001076526
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ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS
Porto Alegre
2018
1
GESTÃO MERITOCRÁTICA E PRÁTICAS DE INCENTIVOS DE
PERFORMANCE:
Estudo de Caso da Yara Brasil Fertilizantes S.A.
Porto Alegre
2018
2
GESTÃO MERITOCRÁTICA E PRÁTICAS DE INCENTIVOS DE PERFORMANCE
Estudo de Caso da Yara Brasil Fertilizantes S.A.
Banca Examinadora:
______________________________________
______________________________________
3
AGRADECIMENTOS
4
RESUMO
5
ABSTRACT
The present study was set from the union of meritocracy and performance evaluation. With
the premise of making the human resources area less and less subjective and with inputs to
support the decision-making of managers, it is believed that the analysis of these factors in
the reality of Yara Brasil Fertilizantes S.A. can contribute to improve the practices and
actions already taken. The objective of this study was to identify the relationship between
incentive and rewards indicators and the meritocratic management of Yara Brasil
Fertilizantes S.A. The research carried out is of an analytical nature and was based on the
already existing database of the study company. Thus, it was possible to analyze the practices
already carried out, verifying if they have a relationship with what is verified in the literature,
and also established two key indicators related to decision making, involving promotions and
demotions, as well as fixed remuneration quality. The latter is related to the salary range
offered in the market, and what the company-study is based on to incentive performance
based on its indicators. The relationship between literature and practices was identified, as
well as a suggestion for future studies, in order to further improve the human resources area
of Yara Brazil.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO: ................................................................................................................ 9
2. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................ 13
3. METODOLOGIA DE PESQUISA.................................................................................. 23
4.1.2 PPR.................................................................................................................... 32
7
4.2 INDICADORES DE AÇÕES DE INCENTIVOS E RECOMPENSAS DA YARA
BRASIL S.A........................................................................................................................... 35
8
1. INTRODUÇÃO
Embora não seja um conceito novo, o conceito de meritocracia vem sendo difundido,
de forma crescente, nas organizações públicas e privadas. Segundo Barbosa (1999), o termo
foi cunhado pelo sociólogo Young, na década de 50, para expor a ideia de uma sociedade na
qual os papéis sociais e as recompensas são distribuídos de acordo com a capacidade de
realizações e desempenho demonstrado. Dessa forma, a meritocracia visa o processo de
impulso profissional e social como uma consequência dos méritos individuais de cada pessoa,
ou seja, dos seus esforços. Assim, um de seus objetivos nas organizações é estimular a alta
performance e garantir a retenção dos colaboradores que estejam engajados com a empresa e
seus valores.
A meritocracia abrange esses conceitos, contemplando também o fator de
comprometimento, uma vez que as práticas de desenvolvimento e de incentivo aos
colaboradores pode influenciar no comprometimento. Segundo Ulrich e Ulrich (2010), o
baixo comprometimento também é um fator crítico, que, devido a várias causas, levam as
pessoas a um desempenho insatisfatório ou mesmo ao desligamento do emprego. Este fato
pode ser evidenciado de acordo com a pesquisa realizada pelo Saratoga Institute com mais de
19 mil trabalhadores norte-americanos de 17 setores, a qual revela que 72% dos empregados
que pediram desligamento o fizeram por falta de reconhecimento ou pela falta de
acompanhamento de seus líderes.
Nesse âmbito, é importante que para acompanhar as práticas de mercado, se tenha em
mente uma nova forma de administração e de soluções para cada vez mais proporcionar
ambientes de trabalho que não limitem o negócio e que estimulem o desenvolvimento do
profissional. Novos estudos mostram que os colaboradores mais engajados sinalizam que não
são atraídos por estabilidade e salário fixo, mas pelas oportunidades de conquistar posições e
remuneração, de forma diferenciada, em função do desempenho. A questão que se impõe é
como diferenciá-las utilizando parâmetros que avaliem os seus níveis de desempenho e que
permitam reconhecê-las de forma compatível e satisfatória. As organizações públicas e
privadas cobram das ciências da administração soluções que equilibrem a sua necessidade de
resultados, com as aspirações de pessoas competentes para alcançá-los (HERZOG, 2009).
Essa demanda traz o tema meritocracia para o foco e o destaca entre as soluções
debatidas tanto no meio corporativo como no acadêmico, pelo seu potencial de ajudar a reter
e estimular talentos em mercados competitivos, desafiando-os a mostrar o seu melhor. Ao se
basear no mérito para reconhecer e remunerar de forma compatível com a entrega dos
9
resultados, a gestão de pessoas busca conciliar e satisfazer as expectativas das pessoas e das
organizações (BARBOSA, 1999). Embora o autor tenha criticado o sistema meritocrático
praticado na França, utilizando exemplos de situações irreais e ironizando-as, conseguiu
inspirar o debate sobre a justiça social, com base no mérito. Em uma versão mais
contemporânea, Barbosa (1999, p. 22) definiu meritocracia como um “conjunto de valores
que rejeita toda e qualquer forma de privilégio hereditário e corporativo, permitindo que os
indivíduos sejam avaliados e valorizados independentemente de suas trajetórias e biografias
sociais”. Assim sendo, a projeção social, crescimento, reconhecimento e promoções são
condições conquistadas por meio do mérito de cada um e avaliadas por critérios
preestabelecidos (BARBOSA, 1999).
Embora reconheça as dificuldades de se efetivar critérios de forma igualitária para
avaliação de desempenho, Barbosa (2006) defende que seja o instrumento mais adequado
para a execução da meritocracia. Compartilhando dessa visão, Falconi (2009) afirma que a
melhor maneira de se executar a meritocracia é ter um bom sistema de avaliação de
desempenho que avalie a pessoa quanto à sua capacidade de realizar resultados (atingir metas
ou resolver problemas) e quanto à sua conformidade aos valores da empresa. A forma de
torná-la mais impessoal é permitir que uma pessoa seja avaliada por várias outras e não
apenas por amigos ou pelos mesmos superiores.
A história da empresa norueguesa Yara começa pela empresa Norsk Hydro, fundada
em 1905. Foi a primeira produção mundial de nitrogênio fertilizante e ganhou bastante
atenção para a época. Nos primeiros anos, a empresa também trabalhava com produção de
energia a partir de hidrelétricas, atividade da qual se originou a descoberta do fertilizante. O
caminho percorrido da companhia até o presente passa por diversas aquisições de empresas
de fertilizantes em inúmeros países, além de estabelecimento de escritórios nas cidade de
Estocolmo, na Suécia, e de Harare, no Zimbabwe.
A chegada no Brasil se dá em 1977, com a abertura de um escritório no Rio de
Janeiro, e se fortalece com a compra da Adubos Trevo, que tinha sede em Porto Alegre, em
2000. Em 2004, a empresa passa a ser listada na bolsa de valores de Oslo. Nos últimos anos,
a empresa vem realizando grandes investimentos no Brasil, seja a partir da aquisição de
novas empresas, a exemplo da aquisição da parte de fertilizantes da Bunge Brasil por R$750
milhões, como também pelo investimento em novas plantas e minas para extração de
minérios, a exemplo do investimento de R$ 1 bilhão na planta de Rio Grande. Hoje, a
empresa é responsável por cerca de 30% da produção mundial de fertilizantes, estando
presente em 50 países e comercializando em mais de 150.
10
O negócio da Yara Brasil Fertilizantes é o desenvolvimento agrícola, a partir de
diferentes tipos de fertilizantes, e soluções industriais, como tratamento de água e prevenção
de poluição do ar. Ao analisar a empresa internamente, identifica-se um organograma denso.
A Yara Brasil está separada na América Latina por se tratar de um mercado muito grande e
representativo mundialmente. Por isso, existe um Presidente exclusivo do Brasil, seguido de
diretores de cada uma das áreas. Os escritórios da empresa estão localizados em Porto Alegre
(matriz) e em São Paulo. As áreas administrativas se dividem entre as duas cidades.
Diante desses conceitos apresentados, a Yara Brasil Fertilizantes S.A. estruturou sua
área de Recursos Humanos em 2014 com o intuito de aplicar os princípios da gestão
meritocrática, após a aquisição da Bunge Fertilizantes. A empresa passou então a adotar
processos de avaliação de desempenho, como comitês de calibragem, e a construção de One
Page Profiles, que são documentos individuais com a performance e ambição de cada
funcionário, a fim de seguir o modelo da General Electric e seu case de sucesso em
performance adotado nos anos 80. Entretanto, existe hoje uma dúvida se a Yara aplica os
incentivos e recompensas propostos de acordo com os resultados da avaliação de controle de
performance, e assim, os resultados dos processos hoje vigentes para executar a gestão por
meritocracia são incertos. Frente a isso, este trabalho de pesquisa teve como foco a resolução
da seguinte questão: Como a gestão meritocrática se relaciona com os planos de
12
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O referencial teórico que fundamenta este trabalho se constitui na necessidade de se
avaliar aspectos referentes aos planos de incentivo e recompensa, e como se relacionam com
a gestão por meritocracia. Dentro disso, as obras consultadas permitem a compreensão de
como e por que esses planos podem colaborar com a vantagem competitiva para as empresas
ou gerar insatisfações.
pensamento sobre essa relação entre religião e capitalismo, o sociólogo costumava utilizar a
parábola do senhor que confiou o seu dinheiro aos empregados e, ao retornar, diferenciou-os
pelo resultado, rejeitando aquele que não se esforçou para frutificar os talentos recebidos.
13
sociedade se orgulharia em contemplar a ascensão dos brilhantes pelos seus próprios méritos,
e não por herança ou relacionamento (YOUNG, 2008)
14
2.1.1 Avaliação de Desempenho e a Meritocracia
Sendo o processo avaliativo uma ação amplamente utilizada nas empresas, o termo
avaliação de desempenho recebe inúmeras definições, de acordo com os diferentes enfoques
teóricos nos quais estão inseridas, como será discutido a seguir:
Quanto ao objetivo dessa avaliação, ressalta-se que tem por finalidade atingir um ou
mais objetivos da organização, como por exemplo, ações de treinamentos, reconhecimento
(por meio de promoções ou feedbacks) e produtividade. Quanto à implementação do processo
propriamente, é importante ressaltar que se trata de um programa do tipo tip down, portanto,
a iniciativa de implementar o processo deve ser apoiada e incentivada por toda a linha
hierárquica da empresa.
A segunda etapa diz respeito a fase de execução, igualmente composta por dois
momentos: a) treinamento e divulgação do programa, através de palestras e cursos
envolvendo os trabalhadores da empresa; e b) executar e coletar dados, que dizem respeito a
implementação do sistema. O momento de feedback por parte dos trabalhadores também
15
pode ser incluído no processo de execução, a fim de avaliar se há coerência com a realidade
do dia a dia das funções executadas.
Conforme Siqueira (2002), a avaliação de desempenho deve ser sempre uma análise
crítica sobre a lacuna existente entre a expectativa de desempenho, seja da organização ou do
indivíduo, e o seu real desempenho, realizada a partir de critérios e orientação para o mérito,
disseminados e entendidos pelo público envolvido. Ainda assim, de acordo com Barbosa
(1999), o processo está sujeito a divergências e desconfianças quanto à interpretação dos
avaliadores sobre as habilidades e esforços, quanto aos critérios e métricas estabelecidos e
quanto à igualdade de oportunidades, visto que existe inúmeros casos de insatisfações
referentes a avaliação de performance e às práticas que envolvem a aplicação da meritocracia.
Isso pode ocorrer devido à face subjetiva do processo, que pode levar ao risco de parcialidade
e de desvio do foco do desempenho. Segundo Lopes (2009), no Brasil predominam processos
16
de avaliação de desempenho tendenciosos, que priorizam os sentimentos e traços da
personalidade em detrimento das ações concretas e resultados entregues.
17
A autora ilustra sua conclusão expondo o resultado de uma pesquisa realizada como
parte de um projeto de análise cultural tomando, como amostra, 432 questionários aplicados
em uma empresa estatal:
Para Rummler e Brache (1992), é preciso levar em conta a competência das pessoas
contratadas e o ambiente no qual se insere o desempenho. Dessa forma, cabe à organização a
responsabilidade de estabelecer e comunicar as especificações de desempenho de forma que
as pessoas as compreendam, removendo as barreiras que estão fora da sua autonomia. Além
disso, é preciso estruturar as consequências para reforçar o alcance dos objetivos e fornecer
feedbacks regulares sobre as rotas do desempenho, para que o empregado redirecione sua
atuação.
18
desafiantes ou para posições que levem a um crescimento e a várias formas de
reconhecimento por serviços notáveis.
Diante disso, Honrado, Cunha e Cesário (2001) afirma que os sistemas de recompensa
têm como principal objetivo recompensar de maneira justa o desempenho do trabalhador,
tornando perceptível um clima de justiça e igualdade. Atkinson et al. (2000, p. 723) afirma
que “quando uma empresa decide recompensar o desempenho, isso leva o contador gerencial
a projetar sistemas de mensuração de desempenho necessários para apoiar os sistemas de
recompensa”. Porém, para obter resultados a empresa deve esclarecer junto aos funcionários
suas tarefas e os sistemas de recompensa oferecidos, pois conhecendo suas funções e os
benefícios propostos pela organização o funcionário tem mais clareza sobre os interesses e
objetivos da empresa.
19
pela organização definidos em convenções coletivas do trabalho. E as recompensas não-
financeiras referem-se aos fatores que afetam a satisfação das pessoas com o sistema de
remuneração, tais como oportunidades de crescimento profissional, reconhecimento e auto-
estima, segurança no emprego, qualidade de vida no trabalho, promoções, entre outras
Um conjunto formado por diversas faixas salariais, agrupando cargos com avaliações
próximas, contemplando no interior de sua estrutura valores salariais calculados e
desenhados matematicamente, para atender a uma política previamente desejada.
(RAITZ, 2010, p.43 apud MARRAS, 2000, p. 124)
Pontes (2000, p. 272) nos apresenta uma série de termos que diz ser essencial para o
entendimento desse assunto, vejamos no quadro 2 a seguir.
20
Quado 2 – Definição dos termos empregados na estrutura salarial
21
Gráfico 1 – Representação gráfica dos termos colaboradores na estrutura salarial
Pontes (2000) afirma ainda que as empresas que mantiverem os seus salários abaixo
da média do mercado terá dificuldade em reter os profissionais mais qualificados. Já as
empresas que mantiverem seus salários acima da média do mercado têm uma política salarial
mais agressiva e maior facilidade para manter seus profissionais mais talentosos.
O capítulo a seguir tem como objetivo delimitar os métodos que foram utilizados para
a execução da pesquisa proposta. Esses serão definidos de modo a atender da melhor forma
os objetivos geral e específicos aos quais o projeto se propõe, a partir do levantamento,
triagem e análise de dados e informações relevantes.
22
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Este estudo tem como objetivo identificar a relação entre as ações de incentivos e
recompensas aplicados pela Empresa Alvo e a gestão meritocrática desta, identificando se na
prática os trabalhadores estão sendo reconhecidos perante a avaliação realizada. Para atingir
tal objetivo, optou-se pela estratégia do estudo de caso único, que é assim denominado por
Yin (2001) por abordar uma única organização ou evento objeto de pesquisa. Tal modalidade
é adequada para analisar um fenômeno contemporâneo, situando-o no seu cenário real,
quando não há fronteiras claras entre o fenômeno e o contexto. Usam-se múltiplas fontes de
evidência e, por fim, foca-se em poucos elementos, permitindo a ampliação do conhecimento
sobre o tema.
Em concordância com essa caracterização, Gil (2009) também reconhece que o
estudo de caso limita o campo de pesquisa, mas favorece o detalhamento e o
aprofundamento do objeto, por meio da exploração de situações reais. Investiga um
fenômeno contemporâneo em seu âmbito real. O estudo de caso foi realizado na empresa
Yara Brasil Fertilizantes S.A.
Este estudo de caso único tem caráter quantitativo, uma vez que se utilizarão os
levantamentos de análise de performance e os registros de recompensas e merito. Conforme
Roesch (1999), o estudo quantitivo é adequado para se medir relações entre variáveis ou
avaliar o resultado de algum projeto ou mudança. A pesquisa quantitativa utilizará medidas
estatísticas, traduzindo em número e gráficos visuaias as informações registradas na base de
dados em Excel da empresa. Sendo assim, será possível realizar uma análise se existe
relação entre os incentivos e recompensas de performance e a gestão meritocrátrica que a
empresa afirma possuir.
Quanto à natureza, esta pesquisa é de caráter estatístico descritiva, por ser
compatível com o objetivo de investigar a relação entre as variáveis e descrever as
informações sobre a população (ROESCH, 1999).
23
3.2 MODELO DE PESQUISA
O modelo de pesquisa foi estruturado inicialmente com base em três eixos: planos de
incentivos e recompensas, avaliação de desempenho e mérito, tendo como pressuposto as
ações e métricas já utilizadas pela empresa, conforme modelo apresentado no Quadro 3:
24
Tabela 1 – Biblioteca de dados do banco utilizado na pesquisa
25
3.4 ANÁLISE DE DADOS
Foi utilizada a ferramenta Excel para processar e analisar o banco de dados. Triviños
(2000) alerta que, para os resultados terem validade científica, devem atender às condições de
coerência, consistência, originalidade e objetivação, independentemente da técnica de coleta
de dados utilizada. As etapas começam com a seleção dos dados a partir do banco de dados
original, passando por uma etapa de pré-processamento dos dados, seguida de transformação
dos dados, selecionando os trabalhadores no universo proposto e, por fim, interpretação e
avaliação dos padrões, gerando conhecimento.
Para a análise dos dados, serão utilizadas técnicas univariadas e bivariadas. A análise
univariada foca o eixo isoladamente e baseou-se no uso do intervalo de confiança de 95%
para a média. Quanto mais próxima de 5, maior a concordância da aplicação do mérito e da
nota de avaliação de performance do trabalhador – avaliação de desempenho ou atribuição do
mérito. Para a análise bivariada, utilizou-se coeficiente de correlação de Pearson. Tal análise
concentrou-se na busca de relacionamento entre os construtos avaliados no estudo. O
coeficiente de correlação de Pearson é uma medida que varia de –1 a 1 e indica o grau e o
sentido do relacionamento linear (caso exista) entre duas variáveis. Valores próximos de –1
indicam alta correlação negativa; valores próximos de zero indicam ausência de correlação; e
valores próximos de 1 indicam alta correlação positiva.
Com base nessas técnicas foi possível atender aos objetivos geral e específicos do
estudo.
26
3.5 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA
A Yara International é uma empresa química norueguesa. Sua maior área de negócios
é a produção de fertilizantes nitrogenados, no entanto, também engloba a produção de
nitratos, amônia, uréia e outros produtos químicos à base de nitrogênio. A empresa tem cerca
de 13.000 funcionários, locais de produção em seis continentes, operações em mais de 50
países e vendas para cerca de 150 países.
No Brasil, possui sede em Porto Alegre e escritório em São Paulo e Paulínia, cinco
fábricas de produção e 24 unidades misturadoras de fertilizantes próprias, com presença nos
principais polos de produção agrícola. Também possui duas unidades de produção de
soluções ambientais, cinco unidades de mineração e duas unidades portuárias próprias. O
Brasil desempenha um papel altamente estratégico nos negócios da Yara, sendo responsável
por um terço do volume e um quarto do faturamento global da empresa. Isso significa
interagir com mais de 25 mil produtores rurais. Nesse contexto, a companhia investe em
soluções competitivas e sustentáveis para todos os tipos de culturas e solos encontrados aqui.
A área de Recursos Humanos da Yara Brasil desempenha também papel estratégico no
cenário global da empresa, inovando e criando ações e métricas para medir desempenho e
potencializar o desenvolvimento dos colaboradores.
27
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A Carreira Yara foi desenvolvida em resposta aos resultados da Yara Voice, pesquisa
de engajamento desenvolvida em 2014. A pesquisa revelou que os colaboradores desejavam
ter maior clareza sobre o processo de carreira dentro da Yara. Além disso, a Empresa também
identificou a necessidade de revisar os cargos disponíveis e os níveis de contribuição
esperados de cada um, e, por isso, criou um padrão alinhado para toda a Organização.
28
formação e de idiomas, Revisão salarial, Movimentações de carreira. Esse ciclo acontece
durante o ano inteiro, tendo início em novembro do ano anterior, com a avaliação de
performance e potencial até novembro do outro ano, com o Comitê de Carreira (vide Quadro
4).
29
Quadro 5 – Estratégias e Ações de Desenvolvimento
1
Método utilizado para planejamento e discussão de sucessões, bem como atitudes necessárias para o
desenvolvimento de funcionários e tem como objetivo situar performance e potencial de cada colaborador em
uma caixa com 9 quadrantes, facilitando as decisões dos processos sucessórios (ARANHA, 2010).
30
colaboradores. A performance é o pano de fundo para essa discussão, mas também é levado
em conta o nível de contribuição do colaborador, suas aptidões e suas lacunas de
desenvolvimento. As consequências e movimentações existentes na estrutura da organização
são promoção, demoção, rescisão, movimentos laterais, aumento salarial e job rotation.
4.1.2 PPR
Multiplicador Multiplicador
Salário Base Target da Posição PPR
Yara Individual
Sendo assim, acredita-se que uma gestão por meritocracia é realizada a medida que
um colaborador com alta performance terá um multiplicador exponencial se comparado à
uma baixa performance.
Já o multiplicador de target da posição se refere ao nível do cargo. Um gerente, por
exemplo, terá um resultado maior do que de um analista. Esta prática é incentivada devido a
crença de quanto maior o nível hierárquico, maior e significativa contribuição é entregue à
empresa.
Dessa forma, fica evidenciado que o Programa de Participação nos Resultados se
baseia na performance individual e também do nível da posição que o colaborador se
encontra, evidenciando a procura e utilização de métodos que reflitam na cultura por
meritocracia da empresa.
33
4.1.3 PROGRAMA DE FORMAÇÃO E IDIOMAS
35
O segundo eixo mede a porcentagem de pessoas que tiveram mérito (promoção e/ou
aumento salarial) ou demérito (demoção ou rescisão), vide gráfico 2 a seguir. As cores
utilizadas foram vermelhas e verdes, a fim de sinalizar uma movimentação negativa ou
positiva. Além disso, o comparativo anual foi tracejado em linhas pontilhadas, a fim de se
analisar e comparar o padrão de decisão dos respectivos anos de 2016 e 2017.
Como resultado, podemos dizer que a tomada de decisão da Yara está coerente com o
que é dito em sua gestão meritocrática, pois como é possível observar no gráfico 2, na linha
vermelha (consequências negativas), colaboradores com performance de 1 a 5 têm
consequências relacionadas a demoções, rescisões ou movimentações horizontais, e
colaboradores a partir de 5 até a nota 9 tendem a não ter este tipo de consequência. Já na linha
verde, nota-se que colaboradores com performance de 1 a 5 não têm, em geral, consequências
positivas, enquanto as notas de 5 a 9 possuem ações como promoções e aumentos salariais.
Outro fator que pode ser notado neste gráfico é o comparativo entre os anos de 2016 e
2017, uma vez que se sobrepões em grande parte da análise, alguns pontos se sobressaem,
36
como por exemplo, mais tomadas de decisões negativas no ano de 2017, e mais tomadas de
decisões positivas em 2016.
Bohmerwal (1996) afirma que o objetivo de avaliar os colaboradores que tem por
finalidade atingir um ou mais objetivos da organização, como por exemplo, ações de
treinamentos, reconhecimento (por meio de promoções ou feedbacks) e produtividade. Dessa
forma, podemos verificar que, conforme o indicador de qualidade da decisão tomada, a Yara
Brasil está sendo coerente em sua gestão meritocrática, ou seja, as práticas de incentivo e
recompensa estão diretamente relacionadas com o resultado da avaliação de performance dos
colaboradores. As ações de reconhecimento foram apresentadas na seção anterior,
envolvendo as práticas de gestão meritocrática da empresa-estudo.
37
Analisando este conceito, podemos identificar que a Yara Brasil possui entre critério
como base para definição de recompensas financeiras baseadas em performance. O gráfico 3
a seguir ilustra os resultados de avaliação para classificar a performance e potencial dos
colaboradores, colocando-os em uma curva forçada para encaixá-los no 9-box.
Pontes (2000, p. 271), afirma que normalmente utiliza-se a média salarial do mercado
como curva de referência para a elaboração da estrutura salarial da empresa. Mas deve ser
levada em conta que essa é uma decisão política e deve considerar a situação da empresa no
mercado e quais os custos decorrentes dessa tomada de decisão. Além disso, afirma ainda que
as empresas que mantiverem os seus salários abaixo da média do mercado terão dificuldade
em reter os profissionais mais qualificados. Já as empresas que mantiverem seus salários
acima da média do mercado têm uma política salarial mais agressiva e maior facilidade para
manter seus profissionais mais talentosos. Este conceito novamente pode ser observado na
estrutura salarial e de cargos da empresa, a qual cruza dados de performance e potencial,
estabelecendo que pessoas com maior nivel de performance recebem em uma faixa acima do
mercado, ou seja, entre 120% e 100%. Pessoas com media performance estão na faixa 80% a
100% e baixa performance abaixo de 80%.
38
De acordo com a análise no banco de dados, cruzando os dados de performance,
remuneração e e faixa salarial, a qualidade da remuneração fixa da Yara Brasil em Janeiro e
Dezembro de 2017 pode ser observado no dashboard, gráfico 3 a seguir. O resultado de
coerência, posto na lateral esquerda ilustra a porcentagem de colaboradores que tiverem
mérito ou demerito salarial no periodo. Este dado é analisado no eixo vertical com a faixa
salarial e na horizontal com a performance avaliada no período. Sendo assim, os
colaboradores são alocados em uma curva forçada de performance, ranking de 1 a 9, ilustrado
em um 9-box que possibilita à alta gestão visualizar onde cada nível de performance e faixa
salarial se encontram.
Além disso, a população utilizada neste estudo em Janeiro era de 1117 colaboradores,
enquanto a de Dezembro 1290. É importante salientar que colaboradores com até um ano de
39
contratação, por ainda não terem passado pelo ciclo completo da gestão de talentos e
avaliação de performance, não são avaliados neste indicador, contemplando a porcentagem
de pessoas à direita do quadro comparativo.
Neste Gráfico 3 podemos analisar a totalidade de colaboradores, dentre os cargos de
analista, especialista, coordenador e gerentes, que possuem baixa performance, representada
pelo ponto no eixo horizontal (1-3) e alta performance, ponto (7-9). Assim, como visto por
Barbosa (1999), esta porcentagem totaliza cerca de 20% da organização, enquanto os demais
70% compõe as boas performances e salários na faixa de 100%, possibilitando uma gestão
sólida e o equilíbrio da organização.
A metodologia 9 box é utilizada para a fim de destacar os talentos-chave da
organização, que por consequência são recompensados com remuneração acima de 100% da
faixa. Enquanto os colaboradores com baixa performance se encontram no eixo baixo à
esquerda, com remuneração na faixa 80%-100%.
4.2.2.1 9- Box
Assim como Carrara (2013), que menciona que as publicações sobre essa ferramenta
recomendam o seu uso, mas não apresentam fundamentação teórica e conceitual consistentes,
percebeu-se, na busca realizada na literatura para fins deste estudo, que existem poucas
referências sobre essa ferramenta. Charam, Drotter, Droteer e Noel (2009) aludem à
utilização da matriz nine box na General Eletric como ferramenta para mensurar o
desempenho atual dos executivos em relação ao potencial futuro. A ferramenta é composta de
um eixo vertical, que avalia o comportamento apresentado no trabalho ou potencial para
exercer novas funções e um eixo horizontal, que avalia a entrega dos resultados. São nove
possibilidades de classificação dos empregados, no nível baixo, médio ou alto.
Carrara (2013) acrescenta que é prevista a formação de comitês de desenvolvimento
de pessoas, com a finalidade de reduzir a subjetividade no processo de avaliação para
definição do 9-box. Assim como já apresentado anteriormente, este mesmo conceito é
aplicado na prática pela empresa-estudo. E estes comitês indicam o quadrante em que o
profissional deverá ser enquadrado, conforme parâmetros previamente estabelecidos pela
organização. Os empregados avaliados nas posições 1, 2 ou 3 da matriz podem representar
diferencial para a organização; empregados avaliados nas posições 4, 5 e 6 são considerados
os mantenedores da empresa; e os enquadrados nas posições 7, 8 ou 9 devem ser
desenvolvidos para viabilizar mudança de posição ou serem desligados após análise de cada
40
situação (Carrara, 2013). Diferentemente desse parâmetro apresentado, a Yara inverteu as
escalas, sendo 1, 2 ou 3 da matriz profissionais a serem desenvolvidos e 7, 8 ou 9
representam diferencial para a organização.
Leme (2014) preleciona que uma vantagem dessa ferramenta é permitir a visualização
da avaliação do desempenho dos empregados de forma clara, simples e objetiva, além de
possibilitar melhor entendimento do feedback, contribuindo, assim, para o desenvolvimento
das pessoas. O autor propõe a interpretação de cada box da matriz, sugerindo ações conforme
a classificação obtida pelo empregado: desenvolver na função, acompanhamento/substituição,
identificação de fatores que geram determinada situação e talentos que podem ser preparados
para assumirem novas funções. Dessa forma, novamente, a Yara coloca em prática o conceito
a medida que utiliza a ferramenta para avaliar a tomada de decisão e também a recompensa
financeira.
41
4.3 SUGESTÕES DO ESTUDO
Por fim, nesta seção apresenta-se a partir da análise dos resultados obtidos de
sugestões para aumentar a correlação entre os indicadores de incentivos e recompensas e a
gestão meritocrática, atendendo o terceiro objetivo específico para este estudo.
Após identificar e analisar as práticas e indicadores de performance e consequências
da Yara Brasil, pode-se verificar um eixo importante que não foi abordado, a opinião do
colaborador. De acordo com Barbosa (1999), o processo está sujeito a divergências e
desconfianças quanto à interpretação dos avaliadores sobre as habilidades e esforços, quanto
aos critérios e métricas estabelecidos e quanto à igualdade de oportunidades, visto que existe
inúmeros casos de insatisfações referentes a avaliação de performance e às práticas que
envolvem a aplicação da meritocracia. Dessa forma, após ciclo de Performance e
Desenvolvimento, das avaliações, comitês de carreira e definição de méritos, a área de
Recursos Humanos volta a desempenhar o ciclo sem avaliar com os colaboradores a
percepção de valor e satisfação relativa ao programa.
Segundo Lopes (2009), no Brasil predominam processos de avaliação de desempenho
tendenciosos, que priorizam os sentimentos e traços da personalidade em detrimento das
ações concretas e resultados entregues. Foi possível analisar anteriormente os conceitos e
dados que a empresa-estudo se baseia para obter uma tomada de decisão meritocrática,
entretanto novamente, é preciso avaliar a percepção do colaborador sobre esses pontos para
se ter retorno sobre todos os âmbitos abordados do programa. Assim, uma pesquisa
qualitativa após o término do programa poderia abrir um canal de comunicação com os
colaboradores para que o entendimento do programa e os resultados alcançados sejam
maximizados.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente capítulo tem como objetivo apresentar algumas considerações acerca dos
resultados alcançados a partir da pesquisa no banco de dados utilizado e da retomada dos
objetivos propostos no início da dissertação. Além disso, procurar-se-á realizar uma breve
reflexão acerca das limitações da pesquisa, bem como de possíveis melhorias no caso de
próximas pesquisas a serem realizadas na mesma corrente de estudo.
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5.2 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS E CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO
Com relação às implicações práticas para a organização pesquisada, pode-se concluir que
a empresa possui práticas que se baseiam na literatura de avaliação de performance utilizando
critérios claros e justos, porém ainda há um caminho a se seguir. Avaliando o segundo
indicador, a qualidade de remuneração em Dezembro de 2017 foi melhor que Janeiro do
mesmo ano, com 68% de coerência entre a performance e faixa salarial. Sendo assim, isto
significa dar mérito para os colaboradores com alta performance e demérito para os que estão
no lado oposto ao gráfico, entretanto este indicador demonstra o potencial de melhora que a
empresa ainda pode alcançar, já que a diferença para os 100% ainda é grande. Além disso, os
indicadores podem ser utilizados como dashboards para auxiliar na tomada de decisão dos
líderes, investigando as causas e encontrando soluções para essas questões.
Quanto às limitações do estudo, o principal fator se relaciona aos liderados não terem
sido pesquisados neste estudo. Dessa forma, somente os dados e percepções da alta liderança
e area de Recursos Humanos são levados em consideração para estabelecimento de metas,
méritos e deméritos. Assim, esta limitação gera uma sugestão para futuros estudos, a fim de
tornar o programa mais completo e democrático.
Como sugestão para futuros estudos, a avaliação de quanto esses indicadores que
medem as práticas resultam numa melhor percepção das pessoas com relação à meritocracia
pode ser aplicado ao final do ciclo de performance e desenvolvimento. Juntamente a isso,
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pesquisas de engajamento e clima que avaliam o quanto as pessoas percebem as praticas e
iniciativas da empresa são importantes, não somente falando sobre meritocracia, porém
também abordando questões como carreira e feedbacks gerais. Após realizar tais pesquisas,
cruzar esses resultados com os indicadores das práticas apresentados nos capítulos anteriores.
REFERÊNCIAS
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