Importância Da Oralidade - Editado

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A importância da oralidade: educação infantil

e séries iniciais do Ensino Fundamental


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MIRELLA RIBEIRO CHAER


Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM

EDITE DA GLÓRIA AMORIM GUIMARÃES


Professora orientadora. Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM

Resumo: No presente trabalho propõe‐se uma reflexão sobre a questão da oralidade como um
importante instrumento no processo de comunicação. Para interpretar o que ouve e respon‐
der perguntas com lógica e clareza, a criança precisa ter pensamento organizado e linguagem
oral bem desenvolvida. Para isso, é necessário que participe de situações autênticas de comu‐
nicação, em que seja estimulada a falar e a organizar suas ideias antes de transmiti‐las. O obje‐
tivo deste estudo foi investigar se as práticas educativas dos professores valorizam o trabalho
com a linguagem oral dos alunos. Buscou‐se averiguar também como a oralidade é trabalhada
dentro da sala de aula. Para tanto, foi feita uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de cam‐
po, no Centro Educacional Infantil Plin Plin e na Escola Estadual “Cônego Getúlio”, ambas em
Patos de Minas, MG. Foram respondidos dez questionários por professores de educação infan‐
til e séries iniciais do ensino fundamental. O estudo empreendido possibilitou caracterizar a
importância que tem o trabalho com a oralidade das crianças e a riqueza de atividades que
podem e devem ser desenvolvidas, com intuito de ajudar a criança a desenvolver a capacidade
de expressão oral, socializar‐se, desenvolver a autonomia, o pensamento, enriquecer o voca‐
bulário, construir o conhecimento, dentre outros. Entre as atividades estão: música, reconto
de história, poesia, leitura, roda de conversa, dramatização, fantoches, e outras. O estudo
permitiu ainda constatar que os professores pesquisados dão valor ao trabalho com a oralida‐
de, e reconhecem que é de fundamental importância dedicar um tempo especial na sua tarefa
diária para essa questão.
Palavras‐chave: Comunicação; criança; desenvolvimento; fala; oralidade.
Abstract: The present work proposes a reflection on the matter of orality as an important in‐
strument in the process of communication. So as to interpret what is heard and to answer
questions on logic and intelligibility, the child needs to have a well‐developed organized
thought and oral language. For this, he also needs to participate in authentic situations of
communication, in which he is stimulated to speak and organize his ideas before transmitting
them. The objective of this study was to investigate if the educational practices of teachers
valorize the work with oral language of students. We also aimed at searching how orality is
worked inside the classroom. This way, we made a bibliographical research and a field re‐
search at the Centro Educacional Infantil Plin Plin and at the Escola Estadual “Cônego Getúlio”,
both in Patos de Minas, MG. Ten questionnaires were answered by teachers working with chil‐
dren and high school. The study allowed us to characterize the importance of the work with
children orality and the greatness of activities that may be developed, so as to help children to
develop the ability of oral expression, to socialize, to develop autonomy and thought, to im‐

Pergaminho, (3):71‐88, nov. 2012


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Mirella Ribeiro Chaer & Edite da Glória Amorim Guimarães

prove vocabulary, to build up the knowledge, and others. Among the activities were music,
storytelling, poetry, reading, conversation, dramatization, use of puppets, and others. The
study also permitted to find out that the teachers approached give importance to the work
with orality, and acknowledge that it is fundamental to dedicate a special time for the matter
in their daily work.
Keywords: communication; child; development; speaking; orality.

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1. Considerações iniciais

O presente trabalho se propõe a abordar a importância de se trabalhar a orali‐


dade em sala de aula na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, e
o quanto é necessário propiciar ao aluno atividades específicas a essa competência que
é a linguagem oral.
A linguagem oral é um dos aspectos fundamentais de nossa vida, pois é por
meio dela que nos socializamos, construímos conhecimentos, organizamos nossos pen‐
samentos e experiências, ingressamos no mundo. Assim, ela amplia nossas possibili‐
dades de inserção e de participação nas diversas práticas sociais.
Nesse sentido, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil afir‐
ma que

a aprendizagem oral possibilita comunicar ideias, pensamentos e intenções de diversas


naturezas, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais. Seu aprendizado
acontece dentro de um contexto. Quanto mais as crianças puderem falar em situações
diferentes, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira sig‐
nificativa (1998, vol. 3, p. 120).

Em face do exposto, é necessário considerar que a linguagem oral é o principal


instrumento de comunicação. É essencial reconhecer que a fala é básica na vida e de
extrema importância para o ser humano. Segundo Araújo (1965, p. 11), “o homem está
na permanente dependência dos símbolos verbais e, por esse motivo, o desenvolvi‐
mento da linguagem é elemento essencial à sua perfeita realização na sociedade em
que vive”. Dessa forma, todos precisam saber se expressar e usar a linguagem em vari‐
adas situações comunicativas: conversas, entrevistas, seminários, ao telefone, falar em
público, entre tantas outras.
É preciso, portanto, ensinar à criança a utilizar adequadamente a linguagem em
instâncias públicas, a fazer uso da língua oral de forma cada vez mais competente. Em
relação a isso, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil considera que

o desenvolvimento da capacidade de expressão oral do aluno depende consideravel‐


mente de a escola constituir‐se num ambiente que respeite e acolha a vez e a voz, a dife‐

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A importância da oralidade

rença e a diversidade. Mas, sobretudo, depende de a escola ensinar‐lhe os usos da lín‐


gua adequados a diferentes situações comunicativas (1997, p. 49).

Mas, será que a prática educativa valoriza o ensino da oralidade, possibilitando


a criança o desenvolvimento da capacidade de expressão oral?
Nesse sentido, este estudo direciona questões para uma reflexão sobre o traba‐
lho com a oralidade dentro da sala de aula. Assim, as questões a que se propõe investi‐
gar referem‐se às seguintes perguntas: como o professor pode contribuir para o desen‐
volvimento da oralidade dos alunos? Que benefícios o trabalho com a linguagem oral
proporciona às crianças? As estratégias a fim de possibilitar o desenvolvimento da ora‐
lidade são trabalhadas com os alunos?
Vale ressaltar que o trabalho com a oralidade em sala de aula é primordial, pois
a fala é parte integrante de nossa vida. Considerando, portanto, que o desenvolvimento
da linguagem oral se dá mediante a vivência de experiências diversificadas, ricas, en‐
volvendo os usos possíveis da linguagem oral, cabe aos profissionais atuantes da edu‐
cação infantil e séries iniciais planejarem a ação pedagógica de forma a garantir, na sala
de aula, atividades sistemáticas de fala, escuta e reflexão sobre a língua.
Expressando‐se oralmente, a criança amplia seus horizontes de comunicação,
exercita o pensar, socializa‐se, organiza a sua mente, interpreta o mundo, expõe ideias,
debate opiniões, expressa sentimentos e emoções, desenvolve a argumentação, comu‐
nica‐se com facilidade, além de se preparar para um futuro profissional no qual ela seja
capaz de expressar em público seus conhecimentos e ideias. Deste modo, o desenvol‐
vimento da oralidade significa para ela uma habilidade imprescindível para o convívio
social nas mais diversas instâncias.
Diante do postulado, é fundamental que o professor busque contemplar o tra‐
balho da oralidade como fator essencial em sala de aula, que ele possa de fato, contri‐
buir para que o aluno se torne um sujeito falante, participativo e crítico na sociedade.
Nesta perspectiva, a escolha deste tema justifica‐se pela observação que tenho
feito em relação à dificuldade que as pessoas têm de se expressar oralmente, princi‐
palmente em público, e o que as leva a ter essa dificuldade.
Infelizmente, muitos professores têm dado pouca ênfase ao trabalho com a ora‐
lidade, acreditando que a fala da criança, por ser praticada no dia‐a‐dia, já está bem
dominada por ela. Acredita‐se que a escola deve ser um local onde a linguagem oral da
criança seja bem trabalhada, possibilitando‐lhe tornar‐se um sujeito dominante dessa
linguagem, pois sabe‐se que a criança vai se aperfeiçoando gradativamente, sendo ne‐
cessário o trabalho com a oralidade desde o início de sua escolarização.
Com este estudo pretendemos pesquisar se a linguagem oral das crianças está
sendo estimulada nas instituições de ensino, já que é uma habilidade primordial na
vida do indivíduo. Nesse sentido, o presente trabalho objetivou compreender a impor‐
tância da oralidade em sala de aula; investigar como a linguagem oral é trabalhada
com as crianças em sala de aula; identificar diferentes estratégias e formas de uso da
linguagem oral no contexto escolar; identificar atividades que proporcionam o desen‐
volvimento da oralidade; e por fim, investigar se as práticas educativas dos professores
valorizam a linguagem oral.

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Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfi‐


ca, a qual é uma fonte de grande relevância para a construção do presente trabalho,
com o intuito de conhecer e aprofundar mais sobre o tema, e posteriormente uma pes‐
quisa de campo. Na pesquisa bibliográfica, abordamos os seguintes teóricos: Ana Ma‐
ria Iorio Dias, Joaquim Mattoso Camara Júnior, Maria Yvone Atalécio de Araújo, os
Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, e o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil.
A pesquisa de campo foi realizada em um centro de educação infantil munici‐
pal e numa escola estadual de Patos de Minas, com professoras da educação infantil e
das séries iniciais do Ensino Fundamental (1° e 2° ano). Foram colhidas por meio de
um questionário opiniões de professores sobre o trabalho com a oralidade.
Espera‐se fornecer com este trabalho, material de estudo e pesquisa para que
professores possam usá‐los como apoio em sua vida profissional, levando ao seu co‐
nhecimento os benefícios que tem o trabalho com a oralidade para o crescimento indi‐
vidual e coletivo da criança na construção de uma vida mais ativa e participativa. Al‐
meja‐se com ele também apresentar atividades que auxiliam no desenvolvimento da
linguagem oral da criança.

2. Referencial teórico

2.1. O desenvolvimento da linguagem oral

A linguagem oral tem uma função prática imprescindível na vida humana e so‐
cial. É uma habilidade construída socialmente, isto é, a criança ensaia desde o primeiro
momento de sua vida. A relação de comunicação no primeiro ano ocorre por meio de
troca de experiências interpessoais com familiares e professores. Conforme o Referen‐
cial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p. 125), “a construção da lin‐
guagem oral implica, portanto, a verbalização e na negociação de sentidos estabeleci‐
dos entre pessoas que buscam comunicar‐se”.
Desde muito cedo a criança se utiliza principalmente da linguagem oral para se
comunicar. Antes de falar com fluência, as crianças já são capazes de utilizar a lingua‐
gem oral para diversos fins: pedir, solicitar determinadas ações ou objetos, e expressar
seus sentimentos, perguntar ou explorar o mundo a sua volta. Da mesma forma, mes‐
mo antes de falar, a criança já começa a entender a fala das pessoas que estão intera‐
gindo com ela. No entanto, a compreensão da linguagem é mais abrangente que a ca‐
pacidade de falar, e ocorre antes mesmo que a criança possa se expressar oralmente.
Considera‐se que a aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada, por meio
das interações que a criança estabelece desde que nasce. As diversas situações cotidia‐
nas nas quais os adultos falam com a criança ou perto dela configuram uma situação
rica que permite à criança conhecer e apropriar‐se do universo discursivo e dos diver‐
sos contextos nos quais a linguagem oral é produzida. Nesta perspectiva, o Referencial
Curricular Nacional (1997, p. 49) atesta que “a capacidade de uso da língua oral que as
crianças possuem ao ingressar na escola foi adquirida no espaço privado: contextos

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A importância da oralidade

comunicativos informais, coloquiais, familiares”. Neste sentido, o desenvolvimento da


fala se dá na prática viva da língua, no diálogo, no ouvir o interlocutor. Deve‐se, por‐
tanto, atribuir intenção comunicativa à fala da criança, ter atenção e dar continuidade a
ela.
Assim, as escolas deveriam ensinar aos alunos qual o significado e a importân‐
cia da fala, expondo aos mesmos a variedade de uso da fala. É importante que o pro‐
fessor converse com as crianças, ajudando‐as a se expressar, apresentando‐lhes diver‐
sas formas de comunicar o que desejam, sentem e necessitam etc. Nessas interações, é
importante que os adultos que entram em contato com as crianças tenham o cuidado
com a própria fala e utilizem de forma clara, sem infantilizações e sem imitar o jeito da
criança falar, com a consciência de que são modelos de falantes para elas. Considera‐se
que o contato com o maior número possível de situações comunicativas e expressivas
resulta no desenvolvimento das capacidades linguísticas das crianças.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional,

uma das tarefas da educação infantil é ampliar, integrar e ser continente da fala das cri‐
anças em contextos comunicativos para que ela se torne competente como falante. Isso
significa que o professor deve ampliar as condições da criança de manter‐se no próprio
texto falado. Para tanto, deve escutar a fala da criança, deixando‐se envolver por ela,
ressignificando‐a e resgatando‐a sempre que necessário (1998, vol. 3, p. 135).

Entretanto, não basta deixar que as crianças falem; apenas o falar cotidiano não
garante a aprendizagem necessária. É preciso que as atividades de uso e as de reflexão
sobre a língua oral estejam contextualizadas em projetos de estudo. Em conformidade
com Dias (2001, p. 36), “Não se trata, simplesmente, de se ensinar a criança a falar, mas
de desenvolver sua oralidade e saber lidar com ela nas mais diversas situações”. Sendo
assim, a organização que o professor dá aos conteúdos deve dar oportunidade ao tra‐
balho sistemático com a linguagem oral.
Ao planejar situações de participação nas quais os alunos possam buscar mate‐
riais, pedir informações, dar recados, elaborar avisos, fazer solicitação a uma pessoa, o
professor possibilita aos alunos o uso contextualizado da linguagem oral mediante
formas comuns de se iniciar uma conversação, fazer pedidos, perguntas, expressões de
cortesia. Ele deve cuidar para que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades
de participação e para que todos sejam incentivados a falar.
Mais que ninguém, a professora deve saber que o treino e a participação direta,
em atividades específicas à oralidade, levarão a criança a desenvolver competências
como ler e escrever, à aquisição de padrões linguísticos desejáveis e ao melhor ajusta‐
mento social. A escola pode incidir positivamente sobre o desenvolvimento da comu‐
nicação oral. Ela deve expor aos alunos à variedade de uso da fala. As crianças preci‐
sam ser estimuladas a falar, uma vez que é no exercício da fala que elas vão se aperfei‐
çoando e percebendo o uso social da fala.
Acontece, porém, que muita das vezes, devido à falta de objetivos e técnicas, o
trabalho com a oralidade na sala de aula se torna rotineiro, sem conteúdo nem finali‐
dade. O domínio da linguagem oral e a fluência verbal acontecem quando o professor

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cria em sua classe um ambiente tranquilo, que estimula a comunicação de ideias, em


que se exercita o respeito mútuo. Quando as relações interpessoais ocorrem sem re‐
pressão, a criança faz uso da palavra em muitas circunstâncias, percebe mais facilmen‐
te a função social da linguagem, desenvolve as diferentes habilidades de bom ouvinte e
de falante eficaz, vencendo a timidez e construindo os hábitos necessários ao bom de‐
sempenho social. Dentro de um ambiente acolhedor e amigo, a criança encontra clima
propício à linguagem oral e se sente segura e confiante. Para Araújo,

a linguagem evolui dentro das possibilidades de cada aluno, em situações ricas de estí‐
mulo e satisfação, num clima emocional e convidativo. Quando o ambiente escolar fa‐
vorece a expressão espontânea, a criança manifesta‐se livremente sem problemas e sem
constrangimento (1965, p. 25).

Portanto, num ambiente de confiança e respeito, há possibilidades magníficas


para que elas falem, discutam, opinem, enfim, manifestem‐se livremente. Trabalhar
com a oralidade tem como um dos objetivos desenvolver as habilidades linguísticas de
falar e escutar. Deste modo, sendo a oralidade um valioso instrumento interdisciplinar
e a primeira modalidade linguística a ser adquirida pelo indivíduo, faz‐se necessário
que a escola ponha em relevância o seu papel no processo ensino‐aprendizado.

2.2. A estimulação da linguagem oral

O trabalho com a oralidade assume um importante papel no processo educati‐


vo. As ações educativas tornam o processo mais eficaz ao propiciarem situações dinâ‐
micas e envolventes, por meio das quais os alunos podem explorar e desenvolver seu
instrumento comunicativo e social.
Deste modo, o professor deverá criar situações, promover atividades apropria‐
das e incentivar a participação das crianças por meio de atividades como conversas,
discussões, poesia, dramatizações, fantoches, leitura de histórias, entrevistas, músicas,
reconto de histórias, trava‐língua, debates, exposições orais, de forma a possibilitar que
a criança se torne mais comunicativa e tenha uma interação maior com o grupo. Um
ambiente rico em atividades expressivas incentivará o desenvolvimento da fala da cri‐
ança.
Sendo assim, o trabalho com a linguagem oral deve acontecer no interior de ati‐
vidades significativas. É fundamental que essas atividades se organizem de tal maneira
que os alunos transitem das situações mais informais e coloquiais que já dominam ao
entrar na escola a outras mais estruturadas e formais, para que possam conhecer seus
modos de funcionamento e aprender a utilizá‐las.
Diante do exposto, discutiremos algumas das atividades citadas acima, a fim de
aprimorar a linguagem oral da criança.

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A importância da oralidade

2.2.1. Poesia

Lidar com a poesia, por exemplo, traz para as crianças um trabalho significati‐
vo. Ela contribui de forma bastante positiva, pois ela é essencialmente um texto para
ser oralizado. Poesia é uma forma aprimorada e distinta de linguagem, quer pela bele‐
za das estruturas e pela riqueza de expressões, quer pela propriedade e viveza do vo‐
cabulário.
A criança que ouve belas poesias sente‐se estimulada para criar, para manifes‐
tar espontaneamente suas emoções e sentimentos, desenvolve sensibilidade e o gosto
por palavras. Araújo (1965, p. 145) enfatiza que “as poesias devem ser cuidadosamente
selecionadas para que preencham seus objetivos. Poesias que envolvem conceitos mui‐
tos elevados, descrições longas, estruturas complexas, são difíceis para a compreensão
infantil, exorbitam de sua mentalidade e, portanto, não agradam”. Portanto, a poesia
permite que a criança aprenda a reconhecer, compreender, dar significado às palavras,
além de enriquecer o vocabulário.

2.2.2. Música

A música também desempenha um papel de destaque no desenvolvimento da


linguagem oral; no entanto, o aluno necessita ter contato com a mesma, explorando‐a
das mais variadas formas. Em conformidade com Kaufman:

O ritmo, a entonação e a musicalidade das palavras funcionam como reais possibilida‐


des de despertar a criança para a comunicação, proporcionando‐lhe sorrisos e garga‐
lhadas, além de garantir o contato com a oralidade de uma forma lúdica e descontraída
(1995).

Neste sentido, quando o professor trabalha a música com seus alunos, ele está
estimulando a sensibilidade à entonação, ao ritmo, ao timbre e ao poder emocional da
música. Mas está trabalhando também o texto oral, o vocabulário, a pronúncia das pa‐
lavras. No entanto, em estratégias utilizando‐se a música, a seleção é importante. Ter
atenção à letra, melodia, harmonia, ritmo e que sejam de fácil acesso podem favorecer o
trabalho.

2.2.3. Roda de conversa

A roda de conversa, que deve ser uma estratégia rotineira nas classes de Educa‐
ção infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, nem sempre tem o merecido
destaque no planejamento do professor. Na roda o professor consegue dispor várias
situações de trabalho com a oralidade. A participação na roda permite que as crianças
aprendam a olhar e a ouvir os colegas, trocando experiências e aprendendo as atitudes
corretas de ouvinte e de falante.
Neste viés, o Referencial Curricular Nacional considera que

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a roda de conversa é o momento privilegiado de diálogo e intercâmbio de idéias. Por


meio desse exercício cotidiano as crianças podem ampliar suas capacidades comunica‐
tivas, como a fluência para falar, perguntar, expor suas idéias, dúvidas e descobertas,
ampliar seu vocabulário e aprender a valorizar o grupo como instância de troca e
aprendizagem (1998, vol. 3, p. 138).

Assim, se “a roda de conversa é o momento privilegiado de diálogo”, ela se tor‐


na uma atividade indispensável na sala de aula, pois, é por meio do diálogo que a co‐
municação acontece.

2.2.4. Leitura

Por meio do incentivo e do acesso aos livros pelo manuseio, pela leitura ou con‐
tação de histórias, a criança cria o hábito e o apreço pela leitura e também desperta o
interesse pela escrita. De acordo com o Referencial Curricular Nacional,

a leitura realizada em voz alta, em situações que permitem a atenção e a escuta das cri‐
anças, seja na sala de aula, no parque debaixo de uma árvore, antes de dormir, numa
atividade específica para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico em oralida‐
de (1998, vol. 3, p. 135).

Considera‐se, pois, que a criança que tem contato com a literatura desde cedo,
lendo ou ouvindo histórias, é beneficiada em diversos sentidos: ela aprende a pronun‐
ciar melhor as palavras e se comunica melhor de forma geral. Por meio da leitura, a
criança desenvolve a criatividade, a imaginação e adquire cultura, conhecimentos e
valores, além de favorecer familiaridade com o mundo da escrita. E mais: a leitura de
histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários. Embora a criança
ainda não saiba ler, ouvir um texto já é uma forma de leitura.

2.2.5. Dramatização

A dramatização é outra sugestão de trabalho a fim de estimular a oralidade das


crianças. Dramatização é representar, ao vivo, narrações ou ações. Personagem, enredo,
tema, ação e diálogos são elementos considerados básicos na dramatização. Dramatiza‐
ções designam várias formas de atividades, tais como dramatizações informais ou es‐
pontâneas, dramatizações formais ou teatro infantil, brinquedos dramatizados, panto‐
mimas, fantoches, teatrinho de sombras. É uma experiência na qual a criança é orienta‐
da para expressar‐se contribuindo para que ela ganhe bons padrões de linguagem em
qualquer de seus aspectos: pronuncia correta, boa dicção, linguagem diretas, diálogos,
etc.
Às vezes, a professora dá importância demasiada à dramatização como entrete‐
nimento, sacrificando a parte educacional. Assim, é tentada a escolher sempre os me‐
lhores alunos, limitar a liberdade de expressão, confeccionar roupas, quando só deveria

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A importância da oralidade

tem em mente que, em dramatizações, está utilizando um meio de ensino, ou seja,


quando organizada de maneira proveitosa, ela se torna uma forma de aprendizagem.

2.2.6. Reconto de histórias

Contar e inventar histórias são aspectos fascinantes de um programa de lingua‐


gem oral. As crianças ouvem e reproduzem histórias. Reproduzindo‐as, enriquecem
sua linguagem, suas experiências, desenvolve a imaginação, a capacidade de atenção, a
organização lógica de seu pensamento recebe novo impulso
No momento do reconto, as crianças se apoiam na escuta de histórias, encami‐
nhando‐se para a reconstrução do texto original à sua maneira. A princípio, a criança
sente certa dificuldade ao recontar a história. Não dispondo ainda de uma boa sequên‐
cia lógica, omite trechos necessários, prende‐se a pormenores inúteis, etc. É necessário,
pois, que, de início, limitemo‐nos a histórias simples, com sequência clara e poucos
personagens. A criança precisa ainda estar bem familiarizada com a história para poder
reproduzi‐la. Nessa fase, os meios visuais auxiliam sobremodo as crianças. As gravuras
guiam‐nas, mostrando‐lhes a sequência dos fatos, lembrando‐lhes as ideias principais.
Essa prática de recontar a história, além de incentivar o gosto pela oralidade,
constitui uma importante estratégia de avaliação do desenvolvimento linguístico da
criança, observando‐se como esta se expressa oralmente neste momento.

2.2.7. Fantoches

Os fantoches oferecem múltiplas oportunidades para atividades dramáticas, de


acordo com o nível da classe. Nas primeiras séries, qualquer tipo de fantoche pode ser
usado: caras, figuras pintadas no papelão, bonecos, etc. É preciso que as histórias te‐
nham enredos simples, fáceis e curtos.
Nas apresentações com fantoches, a criança disponibiliza de movimentos, voz e
linguagem espontânea. A apresentação de fantoches encerra muitos valores, dentre
eles os principais são: incentivar a criação espontânea e oferecer oportunidades de lin‐
guagem.
Outro valor dos fantoches é a possibilidade que oferecem às crianças tímidas de
se manifestarem livremente, pois atrás das cortinas ou de um móvel, elas se sentem
emocionalmente seguras. Esses são um dos excelentes meios para a construção e de‐
senvolvimento da linguagem oral, que, quando bem trabalhados, atingem o desejável.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional,

a ampliação da capacidade das crianças de utilizar a fala de forma cada vez mais com‐
petente em diferentes contextos se dá na medida em que elas vivenciam experiências
diversificadas e ricas envolvendo os diversos usos possíveis da linguagem oral. Portan‐
to, eleger a linguagem oral como conteúdo exige o planejamento da ação pedagógica de
forma a criar situações de faça, escuta e compreensão da linguagem (1998, vol. 3, p.
134).

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2.3. Acompanhamento, avaliação e correção da linguagem oral

É de grande valia o professor acompanhar o desenvolvimento da linguagem


oral da criança. A observação e a avaliação são fundamentais para detectar pequenos
progressos e compreender os avanços linguísticos dos alunos. Ao chegar à escola, é
importante que o professor conheça o contexto de onde cada criança vem, a fim de
compreender, respeitar seu jeito de falar e poder trabalhar as dificuldades identificadas
sem inibir ou desvalorizar nenhuma. Sentir‐se aceita quando fala reforça na criança a
sua alegria de participar das atividades de linguagem oral. Quando ocorre crítica ou
risos, além da falta de respeito, isso pode até mesmo traumatizar o falante, dependen‐
do da sua sensibilidade emocional.
É fundamental que o professor tenha um caderno onde documente a sua prática
diária e que nele registre as dificuldades de pronúncia, de dicção, de concordância, a
fim de planejar a superação de tais dificuldades o mais breve possível, devendo enca‐
minhar para profissionais especializados somente os casos que estiverem além da sua
competência profissional.
Ao identificar as dificuldades, o professor deve planejar atividades que ajudem
os alunos a se expressar cada vez melhor, corrigindo a pronúncia, as falas “infantiliza‐
das”, inadequadas à faixa etária em que se encontra, bem como aplicar e enriquecer o
vocabulário que trazem de casa. Ocasionalmente, são encontrados ainda os falsos erros,
provenientes da imaturidade, como por exemplo, “eu trazi”, “se eles fazerem” ou “eu
pedo”. Portanto, cumpre ao profissional substituir esses maus hábitos por formas lin‐
guísticas, convencionalmente aceitas, dando relevância às atividades de linguagem
oral. A criança precisa ouvir e usar formas corretas, para que ganhe o hábito da boa
linguagem. Discorrendo sobre a temática, Júnior pontua que

[...] cada um de nós tem de saber usar uma boa linguagem para desempenhar o seu pa‐
pel de indivíduo humano, e membro de uma sociedade humana. Não se pode admitir
que um instrumento tão essencial seja mal conhecido e mal manejado (1977, p. 12).

Esse diagnóstico pode ser baseado em observações sistematizadas da lingua‐


gem das crianças em classe, nos recreios, enfim, em qualquer oportunidade que se
apresente. Araújo discorre a esse respeito, afirmando que

um bom diagnóstico e a avaliação sistematizadas feita pela professora são necessários


para melhores formas, mais clareza, mais concisão e mais perfeição de linguagem. Ma‐
turidade de estruturas envolvendo pensamentos mais complexos, vocabulário adequa‐
do, formas corretas são atributos que qualquer criança deveria apresentar ao término da
escola primária (1965, p. 204).

Assim, a avaliação é uma fonte relevante para o aprimoramento do trabalho


com linguagem oral. Ela é mais do que medida, porque a medida se limita ao exame do

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aluno para efeito de seleção, promoção e certificados finais. A avaliação tem sentido
mais amplo e abrangente. É uma busca dos valores que consideramos essenciais à edu‐
cação e à criança, particularmente em seu crescimento e ajustamentos. Dessa forma à
medida que avaliamos e conhecemos o perfil do aluno, é possível definir estratégias
ricas e variadas, possibilitando isso uma vivência prazerosa com as palavras.

3. Análise de dados

Com o objetivo de contribuir para despertar um processo de reflexão sobre a


importância de se trabalhar a oralidade da criança, foram aplicados questionários a
professores de 2 (duas) instituições de ensino, sendo 1 (um) Centro de Educação Infan‐
til Municipal e 1 (uma) Escola Estadual, ambas em Patos de Minas.
Foram entregues 10 (dez) questionários, dos quais todos foram respondidos e
devolvidos, o que equivale a 100% (cem por cento) dos questionários entregues. O
questionário apresenta dados referentes à formação e experiência profissional dos pro‐
fessores, com o intuito de traçar o perfil deste profissional. A seguir, foram apresenta‐
das 6 (seis) perguntas destinadas a colher informações sobre a prática pedagógica em
relação à linguagem oral da criança. O resultado obtido foi o seguinte:

Gráfico 1. Formação acadêmica dos professores

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

De acordo com os dados coletados por meio de questionários de pesquisa, a


formação profissional das professoras entrevistadas foi assim analisada: 20% possuem
apenas o curso de Magistério em nível médio, 70% possuem curso superior e 10% têm
pós‐graduação. Nota‐se, então, que grande parte das professoras possui uma habilita‐
ção de curso superior. Isso significa que a maioria está preocupada em aperfeiçoar cada
vez mais seus conhecimentos, de forma que, atualmente ʺestudoʺ e ʺformaçãoʺ sejam
sempre constantes ao longo de toda a carreira.

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Gráfico 2. Experiência profissional do professor

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

A maioria das professoras entrevistadas, como mostra o gráfico 2, apresenta ter


grande experiência profissional, possuindo, acredito eu, uma vasta carga de conheci‐
mentos necessários para trabalhar com linguagem oral da criança. Dos professores en‐
trevistados, 20% têm de um a cinco anos de experiência em sala de aula, 20% de cinco a
dez anos, 60% a mais de dez anos, e nenhum deles possui menos de um ano de experi‐
ência profissional.
O trabalho com a oralidade é fundamental em uma proposta de ensino, pois
contribui para a formação individual e social da criança.

Gráfico 3. Atualização dos professores para com


o trabalho da oralidade em sala de aula

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

Os dados expostos no gráfico 3 demonstram que 31% das professoras leem li‐
vros que tratam do assunto, 30% pesquisam na internet, 30% aprendem com o colega e

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A importância da oralidade

9% se atualizam para trabalhar a oralidade em sala de aula por meio de palestras.


Sabe‐se, pois, da importância do professor estar sempre em busca de novos co‐
nhecimentos para trabalhar a oralidade com seus alunos. Um bom profissional da edu‐
cação é aquele que se preocupa em estar sempre atualizado. Ele precisa constantemen‐
te atualizar seus conhecimentos, seja ele tecnológico, político, pedagógico, ético e de
relacionamentos que surgem com a evolução da sociedade. Precisa estar bem informa‐
do, conhecer práticas pedagógicas contextualizadas, instrumentos para um trabalho
eficaz, aplicar metodologias diversificadas.
Nesse sentido, quando o professor busca novas informações, fica mais fácil atra‐
ir os alunos e estimular a participação e interação dentro de sala, ele se torna mais di‐
nâmico e sempre tem novidades para expor aos colegas e aos alunos. Quem não se atu‐
aliza, acaba tornando as aulas mais rotineiras e sem grandes atrativos. O acúmulo de
conhecimentos e a atualização são desafios permanentes na vida dos educadores. É
necessário, portanto, que o professor esteja sempre atualizado acerca deste tema, pos‐
sibilitando a ele novas ações e práticas realmente eficazes para conseguir criar situa‐
ções adequadas e relevantes para esse fim.

Gráfico 4. Intensidade que o professor costuma


desenvolver a oralidade das crianças em sala de aula.

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

Das professoras entrevistadas, 70% afirmam que é necessário trabalhar a orali‐


dade das crianças diariamente; 20%, duas vezes por semana; e somente 10%, três vezes
por semana. Nota‐se então que a maioria delas se preocupa em disponibilizar tempo
relevante para o trabalho com a oralidade, o que pode ser verificado no gráfico acima.
O professor deve sempre desenvolver seu trabalho com qualidade, com prática
significativa, assegurando o pleno desenvolvimento da linguagem oral. Para isso, é
preciso que o professor dispense um considerável tempo para esse trabalho, ampliando
assim as oportunidades para que a criança possa falar, pois é na prática da fala que a
linguagem oral da criança se torna cada vez mais competente.

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Mirella Ribeiro Chaer & Edite da Glória Amorim Guimarães

Gráfico 5. Benefícios que o trabalho com a oralidade proporciona às crianças.

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

As professoras têm total compreensão dos benefícios que tem o trabalho com a
oralidade. Conforme a opinião de todas elas, em atividades ricas de possibilidades efe‐
tivas de participação, a oralidade proporciona à criança desenvolver a capacidade de
expressão oral (18%), construir o conhecimento (15%), socializar‐se (18%), desenvolver
a autonomia (16%), desenvolver o pensamento (18%) e enriquecer o vocabulário (15%)
– o que é possível comprovar no gráfico 5.
É imprescindível o trabalho com a oralidade dentro da sala de aula, pois ela se
reveste de finalidades definidas. Fazendo com que a criança se expresse oralmente, ela
amplia seus horizontes de comunicação, exercita o pensar, socializa‐se, organiza a sua
mente, interpreta o mundo, expõe ideias, debate opiniões, expressa sentimentos e emo‐
ções, desenvolve a argumentação, comunica‐se com facilidade, além de se preparar
para um futuro profissional no qual ela seja capaz de expressar em público seus conhe‐
cimentos e ideias. Deste modo, o desenvolvimento da oralidade significa para ela uma
habilidade imprescindível para o convívio social nas mais diversas instâncias.

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A importância da oralidade

Gráfico 6. Recursos utilizados para avaliar a linguagem oral da criança.

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

De acordo com os dados, 32% das professoras entrevistadas avaliam a lingua‐


gem oral das crianças por meio de observações de conversas informais com o colega,
7% em preenchimento de quadros de participação e/ou listas padrão, 29% em ativida‐
des apresentadas oralmente pelas crianças, e 32% das professoras avaliam por meio de
conversas informais entre ela e os alunos, conforme o 6.
A avaliação ajuda a professora no diagnóstico de dificuldades e no planejamen‐
to do trabalho futuro, contribuindo assim para a observação e a assistência mais caute‐
losa às crianças, descobrindo seus interesses e preferências. A avaliação da linguagem
oral tem características próprias, diferindo de outros tipos de avaliação. Não emprega
testes ou outras provas escritas.

Gráfico 7. Estratégias metodológicas utilizadas


para desenvolver a oralidade da criança

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

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Mirella Ribeiro Chaer & Edite da Glória Amorim Guimarães

As professoras facultam tal desenvolvimento por meio de música (18%), roda


de conversa (19%), reconto de história (18%), dramatização (15%), poesia (7%), fanto‐
ches (4%), e leitura (19%). É o que mostra o gráfico 7.
À medida que avaliamos e conhecemos o perfil do aluno, é possível definir es‐
tratégias variadas e sistemáticas; portanto, o professor deve criar situações na qual aju‐
da a criança a se tornar mais ajustada aos padrões linguísticos. Entre elas estão:
Musica: quando o professor trabalha a música com seus alunos, ele está estimu‐
lando a sensibilidade à entonação, ao ritmo, ao timbre e ao poder emocional da música,
o texto oral, o vocabulário, a pronúncia das palavras.
Roda de conversa: a participação na roda de conversa permite que as crianças
aprendam a olhar e a ouvir os colegas, trocando experiências e aprendendo as atitudes
corretas de ouvinte e de falante.
Reconto de história: quando a criança faz o reconto de história, ela enriquece
sua linguagem, suas experiências, desenvolve a imaginação, a capacidade de atenção, a
organização lógica de seu pensamento recebe novo impulso.
Dramatização: a dramatização é uma experiência na qual a criança é orientada
para expressar‐se contribuindo para que ela ganhe bons padrões de linguagem em
qualquer de seus aspectos: pronuncia correta, boa dicção, linguagem diretas, diálogos,
etc.
Poesia: a poesia permite que a criança aprenda a reconhecer, compreender, dar
significado às palavras, além de enriquecer o vocabulário.
Fantoches: nas apresentações com fantoches, a criança se disponibiliza de mo‐
vimentos, voz e linguagem espontânea. A apresentação de fantoches encerra muitos
valores, dentre eles os principais são incentivar a criação espontânea e oferecer oportu‐
nidades de linguagem. Pela leitura, a criança aprende pronunciar melhor as palavras e
se comunica melhor de forma geral.

Gráfico 8. Procedimentos adotados com uma criança que apresenta uma variação
linguística distanciada do padrão culto (criança que fala muito errado)

Fonte: Pesquisa de campo, fevereiro / 2012

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A importância da oralidade

Após análise dos dados, verificou‐se que 28% das professoras repetem a expres‐
são corretamente para com uma criança que apresenta uma variação linguística distan‐
ciada do padrão culto, 14% encaminham para especialistas, 29% exploram atividades
sistemáticas de oralidade e 29% não chamam a atenção perto dos outros – o que pode
ser percebido no gráfico acima.
A par das estratégias metodológicas em prol do desenvolvimento da oralidade
da criança, há ainda o aspecto da correção da linguagem, das formas convencionalmen‐
te aceitas. Quando a criança vai para a escola, ela já tem certos padrões bem definidos
quanto à compreensão e quanto ao uso das palavras. Esses padrões, aceitáveis, às ve‐
zes, e não raro, inaceitáveis, são imitados da família e do meio em que a criança vive.
Mas é dever da professora dar‐lhes um nível linguístico aceitável entre pessoas bem
educadas, ajudando aquelas que, por falta de assistência, não atingiram esses padrões.
O automatismo da boa linguagem só se faz pelo uso, em todo o programa escolar.

4. Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma reflexão sobre a im‐
portância que tem o trabalho com a oralidade das crianças em sala de aula. Sabe‐se que
a linguagem oral é determinante na vida do aluno, pois toda a produção do conheci‐
mento parte dessa linguagem. Sendo a fala o principal instrumento de comunicação,
valorizar e aprimorar o trabalho com a oralidade dentro da sala de aula constituem‐se
recursos preciosos de aprendizagem.
A linguagem oral é uma atividade livre e se inicia desde os primeiros meses,
quando o bebê emite sons evidenciando a comunicação entre os que estão próximos.
Aos poucos esses balbucios vão se tornando palavras, frases, e a criança se comunica
definitivamente com o mundo ao seu redor, e quanto mais a criança exercita a fala,
mais ela se aprimora e percebe o uso social da fala.
A linguagem oral da criança tem de ser trabalhada desde o início de sua vida.
Na escola, esse trabalho é determinante. O professor precisa ter profissionalismo e dis‐
posição para trabalhar a oralidade do aluno.
No entanto, é essencial, perceber que a linguagem oral é um processo dinâmico,
que se desenvolve quando se entra em contato com situações de modo altamente signi‐
ficativo, em diferentes interações, por isso, deve ser trabalhada, metodicamente desde
o início para um melhor desempenho do discurso argumentativo do dia a dia.
De acordo com a pesquisa realizada com professores da rede pública da educa‐
ção infantil e ensino fundamental, o trabalho com a oralidade é considerado de suma
importância. Foram relatados com unanimidade entre os professores aspectos positivos
como os seguintes: possibilita à criança tornar‐se mais comunicativa, ter maior intera‐
ção com o grupo, desenvolver a autonomia, o pensamento, enriquecer seu vocabulário,
construir o conhecimento, além de desenvolver o seu senso crítico.
Enfim, após a pesquisa de campo, o que se pode concluir é que a classe de pro‐
fessores, em sua grande maioria, tem consciência da importância de se trabalhar a ora‐

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lidade de seus alunos na sala de aula, compreendendo que um investimento válido e


bem estruturado da oralidade, só poderá trazer repercussões positivas ao indivíduo.
Pode‐se afirmar que a pesquisa de campo realizada nas instituições de ensino
teve como principal fruto fazer com que os professores refletissem com mais profundi‐
dade sobre a sua prática pedagógica em relação à oralidade da criança.
Espera‐se que o presente trabalho tenha proporcionado, ainda que de forma li‐
mitada, uma reflexão sobre o quanto é importante trabalhar a oralidade das crianças
desde o início de sua escolarização, e que busque contemplar o trabalho da oralidade
como fator essencial em sala de aula.

Referências

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de Janeiro: Editora Nacional de Direito, 1965.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998.

BRASIL,Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília, vol. 3, 1997.

CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. 4 ed. Petrópolis:
Editora Vozes, 1977

DIAS, Ana Maria Iorio. Ensino da linguagem no Currículo. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O brincar e a linguagem. Campinas, 2005.


Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0341.pdf. Acesso em 26 de
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http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/importancia‐leitura521213.shtml.
Acesso em 14 de set. de 2011.

http://revistaescola.abril.com.br/lingua‐portuguesa/alfabetizacao‐inicial/usarpoesia‐
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