Importância Da Oralidade - Editado
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Resumo: No presente trabalho propõe‐se uma reflexão sobre a questão da oralidade como um
importante instrumento no processo de comunicação. Para interpretar o que ouve e respon‐
der perguntas com lógica e clareza, a criança precisa ter pensamento organizado e linguagem
oral bem desenvolvida. Para isso, é necessário que participe de situações autênticas de comu‐
nicação, em que seja estimulada a falar e a organizar suas ideias antes de transmiti‐las. O obje‐
tivo deste estudo foi investigar se as práticas educativas dos professores valorizam o trabalho
com a linguagem oral dos alunos. Buscou‐se averiguar também como a oralidade é trabalhada
dentro da sala de aula. Para tanto, foi feita uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de cam‐
po, no Centro Educacional Infantil Plin Plin e na Escola Estadual “Cônego Getúlio”, ambas em
Patos de Minas, MG. Foram respondidos dez questionários por professores de educação infan‐
til e séries iniciais do ensino fundamental. O estudo empreendido possibilitou caracterizar a
importância que tem o trabalho com a oralidade das crianças e a riqueza de atividades que
podem e devem ser desenvolvidas, com intuito de ajudar a criança a desenvolver a capacidade
de expressão oral, socializar‐se, desenvolver a autonomia, o pensamento, enriquecer o voca‐
bulário, construir o conhecimento, dentre outros. Entre as atividades estão: música, reconto
de história, poesia, leitura, roda de conversa, dramatização, fantoches, e outras. O estudo
permitiu ainda constatar que os professores pesquisados dão valor ao trabalho com a oralida‐
de, e reconhecem que é de fundamental importância dedicar um tempo especial na sua tarefa
diária para essa questão.
Palavras‐chave: Comunicação; criança; desenvolvimento; fala; oralidade.
Abstract: The present work proposes a reflection on the matter of orality as an important in‐
strument in the process of communication. So as to interpret what is heard and to answer
questions on logic and intelligibility, the child needs to have a well‐developed organized
thought and oral language. For this, he also needs to participate in authentic situations of
communication, in which he is stimulated to speak and organize his ideas before transmitting
them. The objective of this study was to investigate if the educational practices of teachers
valorize the work with oral language of students. We also aimed at searching how orality is
worked inside the classroom. This way, we made a bibliographical research and a field re‐
search at the Centro Educacional Infantil Plin Plin and at the Escola Estadual “Cônego Getúlio”,
both in Patos de Minas, MG. Ten questionnaires were answered by teachers working with chil‐
dren and high school. The study allowed us to characterize the importance of the work with
children orality and the greatness of activities that may be developed, so as to help children to
develop the ability of oral expression, to socialize, to develop autonomy and thought, to im‐
prove vocabulary, to build up the knowledge, and others. Among the activities were music,
storytelling, poetry, reading, conversation, dramatization, use of puppets, and others. The
study also permitted to find out that the teachers approached give importance to the work
with orality, and acknowledge that it is fundamental to dedicate a special time for the matter
in their daily work.
Keywords: communication; child; development; speaking; orality.
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1. Considerações iniciais
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2. Referencial teórico
A linguagem oral tem uma função prática imprescindível na vida humana e so‐
cial. É uma habilidade construída socialmente, isto é, a criança ensaia desde o primeiro
momento de sua vida. A relação de comunicação no primeiro ano ocorre por meio de
troca de experiências interpessoais com familiares e professores. Conforme o Referen‐
cial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p. 125), “a construção da lin‐
guagem oral implica, portanto, a verbalização e na negociação de sentidos estabeleci‐
dos entre pessoas que buscam comunicar‐se”.
Desde muito cedo a criança se utiliza principalmente da linguagem oral para se
comunicar. Antes de falar com fluência, as crianças já são capazes de utilizar a lingua‐
gem oral para diversos fins: pedir, solicitar determinadas ações ou objetos, e expressar
seus sentimentos, perguntar ou explorar o mundo a sua volta. Da mesma forma, mes‐
mo antes de falar, a criança já começa a entender a fala das pessoas que estão intera‐
gindo com ela. No entanto, a compreensão da linguagem é mais abrangente que a ca‐
pacidade de falar, e ocorre antes mesmo que a criança possa se expressar oralmente.
Considera‐se que a aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada, por meio
das interações que a criança estabelece desde que nasce. As diversas situações cotidia‐
nas nas quais os adultos falam com a criança ou perto dela configuram uma situação
rica que permite à criança conhecer e apropriar‐se do universo discursivo e dos diver‐
sos contextos nos quais a linguagem oral é produzida. Nesta perspectiva, o Referencial
Curricular Nacional (1997, p. 49) atesta que “a capacidade de uso da língua oral que as
crianças possuem ao ingressar na escola foi adquirida no espaço privado: contextos
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uma das tarefas da educação infantil é ampliar, integrar e ser continente da fala das cri‐
anças em contextos comunicativos para que ela se torne competente como falante. Isso
significa que o professor deve ampliar as condições da criança de manter‐se no próprio
texto falado. Para tanto, deve escutar a fala da criança, deixando‐se envolver por ela,
ressignificando‐a e resgatando‐a sempre que necessário (1998, vol. 3, p. 135).
Entretanto, não basta deixar que as crianças falem; apenas o falar cotidiano não
garante a aprendizagem necessária. É preciso que as atividades de uso e as de reflexão
sobre a língua oral estejam contextualizadas em projetos de estudo. Em conformidade
com Dias (2001, p. 36), “Não se trata, simplesmente, de se ensinar a criança a falar, mas
de desenvolver sua oralidade e saber lidar com ela nas mais diversas situações”. Sendo
assim, a organização que o professor dá aos conteúdos deve dar oportunidade ao tra‐
balho sistemático com a linguagem oral.
Ao planejar situações de participação nas quais os alunos possam buscar mate‐
riais, pedir informações, dar recados, elaborar avisos, fazer solicitação a uma pessoa, o
professor possibilita aos alunos o uso contextualizado da linguagem oral mediante
formas comuns de se iniciar uma conversação, fazer pedidos, perguntas, expressões de
cortesia. Ele deve cuidar para que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades
de participação e para que todos sejam incentivados a falar.
Mais que ninguém, a professora deve saber que o treino e a participação direta,
em atividades específicas à oralidade, levarão a criança a desenvolver competências
como ler e escrever, à aquisição de padrões linguísticos desejáveis e ao melhor ajusta‐
mento social. A escola pode incidir positivamente sobre o desenvolvimento da comu‐
nicação oral. Ela deve expor aos alunos à variedade de uso da fala. As crianças preci‐
sam ser estimuladas a falar, uma vez que é no exercício da fala que elas vão se aperfei‐
çoando e percebendo o uso social da fala.
Acontece, porém, que muita das vezes, devido à falta de objetivos e técnicas, o
trabalho com a oralidade na sala de aula se torna rotineiro, sem conteúdo nem finali‐
dade. O domínio da linguagem oral e a fluência verbal acontecem quando o professor
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a linguagem evolui dentro das possibilidades de cada aluno, em situações ricas de estí‐
mulo e satisfação, num clima emocional e convidativo. Quando o ambiente escolar fa‐
vorece a expressão espontânea, a criança manifesta‐se livremente sem problemas e sem
constrangimento (1965, p. 25).
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2.2.1. Poesia
Lidar com a poesia, por exemplo, traz para as crianças um trabalho significati‐
vo. Ela contribui de forma bastante positiva, pois ela é essencialmente um texto para
ser oralizado. Poesia é uma forma aprimorada e distinta de linguagem, quer pela bele‐
za das estruturas e pela riqueza de expressões, quer pela propriedade e viveza do vo‐
cabulário.
A criança que ouve belas poesias sente‐se estimulada para criar, para manifes‐
tar espontaneamente suas emoções e sentimentos, desenvolve sensibilidade e o gosto
por palavras. Araújo (1965, p. 145) enfatiza que “as poesias devem ser cuidadosamente
selecionadas para que preencham seus objetivos. Poesias que envolvem conceitos mui‐
tos elevados, descrições longas, estruturas complexas, são difíceis para a compreensão
infantil, exorbitam de sua mentalidade e, portanto, não agradam”. Portanto, a poesia
permite que a criança aprenda a reconhecer, compreender, dar significado às palavras,
além de enriquecer o vocabulário.
2.2.2. Música
Neste sentido, quando o professor trabalha a música com seus alunos, ele está
estimulando a sensibilidade à entonação, ao ritmo, ao timbre e ao poder emocional da
música. Mas está trabalhando também o texto oral, o vocabulário, a pronúncia das pa‐
lavras. No entanto, em estratégias utilizando‐se a música, a seleção é importante. Ter
atenção à letra, melodia, harmonia, ritmo e que sejam de fácil acesso podem favorecer o
trabalho.
A roda de conversa, que deve ser uma estratégia rotineira nas classes de Educa‐
ção infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, nem sempre tem o merecido
destaque no planejamento do professor. Na roda o professor consegue dispor várias
situações de trabalho com a oralidade. A participação na roda permite que as crianças
aprendam a olhar e a ouvir os colegas, trocando experiências e aprendendo as atitudes
corretas de ouvinte e de falante.
Neste viés, o Referencial Curricular Nacional considera que
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2.2.4. Leitura
Por meio do incentivo e do acesso aos livros pelo manuseio, pela leitura ou con‐
tação de histórias, a criança cria o hábito e o apreço pela leitura e também desperta o
interesse pela escrita. De acordo com o Referencial Curricular Nacional,
a leitura realizada em voz alta, em situações que permitem a atenção e a escuta das cri‐
anças, seja na sala de aula, no parque debaixo de uma árvore, antes de dormir, numa
atividade específica para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico em oralida‐
de (1998, vol. 3, p. 135).
Considera‐se, pois, que a criança que tem contato com a literatura desde cedo,
lendo ou ouvindo histórias, é beneficiada em diversos sentidos: ela aprende a pronun‐
ciar melhor as palavras e se comunica melhor de forma geral. Por meio da leitura, a
criança desenvolve a criatividade, a imaginação e adquire cultura, conhecimentos e
valores, além de favorecer familiaridade com o mundo da escrita. E mais: a leitura de
histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários. Embora a criança
ainda não saiba ler, ouvir um texto já é uma forma de leitura.
2.2.5. Dramatização
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2.2.7. Fantoches
a ampliação da capacidade das crianças de utilizar a fala de forma cada vez mais com‐
petente em diferentes contextos se dá na medida em que elas vivenciam experiências
diversificadas e ricas envolvendo os diversos usos possíveis da linguagem oral. Portan‐
to, eleger a linguagem oral como conteúdo exige o planejamento da ação pedagógica de
forma a criar situações de faça, escuta e compreensão da linguagem (1998, vol. 3, p.
134).
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[...] cada um de nós tem de saber usar uma boa linguagem para desempenhar o seu pa‐
pel de indivíduo humano, e membro de uma sociedade humana. Não se pode admitir
que um instrumento tão essencial seja mal conhecido e mal manejado (1977, p. 12).
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aluno para efeito de seleção, promoção e certificados finais. A avaliação tem sentido
mais amplo e abrangente. É uma busca dos valores que consideramos essenciais à edu‐
cação e à criança, particularmente em seu crescimento e ajustamentos. Dessa forma à
medida que avaliamos e conhecemos o perfil do aluno, é possível definir estratégias
ricas e variadas, possibilitando isso uma vivência prazerosa com as palavras.
3. Análise de dados
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Os dados expostos no gráfico 3 demonstram que 31% das professoras leem li‐
vros que tratam do assunto, 30% pesquisam na internet, 30% aprendem com o colega e
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As professoras têm total compreensão dos benefícios que tem o trabalho com a
oralidade. Conforme a opinião de todas elas, em atividades ricas de possibilidades efe‐
tivas de participação, a oralidade proporciona à criança desenvolver a capacidade de
expressão oral (18%), construir o conhecimento (15%), socializar‐se (18%), desenvolver
a autonomia (16%), desenvolver o pensamento (18%) e enriquecer o vocabulário (15%)
– o que é possível comprovar no gráfico 5.
É imprescindível o trabalho com a oralidade dentro da sala de aula, pois ela se
reveste de finalidades definidas. Fazendo com que a criança se expresse oralmente, ela
amplia seus horizontes de comunicação, exercita o pensar, socializa‐se, organiza a sua
mente, interpreta o mundo, expõe ideias, debate opiniões, expressa sentimentos e emo‐
ções, desenvolve a argumentação, comunica‐se com facilidade, além de se preparar
para um futuro profissional no qual ela seja capaz de expressar em público seus conhe‐
cimentos e ideias. Deste modo, o desenvolvimento da oralidade significa para ela uma
habilidade imprescindível para o convívio social nas mais diversas instâncias.
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Gráfico 8. Procedimentos adotados com uma criança que apresenta uma variação
linguística distanciada do padrão culto (criança que fala muito errado)
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Após análise dos dados, verificou‐se que 28% das professoras repetem a expres‐
são corretamente para com uma criança que apresenta uma variação linguística distan‐
ciada do padrão culto, 14% encaminham para especialistas, 29% exploram atividades
sistemáticas de oralidade e 29% não chamam a atenção perto dos outros – o que pode
ser percebido no gráfico acima.
A par das estratégias metodológicas em prol do desenvolvimento da oralidade
da criança, há ainda o aspecto da correção da linguagem, das formas convencionalmen‐
te aceitas. Quando a criança vai para a escola, ela já tem certos padrões bem definidos
quanto à compreensão e quanto ao uso das palavras. Esses padrões, aceitáveis, às ve‐
zes, e não raro, inaceitáveis, são imitados da família e do meio em que a criança vive.
Mas é dever da professora dar‐lhes um nível linguístico aceitável entre pessoas bem
educadas, ajudando aquelas que, por falta de assistência, não atingiram esses padrões.
O automatismo da boa linguagem só se faz pelo uso, em todo o programa escolar.
4. Considerações finais
O presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma reflexão sobre a im‐
portância que tem o trabalho com a oralidade das crianças em sala de aula. Sabe‐se que
a linguagem oral é determinante na vida do aluno, pois toda a produção do conheci‐
mento parte dessa linguagem. Sendo a fala o principal instrumento de comunicação,
valorizar e aprimorar o trabalho com a oralidade dentro da sala de aula constituem‐se
recursos preciosos de aprendizagem.
A linguagem oral é uma atividade livre e se inicia desde os primeiros meses,
quando o bebê emite sons evidenciando a comunicação entre os que estão próximos.
Aos poucos esses balbucios vão se tornando palavras, frases, e a criança se comunica
definitivamente com o mundo ao seu redor, e quanto mais a criança exercita a fala,
mais ela se aprimora e percebe o uso social da fala.
A linguagem oral da criança tem de ser trabalhada desde o início de sua vida.
Na escola, esse trabalho é determinante. O professor precisa ter profissionalismo e dis‐
posição para trabalhar a oralidade do aluno.
No entanto, é essencial, perceber que a linguagem oral é um processo dinâmico,
que se desenvolve quando se entra em contato com situações de modo altamente signi‐
ficativo, em diferentes interações, por isso, deve ser trabalhada, metodicamente desde
o início para um melhor desempenho do discurso argumentativo do dia a dia.
De acordo com a pesquisa realizada com professores da rede pública da educa‐
ção infantil e ensino fundamental, o trabalho com a oralidade é considerado de suma
importância. Foram relatados com unanimidade entre os professores aspectos positivos
como os seguintes: possibilita à criança tornar‐se mais comunicativa, ter maior intera‐
ção com o grupo, desenvolver a autonomia, o pensamento, enriquecer seu vocabulário,
construir o conhecimento, além de desenvolver o seu senso crítico.
Enfim, após a pesquisa de campo, o que se pode concluir é que a classe de pro‐
fessores, em sua grande maioria, tem consciência da importância de se trabalhar a ora‐
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Referências
ARAÚJO, Maria Yvonne Atalécio de. Experiências de linguagem oral na Escola Primária. Rio
de Janeiro: Editora Nacional de Direito, 1965.
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. 4 ed. Petrópolis:
Editora Vozes, 1977
DIAS, Ana Maria Iorio. Ensino da linguagem no Currículo. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.
http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/importancia‐leitura521213.shtml.
Acesso em 14 de set. de 2011.
http://revistaescola.abril.com.br/lingua‐portuguesa/alfabetizacao‐inicial/usarpoesia‐
423627.shtml. Acesso em 3 de out. de 2011.
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