor.
A Neurociência e o desvendar dos estudos dos cérebros na sala de aula
podem e muito contribuir para uma educação mais justa e menos excludente,
pois, assim, o educador tem a possibilidade de compreender melhor como
ensinar, já que existem diferentes maneiras de se aprender.
A intenção desta obra é responder às dúvidas, mas também formular novos
questionamentos e criar o entendimento dessa complexa teia entre a cognição,
memória, inteligências, habilidades, aprendizagem e comportamento por meio
do per l deste educador conhecedor da neuro siologia e da neuroanatomia da
razão e da emoção e como reconhecedor das di culdades da aprendizagem
humana, não como um fracasso, mas como uma nova possibilidade de
reorganização deste sujeito que pensa, sente e convive nesta integridade social e
cultural.
As informações são desenvolvidas pelo Cérebro Cognitivo, Emocional,
Motor, Afetivo e Social. Porém, novas tendências que apontam para esse século
é o desenvolvimento do cérebro criativo, autor, inventivo, intuitivo, genial, que
vivencie as incertezas, gerenciando frustrações cotidianas, sem perder a
autoestima. Um cérebro autopoiético, autorregulador e reorganizado,
adaptável.
Se nós, humanos, temos um cérebro com estruturas cognitivas evoluídas em
relação aos outros animais, um neocórtex que nos dá a propriedade de pensar,
então por que não utilizá-lo corretamente? O cérebro humano é constituído
por dois hemisférios, mas que se complementam. Então, quando estimulados,
elaboram comandos e respostas, por meio dos circuitos neurais. Por isso,
“desa ar” o cérebro é estimulá-lo para uma aprendizagem criativa.
Boa leitura!
Marta Pires Relvas
Capítulo 1
Neuroaprendizagem na Educação Inclusiva
Extraído de www.cerebro-sentidos.jpg
psiquiatriageral.com.br
netnature.wordpress.com
http://pepsic.bvsalud.org/scielo
Toda vez que a escola, no passado, queria excluir um aluno e não havia
outra justi cativa plausível, logo se ouvia: “Ele não aprende”. A a rmação,
embora pareça desumana, foi (e talvez ainda seja) muito usada no meio escolar.
Costumeiramente, rotulam as crianças em diversos papéis, porém o papel que
cabe àqueles que não podem aprender é sempre composto da mesma forma.
Os educadores da escola em questão logo tratam de pedir aos pais que levem o
referido lho ao psicólogo, porque, segundo esses educadores, o menino deve
“ter algum problema de cabeça”. Lá pelas tantas da busca, por parte dos pais,
por uma “cura”, logo retornam do psicólogo com um laudo apontando que o
menino nada tem de errado. Não satisfeitos, os educadores indicam que os pais
possam levar o mesmo menino a um neurologista – médico na última moda,
hoje, dentro das escolas. Os educadores acreditam que é este o pro ssional que
vai resolver o problema da não aprendizagem do aluno.
Assim, tem-se a impressão, nestas escolas, que pode haver uma cura ou um
“remédio” para cada tipo de di culdade de aprendizagem apresentada pelas
crianças em idade escolar. O que tem muito se visto é que os pais rodam de
médicos em médicos e, ao nal de uma maratona, nada encontram, ou até
mesmo encontram dados poucos substanciais e que, sozinhos, não explicam a
não aprendizagem dos alunos.
O problema é que, ao voltarem para as escolas, estes alunos já com os laudos
não apontando nada acabam, mais uma vez, cando excluídos do processo de
aprendizagem. Educadores mantêm o foco no problema neurológico, quando,
na verdade, poderiam observar outras possibilidades de aprendizagem para os
alunos em questão.
O problema, a meu ver, também tem outro lado, é o fato da medicinização
da escola. O médico, seja ele qual for, tem seu papel na composição da saúde
de qualquer criança. É sabido que qualquer um deles contribui enormemente
no processo de equilíbrio ou de reequilíbrio no caso de patologia,
principalmente os distúrbios, de cits, de ciências e transtornos de toda
natureza, no entanto tem de ser respeitada a limitação destes pro ssionais no
quesito aprendizagem escolar.
Sempre pensamos que, se pudéssemos ter uma equipe multidisciplinar em
cada escola, estas formadas por médicos, psicólogos e educadores, teríamos um
melhor resultado nos processos de intervenção a que a criança é submetida. No
entanto, nada adiantaria termos estas equipes multipro ssionais se cada
indivíduo que a compusessem não respeitasse a limitação do outro e,
sobretudo, o conhecimento do autor.
Tenho visto um problema assim – a escola quer que a Medicina, sobretudo,
o médico neurologista, resolva as suas faltas em relação às práticas pedagógicas
adequadas a cada grupo de aluno-aprendiz.
O médico pode contribuir não só com a saúde de nossos alunos mas
também pode apontar direções de como aquele cérebro processa melhor tais
saberes, no entanto direcionar ao neurologista ou a qualquer outro pro ssional
da área médica as respostas e as intervenções para cada caso de não
aprendizagem me parece mais um erro da escola.
Todos os alunos podem aprender. Isto tem se tornado cada dia mais claro,
porém a aprendizagem de cada um é diferente, acontece em tempos e etapas
diferentes e se desencadeia a partir de estímulos diferentes.
Estas diferenças todas estão demarcadas em suas atividades neurocerebrais.
Há um trajeto químico no cérebro que mantém e que operacionaliza cada ação
executada por nossos alunos. É justamente aí que a Medicina pode contribuir
muito para a melhoria do processo de ensino nas escolas.
É justamente neste ponto que o professor poderia ter aulas com um bom
médico neurologistas para que seus conhecimentos pudessem ser agregados a
uma prática pedagógica consciente e pertinente.
A Neurociência tem apresentado diariamente novas descobertas que não nos
era possível saber antes. Hoje, talvez, a melhor e mais importante descoberta da
ciência que estuda o cérebro seja a questão da plasticidade cerebral, ou seja, no
passado, acreditava-se que quem não aprendia não aprendia e ponto nal. Seu
cérebro não dava conta e nunca poderia dar conta de aprendizagem, e, dessa
forma, cabia ao indivíduo desaparecer dos meios acadêmicos e sociais. Era uma
exclusão fundamentada até mesmo pela ciência. Hoje isto mudou, e a
plasticidade cerebral, que a ciência tanto tem se dedicado a compreender cada
vez mais, é a nossa grande descoberta em relação e esse grupo de alunos.
A plasticidade cerebral é a capacidade que o cérebro tem em se remodelar
em função das experiências do sujeito, reformulando as suas conexões em
função das necessidades e dos fatores do meio ambiente. Há alguns anos,
admitia-se que o tecido cerebral não tinha capacidade regenerativa e que o
cérebro era de nido geneticamente, ou seja, possuía um programa genético
xo. No entanto, não era possível explicar o fato de os pacientes com lesões
severas obterem, com técnicas de terapia, a recuperação da função. Muito se
viu por aí de recuperação de movimentos, de fala, de atividade cognitivo-
motora, mas poucos eram os estudos biológicos que mostravam e
caracterizavam o que realmente acontecia. Ficávamos todos achando que
pudesse ser uma espécie de milagre ou de merecimento daquele sujeito.
Segundo o doutor Drauzio Varela, em 1920, Karl Lashley sugeriu que a
distribuição dos neurônios no córtex cerebral (área que controla os
movimentos) de macacos se alterava a cada semana, mas, até a década de 70, o
pensamento corrente era que as conexões entre os neurônios (sinapses)
formadas na infância permaneceriam imutáveis pelo resto da vida. O problema
é que, em ciência, uma pesquisa como esta demora muito a chegar à sala de
aula em operacionalização prática e acadêmica. Além disso, estamos falando de
um estudo datado e localizado, e sua distribuição sempre é complexa.
Ainda segundo Varela, um experimento realizado nos anos 1980 abalou esse
dogma. Trabalhando com macacos, pesquisadores americanos demonstraram
que a amputação de um dedo provocava atro a dos neurônios da área cerebral
responsável pelo controle motor do dedo amputado, mas que esse espaço não
permanecia desocupado: era invadido pelos neurônios encarregados da
motricidade do dedo adjacente, situados a milímetros de distância.
Foi a partir daí que a escola também começou a olhar para a Medicina se
perguntando: O que eles estão dizendo? Na década seguinte, vimos um
verdadeiro “bum” de estudos com bases neurocientí cas. Duas décadas depois,
acompanhamos o que muitos chamavam e chamam de “A década do cérebro”,
ou seja, foram tantos estudos, tantas descobertas que a escola não conseguiu
passar imune a eles, e os educadores, cada vez mais, têm se interessado pelo
assunto.
Porém, calma e paciência são tudo de que precisamos quando o assunto é a
ciência que envolve o cérebro. Não há milagres, o que há, verdadeiramente
hoje, é o fato de que já é sabido que existe sim uma plasticidade cerebral por
toda a vida.
Varela nos aponta que a neurogênese é um processo lento, regulado por
moléculas presentes no tecido nervoso conhecidas pelo nome de fatores de
crescimento. Ela tem sido demonstrada em casos de acidente vascular cerebral:
os novos neurônios formados no hipocampo migram para a região destruída
pela falta de oxigênio para povoá-la. A maior parte deles morre na travessia,
mas alguns conseguem estabelecer conexões com neurônios de outras áreas e
restabelecer circuitos perdidos.
Estas comprovações e estes avanços demonstram que há sim uma vida
microbiológica acontecendo incessantemente em nosso cérebro, porém com
suas limitações. Sabemos que nossos neurônios são capazes de migrar para áreas
cerebrais “vazias” e que continuam nascendo todos os dias sob a in uência de
fatores de crescimento, medicamentos, atividade física e desa os intelectuais a
que nos submetemos ao longo da vida e ainda nos submeteremos durante ela.
Isto quer dizer que os fatores que endossam as neurogêneses estão ligados ao
tipo de alimentação que o indivíduo teve e tem, aos fatores sociais, como
estresse e estímulos que ele teve ou tem ou ainda terá e, sobretudo, ao tipo de
composição orgânica de cada paciente. Nem todos têm a mesma condição ou a
mesma plasticidade. Estes fatores são variáveis de situação para cada situação.
Varela nos traz uma pesquisa bem interessante que demonstra que, em
2002, um estudo feito com antidepressivos mostrou que o efeito bené co
desses medicamentos no tratamento da depressão coincide com o aparecimento
de novos neurônios no hipocampo. Curiosamente, os pacientes que recebem
essas drogas costumam levar cerca de quatro semanas para notar melhora dos
sintomas: exatamente o tempo necessário para os novos neurônios se
integrarem funcionalmente aos circuitos cerebrais.
Esta descoberta também é maravilhosa porque há outro problema aí nesta
base. A depressão é um dos processos que aceleram as demências. A depressão
no idoso, por exemplo, aquele em salas de EJA e que apresenta muitos
problemas de aprendizagem, pode indicar um risco aumentado de
desenvolvimento de demência, quando feita a comparação com idosos não
deprimidos. Esta a rmação é do Prof. Dr. Paulo Bertolucci, diretor do Núcleo
de Envelhecimento Cerebral e Chefe do Setor de Neurologia do
Comportamento da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, ou seja,
sabidamente os indivíduos nesta condição estão perdendo suas capacidades
cognitivas. Além das privações deste quadro em relação ao convívio social,
também estão em declínio de suas capacidades operatórias, motoras e
intelectuais. Assim, um estudo como este mostra que o tratamento correto não
só melhorar a qualidade de vida dos pacientes mas também trazê-los de volta a
aprendizagem, mais um motivo de contentamento e, portanto, de adesão aos
tratamentos.
A demência é de nida por um conjunto de alterações cognitivas, uma das
quais obrigatoriamente é a perda da memória, podendo ser acompanhada por
alterações do comportamento e pela perda de habilidades. Segundo estudo
publicado na revista Archives of Neurology, a depressão é um dos sintomas
mais frequentes nas demências, atingindo mais de 40% dos pacientes com
doença de Alzheimer, mais de 50% dos pacientes com demências vasculares e
mais ainda nos pacientes com a demência da doença de Parkinson. O Prof. Dr.
Paulo Bertolucci explica que a depressão, além de ser uma das causas de
alteração do comportamento dos pacientes com demência, como agitação,
agressividade, delírios e alucinações, traz mais dependência e maior desgaste
para o cuidador.
Isto quer dizer que as possibilidades de este cuidador permitir novos
estímulos, novas ações de prazer que podem levar às novas sinapses cam
sempre comprometidas. A neurogênese depende deste fatores de trato,
estímulo e, sobretudo, necessidade a que os pacientes são colocados. Ou seja,
quanto mais o paciente, ou o aluno no nosso caso, tiver a necessidade de
execução daquilo, mais esforço químico, orgânico e intelectual ele fará.
Consequentemente, daí advém a máxima “ocupar espaços vazios da mente”.
Há outro conhecimento importante no caso da plasticidade cerebral.
Segundo Silva e Kleinhan (2006), a plasticidade cerebral explica o fato de
certas regiões do cérebro poderem substituir as funções afetadas por lesões
cerebrais. Como tal, uma função perdida devido a uma lesão cerebral pode ser
recuperada por uma área vizinha da zona lesionada. Contudo, a recuperação de
certas funções depende de alguns fatores, como a idade do indivíduo, a área da
lesão, o tempo de exposição aos danos, a natureza da lesão, a quantidade de
tecidos afetados, os mecanismos de reorganização cerebral envolvidos, assim
como outros fatores ambientais e psicossociais.
Helen Neville, uma pesquisadora da Universidade de Bristish Columbia e
Cornell, apresentou um estudo surpreendente neste sentido, ela a rma que
uma pessoa cega que não teve a visão estimulada possibilita que sua área
cerebral, sem estímulo, seja ocupada por outras ações. Isto quer dizer que os
tais “espaços vazios” do cérebro podem ser preenchidos por outros saberes ou
por novos saberes, é aí que a escola precisa parar para re etir sobre suas
condutas pedagógicas. Muitas vezes, a não aprendizagem dos alunos está ligada
ao fato de que a metodologia e a didática não são adequadas às limitações que
se previa ter a criança.
Os métodos educacionais têm muito a aprender com a Neurociência, pois
cada indivíduo processa informações do seu jeito e de acordo com suas
necessidades. Assim, de posse de informações importantes como estas que as
ciências têm nos dado sobre plasticidade cerebral, muito de nosso trabalho
como educadores poderia ser repensado para que pudéssemos atingir melhor
nossos alunos.
Assim, se é sabido e comprovado que, embora não haja milagre, há sim uma
plasticidade cerebral, ou seja, os alunos podem aprender a vida inteira e de
diferentes formas. Também já é sabido que estes “espaços” podem ser
preenchidos com as novidades que advêm dos estímulos e são estes estímulos e
estas outras possibilidades que a escola de hoje precisa buscar e descobrir as
ideais pertinentes para cada aluno, sejam eles portadores de necessidades
educativas especiais ou não. Qualquer indivíduo pode aprender, com
limitações de tempo e de profundidade intelectual, mas para isto a metodologia
deve ser correta – pensando na potencialidade do aluno e não na limitação.
Também é importante a técnica adequada a ser utilizada pelo maestro e, por
último, há que se cuidar das intervenções médicas pertinentes a cada caso, pois
elas funcionam como suporte ao processo de escolarização de muitos
indivíduos.
E, para terminar, lembro aqui mais algumas palavras da escritora Lispector:
“Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua
contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado
com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia
disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por
isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa
é considerado uma gafe”. Assim, penso eu, poderíamos começar a falar nas
escolas destas novas descobertas da Neurociência, mesmo que isto possa parecer
para alguns uma gafe.
Referências
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714, 2006.
Capítulo 3
A Influência da Escolaridade na Avaliação
Neuropsicológica
CONCLUSÃO
Os diferentes ambientes culturais estimulam o desenvolvimento de
diferentes habilidades (BERRY,1983 apud ARDILA & ROSSELLI, 1989). Os
fatores cultural e ecológico desempenham um papel importante dos diferentes
estilos cognitivos e, dessa maneira, devem ser considerados durante a avaliação
neuropsicológica.
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Capítulo 4
O Jogo no Contexto Escolar diante da
Dificuldade de Aprendizagem
Simone Magalhães
Pedagoga pela Universidade Federal Fluminense e Pós-Graduação em Di culdades de Aprendizagem pela
UERJ. Coordenadora pedagógica e professora da Universidade Estácio de Sá. Professora da Pós-
Graduação da Faculdade Integrada AVM na disciplina Neurociência e os Transtornos da Aprendizagem.
Professora de Di culdade de Aprendizagem da Faculdade de Artes do Paraná, do Instituto Segmento,
Salvador e da Faculdade de Artes do Paraná – Ponta Grossa.
Um Aprendiz Interativo
O jogo possibilita ao educando ser um sujeito interativo, facilitando a sua
apreensão do conhecimento. Tomou-se como base o esquema interpretativo da
Psicologia Associonista em suas investigações sobre a alfabetização que
identi ca métodos de ensino com processos de aprendizagem, orientando suas
investigações para a questão da maturidade/prontidão, enfatizando os
domínios perceptivos da aprendizagem, os testes psicológicos e o marco
piagetiano que estabelecem uma distinção clara entre método de ensino e
processo de aprendizagem. Os estudos cognitivistas dirigem suas investigações
para os processos de aquisição do conhecimento, na construção dos esquemas
de assimilação pelo sujeito da aprendizagem, fato este que é mais relevante
neste presente estudo.
A necessidade de se fazer distinção entre aprendizagem e ensino, se faz de
maneira que nem sempre um estímulo apresentado pelo adulto-professor por
meio do ensino é idêntico ao estímulo percebido pela criança-aprendiz, no seu
processo de aprendizagem.
Toda criança possui um repertório de conhecimentos acumulados e
organizados no decorrer de sua experiência de vida, e esse acervo de
conhecimentos funciona como um esquema de assimilação, como um sistema
explicativo do mundo. É a sua estrutura cognitiva. Diante de um novo
objetivo, a criança se interessa e se mobiliza, estabelecendo uma relação entre o
seu acervo de conhecimentos, sua estrutura cognitiva e o novo estímulo a ser
aprendido.
Com o seu esquema de assimilação e o repertório de conhecimento
disponível, ela aprende, reorganizando o seu acervo (a sua estrutura cognitiva).
Se o acervo disponível não permite compreender o novo estímulo, ela aprende
“deformando” o objeto.
Entendendo a atividade do jogo como uma atividade social especí ca e
fundamental que garante a interação e construção de conhecimentos da
realidade pelas crianças, é que nos faz estabelecer um vínculo com o jogo e sua
função pedagógica.
Que consequências trazem esse fato para o ensino? A escola deve reformular
seus pressupostos, pois o método de ensino passa a ter como referencial o
processo ensino-aprendizagem. O aprendiz é sujeito da aprendizagem, não
mais objeto do ensino, pois é da interação entre processos internos (do
aprendiz) e processos externos (do ensino) que ocorre a aprendizagem, nas
abordagens cognitivas, o sujeito é ativo, aquele que age sobre o conhecimento,
apropriando-se do objeto a ser aprendido.
O professor avalia a soma de fracassos e sucessos, sem considerar a maneira
como a criança chegou a eles. Em contraste, a criança quando está envolvida
com um jogo, é possível enfocar as modi cações de raciocínio sobre uma dada
realidade.
CONCLUSÃO
O dia a dia da criança faz com que ela cresça em meio à troca, ao
relacionamento com seus amigos, com a família, com a professora dentro do
seu convívio social. De modo bem diferente dos adultos, ela necessita de
atividades mais signi cativas para que possa melhor usar suas capacidades
físicas, mentais, emocionais e éticas. E no caso especí co deste estudo, viu-se a
importância do jogo nas atividades diárias da criança como agente facilitador
do aperfeiçoamento das diversas habilidades motoras, neuro siológicas e
psicológicas.
Os jogos, os brinquedos, a música e a arte reforçam a inteligência,
melhoram seu desenvolvimento, assim como fazem com que a criança tenha
melhor visão de tudo aquilo que a rodeia.
O trabalho com o jogo não deve ser uma barreira a ser vencida dentro das
impossibilidades do nosso cotidiano, mas uma possibilidade de realização de
um trabalho permeado de alegria, um trabalho rico que possa favorecer uma
aprendizagem mais divertida e que desperte mais a atenção e o interesse dos
alunos. O prazer compartilhado ao saber constitui uma relação criativa e
participativa onde transmissão-aquisição viabilizam conhecimento. Cabe
enfatizar a seriedade do jogo fora e dentro da escola.
O professor deve estar atento em como se comporta o seu aluno no
momento que está no grupo, pois, por meio das expressões que o mesmo
apresenta, ele descobrirá muitas respostas que traduzem atitudes e palavras,
principalmente daqueles alunos que possuem di culdade de se socializar, de se
comunicar com outrem e de se expressar oralmente. Assim se o professor
aproveitar a relação do aluno do jogo em suas aulas, ele estará oferecendo
oportunidade de o sujeito tomar consciência de suas possibilidades de seus
limites, permitindo-lhe o reconhecimento de sua autoimagem do poder que o
mesmo possui para se expressar, abrindo, assim, novos caminhos para a
comunicação e o desenvolvimento tanto individual quanto do grupo, sem que
eles percebam ou se sintam incapazes de realizar as tarefas exigidas pela escola.
É importante haver respeito, amizade e afetividade no relacionamento entre
professor e aluno, para que o aluno sinta-se naturalmente impelido a expressar
seus sentimentos, e esses possam re etir em atitudes mais espontâneas.
E a família deve permear esta relação entre aluno e escola, estando mais
presente no cotidiano escolar de suas crianças, permitindo, assim, uma visão
real do processo ensino-aprendizagem desenvolvido.
Finalmente o jogo e a criança devem andar sempre em perfeita sintonia,
pois são peças indispensáveis ao trabalho transformador que o pro ssional
possa realizar na escola, principalmente se considerando as séries iniciais.
Este estudo traz uma simbólica contribuição para os pro ssionais que se
interessam em desenvolver uma prática transformadora.
Longe de ousar responder a todas as inquietações que nos a igem, o esforço
da construção deste trabalho partiu destas inquietações para ensejar, contribuir
para o repensar da prática docente, tendo em vista uma visão emancipadora da
educação. Desa o então a todos os professores a incluírem atividades de jogos
nos planejamentos e na elaboração dos projetos pedagógicos.
Quem sabe assim, se possam contagiar os professores com alegria e prazer de
orientar o saber, deliciando-se com o conhecimento construído pelo aluno por
meio do jogo, da interação e da interdisciplinaridade, para que os mesmos
abram mão da prática autoritária e opressora que aparecem de forma clara na
quantidade de conteúdos que devem ser absorvidos pelos alunos.
O intuito não é assumir que o jogo por si só é um instrumento mágico,
uma receita, capaz de resolver os sérios problemas que afetam o nosso sistema
educacional, pois se sabe que não existem fórmulas milagrosas, é preciso ter
preceitos e diretrizes que devem nortear a prática pedagógica de cada educador.
Acredito que é no dia a dia, na re exão de sua prática que o educador será
capaz de perceber as mudanças que possam vir a ser necessárias de serem
realizadas. Re etir signi ca estar preocupado com o trabalho que se desenvolve,
promovendo então o crescimento do educando.
Referências
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Capítulo 5
Cérebro: Rede de Energia
Claudia Nunes
Graduada em Letras (Português/Literaturas – UVA). Pós-graduada em Docência do Ensino Superior e
Tecnologia Educacional (IAVM/UCAM). Mestre em Educação pela UNIRIO. Tutora de curso de
graduação a distância (IAVM/UCAM). Tutora do curso de formação de tutores (UEMA/UAB). Revisora
de material didático a distância. Professora do Estado na área de Literatura (Ensino Médio). Escreve nas
áreas de Tecnologia Educacional, Cérebro, Imigrantes digitais, EAD – Educação a distância, Mídias,
Projetos Educacionais, Literatura, Cotidiano dentre outras. Mantém blog no endereço http://e-
pesquisadora.blogspot.com.
Mundo da Aprendizagem
Em todo o movimento evolutivo biológico e comportamental que se
apresenta aqui, intrínseca está a aprendizagem. Quando há a menção dos
saltos mutantes do humano na Terra e no social, há referência à aprendizagem.
A aprendizagem e o desenvolvimento humano não são eventos diferentes. Em
comum acordo com o sentido orgânico e cognitivo, desenvolver signi ca
estabelecer uma relação de aprendizagem, troca e comunicação intensa entre o
organismo e o ambiente no qual esse organismo vive e para o qual se direciona.
Tão importantes quanto às vigorosas conexões sinápticas de nosso cérebro, são
os links que formalizamos com os contextos sociais.
Nesta teia, o conhecimento é produzido. Dos neurotransmissores às inter-
relações, criações e pesquisas humanas, um conjunto suculento de saberes
ganha consistência. Desde o registro e a aquisição da informação até seu
armazenamento e evocação (memória), imprimem-se novas e outras
habilidades à mente, ao comportamento e à relação humana.
O ser vivo humano, então, vive por adaptações estruturais, sejam elas
cerebrais (pela plasticidade) ou comportamentais (por aprendizagens). As
mudanças, agenciadas pelo meio externo e interno (atividades de interação,
mesmo por lesões), afetam a rotina dos ambientes neuronal e social,
provocando, em um, sulcos no cérebro e, no outro, aprendizagens. É um
fenômeno multidimensional e é impulsionado por desa os do meio ou por
lesões. O corpo e a mente humanos mantêm-se ativos, em diferentes graus,
durante toda a vida, inclusive na velhice, porque a ação de aprender não para,
no máximo diminui de intensidade.
Estas diferenças mostram que cada evento dinamizador do cérebro não
acontece com simplicidade ou sem dor. A cada evento que invade o neocórtex
ou hipocampo potencializa-se a criação de novas habilidades, porque perturba
(transtorna) o SNC (sistema nervoso central). O cérebro, com autonomia,
pode assimilar ou não esta perturbação. São os transtornos gerando
seletividades. É a presença, em sociedade, de médicos, professores, engenheiros,
radialistas, porteiros, donas de casa dentre tantas outras competências
pro ssionais existentes.
O potencial de mutabilidade cerebral tem uma profunda relação com as
experiências que os seres vivos humanos têm com as informações às quais
acessam todos os dias. Mas o conhecimento demanda processos diferenciados
de maturação. É a decantada maturidade. Se processos diferenciados, sua
ocorrência representa a existência de di culdades. Aprender não é fácil. E as
di culdades de aprendizagem “não estão ligadas apenas ao sistema biológico
cerebral, mas podem ser causadas por problemas passageiros” (RELVAS, 2007),
que, nem sempre, oferecem às pessoas condições adequadas para superá-las
com tranquilidade.
O hipocampo, podendo ser chamado “pontos de enlaces”, mantém-se ativo
no curso do desenvolvimento humano por causa de grupos de células
neuronais advindas de diferentes contextos. Estas, diante de uma mudança
qualquer no uxo vital, modi cam suas funções de acordo com a estimulação
recebida, tanto por in uência dos locais pelos quais perpassam, quanto por
fatores relacionados ao próprio microambiente molecular ligado a essas células.
Como resultado, conexões capazes de recuperar vias comprometidas pela
surpresa da emoção (dor, sonho, encontro, susto) são refeitas. Logo,
novamente, mantém-se a aprendizagem.
Daqueles problemas passageiros mencionados anteriormente a certas lesões,
em movimento, uma engrenagem interna que se difunde e se readapta
constantemente.
No processo neuropsicológico do ato de aprender, assumem papel de mais alta importância a
atenção, a memória e as funções executivas, bem como os distúrbios atencionais e das funções
corticais de percepção, planejamento, organização e inibição em todos os processos de
aprendizagem, e seus distúrbios não permitem reter as informações. (RELVAS, 2007, p.55-56)
Em um corpo cognitivo (no córtex), cada evento experienciado pelo ser vivo
humano só se agrega ao conjunto de aprendizagens após um período crítico.
Este se refere tanto aos eventos especí cos do desenvolvimento neuronal
quanto à constatação de que os processos de desenvolvimento cognitivo são
alterados mais facilmente ou de forma mais permanente dependendo do
momento em que ocorre um evento disruptivo. É uma janela temporal, mas
suscetível a transformações neurais, ao potencial cerebral de exibilidade e
reorganização, e onde há uma lapidação constante dos sulcos cerebrais. E, em
cada lapidação, cria-se a chamada “janela de oportunidade”, fase ideal, durante
a maturação, para o desenvolvimento de habilidades, sejam elas de aprendizado
de Matemática, de línguas ou musical.
(...) A vida sobrevive da mesma maneira que uma segunda expiração substitui a primeira. Essa
segunda vida repete a primeira, que sucumbirá rapidamente à morte, se não for buscar uma
sobrevivência, se não estabelecer, mesmo que com novos custos, uma ligação entre o ritmo regular
do coração e os saltos arrítmicos do cérebro: um atira o outro para fora de seu círculo, e o outro
conduz o primeiro a se reinstalar. Partamos logo, ela diz, mas, ao chegar lá, construamos uma
nova morada. (SERRES, 2003, p. 45)
Aprender (a-prender = sem limites), então, é uma ação livre, sem prisões,
cuja demanda, no mundo real, requer muito cuidado, objetivo e método, por
exemplo, aos professores, e será sempre uma grande novidade.
Considerações Finais
É importante ressaltar que, para todos os entendimentos alinhavados aqui,
devem se levar em conta as variáveis, além da natureza neurobiológica, como
fatores sociais e culturais. Essas variáveis modi cam as respostas cerebrais e
comportamentais em detrimento das aprendizagens que se quer empreender e,
mesmo assim, nada pode ser negligenciado. Aqui, entra em perspectiva e em
profundidade a questão da INTEGRAÇÃO, e não da simples INCLUSÃO,
quer seja das crianças, quer seja das comunidades, quer seja da sociedade, no
elenco de possibilidades que os tornem capazes de aprender conteúdos
contextualizados ou não. A nal, manter o cérebro aprendendo e,
consequentemente, o homem criativo, requer novas maneiras de ensinar e
estimulações INOVADORAS cujas precedências se baseiem na formulação de
melhores estratégias para as nossas várias disfunções. São os três ‘Is” mais
importantes do humano.
Se o cérebro naturalmente tem a exibilidade de revitalizar suas funções por
realocações de suas redes neuronais, a interferência do ambiente escolar, nesse
processo, deve surgir como solidária na organização das funções cognitivas mais
complexas, como memória, atenção e linguagem, responsáveis pelo
comportamento adaptativo e criativo intrínseco à comunicação humana.
Um acordo com a Natureza é imprescindível: aprender sempre!
Referências
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estímulos. 10 ed. Campinas, SP: Papirus Ed. (1998). (Coleção Papirus Educação).
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Cultura e artes do pós-humano: Da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.
SERRES, Michel. Hominescências: o começo de uma outra humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2003.
A palavra “orla” aqui é usada como metáfora do sistema límbico seguindo indicação de Goleman (2005,
p.25) que diz: “(...) sistema ‘límbico’, de limbus, palavra latina que signi ca ‘orla’”.
Segundo Antunes (1998, p.11), “a palavra ‘inteligência’ tem sua origem na junção de duas palavras latinas:
‘inter’ = entre e ‘eligere’= escolher”. Já Chauí (1995, p.153) vai um pouco além: “o verbo ‘intelligere’ vem da
composição de duas palavras: ‘inter’, isto é, entre, e ‘legere’, que signi ca: colher, reunir, escolher, escolher e ler
(isto é, reunir as letras com os olhos). Por isso, ‘intelligere’ signi ca: escolher entre, reunir entre vários, apanhar,
aprender, compreender, ler entre, ler dentro. Donde: conhecer e entender”.
Usamos aqui tanto a tradução inglesa da palavra design datada de 1588, ou seja, “um arranjo de elementos
em um dado padrão artístico”, quanto a tradução apresentada por Houaiss que a toma como “concepção
de um produto (...), especialmente no que se refere à sua forma física e funcionalidade”. Ambas as
possibilidades são encontradas em Filatro (2004, p. 56-57).
Um hipertexto é uma interface não linear que apresenta informações em linguagens variadas e, segundo
Filatro (2004, p.30), “vincula estes informações [numa] rede de associações complexas através de links”. Além
disso, funciona como superfície de onde são observados todos os elementos orgânicos, suas ligações
criativas e seu funcionamento ininterrupto.
Segundo Goleman (1995, p.25), “(...) O neocórtex é a sede do pensamento; contém os centros que reúnem e
compreendem o que os sentidos percebem”.
Do Latim curiositate, essa palavra signi ca, justamente, o desejo de ver, saber, informar-se, desvendar,
alcançar, conhecer, aprender, investigar assuntos que revelam algo desconhecido ou interessante.
Nota do autor: Como “mundo real” re ro-me à contemporaneidade, ao momento atual, aos dias de hoje.
Jean Baudrillard é um sociólogo e lósofo francês cujo discurso questiona o olhar mais positivo sobre o
impacto do desenvolvimento da tecnologia na sociedade atual. Acredita no surgimento de uma servidão
voluntária a um volume de informações que segue in uenciando a massa crítica. Há, assim, uma
contaminação midiática, quase uma intoxicação. É um fenômeno que gera distúrbios na percepção e na
de nição de um juízo de valor. Resumo disponível em:
http://www.angel re.com/sk/holgonsi/baudrillard.htmlhttp://www.angel re.com/sk/holgonsi/baudrillard
.html - Acessado em 05/08/09.
Capítulo 6
Neurociência dos Movimentos e da
Aprendizagem Afetiva e Motora
O QUE É EMOÇÃO?
É um estado onde o sujeito está envolvido em um evento qualquer, que
pode ter dimensões grandes ou pequenas. Tudo o que está inserido nas
emoções é o que convivemos diariamente: raiva, alegria, medo, ansiedade etc.
Certamente existe um sistema para emoção. Os tipos de emoção parecem
estar ligados a diferentes estruturas desse sistema. Nem todas as emoções
pertencem ao grupo que compõem esse complexo. Por exemplo: medo tem
uma diferença estrutural da raiva no sistema.
A amígdala cerebral está envolvida com medo, o hipotálamo com agressão e
raiva. É muito difícil de nir um sistema de emoção; o que se pode de nir é um
grupo de estruturas envolvidas com a emoção, dos quais as con gurações
dessas estruturas variam com a natureza da emoção.
O indivíduo pode sentir raiva, e isso se manifestar em um grupamento
neural relacionado com a agressão, mas que nem todas as estruturas
relacionadas à agressão funcionam no mesmo patamar que seria o da raiva. Isso
é lógico, porque, embora o neurônio se especialize em determinadas funções,
ele apresenta uma faceta polivalente. Essa ideia ajuda a entender que todas as
relações neurais relacionadas ao nosso comportamento determinam como
iremos nos comportar. Nada do que se faz escapa à noção de que o
comportamento é fruto de reações físico-químicas em nível neural. Esta
conclusão parte fundamentalmente da neuroquímica.
A afetividade está muito relacionada com as reações bioquímicas, que não
necessariamente tem relação com os hormônios. Tudo na vida humana é
químico.
Um dos primeiros estudos cientí cos sobre a emoção foi realizado por
Darwin, em “a expressão da emoção em homens e animais”. Daí em diante,
uma série de estudos foi realizada, e desses estudos, surgiram duas teorias: a de
James-Lange e Cannon-Bard. Elas procuraram explicar, por vias opostas, os
mecanismos que regulam a emoção. Para a teoria Cannon-Bard, conforme o
indivíduo recebe o estímulo, ele o envia para o cérebro, ou seja, o mecanismo
sensorial projeta para o mecanismo regulador, o cérebro, que processa o
estímulo, e isto repercute na expressão emocional do indivíduo. É necessário
que o organismo seja acionado, para haver percepção cerebral e, a partir disso,
ocorra a emoção embutida por meio do aparato motor.
Na teoria James-Lange, que veio primeiro que a de Cannon-Bard, o
indivíduo tem a sensação, e ela por si só promove a expressão emocional
motora, e essa expressão emocional seria enviada para análise no cérebro. A
experiência emocional ocorreria após a expressão emocional, ou seja, o que se
passa em nível mental ocorreria após o que se passa em nível motor.
Mas como um indivíduo pode sentir algo sem que isso passe pelo cérebro?
Se ele não sabe se a sensação é boa ou ruim? Por esta questão, a teoria de
James-Lange foi muito combatida na época e passou a ser válida a teoria
anterior a dele, e que foi corroborada posteriormente por Cannon-Bard.
Alguns estudos realizados mais recentemente demonstraram que a teoria de
James-Lange tem certa razão.
TEORIAS DA EMOÇÃO
A teoria de Cannon-Bard prevê que o indivíduo, ao perceber o estímulo,
desencadeia uma sinapse para o sistema nervoso central, onde a experiência do
medo é tratada, e resulta em outra sinapse para modi car o estado físico da
pessoa. Já a teoria James-Lange diz que, à medida que um sinal é passado para
um tensor, o próprio tensor teria como promover as mudanças emocionais e,
depois, iria para o local pertinente no SNC para que houvesse a experiência da
emoção, e aí o corpo memorizaria a experiência.
A teorização mostra que ambas são pertinentes, de alguma forma. É muito
mais interessante identi carmos as estruturas que dizem respeito à emoção, e
não pensar que existe um sistema único para emoção. Ele é um sistema
conjugado, onde existem várias estruturas que contribuem para o fenômeno
emotivo, embora as experiências de laboratório não revelem ainda todas elas.
Conhece-se relativamente bem: a amídala, o hipotálamo, o hipocampo, o
córtex, o giro cingulado e as substâncias límbicas, como o fórnix e o córtex
entorrinal.
A RELAÇÃO DO ASPECTO AFETIVO NO MOVIMENTO
A afetividade está ligada também a aspectos comuns do movimento, como a
postura, por exemplo, “cabisbaixa” é causada por motivo psicológico. Isto nos
leva a crer que, ao falar sobre o movimento, tem de obrigatoriamente se referir
ao aspecto emotivo.
O SISTEMA LÍMBICO
O primeiro pesquisador a associar o sistema límbico com a emoção foi
Broca. Ele se baseou nas experiências de sua época, com animais e pessoas que
tinham degeneração de partes do sistema límbico, apresentando mudanças
emotivas (cita o caso de Pineal Gage).
Embora o córtex tenha muito a ver com a emoção, no fundo, existem outras
estruturas – as estruturas límbicas – que também têm grande participação nesta
questão. Assim, não existe um sistema único de emoção, são várias estruturas
trabalhando coordenadamente.
Somente após 1930 que os estudiosos con rmaram a importância do Lobo
Límbico de Broca. Papez com o circuito que tem o seu nome contribuiu muito
para este estudo e descobriu que o neocórtex tinha uma importância
fundamental na criação de pensamentos e abstrações e, principalmente, no
“colorido” que se dá às emoções. Outras partes, como o córtex cingulado e o
hipotálamo têm uma relação direta com a expressão corporal das emoções.
Experiências emotivas e expressões emocionais são duas coisas diferentes. A
experiência emotiva está intimamente ligada ao córtex e ao giro cingulado,
enquanto a expressão emocional está mais ligada à expressão emocional. Assim,
a experiência emocional localiza-se principalmente no córtex, enquanto a
expressão emocional está mais ligada ao sistema autônomo, sendo puramente
hipotalâmica.
O circuito de Papez apoia ambas as teorias, de James-Lange e Cannon-Bard,
pois existe uma unidade bi-direcional da relação do neocórtex com o
hipotálamo. Tanto faz pensar que o sistema atua autonomamente, “expressão
da emoção”, como que o córtex atua primeiramente, experimentando a
emoção. Todas as estruturas têm relação direta com a emoção. O núcleo
anterior do tálamo tem relação com a emoção, pois é a parte que ltra as
informações do sistema.
Após passar pelo giro cingulado, hipocampo e hipotálamo, o tálamo faz
uma ltragem, até para preservar o indivíduo de determinadas emoções não
desejadas, reações abruptas etc. As reações autônomas como suor, batimentos
cardíacos etc. são controladas por este sistema do tálamo para que não
provoquem “choques” e reações abruptas danosas para o indivíduo.
Existem alguns casos em que a serotonina, um agente neurotransmissor, que
faz a mediação do controle emocional, se tiver degenerado o seu uxo, faz com
que o indivíduo se torne muito agressivo ou medroso, dependendo da relação
com a estrutura. Então, pode-se dizer que o comportamento mudou, mas por
via sistema emocional.
O comportamento não é, de fato, o marco de verdade no que diz respeito
ao sistema emocional. O indivíduo pode estar sentindo e se comportar de
maneira totalmente diferente, pois o comportamento é mediado socialmente,
enquanto a emoção é mediada internamente, ou seja, pode ocorrer uma relação
com a cognição social.
Conclusão
As áreas que correspondem ao controle motor têm origem bem antiga, ou
seja, na biomecânica e na neuro siologia, porém a área de estudo do controle
motor humano é bem recente, datando de pouco mais de cem anos. O
comportamento motor evolui a partir de um complexo conjunto de processos
neurológicos e mecânicos, os quais determinam a natureza dos movimentos.
Alguns movimentos são geneticamente predeterminados e se tornam
aparentes por meio dos processos de crescimento e desenvolvimento normais.
Há os padrões re exos que predominam durante grande parte do início de
nossas vidas.
Referências
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Capítulo 7
Cérebro e Educação – Aspectos que
perpassam nas Teorias da Aprendizagem
“[...] o milagre do cérebro é que ele foi construído para uma aprendizagem
contínua”. (SPRENGER, 1999)
Aprendizagem e Desenvolvimento
A aprendizagem e a educação têm intima ligação com o desenvolvimento do
cérebro. Fischer e Rose (1998) a rmam que o cérebro é moldável aos estímulos
do ambiente. Como curiosidade, podem-se observar alguns dos 10
mandamentos de ensino do Pedagogo e Teólogo João Amós Comênius (1592-
1680), voltados para fundamentar um ensino e uma aprendizagem que fossem
mais fáceis:
behaviorista;
neobehaviorista;
cognitivista.
CATEGORIAS:
AUTORES RELEVANTES:
Conclusão
Atualmente compreender a Pedagogia mais neurocientí ca propiciada pelas
investigações e atividades colaborativas de educadores, pedagogos, biólogos,
fonoaudiólogos, médicos, psicólogos, torna-se cada vez mais relevante os
estudos sobre o cérebro, aprendizagem, educação e desenvolvimento.
Dessa maneira, o estudo da aprendizagem une educação com a
Neurociência. Precisa-se de mais pesquisas para facilitar a compreensão e a
construção de diálogos para uni-las às praticas educativas.
Referências
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REVISTA VEJA, ano 42, nº 41/09.
SPENCER, Marlee. Learning & memory: the brain in action. ASCD, 1999.
TREFIL, James. Somos diferentes? Ciência Atual. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Capítulo 8
Neurociência e Psicopedagogia: Um Diálogo
Possível!
Josele Teixeira
Autora do livro “Avaliação Escolar: da teoria à prática” (Wak). Graduada em Pedagogia (UERJ).
Psicopedagoga. Especialista em Administração e Supervisão Escolar (UCAM) e pós-graduanda em
Psicopedagogia (UCAM). Professora de Teoria da Aprendizagem e Didática da Universidade Santa
Úrsula. Professora do Instituto Ema e Beatriz Sanchez de Larraigoiti e ministra cursos de extensão na
UERJ. Tem experiência em pesquisa na área de Educação, com ênfase em Avaliação da Aprendizagem,
Fundamentos da Educação e História da Educação. Desenvolve também palestras e o cinas dentro destas
temáticas.
“O ser humano nos é revelado em sua complexidade: ser, ao mesmo tempo, totalmente biológico
e totalmente cultural. O cérebro, por meio do qual pensamos, a boca, pela qual falamos, a mão,
com a qual escrevemos, são órgãos totalmente biológicos e, ao mesmo tempo, totalmente
culturais. O que há de mais biológico – o sexo, o nascimento, a morte – é, também, o que há de
mais impregnado de cultura.”
Edgar Morin
Estabelecendo diálogos...
A Compreensão, tão bem enfatizada nos dias atuais de que o homem é um
ser biopsicossocial é sabiamente defendida nos cursos de formação de
professores, porém uma análise sólida, pautada nas grades curriculares das
graduações e pós-graduações na área da educação, se torna possível a a rmação
de que o discurso competente não se agrega à prática, na medida em que tais
currículos nos revelam a falta de disciplinas que contemplem re exões sobre os
fundamentos neuropsicopedagógicos da educação.
Escrita à mão
Escuta Visualização
A grande maioria das pessoas foi acostumada a pensar e agir de acordo com
o paradigma cartesiano, baseado no raciocínio lógico, linear, sequencial,
deixando de lado suas emoções, a intuição, a criatividade, a capacidade de
ousar soluções diferentes.
António Damásio, respeitado e premiado neurologista português, autor de
inúmeros trabalhos, publicou recente o livro O erro de Descartes, a rmando que
“o ponto de partida da ciência e da loso a deve ser anticartesiano: Existo (e sinto),
logo penso”.
A visão do homem como um todo é a chave para o desenvolvimento
integral do ser. Por isso, a preocupação em unir afetividade e cognição na
aprendizagem.
Utilizando mais o hemisfério esquerdo, considerado racional, deixa-se
usufruir os benefícios contidos no hemisfério direito, como a imaginação
criativa, a serenidade, visão global, capacidade de síntese e facilidade de
memorizar, dentre outros.
Assim torna-se uma condição sine qua non resgatar os postulados do
neurologista Damásio, na medida em que ele destaca a existência de uma forte
interação entre a razão e as emoções, defendendo a ideia de que os sentimentos
e as emoções é uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem
um elo essencial entre o corpo e a consciência.
Discorrendo deste entender, Damásio (1996) identi cou, no
acompanhamento de pacientes com lesões cerebrais – especialmente pré-
frontais –, características comuns. Dentre elas, uma signi cativa redução das
atividades emocionais. Isso o levou a estabelecer relações entre áreas cerebrais,
raciocínio e tomada de decisões e emoções.
Parece existir um conjunto de sistemas no cérebro humano consistentemente dedicados ao
processo de pensamento orientado para um determinado m, ao qual chamamos raciocínio, e à
seleção de uma resposta, a que chamamos tomada de decisão, com uma ênfase especial no
domínio pessoal e social. Esse mesmo conjunto de sistemas está também envolvido nas emoções e
nos sentimentos e dedica-se em parte ao processamento dos sinais do corpo. (DAMASIO, 1996, p
45)
Conclusão
Uma análise acerca dos cursos de Psicopedagogia, Pedagogia e Licenciatura
do Rio de Janeiro desenvolvida por Teixeira (2008) revela claramente que a
estrutura curricular destes têm sido marcadas por um excesso de matérias de
conhecimentos em Didática e Psicologia.
Neste sentido, o eixo central dos cursos de formação tem sido o
conhecimento a ser ensinado de maneira mecânica e igual a todos os alunos,
sem a devida atenção à individualidade, em uma demonstração de falta de
consciência da força que possuem os modelos mentais e da in uência que eles
exercem sobre o comportamento. Assim, a educação que deveria ser centrada
nos sujeitos aprendentes passa a protagonizar o professor.11
Decorrendo deste entender, a pesquisa realizada sobre algumas questões
necessárias ao conhecimento de todo educador revela claramente que a
“alfabetização” em Neurociência reveste-se de suma importância para o
cotidiano escolar, na medida em que, só a partir da compreensão do homem
como um ser biopsicossocial, tornará possível uma intervenção pedagógica
mais e caz, centrada no aluno. A nal, podem-se por meio do conhecimento de
novas descobertas da Neurociência, como algumas questões relevantes sobre a
imaginação, os sentidos, o humor, a emoção, o medo, o sono, a memória,
obter informações valiosas para o Universo Escolar.
Referências
ARANTES, V. Cognição, Afetividade e Moralidade. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.26, n.2, p.137-153,
jul./dez.2000.
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências Desvendando o Sistema Nervoso. 2
ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002.
DAMÁSIO, Antônio R. O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Companhia
das Letras, 1996.
___________. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad. Eloá Jacobina. 7
ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, 128 p.
RELVAS, M. Fundamentos biológicos da Educação: despertando Inteligências e Afetividade no processo de
aprendizagem. 3 ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008.
__________. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. Rio de
Janeiro: Wak Editora, 2009.
Termo proclamado pelo ex-presidente Bush, no Congresso dos Estados Unidos, no intuito de incentivar
cientistas a fazerem novas descobertas importantes nessa área. (Cf. Bea; Connnor; Paradiso, 2002, p. 20).
Fonte de consulta: http://www.ced.ufsc.br/yoga/hemisferios.html
Nesse contexto é mister repensarmos sobre a estrutura curricular das graduações em Pedagogia e
licenciaturas, na medida em que é preciso conhecer o padrão de pensamento pessoal, e saber como usá-lo
é o primeiro passo para ser um participante ativo no processo de aprender.
Capítulo 9
Neurociência e Criatividade
O que é CRIATIVIDADE?
Existe muito mais de 300 acepções diferentes para o termo
“CRIATIVIDADE”, além da utilização de signi cados similares, tais como:
originalidade, inovação, produtividade, pensamento criativo, pensamento
produtivo, pensamento divergente, inventividade, descoberta, inteligência,
entre outros.
Veja algumas de nições encontradas em dicionários:
Qualidade ou característica de quem ou do que é criativo. Inventividade, inteligência e talento,
natos ou adquirido, para criar, inventar, inovar, quer no campo artístico, quer no científico,
esportivo etc. (Dicionário Houaiss)
Qualidade de criativo, capacidade criadora. (Dicionário Aurélio)
Modo de dar vida, dar existência, tirar do nada, conceber, inventar, produzir, fazer algo que ainda
não existe. (Dicionário Petit Robert)
Tirar do nada, fazer, mudar, transformar, ajudar a crescer, educar, gerar, inventar, produzir, cultivar,
instituir, fundar. (Dicionário Escolar Silveira Bueno)
Qualidade ou estado de ser criativo, capacidade de criar. (Dicionário Michaelis)
Abordagens Filosóficas
Em uma visão antiga do velho mundo, é defendida a ideia de que a
criatividade é um “Presente de Deus”, “Dom Divino”, uma “Inspiração
Divina”, tudo o que não podia ser explicado e esclarecido pelos seres humanos,
atribuía-se aos Deuses.
Outra tendência encontrada, ainda na abordagem losó ca, associa a
criatividade a alguma forma de loucura, já que o indivíduo ao criar demonstra
ruptura com maneiras tradicionais de agir (com o convencional), destoa das
regras e do comportamento preestabelecido e esperado pelo grupo social em
que vive.
Em uma visão losó ca moderna, o artista passa a ser visto como um
“Gênio” (passa a ser admirado) e a criatividade como forma saudável e
altamente desenvolvida de intuição.
Abordagens Biológicas
A criatividade é vista como uma força criadora inerente à vida, já que a
mesma está em constante renovação e criação.
Em uma segunda visão, a criatividade sendo percebida como algo fora do
controle pessoal, tendo a hereditariedade como explicação para a transmissão
interna dos códigos genéticos capazes de determinar a criatividade em um
determinado ser humano, não deixando a possibilidade de ser educável ou
estimulada pelo ambiente.
Hoje em dia, ca fácil questionar tais a rmativas, já que se sabe que a
criatividade assim como todas as habilidades podem ser desenvolvidas e
estimuladas pelo meio.
Abordagens Psicológicas
> TEORIA ASSOCIACIONISTA OU ASSOCIATIVA – corpo e mente se
inter-relacionam, e a repetição é o princípio fundamental de toda associação.
O pensamento consiste em associar ideias, derivadas da experiência. Ideias
antigas associadas, combinadas com ideias novas na criação de algo original. Ao
adquirir conhecimentos, podem-se fazer associações, dissociações e
combinações entre eles.
> TEORIA COMPORTAMENTAL – explica a criatividade como sendo
uma relação basicamente de estímulo-resposta. Se o humano for estimulado a
ser criativos, responderá com comportamentos criativos.
> TEORIA GESTÁLTICA OU GESTALTISTA – o ato criativo é visto
como a procura de uma resposta para o fechamento de uma gestalt, de uma
forma incompleta ou de ciente.
O indivíduo criativo perceberia a situação problema como um todo e
tentaria achar a resposta adequada para fechar a gestalt e restaurar a harmonia
do todo. A resposta, produto e/ou solução para o fechamento da gestalt, surge
como um clique ou insight.
>TEORIA PSICANALÍTICA – os psicanalistas referiam-se ao processo
criativo como uma força emergente do inconsciente para a consciência.
Veem a criatividade como um meio de reduzir tensão, de aliviar certos
impulsos.
>TEORIA NEOPSICANALISTA – já os neopsicanalistas diziam que a
criatividade não teria como fonte o inconsciente e sim o pré-consciente, pois é
neste que existe maior facilidade e exibilidade para trabalhar com ideias.
>TEORIA DESENVOLVIMENTISTA – a criatividade não diminuiria
com a idade, mas sim seria integrada com a inteligência.
Em uma outra visão, a criatividade dependeria de amar e ser amado, ou seja,
a criatividade surgiria da inspiração de ser amado.
>TEORIA HUMANISTA – para os humanistas, a criatividade é vista como
um caminho para a autorrealização. Caminho que favorece a comunicação com
o mundo e permanece aberto a este.
A criatividade é comparada com saúde mental, ou como meio para tal, a
autorrealização seria conseguida por meio de um indivíduo criativo.
Abordagens Psicoeducacionais
>TEORIA COGNITIVISTA – o cognitivista Guilford (1967) propôs o
estudo da mente humana, de forma tridimensional. Ele compõe o mecanismo
do pensamento (estrutura do intelecto) da seguinte forma: Operações,
Conteúdo e Produto.
Abordagens Psicofisiológicas
A Psico siologia tem contribuído para os estudos e as pesquisas sobre os
hemisférios cerebrais e a criatividade. Um dos objetivos é localizar a origem do
pensamento criativo nos hemisférios cerebrais, para tal, se fez necessário
estudar as especi cidades de cada lado do cérebro.
Pode se perceber a importância do envolvimento dos dois hemisférios
cerebrais no pensamento criativo, no trabalho com a criatividade.
O hemisfério direito é o lado da criação, da uência e exibilidade, do
improviso, não tem lógica, elabora pensamentos por meio de imagens, se
arrisca para colocar em prática suas ideias.
O hemisfério esquerdo deve suceder a essa etapa, analisando, modi cando,
avaliando as soluções encontradas e organizando-as para a produção nal.
O hemisfério cerebral esquerdo e o hemisfério cerebral direito se
completam e se inter-relacionam. O funcionamento dos dois hemisférios deve
acontecer de forma equilibrada, pois a predominância de um dos dois poderá
prejudicar a produção criativa.
Muitos são os autores que colocam a emoção e o humor, que são
importantes para o trabalho com a criatividade, como tendo sua origem no
lado direito do cérebro. Vale ressaltar que a emoção e o humor, segundo Relvas
(2005, 2008, 2009), têm sua origem no sistema límbico (cérebro
intermediário).
Abordagens Sociológicas
A abordagem sociológica associa o produto criativo ao meio social em que o
indivíduo pertence. A sociedade estabelece o que é criativo e sua utilidade.
A sociedade tenta de nir as formas de se canalizar e de nir a criatividade, de
acordo com suas necessidades, costumes, valores.
Faz-se necessário lembrar que os grupos sociais sofrem modi cações e
in uências, ao longo do tempo, em seus valores, necessidade, ideais, costumes.
A época é um dos fatores que poderá determinar um produto criativo ou não.
Abordagens Psicodélicas
Procura-se enfatizar a expansão da consciência, com o objetivo de abrir
novas fontes de inspiração e criação.
Os processos de relaxamento e meditação são tidos como formas e cazes
para um afrouxamento das barreiras perceptivas.
Abordagem Instrumental
Criatividade como propósito. Nessa teoria, a criatividade é entendida por
meio de seu produto.
Para esta abordagem, a pessoa criativa é aquela que compra barato e vende
caro.
A Pessoa Criativa
Como identi car as pessoas criativas?
Neste item, serão mostrados os resultados de pesquisas onde identi cam
características que compõem a personalidade criativa e características do
comportamento criativo.
Ao ler as descrições apresentadas, poder-se-ão não só identi car as pessoas
criativas mas também aquelas que necessitam estimular e desenvolver esta
habilidade.
Características que Compõem a Personalidade Criativa
Wechsler, Maslow e Macknnon, Vidal, Morgan, Kneller (apud ROCHA,
2009) nos fornecem como resultado de suas pesquisas descrições dos traços de
personalidade que caracterizam uma pessoa criativa.
Referências
ALENCAR, E.M.L. Soriano de. Criatividade. Brasília: EUB, 1993.
BUENO, Silveira. Dicionário Escolar. 3 ed. São Paulo: Ediouro, 2004.
GARDNER, Howard. Arte, mente e cérebro. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
GUILFORD, J. P. e nature of human intelligence. Nova Iorque: Mac Graw hill, 1967.
HOLANDA, A. B. Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa. 1 ed., Editora Nova Fronteira, 1988.
AURÉLIO Eletrônico: http://www.aureliopositivo.com.br/aurelio/eletronicos/01.asp
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001.
KNELLER, George Frederick. Arte e Ciência da Criatividade. [Trad. de J. Reis]. 14 ed. São Paulo:
IBRASA, 1978.
MICHAELIS. Minidicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 2000.
Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa: http://www.uol.com.br/michaelis/
RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2005.
________________ Neurociência e Transtornos de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008.
________________ Neurociência e Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
ROBERT, Petit. Dicionário. Paris: Le Robert, 1994.
ROCHA, Dina Lúcia Chaves Rocha. Brincando com a Criatividade: Contribuições Teóricas e Práticas na
Arteterapia e na Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
TORRANCE, E. P. Rewarding creative behavior. New Jersey: Prentice Hall, 1965.
WECHSLER, Solange Muglia. Criatividade: Descobrindo e Encorajando. São Paulo: Livro Pleno, 1993 e
2002.
Capítulo 10
Neurociência e a Psicomotricidade
Fátima Alves
Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente – UNIPLI. Possui graduação em Fonoaudiologia
pelo IBMR – Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação – Faculdade de Ciências da Saúde e Sociais
(1982). Psicomotricista, titulada pela SBP. Sociopsicomotricista Ramain- iers. Professora de Pós-
Graduação e Graduação da Faculdade Integrada AVM/UCAM. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de
Psicomotricidade – SBP – gestão 2008/2010. Autora de livros. Ministrante de Cursos, minicursos,
workhops e palestras em eventos nacionais e internacionais em Educação, Inclusão e Psicomotricidade.
Conclusão
A Psicomotricidade, por meio de ações humanas, complementa e traz à tona
os estudos psicomotores, os enfoques motores, cognitivos e afetivos. É uma
ciência que estuda o homem em toda sua complexidade e se aprofunda nas
maiores essências de um corpo em movimento. Psicomotricidade, uma
expressão de atividades, gestos e atitudes realizados e representados a partir de
ações existentes em um mundo animado.
Referências
FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade: logênese, ontogênese e retrogênese. Artes Médicas: Porto Alegre,
1998.
FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade: Perspectivas Multidisciplinares. Artmed: Porto Alegre, 2004.
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais. Atheneu: São Paulo, 2002.
NORONHA, Fátima. Fonte: Webartigos.com | Textos e artigos gratuitos, conteúdo livre para
reprodução. Publicado 4/03/2008.
STERNBERG, R. J. & GRIGORENKO, E. L. Inteligência Plena: ensinando e incentivando a
aprendizagem e a realização dos alunos. Porto Alegre: Artmed, 2003.
Capítulo 11
Neuroplasticidade Cerebral e Aprendizagem
O impulso nervoso
A membrana plasmática do neurônio transporta alguns íons ativamente, do
líquido extracelular para o interior da bra, e outros, do interior, de volta ao
líquido extracelular. Assim funciona a bomba de sódio e potássio, que
bombeia ativamente o sódio para fora, enquanto o potássio é bombeado
ativamente para dentro. Porém, esse bombeamento não é equitativo: para cada
três íons de sódio bombeados para o líquido extracelular, apenas dois íons de
potássio são bombeados para o líquido intracelular.
Somando-se a esse fato, em repouso, a membrana da célula nervosa é
praticamente impermeável ao sódio, impedindo que esse íon se mova a favor
de seu gradiente de concentração (de fora para dentro); porém, é muito
permeável ao potássio, que, favorecido pelo gradiente de concentração e pela
permeabilidade da membrana, se difunde livremente para o meio extracelular.
Como a saída de sódio não é acompanhada pela entrada de potássio na
mesma proporção, estabelece-se uma diferença de cargas elétricas entre os
meios intracelular e extracelular: há de cit de cargas positivas dentro da célula,
e as faces da membrana mantêm-se eletricamente carregadas.
O potencial eletronegativo criado no interior da bra nervosa devido à
bomba de sódio e potássio é chamado potencial de repouso da membrana,
cando o exterior da membrana positivo e o interior negativo. Dizemos, então,
que a membrana está polarizada.
Ao ser estimulada, uma pequena região da membrana torna-se permeável ao
sódio (abertura dos canais de sódio). Como a concentração desse íon é maior
fora do que dentro da célula, o sódio atravessa a membrana no sentido do
interior da célula. A entrada de sódio é acompanhada pela pequena saída de
potássio. Esta inversão vai sendo transmitida ao longo do axônio, e todo esse
processo é denominado onda de despolarização. Os impulsos nervosos ou
potenciais de ação são causados pela despolarização da membrana além de um
limiar (nível crítico de despolarização que deve ser alcançado para disparar o
potencial de ação). Os potenciais de ação assemelham-se em tamanho e
duração e não diminuem à medida que são conduzidos ao longo do axônio, ou
seja, são de tamanho e duração xos. A aplicação de uma despolarização
crescente a um neurônio não tem qualquer efeito até que se cruze o limiar e,
então, surja o potencial de ação. Por esta razão, diz-se que os potenciais de ação
obedecem à “lei do tudo ou nada”.
Imediatamente após a onda de despolarização ter-se propagado ao longo da
bra nervosa, o interior da bra torna-se carregado positivamente, porque um
grande número de íons de sódio se difundiu para o interior. Essa positividade
determina a parada do uxo de íons de sódio para o interior da bra, fazendo
com que a membrana se torne novamente impermeável a esses íons. Por outro
lado, a membrana torna-se ainda mais permeável ao potássio, que migra para o
meio interno. Devido à alta concentração desse íon no interior, muitos íons se
difundem, então, para o lado de fora. Isso cria novamente eletronegatividade
no interior da membrana e positividade no exterior – processo chamado
repolarização, pelo qual se reestabelece a polaridade normal da membrana. A
repolarização normalmente se inicia no mesmo ponto onde se originou a
despolarização, propagando-se ao longo da bra. Após a repolarização, a
bomba de sódio bombeia novamente os íons de sódio para o exterior da
membrana, criando um de cit extra de cargas positivas no interior da
membrana, que se torna temporariamente mais negativo do que o normal. A
eletronegatividade excessiva no interior atrai íons de potássio de volta para o
interior (por difusão e por transporte ativo). Assim, o processo traz as
diferenças iônicas de volta aos seus níveis originais.
Para transferir informação de um ponto para outro no sistema nervoso, é
necessário que o potencial de ação, uma vez gerado, seja conduzido ao longo
do axônio. Um potencial de ação iniciado em uma extremidade de um axônio
apenas se propaga em uma direção, não retornando pelo caminho já
percorrido. Consequentemente, os potenciais de ação são unidirecionais – ao
que chamamos condução ortodrômica. Uma vez que a membrana axonal é
excitável ao longo de toda sua extensão, o potencial de ação se propagará sem
decaimento. A velocidade com a qual o potencial de ação se propaga ao longo
do axônio depende de quão longe a despolarização é projetada à frente do
potencial de ação, o que, por sua vez, depende de certas características físicas
do axônio: a velocidade de condução do potencial de ação aumenta com o
diâmetro axonal. Axônios com menor diâmetro necessitam de uma maior
despolarização para alcançar o limiar do potencial de ação. Nesses de axônios, a
presença de bainha de mielina acelera a velocidade da condução do impulso
nervoso. Nas regiões dos nódulos de Ranvier, a onda de despolarização “salta”
diretamente de um nódulo para outro, não acontecendo em toda a extensão da
região mielinizada (a mielina é isolante). Fala-se em condução saltatória e,
com isso, há um considerável aumento da velocidade do impulso nervoso.
O percurso do impulso nervoso no neurônio é sempre no sentido dendrito
– corpo celular – axônio.
Sinapses
Sinapse é um tipo de junção especializada em que um terminal
axonal faz contato com outro neurônio ou tipo celular. As sinapses
podem ser elétricas ou químicas (maioria).
Sinapses elétricas
As sinapses elétricas, mais simples e evolutivamente antigas, permitem a
transferência direta da corrente iônica de uma célula para outra. Ocorrem em
sítios especializados denominados junções gap ou junções comunicantes.
Nesses tipos de junções, as membranas pré-sinápticas (do axônio –
transmissoras do impulso nervoso) e pós-sinápticas (do dendrito ou corpo
celular – receptoras do impulso nervoso) estão separadas por apenas 3nm. Essa
estreita fenda é ainda atravessada por proteínas especiais denominadas
conexinas. Seis conexinas reunidas formam um canal denominado conexon, o
qual permite que íons passem diretamente do citoplasma de uma célula para o
de outra. A maioria das junções gap permite que a corrente iônica passe
adequadamente em ambos os sentidos, sendo, desta forma, bidirecionais.
Em invertebrados, as sinapses elétricas são comumente encontradas em
circuitos neuronais que medeiam respostas de fuga. Em mamíferos adultos,
esses tipos de sinapses são raras, ocorrendo frequentemente entre neurônios nos
estágios iniciais da embriogênese.
Sinapses químicas
Via de regra, a transmissão sináptica no sistema nervoso humano maduro é
química. As membranas pré e pós-sinápticas são separadas por uma fenda com
largura de 20 a 50nm – a fenda sináptica. A passagem do impulso nervoso
nessa região é feita, então, por substâncias químicas: os neuro-hormônios,
também chamados mediadores químicos ou neurotransmissores, liberados
na fenda sináptica. O terminal axonal típico contém dúzias de pequenas
vesículas membranosas esféricas que armazenam neurotransmissores – as
vesículas sinápticas. A membrana dendrítica relacionada com as sinapses (pós-
sináptica) apresenta moléculas de proteínas especializadas na detecção dos
neurotransmissores na fenda sináptica – os receptores. Por isso, a transmissão
do impulso nervoso ocorre sempre do axônio de um neurônio para o dendrito
ou corpo celular do neurônio seguinte. Podemos dizer então que, nas sinapses
químicas, a informação que viaja na forma de impulsos elétricos ao longo de
um axônio é convertida, no terminal axonal, em um sinal químico que
atravessa a fenda sináptica. Na membrana pós-sináptica, este sinal químico é
convertido novamente em sinal elétrico.
Neurotransmissores
A maioria dos neurotransmissores situa-se em três categorias: aminoácidos,
aminas e peptídeos. Os neurotransmissores aminoácidos e aminas são pequenas
moléculas orgânicas com pelo menos um átomo de nitrogênio, armazenadas e
liberadas em vesículas sinápticas. Sua síntese ocorre no terminal axonal a partir
de precursores metabólicos ali presentes. As enzimas envolvidas na síntese de
tais neurotransmissores são produzidas no soma (corpo celular do neurônio) e
transportadas até o terminal axonal e, neste local, rapidamente dirigem a
síntese desses mediadores químicos. Uma vez sintetizados, os
neurotransmissores aminoácidos e aminas são levados para as vesículas
sinápticas que liberam seus conteúdos por exocitose. Nesse processo, a
membrana da vesícula funde-se com a membrana pré-sináptica, permitindo
que os conteúdos sejam liberados. A membrana vesicular é posteriormente
recuperada por endocitose, e a vesícula reciclada é recarregada com
neurotransmissores.
Os neurotransmissores peptídeos constituem-se de grandes moléculas
armazenadas e liberadas em grânulos secretores. A síntese dos
neurotransmissores peptídicos ocorre no retículo endoplasmático rugoso do
soma. Após serem sintetizados, são clivados no complexo de golgi,
transformando-se em neurotransmissores ativos, que são secretados em
grânulos secretores e transportados ao terminal axonal (transporte anterógrado)
para serem liberados na fenda sináptica.
A seguir, são citadas as funções especí cas de alguns neurotransmissores:
- Endor nas e Encefalinas: bloqueiam a dor, agindo naturalmente no
corpo como analgésicos. Essas substâncias são opiáceos que, como as drogas
heroína e mor na, modulam a dor, reduzem o estresse etc. Elas podem estar
envolvidas nos mecanismos de dependência física.
- Dopamina: neurotransmissor inibitório derivado da tirosina. Produz
sensações de satisfação e prazer. Os neurônios dopaminérgicos podem ser
divididos em três subgrupos com diferentes funções. O primeiro grupo regula
os movimentos: uma de ciência de dopamina neste sistema provoca a doença
de Parkinson, caracterizada por tremuras, in exibilidade e outras desordens
motoras e, em fases avançadas, pode veri car-se demência. O segundo grupo, o
mesolímbico, funciona na regulação do comportamento emocional. O terceiro
grupo, o mesocortical, projeta-se apenas para o córtex pré-frontal. Esta área do
córtex está envolvida em várias funções cognitivas, memória, planejamento de
comportamento e pensamento abstrato, assim como em aspectos emocionais,
especialmente relacionados com o estresse. Distúrbios nos dois últimos
sistemas estão associados com a esquizofrenia. Quando os níveis estão
extremamente baixos na doença de Parkinson, os pacientes são incapazes de se
mover voluntariamente. Presume-se que o LSD e outras drogas alucinógenas
ajam no sistema da dopamina.
- Serotonina: neurotransmissor derivado do triptofano, regula o humor, o
sono, a atividade sexual, o apetite, o ritmo circadiano, as funções
neuroendócrinas, temperatura corporal, sensibilidade à dor, atividade motora e
funções cognitivas. Atualmente vem sendo intimamente relacionada aos
transtornos do humor, ou transtornos afetivos, e a maioria dos medicamentos
chamados antidepressivos agem produzindo um aumento da disponibilidade
dessa substância no espaço entre um neurônio e outro. Tem efeito inibidor da
conduta e modulador geral da atividade psíquica. In ui sobre quase todas as
funções cerebrais, inibindo-a de forma direta ou estimulando o sistema GABA,
e assim tornou-se conhecido como o neurotransmissor do “bem-estar”. Ela tem
um profundo efeito no humor, na ansiedade e na agressão.
- GABA (ácido gama-aminobutirico): principal neurotransmissor inibitório
do SNC. Ele está presente em quase todas as regiões do cérebro, embora sua
concentração varie conforme a região. Está envolvido com os processos de
ansiedade. Seu efeito ansiolítico seria fruto de alterações provocadas em
diversas estruturas do sistema límbico, inclusive a amígdala e o hipocampo. A
inibição da síntese do GABA ou o bloqueio de seus neurotransmissores no
SNC resulta em estimulação intensa, manifestada por meio de convulsões
generalizadas.
- Acetilcolina (ACh): controla a atividade de áreas cerebrais relacionadas à
atenção, à aprendizagem e à memória. Pessoas que sofrem da doença de
Alzheimer apresentam tipicamente baixos níveis de ACTH no córtex cerebral,
e as drogas que aumentam sua ação podem melhorar a memória em tais
pacientes.
- Noradrenalina: substância química que induz a excitação física e mental e
o bom humor. A produção é centrada na área do cérebro chamada de locus
coreuleus, que é um dos muitos candidatos ao chamado centro de “prazer” do
cérebro. A Medicina comprovou que a norepinefrina é uma mediadora dos
batimentos cardíacos, pressão sanguínea, a taxa de conversão de glicogênio
(glucose) para energia, assim como outros benefícios físicos.
- Ácido glutâmico ou glutamato: principal neurotransmissor estimulador
do SNC. A sua ativação aumenta a sensibilidade aos estímulos dos outros
neurotransmissores. Vital para estabelecer os vínculos entre os neurônios que
são a base da aprendizagem e da memória a longo prazo.
Células da Glia (neuróglia)
As células da neuróglia cumprem a função de sustentar, proteger, isolar e
nutrir os neurônios. Há diversos tipos celulares, distintos quanto à morfologia,
à origem embrionária e às funções que exercem. Distinguem-se, entre elas, os
astrócitos, os oligodendrocitos e a micróglia. Têm formas estreladas e
prolongações que envolvem as diferentes estruturas do tecido.
Os astrócitos são as maiores células da neuróglia e estão associados à
sustentação e à nutrição dos neurônios. Preenchem os espaços entre os
neurônios, regulam a concentração de diversas substâncias com potencial para
interferir nas funções neuronais normais (como, por exemplo, as concentrações
extracelulares de potássio), regulam os neurotransmissores (restringem a
difusão de neurotransmissores liberados e possuem proteínas especiais em suas
membranas que removem os neurotransmissores da fenda sináptica). Estudos
recentes também sugerem que podem ativar a maturação e a proliferação de
células-tronco nervosas adultas e, ainda, que fatores de crescimento produzidos
pelos astrócitos podem ser críticos na regeneração dos tecidos cerebrais ou
espinhais dani cados por traumas ou enfermidades.
Os oligodendrócitos são encontrados apenas no sistema nervoso central
(SNC). Devem exercer papéis importantes na manutenção dos neurônios, uma
vez que, sem eles, os neurônios não sobrevivem em meio de cultura. No SNC,
são as células responsáveis pela formação da bainha de mielina. Um único
oligodendrócito contribui para a formação de mielina de vários neurônios (no
sistema nervoso periférico, cada célula de Schwann mieliniza apenas um único
axônio)
A micróglia é constituída por células fagocitárias, análogas aos macrófagos e
que participam da defesa do sistema nervoso.
CONCLUSÃO
É lícito acreditar que um cérebro ativo e estimulado por diferentes desa os
se revele mais perspicaz, mais hábil e naturalmente mais capaz de responder às
solicitações do pensamento. Na exigente sociedade de hoje, só as pessoas que
invistem seriamente no capital intelectual de que dispõem (inteligência,
criatividade e conhecimento) poderão aspirar a lugares destacados no mundo
do trabalho. Aprender mais e mais e durante toda a vida tornou-se em uma
exigência da Era do Conhecimento. Para tal, tem de estar na melhor forma
mental. A “potência cerebral ótima” pode ser atingida por meio de um estilo de
vida sadio, uma alimentação equilibrada e ginástica cerebral adequada.
Outrossim, saber que os neurônios são capazes de migrar para áreas
cerebrais “vazias” e que continuam nascendo todos os dias sob a in uência de
fatores de crescimento, medicamentos, atividade física e desa os intelectuais é
alentador para os que temem a perda do domínio das faculdades mentais no
m da vida. “A velhice ridícula é, porventura, a mais triste e derradeira surpresa
da natureza humana”. (Machado de Assis)
Diante dos argumentos, entende-se que a mente é interativa, funciona em
rede pela conectividade, ampliando as capacidades cerebrais e buscando a
uni cação perceptual. Em suma, o pensamento é a interiorização evolutiva do
movimento e acontece pela capacidade de predição do cérebro, sendo
necessário para a permanência da espécie na Terra.
A Plasticidade cerebral e suas implicações é uma característica importante
do cérebro. Educadores, políticas de mercado e todos os estudantes devem ter
uma compreensão do porque é possível aprender ao longo da vida. De fato, a
plasticidade cerebral constitui um forte argumento neurocientí co sobre a
aprendizagem durante “toda a existência humana”.
E a escola sempre será um bom lugar para começar a ensinar como e por
que eles (os estudantes) são capazes de aprender.
Referências
CUNNINGHAM, James G. Tratado de Fisiologia Veterinária. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan,
2004.
GUYTON, Arthur C. Fisiologia Humana. Rio de Janeiro: ed. Guanabara Koogan, 1988.
INÁCIO, Sandra Regina da Luz. A Importância da Neurociência na Aprendizagem e Educação. Disponível
em: <http://www.soartigos.com/articles/1186/1/A-Importancia-da-Neurociencia-na-Aprendizagem-e-
Educacao/Page1.html> Acesso em: 20 de outubro de 2009.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
_________________. Neurociência e transtornos de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008.
_________________. Fundamentos Biológicos da Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2007.
VILELA, Ana Luísa Miranda. Sistema Nervoso. Disponível em:
<http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso1.asp> Acesso em: 20 de outubro de 2009.
Capítulo 12
Nutrição na formação do Sistema Nervoso
Nutriente Alimento
Ácidos
Graxos
Essenciais:
ɷ-3 Nozes, linhaça, canola, peixes gordos (atum, sardinha e salmão) e óleo de peixe
Proteína de
alto valor Fontes de proteína de origem animal (ovos, leite, carne vermelha, peixe e aves)
biológico
Frutas, legumes, cereais, leguminosas, frutos secos, frutos do mar, carnes, chá
Zinco
verde.
Selênio Castanha do Pará, camarão, caranguejo, salmão, arroz integral, frango, carne suína
e bovina, farinha de trigo integral, leite.
Cacau em pó, farinha de soja, açúcar mascavo, lentilha, chocolate, amendoim
Cobre
torrado, aveia, amêndoa, brócolis, castanha do Pará, ovo de galinha.
Vitaminas do Banana, carnes, os miúdos como fígado ou rim, vegetais verdes folhosos, cereais e
complexo B os ovos.
Leite, óleo de fígado de peixe, peixes gordurosos (salmão, bagre, sardinha, atum,
Vitamina D
cavalinha), cogumelos e ovos.
CONCLUSÃO
O estado nutricional é um fator determinante para o desenvolvimento e
funcionamento dos sistemas orgânicos, principalmente para o sistema nervoso.
Indivíduos acometidos por carências nutricionais, possivelmente apresentarão
di culdade de aprendizagem, entre outros distúrbios, uma vez que a
desnutrição ou a subnutrição ao afetar o desenvolvimento cerebral pode
comprometer o desenvolvimento do organismo em sua totalidade. Desta
forma, uma dieta que siga as leis da nutrição, harmonia, qualidade, quantidade
e adequação devem estar presentes em todas as fases da vida.
Referências
FERNANDES, A. NUTRIÇÃO E DESENVOLVIMENTO. Nutrição Pediátrica: Princípios Básicos.
Lisboa, ACSM, 2005.
MAFRA, D.; COZZOLINO, S. M. F. Importância do zinco na nutrição humana. Rev. Nutr., Campinas,
17(1):79-87, jan./mar., 2004.
MAHAN, LK; ESCOTT-STUMP, S. Krause: alimentos, nutrição & dietoterapia. 11 ed. São Paulo: Roca,
2005. 1242p.
MAIA, L. M. S. S.; SANTOS, Â. A. Alimentos e suas ações em sistemas siológicos. VEREDAS FAVIP,
Caruaru, Vol. 2, nº 2, jul./dez. 2005 — Vol. 3, nºs. 1 e 2, p. 24–34, jan./dez. 2006
MARTIN C. A.; ALMEIDA V. V.; RUIZ M. R.; VISENTAINER J. E.L.; MATSHUSHITA M.;
SOUZA N. E.; VISENTAINER J. V. Ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e ômega-6: importância e
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde da criança: Nutrição Infantil Aleitamento Materno e Alimentação
Complementar Caderno de Atenção Básica, nº 23 Brasília – DF, 2009
PACHECO S.S.; BRAGA C.; SOUZA A.I.; FIGUEIROA J. N. Efeito da forti cação alimentar com
ácido fólico na prevalência de defeitos do tubo neural. Rev Saúde Pública 2009; 43(4):565-71
PACHECO, S. S.; SOUZA, A. I.; VIDAL, S. A.; GUERRA, G. V. Q. L.; FILHO, M. B.; BAPTISTA,
E. V. P.; MELO, M. I. B. Prevalência dos defeitos de fechamento do tubo neural em recém-nascidos do
Centro de Atenção à Mulher do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, IMIP: 2000-2004.
Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 6 (Supl 1): S35-S42, maio, 2006
Capítulo 13
Devir Cérebro – Um Universo extremamente
desafiador
Para Heráclito, tudo o que existe é conduzido pelo uxo do devir, nada é, tudo ui,
o devir universal é a lei do universo.
Continuando a refletir...
Qual será a função da Educação na atualidade? E a formação do Corpo?
Onde encontrar um meio interativo e salutar por excelência? Conclui-se,
portanto, a rmando que o mal-estar é inevitável. Com isso, observa-se que se
corre o risco de cometer suicídios permanentes e sucessivos, buscando soluções
mágicas para a insistente vontade de dar, olhar, amar, viver... Estes múltiplos
mistérios que o discurso, as imagens e o outro encobrem e seduzem. Insistir
com isso na necessidade de tentar romper, de nitivamente, com o vício e a
impregnação de atitudes apenas cerebrais em detrimento de uma sensorialidade
provocadora de intensidades.
Reverter as origens da necessidade hermenêutica, que valoriza a Consciência
em detrimento do Pensamento que se avalia como algo capaz de ultrapassá-la
rompendo com o idealismo; sufoco, cansaço deste retrato de um cérebro
esquizofrênico e petri cado em suas conexões, que convoca a permanente e
covarde farsa afetiva, dor curtida e disfarçadamente tratada, tornando o
indivíduo orgulhoso de seus sintomas, imagens repetitivas e mórbidas, corpo
sem vida, pensamento sem memória.
Conclusão
A Pedagogia precisa permitir o devir ao cérebro, vitalizar, produzir um
diálogo em louvor ao novo, uma tentativa, um anseio pelo que representa
ensinar e aprender, caminho incansável, compromisso ético com o maior
patrimônio no qual a educação precisa impreterivelmente lutar: A Liberdade.
Para Heráclito, tudo o que existe é conduzido pelo uxo do devir, nada é,
tudo ui, o devir universal é a lei do universo.
Referências
BÉRGSON, Henri. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
_____________. Matéria e Memória. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 1999.
ESCOBAR, Carlos Henrique. Zaratustra. O corpo e os povos da tragédia. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.
JAPIASSU,Hilton & MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filoso a. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1993.
Posfácio
EM BUSCA DA TRANSFORMAÇÃO
A Filoso a Pode Mudar Sua Vida
Waldir Pedro
ISBN: 978-85-88081-82-6
NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO
potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula
Marta Pires Relvas
ISBN: 978-85-88081-82-6