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Agosto-Setembro 2012 Escola Bíblica de Adultos Wesley R.

Silva 8
Mente e Intelecto na Vida Cristã

Aula 3. O encorajamento bíblico a uma vida intelectual

3.1 Duas histórias e duas perspectivas diferentes sobre o papel da mente na vida cristã
- Um professor universitário com uma mente brilhante que havia sido desapontado pelos pastores e anciãos de
sua igreja durante a sua adolescência. Suas dúvidas genuínas de natureza intelectual não foram respondidas
com a desculpa de que a fé não requer desenvolvimento intelectual e que seu problema era espiritual e não
intelectual. Este professor mais tarde tornou-se um cético radical e crítico do cristianismo, influenciando
muitos com suas idéias e afastando pessoas de Deus.

- Agostinho (354-430 AD), antes da sua conversão, pertencia a uma seita chamada maniqueísmo. Com uma
mente brilhante, Agostinho tinha dúvidas intelectuais sobre o maniqueísmo, mas nenhum de seus
companheiros de culto conseguia responder suas questões. Finalmente Agostinho encontrou-se com um dos
líderes da seita (Fausto), mas ficou desapontado ao descobrir que Fausto utilizava suas habilidades retóricas
e eloqüência para persuadir as pessoas ao maniqueísmo, mas suas respostas eram superficiais e muito pouco
razoáveis. Agostinho abandonou o maniqueísmo e depois de alguns anos conheceu dois líderes cristãos,
Ambrósio e Ponciano, que inteligentemente discutiram com ele vários assuntos relacionados à fé cristã. Isto
influenciou profundamente Agostinho e contribuiu para a sua conversão.

- Qual a diferença entre as duas histórias? Ambrósio e Ponciano demonstraram uma perspectiva mais bíblica
do papel da mente na vida e ministério cristãos, do que os líderes da igreja daquele professor universitário.
Nós também precisamos ter um entendimento bíblico bem acurado sobre o que nós somos em Deus.

- A importância da razão e de uma vida intelectualmente frutífera são claramente ensinadas na Bíblia.
Desenvolver uma mente cristã é parte essencial do discipulado em Cristo.

3.2 A natureza racional de Deus


- O nosso Deus é um Deus de revelação, mas também de razão. Um de seus atributos é a onisciência: Ele é
perfeito em conhecimento (Jó 37:16; I Jo 3:20b). O Filho de Deus encarnou-se como o logos (Jo 1:1-12), o
que representa e enfatiza este aspecto onisciente e racional do caráter de Deus, ou seja, a razão ou sabedoria
divina que é tornada manifesta e compreensível no Deus-homem Jesus Cristo.

- Há vários argumentos bíblicos que demonstram a harmonia entre a natureza de Deus e a razão:
a) Ele é o único Deus sábio (Rm 16:27).
b) Ele é o Deus da verdade que não pode mentir (Tt 1:2).
c) Ele é completamente confiável (Rm 3:4; Hb 6:16-18).
d) Sua Palavra é a verdade (Jo 17:17).
e) Sua igreja é a coluna e fundamento da verdade (I Tm 3:15).
f) Ele convida suas criaturas a vir e raciocinar juntos (Is 1:18).
g) Ele incentiva suas criaturas a apresentar casos bem fundamentados contra suas ações aos quais Ele
responderá (Jr 12:1, 20:12).
h) Ele requer que sua Palavra seja ensinada por mestres que diligentemente a estudem e a examinem
acuradamente (II Tm 2:15; I Tm 4:15-16).
i) Ele requer que seus mensageiros dêem justificativas racionais quando questionados sobre a razão
da sua fé (I Pe 3:15).
j) A apresentação do Evangelho deve ser feita com palavras que expressam verdade e racionalidade
(At 26:24-25).

- Um grande contraste com os deuses de outras religiões: são tão transcendentes que seus caminhos são
inescrutáveis (Islã); são tão finitos e demonstram toda a fraqueza da natureza humana (mitologia grega e
outras religiões politeístas); exigem que seus seguidores abandonem a razão, escapem das leis da lógica e
entrem num nirvana (religiões animistas).

- Ao contrário, o cristianismo foi o responsável pela fundação das primeiras universidades. A ciência, tal como
a conhecemos hoje, teve seu berço na Europa cristã por causa da crença de que o mesmo Deus racional que
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criou a mente humana também criou o mundo, de modo que a mente era uma ferramenta adequada para
discernir a estrutura racional do mundo criado por Deus.

- Deus não faz acepção de pessoas (At 10:34-35) e por isso não ama mais um intelectual do que uma pessoa
comum, mas isso não faz da ignorância uma virtude cristã, se essas virtudes de fato espelham a perfeição do
caráter de Deus.

3.3 A Bíblia, como revelação de Deus, aponta para o desenvolvimento de uma mente cristã

- A revelação de Deus através da sua palavra é plenamente verdadeira. Os termos bíblicos usados para
“revelação”, tanto no hebraico quanto no grego, expressam a idéia de revelar, descortinar, tornar manifesto
ou conhecido. Deus não somente se revelou como pessoa através da sua Palavra, mas também revelou
proposições verdadeiras, compreensíveis e objetivas, que requerem apreensão intelectual para serem
entendidas e aplicadas.

3.4 O papel do Espírito Santo no entendimento da Palavra

- Apesar da Bíblia conter vários textos de fácil compreensão e aplicação direta, vários outros são difíceis e
intelectualmente desafiadores, os quais podem ser não-compreendidos e mal-compreendidos por pessoas sem
instrução teológica, causando problemas na comunidade cristã (II Pe 3:16).

- Alguns acham que trabalho intelectual duro não é necessário para entender todas as proposições da revelação
de Deus a nós. Basta pedir ao Espírito Santo que Ele nos ajuda no entendimento de qualquer texto. Esta
atitude representa um mal-entendimento do papel do Espírito na compreensão do texto bíblico. Há três textos
bíblicos que geralmente são mal-interpretados com relação à ajuda do Espírito no entendimento da Palavra.

- I Co 2:14-15. O contexto é a desunião da igreja de Corinto e a maneira como Paulo aborda a questão.
Existem três palavras chaves para a compreensão do texto:
a) “Aceita” (dechomai), significa receber e, às vezes, receber de bom grado (q.v. II Co 8:17). O
incrédulo não aceita, recebe ou entende de bom grado as coisas do Espírito. Que coisas são estas?
O contexto indica que Paulo tem em mente a própria Escritura. Ao defender a sua autoridade
apostólica diante da igreja, Paulo diz que sua mensagem não é humana, mas provem de Deus e é
esta mensagem que o incrédulo não aceita voluntariamente.
b) “Entende” (ginosko), significa discernir como verdadeiro e bom, ou conhecer experimentalmente.
Não significa simplesmente apreender alguma coisa cognitivamente, mas ter a familiaridade
necessária para entender alguma coisa.
c) “Discernem” (anakrino), que é mesmo discernir ou “coar” espiritualmente alguma coisa. É o
mesmo termo usado em relação aos bereianos (At 17:11), quando conferiam se a compreensão que
Paulo tinha do VT era boa e aceitável.

- Jo 14:26. Este texto não afirma que o ES ensinará o significado do texto aos crentes em geral, mas que Ele
inspirará e ajudará os apóstolos a se lembrarem das palavras de Jesus. Vários outros textos nesse contexto
deixam claro que Jesus estava se dirigindo especificamente aos seus discípulos e não a todos os crentes (Jo
14:1, 25, 28-29; 16:16; 17:12-14, 26).

- I Jo 2:27. Alguns interpretam este texto como que o Espírito ensina o crente as verdades da Escritura, sem a
necessidade de um mestre para o entendimento da Bíblia. Porém, é claro em todo o NT que Deus presenteou
a igreja com mestres e doutores que devem trabalhar diligentemente no ensino (Ef 4:11, Rm 12:7). O
contexto é o de alerta contra os gnósticos, que reivindicavam possuírem uma unção ou iluminação especial e
secreta para interpretarem a Palavra. João está dizendo aos crentes que eles já foram batizados no corpo de
Cristo pelo Espírito, e que, portanto, não precisam de uma unção adicional para possuir um conhecimento
especial e secreto da palavra.

- A ênfase do papel do Espírito Santo no entendimento da Palavra pode se vista como um atalho fácil para
substituir uma vida de estudo árduo e leitura profunda de boa literatura teológica. Somada à preguiça
intelectual, esta atitude tem produzido cristãos quase analfabetos em relação ao conteúdo da sua fé e com um
profundo sentimento de inadequação em relação a ela.
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3.5 Os textos bíblicos mais importantes no desenvolvimento da mente cristã


3.5.1 Romanos 12:1-2
- Ninguém pode “experimentar” o que a vontade de Deus é sem a renovação ou transformação da mente.
Mente (nous) significa o intelecto, a razão, a faculdade do entendimento. Para não se conformar ao mundo é
preciso desenvolver uma nova perspectiva de pensar, adquirindo novas percepções sobre nossas vidas e o
mundo ao nosso redor, ajuntando conhecimento e a habilidade necessária para fazer o que precisa ser feito e
como fazê-lo. Verdade, conhecimento e estudo são fatores poderosos na transformação da mente e no
controle do corpo e seus hábitos para uma vida plena na realidade do Reino de Deus.
3.5.2 Mateus 22:37-39
- Deus é digno de ser amado com cada faceta da personalidade humana, e não somente com um ou dois
aspectos na nossa natureza. Jesus demonstrou o que significa amar a Deus com a mente no contexto
precedente desta passagem. Em Mt 22:23-33 um grupo de saduceus (que não criam na ressurreição do corpo)
tentou pegar Jesus em uma armadilha intelectual sobre a estória de uma mulher que havia sido casada
consecutivamente com sete irmãos. A quem ela pertenceria na ressurreição? As opções de Jesus eram
possivelmente as seguintes:
a) negar a ressurreição;
b) aceitar a poligamia e o adultério, reconhecendo o seu casamento com os sete irmãos no céu;
c) injustamente ou arbitrariamente restringir seu casamento a um dos irmãos somente.

- A resposta de Jesus à pergunta dos saduceus revela uma mente extremamente brilhante e inteligente.
Primeiro Ele aborda a questão mais superficial, negando a validade do argumento dos saduceus: não há
casamento no céu. Depois Ele aborda a questão mais profunda, sobre a ressurreição, citando um texto bíblico
aparentemente não-relacionado ao assunto (Ex 3:6), ao invés de um texto mais explícito, como, por exemplo,
Daniel 12:2. Mas Jesus sabia que os saduceus não aceitavam plenamente a autoridade dos profetas, incluindo
Daniel. Por outro lado, o texto citado era um dos versos-chaves da teologia dos saduceus. Jesus explorou o
tempo verbal deste verso: Deus não era, mas é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, uma declaração que só
poderia ser verdadeira se os patriarcas ainda existissem.

- A estratégia de Jesus foi clara:


a) Ele tinha familiaridade com o ponto de vista de seus oponentes.
b) Ele apelou para o senso comum, usando um texto não-controverso de ampla aceitação, ao invés de
um texto que Ele aceitava, mas não os saduceus.
c) Ele usou as leis da lógica para desmascarar o argumento dos saduceus e rejeita-lo
incontestavelmente.

3.5.3 I Pedro 3:15


- Este texto fala da necessidade de termos respostas às pessoas que questionam a razão da nossa esperança em
Cristo. Há duas palavras-chaves aqui: responder (apologia) e razão (logos).

- Apologia significa defender alguma coisa, como por exemplo, apresentar argumentos positivos a favor e
responder aos argumentos negativos contra uma determinada posição num tribunal. Esta era a maneira como
o apóstolo Paulo evangelizava (At 14:15-17; 17:2-4, 17:31; 18:4; 19:8), persuadindo as pessoas a virem a
Cristo apresentando argumentos racionais em prol da verdade do evangelho, algumas vezes até mesmo
citando filósofos pagãos (At 17:28) como parte da sua apologia do evangelho.

- Logos significa uma evidência ou argumento que provê uma justificativa racional para uma convicção.
Convicção e conhecimento nem sempre andam juntos. Pode haver convicções que não se apóiam na verdade.
Neste texto Pedro ordena que estejamos preparados para apresentar argumentos racionais e boas razões que
justifiquem a nossa fé e esperança em Cristo. Não devemos confundir “racional” com “não-espiritual”,
achando que o uso da razão é evidência de sabedoria humana. Deus exige um culto racional (Rm 12:1).

- Qual tem sido nossa reação quando surge uma oportunidade de defender a fé cristã numa conversa cotidiana
ou numa discussão de alto nível? Sentimo-nos despreparados, superficiais, reacionários, na defensiva?
Temos de obedecer a ordem de Pedro: santificar a Cristo como o Senhor de nossas vidas e estar preparados,
através de esforço intelectual diligente, sobre os assuntos que nos tornam confiantes e corajosos na defesa do
evangelho.
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- Embora Pedro tenha sido classificado como iletrado e inculto em Atos 4:13, no início do seu ministério, suas
epístolas demonstram uma dedicação intelectual e de coração ao Senhor Jesus. Mesmo que Silvano o tenha
ajudado nesta tarefa (I Pe 5:12), seu domínio da gramática e lingüística grega deveriam estar acima da média
para um homem com a sua origem humilde. Além disso, o cuidado e precisão do seu argumento revelam
uma mente intelectualmente bem treinada.

3.6 Como o conhecimento extra-bíblico pode ajudar no desenvolvimento de uma mente cristã
- O cultivo cuidadoso das faculdades mentais é um componente essencial na jornada para a maturidade cristã.
O crescimento espiritual é muito mais do que amar a Deus com a mente, mas inclui, no mínimo, nossa
devoção intelectual a Ele.

- Conforme crescemos em nosso amor a Deus e no desejo de ser como Ele, devemos aspirar ser o mais bem
informados e cheios de conhecimento quanto possível, uma vez que nosso desenvolvimento intelectual
precisa ser equilibrado com nossa devoção, para podermos crescer também em outros aspectos da nossa
personalidade.

3.6.1 A Bíblia valoriza algum tipo de conhecimento humano para uma vida de sabedoria.
- O temor do Senhor é o princípio da sabedoria ou do conhecimento (Pv 1:7), mas “temor” somente não traz
sabedoria. Sabedoria é alcançada quando um coração temente a Deus é unido a uma mente disciplinada.
Conhecimento é fruto de estudo e é necessário para se ter sabedoria.

- A Bíblia é o objeto central de estudo para se amar a Deus com a mente, mas não é o único objeto de estudo.
Deus tem se revelado a si mesmo e comunicado várias verdades ao homem através de outros meios que não a
Bíblia.

- Existem vários textos bíblicos indicando que sabedoria e conhecimento podem ser encontrados também em
alguns aspectos da cultura humana e do mundo natural:

a) A Bíblia reconhece a existência de sabedoria em culturas fora de Israel: Egito (I Rs 4:30), Edom (Jr
49:7), Fenícia (Zc 9:2).
b) A Bíblia reconhece que a sabedoria humana é capaz de obras admiráveis (Jó 28:1-11).
c) A sabedoria de Salomão é comparada a homens do oriente e aos egípcios, demonstrando que ele
era mais sábio que pessoas que tinham uma longa e merecida reputação de sabedoria (I Rs 4:29-
34).
d) O apóstolo Paulo cita filósofos pagãos na pregação do evangelho (At 17:28).
e) O livro de Provérbios é repleto de exemplos em que o conhecimento espiritual pode ser adquirido a
partir da observação cuidadosa do mundo natural (Pv 6:6-8).
f) O ensino de Jesus também é repleto de situações em que o mundo natural é usado como inspiração
para o entendimento de verdades espirituais (Mt 6:26-30).

- Através da história, muitos cristãos têm aprendido que o senso comum, a lógica, a matemática, a ciência, as
artes e certas áreas das humanidades, são áreas de estudo que contém verdades relevantes à vida em geral e
ao desenvolvimento de uma visão cristã do mundo.

- John Wesley (1756), falando a um grupo de ministros sobre como desenvolver um ministério frutífero,
exortou-os a se dedicarem não somente ao estudo da Palavra, mas também da lógica, metafísica, teologia
natural, geometria, filosofia, literatura etc. Para ele, o estudo dessas disciplinas (especialmente filosofia e
geometria) ajudava a treinar a mente a pensar com precisão, um hábito de incrível valor para formar uma
mente cristã com relação a vários temas teológicos e para o entendimento das Escrituras.

3.6.2 A Bíblia valoriza a lei moral natural.


- A Bíblia repetidamente reconhece a existência de uma lei moral natural, que consiste em princípios morais
que Deus estabeleceu para o relacionamento entre os homens em geral, e que podem ser conhecidos
independentemente da revelação bíblica (Rm 1 e 2).
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- Como cristãos não precisamos ficar embaraçados em defender certas posições éticas sobre temas não
explicitamente tratados na Bíblia (e.g. aborto), pois a lei moral que Deus colocou no coração de cada ser
humano deveria ser suficiente para distinguir o certo do errado em muitas questões políticas, sociais,
econômicas e ambientais.

- O profeta Amós apela para os princípios auto-evidentes da lei moral para denunciar o comportamento
reprovável de várias nações vizinhas de Israel, que não conheciam as Escrituras (Am 1:3-2:3). Mas para os
judeus, pela primeira vez ele apela para as Escrituras (Am 2:4).

3.6.3 A Bíblia valoriza a qualificação pessoal para ministrar a partir de uma posição de influência.
- O exemplo de Daniel e seus companheiros (Dn 1:3-4) mostra que eles foram colocados por Deus numa
posição de influenciar o rei da Babilônia porque eram “cultos, inteligentes e dominavam os vários campos do
conhecimento”. Seu conhecimento da literatura, ciência e geometria babilônicas os capacitou a servirem a
Deus na corte quando a oportunidade se apresentou.

- Entre os cristãos deveria haver uma preocupação maior em enxergar a formação intelectual e o conhecimento
extra-bíblico como ferramentas a serem usadas por Deus para influenciar positivamente a sociedade e dar
maior credibilidade ao testemunho de vida.

- Alguns motivos mais nobres para se almejar uma boa qualificação pessoal e profissional:
a) Descobrir uma vocação (uma área de serviço para a qual Deus chama) e não somente uma
profissão (ganha-pão).
b) Desenvolver as habilidades necessárias para ocupar um espaço no domínio cultural e intelectual, de
uma maneira digna do Reino de Deus.
c) Obter conhecimento geral e formar hábitos de pensamento necessários ao desenvolvimento de uma
personalidade bem estruturada, capaz de produzir um cidadão digno do reino da terra e do céu.

3.7 A resistência “bíblica” a uma vida intelectual


- Existem seis interpretações erradas das Escrituras, que distorcem a sua ênfase para cultivar uma vida
intelectualmente frutífera e amar a Deus com a mente.

3.7.1 Deus condena o uso da razão?

- Em I Co 1:18-2:5 Paulo argumenta contra a sabedoria deste mundo e adverte os coríntios que ele não se
dirigiu a eles com palavras persuasivas de sabedoria humana. Muitos concluem, com isso, que o raciocínio e
a argumentação humanos são inúteis nas questões espirituais. Se isto for verdade Paulo contradiz a si
mesmo, pois não é a sua prática evangelística em todo o livro de Atos.

- Neste texto Paulo condena o uso falso e soberbo da razão, e não a razão em si mesma. Deus escolheu as
coisas loucas, insignificantes e desprezíveis que eram ofensivas não à razão, mas ao orgulho humano que se
apoiava na razão.

- Este texto também condena a famosa retórica grega. Muitos oradores gregos se orgulhavam de sua
capacidade de persuadir multidões a seus pontos de vista. Sua persuasão não se baseava em considerações
racionais, mas na habilidade de linguagem.

3.7.2 Conhecimento secular é inútil à fé?

- Em Cl 2:8 Paulo adverte os colossenses para que eles não se deixassem influenciar pelas vãs e enganosas
filosofias humanas, o que tem sido interpretado por alguns como uma ordem para se evitar estudos seculares,
especialmente a filosofia. A estrutura do texto claramente indica que o que deve ser evitado não é a filosofia
em geral, mas a vã e enganosa.

- Paulo exortava os crentes a não basear suas visões doutrinárias neste tipo de filosofia. Ele era bastante
familiar com a filosofia proto-gnóstica que ameaçava a igreja de Colossos e possuía o conhecimento e a
habilidade necessários para apontar seus erros e armadilhas. Conhecer sistemas de pensamento não-cristãos e
estar bem alicerçado na Palavra é a melhor maneira de evitar heresias.
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3.7.3 A doutrina da depravação humana torna a razão humana irrelevante?

- Alguns argumentam que, devido ao fato do intelecto humano ser caído e depravado, a razão humana é
irrelevante ou no mínimo suspeita quando se trata de crescimento espiritual. A doutrina da depravação
humana ensina que toda a personalidade humana, incluindo o intelecto, foi afetada pelo pecado e se encontra
separada de Deus. Nossa personalidade foi corrompida, mas não anulada. Como fomos criados à imagem e
semelhança de Deus, isto não torna nenhum de nossos atributos humanos maus em si mesmos.

- Não há base para concluir que, somente porque o intelecto sozinho não leva ninguém a Cristo, não devamos
deixar de persuadir as pessoas de modo inteligente e racional. Do mesmo modo, só porque a pregação não
salva ninguém sem a ajuda do Espírito, vamos deixar de prepará-la da melhor maneira possível.

3.7.4 A natureza da fé é uma questão do coração e não da mente?

- A dicotomia entre fé e razão tem sido advogada por muitos com base no texto de Mt 18:1-4, quando Jesus
destaca a importância de tornar-se como uma criança para entrar no Reino de Deus.

- Na Bíblia, o conceito de fé é geralmente direcionado para uma declaração ou uma pessoa (Deus). Crer numa
declaração é deixar-se convencer de que ela é verdadeira. Crer em Deus é confiar nele. Em ambos os casos,
fé é confiar naquilo em que temos razão para crer que seja verdadeiro e digno de confiança.

- Em Mt 18:1-4 Jesus dirige a metáfora da criança contra os auto-suficientes e arrogantes. Neste contexto,
tornar-se como uma criança significa ser humilde e desejoso de confiar em Deus. O oposto de ser como
criança é ser orgulhoso e soberbo, e não inteligente e razoável.

3.7.5 Como Deus é inescrutável, então é inútil usar a mente humana para entendê-lo?

- O texto bíblico que dá apoio a esta idéia, através de uma interpretação equivocada, é Isaías 55:9. No entanto,
o texto ensina que nós nunca compreenderemos integralmente os motivos, os propósitos e a soberania de
Deus. Porém, isto não significa que não devemos nos esforçar para entender seus propósitos, ou tentar servi-
lo e amá-lo com nossas mentes.

3.7.6 O conhecimento humano sempre produz arrogância?

- Essa generalização é tirada de I Co 8:1. Neste texto Paulo não está condenando o conhecimento em si, mas
certa atitude em relação ao conhecimento. A resposta a isto deve ser humildade e não ignorância. Por outro
lado, pessoas ignorantes podem não ser arrogantes, mas podem tornar-se orgulhosamente defensivas para
disfarçar sua falta de conhecimento, o que na prática é somente outro tipo de arrogância.

PARA REFLETIR: O CRISTÃO DEVE TRABALHAR POR UM ESTADO JUSTO OU POR UMA
TEOCRACIA TERRENA?

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